Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Gerada em
13/12/2018
17:56:23
ACÓRDÃO
Dados do Processo
Dados da Parte
Autor MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SERGIPE
13168687000110
ACÓRDÃO: 201830469
RECURSO: Agravo Regimental
PROCESSO: 201800332139
Relator: ANA LÚCIA FREIRE DE A. DOS ANJOS
Advogado: EVANIO JOSÉ DE
AGRAVANTE: ETELVINO BARRETO SOBRINHO
MOURA SANTOS
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO
AGRAVADO:
DE SERGIPE
EMENTA
AGRAVO
REGIMENTAL –
DECISÃO
MONOCRÁTICA –
RECONHECIMENTO
DA INCOMPETÊNCIA
DESTE TRIBUNAL
PARA O
PROCESSAMENTO E
JULGAMENTO DA
AÇÃO PENAL N.º
201700303448 –
FATO
SUPERVENIENTE –
RESTRIÇÃO DO FORO
POR PRERROGATIVA
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 1/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 2/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
MANTIDO
INTEGRALMENTE.
- Fato superveniente que
consiste na restrição do
foro por prerrogativa de
função pelo Supremo
Tribunal Federal no
julgamento da QO-AP n.º
937/RJ;
- A decisão deve ser
estender aos Prefeitos, pois
não há razão jurídica para
diferenciar o tratamento
conferido pelo STF aos
Deputados Federais e
Senadores;
- No caso concreto, os
crimes praticados pelo
agravado, durante o
exercício financeiro de
2012, não guardam relação
com o atual mandato;
- AGRAVO REGIMENTAL
CONHECIDO E
IMPROVIDO – DECISÃO
UNÂNIME.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 3/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
“(...). Depreende-se dos autos que o crime apurado na presente ação penal teria sido
praticado pelo réu nos meses de setembro a dezembro do exercício financeiro de 2012,
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 4/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
Posteriormente, o réu não exerceu qualquer mandato eletivo (entre os anos de 2013 e
2016).
E, em seguida, o réu foi eleito para o cargo de Prefeito para o quadriênio 2017-2020.
Percebe-se, portanto, que a denúncia imputa ao réu crime que fora praticado em razão do
exercício do seu mandato à época, que não tem relação com esse novo mandato que se
iniciou no ano de 2017 e persiste até os dias atuais.
Vale frisar que não se trata de reeleição, pois entre um mandato e outro teve um intervalo
de 04 (quatro) anos, ficando o réu no período de 2013-2016 sem exercer função pública,
tanto que a ação penal iniciou seu trâmite perante o Juiz de primeira instância, porque o réu
na época não exercia qualquer mandato eletivo.
Em recente e notória decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, em sessão de 03 de
maio de 2018, ao julgar Questão de Ordem na Ação Penal n.º 937, restou definido que o
foro por prerrogativa de função aplica-se aos crimes ocorridos durante o exercício do
mandato e relacionados às funções desempenhadas, assentando que as demais
situações devem ser processadas e julgadas em primeira instância.
O voto condutor na questão de ordem suscitada pelo eminente Relator no STF está assim
ementado:
1. O foro por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na intepretação até aqui adotada
pelo Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de que são acusados os agentes
públicos previstos no art. 102, I, b e c da Constituição, inclusive os praticados antes da
investidura no cargo e os que não guardam qualquer relação com o seu exercício.
3. Para assegurar que a prerrogativa de foro sirva ao seu papel constitucional de garantir o
livre exercício das funções - e não ao fim ilegítimo de assegurar impunidade - é
indispensável que haja
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 5/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
III. Conclusão
"(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o
final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação
de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada
em razão de o agente público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que
seja o motivo':
8. Como resultado, determinação de baixa da ação penal ao Juízo da 256ª Zona Eleitoral do
Rio de Janeiro, em razão de o réu ter renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em
vista que a instrução processual já havia sido finalizada perante a 1 a instância."
Nesse diapasão, a visão reconstruída pelo Supremo, apesar de tratar de um caso concreto
de um então Deputado Federal, dado o papel de destaque da Suprema Corte brasileira
e o papel irradiante da jurisdição constitucional, não deve se ater a caso de
parlamentares federais.
A prerrogativa era antes interpretada de forma ampla para todas as autoridades, sem
diferenciação entre ocupantes do Poder Legislativo ou do Poder Executivo. O instituto está
previsto na mesma Constituição que, reinterpretada pelo seu intérprete máximo, reduziu a
garantia sem que indicasse um motivo para se ater apenas a casos de parlamentares
federais.
Com efeito, a meu sentir, as razões que conduziram à mudança de entendimento do STF
são extensíveis aos demais cargos políticos que possuem a mesma prerrogativa, como
corolário, dentre outros, dos princípios da igualdade, razoabilidade e simetria.
Dessa maneira, considerados todos os argumentos aqui expostos, deve se adotar a mesma
exegese conferida pelo Supremo aos casos de autoridades submetidas à jurisdição penal
originária naquela Corte aos crimes cometidos por Prefeitos em julgamentos perante este
Tribunal de Justiça.
Não por outra razão, o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão,
também de forma acertada, proferiu, em 07 de maio de 2018, poucos dias depois do
julgado acima, decisão monocrática remetendo à primeira instância a Ação Penal Originária
de n.º 866, de sua relatoria, que tem como acusado o Governador do Estado da Paraíba,
pautado exatamente na nova interpretação dada pelo STF, entendendo que as razões que
justificaram a decisão supramencionada deveria ser estendidas às outras autoridades
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 6/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
detentoras de mandatos eletivos com foro por prerrogativa funcional junto ao Tribunal da
Cidadania.
Além do STJ, outros Tribunais Pátrios cessaram o foro privilegiado e enviaram os processos
para a primeira instância, vejamos:
Destaque-se, ademais, que após a decisão do plenário do STF, o ministro Dias Toffoli
encaminhou à ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, uma proposta de edição de duas
súmulas vinculantes que estendam a decisão sobre o foro por prerrogativa de função a
outros cargos federais, estaduais, distritais e municipais. Veja abaixo:
Desta feita, resta cristalino que o alcance dado até então ao foro por prerrogativa de função
está sendo revisto para o fim de não mais se permitir o julgamento de qualquer infração
penal pelos Tribunais Pátrios, afinal o foro por prerrogativa de função somente encontra
respaldo constitucional quando concebido como mecanismo apto a proteger o cargo público
e não seu ocupante.
Na presente hipótese, os fatos atribuídos ao réu Etelvino Barreto Sobrinho foram praticados
em momento anterior a sua investidura no mandato atual de Prefeito que se iniciou no ano
de 2017.
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 7/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
Mostra-se, pois, que o fato em apuração não foi levado a efeito durante o exercício do atual
cargo, ou seja, trata-se de imputações referentes ao exercício do seu mandato à época
(2009/2012), nada se relacionando ao atual mandato eletivo, iniciado no ano de 2017.
Sem contar que houve um hiato entre um mandato de Prefeito e outro, já que o réu ficou
sem mandato nos anos de 2013/2016. Só no ano de 2017 logrou reassumir a prefeitura de
Rosário do Catete.
“(...). No caso em tela, nota-se que os fatos apurados dizem respeito a mandato pretérito,
referente aos anos 2009/2012. Portanto, estão sendo investigadas condutas estranhas ao
mandato atual do acusado. Registre-se o posicionamento desta Procuradoria de Justiça
quanto à manutenção do foro por prerrogativa nas hipóteses de reeleição, quando os crimes
tenham ocorrido no primeiro mandato eletivo, justamente por entendermos que há uma
continuidade – prorrogação – do exercício do cargo de prefeito. Na hipótese em análise,
entretanto, houve um hiato, já que o réu não exerceu mandato eletivo nos anos 2013/2016.
Só no ano de 2017 logrou reassumir a prefeitura de Rosário do Catete. Para nós, é de se
aplicar o novel entendimento do Pretório Excelso, justamente porque o crime investigado
não diz respeito ao mandato atual do Prefeito.
(...)
De mais a mais, em que pese a última audiência de instrução tenha sido realizada em
09.05.18, com a oitiva da testemunha faltante e realização do interrogatório do réu, o certo
é que ainda não foi superada a fase do requerimento de eventuais diligências
complementares, nem tampouco houve despacho declarando encerrada a instrução com a
abertura de prazo para a apresentação das alegações finais.
Por essas razões, deve o processo ser remetido ao juízo de origem, a quem competirá a
realização dos últimos atos da fase instrutória, bem como julgar o acusado das acusações
que lhe são impostas, porquanto não mais subsiste o foro por prerrogativa de função, nos
termos da decisão proferida pelo
STF na Ação Penal n° 937.”
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 8/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
Ordem na Ação Penal n.º 937 pelo STF, na justa medida em que as infrações em tese
imputadas ao detentor de cargo público não foram levadas a efeito durante o exercício do
atual mandato eletivo.
Sem contar que, após o julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal n° 937, a 1ª
Turma do STF voltou a enfrentar o tema, deixando evidente que para a manutenção do
foro por prerrogativa de função o crime deveria estar relacionado a fatos
praticados no mandato atual do investigado. Segue decisão da 1ª turma do STF no
Inquérito 4703:
Apreciando questão idêntica ao caso ora analisado, o Tribunal de Justiça da Bahia, na Ação
Penal - Procedimento Ordinário n° 8006934-90.2018.8.05.0000, em 17 de julho de 2018,
através do seu ilustre Desembargador Júlio Cezar Lemos Travessa, reconheceu a
inaplicabilidade do foro por prerrogativa de função:
“No presente caso, por seu turno, a ação penal foi proposta junto à segunda instância
considerando que o acusado exerce o mandado de Prefeito Municipal em Santa Bárbara-BA,
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 9/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
Na trilha dessa nova interpretação, a Câmara Criminal e o Pleno deste Tribunal já vêm
aplicando o entendimento, cessando o foro privilegiado de alguns réus e remetendo
inquéritos e ações penais à primeira instância, vejamos:
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 10/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
ordem expedidas – Indeferimento – Ressalva feita pelo próprio STF quanto à preservação dos
atos praticados pelos Órgão então competentes antes do julgamento da Questão de Ordem. I
– No julgamento da QO na AP 937/RJ, o STF, inovando na interpretação da previsão contida
no art. 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, da CF/88, fixou as seguintes teses a respeito do foro por
prerrogativa de função: “(...) (i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após
o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação
de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada
em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo (...)”; II – Embora o Acórdão exarado no citado julgamento ainda
não tenha sido publicado, a própria jurisprudência da Suprema Corte estabelece como marco
inicial da produção de seus efeitos a publicação da Ata de julgamento, o que ocorrera em
10/05/2018; III – Em matéria de competência por prerrogativa de foro, o STF já se
pronunciou no sentido de que as Constituições Estaduais devem observar o Princípio da
Simetria, guardando semelhança às previsões da Constituição Federal; IV – No presente caso,
o art. 106, inciso I, alínea “a”, da CE/89 prevê foro por prerrogativa de função, dentre outros,
para os Deputados Estaduais, cargo ocupado atualmente pelo réu Robson Costa Viana; V –
Apesar disso, o citado réu, à época da suposta prática dos delitos aqui investigados, exercia o
mandato de Vereador, para o qual sequer há previsão de foro por prerrogativa de função na
Carta Política Estadual, ou seja, os crimes não teriam sido praticados durante o mandato de
Deputado Estadual nem em razão de seu exercício; VI – Consequentemente, deve-se declarar
a superveniente incompetência desta Corte de Justiça para processar e julgar a presente Ação
Penal; VII – Havendo conexão desta APO com a de nº 20170112979, esta última originária do
Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de Aracaju, resta configurada a sua
prevenção para o conhecimento da causa; VIII – Em relação ao pedido de recolhimento das
cartas de ordem expedidas nos autos conexos, o próprio STF ressalvou a validade dos atos
processuais praticados pelos Órgãos Julgadores então competentes antes do julgamento da
QO na AP 937/RJ; IX – Consequentemente, a possível nulidade aventada pelo réu Robson
Costa Viana em seu requerimento não restou configurada, inexistindo razão para adotar a
providência postulada; X – Questão de ordem conhecida e parcialmente acolhida.
Declaração de incompetência superveniente do TJSE. Declínio para a 3ª Vara
Criminal de Aracaju. (Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 201700111432 nº
único0003579-90.2017.8.25.0000 - TRIBUNAL PLENO, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator(a): Iolanda Santos Guimarães – Julgado em 01/08/2018);
a superveniente incompetência desta Corte de Justiça para processar e julgar a presente Ação
Penal; VII – Tendo o feito se originado no Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de
Aracaju, resta configurada a sua prevenção para o conhecimento da causa; VIII – Em relação
ao pedido de recolhimento das cartas de ordem expedidas, o próprio STF ressalvou a validade
dos atos processuais praticados pelos Órgãos Julgadores então competentes antes do
julgamento da QO na AP 937/RJ; IX – Consequentemente, a possível nulidade aventada pelo
réu Tijói Barreto Evangelista em seu requerimento não restou configurada, inexistindo razão
para adotar a providência postulada; X – Questão de ordem conhecida e parcialmente
acolhida. Declaração de incompetência superveniente do TJSE. Declínio para a 3ª
Vara Criminal de Aracaju. (Ação Penal - Procedimento Ordinário nº 201700112979 nº
único0004067-45.2017.8.25.0000 - TRIBUNAL PLENO, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator(a):
Saliento, por oportuno, que o próprio advogado do réu, no dia 12/06/2018, em outro
processo - Ação Penal n.º 201700300917, se manifestou pelo declínio da competência.
Mostra-se, pois, de todo inadequado que este Tribunal continue a conduzir o processo em
apreço, diante da inaplicabilidade da regra constitucional de prerrogativa de foro ao
presente caso, por aplicação do princípio da simetria e em consonância com a decisão da
Suprema Corte.
Cabe destacar, por fim, que a instrução processual da ação penal em apreço ainda não
chegou ao seu término, pois não foi publicado o despacho de intimação para apresentação
de alegações finais.
Assim, considerando as balizas estabelecidas pelo Supremo e o fato de que os atos ilícitos
imputados ao investigado não foram cometidos no exercício do atual mandato, o declínio
da competência é medida que se impõe, nos exatos termos do novel entendimento da Corte
Constitucional.
Ante o exposto, acolho a manifestação da Procuradoria Geral de Justiça e declaro, por causa
desta Colenda Corte para processar e julgar superveniente, a incompetência o presente
feito, e determino, via de conseqüência, a remessa destes autos para o Distrito
Judiciário de Rosário do Catete, Comarca de Carmópolis/SE, preservando-se a
validade de todos os atos praticados e decisões proferidas.
A remessa dos autos só deverá ocorrer após o trânsito em julgado desta decisão (...).”
idênticos sentidos diversos, razão pela qual, deve ser adotar a mesma
exegese conferida pelo Supremo aos Prefeitos em julgamentos perante este
Tribunal de Justiça.
Tanto é assim que o Superior Tribunal de Justiça decidiu, em 20/06/2018, logo
após a mudança de entendimento do Supremo Tribunal Federal, que a nova
interpretação também deveria ser aplicada a Governadores, bem como a
outras autoridades detentoras de foro por prerrogativa funcional junto ao
Tribunal da Cidadania (Ações Penais nº 857/DF e 866/DF).
Desta feita, resta cristalino que o alcance dado até então ao foro por
prerrogativa de função está sendo revisto para o fim de não mais se permitir o
julgamento de qualquer infração penal pelos Tribunais Pátrios.
Outrossim, o inconformismo da Defesa, quanto à declaração de incompetência
do Tribunal de Justiça para processar e julgar a ação penal n.º 201700303448,
se resume a argumentar que o fato dos atos investigados terem sido
praticados no primeiro mandato do agravado, não afasta o foro por
prerrogativa de função.
Ocorre que, a insatisfação do agravante não merece prosperar, pois é
importante esclarecer que as supostas infrações penais tipificadas nos artigo
168, § 1º, inciso III, do Código Penal, teriam sido praticadas pelo réu nos
meses de setembro a dezembro do exercício financeiro de 2012, quando
ocupava o primeiro mandato de Prefeito no período compreendido entre os
anos de 2009-2012.
Posteriormente, o réu não exerceu nenhum cargo entre os anos de 2013 e
2016.
E, em seguida, o réu foi eleito para o cargo de Prefeito para o quadriênio
2017-2020.
Percebe-se, portanto, que a denúncia imputa ao réu crime que fora praticado
em razão do exercício do seu mandato à época, que não tem relação com esse
novo mandato que se iniciou no ano de 2017 e persiste até os dias atuais.
Nota-se que os fatos apurados dizem respeito a mandato pretérito, referente
aos anos 2009/2012. Portanto, estão sendo investigadas condutas
estranhas ao mandato atual do agravante. Na hipótese em análise, houve
um lapso temporal entre um mandato de Prefeito e outro, já que o réu
exerceu mandato de Prefeito nos anos de 2009/2012. Só no ano de 2017
logrou reassumir a prefeitura de Rosário de Catete. Portanto, é de se aplicar o
novel entendimento do Pretório Excelso, justamente porque o crime
investigado não dizer respeito ao mandato atual do agravante.
Após o julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal n° 937, a 1ª Turma
do STF voltou a enfrentar o tema, deixando evidente que para a
manutenção do foro por prerrogativa de função o crime deveria estar
relacionado a fatos praticados no mandato atual do investigado. Segue
decisão da 1ª turma do STF no Inquérito 4703:
EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. DENÚNCIA OFERECIDA PELA PROCURADORA-GERAL DA
REPÚBLICA. DIREITO PENAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. PRECEDENTE.
AP 937-QO. RATIO DECIDENDI. APLICABILIDADE A TODA E QUALQUER AUTORIDADE QUE
POSSUA PRERROGATIVA DE FORO. QUESTÃO DE ORDEM RESOLVIDA PARA DECLINAR DA
COMPETÊNCIA AO JUÍZO DE 1ª INSTÂNCIA. [...]; sendo que, em ambos os casos, os
denunciados não mais exercem os cargos no exercício dos quais praticaram, em
tese, as condutas: o então Governador de Estado é, atualmente, Senador da República no
exercício do cargo de Ministro de Estado; sendo que o então Deputado Estadual é,
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 14/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
(Inq 4703 QO, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 12/06/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-208 DIVULG 28-09-2018 PUBLIC 01-10-2018).
Por fim, na trilha dessa nova interpretação, a Câmara Criminal e o Pleno deste
Tribunal já vêm aplicando o entendimento, cessando o foro privilegiado de
alguns réus e remetendo inquéritos e ações penais à primeira instância,
vejamos:
"AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO PENAL – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE RECONHECEU
A INCOMPETÊNCIA DESTE TRIBUNAL PARA O PROCESSAMENTO E JULGAMENTO
DESTE FEITO – APLICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA RECENTEMENTE ADOTADA
PELO STF NA AP 937 – APLICAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
UNICAMENTE AOS CRIMES COMETIDOS NO EXERCÍCIO DO ATUAL MANDATO E
DESDE QUE EM RAZÃO DELE – DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO
DE PRIMEIRA INSTÂNCIA – PLEITO DE MANUTENÇÃO DA COMPETÊNCIA SOB O
ARGUMENTO DE QUE SERIA NECESSÁRIA UMA MUTAÇÃO NA INTERPRETAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SERGIPE – NÃO ACOLHIMENTO – JULGAMENTO DO
PREFEITO PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA – PREVISÃO NA CF/88 – INTELIGÊNCIA DO
ART. 29, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO SIMÉTRICA
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 15/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 16/17
13/12/2018 TJSE - Sistema de Controle Processual
file:///C:/Users/WEB%20RADIO%20ROSARIO%20FM/Downloads/TJSE%20-%20Sistema%20de%20Controle%20Processual.mhtml 17/17