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13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual

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Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

ACÓRDÃO

Dados do Processo

Número Competência Ofício


Classe
201700303448 Gabinete Desa. Ana Lúcia Freire de Escrivania da Câmara
Ação Penal - Procedimento Ordinário
A. dos Anjos Criminal e Tribunal Pleno
Situação Distribuido Em:
JULGADO 16/02/2017
Julgamento
31/10/2018
Proc. Origem
201674290004

Dados da Parte
Autor MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SERGIPE
13168687000110

Réu Advogado: EVANIO JOSÉ DE MOURA SANTOS - 2884/SE


ETELVINO BARRETO SOBRINHO
Advogado: MATHEUS DANTAS MEIRA - 3910/SE

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE

ACÓRDÃO: 201830469
RECURSO: Agravo Regimental
PROCESSO: 201800332139
Relator: ANA LÚCIA FREIRE DE A. DOS ANJOS
Advogado: EVANIO JOSÉ DE
AGRAVANTE: ETELVINO BARRETO SOBRINHO
MOURA SANTOS
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO
AGRAVADO:
DE SERGIPE

EMENTA

AGRAVO
REGIMENTAL –
DECISÃO
MONOCRÁTICA –
RECONHECIMENTO
DA INCOMPETÊNCIA
DESTE TRIBUNAL
PARA O
PROCESSAMENTO E
JULGAMENTO DA
AÇÃO PENAL N.º
201700303448 –
FATO
SUPERVENIENTE –
RESTRIÇÃO DO FORO
POR PRERROGATIVA

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DE FUNÇÃO PELO STF


- QO-AP N.º 937/RJ –
INTERPRETAÇÃO
EXTENSIVA AOS
PREFEITOS –
PRINCÍPIOS
REPUBLICANO E DA
IGUALDADE -
APLICAÇÃO DO FORO
POR PRERROGATIVA
DE FUNÇÃO
UNICAMENTE AOS
CRIMES COMETIDOS
NO EXERCÍCIO DO
ATUAL MANDATO E
DESDE QUE EM
RAZÃO DELE –
DETERMINAÇÃO DE
REMESSA DOS AUTOS
AO JUÍZO DE
PRIMEIRA
INSTÂNCIA – PLEITO
DE MANUTENÇÃO DA
COMPETÊNCIA NESTE
TRIBUNAL - NÃO
ACOLHIMENTO –
DELITOS
PRATICADOS NO
EXERCÍCIO DE
CARGO ANTERIOR NO
PERÍODO
COMPREENDIDO
ENTRE OS ANOS DE
2009-2012 –
CONDUTA ESTRANHA
AO MANDATO ATUAL
DO AGRAVANTE -
PRECEDENTES DESTA
CÂMARA CRIMINAL E
DO TRIBUNAL PLENO
– DECLÍNIO DA
COMPETÊNCIA AO
JUÍZO DA COMARCA
DE CARMÓPOLIS/SE -
DECISUM
MONOCRÁTICO

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MANTIDO
INTEGRALMENTE.
- Fato superveniente que
consiste na restrição do
foro por prerrogativa de
função pelo Supremo
Tribunal Federal no
julgamento da QO-AP n.º
937/RJ;
- A decisão deve ser
estender aos Prefeitos, pois
não há razão jurídica para
diferenciar o tratamento
conferido pelo STF aos
Deputados Federais e
Senadores;
- No caso concreto, os
crimes praticados pelo
agravado, durante o
exercício financeiro de
2012, não guardam relação
com o atual mandato;
- AGRAVO REGIMENTAL
CONHECIDO E
IMPROVIDO – DECISÃO
UNÂNIME.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados, examinados e discutidos os presentes autos, decidem os


membros que compõem a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado
de Sergipe, por unanimidade de votos, conhecer do Agravo Regimental para
NEGAR-LHE PROVIMENTO, em conformidade com o relatório e voto
constantes dos autos, integrantes deste julgado.

Aracaju/SE, 11 de Dezembro de 2018.

DESA. ANA LÚCIA FREIRE DE A. DOS ANJOS


RELATOR

RELATÓRIO

Trata-se de AGRAVO REGIMENTAL manejado pela Defesa do agravante


Etelvino Barreto Sobrinho contra decisão desta Relatoria (fls. 150/158) que
declaroua incompetência do Tribunal de Justiça para processar e julgar a Ação
Penal nº 201700303448 e determinou a remessa dos autos ao Juízo do 1º
grau.
Em suas razões, relata o agravante que os atos ilícitos investigados na Ação
Penal estão relacionados às condutas perpetradas pelo réu no período até
31/12/2012, quando ocupava o cargo de Prefeito de Rosário do Catete.

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Relata que o fato de ter ocorrido um “hiato” entre o exercício de um mandato


e outro, para o exercício do mesmo cargo público (prefeito de Rosário do
Catete), em nada interfere na questão da incidência do foro por prerrogativa
de função, inexistindo qualquer ressalva nesse sentido quando do julgamento
proferido pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito da Ação Penal nº 937.
Assevera que o foro por prerrogativa se instaura quando os crimes forem
cometidos durante o exercício do cargo e tiverem conexão com as funções
desempenhadas.
Enfatiza que os ilícitos indicados na peça acusatória foram praticados no
exercício do cargo de Prefeito e apresentam liame direto com a função
exercida.
Alega que o fato dos atos investigados terem sido praticados no primeiro
mandato do agravado, não afasta a prerrogativa funcional disposta no art.
106, I, da Constituição Estadual, já que o réu encontra-se atualmente no
cargo de Prefeito, atraindo a conclusão fixada pelo STF no julgamento da AP
937/RJ.
Finaliza pedindo a reforma da decisão singular objurgada, para que seja
mantida a competência deste Tribunal de Justiça para processamento e
julgamento da Ação Penal n.º 201700303448, nos termos do art. 106, I, “a”,
da Constituição Estadual.
De forma subsidiária, pugna que o presente Agravo Regimental exercido para
combater decisão monocrática venha a ser submetido à apreciação colegiada
da Colenda Câmara Criminal.
Considerando o que estabelece o artigo 214, parágrafo único, do Regimento
Interno deste Tribunal de Justiça, com redação dada pela Emenda Regimental
n.º 03/2016, de 29/02/2016, foi estabelecido o contraditório, tendo o
agravado sido devidamente intimado, manifestando-se pelo desprovimento do
presente agravo.
Diante da ausência de motivo a ensejar juízo de retratação, foi mantida a
decisão impugnada, nos termos do despacho desta Relatoria emitido em
28/11/2018, razão pela qual, o recurso foi incluído em pauta para julgamento
por este Órgão Colegiado.
É o relatório.
VOTO

Trata-se de Agravo Regimental manejado com a finalidade de reformar a


decisão que reconheceu a incompetência do Tribunal de Justiça para processar
e julgar a Ação Penal nº 201700303448 e determinou a remessa dos autos ao
Juízo do 1º grau.
Examinando os pressupostos de admissibilidade recursal, verifico que estão
presentes, razão pela qual passo a analisar a insurgência do agravante.
A decisão agravada, ao atribuir ao Juiz de 1º grau da Vara Criminal da
Comarca de Carmópolis/SE a competência para processar e julgar a ação
penal em que o atual Prefeito do município de Rosário do Catete figura como
réu, esclareceu que:

“(...). Depreende-se dos autos que o crime apurado na presente ação penal teria sido
praticado pelo réu nos meses de setembro a dezembro do exercício financeiro de 2012,

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quando ocupava o primeiro mandato de Prefeito no período compreendido entre os anos de


2009-2012.

Posteriormente, o réu não exerceu qualquer mandato eletivo (entre os anos de 2013 e
2016).
E, em seguida, o réu foi eleito para o cargo de Prefeito para o quadriênio 2017-2020.

Percebe-se, portanto, que a denúncia imputa ao réu crime que fora praticado em razão do
exercício do seu mandato à época, que não tem relação com esse novo mandato que se
iniciou no ano de 2017 e persiste até os dias atuais.

Vale frisar que não se trata de reeleição, pois entre um mandato e outro teve um intervalo
de 04 (quatro) anos, ficando o réu no período de 2013-2016 sem exercer função pública,
tanto que a ação penal iniciou seu trâmite perante o Juiz de primeira instância, porque o réu
na época não exercia qualquer mandato eletivo.
Em recente e notória decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, em sessão de 03 de
maio de 2018, ao julgar Questão de Ordem na Ação Penal n.º 937, restou definido que o
foro por prerrogativa de função aplica-se aos crimes ocorridos durante o exercício do
mandato e relacionados às funções desempenhadas, assentando que as demais
situações devem ser processadas e julgadas em primeira instância.

A decisão tem efeitos prospectivos, em linha de princípio, ao menos em relação às pessoas


detentoras de mandato eletivo com prerrogativa de foro perante este Tribunal de Justiça
(CF, art. 29, X, da CF/88), fazendo-se necessária igual observância da regra constitucional a
justificar eventual manutenção, ou não, do trâmite do presente procedimento perante a
Câmara Criminal deste Tribunal.

O voto condutor na questão de ordem suscitada pelo eminente Relator no STF está assim
ementado:

“DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. QUESTÃO DE ORDEM EM AÇAO PENAL.


LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO AOS CRIMES PRATICADOS NO
CARGO E EM RAZAO DELE. ESTABELECIMENTO DE MARCO TEMPORAL DE FIXAÇÃO DE
COMPETÊNCIA.

I- Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa

1. O foro por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na intepretação até aqui adotada
pelo Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de que são acusados os agentes
públicos previstos no art. 102, I, b e c da Constituição, inclusive os praticados antes da
investidura no cargo e os que não guardam qualquer relação com o seu exercício.

2. Impõe-se, todavia, a alteração desta linha de entendimento, para restringir o


foro privilegiado aos crimes praticados no cargo e em razão do cargo. E que a prática
atual não realiza adequadamente princípios constitucionais estruturantes, como igualdade e
república, por impedir, em grande número de casos, a responsabilização de agentes públicos
por crimes de naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade mínima do sistema penal,
nesses casos, frustra valores constitucionais importantes, como a probidade e a moralidade
administrativa.

3. Para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu papel constitucional de garantir o
livre exercício das funções - e não ao fim ilegítimo de assegurar impunidade - é
indispensável que haja

A experiência relação de causalidade entre o crime imputado e o exercício do cargo. A


experiência e as estatísticas revelam a manifesta disfuncionalidade do sistema, causando
indignação à sociedade e trazendo desprestígio para o Supremo.

4. A orientação aqui preconizada encontra-se em harmonia com diversos precedentes do STF.


De fato, o Tribunal adotou idêntica lógica ao condicionar a imunidade parlamentar material -
i.e., a que os protege por suas opiniões, palavras e votos - à exigência de que a manifestação
tivesse relação com o exercício do mandato. Ademais, em inúmeros casos, o STF realizou
interpretação restritiva de suas competências constitucionais, para adequá-las às suas
finalidades. Precedentes.

II. Quanto ao momento da fixação definitiva da competência do STF

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5. A partir do final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para


apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais - do STF
ou de qualquer outro órgão – não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar
outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. A jurisprudência desta
Corte admite a possibilidade de prorrogação de competências constitucionais quando
necessária para preservar a efetividade e a racionalidade da prestação jurisdicional.
Precedentes.

III. Conclusão

6. Resolução da questão de ordem com a fixação das seguintes teses:

"(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o
final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação
de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada
em razão de o agente público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que
seja o motivo':

7. Aplicação da nova linha interpretativa aos processos em curso. Ressalva de todos


os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e demais juízos com base na
jurisprudência anterior

8. Como resultado, determinação de baixa da ação penal ao Juízo da 256ª Zona Eleitoral do
Rio de Janeiro, em razão de o réu ter renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em
vista que a instrução processual já havia sido finalizada perante a 1 a instância."

Nesse diapasão, a visão reconstruída pelo Supremo, apesar de tratar de um caso concreto
de um então Deputado Federal, dado o papel de destaque da Suprema Corte brasileira
e o papel irradiante da jurisdição constitucional, não deve se ater a caso de
parlamentares federais.

Isso porque, tal reconstrução não pode conduzir ao tratamento diferenciado de


situações jurídicas iguais. Assim, se um parlamentar federal, que exerce mandato
eletivo, sufragado pela soberania popular, deve responder a investigação ou responder a
ação penal perante o STF, apenas nos crimes cometidos durante o mandato e em
razão dele, também para os Prefeitos a prerrogativa deve ser assim
reinterpretada.

A prerrogativa era antes interpretada de forma ampla para todas as autoridades, sem
diferenciação entre ocupantes do Poder Legislativo ou do Poder Executivo. O instituto está
previsto na mesma Constituição que, reinterpretada pelo seu intérprete máximo, reduziu a
garantia sem que indicasse um motivo para se ater apenas a casos de parlamentares
federais.

A fonte do mandato de deputados federais e dos Prefeitos é a mesma: a soberania popular.


E ambos gozam da prerrogativa com o mesmo fim, qual seja, a proteção da autoridade, em
razão das altas funções públicas que exerce. Portanto, o princípio da igualdade (art. 5º,
caput, da Constituição), um dos vetores da interpretação constitucional e de todas as
normas do sistema jurídico, impede o tratamento diferenciado para os prefeitos, sob pena
de a prerrogativa se tornar não uma garantia ao cargo, mas à pessoa do acusado.

Com efeito, a meu sentir, as razões que conduziram à mudança de entendimento do STF
são extensíveis aos demais cargos políticos que possuem a mesma prerrogativa, como
corolário, dentre outros, dos princípios da igualdade, razoabilidade e simetria.

Dessa maneira, considerados todos os argumentos aqui expostos, deve se adotar a mesma
exegese conferida pelo Supremo aos casos de autoridades submetidas à jurisdição penal
originária naquela Corte aos crimes cometidos por Prefeitos em julgamentos perante este
Tribunal de Justiça.
Não por outra razão, o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão,
também de forma acertada, proferiu, em 07 de maio de 2018, poucos dias depois do
julgado acima, decisão monocrática remetendo à primeira instância a Ação Penal Originária
de n.º 866, de sua relatoria, que tem como acusado o Governador do Estado da Paraíba,
pautado exatamente na nova interpretação dada pelo STF, entendendo que as razões que
justificaram a decisão supramencionada deveria ser estendidas às outras autoridades
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detentoras de mandatos eletivos com foro por prerrogativa funcional junto ao Tribunal da
Cidadania.

É de se destacar ainda que, em 20/06/18, a Corte Especial do STJ decidiu, em questão de


ordem, que o foro por prerrogativa de função no caso de Governadores ficará restrito a
fatos ocorridos durante o exercício do cargo e em razão deste (Ações Penais nº 857/DF e
866/DF).

Além do STJ, outros Tribunais Pátrios cessaram o foro privilegiado e enviaram os processos
para a primeira instância, vejamos:

No Tribunal Regional Federal da 3ª Região (Ação Penal nº 0003744-


10.2011.4.03.6107), o Desembargador Federal Fausto de Sanctis declinou para a 2ª Vara
Federal de Araçatuba/SP a competência de julgamento de crime de denunciação caluniosa
atribuído ao Prefeito do Município de Planalto/SP, Ademar Adriano de Oliveira, e consumado
em momento anterior (2008) à diplomação no executivo municipal.

No Tribunal de Justiça da Bahia (Desembargador Julio Cezar Lemos Travessa), no dia


10/05/2018, Ação Penal Originária n.º 0014556-02.2017.8.05.0000, declinou da
competência para a 1ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro, Prefeito Wilker Oliveira
Torres, as infrações penais tipificadas no art. 1º, I, da Lei n.º 8.176/91 foram cometidas
antes de iniciado o mandato de prefeito e sem nenhuma relação com as funções do referido
cargo.

No Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (Desembargador Angelo


Passareli), Inquérito n.º 0021300-56.2017.8.07.0000), declinou da competência para a 8ª
Vara Criminal de Brasília, deputada distrital Telma Rufino Alves, as infrações penais
tipificadas no art. 297 c/c art. 29 do Código Penal foram praticadas entre 2012 (quando a
investigada ainda não era Deputada Distrital) e 2015 (quanto ela já exercia o cargo eletivo)
e a prática dos delitos não guarda relação com o exercício de sua função parlamentar.

Destaque-se, ademais, que após a decisão do plenário do STF, o ministro Dias Toffoli
encaminhou à ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, uma proposta de edição de duas
súmulas vinculantes que estendam a decisão sobre o foro por prerrogativa de função a
outros cargos federais, estaduais, distritais e municipais. Veja abaixo:

Proposta de súmula: A competência por prerrogativa de foro, prevista na CF/88 para


agentes públicos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e do Ministério Público,
compreende exclusivamente os crimes praticados no exercício e em razão do cargo ou da
função pública.

Proposta de súmula: São inconstitucionais normas de Constituições Estaduais e da Lei


Orgânica do DF que contemplam hipóteses de prerrogativa de foro não previstas
expressamente na Constituição Federal, vedada a invocação de simetria.

Desta feita, resta cristalino que o alcance dado até então ao foro por prerrogativa de função
está sendo revisto para o fim de não mais se permitir o julgamento de qualquer infração
penal pelos Tribunais Pátrios, afinal o foro por prerrogativa de função somente encontra
respaldo constitucional quando concebido como mecanismo apto a proteger o cargo público
e não seu ocupante.

Na presente hipótese, os fatos atribuídos ao réu Etelvino Barreto Sobrinho foram praticados
em momento anterior a sua investidura no mandato atual de Prefeito que se iniciou no ano
de 2017.

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Mostra-se, pois, que o fato em apuração não foi levado a efeito durante o exercício do atual
cargo, ou seja, trata-se de imputações referentes ao exercício do seu mandato à época
(2009/2012), nada se relacionando ao atual mandato eletivo, iniciado no ano de 2017.

Sem contar que houve um hiato entre um mandato de Prefeito e outro, já que o réu ficou
sem mandato nos anos de 2013/2016. Só no ano de 2017 logrou reassumir a prefeitura de
Rosário do Catete.

Instado a se manifestar, o Ministério Público, através do eminente Procurador de


Justiça Celso Luis Dória Leó, também reconheceu que deve ser cessada a competência
originária deste Tribunal de Justiça, pugnando pela remessa dos autos ao Juízo de 1º grau,
valendo transcrever o seguinte trecho do petitório ministerial:

“(...). No caso em tela, nota-se que os fatos apurados dizem respeito a mandato pretérito,
referente aos anos 2009/2012. Portanto, estão sendo investigadas condutas estranhas ao
mandato atual do acusado. Registre-se o posicionamento desta Procuradoria de Justiça
quanto à manutenção do foro por prerrogativa nas hipóteses de reeleição, quando os crimes
tenham ocorrido no primeiro mandato eletivo, justamente por entendermos que há uma
continuidade – prorrogação – do exercício do cargo de prefeito. Na hipótese em análise,
entretanto, houve um hiato, já que o réu não exerceu mandato eletivo nos anos 2013/2016.
Só no ano de 2017 logrou reassumir a prefeitura de Rosário do Catete. Para nós, é de se
aplicar o novel entendimento do Pretório Excelso, justamente porque o crime investigado
não diz respeito ao mandato atual do Prefeito.

(...)

De mais a mais, em que pese a última audiência de instrução tenha sido realizada em
09.05.18, com a oitiva da testemunha faltante e realização do interrogatório do réu, o certo
é que ainda não foi superada a fase do requerimento de eventuais diligências
complementares, nem tampouco houve despacho declarando encerrada a instrução com a
abertura de prazo para a apresentação das alegações finais.

Por essas razões, deve o processo ser remetido ao juízo de origem, a quem competirá a
realização dos últimos atos da fase instrutória, bem como julgar o acusado das acusações
que lhe são impostas, porquanto não mais subsiste o foro por prerrogativa de função, nos
termos da decisão proferida pelo
STF na Ação Penal n° 937.”

Em outro passo, a defesa se manifestou no sentido da manutenção da competência deste


Tribunal de Justiça, alegando que não existem motivos para que a interpretação dada pelo
STF seja aplicada ao caso concreto, pois o réu continua exercendo o mesmo cargo que
ocupava quando da imputação da prática do ilícito penal apurado nos presentes autos.

Todavia, consoante já demonstrado alhures, os fatos apurados dizem respeito a mandato


pretérito, referente aos anos 2009/2012. Portanto, estão sendo investigadas condutas
estranhas ao mandato atual do réu.

Frise-se que o denunciado não foi imediatamente reeleito, houve um intervalo de 04


(quatro) anos, não ocorrendo extensão do mandato inicial. Desta feita, não se nota
qualquer elemento a permitir a manutenção desta Ação Penal junto a este Tribunal,
levando-se em consideração os novos fundamentos interpretativos que devem balizar o
entendimento do foro por prerrogativa de função, a partir do julgamento da Questão de

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Ordem na Ação Penal n.º 937 pelo STF, na justa medida em que as infrações em tese
imputadas ao detentor de cargo público não foram levadas a efeito durante o exercício do
atual mandato eletivo.

Sem contar que, após o julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal n° 937, a 1ª
Turma do STF voltou a enfrentar o tema, deixando evidente que para a manutenção do
foro por prerrogativa de função o crime deveria estar relacionado a fatos
praticados no mandato atual do investigado. Segue decisão da 1ª turma do STF no
Inquérito 4703:

EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. DENÚNCIA OFERECIDA PELA PROCURADORA-GERAL DA


REPÚBLICA. DIREITO PENAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. PRECEDENTE.
AP 937-QO. RATIO DECIDENDI. APLICABILIDADE A TODA E QUALQUER AUTORIDADE QUE
POSSUA PRERROGATIVA DE FORO. QUESTÃO DE ORDEM RESOLVIDA PARA DECLINAR DA
COMPETÊNCIA AO JUÍZO DE 1ª INSTÂNCIA. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao
concluir o julgamento, na data de 03/05/2018, da AP 937-QO, aprovou, por maioria, as
teses de que: "(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e de que
“(ii) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não
será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo
que ocupava, qualquer que seja o motivo". 2. A ratio decidendi do julgamento
realizado pelo Supremo Tribunal Federal na AP 937-QO aplica-se, indistintamente, a
qualquer hipótese de competência especial por prerrogativa de função, tanto que a
discussão acerca da possibilidade de modificação da orientação jurisprudencial foi conduzida
objetivamente pelo Plenário em consideração aos parâmetros gerais da sobredita
modalidade de competência especial, isto é, sem qualquer valoração especial da condição
de parlamentar do réu da AP 937. 3. In casu, os fatos imputados na peça acusatória foram
praticados, em tese, pelos dois denunciados, respectivamente, no exercício e em razão do
cargo de Governador do Estado e no exercício do cargo de Deputado Estadual, embora,
nesse último caso, sem pertinência com o cargo em questão; sendo que, em ambos os
casos, os denunciados não mais exercem os cargos no exercício dos quais
praticaram, em tese, as condutas: o então Governador de Estado é, atualmente,
Senador da República no exercício do cargo de Ministro de Estado; sendo que o então
Deputado Estadual é, atualmente, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Mato
Grosso. 4. O elemento persuasivo (vinculante ou vinculativo, conforme o caso) do
precedente não decorre das partes ou do dispositivo da decisão, mas sim dos fundamentos
jurídicos adotados para justificá-la, ou seja, da chamada ratio decidendi. In casu, a) não
cabe cogitar da competência do STF para conhecer da denúncia oferecida, uma vez
que o hoje Senador da República e Ministro de Estado não praticou, em tese, o fato
no exercício e em razão daqueles últimos cargos; b) não se visualiza competência do
STJ, uma vez que o denunciado BLAIRO não mais exerce o cargo de Governador do Estado
e o denunciado SÉRGIO, embora exerça atualmente o cargo de Conselheiro de Tribunal de
Contas, não praticou, em tese, o fato no exercício do aludido cargo; c) não se visualiza
competência do Tribunal local, uma vez que o denunciado SÉRGIO, embora tenha praticado
o fato, em tese, na condição de Deputado Estadual, não mais exerce o cargo em questão;
d) por exclusão, o único Juízo competente para conhecer da peça acusatória é o da 1ª
instância, mais precisamente, da Justiça Estadual do Mato Grosso, considerando não se
visualizar, a princípio, competência da Justiça Federal quanto aos crimes imputados. 5. Voto
no sentido de resolver a questão de ordem por meio da declinação da competência para
conhecer da denúncia à 1ª instância da Justiça Estadual do Mato Grosso. (Inq 4703 QO,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 12/06/2018, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-208 DIVULG 28-09-2018 PUBLIC 01-10-2018).

Apreciando questão idêntica ao caso ora analisado, o Tribunal de Justiça da Bahia, na Ação
Penal - Procedimento Ordinário n° 8006934-90.2018.8.05.0000, em 17 de julho de 2018,
através do seu ilustre Desembargador Júlio Cezar Lemos Travessa, reconheceu a
inaplicabilidade do foro por prerrogativa de função:

“No presente caso, por seu turno, a ação penal foi proposta junto à segunda instância
considerando que o acusado exerce o mandado de Prefeito Municipal em Santa Bárbara-BA,

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possuindo, segundo mandamento constitucional, foro por prerrogativa funcional perante o


Tribunal de Justiça do respectivo Estado. Ocorre, entretanto, que o delito pelo qual o
referido Prefeito Municipal foi denunciado teria ocorrido no ano de 2012, quando
este exercia seu primeiro mandato junto a tal Executivo local. Após isso, o alcaide
foi derrotado nas eleições ocorridas no final do ano de 2012, deixando o cargo,
sendo novamente eleito quatro anos depois, para o quadriênio de 2017/2020,
cargo que efetivamente ocupa até os dias atuais. Veja-se, portanto, que não houve
uma continuidade do mandato, mas sim a sua interrupção, passando-se a gestão
municipal a outro indivíduo, somente retornando à chefia do acusado anos depois.
Parece bastante óbvio, assim, que os fatos cometidos àquela época não guardam
nenhuma relação com o novo mandato exercido pelo Prefeito Municipal, ainda que
tenham sido praticados quando do exercício do mesmo cargo público, pois tratam-
se de contextos Outrossim, ainda que existisse alguma fático-administrativos
absolutamente distintivos. Outrossim, ainda que existisse algumavinculação entre
aqueles fatos com a função atual, é certo que, sob a ótica do novo entendimento da
Suprema Corte, não se poderia justificar a incidência da prerrogativa funcional, pois
não foram praticados durante o mandato atual, mas sim em gestão pretérita, que
não teve continuidade ininterrupta com a presente. Situação diversa poderia se
verificar, por outro lado, se o delito tivesse sido cometido em um primeiro mandato, em
relação ao qual o detentor da prerrogativa fosse imediatamente reeleito, sem dar solução
de continuidade ao exercício funcional, pois aí tratar-se-ia de simples extensão do mandato
inicial. O que se quer dizer é que, cessado o mandato, não se pode pretender jugar
fatos relacionados a este, utilizando-se de prerrogativa funcional decorrente de
mandatos futuros do indivíduo, pois seria uma verdadeira distorção do objetivo
trazido pelo entendimento da Suprema Corte”.

Na trilha dessa nova interpretação, a Câmara Criminal e o Pleno deste Tribunal já vêm
aplicando o entendimento, cessando o foro privilegiado de alguns réus e remetendo
inquéritos e ações penais à primeira instância, vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO PENAL – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE RECONHECEU A


INCOMPETÊNCIA DESTE TRIBUNAL PARA O PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DESTE
FEITO – APLICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA RECENTEMENTE ADOTADA PELO STF
NA AP 937 – APLICAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO UNICAMENTE AOS
CRIMES COMETIDOS NO EXERCÍCIO DO ATUAL MANDATO E DESDE QUE EM RAZÃO
DELE – DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO DE PRIMEIRA
INSTÂNCIA – PLEITO DE MANUTENÇÃO DA COMPETÊNCIA SOB O ARGUMENTO DE QUE
SERIA NECESSÁRIA UMA MUTAÇÃO NA INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
SERGIPE – NÃO ACOLHIMENTO – JULGAMENTO DO PREFEITO PERANTE O TRIBUNAL DE
JUSTIÇA – PREVISÃO NA CF/88 – INTELIGÊNCIA DO ART. 29, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
– NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO SIMÉTRICA – INEXISTÊNCIA DE MOTIVOS QUE LEVEM A
NOVA INTERPRETAÇÃO A SER APLICADA SOMENTE A MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL –
MESMA RATIO DECIDENDI – INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTOS HÁBEIS A ALTERAR O
ENTENDIMENTO ANTERIORMENTE FIRMADO NA DECISÃO AGRAVADA – DECISUM
MONOCRÁTICO MANTIDO INTEGRALMENTE – AGRAVO INTERNO DESPROVIDO – .
(Agravo Regimental (Crime) nº 201800320698 DECISÃO UNÂNIME nº único 0008808-
65.2016.8.25.0000 - CÂMARA CRIMINAL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Ana
Lúcia Freire de A. dos Anjos - Julgado em 02/10/2018);

Questão de Ordem em Ação Penal Originária – Operação “Indenizar-se” – Alegada


incompetência do Tribunal de Justiça para processar e julgar o feito – Julgamento do Supremo
Tribunal Federal na Questão de Ordem na Ação Penal nº 937/RJ – Interpretação restritiva da
competência por prerrogativa de foro prevista no art. 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, da
Constituição Federal – Acórdão ainda não publicado – Eficácia do julgado a partir da publicação
da ata de julgamento – Aplicação do Princípio da Simetria – Foro por prerrogativa de função
prevista no art. 106, inciso I, alínea “a”, da Constituição do Estado de Sergipe de 1989, entre
outros, para Deputados Estaduais – Crimes investigados que supostamente foram
praticados durante mandato de Vereador do réu, sem guardar qualquer relação com
o mandato de Deputado Estadual – Superveniente incompetência do TJSE – Declínio
da competência que se impõe – Prevenção do Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da
Comarca de Aracaju em razão da conexão existente com a APO nº 201700112979 – Pleito de
abstenção da prática de atos instrutórios – Instrução de ambas as Ações Penais
(201700111432 e 201700112979) realizada nos autos conexos – Recolhimento das cartas de

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ordem expedidas – Indeferimento – Ressalva feita pelo próprio STF quanto à preservação dos
atos praticados pelos Órgão então competentes antes do julgamento da Questão de Ordem. I
– No julgamento da QO na AP 937/RJ, o STF, inovando na interpretação da previsão contida
no art. 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, da CF/88, fixou as seguintes teses a respeito do foro por
prerrogativa de função: “(...) (i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após
o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação
de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada
em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo (...)”; II – Embora o Acórdão exarado no citado julgamento ainda
não tenha sido publicado, a própria jurisprudência da Suprema Corte estabelece como marco
inicial da produção de seus efeitos a publicação da Ata de julgamento, o que ocorrera em
10/05/2018; III – Em matéria de competência por prerrogativa de foro, o STF já se
pronunciou no sentido de que as Constituições Estaduais devem observar o Princípio da
Simetria, guardando semelhança às previsões da Constituição Federal; IV – No presente caso,
o art. 106, inciso I, alínea “a”, da CE/89 prevê foro por prerrogativa de função, dentre outros,
para os Deputados Estaduais, cargo ocupado atualmente pelo réu Robson Costa Viana; V –
Apesar disso, o citado réu, à época da suposta prática dos delitos aqui investigados, exercia o
mandato de Vereador, para o qual sequer há previsão de foro por prerrogativa de função na
Carta Política Estadual, ou seja, os crimes não teriam sido praticados durante o mandato de
Deputado Estadual nem em razão de seu exercício; VI – Consequentemente, deve-se declarar
a superveniente incompetência desta Corte de Justiça para processar e julgar a presente Ação
Penal; VII – Havendo conexão desta APO com a de nº 20170112979, esta última originária do
Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de Aracaju, resta configurada a sua
prevenção para o conhecimento da causa; VIII – Em relação ao pedido de recolhimento das
cartas de ordem expedidas nos autos conexos, o próprio STF ressalvou a validade dos atos
processuais praticados pelos Órgãos Julgadores então competentes antes do julgamento da
QO na AP 937/RJ; IX – Consequentemente, a possível nulidade aventada pelo réu Robson
Costa Viana em seu requerimento não restou configurada, inexistindo razão para adotar a
providência postulada; X – Questão de ordem conhecida e parcialmente acolhida.
Declaração de incompetência superveniente do TJSE. Declínio para a 3ª Vara
Criminal de Aracaju. (Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 201700111432 nº
único0003579-90.2017.8.25.0000 - TRIBUNAL PLENO, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator(a): Iolanda Santos Guimarães – Julgado em 01/08/2018);

Questão de Ordem em Ação Penal Originária – Operação “Indenizar-se” – Alegada


incompetência do Tribunal de Justiça para processar e julgar o feito – Julgamento do
Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem na Ação Penal nº 937/RJ – Interpretação
restritiva da competência por prerrogativa de foro prevista no art. 102, inciso I, alíneas “b” e
“c”, da Constituição Federal – Acórdão ainda não publicado – Eficácia do julgado a partir da
publicação da ata de julgamento – Aplicação do Princípio da Simetria – Foro por prerrogativa
de função prevista no art. 106, inciso I, alínea “a”, da Constituição do Estado de Sergipe de
1989, entre outros, para Deputados Estaduais – Crimes investigados que supostamente
foram praticados durante mandato de Vereador do réu, sem guardar qualquer
relação com o mandato de Deputado Estadual – Superveniente incompetência do
TJSE – Declínio da – Prevenção do Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da competência
que se impõe Comarca de Aracaju – Pleito de recolhimento das cartas de ordem expedidas –
Indeferimento – Ressalva feita pelo próprio STF quanto à preservação dos atos praticados
pelos Órgão então competentes antes do julgamento da Questão de Ordem. I – No julgamento
da QO na AP 937/RJ, o STF, inovando na interpretação da previsão contida no art. 102, inciso
I, alíneas “b” e “c”, da CF/88, fixou as seguintes teses a respeito do foro por prerrogativa de
função: “(...) (i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da
instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada
em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo (...)”; II – Embora o Acórdão exarado no citado julgamento ainda
não tenha sido publicado, a própria jurisprudência da Suprema Corte estabelece como marco
inicial da produção de seus efeitos a publicação da Ata de julgamento, o que ocorrera em
10/05/2018; III – Em matéria de competência por prerrogativa de foro, o STF já se
pronunciou no sentido de que as Constituições Estaduais devem observar o Princípio da
Simetria, guardando semelhança às previsões da Constituição Federal; IV – No presente caso,
o art. 106, inciso I, alínea “a”, da CE/89 prevê foro por prerrogativa de função, dentre outros,
para os Deputados Estaduais, cargo ocupado atualmente pelo réu Tijói Barreto Evangelista; V
– Apesar disso, o citado réu, à época da suposta prática dos delitos aqui investigados, exercia
o mandato de Vereador, para o qual sequer há previsão de foro por prerrogativa de função na
Carta Política Estadual, ou seja, os crimes não teriam sido praticados durante o mandato de
Deputado Estadual nem em razão de seu exercício; VI – Consequentemente, deve-se declarar
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a superveniente incompetência desta Corte de Justiça para processar e julgar a presente Ação
Penal; VII – Tendo o feito se originado no Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de
Aracaju, resta configurada a sua prevenção para o conhecimento da causa; VIII – Em relação
ao pedido de recolhimento das cartas de ordem expedidas, o próprio STF ressalvou a validade
dos atos processuais praticados pelos Órgãos Julgadores então competentes antes do
julgamento da QO na AP 937/RJ; IX – Consequentemente, a possível nulidade aventada pelo
réu Tijói Barreto Evangelista em seu requerimento não restou configurada, inexistindo razão
para adotar a providência postulada; X – Questão de ordem conhecida e parcialmente
acolhida. Declaração de incompetência superveniente do TJSE. Declínio para a 3ª
Vara Criminal de Aracaju. (Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 201700112979 nº
único0004067-45.2017.8.25.0000 - TRIBUNAL PLENO, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator(a):

Iolanda Santos Guimarães - Julgado em 01/08/2018).

Saliento, por oportuno, que o próprio advogado do réu, no dia 12/06/2018, em outro
processo - Ação Penal n.º 201700300917, se manifestou pelo declínio da competência.

Mostra-se, pois, de todo inadequado que este Tribunal continue a conduzir o processo em
apreço, diante da inaplicabilidade da regra constitucional de prerrogativa de foro ao
presente caso, por aplicação do princípio da simetria e em consonância com a decisão da
Suprema Corte.

Cabe destacar, por fim, que a instrução processual da ação penal em apreço ainda não
chegou ao seu término, pois não foi publicado o despacho de intimação para apresentação
de alegações finais.

Segundo a decisão do STF, o marco temporal para o deslocamento da competência é a


publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, o que ainda
não ocorreu na hipótese em tela.

Assim, considerando as balizas estabelecidas pelo Supremo e o fato de que os atos ilícitos
imputados ao investigado não foram cometidos no exercício do atual mandato, o declínio
da competência é medida que se impõe, nos exatos termos do novel entendimento da Corte
Constitucional.

Ante o exposto, acolho a manifestação da Procuradoria Geral de Justiça e declaro, por causa
desta Colenda Corte para processar e julgar superveniente, a incompetência o presente
feito, e determino, via de conseqüência, a remessa destes autos para o Distrito
Judiciário de Rosário do Catete, Comarca de Carmópolis/SE, preservando-se a
validade de todos os atos praticados e decisões proferidas.

A remessa dos autos só deverá ocorrer após o trânsito em julgado desta decisão (...).”

Em síntese, o agravante argumenta que o fato dos atos investigados terem


sido praticados no primeiro mandato do agravado, entre os meses de
setembro a dezembro de 2012, quando o agravante ocupava o cargo de
Prefeito do Município de Rosário do Catete/SE, não afastando a prerrogativa
funcional disposta no art. 106, I, da Constituição Estadual, uma vez que o réu
encontra-se atualmente no cargo de Prefeito, atraindo a conclusão fixada pelo
STF no julgamento da AP 937/RJ.
Não obstante a argumentação dispendida, não assiste razão ao agravante.
O foro por prerrogativa de função é um instituto processual eis que fixa
competência para processamento e julgamento de ações penais, e de natureza
constitucional, pois previsto na Constituição da República de 1988 e em várias
Constituições Estaduais, por força do artigo 25, caput, da mesma Carta.
No caso dos Prefeitos, o foro é previsto pela própria Constituição da República,
no artigo 29, inciso X, ordenando que eles sejam julgados pelo Tribunal de
Justiça, e, pela jurisprudência do STF, nos respectivos Tribunais de Segundo
Grau, segundo o Enunciado da Súmula n.º 702.
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O instituto era até há pouco tempo interpretado de forma a abarcar todos os


crimes cometidos pelos detentores do foro perante um Tribunal, fossem eles
cometidos antes ou durante o mandato, sendo que, em regra, com a perda do
cargo ou mandato, o caso era remetido a outra instância da justiça.
Entretanto, o Supremo reinterpretou o significado do instituto e promoveu a
restrição da prerrogativa com base nos princípios republicanos (artigo 1º,
caput, da Constituição) e da igualdade (artigo 5º, caput, da Constituição), nos
termos do voto do Relator, o Ministro Luís Roberto Barroso.
A despeito da decisão proferida na QO na AP 937 não ter aplicado a extensão
dos seus efeitos aos ocupantes dos demais cargos sujeitos ao foro por
prerrogativa de função, também não há, em seus termos, nenhum
impedimento ou vedação, de que seus fundamentos sejam imediata e
integralmente adotadas por outras instâncias. Ao contrário, parece mesmo
que há um estímulo para que isso ocorra, para dissipar as incertezas, na
medida que o Pretório Excelso, naquela situação, só poderia mesmo decidir à
vista do caso concreto, dada a sede processual na qual submetida a matéria -
Questão de Ordem em Ação Penal.
Pois bem. A mesma Constituição que atribui foro aos Deputados Federais e
Senadores no Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, alínea b), atribui
aos Prefeitos nos Tribunais de Justiça (artigo 29, inciso X), nos crimes comuns
de competência da Justiça Estadual, e, nos termos do Enunciado da Súmula
n.º 702/STF, perante os Tribunais Regionais Federais nos crimes comuns de
competência da Justiça Federal e perante os Tribunais Regionais Eleitorais nos
crimes eleitorais.
A interpretação jurisprudencial anterior ao decidido pela QO-AP 937/RJ era
literal, ou seja, qualquer autoridade detentora da prerrogativa, seja um
Senador, seja um Deputado, seja um Prefeito, era processada e julgada
perante um Tribunal, independentemente da natureza do crime, do momento
de sua prática ou de relação do delito com as funções exercidas pela
autoridade, sem que se cogitasse de sua limitação.
Entretanto, a visão reconstruída pelo Supremo, apesar de tratar de um caso
concreto de um então Deputado Federal, dado o papel de destaque da
Suprema Corte brasileira e o papel irradiante da jurisdição constitucional,
certo que não deve se ater ao caso de parlamentares federais.
E isso em razão dos princípios republicano e da igualdade, pois não pode
haver tratamento diferenciado de situações jurídicas iguais.
Em termos pragmáticos, não podemos admitir que um Senador e um Prefeito,
que cometam o mesmo crime, nas mesmas condições, possam ser
processados e julgados em instâncias diferentes, isto é, o primeiro perante o
Magistrado singular e, o segundo, perante o Tribunal de Justiça estadual.
Ora, a fonte do mandato de Senadores e dos Prefeitos é a mesma: a
soberania popular. E ambos gozam da prerrogativa com o mesmo fim, qual
seja, a proteção da autoridade, em razão das altas funções públicas que
exerce. Portanto, o princípio da igualdade, um dos vetores da interpretação
constitucional e de todas as normas do sistema jurídico, impede o tratamento
diferenciado para os Prefeitos, sob pena de a prerrogativa se tornar não uma
garantia ao cargo, mas à pessoa do acusado.
Resumindo, em atenção ao postulado da coerência e da racionalidade do
sistema constitucional, ínsitos ao princípio da unidade da Constituição, não se
pode interpretar a Lei Fundamental em tiras, conferindo a dois dispositivos
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idênticos sentidos diversos, razão pela qual, deve ser adotar a mesma
exegese conferida pelo Supremo aos Prefeitos em julgamentos perante este
Tribunal de Justiça.
Tanto é assim que o Superior Tribunal de Justiça decidiu, em 20/06/2018, logo
após a mudança de entendimento do Supremo Tribunal Federal, que a nova
interpretação também deveria ser aplicada a Governadores, bem como a
outras autoridades detentoras de foro por prerrogativa funcional junto ao
Tribunal da Cidadania (Ações Penais nº 857/DF e 866/DF).
Desta feita, resta cristalino que o alcance dado até então ao foro por
prerrogativa de função está sendo revisto para o fim de não mais se permitir o
julgamento de qualquer infração penal pelos Tribunais Pátrios.
Outrossim, o inconformismo da Defesa, quanto à declaração de incompetência
do Tribunal de Justiça para processar e julgar a ação penal n.º 201700303448,
se resume a argumentar que o fato dos atos investigados terem sido
praticados no primeiro mandato do agravado, não afasta o foro por
prerrogativa de função.
Ocorre que, a insatisfação do agravante não merece prosperar, pois é
importante esclarecer que as supostas infrações penais tipificadas nos artigo
168, § 1º, inciso III, do Código Penal, teriam sido praticadas pelo réu nos
meses de setembro a dezembro do exercício financeiro de 2012, quando
ocupava o primeiro mandato de Prefeito no período compreendido entre os
anos de 2009-2012.
Posteriormente, o réu não exerceu nenhum cargo entre os anos de 2013 e
2016.
E, em seguida, o réu foi eleito para o cargo de Prefeito para o quadriênio
2017-2020.
Percebe-se, portanto, que a denúncia imputa ao réu crime que fora praticado
em razão do exercício do seu mandato à época, que não tem relação com esse
novo mandato que se iniciou no ano de 2017 e persiste até os dias atuais.
Nota-se que os fatos apurados dizem respeito a mandato pretérito, referente
aos anos 2009/2012. Portanto, estão sendo investigadas condutas
estranhas ao mandato atual do agravante. Na hipótese em análise, houve
um lapso temporal entre um mandato de Prefeito e outro, já que o réu
exerceu mandato de Prefeito nos anos de 2009/2012. Só no ano de 2017
logrou reassumir a prefeitura de Rosário de Catete. Portanto, é de se aplicar o
novel entendimento do Pretório Excelso, justamente porque o crime
investigado não dizer respeito ao mandato atual do agravante.
Após o julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal n° 937, a 1ª Turma
do STF voltou a enfrentar o tema, deixando evidente que para a
manutenção do foro por prerrogativa de função o crime deveria estar
relacionado a fatos praticados no mandato atual do investigado. Segue
decisão da 1ª turma do STF no Inquérito 4703:
EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. DENÚNCIA OFERECIDA PELA PROCURADORA-GERAL DA
REPÚBLICA. DIREITO PENAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. PRECEDENTE.
AP 937-QO. RATIO DECIDENDI. APLICABILIDADE A TODA E QUALQUER AUTORIDADE QUE
POSSUA PRERROGATIVA DE FORO. QUESTÃO DE ORDEM RESOLVIDA PARA DECLINAR DA
COMPETÊNCIA AO JUÍZO DE 1ª INSTÂNCIA. [...]; sendo que, em ambos os casos, os
denunciados não mais exercem os cargos no exercício dos quais praticaram, em
tese, as condutas: o então Governador de Estado é, atualmente, Senador da República no
exercício do cargo de Ministro de Estado; sendo que o então Deputado Estadual é,

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atualmente, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso. 4. O elemento


persuasivo (vinculante ou vinculativo, conforme o caso) do precedente não decorre das
partes ou do dispositivo da decisão, mas sim dos fundamentos jurídicos adotados para
justificá-la, ou seja, da chamada ratio decidendi. In casu, a) não cabe cogitar da
competência do STF para conhecer da denúncia oferecida, uma vez que o hoje
Senador da República e Ministro de Estado não praticou, em tese, o fato no
exercício e em razão daqueles últimos cargos; [...]

(Inq 4703 QO, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 12/06/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-208 DIVULG 28-09-2018 PUBLIC 01-10-2018).

Apreciando QUESTÃO IDÊNTICA ao caso ora analisado, o Tribunal de Justiça


da Bahia, na AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO n° 8006934-
90.2018.8.05.0000, em 17 de julho de 2018, através do seu ilustre
Desembargador Júlio Cezar Lemos Travessa, reconheceu a inaplicabilidade do
foro por prerrogativa de função:
“No presente caso, por seu turno, a ação penal foi proposta junto à segunda instância
considerando que o acusado exerce o mandado de Prefeito Municipal em Santa Bárbara-BA,
possuindo, segundo mandamento constitucional, foro por prerrogativa funcional perante o
Tribunal de Justiça do respectivo Estado. Ocorre, entretanto, que o delito pelo qual o
referido Prefeito Municipal foi denunciado teria ocorrido no ano de 2012, quando
este exercia seu primeiro mandato junto a tal Executivo local. Após isso, o alcaide
foi derrotado nas eleições ocorridas no final do ano de 2012, deixando o cargo,
sendo novamente eleito quatro anos depois, para o quadriênio de 2017/2020,
cargo que efetivamente ocupa até os dias atuais. Veja-se, portanto, que não houve
uma continuidade do mandato, mas sim a sua interrupção, passando-se a gestão
municipal a outro indivíduo, somente retornando à chefia do acusado anos depois.
Parece bastante óbvio, assim, que os fatos cometidos àquela época não guardam
nenhuma relação com o novo mandato exercido pelo Prefeito Municipal, ainda que
tenham sido praticados quando do exercício do mesmo cargo público, pois tratam-
se de contextos fático-administrativos absolutamente distintivos. Outrossim, ainda
que existisse alguma vinculação entre aqueles fatos com a função atual, é certo que, sob a
ótica do novo entendimento da Suprema Corte, não se poderia justificar a incidência da
prerrogativa funcional, pois não foram praticados durante o mandato atual, mas
sim em gestão pretérita, que não teve continuidade ininterrupta com a presente.
Situação diversa poderia se verificar, por outro lado, se o delito tivesse sido cometido em
um primeiro mandato, em relação ao qual o detentor da prerrogativa fosse imediatamente
reeleito, sem dar solução de continuidade ao exercício funcional, pois aí tratar-se-ia de
simples extensão do mandato inicial. O que se quer dizer é que, cessado o mandato,
não se pode pretender jugar fatos relacionados a este, utilizando-se de
prerrogativa funcional decorrente de mandatos futuros do indivíduo, pois seria
uma verdadeira distorção do objetivo trazido pelo entendimento da Suprema
Corte”.

Por fim, na trilha dessa nova interpretação, a Câmara Criminal e o Pleno deste
Tribunal já vêm aplicando o entendimento, cessando o foro privilegiado de
alguns réus e remetendo inquéritos e ações penais à primeira instância,
vejamos:
"AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO PENAL – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE RECONHECEU
A INCOMPETÊNCIA DESTE TRIBUNAL PARA O PROCESSAMENTO E JULGAMENTO
DESTE FEITO – APLICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA RECENTEMENTE ADOTADA
PELO STF NA AP 937 – APLICAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
UNICAMENTE AOS CRIMES COMETIDOS NO EXERCÍCIO DO ATUAL MANDATO E
DESDE QUE EM RAZÃO DELE – DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO
DE PRIMEIRA INSTÂNCIA – PLEITO DE MANUTENÇÃO DA COMPETÊNCIA SOB O
ARGUMENTO DE QUE SERIA NECESSÁRIA UMA MUTAÇÃO NA INTERPRETAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SERGIPE – NÃO ACOLHIMENTO – JULGAMENTO DO
PREFEITO PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA – PREVISÃO NA CF/88 – INTELIGÊNCIA DO
ART. 29, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO SIMÉTRICA

file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 15/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual

– INEXISTÊNCIA DE MOTIVOS QUE LEVEM A NOVA INTERPRETAÇÃO A SER APLICADA


SOMENTE A MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL – MESMA RATIO DECIDENDI –
INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTOS HÁBEIS A ALTERAR O ENTENDIMENTO ANTERIORMENTE
FIRMADO NA DECISÃO AGRAVADA – DECISUM MONOCRÁTICO MANTIDO
INTEGRALMENTE – AGRAVO INTERNO DESPROVIDO – DECISÃO UNÂNIME".

(Agravo Regimental (Crime) nº 201800320698 nº único 0008808-65.2016.8.25.0000 -


CÂMARA CRIMINAL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Ana Lúcia Freire de A.
dos Anjos - Julgado em 02/10/2018).

Questão de Ordem em Ação Penal Originária – Operação “Indenizar-se” – Alegada


incompetência do Tribunal de Justiça para processar e julgar o feito – Julgamento do
Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem na Ação Penal nº 937/RJ – Interpretação
restritiva da competência por prerrogativa de foro prevista no art. 102, inciso I, alíneas “b”
e “c”, da Constituição Federal – Acórdão ainda não publicado – Eficácia do julgado a partir
da publicação da ata de julgamento – Aplicação do Princípio da Simetria – Foro por
prerrogativa de função prevista no art. 106, inciso I, alínea “a”, da Constituição do Estado
de Sergipe de 1989, entre outros, para Deputados Estaduais – Crimes investigados que
supostamente foram praticados durante mandato de Vereador do réu, sem
guardar qualquer relação com o mandato de Deputado Estadual – Superveniente
incompetência do TJSE – Declínio da competência que se impõe – [...]; X – Questão
de ordem conhecida e parcialmente acolhida. Declaração de incompetência
superveniente do TJSE. Declínio para a 3ª Vara Criminal de Aracaju.

(Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 201700111432 nº único0003579-


90.2017.8.25.0000 - TRIBUNAL PLENO, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a):
Iolanda Santos Guimarães - Julgado em 01/08/2018);

Questão de Ordem em Ação Penal Originária – Operação “Indenizar-se” – Alegada


incompetência do Tribunal de Justiça para processar e julgar o feito – Julgamento
do Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem na Ação Penal nº 937/RJ –
Interpretação restritiva da competência por prerrogativa de foro prevista no art. 102, inciso
I, alíneas “b” e “c”, da Constituição Federal – Acórdão ainda não publicado – Eficácia do
julgado a partir da publicação da ata de julgamento – Aplicação do Princípio da Simetria –
Foro por prerrogativa de função prevista no art. 106, inciso I, alínea “a”, da Constituição do
Estado de Sergipe de 1989, entre outros, para Deputados Estaduais – Crimes
investigados que supostamente foram praticados durante mandato de Vereador do
réu, sem guardar qualquer relação com o mandato de Deputado Estadual –
Superveniente incompetência do TJSE – Declínio da competência que se impõe –
[...]; X – Questão de ordem conhecida e parcialmente acolhida. Declaração de
incompetência superveniente do TJSE. Declínio para a 3ª Vara Criminal de Aracaju.

(Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 201700112979 nº único0004067-


45.2017.8.25.0000 - TRIBUNAL PLENO, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a):
Iolanda Santos Guimarães - Julgado em 01/08/2018).

Logo, como bem consignado na decisão agravada, é forçoso o reconhecimento


da incompetência deste Tribunal de Justiça para o processamento da ação
penal n.º 201700303448.
Sendo assim, não apresentando a parte agravante, nas razões recursais do
Agravo Regimental em exame, argumentos aptos a ilidir a decisão
monocrática recorrida, remanescem absolutamente incólumes os fundamentos
que a sustentaram.
Diante do exposto, reafirmo, portanto, o decisum monocrático e NEGO
PROVIMENTO ao presente Agravo Regimental.
É como voto.

Aracaju/SE 11 de Dezembro de 2018

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13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual

DESA. ANA LÚCIA FREIRE DE A. DOS ANJOS


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