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Apologia de Sócrates

Sócrates real? Sócrates não deixou escritos. Suas ideias são conhecidas por meio dos
diálogos de Platão e Xenofonte – nos quais aparece como um super-herói – e da peça
As Nuvens, de Aristófanes – na qual é satirizado. Assim, é difícil distinguir o que seria o
pensamento original de Sócrates e o que teria sido contaminado pelos autores de tais
narrativas. De sua biografia, é possível dizer que o filósofo teve três filhos – de cuja
educação não se ocupou –, participou de conflitos militares e morreu com cerca de
oitenta anos.

Sócrates, Política e Contexto Histórico: A Apologia se passa em 399 a.C.,


momento de reação democrática em Atenas à oligarquia dos Trinta Tiranos, findo em
403 a.C.. Os Trinta Tiranos é o nome dado a um governo oligárquico pró-Esparta
estabelecido em Atenas em 404 a.C, após a Guerra do Peloponeso. Ele reduziu alguns
direitos dos atenienses (como votar e portar armas), além de condenar muitos desses
ao exílio ou à morte. Sócrates narra na Apologia de Platão um incidente no qual acabou
por desobedecer a uma ordem dos Tiranos – o que, segundo ele, salvou sua vida
quando da deposição dos mesmos.

Para Platão, a especificidade do momento político de Atenas denota que o julgamento


de Sócrates tinha uma causa puramente política, uma vez que o filósofo era um crítico
da democracia. O propósito do julgamento, porém, era afastá-lo de Atenas, e não sua
execução; essa, entretanto, foi a escolha de Sócrates, que se julgou incapaz de
abandonar suas convicções filosóficas ao viver como exilado. (Na Apologia de
Xenofonte, diz-se que Sócrates teria preferido morrer, nessa ocasião, a viver seus
últimos dias debilitado).

Na verdade, é difícil determinar a posição política de Sócrates: na República, de Platão,


ele defende um governo de "reis filósofos". Entretanto, esse pode tratar-se de um
Sócrates sob influência de ideias platônicas. Da Apologia, apenas pode-se depreender –
com alguma dúvida – que Sócrates acreditava que o júri que o condenou à morte era
mais legítimo que o governo dos Tiranos, e que ele não se envolvia na política por
considerá-la mortífera, e também obstáculo à sua tarefa de vida (a maiêutica, o parto
das idéias). Tal posicionamento de Sócrates fica evidente na passagem de seu
discurso: “[nos negócios de Estado] não existe homem que possa se salvar ao opor-se
com sinceridade.”

Sofistas VS. Sócrates: Como é dito na Apologia, os sofistas eram homens que
cobravam por seus ensinamentos de retórica e filosofia. Sócrates era considerado por
muitos um sofista, mas, na verdade, diverge deles em muitos aspectos. Ele acreditava
ser impossível ensinar a virtude, areté, uma vez que ela era uma questão de inspiração
- o daimon, ou divindade. Além disso, até sua morte, o filósofo se mostra irredutível
quanto à sua missão filosófica - contrariando o princípio sofista de adequar discursos e
comportamentos de acordo com a conveniência individual. Sócrates também procura
conhecer a essência das coisas – o que é a virtude, o que é a justiça – enquanto, para
os sofistas, tudo seria relativo. Por fim, a própria pobreza de Sócrates, comentada na
Apologia, é outra prova de que ele não era um sofista.

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