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Técnico em Aquicultura

Jacqueline Pompeu Abrunhosa

Novas Oportunidades na Aquicultura

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARÁ

Nov_Oport_Aquic_Capa_R 1 27/12/11 14:35


Novas Oportunidades
na Aquicultura
Jacqueline Pompeu Abrunhosa

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARÁ

PARÁ
2011
Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância

© Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA. Este Caderno foi elaborado
em parceria entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA e a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para o Sistema Escola Técnica Aberta do
Brasil – e -Tec Brasil.

Equipe de Elaboração Equipe de Validação


Instituto Federal de Educação, Secretaria de Educação a Distância / UFRN
Ciência e Tecnologia do Pará / IFPA
Reitor
Reitor Prof. José Ivonildo do Rêgo
Prof. Edson Ary de Oliveira Fontes
Vice-Reitora
Vice-Reitor Profa. Ângela Maria Paiva Cruz
Prof. João Antônio Pinto
Secretária de Educação a DistâncIa
Diretor Profa. Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Prof. Darlindo Maria Pereira Veloso Filho
Secretária Adjunta de Educação a DistâncIa
Coordenador Institucional Profa. Eugênia Maria Dantas
Profa. Érick de Oliveira Fontes
Coordenador de Produção de Materiais Didáticos
Coordenadores dos Cursos Prof. Marcos Aurélio Felipe
Prof. Marlon Carlos França
(Curso Técnico em Pesca) Revisão
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
Maurício Camargo Zorro Jeremias Alves Araújo e Silva
(Curso Técnico em Aquicultura) Verônica Pinheiro da Silva

Professor-Autor Diagramação
Jacqueline Pompeu Abrunhosa Rafael Marques Garcia

Arte e Ilustração
Anderson Gomes
Carolina Costa de Oliveira

Projeto Gráfico
e-Tec/MEC

Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central - IFPA
Apresentação e-Tec Brasil

Prezado estudante,

Bem-vindo ao e-Tec Brasil!

Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola Técnica
Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro 2007,
com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público, na mo-
dalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre o Minis-
tério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distancia (SEED)
e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e escolas
técnicas estaduais e federais.

A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande


diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao
garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da
formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou
economicamente, dos grandes centros.

O e-Tec Brasil leva os cursos técnicos a locais distantes das instituições de en-
sino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir
o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas instituições públicas de ensino
e o atendimento ao estudante é realizado em escolas-polo integrantes das
redes públicas municipais e estaduais.

O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico, seus


servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional
qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – é capaz de
promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com auto-
nomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar,
esportiva, política e ética.

Nós acreditamos em você!

Desejamos sucesso na sua formação profissional!

Ministério da Educação
Janeiro de 2010

Nosso contato
etecbrasil@mec.gov.br

e-Tec Brasil
Indicação de ícones

Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de


linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.

Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.

Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o


assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao
tema estudado.

Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão


utilizada no texto.

Mídias integradas: remete o tema para outras fontes: livros,


filmes, músicas, sites, programas de TV.

Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em


diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa
realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado.

e-Tec Brasil
Sumário

Palavra do professor-autor 9

Apresentação da disciplina 11

Projeto instrucional 13

Aula 1 – Conhecendo novas oportunidades na Aquicultura 15


1.1 Introdução 15
1.2 Malacocultura 15
1.3 Quelonicultura 16
1.4 Ranicultura 17
1.5 Jacaricultura 18

Aula 2 – Malacocultura 21
2.1 Introdução à malacocultura 21
2.2 Principais espécies cultivadas no Brasil 24
2.3 Cultivo de ostras em laboratório 24
2.4 Cultivos auxiliares 26
2.5 Sistemas de cultivo 30
2.6 Produção de ostras no Brasil e no mundo 36

Aula 3 – Mitilicultura 39
3.1. Aspectos históricos 39
3.2 Fixação primária – assentamento 50
3.3 Depuração 51

Aula 4 – Quelonicultura 55
4.1 Histórico 55
4.2 Instalações para a criação de quelônios 60
4.3 Mercado 64
4.4 Conclusão 64

e-Tec Brasil
Aula 5 – Jacaricultura 67
5.1. Introdução a jacaricultura 67
5.2 Sistemas de manejo 71
5.3 Caracterização dos produtos 76

Aula 6 – Ranicultura 81
6.1 Aspectos históricos da criação de rãs 81
6.2 Aspectos biológicos das rãs 82
6.3 Perspectiva da ranicultura 83
6.4 Levantamento da produção nacional 83
6.5 Levantamento da comercialização 84
6.6 As rãs comestíveis 86
6.7 Escolha dos reprodutores aptos para acasalamentos 89
6.8 Processo de produção 90

Aula 7 – Utlização de probióticos na Aquicultura 103


7.1 Conhecendo os probióticos 103
7.3. Características gerais dos microrganismos probióticos 106
7.4 A ação dos probióticos 107

Referências 111

Curriculo da professora-autora 115

e-Tec Brasil
Palavra do professor-autor

Prezados alunos!

Neste livro, abordaremos assuntos referentes às novas oportunidades na


aquicultura, mostraremos as novas alternativas nos diferentes ramos da
aquicultura.

Propusemos algumas atividades práticas e fornecemos sites e leituras que


irão complementar o seu aprendizado. Como estamos tratando de um tema
diversificado, abrangendo várias áreas, procuramos, então, ressaltar assun-
tos modernos que se adaptem à prática da aquicultura atual.

Visamos dar condições aos futuros técnicos em aquicultura, capacitando-os


para diagnosticar as principais metodologias utilizadas neste ramo.

É importante que todas as dúvidas sejam esclarecidas. Para isso, elaboramos


este livro de forma didática com glossário para termos técnicos, figuras, grá-
ficos e tabelas.

Sugerimos que estudem, visitem os sites indicados e as referências consulta-


das na elaboração do material, com certeza você terá um bom rendimento.

Bons estudos!

9 e-Tec Brasil
Apresentação da disciplina

A disciplina “Novas Oportunidades na Aquicultura” apresenta outros ramos


deste setor agropecuário e o aproveitamento de novas espécies na aqui-
cultura, visto que a pesca extrativista encontra-se sobre-explorada. Faz-se
necessário a busca por novas alternativas de renda por parte dos que vivem
dessa atividade, populações ribeirinhas e os que querem fazer negócios na
aquicultura.

Dessa forma, discorreremos sobre a malacocultura; quelonicultura, ranicul-


tura, jacaricultura e outros organismos como fontes de dieta; uso dos probi-
óticos e o melhoramento genético e peixes ornamentais.

Esperamos, com isso, que você tenha mais uma visão das áreas que poderá
atuar como técnico em aquicultura.

11 e-Tec Brasil
Projeto instrucional

Ementa da Disciplina: Conhecendo as novas oportunidades na aquicultu-


ra. Malacocultura. Cultivo de Ostras. Mitilicultura. Quelonicultura (principais
espécies cultivadas, tipos de instalações), Ranicultura (aspectos biológicos da
rã, pré-requisitos para instalação de ranários comerciais, setor de reprodução,
setor de desenvolvimento embrionário, setor de estocagem, setor de girina-
gem, pré-engorda, setor de engorda, manejo alimentar, manejo sanitário).
Jacaricultura. Principais espécies criadas. Uso dos probióticos na aquicultura.

CARGA
AULAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
HORÁRIA

Distinguir outras atividades da Aquicultura que geram oportunidades


Aula 1 – Conhecendo novas
de negócio.
oportunidades na 6h
Incentivar a atuação em áreas pouco exploradas na Aquicultura, mos-
aquicultura
trando o potencial econômico.

Descrever os aspectos biológicos dos moluscos.


Distinguir os principais tipos de criação de moluscos no Brasil.
Aula 2 – Malacocultura Distinguir os sistemas de cultivo de ostras. 6h
Reconhecer as espécies mais importantes comercialmente.
Listar a produção de ostra do Brasil e do Mundo.

Identificar aspectos biológicos, reprodução e ciclo larval dos mexilhões.


Reconhecer as principais espécies cultivadas.
Aula 3 – Mitilicultura 6h
Aprender os sistemas de cultivo utilizados na mitilicultura.
Conhecer a produção nacional e o potencial econômico.

Conhecer as espécies cultivadas.


Aula 4 – Quelonicultura Distinguir as técnicas utilizadas na quelonicultura. 5h
Reconhecer o potencial econômico no Brasil.

Conhecer as espécies cultivadas.


Aula 5 – Jacaricultura Distinguir as técnicas utilizadas na jacaricultura. 5h
Reconhecer o potencial econômico no Brasil.

Conhecer aspectos da biologia, reprodução e ciclo larval.


Distinguir as principais espécies cultivadas.
Aula 6 – Ranicultura 6h
Aprender os sistemas de cultivo utilizados na ranicultura.
Conhecer a produção nacional e potencial econômico.

Aula 7 – Utilização de Saber o que são os probióticos.


probióticos na Reconhecer como eles atuam. 6h
aquicultura Aprender como se desenvolve um probiótico.

13 e-Tec Brasil
Aula 1 – Conhecendo novas
oportunidades na Aquicultura

Objetivos

Distinguir outras atividades da Aquicultura que geram oportunidades


de negócio.

Incentivar a atuação em áreas pouco exploradas na Aquicultura,


mostrando o potencial econômico.

1.1 Introdução
Nesta aula, conheceremos outras atividades realizadas na Aquicultura com
potencial econômico. Vamos dialogar um pouco sobre a malacocultura, que-
lonicultura, jacaricultura, ranicultura.

A aquicultura, em franco desenvolvimento, vem se impondo como atividade


agropecuária, embora ainda seja considerada por muitos como um apêndice
do setor pesqueiro. Praticada em todos os estados brasileiros, a aquicultura
abrange principalmente as seguintes criações: peixes (piscicultura) e camarões
(carcinicultura ou carcinocultura). Novas oportunidades de aquicultura, con-
tudo, são observadas em algumas regiões brasileiras, entre elas se destacam
as seguintes: moluscos (malacocultura); tartarugas (quelinicultura); rãs (rani-
cultura) e jacarés (jacaricultura); esta última praticada em menor escala. Veja
a seguir um pouco mais sobre cada uma delas.

1.2 Malacocultura
A malacocultura pode ser definida como a criação de moluscos. No Brasil é
representada por ostras, mexilhões e vieiras.

A ostreicultura, como o próprio nome já nos remete, trata-se da criação ra-


cional de ostras. Esta atividade está entre as mais produtivas da Aquicultura
brasileira e destaca-se em volume de produção no Estado de Santa Catarina,
com aproximadamente 10 toneladas por ano.

Aula 1 – Conhecendo novas oportunidades na Aquicultura 15 e-Tec Brasil


Já a os mexilhões são os animais cultivados na mitilicultura e podem ser en-
contrados em quase toda região costeira do nosso litoral.

O cultivo de vieiras ainda encontra-se em fase de experimento, com a espécie


Nodipecten nodosus, por estudiosos da Universidade de Santa Catarina, mas
já apresenta resultados significativos.

Nas próximas aulas, detalharemos os principais cultivos na malacocultura. A


seguir temos uma foto de maricultores da fazenda marinha em Arraial do Cabo
(RJ) separando ostras e vieiras recém capturadas.

Figura 1.1: Maricultores separando ostras e vieiras capturadas no cultivo


Fonte: <www.100pctarraialdocabo.com.br/sites/port/index.php?option=com_content&task=view&id=213>. Acesso em:
29 jan. 2011.

1.3 Quelonicultura
Quelonicultura é a criação de tartarugas. Mas vocês sabiam que a estrutura de
criação pode ser comparada à da piscicultura? Pois é. É importante possuir ber-
çários (para filhotes recém-nascidos) com rampas para facilitar o deslocamento
das tartarugas e um local para alimentação que são chamados de comedouros.
Também é necessário ter um curso de água com manutenção permanente.
Mais adiante detalharemos este tipo de atividade.

e-Tec Brasil 16 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 1.2: Filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis) criados pelos povos indígenas do
Oiapoque em um trabalho de etnoconservação da espécie
Fonte: Fábio Maffei, Bauru, SP. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/sua-foto/sua-foto-
julho-2008-466441.shtml?foto=4p>. Acesso em: 19 jan. 2011.

1.4 Ranicultura
Agora, vamos falar um pouco sobre a ranicultura que trata da produção de
rãs em cativeiro. No Brasil, é uma atividade relativamente nova. Iniciou-se em
1935 com a importação da rã-touro, que é uma espécie norte-americana com
o objetivo de desenvolver a criação em cativeiro para produção comercial. Na
figura abaixo vocês podem visualizar um exemplar da rã-touro.

Figura 1.3: Rã-touro (Rana cateisbeana)


Foto: Adorian Figueiredo. Disponível em: <http://br.olhares.com/ra_touro_foto839091.html>. Acesso em: 28 fev. 2011.

Aula 1 – Conhecendo novas oportunidades na Aquicultura 17 e-Tec Brasil


1.5 Jacaricultura
Assim é denominada a atividade de criação de jacarés. Comumente realizada
no Pantanal e Região Amazônica. Esta atividade tem alto potencial econômico
não só pelo consumo da carne de jacaré, mas devido ao aproveitamento do
couro do jacaré na fabricação de bolsas, sapatos, cintos, etc. Porém, devemos
observar a legislação de proteção aos animais nativos.

Figura 1.4: jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)


Fonte: <http://www.ozeascuriosidades.wordpress.com>. Acesso em: 28 fev. 2011.

1. Faça uma pesquisa sobre cada uma das criações vistas anteriormente,
enfatizando as regiões do Brasil que se beneficiam economicamente das
mesmas.

e-Tec Brasil 18 Novas Oportunidades na Aquicultura


2. Identifique no quadro abaixo as novas oportunidades na Aquicultura
apresentadas nesta aula.

T R A Q Q M A L A C O C U L T U R A Z
X J A P U C A R A N G U E J O L U L A
Q B E N T E X B M E X I L H I O E S S
L Q A O I A R U T L U C I N O L E U Q
G A P E S C A D A M U I T O M E N O S
A A L G I C U L T U R A O A B S O R V
S A P O S M O L U S C O S A O M O R E
J E N A I P A P T C M E T I C A U V A
F O C A S S P A C U S O R A I S U T A
M A R I C U L T U R R M A C T O S B A
A R U T L U C I R A C A J E O T I C A

Resumo

Nesta aula, distinguimos as diferentes oportunidades em diversos ramos da


Veja o vídeo sobre o Projeto
Aquicultura: a malacocultura que compreende o cultivo das ostras, mexilhões Cultimar por Ostrenski. <http://
e vieiras; a quelinicultura que é conhecida como criação racional dos quelônios www.youtube.com/watch?v=Ih
nyycpzA_8&feature=related>
de água doce, principalmente os filhotes. Também conhecemos a ranicultura,
que no Brasil é desenvolvida principalmente com a criação racional da rã-touro Conheça o livro Aquicultura
na prática: MENEZES, A.
em cativeiro e, por fim, a jacaricultura que trata sobre a criação de jacarés em Aquicultura na Prática. 4. ed.
São Paulo: Ed. Nobel. 2010.
cativeiro realizada principalmente na região Amazônica e no Pantanal.

Atividade de aprendizagem

Realize uma pesquisa sobre a importância econômica de cada atividade apresenta-


da nesta aula. Em seguida, indique qual delas seria mais indicada para sua região.

Aula 1 – Conhecendo novas oportunidades na Aquicultura 19 e-Tec Brasil


Aula 2 – Malacocultura

Objetivos

Descrever os aspectos biológicos dos moluscos.

Distinguir os principais tipos de criação de moluscos no Brasil.

Distinguir os sistemas de cultivo de ostras.

Reconhecer as espécies mais importantes comercialmente.

Listar a produção de ostra do Brasil e do mundo.

2.1 Introdução à malacocultura


Olá aluno! Nesta aula, aprenderemos mais sobre o cultivo de moluscos, além
de conhecer a biologia das espécies e seus tipos de criação. Conheceremos
detalhes sobre a ostreicultura, mitilicultura e cultivo de vieiras e o potencial
econômico dessas atividades no Brasil.

O cultivo de ostras vem de muitos séculos. Os países asiáticos, como China,


Tailândia e Japão, deram partida no desenvolvimento dos cultivos das espécies
marinhas e, além de suprir o mercado interno asiático, realizam exportações
para a Itália, Alemanha, Estados Unidos, França, Inglaterra. As técnicas avan-
çadas vêm sendo desenvolvidas nesses países, onde a ostreicultura é muito
comum, tornando-se uma atividade lucrativa

Na década de 1970, tiveram início as pesquisas com ostras em diversas partes


do Brasil. Essa atividade teve grande expansão, principalmente nas regiões Sul
e Sudeste.

A ostreicultura foi vista como uma alternativa de renda que pode ser realizada
em seu lugar ou paralela à pesca nos períodos de defeso e baixa produção

Aula 2 – Malacocultura 21 e-Tec Brasil


pesqueira. Isso porque é de baixo custo, além de minimizar problemas do
setor pesqueiro e atuar como fator preponderante na preservação ambiental.
É importante ressaltar a participação da família dos pescadores nas atividades
de manutenção, gerando uma fonte complementar de renda.

Nos últimos cinco anos, a Aquicultura brasileira vem apresentando taxas de cresci-
mento anuais médias superiores a 22%. Alguns setores, como o da ostreicultura,
chegaram a ampliar suas produções em mais de 50% de 2000 para 2001. Das
150.000 toneladas de pescado produzidas no país em 2000, 2.000 toneladas
foram de ostras das espécies Crassostrea gigas e Crassostrea rhizophorae.

A aquicultura é uma importante fonte produtora de proteína animal em várias


regiões do mundo. A malacocultura, que envolve a produção de moluscos
(ostras, mexilhões e vieiras), teve uma produção anual estimada em 10,5 mi-
lhões de toneladas de pescado. Na América do Sul, o Brasil ocupa o segundo
lugar na produção com 210.000 t, superado apenas pelo Chile com 631.600
t. No litoral brasileiro, o estado de Santa Catarina é responsável por 90% da
produção nacional de moluscos.

No Brasil, o cultivo de moluscos marinhos, através da produção de ostras e


mexilhões, possui maior representatividade em relação às outras espécies cul-
tivadas no mar, sendo os principais produtores Santa Catarina, Espírito Santo,
São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre estes, o Estado de Santa Catarina é o líder
nacional. Esses estados se destacam por apresentar condições oceanográficas
favoráveis ao cultivo daqueles moluscos, tais como inúmeras áreas protegidas,
compostas por estuários, baías e enseadas. Estas duas últimas são propícias à
instalação de “fazendas marinhas” (Figuras 2.1), além de possuírem excelente
qualidade da água para tal evento.

Como os moluscos são filtradores, é de fundamental importância que a água


esteja livre de poluição, pois esses organismos se alimentam do plâncton e
de partículas que estejam presentes no ambiente. Os moluscos funcionam
também como indicadores de poluição.

e-Tec Brasil 22 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 2.1: Fazenda marinha em Arraial do Cabo (RJ)
Fonte: <http://cidadedearraialdocabo.blogspot.com/2009/11/fazenda-marinha-de-arraial-do-cabo-e.html>. Acesso em: 3 mar. 2011.

Outro fator positivo que essa atividade gera nas comunidades que a praticam
é a responsabilidade ambiental, pois as ostras se alimentam dos nutrientes
presentes na água, e isso faz com que os produtores se incomodem com a po-
luição que é lançada nela. Além de a malacocultura ser uma atividade geradora
de renda e emprego nas comunidades pesqueiras, apresenta-se como fixadora
das populações tradicionais e minimizadora da pesca predatória, favorecendo
o retorno de espécies de peixes aos locais de cultivo de ostras.

O cultivo de ostras é um agronegócio lucrativo, mas ainda é pouco explorado


no Brasil. Somente nas regiões Sudeste e Sul, a ostreicultura é praticada há
vários anos em larga escala. O estado de Santa Catarina está em primeiro
lugar com os melhores índices de produção, mas em alguns municípios do
Pará podemos encontrar essa atividade em amplo crescimento até com asso-
ciações de ostreicultores nas comunidades. Como exemplo, podemos citar a
AQUAVILA, na Vila de Lauro Sodré em Curuçá, AMPAP, na Vila de Alto Pererú
e a ASSOEF, na Vila de Pererú de Fátima em São Caetano, a AAPPNS, na Vila
de Nazaré do Seco no município de Maracanã, a AGRONOL, na Comunidade
de Nova Olinda em Augusto Corrêa e a ASAPAQ, na Vila de Santo Antonio de
Urindeua em Salinas.

Aula 2 – Malacocultura 23 e-Tec Brasil


2.2 Principais espécies cultivadas no Brasil
Crassostrea gigas (Tunberg, 1795)

Popularmente conhecida como ostra gigante, essa espécie exótica de origem


japonesa habita em diversos lugares do Brasil. Adaptada ao ambiente de diver-
sos países, e devido ao seu crescimento rápido, é atualmente a mais cultivada
mundialmente. Em nosso país de clima tropical, adapta-se melhor na Região
Sul devido sua exigência a baixas temperaturas, pois se desenvolve melhor
abaixo de 24ºC. Essa espécie é cultivada em lanternas fixas em long-lines em
baías do litoral, mas não se adapta em regiões estuarinas. Por ser uma espécie
exótica, no Brasil sua reprodução é obtida em laboratório.

Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828)

Essa é uma espécie nativa dos mangues brasileiros, distribuindo-se pelo litoral.
Uma característica marcante é a sua predominância no Norte e Nordeste. Essa
particularidade deve-se certamente às temperaturas mais elevadas. O cultivo
dessa espécie é recomendado em travesseiros. Mais adiante detalharemos esse
tipo de cultivo.

2.3 Cultivo de ostras em laboratório


As ostras Crassostreas são dioicas, isto é, apresentam o sexo masculino e
feminino separadamente. Mas, externamente, não é possível diferenciar o
macho da fêmea, pois ambos apresentam a gônada (órgão sexual masculino
ou feminino) com a mesma coloração.

Então, você pode estar se perguntando: Como podemos distingui-los? A


diferenciação sexual somente é possível fazendo-se a raspagem da gônada e
realizando-se a análise do material em microscópio.

Mas por que isso?

Porque os ovócitos apresentam o formato arredondado e os espermatozoides


se mostram como uma massa compacta. O desenvolvimento gonadal, ou seja,
o estágio de maturação é influenciado por fatores externos como claridade,
salinidade e, principalmente, pela temperatura e disponibilidade de alimento.

e-Tec Brasil 24 Novas Oportunidades na Aquicultura


No momento em que ocorre a desova, o esperma é lançado pelo canal exalante
(lado direito das ostras) de uma forma constante. Esse processo nos lembra
uma “fumaça de cigarro”, pois o músculo adutor permanece relaxado, facili-
tando a desova. A fêmea apresenta um comportamento diferente, pois desova
lançando os ovócitos contra o canal inalante (lado esquerdo das ostras) em
jorros firmes.

A fecundação é externa, ou seja, o contato entre o espermatozoide e o ovócito


ocorre na água. O óvulo fecundado sofre os processos de clivagem após 2
horas, evoluindo para os estágios de mórula, blástula e gástrula (Figura 2.2
fases 1 a 2) que ocorrem por 6 horas.

Após 12 a 16 horas, a larva já apresenta capacidade natatória através de


uma coroa de cílios, sendo então denominada de trocófora (Figura 1 fase
3). A larva continua seu desenvolvimento e após 24 horas surge uma larva
transparente, em forma de “D”, possuindo uma coroa ciliada denominada
vélum, sendo denominada larva véliger de charneira reta ou larva “D” (Figura
1 fase 4).

Com o tempo o formato “D” desaparece (6 dias), ocorrendo a formação do


umbo, que se completa totalmente ao redor do décimo quarto dia. Nesse
momento, a larva apresenta uma forma arredondada e um vélum bastante
desenvolvido, sendo denominada de “véliger umbonada”. A larva continua a
se desenvolver e, por volta do décimo sétimo dia, surge uma “mancha-ocular”
e um pé, sendo a larva denominada pedivéliger (Figura 2.2 fases 5 a 7).
Quando a larva apresenta o pé completamente desenvolvido, ela abandona a
coluna d’água e dirige-se ao fundo em busca de um substrato adequado para
completar a sua metamorfose. Nesse estágio, as ostras no ambiente natural
procuram rochas ou raízes de mangue para se fixar.

Em laboratório, a fixação das ostras ocorre em pó de concha moída, pratos


plásticos ou em conchas de moluscos (Figura 2.2 Fases 8 e 9). A duração desse
ciclo depende do substrato disponível e da temperatura da água do mar. Numa
temperatura de 25ºC esse ciclo dura em torno de 21 dias.

Aula 2 – Malacocultura 25 e-Tec Brasil


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Figura 2.2: Ciclo larval da ostra do gênero Crassostrea


Fonte: <http://www.fazendamarinha.com.br/assentamentoremotodelarvasdeostra.htm>. Acesso em: 3 mar. 2011.

Qual a característica mais marcante nos moluscos?

a) usam a concha calcária como uma casa para proteção

b) corpo mole, gelatinoso e nadadeiras peitorais

c) são filtradores e se alimentam de plâncton e nécton

d) são encontrados nos ambientes dulcícolas e marinhos

2.4 Cultivos auxiliares


Para obtermos sucesso no cultivo de ostras, é de fundamental importância
o domínio sobre os cultivos de microalgas, que são chamados de cultivos
auxiliares. Isso porque as microalgas servem de alimento nos primeiros estágios
larvais, devido ao reduzido tamanho das larvas. A seguir, veremos como se
cultiva microalgas e as principais espécies.

e-Tec Brasil 26 Novas Oportunidades na Aquicultura


2.4.1 Cultivo de microalga
As microalgas constituem o principal alimento dos camarões no estágio proto-
zoea. Em geral, pode-se realizar o cultivo monoalgal, ou seja, cultivo de uma
única espécie de microalga, mas ela pode não atender aos requerimentos
nutricionais das larvas, por isso é comum o emprego de uma mistura de micro-
algas. As microalgas mais comuns pertencem aos gêneros: Isochrysis galbana,
Chaetoceros sp., Tetraselmis sp. e Bellerochea sp.

2.4.2 Início de um cultivo monoalgal


Descrição dos procedimentos que devem ser realizados:

1º passo: Em um microscópio é realizada a separação de células as quais se


pretende cultivar, de modo que elas possam suprir as necessidades
do cultivo.

2º passo: Inserir a microalga a ser utilizada no cultivo em tubo de ensaio (10


mL) esterilizado, contendo meio de cultivo e água marinha para que
haja o crescimento da microalga.

3º passo: Observando-se o crescimento da microalga, deve-se realizar a dilui-


ção para outros tubos de ensaios (em geral, de 4 a 5 dias de cultivo).

4º passo: Após a etapa anterior, os conteúdos dos tubos de ensaios são trans-
feridos para recipientes de capacidades de 500 mL ou 1litro.

Aula 2 – Malacocultura 27 e-Tec Brasil


Figura 2.3: Detalhes de um laboratório de microalgas mostrando cultivo em garrafas
de 5 L e 10 L
Fonte: <http://blogs.creamoselfuturo.com/bio-tecnologia/2006/11/10/una-imagen-vale-mas-que-mil-palabrastambien-en-
ciencia/>. Acesso em: 10 mar. 2011.

2.4.3 Meios de cultivo


Um meio ideal para o cultivo de algas marinhas é a água do mar, porém, faz-se
necessário enriquecê-la com a adição de micronutrientes e macronutrientes
inorgânicos, vitaminas e outros, a fim de assegurar as condições ótimas de
crescimento e alta densidade das algas cultivadas.

Encontra-se na literatura vários meios utilizados para cultivar diversas espécies


de algas. Um dos mais conhecidos é o meio “F2” de Guillard, que favorece
o crescimento da maioria das microalgas. Entre os macronutrientes utilizados
incluem-se os nitratos, fosfatos e silicatos (este último é usado especificamente
para cultivo de diatomáceas). O quelante EDTA é usado em todos os meios.

2.4.4 Obtenção de sementes de ostras


Quando em estágio de sementes, as ostras são colocadas em lanternas do
tipo berçário. Conforme crescem, as ostras passam para bandejas, travesseiros

e-Tec Brasil 28 Novas Oportunidades na Aquicultura


ou lanternas com malha de abertura média. Por fim, durante a etapa final,
utilizam-se lanternas chamadas definitivas.

No Brasil, a Crassostrea gigas é reproduzida pela Universidade Federal de Santa


Catarina (UFSC) e pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Já a ostra
nativa, Crassostrea rhizophorae, também é reproduzida em laboratório pela
UFSC e UNIVALI, mas em menor escala. Podemos conseguir as sementes dire-
tamente do meio ambiente, utilizando os coletores artificiais, telhas e garrafas
PET de 2 litros (sem fundo). Esses artefatos são banhados em uma solução de
cal, gesso e areia fina. Assim, as sementes se fixam e são facilmente retiradas.
É muito importante saber o período de desova, que geralmente acontece na
primavera em regiões que têm as quatro estações bem definidas, como é o
caso da região sul do Brasil.

As sementes de um centímetro são retiradas dos coletores uma a uma, pos-


teriormente são colocadas em travesseiros de 4 mm, 6.000 unidades por
travesseiro. Também se coletam as sementes diretamente do ambiente. Em
alguns casos, as sementes de ostras nativas diminuem e não crescem. Para
solucionar esse problema é importante classificar as ostras com uma peneira a
cada 45 dias: as maiores passam para uma malha maior e as menores voltam
para o berçário. É importante salientar que, se em 60 dias as sementes não
estiverem crescendo, é melhor descartar as pequenas e trabalhar apenas com
as que estão se desenvolvendo.

Após a obtenção das sementes faz-se a engorda em instalações, que são


estruturas suspensas e estruturas fixas.

2.4.5 Etapas do cultivo


Primeira etapa: A criação das sementes

O ciclo da ostra se inicia na semente, uma larva bem pequena, oriunda da


ostra matriz. No meio ambiente, uma boa parte das sementes se perderia,
devido à ação de predadores. Assim, o manejo adequado do ostreicultor é de
fundamental importância para evitar perdas de sementes.

A ostreicultura, em algumas regiões, conta com a fecundidade natural da


ostra para povoar os bancos de criação, conseguindo obter assim novas
sementes a partir dos próprios recursos naturais. Na região da Cananeia, a
espécie é nativa e designada como Crassostrea rizophorea, ou mais comum,
como Crassostrea brasiliana.

Aula 2 – Malacocultura 29 e-Tec Brasil


Segunda Etapa: A engorda

Essa fase é super importante para que as ostras alcancem o tamanho ideal para
comercialização, então é necessário que haja o cuidado diário, as condições
ambientais favoráveis, a pureza das águas para que se alcance o sucesso do
empreendimento.

Inicialmente, as larvas procuram um suporte que lhes convêm para se fixar. A


coletora preparada pelo ostreicultor possui várias finalidades: servir de suporte,
abrigo e proteção dos predadores. A estrutura utilizada nessa etapa são os
coletores do tipo bandeja, colocados sobre mesas (Figura 2.9), protegendo as
ostras e expondo-as aos altos e baixos da maré. As correntes dos canais são
águas ricas em plâncton, a fonte de alimento natural da ostra. A salinidade
do mar, a natureza do fundo dos manguezais e as variedades dos plânctons é
que fornecem o sabor particular das ostras que as diferenciam em cada região.

Depois de fixar as larvas posicionadas em coletores, as ostras alcançam um


tamanho de 2 a 4 centímetros num prazo de seis a oito meses. As larvas
então são desprendidas dos coletores e ocorre uma troca manual para ocupar
espaços mais amplos em outros coletores.

2.5 Sistemas de cultivo


As áreas de produção são ocupadas com  três sistemas  de cultivos principais:
espinhel (ou long-line) (Figura 2.4), balsa, travesseiros (Figuras 2.7 e 2.7), lan-
terna (Figura 2.6), mesas (Figura 2.9).

a) Espinhel ou long-lines (Figuras 2.4 e 2.5)

O espinhel é um cabo de 16 mm com comprimento útil até 100 m, com poitas


nas duas extremidades para ancoragem. Um conjunto de boias o mantém
suspenso na superfície da água e em cada boia é fixada uma “lanterna” de
engorda. Abaixo, você pode observar na Figura 2.4 que os long-lines de cultivo
estão conectados em um cabo mestre com comprimento médio de 100 m, per-
mitindo a ancoração com poitas ou estacas de 2 metros enterradas no fundo.
Através do auxílio de flutuadores, amarrados a cada 2 metros, a sustentação
do cabo de superfície é mantida.

e-Tec Brasil 30 Novas Oportunidades na Aquicultura


Espinhel coletor
Polta Polta

PVC
100 mm Coletores

Adultos Coletores

Figura 2.4 Espinhel


Fonte: Caderno virtual de turismo, 1997

Observe que na linha de cultivo à meia-água os flutuadores são submersos


e inicialmente amarrados a cada 10 metros no cabo principal. Com a ocupa-
ção da linha de cultivo com novas lanternas de ostras, novos flutuadores são
amarrados para que as estruturas de cultivo não toquem no fundo, evitando
assim o ataque de predadores.

Figura 2.5: Coletores artificiais suspensos amarrados em boias de flutuação


Fonte: Silva e Silva (2007).

b) Criação em balsas

Os mexilhões podem ser cultivados em balsas, construídas de bombonas e


bambus, que são amarradas às cordas com os mexilhões. As balsas podem

Aula 2 – Malacocultura 31 e-Tec Brasil


ser montadas com cinco bombonas de 200 litros de capacidade, quatro nos
cantos e uma no centro. Essas balsas podem ser colocadas em locais com uma
profundidade de aproximadamente 8 metros em mar aberto presas às âncoras.
As cordas com as sementes ficam então estendidas e suspensas nas balsas.

Em Santa Catarina, os pescadores constroem pequenas balsas de bambu onde


colocam as sementes de mexilhões que foram coletadas nos costões das praias
rochosas da ilha. Dessa forma, a abundância de sementes no meio natural e
a sua desnecessária produção em laboratório permitiram que os pescadores
criassem estruturas permanentes para cultivo e usassem um sistema até hoje
empregado, denominado de suspenso-fixo.

c) Lanternas

Já o cultivo em lanternas é recomendado para águas profundas onde não


existem correntezas fortes, pois precisam ficar na vertical. São muito utilizadas
no cultivo de gigas e vieiras em regiões costeiras e baías. São confeccionadas
com tela plástica ou de multifilamento de 8 mm entre os nós, protegendo uma
fileira de bandejas ou caixas nas quais são colocadas as ostras para engorda.
Você pode visualizar na Figura 2.6 cinco lanternas suspensas de cinco andares.

Figura 2.6. Lanternas utilizadas para engorda das ostras


Fonte: <http://www.ventosul.com/wp-content/gallery/santo_antonio/santo-antonio-ostras.jpg>. Acesso em: 3 mar. 2011.

e-Tec Brasil 32 Novas Oportunidades na Aquicultura


d) Travesseiros

O cultivo em travesseiros é recomendado para regiões de mangue com grandes


variações de marés e em áreas rasas. Os travesseiros (Figuras 2.7 e 2.8) ficam fixos
horizontalmente em mesas feitas de vergalhões de aço de construção 16 mm.

Figura 2.7. Travesseiros flutuantes


Fonte: Viana.

Figura 2.8. Travesseiros suspensos


Fonte: Viana.

Aula 2 – Malacocultura 33 e-Tec Brasil


Uma forma de limpar os travesseiros e eliminar os parasitas existentes consiste
em mergulhar o travesseiro com as ostras em um tambor com água quente
(80ºC) por 2 segundos e rapidamente banhar as ostras em água fria. Esse
choque térmico garante a qualidade do cultivo.

Vantagens do travesseiro sobre as lanternas

• menor custo;

• durabilidade 4 vezes maior, em torno de 8 anos;

• manejo simples;

• resistência às fortes correntes;

• permite instalação em águas rasas;

• produz ostras de melhor qualidade.

Travesseiros são sacos onde


se armazenam as ostras e seu A desvantagem é que o travesseiro não é indicado para mar aberto em cordas
formato lembra o objeto de flutuantes.
mesmo nome.

e) Mesas de engorda

São estruturas formadas por estacas ou postes cravados no leito, sobre os quais
é montada uma plataforma onde são criadas as ostras. O material utilizado
geralmente é bambu, preso por tiras de câmaras de pneu. Outra opção é o
tubo de PVC preenchido com concreto e com tiras de bambu para substituir
a ferragem de amarração.

Em cima da mesa é colocada uma tela plástica para dar suporte às sementes de
ostras. Outra tela é utilizada por cima e presa nas laterais para evitar a entrada
de predadores.

As ostras do mangue levam cerca de 2 anos para atingir o tamanho comercial.


A coleta de animais de 4 cm em bancos naturais é permitida por lei, porém,
cria-se por mais 6 meses até dobrar de tamanho (8 cm), que é o ideal. Esse
sistema favorece o ambiente, repondo as larvas nos bancos naturais através
das desovas que ocorrem nas mesas de engorda.

e-Tec Brasil 34 Novas Oportunidades na Aquicultura


Por outro lado, as ostras japonesas se desenvolvem mais rapidamente. Seu
período para chegar ao tamanho comercial dura aproximadamente 8 meses.

Figura 2.9. Sistema de mesas com bandejas


Fonte: Viana.

Divirta-se com as palavras cruzadas.

Horizontal

1. São confeccionadas com tela plástica ou de multifilamento de 8 mm en-


tre os nós, protegendo uma fileira de bandejas ou caixas nas quais serão
colocadas as ostras para engorda.

2. O material utilizado geralmente é bambu, preso por tiras de câmaras de pneu.

Vertical

1. Sacos onde se armazenam as ostras que lembram o formato de um


travesseiro.

2. Construídas de bombonas e bambus que são amarradas às cordas com os


mexilhões.

Aula 2 – Malacocultura 35 e-Tec Brasil


2 1

2.6 Produção de ostras no Brasil e no mundo

Tabela 2.1: Produção e receita da Aquicultura mundial por


grupo de espécies em 2007
Grupo de espécies Produção (ton) % Receita (US$ Bilhões)

Carpas 14.892.443 22,8 14,88

Ostras 4.401.030 6,75 3,22

Mariscos 4.213.342 6,46 4,34

Mexilhões 1.630.795 2,50 1,61


Fonte: FAO (2009).

Tabela 2.2: Principais espécies cultivadas no Brasil em 2003 e 2007


Espécies 2003 volume (ton) 2007 volume (ton) Crescimento 2003/2007(%)

Tilápia 64.857,00 95.091,00 46,62

Camarão 95.503,00 65.230,00 -31,70

Carpa 50.400,00 36.631,50 -27,32

Tambaqui 20.833,50 30.598,50 46,87

Pacu 9.244,00 12.397,00 34,11

Mexilhões 8.608,50 12.002,00 39,42

Tambacu 7.916,00 10.854,00 37,11

Piau 2.451,50 3.396,50 38,55

Ostras 2.196,00 1.385,00 -36,93

Fonte: IBAMA (2009).

e-Tec Brasil 36 Novas Oportunidades na Aquicultura


Segundo dados da FAO (2009), a produção mundial da ostra aparece em 2º
lugar entre as espécies cultivadas, com 4.401.030 ton (Tabela 1), o que nos
remete a um extraordinário crescimento desse setor na Aquicultura mundial.
Notem que na produção nacional (Tabela 2) os mexilhões superaram as ostras
e ficaram em 6º lugar, contribuindo com pouco mais de 12.000 toneladas em
2007, enquanto que as ostras aparecem em 9º lugar do ranking, com 1.385,00
toneladas em 2007, apresentando uma redução de 36,93% em comparação
com 2003. É importante atentarmos que a C. gigas é a mais cultivada no
País, porém, apenas em águas mais frias da Região Sul, e as ostras nativas C.
brasiliana e C. rhizophorae são produzidas em diferentes escalas em quase
todos os estados litorâneos, do norte ao sul do Brasil.

Apesar desse panorama, a Região Norte já iniciou o processo de produção de


ostras em alguns municípios do Pará como, por exemplo, em São Caetano
de Odivelas, Nova Olinda, Salinópolis e Vigia. Todos possuem associações de
ostreicultores formadas pela própria comunidade, que vê na ostreicultura uma
excelente oportunidade de negócio.

Espero que tenha gostado desta aula e na próxima veremos sobre a criação
de mexilhões. Até lá!

De acordo com dados do IBAMA, 2009, em que lugar da produção brasileira


estão os mexilhões e ostras entre 2003 e 2007, respectivamente?

a) 1º e 7º lugar, com crescimento de 46,62% e 38,55%

b) 5º e 9º lugar, com crescimento de 34,11% e – 36,93%

c) 6º e 9º lugar, com crescimento de 39,42% e -36,93%

d) 9º e 6º lugar, com crescimento de -36,93% e 39,42%

e) 7º e 8º lugar, com crescimento de 37,11% e 38,55%

Aula 2 – Malacocultura 37 e-Tec Brasil


Resumo

Nesta aula, distinguimos as diferentes espécies de moluscos, que são organis-


mos de corpo mole e vivem em conchas. Entendemos mais sobre a malaco-
cultura, que está concentrada principalmente na ostreicultura e mitilicultura.
Estudamos o surgimento da ostreicultura e que sua implantação no Brasil ocor-
reu através da espécie Crassostrea gigas, de origem japonesa. Conhecemos
os principais aspectos biológicos da ostra, o sistema de cultivo em laboratório,
bem como os cultivos auxiliares de microalga. Vimos que as espécies mais
cultivadas e de valor econômico são as C. gigas e C. rhizophorae. Sobre a
produção no Brasil, a maior parte se concentra no estado de Santa Catarina,
líder de produção nacional. Tivemos a oportunidade de acompanhar todo o
processo produtivo desde a obtenção das sementes até a comercialização.
Sabemos agora que há diferentes tipos de cultivo: espinhel ou long-lines,
mesas e balsas. Vimos também a produção mundial de ostras, com produção
de 4.401.030 ton, e de mexilhões, com 1.630.795 ton, que mostraram ser
atividades com imenso potencial econômico, e que o mais importante é atentar
para a qualidade do produto com manejo adequado.

Atividade de aprendizagem

O que você entende por fazenda marinha e qual sua importância para as
populações pesqueiras?

e-Tec Brasil 38 Novas Oportunidades na Aquicultura


Aula 3 – Mitilicultura

Objetivos

Conhecer aspectos biológicos, reprodução e ciclo larval dos mexilhões.

Conhecer as principais espécies cultivadas.

Aprender os sistemas de cultivo utilizados na mitilicultura.

Conhecer a produção nacional e potencial econômico.

3.1. Aspectos históricos


Nesta aula, iremos aprender as particularidades da mitilicultura, seus tipos de
criação, espécies e importância econômica no Brasil.

A criação racional de mexilhões, ou mitilicultura teve início na França há mais


de 700 anos. Sua descoberta foi atribuída a Patrick Walton, irlandês que nau-
fragou na costa da Bretanha (França) no século XIII. Na tentativa de capturar
aves marinhas, ele estendeu restos de redes de pesca entre estacas de madeira,
fincadas na praia de Aunis. A esses substratos fixaram-se mexilhões, que ele
passou a manejar. Até o século XIX, esse sistema permaneceu praticamente
inalterado, sendo realizado quase exclusivamente na França, até que outros
países, como a Inglaterra e, principalmente, a Espanha, passaram a praticar e
aperfeiçoar o método.

Na Espanha, a mitilicultura foi introduzida em 1901, porém seu desenvolvi-


mento até os níveis atuais deu-se a partir de 1946, quando a atividade passou
a ser praticada na Galícia. As excelentes condições ambientais ali existentes,
nas chamadas rias galegas (vales submersos, bastante profundos e com gran-
de produtividade primária), fizeram com que essa atividade se desenvolvesse
rapidamente. Em 1956, já existiam 400 balsas produtoras, número que passou
a 3000 em 1976 e 4500 em 1982. Atualmente, a Espanha produz 360 mil to-

Aula 3 – Mitilicultura 39 e-Tec Brasil


neladas anuais, correspondentes a 50% dos mexilhões produzidos no mundo,
dos quais 95% são provenientes da Galícia.

No Brasil, os cultivos de mexilhões da espécie Perna perna surgiram como


uma forma de exploração racional dos recursos marinhos e por décadas foram
desenvolvidos experimentos em diversas instituições de pesquisa que tornaram
a atividade uma realidade ao longo de toda a costa das regiões sudeste e sul
do país.

Por causa das suas condições oceanográficas propícias ao desenvolvimento do


mexilhão, a mitilicultura no estado de Santa Catarina se difundiu em pratica-
mente todas as enseadas e baías da costa Centro-Norte e o estado se tornou,
o maior produtor de mexilhões da América Latina e o responsável por 82%
da produção nacional de mexilhões, que em 2002 foi de 12.500 toneladas
(SEAP-PR, 2004). O que no ano de 2000 movimentou em torno de seis milhões
de dólares e gerou mais de 5.000 empregos diretos (PROENÇA, 2001), sendo
que o município de Penha lidera a produção catarinense, concentrando cerca
de 1/3 da produção nacional ou 3.500 toneladas.

Mexilhões e sururus fazem parte da família Mytilidae e vivem em quase toda


costa do Brasil. O mexilhão da espécie Perna perna e Mytela falcata são en-
contrados na Região Sul, onde atualmente há grandes cultivos em nível de
larga escala.

Devido ao escasso conhecimento sobre a mitilicultura no Brasil, pesquisadores


e instituições despertaram o interesse pelo cultivo experimental de mexilhões
na década de 1970. Os estudos sobre essa atividade tiveram concentração nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Em termos mundiais, no âmbito da maricultura, o cultivo extensivo de


mexilhões (mitilicultura) é uma atividade que tem crescido em importância
(Smaal, 1991), fenômeno que também vem sendo observado no Brasil
nos últimos anos.

e-Tec Brasil 40 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 3.1: Mitilicultura de espécies nativas, Cananéia, 2006
Fonte: <http://www.pesca.sp.gov.br/imagens/249>. Acesso em: 29 mar. 2011.

3.1.1 Vantagens da mitilicultura

Uma das vantagens de se cultivar mexilhões, assim como as ostras, é o fato


desses animais utilizarem a água do mar para captura de alimento, por serem
filtradores, retiram através da filtração o alimento da água. Isso significa diver-
sas facilidades para o cultivo, podemos enumerá-las abaixo:

1. não há necessidade de se comprar grandes terrenos para se implantar o


cultivo, como é o caso da piscicultura e da carcinicultura;

2. não é preciso gastar com rações elaboradas para cada fase do cresci-
mento, pois o alimento está disponível na própria água que o molusco se
encontra e de graça;

3. baixo custo das instalações de cultivo;

4. facilidade de manejo e aquisição das sementes que ocorre no próprio


ambiente, precisando apenas ter coletores próprios.

Aula 3 – Mitilicultura 41 e-Tec Brasil


3.1.2 Espécies cultivadas no Brasil

1. Perna perna
2. Mytilus edulis
3. Mytella guyanensis
4. Mytella falcata

É importante saber que no Brasil o cultivo se concentra na espécie Perna perna.

3.1.3 Produção nacional e potencial econômico

Regiões e Estados do Brasil Produção (ton)


Brasil 80.512,00
Norte 250,00
Pará 250,00
Nordeste 63.750,00
Maranhão 200,00
Piauí 1.400,00
Ceará 22.000,00
Rio Grande do Norte 26.400,00
Paraíba 1.450,00
Pernambuco 3.850,00
Alagoas 150,00
Sergipe 2.300,00
Bahia 6.000,00
Sudeste 638,00
Espírito Santo 436,50
Rio de Janeiro 29,50
São Paulo 172,50
Sul 15.873,00
Paraná 616,00
Santa Catarina 15.237,00
Rio Grande do Sul 20,00
Centro-Oeste 0

Figura 3.2: Na tabela acima, temos o panorama da produção da aquicultura marinha


e constatamos que a produção de moluscos se destacou na Região Nor-
deste, principalmente no Rio Grande do Norte, com valores superiores a
26.000 toneladas em 2006.
Fonte: FAO (2010).

O Brasil é detentor de grande potencial na produção de moluscos por apresen-


tar condições climáticas favoráveis e um extenso litoral. Observando os dados
de produção de 2006, podemos constatar grandes quantidades produzidas

e-Tec Brasil 42 Novas Oportunidades na Aquicultura


nas regiões nordeste e sul do Brasil. Com o incentivo do Governo Federal para
a aquicultura, esses números podem crescer e gerar emprego e renda para as
comunidades pesqueiras.

1. Compare as técnicas de cultivo dos mexilhões e mostre as principais diferenças


entre elas.

2. Pesquise em livros, internet sobre as regiões que ocorrem as três espécies


mais cultivadas no mundo: Mytilus edulis, Perna viridis e P. canaliculus.

3. Analise o gráfico da produção de mexilhão no Brasil entre 1991 e 2001.

12.000

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

.
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Toneladas 500 1.064 1.224 2.479 3.346 5.202 6.397 7.720 9.460 11.365 10.360

Gráfico da produção em toneladas de mexilhões no Brasil do período de 1991 a 2001


Fonte: Silveira Jr (2005).

Aula 3 – Mitilicultura 43 e-Tec Brasil


3.1.4 Aspectos morfológicos e ecológicos
Agora, iremos conhecer aspectos morfológicos e ecológicos da vida dos me-
xilhões como: morfologia externa, hábitat, alimentação, filtração, reprodução
e desenvolvimento larval.

Morfologia externa

Os mexilhões, assim como alguns moluscos bivalves, possuem dupla concha calcá-
ria. O formato das conchas varia de acordo com o ambiente em que vivem. Devido
à constante movimentação das ondas, mexilhões em bancos naturais possuem
valvas mais espessas, desgastadas e com menor altura e maior largura do que
mexilhões de cultivo que permanecem sempre submersos na água.

Figura 3.3: Exemplares do mexilhão Perna perna


Fonte: <http://www.guiadapesca.com.br/wp-content/uploads/2009/10/mexilhao.jpg>. Acesso em: 29 mar. 2011.

e-Tec Brasil 44 Novas Oportunidades na Aquicultura


Habitat natural

Os mexilhões habitam costões rochosos da região entremarés e podem viver


até uma profundidade próxima a 10 metros. Eles vivem aderidos às rochas pelo
bisso, formando muitas colônias. Preferem costões expostos à ação das ondas
a locais abrigados. No cultivo, os animais são mantidos constantemente sub-
mersos, o que lhes garante uma alimentação contínua e, consequentemente,
acelera o ritmo de crescimento.

Alimentação

O mexilhão é um animal de regime alimentar exclusivamente filtrador. Suas


lâminas branquiais atuam na seleção de partículas alimentares, constituídas
principalmente por detritos orgânicos (75%), algas flageladas e bactérias até
1,5 μm de diâmetro (25%). As partículas selecionadas vão até a boca e são
digeridas. As demais são aglutinadas em um muco e são levadas, pela corrente
de água bombeada, até o sifão exalante, onde são eliminadas em forma de
pseudofezes.

Filtração

A filtração em mexilhões é contínua, na presença de oxigênio e alimento.


A água propulsionada pelos cílios branquiais penetra pela região ventral da
cavidade do manto, atravessa as brânquias e sai pelo sifão exalante, na região
dorsal posterior. Fora da água, as valvas permanecem fechadas pelo músculo
adutor. A taxa metabólica cai ao mínimo, possibilitando que o animal respire
aproveitando o oxigênio remanescente na água intervalvar. Nesse estado, o
animal pode sobreviver de 12 a 20 horas, sob temperaturas moderadas.

Aula 3 – Mitilicultura 45 e-Tec Brasil


Figura 3.4: Imagem do mexilhão da espécie Perna perna, aberto e congelado
Fonte: <http://www.heckelpedreira.com.br/Images%20Comercial/Mostruario/Mexilhao.jpg>. Acesso em: 29 mar. 2011.

e-Tec Brasil 46 Novas Oportunidades na Aquicultura


Reprodução

Figura 3.5: Estágios de desenvolvimento larval do mexilhão em ambiente marinho


Fonte: Nelson Silveira Júnior (2005).

A Figura 3.5 mostra cada estágio de desenvolvimento larval do mexilhão em


ambiente marinho. Na fase A inicia-se a gástrula após 3 horas da fecundação.
Na fase seguinte, após 6 a 7 horas da fecundação ocorre a trocófora. Na
terceira fase, as larvas D surgem após 24 horas. Aos 7 dias de desenvolvimento
está formada a véliger, conforme indica a fase D. Em seguida, na fase E, após
13 dias de eclosão surgem manchas negras. Após o 15º dia (fase seguinte) já
se percebe a presença do pediveliger. E, por fim, na última fase, aos 21 dias
com o completo desenvolvimento já aparecem os plantígrados.

Aula 3 – Mitilicultura 47 e-Tec Brasil


O mexilhão é um animal de sexos separados, e não apresentam diferenças visu-
ais externas com raros casos de hermafroditismo. Durante a maturação sexual,
ou seja, momento em que o indivíduo está pronto para reprodução, os folículos
vão sendo preenchidos pelos gametas (óvulos e espermatozoides), fazendo
com que o manto apresente uma coloração típica. Se abrirmos as conchas, dis-
tinguimos os machos por apresentar a coloração interna esbranquiçada (devido
à produção de espermas) e, na fêmea, a cor alaranjada (devido à produção de
ovos). Quando os animais estão sexualmente maduros, a emissão dos gametas
ocorre quase que de uma só vez, estimulada por fatores externos (temperatura
e salinidade da água, luminosidade, correntes marítimas, concentração de
nutrientes e outros). Então acontece a fecundação externa.

O processo de maturação sexual pode ser dividido em estádios, que são deter-
minados por um exame visual do manto. A seguir, apresentamos a classificação
proposta por Lenetta (1969), que pode ser realizada a olho nu, sem auxílio do
microscópio.

a) Estádio I: Os mexilhões ainda não atingiram a idade reprodutiva, não


sendo possível distinguir os machos das fêmeas.

b) Estádio II: Os mexilhões estão em maturação sexual. Os folículos são bem


visíveis, com diferenciação da cor característica de cada sexo.

c) Estádio III: Subdividido em três subestádios:

d) Estádio IIIA: Repleção total dos folículos pelos gametas.

e) Estádio IIIB: Esvaziamento total dos folículos, que conferem ao manto


um aspecto característico, pouco espesso. A determinação do sexo é, na
maioria das vezes, impossível.

f) Estádio IIIC: Fase de restauração das gônadas. A determinação do sexo


é possível.

Além desses, há outros estádios e subestádios, que só podem ser determinados


microscopicamente e cuja identificação é mais necessária em estudos básicos
de anatomia e fisiologia.

A emissão de gametas na espécie Perna perna é praticamente contínua, com


períodos de reprodução mais acentuada no outono (abril a junho) e na prima-
vera (setembro), sendo esta última mais intensa. Os mexilhões atingem a idade
adulta com 2-3 cm de comprimento.

e-Tec Brasil 48 Novas Oportunidades na Aquicultura


3.1.5 Métodos de criação
Na mitilicultura existem dois métodos de criação (suspensa e flutuante), os
quais serão descritos a seguir.

Criações suspensas

Podem ser divididas em dois grupos: parques fixos e parques flutuantes.

a) Parques fixos

São utilizados em áreas restritas, principalmente na França e Iugoslávia, por


exigirem águas pouco profundas, declividade suave e marés de pequena ampli-
tude. Esses parques consistem em estacas solidamente fincadas sobre o fundo,
sobre as quais é construído um engradado de madeira, ou mesa. Em seguida,
são suspensas as cordas ou redes de crescimento.

Desvantagem: Os animais sofrem parcial exposição ao ar nas marés baixas.

Figura 3.6: Sistema de mesas com bandejas


Fonte: Viana

Como as cordas não tocam o fundo, as criações são protegidas contra o ataque
de predadores bentônicos.

b) Parques flutuantes

Consistem de estruturas flutuantes, balsas ou long-lines, fundeadas por poitas


ou âncoras. É a modalidade de criação mais difundida em todo o mundo,

Aula 3 – Mitilicultura 49 e-Tec Brasil


sendo também a mais recomendada para as condições do litoral brasileiro.
Sua implantação é muito prática e o aproveitamento da coluna d´água é total,
aumentando consequentemente a produtividade em relação aos parques fixos.

A possibilidade de expansão é grande, já que pode ser realizado em locais rasos


ou profundos, abrigados ou moderadamente expostos, com qualquer tipo de
fundo. Como são estruturas flutuantes, esses parques podem ser construídos
em balsas ou espinhéis (long-lines), fundeados por poitas ou âncoras.

3.2 Fixação primária – assentamento


A primeira fixação dos mexilhões, ou fixação primária, ocorre sobre substratos
filamentosos, como algas e o próprio bisso de mexilhões adultos. Nessa fase,
os mexilhões jovens são denominados de plantígrados e experimentam uma
fase migratória, durante a qual são arrastados pelas correntes marítimas ou
rastejam sobre o substrato, podendo fixar-se e desprender-se várias vezes,
até fixarem-se definitivamente sobre os bancos naturais ou outro substrato
adequado. Esta é a fixação secundária ou definitiva.

Agora que já conhecemos mais sobre os aspectos biológicos dos mexilhões


fica mais fácil sabermos sobre seu cultivo. Eles utilizam praticamente a mesma
estrutura que as ostras, por isso não nos deteremos nestes detalhes porque
já vimos quando estudamos ostreicultura. Esses animais podem ser cultivados
em espinhel ou em cordas que também já foram descritos na aula anterior.

Figura 3.7: Mexilhões Mytilus edulis em cordas


Fonte: <www.sxc.hu/browse.phtml?f=search&txt=AQUACULTURE&w=1&x=0&y=0clam breeding 2>. Acesso em: 29 mar. 2011.

e-Tec Brasil 50 Novas Oportunidades na Aquicultura


3.3 Depuração
A depuração é um tratamento obrigatório por lei para moluscos que se desti-
nam ao consumo humano, principalmente se oriundos de águas que sofrem a
fatores antrópicos
influência de fatores antrópicos. Tem por finalidade limpar o trato digestivo ações realizadas pelo ser
humano na natureza.
e a cavidade valvar de agentes contaminantes.

Consiste na permanência dos animais, por um período de tempo variável,


em tanques com água corrente esterilizada para eliminação de organismos
patogênicos. A esterilização pode ser realizada através da aplicação de cloro,
ozônio ou luz ultravioleta na água. Deve ser lembrado que a depuração pode
eliminar a contaminação biológica, mas não a química, em especial aquela
provocada por compostos bioacumulativos.

Comercialização

A comercialização pode ser de duas maneiras: em casca ou congelado. Da


primeira forma, o produto após limpo é embalado em sacos de ráfia. Se for
comercializada somente a carne, após limpa deve ser empacotada e vendida
em restaurantes, bares, supermercados ou atacadistas.

O crescimento da produção deve ser acompanhado do beneficiamento, de


modo a garantir um produto com certificado de sanidade e condições de
validade por maior período. A comercialização de mexilhões não encontra li-
mitantes de mercado, uma vez que existe colocação no mercado internacional.

1. Marque V nas sentenças verdadeiras e F nas falsas, para mexilhões.

( ) A gástrula ocorre após 6 horas da fecundação.


( ) Após 6 a 7 horas da fecundação ocorre a trocófora.
( ) As larvas C surgem após 24 horas.
( ) Aos 21 dias já aparecem os plantígrados.
( ) Aos 13 dias de eclosão surgem manchas vermelhas no pediveliger.
( ) Após uma semana de desenvolvimento está formada a véliger.
( ) Após duas semanas já se percebe a presença do pediveliger.
Agora corrijam as alternativas falsas.

2. Cite os métodos de criação de mexilhões.

Aula 3 – Mitilicultura 51 e-Tec Brasil


Leitura complementar

RESGALLA JUNIOR, Charrid; WEBER, Laura Isabel; CONCEIÇÃO, Moisés Ba-


sílio da (Ed.). Mexilhão Perna perna (L.): Biologia, ecologia e aplicações.
Rio de Janeiro: Interciência, 2008. 324 p.

Conheça o livro O MEXILHÃO Perna perna (L.) – BIOLOGIA, ECOLOGIA E APLI-


CAÇÕES. Ele foi editado e lançado por pesquisadores do Centro de Ciência
Tecnológica da Terra e do Mar (CTTMar), da Universidade do Vale do Itajaí (Uni-
vali). Nele se encontra uma compilação de trabalhos de diferentes grupos de
pesquisa no Brasil, incluindo os estudos realizados por pesquisadores de outros
países onde a espécie também ocorre. A publicação é da Editora Interciência e
o livro pode ser adquirido nas principais livrarias de sua cidade ou pela internet.

Fonte: <http://www.zoonews.com.br/noticias2/noticia.php?idnoticia=148719>. Acesso em: 29 mar. 2011.

Resumo

Nesta aula, conhecemos os aspectos históricos da criação de mexilhões que


teve início na França por Patrick Walton no século XIII. No Brasil, essa atividade
foi introduzida no âmbito da pesquisa com a espécie Perna perna pela Uni-
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, posteriormente, desenvolveu-se
por toda costa das regiões Sul e Sudeste. Em 2002, Santa Catarina se destacou
como maior produtor da América Latina com 12.500 ton, gerando mais de
5.000 empregos diretos. No decorrer da aula, vimos que o advento da mitili-
cultura se difundiu por apresentar grandes vantagens como baixo custo e fácil
manejo. Quanto aos aspectos da vida dos mexilhões, aprendemos que eles
vivem em costões rochosos nas regiões entremarés e apresentam tolerância à
exposição do ar quando expostos nas marés baixas. Sua alimentação é prove-
niente da filtração da água em que vivem. Também vimos que a reprodução
ocorre em ambiente marinho, o que facilita a obtenção de sementes para a
engorda. Foi exposto que o desenvolvimento larval tem duração de 21 dias,
aproximadamente, passando por diferentes estágios, podemos citar gástrula,
trocófora, larva D, véliger, pediveliger e plantígrados. A espécie mais cultivada
no Brasil é a Perna perna. E por fim, vimos dados recentes da FAO que apresen-
taram a participação da Região Norte, Nordeste, destacando o Rio Grande do
Norte com 26.400,00 ton e o grande potencial econômico que esta atividade
apresenta por ser vantajosa e de fácil manejo.

e-Tec Brasil 52 Novas Oportunidades na Aquicultura


Atividades de aprendizagem

1. Discuta sobre as vantagens e desvantagens da mitilicultura no Brasil?

2. Quais os fatores preponderantes para o sucesso desta atividade?

3. Quais os principais critérios a considerar para se implantar um cultivo de


mexilhões?

4. Qual a importância da depuração e por que é obrigatória por lei?

Aula 3 – Mitilicultura 53 e-Tec Brasil


Aula 4 – Quelonicultura

Objetivos

Conhecer as espécies cultivadas.

Distinguir as técnicas utilizadas na quelonicultura.

Reconhecer o potencial econômico no Brasil.

4.1 Histórico
Olá! Nesta aula, iremos aprender sobre alguns aspectos históricos dos quelô-
nios, depois abordaremos as principais espécies cultivadas e de importância
comercial. Em seguida, veremos passo a passo a instalação de um criadouro
de quelônios e o mercado da quelonicultura.

Os quelônios são répteis da ordem Testudinata, na qual estão inseridos ani-


mais como as tartarugas marinhas e de água doce, os cágados e os jabutis.
Eles são providos de um casco rígido, gostam de comer plantas, animais de
pequeno porte e são providos de mandíbulas cobertas por uma placa óssea no
lugar dos dentes. Estes animais habitam na Terra há mais de 250 milhões de
anos e existem, aproximadamente, 335 espécies de água doce, salgada (8) ou
terrestre (34) (GARSCHAGEN, 1995). Durante o fim do Cretáceo e o começo
do Paleoceno, os répteis sofreram uma extinção, quando muitas tartarugas de
diversas famílias foram extintas.

O estado do Amazonas é conhecido como o grande berçário de quelônios


de água doce. Desde o século XVII, a exploração dos portugueses trazia à
capitania de São José da Barra do Rio Negro (futura Manaus), milhões de tarta-
rugas (Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás (Podocnemis
sextuberculata) para serem abatidos.

Em Manaus entre 1950 e 1960, era comum vender tartarugas em carrinhos


de mão pelas ruas. No Mercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia

Aula 4 – Quelonicultura 55 e-Tec Brasil


uma área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que, poste-
riormente, eram abatidos.

Antes de sair a Lei de Proteção à Fauna, em 1967, o presidente Castelo Branco


publicou uma portaria proibindo o comércio de tartaruga em feiras e merca-
dos. Com isto criaram-se conflitos no Amazonas, pois a comercialização de
produtos de animais silvestres constava, inclusive, na pauta de cobrança de
impostos da Secretaria da Fazenda. Para se transportar 20 tartarugas adultas
em embarcação fluvial teria que pagar Imposto de Circulação de Mercadoria
(ICM) de Cr$ 80,00 (oitenta cruzeiros), equivalente hoje, a cerca de R$15,00.

A comercialização de quelônios foi oficialmente proibida após a criação de uma


Lei de Proteção à Fauna, a Lei Nº 5.197 de 1967, mas isso não foi suficiente.
Em vez de acabar o mercado clandestino, ele vem tornando-se cada vez mais
forte e organizado. Então, como vocês podem perceber houve a proibição da
venda de quelônios provenientes da caça, mas já se abriam as portas para a
criação em cativeiro, pois essa lei permitia a “construção de criadouros para
criação de animais silvestres com fins econômicos”. Em 1969, foi publicada
a primeira portaria para normatizar esse novo tipo de empreendimento, a
Portaria Nº 1.136/1969. Em 1973, com a Portaria Nº 1.265P, ficava autorizada
na Amazônia a implantação de criadouros da fauna. Um dos primeiros gran-
des projetos de criação de quelônios da Amazônia começou em 1964, sendo
depois acompanhado pelo extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF).

Infelizmente, as aprovações de leis de proteção à fauna não acabaram com a


venda ilegal de quelônios capturados na natureza, pois ainda é possível com-
prar esses animais no comércio ilegal no estado do Amazonas. A tartaruga e o
tracajá são as espécies mais procuradas para a criação comercial. A criação de
quelônios depende da retirada de milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos
pelo IBAMA. O principal fornecedor, de 1995 a 1998, era a Reserva Biológica
do Abufari, sendo que a retirada anual de filhotes carecia de qualquer critério
científico, com cotas arbitrariamente estabelecidas.

A quelonicultura no Brasil ainda é uma atividade pouco explorada, tendo o


estado do Amazonas o maior número de criatórios em 2003, quase 100 cria-
tórios registrados com cerca de 400.000 animais em cativeiro.

e-Tec Brasil 56 Novas Oportunidades na Aquicultura


Agora, iremos falar sobre as principais espécies utilizadas na quelonicultura.

Figura 4.1: Podocnemis expansa conhecida como Tartaruga da Amazônia


Fonte: Rômulo Alves (2006).

A tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) ou jurará-açu, araú na lingua-


gem indígena (Figura 4.1) é encontrada na bacia Amazônica desde o leste dos
Andes até a bacia do Orinoco.

Essa tartaruga pertence ao filo Chordata, subfilo Vertebrata, classe Reptilia,


subclasse Anapsida, ordem Chelonia (Testudinata), subordem Pleurodira, su-
perfamília Chelonioidea, família Podocnemidae, gênero Podocnemis e espécie
P. expansa Schweigger (1812) (CENAQUA, 1992).

O macho de Podocnemis expansa é chamado por capitari ou capitaré, e tem


seu tamanho duas vezes menor que o da fêmea da mesma espécie. É o maior
quelônio de água doce da América do Sul, podendo atingir até 107 cm de
comprimento (LIMA, 1967; MOLINA; ROCHA, 1996).

Aula 4 – Quelonicultura 57 e-Tec Brasil


Figura 4.2: Exemplar de um tracajá (Podocnemis unifilis)
Fonte: <www.ninha.bio.br/biologia/tracaja.html>. Acesso em: 2 maio 2011.

A espécie P. unifilis, conhecido vulgarmente como tracajá, está distribuída


em toda a Bacia Amazônica. Desculpem os machistas, mas também como a
tartaruga-da-amazônia, as fêmeas são maiores que os machos. O corpo tem a
forma ovalada e o casco aparenta cor escura ao ser molhado. Apresenta patas
curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de pequeno
tamanho em relação ao corpo. Podemos dizer que uma característica marcante
são as manchas amarelas que apresenta na cabeça, e parte dorsal do corpo.
Tem os olhos bem próximos. Gostam de estar em lagos, rios e igarapés, embora
também fiquem na terra em alguns momentos. Alcança a maturidade sexual
após os sete anos. Os tracajás gostam de comer frutas, sementes, raízes, folhas
e, às vezes se alimentam de insetos, crustáceos e moluscos (REIS, 1994). As
desovas ocorrem em barrancos, onde uma fêmea põe por volta de 35 ovos.

e-Tec Brasil 58 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 4.3: Exemplar da tartaruga iaçá (Podocnemis sextuberculata)
Fonte: <http://blogs.sandiegozoo.org/>. Acesso em: 2 maio 2011.

A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente de iaçá, pitiú e


cambéua. A fêmea se diferencia por apresentar manchas amarelas com dois
barbelos embaixo da boca. A carapaça de cor marrom-claro e marrom-escuro.
A postura média é de 15 a 20 ovos de casca mole. O macho é chamado de
anori e possui tamanho menor que o da fêmea, conhecida como pitiú ou
cambéua.

O iaçá é de menor tamanho que o tracajá. Há indícios que esta espécie prefere
desovar em praias arenosas, perto da água. A desova ocorre no período notur-
no. Comumente, os ovos de iaçá são pequenos e mais largos que os de tracajá.

Após 2 meses da fecundação pode ocorrer a eclosão dos ovos. Após a eclosão,
os filhotes permanecem na cova de 1 a 4 semanas. Esta é uma das espécies
de quelônios, a mais consumida em Manaus. Sua carne se encontra à venda
de forma ilegal.

Agora, iremos aprender os requisitos necessários para instalação de criação


de quelônios.

Aula 4 – Quelonicultura 59 e-Tec Brasil


4.2 Instalações para a criação de quelônios
Para instalar uma criação de quelônio, é necessário observarmos alguns pontos
importantes. Em primeiro lugar, as instalações precisam estar conforme as exi-
gências do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) (Portaria no 142/92)
para as fases de reprodução, cria, recria, alimentação e manutenção.
Dessa forma, o animal em cativeiro estará em condições semelhante ao habitat
natural e o produtor terá resultados satisfatórios.

A seguir, observem atentamente as principais instalações para um criatório de


quelônios.

a) Berçário: É o local onde os filhotes permanecem no primeiro ano de


vida, recebendo maior proteção contra predadores e uma alimentação
adequada. Podem ser cercados de madeira em barragens, pequenos
tanques escavados, tanques em alvenaria ou tanques-rede. Em média,
trabalha-se com uma área de 70-150 m2 para 4.000-4.500 filhotes em
berçários de cerca e madeira ou tanque escavado, ou de 35 animais/m3
em tanques-rede ou gaiolas (Figuras 4.4, 4.5 e 4.6).

Figura 4.4: Berçário cercado de madeira para filhotes de quelônios na fazenda expe-
rimental da Universidade Federal do Amazonas
Fonte: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

e-Tec Brasil 60 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 4.5: Berçário tipo gaiola em lagos
Fonte: Andrade (2008).

b) Tanque ou barragem de crescimento: Local para onde os animais são


transferidos após a saída do berçário. Em geral, são tanques escavados
ou barragens, onde os quelônios têm maior espaço disponível para des-
locamentos, permitindo um melhor desempenho. Essa instalação serve
para animais de 12 a 36 meses, e comumente trabalha-se com cerca de
1 animal/m2, entretanto, é possível trabalharmos intensivamente com até
20 animais/m2 no segundo ano (Figura 4.6).

Figura 4.6: Tanques de crescimento e barragem como área de reprodução com praia
artificial. Novo Israel, Manaus/AM
Fonte: Andrade (2008).

c) Tanque ou barragem de reprodução: Esta instalação é apropriada aos


reprodutores e matrizes selecionados. Para matrizes de tartarugas, o ani-
mal deve ter idade de 4 anos ou 7 kg de peso vivo, já em relação aos tra-
cajás, o reprodutor ou matriz deve ter idade também de 4 anos ou peso
acima de 3 kg. É importante obedecer a densidade adequada. Neste

Aula 4 – Quelonicultura 61 e-Tec Brasil


caso, um animal para cada 2,5 m2, preferencialmente, em barragens de
um hectare ou grandes tanques escavados (acima de 1.000 m2). Em uma
de suas margens, deverá ter uma praia artificial com areia, com 1 metro
de altura acima do nível d’água. (Figura 4.7).

Figura 4.7: Tanque para a criação de quelônios em cativeiro


Fonte: Andrade (2008).

No criadouro pode haver outras instalações para animais que ainda não atingi-
ram o peso de abate. Então, quanto mais lotes por classe de tamanho ou peso
houver, mais oportunidades os animais terão para acesso ao manejo e alimento
oferecidos. Mais recomendações se fazem necessárias sobre as instalações, que
deverão ser rodeadas por cercas de madeira e tela de cantos arredondados.
Assim, se previne a fuga de animais, e de eventuais problemas de secagem
acidental dos tanques e barragens (Figura 4.8). Também é prudente haver telas
de proteção aos predadores aéreos (gaviões, garças, socós, etc.) nas instalações
dos berçários. Utilizam-se redes de pesca, tela tipo sombrite ou fios de náilon
esticados (Figuras 4.8 e 4.9).

Figura 4.8: Berçário com cerca de madeira em margem de tanque escavado


Fonte: Andrade (2008).

e-Tec Brasil 62 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 4.9: Proteção feita com fios de náilon contra predadores aéreos
Fonte: Andrade (2008).

Figura 4.10: Berçário de alvenaria com proteção confeccionada com rede de pesca.
Este criadouro está localizado no município de Piraruacá, Terra Santa/PA
Fonte: Andrade (2008).

Figura 4.11: Tanque-rede utilizado na criação de quelônios


Fonte: Andrade (2008).

Aula 4 – Quelonicultura 63 e-Tec Brasil


4.3 Mercado
Países como os Estados Unidos e o Japão têm uma grande demanda por carne
de quelônios. Vale ressaltar que a comunidade nipônica (Japão) é o primeiro
produtor de quelônios.

Tabela 4.1: Faixas de preço por animal vivo no mercado consumidor


de quelônios da América do Sul para o Tratado de Coope-
ração Amazônica (TCA), 2007
Países consumidores de quelônios do TCA Preço por animal vivo (U$)

Brasil 97,00 a 122,00

Colômbia 5,00 a 61,00

Peru 8,00 a 20,00

Venezuela 18,00 a 47,00

Fonte: Andrade (2008).

4.4 Conclusão
Como podemos constatar através das informações passadas nesta aula, o
mercado de quelônios de cativeiro ainda é pouco desenvolvido no Brasil,
destacando-se o estado do Amazonas.

Devido à população ainda ter o costume de consumir quelônios, a caça e a


comercialização de ovos e de animais adultos, mesmo que ilegais, tornam-se
atraentes por causa do lucro. A Portaria Nº 142/92 permite a criação comer-
cial, entretanto, a produção atual não consegue atender toda a demanda do
mercado e seus preços, o que favorece os oportunistas.

Percebemos que a quelonicultura tem bom mercado internacional, porém no


Brasil ainda há poucos investimentos neste setor, necessitando de políticas que
estimulem o seu desenvolvimento sustentável e a fiscalização da caça predatória.

Pesquise, em sua região, que tipo de instalação adequado para implantar um


criadouro de quelônios.

e-Tec Brasil 64 Novas Oportunidades na Aquicultura


Leitura complementar

Acesse o link: <http://www.webanimal.com.br/reptil/index2.


asp?menu=aquaticascriacao.htm> e veja o seguinte artigo: Criação de
tartarugas aquáticas do veterinário Gustavo Henrique Pereira Dutra. Em seu
texto, ele dá dicas de como manter a tartaruga em cativeiro e orienta que os
mais jovens podem ser mantidos em aquários.

Resumo

Nesta aula, você viu que os portugueses traziam para a capital do Amazonas
milhares de espécies de quelônios como as tartarugas (Podocnemis expansa),
tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás (Podocnemis sextuberculata) para serem
abatidas. Foi visto que a procura pela carne de quelônio, por seu apreciado
sabor e valor nutritivo, favoreceu o mercado ilegal de quelônios que é muito
comum no estado do Amazonas. Mesmo com a criação de leis de proteção
à fauna e portarias, estimulando a criação de quelônios e proibindo a caça e
comércio desses animais, as atividades de contrabando não deixam de existir.
Você também conheceu as principais etapas de instalação de um criadouro:
reprodução, cria, recria, alimentação e manutenção. Também aprendeu sobre
as estruturas básicas de um criadouro: berçário, tanques de crescimento e
reprodução. Sabemos que a procura pela carne de quelônios no mercado
internacional é grande, principalmente, pelos Estados Unidos e Japão e vimos
os principais consumidores de quelônios da América do Sul.

Espero que tenha gostado de nossa aula!

Agora, vamos treinar o assunto respondendo a avaliação e fazendo as ativi-


dades!

Bons estudos!

Aula 4 – Quelonicultura 65 e-Tec Brasil


Atividades de aprendizagem

1. Encontre as palavras relacionadas à quelonicultura:

a) Local destinado aos filhotes.

b) Tanques que recebem os animais após a saída do berçário.

c) Tanque próprio para receber reprodutores e matrizes.

d) Órgão de proteção ambiental.

e) Animais que estão prontos para reprodução acima de 4 anos ou 3 kg.

T C A Q Q B E R Ç A R I O L T U R R T
X J R P U A A E A N G U E J C L U E A
F B E E T R X P M E X I L H R O E P N
I Q A O S R R R T L U C I N E L E R Q
L A P E S C H O A B A R R A G E N O U
H A L G I G I D T U R A O A C S O D E
O A P O S E O M U S C O I B A M A U S
T E N A I N A Ç E C A Ç U D O R P Ç R
E O C A S S P A C N S O R A E S U Ã A
S A R I C U L O U R T Ç U D O R P O R
T R A C A J A S R A C O J E O T I C A

2. Como técnico em aquicultura, o que você faria para combater o comér-


cio ilegal dos quelônios?

e-Tec Brasil 66 Novas Oportunidades na Aquicultura


Aula 5 – Jacaricultura

Objetivos

Conhecer as espécies cultivadas.

Distinguir as técnicas utilizadas na jacaricultura.

Reconhecer o potencial econômico no Brasil.

5.1. Introdução a jacaricultura


Olá! Nesta aula, iremos aprender sobre o cultivo de jacarés e quais espécies
são cultivadas no Brasil. Aprenderemos também as técnicas de criação e como
se encontra o mercado nacional para essa atividade.

Os crocodilianos são répteis pertencentes à subclasse Arqueosauria, a mesma


dos dinossauros, tendo-se diferenciado como grupo há pouco mais de 200
milhões de anos, no Triássico Superior (BUFFETAUT, 1989). Atualmente estão
agrupados em três subfamílias e oito gêneros. Há discordâncias quanto ao
número de espécies aceitas, variando de vinte e duas (GROOMBRIDGE, 1987)
a vinte e seis (FERGUSON, 1985), dependendo do autor. No entanto, o número
mais aceito é o de vinte e três espécies (KING; BURKE, 1989). Cinco delas,
todas pertencentes à subfamília Alligatorinae, se encontram no Brasil, sendo
chamadas indistintamente de “jacarés” ou distinguidas umas das outras por
sufixos de origem tupi-guarani ou termos em língua portuguesa. São elas:
jacaré-açu (Melanosuchus niger), jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus),
jacaré-curuá ou, em sua forma aportuguesada, jacaré-coroa (P. trigonatus),
jacaretinga e jacaré do Pantanal (Caiman crocodilus crocodilus e C. crocodilus
yacare, respectivamente) e jacaré-de-papo-amarelo (C. latirostris). A seguir,
algumas imagens dessas espécies.

Aula 5 – Jacaricultura 67 e-Tec Brasil


Figura 5.1: Jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus)
Fonte: Zilca Campos. Disponível em: <http://arquivosdoinsolito.blogspot.com/2011/02/o-menor-jacare-do-mundo-agora-
cresceu.html>. Acesso em: 13 maio 2011.

Figura 5.2: Jacaré do Pantanal (Caiman yacare)


Fonte: <http://ozeascuriosidades.wordpress.com/>. Acesso em: 24 maio 2011.

e-Tec Brasil 68 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 5.3: Jacaré-coroa ou jacaré-curuá (Paleosuchus trigonatus)
Fonte: Marit Hommedal. Disponível em: <http://www.espanorsk.com/index.php?idioma=espanyol&cat=4&_pagi_pg=2>.
Acesso em: 13 maio 2011.

Os crocodilianos amazônicos são incluídos em três gêneros: Caiman, Melano-


suchus e Paleosuchus. Dentro destes, duas espécies merecem atenção especial
porque foram muito exploradas em décadas passadas e atualmente passam
por uma recuperação populacional: o jacaré-açú Melanosuchus niger (Figura
5.4) e o jacaretinga Caiman crocodilus (Figura 5.5), que são os crocodilianos
mais abundantes da Amazônia brasileira.

Figura 5.4: Jacaré-açú (Melanosuchus niger)


Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/animais/jacare-acu.php>. Acesso em: 24 maio 2011.

Aula 5 – Jacaricultura 69 e-Tec Brasil


Figura 5.5: Jacaretinga (Caiman crocodilus crocodilus)
Fonte: <http://br.viarural.com/servicos/turismo/parques-nacionais/dos-lencois-maranhenses/default.htm>. Acesso em: 24 maio 2011.

Figura 5.6: Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)


Fonte: <http://www.anoticiadejunqueiropolis.com.br/hotsite_pea/?p=51>. Acesso em: 13 maio 2011.

A espécie a qual daremos enfoque é a Caiman latirostris, por ser a mais utili-
zada na jacaricultura.

A criação de jacarés, ou a jacaricultura,  é desenvolvida em alguns estados. O


Brasil é o segundo colocado mundialmente na produção de pele de jacaré. O
maior criadouro do País localiza-se no Mato Grosso do Sul.

e-Tec Brasil 70 Novas Oportunidades na Aquicultura


O jacaré é apreciado por sua carne com baixo teor de gordura, o que é bom
para quem quer controlar o colesterol e o peso, e também por sua pele, que
é bastante utilizada na indústria para confecção de calçados, acessórios e
vestuário.

 Uma coisa interessante é que o jacaré, apesar de ser temido pelos homens,
pode se acostumar à presença humana e atende quando chamado para rea-
lizar suas refeições. Alguns dos problemas de sua produção dizem respeito à
falta de curtumes no Brasil e à pouca divulgação para o mercado exterior de
que o animal brasileiro é ecologicamente correto, fazendo com que haja uma
limitação em sua exportação. A seguir, apresentaremos os sistemas de manejo
utilizados em criadouros.

5.2 Sistemas de manejo


Os sistemas de manejo na jacaricultura podem ser divididos em três tipos:

Sistemas de manejo

Extensivo Semi-intensivo Intensivo

Harvesting Ranching Farming


(caça seletiva) (coleta de ovos) (criação em cativeiro)

Figura 5.7: Organograma apresentando os diferentes sistemas de manejo utilizados


na criação de jacarés
Fonte: Jacqueline Abrunhosa

a) Extensivo ou caça controlada de populações selvagens – harvesting ou


cropping, que significa colheita ou cultivo.

b) Retirada de ovos de ninhos da natureza e posterior criação dos filhotes


em cativeiro – ranching, que quer dizer pecuária.

c) Ciclo completo em cativeiro – farming, que significa cultivo.

Aula 5 – Jacaricultura 71 e-Tec Brasil


Quadro 5.1: Fatores relacionados à elaboração e ao sucesso ou fracasso de um
sistema de exploração de espécies silvestres.
Manejo Extensivo Manejo Semi- Manejo Intensivo
Nível Fator
(Caça seletiva) extensivo (Criação em cativeiro)

Abundância natural Alta Alta Baixa


Espécie / População
Valor econômico Baixa Média Alta
(Requisitos básicos
Produtividade natural Alta Alta Alta

Custo Baixo Médio Alto


Sistema de manejo Produtividade alcançada Baixa Média Alta
(Características bási-
cas de cada método) Área Grande Grande Pequena

Valor conservacionista Alto Médio Baixo

Fonte: Verdade (2004).

Quadro 5.2: Exemplos de programas de manejo de crocodilianos.


Manejo Extensivo Manejo Semi-extensivo Manejo Intensivo
Harvesting Ranching Farming
(Caça seletiva) (Criação em cativeiro) (Criação em cativeiro)

Alligator mississipiensis (USA) Alligator mississipiensis (USA) Crocodylus porosus (Austrália)

Caiman crocodilus (Venezuela) Caiman yacare (Pantanal, Brasil) Caiman crocodilus (Amazonas, Brasil)

Caiman crocodilus (Amazonas, Brasil) Caiman latirostris (Pantanal, Brasil) Caiman crocodilus (Amazonas, Brasil)

Melanosuchus niger (Amazonas, Brasil) Caiman latirostris (Pantanal, Brasil)

Caiman yacare (Pantanal, Brasil)

Fonte: Verdade (2004).

5.2.1 Requisitos para implantação de


um criadouro
Para se iniciar a criação de jacarés, é necessário seguir alguns requisitos básicos
para se obter sucesso no negócio. Observe, a seguir, o que é preciso.

• Localização da propriedade próxima à área de distribuição geográfica da


espécie.

• Possibilidade de obter o alimento com baixos custos, utilizando os des-


cartes de produção animal, por exemplo, os descartes provenientes de
produção avícola.

e-Tec Brasil 72 Novas Oportunidades na Aquicultura


5.2.2 Regulamentação
É muito importante que antes de se implantar um criadouro de determinada es-
pécie seja observada a sua regulamentação. A espécie jacaré-de-papo-amarelo,
que está na lista das espécies ameaçadas de extinção, tem sua caça proibida
no Brasil pela Lei nº 5.197/67 de proteção à fauna. Sua criação em cativeiro
está regulamentada pela Instrução Normativa nº 169/2008, que normatiza a
implantação de criadouros comerciais, os quais devem obter autorização do
IBAMA, e nº 117/92, que normatiza a comercialização de peles de crocodilia-
nos brasileiros.

5.2.3 Aquisição de matrizes e reprodutores


A aquisição de matrizes e reprodutores deve ser realizada através de programas
de propagação em cativeiro, como por exemplo, o programa desenvolvido
pelo Laboratório de Ecologia Animal (LEA). Esse programa visa a produção e o
fornecimento de matrizes e reprodutores para criadores de jacarés, evitando,
dessa forma, a caça predatória.

5.2.4 Instalações

Recintos de reprodução

Os recintos são locais abertos à temperatura ambiente, adequados para repro-


dução. Devem conter um tanque com dimensões próximas de 24 m2 e 1,20 m
de profundidade. Para facilitar o deslocamento dos reprodutores, deve haver
rampas laterais levemente inclinadas. Outro ponto a ser considerado são as
áreas para construção dos ninhos (abrigos de nidificação) que podem medir
até 4 m2. Além disso, não podemos esquecer os abrigos para cada fêmea que
esteja nesse recinto que também servem para acomodação dos filhotes.

5.2.5 Recintos de crescimento


Esses locais são apropriados para os animais em fase de crescimento, até atin-
girem o tamanho de abate ou serem transferidos para os locais de reprodução.
Nesse recinto, a densidade indicada é de 10 animal/m2.

A temperatura desses locais deve permanecer em 32ºC aproximadamente


durante todo o ano.

Aula 5 – Jacaricultura 73 e-Tec Brasil


Figura 5.8: Recintos de crescimento de jacarés
Fonte: <http://mrkrocco.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 5 fev. 2011.

5.2.6 Manejo reprodutivo


Essa é uma das etapas cruciais na produção de jacarés, porque compreende a
formação de grupos reprodutores, material para formação de ninhos, coleta
e incubação de ovos e os cuidados que devem existir durante a eclosão e pós-
eclosão. Do sucesso dessa etapa dependerá a produção do empreendimento.

5.2.7 Formação de grupos reprodutores


Não existe número fixo de machos e fêmeas a ser utilizado no plantel. O número
de indivíduos irá depender do criador. Pesquisas de Pooley (1990) relatam que
um único macho é responsável pela fertilização dos óvulos de grande número
de fêmeas, mas alguns zoológicos mantêm casais como grupos reprodutivos.

Figura 5.9: Casal de jacarés formando um grupo reprodutor


Fonte: <http://mrkrocco.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 5 fev. 2011.

e-Tec Brasil 74 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 5.10: Recintos de reprodução de jacarés
Fonte: <http://mrkrocco.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 5 fev. 2011.

5.2.8 Material para formação de ninhos


Vocês já imaginaram como são formados os ninhos de jacarés?

Os ninhos são a referência do potencial reprodutivo de um plantel. Na natu-


reza são encontrados diferentes tipos de ninhos, de acordo com a espécie e
os recursos disponíveis no ambiente de nidificação. Comumente são ninhos
compostos de material vegetal.

Figura 5.11: Jacaré no ninho


Fonte: <http://mrkrocco.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 5 fev. 2011.

Aula 5 – Jacaricultura 75 e-Tec Brasil


5.2.9 Manejo alimentar
Staton et al (1990) afirmam que a dieta de crocodilianos deve possuir 14% de
carboidratos para um desenvolvimento adequado. Em suas pesquisas, encon-
traram melhores resultados quando a dieta continha de 9,7 a 12,9:1 kcal/g
de proteína. Quanto ao teor de gordura, os mesmos autores recomendam de
15,8 a 27,4% na dieta.

5.2.10 Frequência alimentar


Segundo Staton et al (1990) deve-se ofertar alimentação 5 a 6 vezes por
semana. Em relação à quantidade de alimento, deve ser oferecida à vontade
(DE VOS, 1982). O pesquisador Pacheco (1991) recomenda 6 a 7% de peso
vivo por semana para jacarés adultos e 7% de carne bovina para filhotes.

5.2.11 Dietas
Em geral, as carnes vermelhas são mais adequadas nutricionalmente para o
crescimento de filhotes.

5.3 Caracterização dos produtos


Bem, mas você deve estar se perguntando: Por que criar jacarés?

Há um comércio para a carne e couro de jacarés. A indústria do couro, por


exemplo, tem grande procura por peles de jacaré para confecção de pastas,
bolsas, sapatos, carteiras, enfim, uma variedade de produtos.

Figura 5.12: Couro da barriga de jacaré


Fonte: <http://mrkrocco.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 5 fev. 2011.

e-Tec Brasil 76 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 5.13: Carteiras e chaveiros de couro de jacaré
Fonte: <http://mrkrocco.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 5 fev.2011.

Figura 5.14: Bolsa de couro de crocodilo


Fonte: <http://www.gleni.it/images/crocodile3-piccolo.jpg>. Acesso em: 5 fev. 2011.

Figura 5.15: Couro de jacaré curtido em diversas cores


Fonte: <http://recife.olx.com.br/couro-de-jacare-iid-70568386>. Acesso em: 5 fev. 2011.

Aula 5 – Jacaricultura 77 e-Tec Brasil


Figura 5.16: Botas de couro de jacaré
Fonte: Los Angeles Times.

Então, vimos quanta coisa podemos fazer com a pele de jacaré criado em
cativeiro. Podemos afirmar que a criação de jacarés em cativeiro pode gerar
renda para uma população, além de preservar as espécies nativas, diminuindo
o comércio ilegal proveniente da caça predatória. Até a próxima aula!

1. Pesquise sobre as etapas de curtimento de couro de jacaré e descreva-as.

e-Tec Brasil 78 Novas Oportunidades na Aquicultura


Resumo
Conheça o projeto jacaricultura
Nesta aula, conhecemos as espécies de jacarés existentes no Brasil, assim como disponível no site: http://
o manejo em cativeiro. Também vimos a legislação que regulamenta os cria- ecologicalcouros.com/projeto-
jacaricultura_ecological.html
douros comerciais e a venda de peles. Finalmente falamos sobre o mercado Esse projeto trabalha de forma
que a pele de jacarés movimenta através da indústria de produção de bolsas, ecologicamente correta com o
curtimento de couro de jacarés
sapatos, roupas etc. criados em cativeiro.

Atividade de aprendizagem

Escreva quais produtos podem ser elaborados com o couro de jacaré e diga
como um projeto de jacaricultura poderia melhorar a qualidade de vida de
uma comunidade amazônica.

Aula 5 – Jacaricultura 79 e-Tec Brasil


Aula 6 – Ranicultura

Objetivos

Conhecer aspectos da biologia, reprodução e ciclo larval.

Distinguir as principais espécies cultivadas.

Aprender os sistemas de cultivo utilizados na ranicultura.

Conhecer a produção nacional e potencial econômico.

6.1 Aspectos históricos da criação de rãs


Nesta aula, iremos aprender as particularidades da ranicultura, seus tipos de
criação, espécies e importância econômica no Brasil.

A criação de rã-touro teve sua origem em Cuba, em 1917, com a criação


extensiva através da caça, objetivando exportações com produção de 900 t/
ano na época. Hoje se produz apenas 200 t/ano. Em 1928, o Japão chegou a
produzir 881 t/ano da carne de rã.

A criação intensiva no Brasil teve início na década de 1930 com a introdução,


em 1935, da rã-touro, Rana catesbeiana Shaw, que se adaptou perfeitamente
ao clima e apresentou crescimento superior ao observado na natureza, em sua
região de origem, viabilizando sua criação. É citado como primeiro registro
histórico a implantação do Ranário Aurora, no Estado do Rio de Janeiro, que
consistia em uma área cercada com chapas de zinco, rica em vegetação e com
água abundante. Ao contrário de outros países que praticam a caça ou cultivo
extensivo como em Cuba, o Brasil, por sua vez, procurou desenvolver a tecno-
logia de criação em cativeiro, primeiramente através dos esforços isolados de
criadores independentes, mais tarde com a efetiva participação de instituições
de pesquisas, como Universidades e outros.

Na década de 1970, novos modelos de ranários foram propostos. Baseado na


experiência de criadores surgiu o modelo chamado Tanque-ilha, escavado no

Aula 6 – Ranicultura 81 e-Tec Brasil


solo e contendo no centro da escavação uma ilha onde se colocavam carcaças
ou outros restos que atraiam insetos para a alimentação dos animais. Esse
modelo, proposto por Dorival Fontanello, em 1980, no Instituto de Pesca (SP),
foi seguido pelo Confinamento, proposto por Noé Ribeiro da Silva, em 1984,
na Universidade Federal de Uberlândia, pelo Sistema Anfigranja, criado por
Samuel Lopes Lima e Cláudio Ângelo Agostinho, em 1988, na Universidade
Federal de Viçosa, ambas em Minas Gerais. Posteriormente foi lançado o
modelo vertical denominado Ranabox, em Betim, MG, comercializado para
todo o Brasil. Atualmente todos os modelos propostos estão sendo adaptados
para sistemas de baias inundadas, das quais falaremos mais tarde. Pelo menos
nas fases iniciais logo após a metamorfose ainda se utiliza larvas de mosca
produzidas em moscários, para atrair os imagos para o cocho onde é servida
ração como alimento.

Principais países produtores:

• Cuba, México, Equador, Uruguai e Argentina – América Latina

• China, Taiwan, Tailândia e Indonésia – (principais fornecedores mundiais)

Principais países consumidores

Tabela 6.1: Consumo anual de rãs e seus principais consumidores


País Consumo (t/ano)

Estados Unidos 3.800

França 2.900

Alemanha 2.700

Suíça 1.800

Holanda 800

Fonte: Negrini (2001).

6.2 Aspectos biológicos das rãs


Os anfíbios (anfi = duas; bio = vida) são animais vertebrados, pecilotérmicos que
não possuem bolsa amniótica agrupados na classe Amphibia (Wikipédia). O seu
ciclo de vida dividido em duas fases: uma aquática e outra terrestre.

e-Tec Brasil 82 Novas Oportunidades na Aquicultura


Estão identificadas cerca de 3000 espécies vivas de anfíbios. Quanto aos as-
pectos fisiológicos possuem circulação fechada, ou seja, o sangue sempre
permanece em vasos e dupla (circuito corpóreo e o circuito pulmonar), e
incompleta já que há mistura do sangue venoso e arterial no coração. Quanto
aos aspectos da reprodução, esta ocorre na água doce de forma sexuada
por fecundação externa (com exceção dos Gymnophiona). Seu ciclo de vida
apresenta ovos, larva, girinos, imagos e adultos. Diferenciam-se dos demais
vertebrados por não possuírem bolsa amniótica.

6.3 Perspectiva da ranicultura


Quanto às perspectivas desta atividade no Brasil, ainda se apresenta de forma
pouco expressiva, devido à deficiência ou falta de alguns aspectos como incen-
tivo fiscal e financeiro, há poucas políticas que estimulem o desenvolvimento
da ranicultura, a ativação das pesquisas ainda é pequena, se concentra em
poucos estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A falta de
mão de obra e profissionais qualificados neste mercado também dificulta a
execução da atividade.

No que se refere à produção em nível mundial ainda é quase que totalmente


por caça, (em média 95%), isso quer dizer que a ranicultura é uma atividade
pouco desenvolvida.

6.4 Levantamento da produção nacional


Os principais estados produtores estão na região Sudeste. As principais em-
presas de atividade ranícola estão concentradas em São Paulo, Rio de Janeiro
e Minas Gerais, mas também há empresas atuando no Pará, Rio Grande do
Norte, Distrito Federal e Paraná, como mostra o mapa seguinte.

Aula 6 – Ranicultura 83 e-Tec Brasil


1

3
1 Benevides
2 Natal
3 Brasília
4 Ponte Nova 4 5
5 Cariacica 6 7
6 Catanduva 11 10 8
9
7 Monte Sião 12
8 Seropedica 13
15 14
9 Itaboraí
10 Tremembé Abatedouros:
11 Atibaia Com SIF
12 Jundiaí Com SIE
13 Ubatuba
14 Peruíbe Projetos:
15 São Miguel do Iguaçu Aprovado
Favorável ao deferimento

Figura 6.1: Mapa do Brasil destacando os locais com atividade comercial da ranicultura
Fonte: Lima e Agostinho (1992).

6.5 Levantamento da comercialização


O mercado interno

O mercado interno apresenta pouco interesse pela carne de rã, talvez devido
às preferências de cada região. Contudo, atualmente, toda rã produzida no
Brasil é destinada ao mercado interno, já que a exportação ficou prejudicada
pelo câmbio. Os preços são bastante interessantes (R$ 12,00 pelo kg da rã para
abate), proporcionando excelente lucratividade aos produtores.

A rã é comercializada nas formas fresca, congelada em carcaça inteira ou em


partes (coxas). Quando em carcaça inteira, o seu dorso é inteiro ou desfiado,
enquanto as coxas são servidas empanadas ou não. A rã picada para petisco
ainda é pouco explorada. Ela é comercializada viva apenas em São Paulo devido
à forte influência oriental que o estado possui.

e-Tec Brasil 84 Novas Oportunidades na Aquicultura


Produtos feitos com a rã

Atualmente, há uma fatia de mercado ainda pouco explorada, que é a utiliza-


ção dos subprodutos do abate de rãs, tais como o fígado, usado na fabrica-
ção de patê; o intestino utilizado como linha cirúrgica interna; a pele curtida
(transformada em couro através de um processo chamado curtimento), usada
na confecção de roupas, sapatos, carteiras e artesanato. Outra forma de apro-
veitamento é a pele in natura que atende à medicina humana na recuperação
de queimaduras e a gordura, concentrada no corpo gorduroso, destinada à
fabricação de cremes para a indústria cosmética.

Locais de comercialização no mercado interno

O comércio da carne de rã é bem amplo, podendo atender a demandas de


supermercados, peixarias, açougues, mercearias, hotéis e restaurantes.

O mercado externo europeu e norte-americano

No mercado internacional, a carne de rã é muito apreciada e é tradicionalmen-


te comercializada em forma de coxas congeladas. As coxas são classificadas
por pares segundo o tamanho e o preço é variável de acordo com o sistema,
se de caça, criação ou ainda da época do ano, no Natal e na Páscoa o valor é
mais alto. O preço médio é de US$ 5,00 e comercialização de 10 mil t/ano com
faturamento aproximado de US$ 5 milhões.

Figura 6.2: Carne de rã inteira beneficiada para comercialização


Fonte: <www.milclassificados.com.br>. Acesso em: 25 maio 2011.

Aula 6 – Ranicultura 85 e-Tec Brasil


6.6 As rãs comestíveis

Brasil Camarões
L. ocellatus Rã-golias (Conraria goliath)
L. macrosteroum
L. labyrinthicus
Europa

Outras regiões
L. pentadadactylus
L. flavopictus Rana silvatica
Rana temporaria
Chile
Rã gigante chilena Caudiverbera caudiverbera)
América do Norte
Rana pipiens
Argentina Rana catesbeiana (rã-touro)
Rã-coralina (Leptodactylus laticeps)

Frog (inglês), rana (espanhol) e grenouille (francês)

Figura 6.3: Rana goliath


Fonte: <www.claretianos100x100.blogspot.com>. Acesso em: 25 maio 2011.

e-Tec Brasil 86 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 6.4: Rana catesbeiana
Fonte: Todd Pierson (2010).

Figura 6.5: Desenho esquemático do ciclo de vida das rãs


Fonte: <www.ufv.br>. Acesso em: 25 maio 2011.

O ciclo de vida das rãs (Figura 6.5) está dividido em embrião, larva, girino (G1
a G5), imago e adulto. A fase larval transcorre de 48 a 72 horas, as brânquias
externas regridem passando a funcionar internamente; G1, o girino se alimenta
avidamente e ganha peso rápido de 10 mg a 10 g ou mais (rã-touro); G2 ocorre
o início da metamorfose, as patas posteriores começam a desenvolver, devido às
condições adversas de temperatura ocorre um retardamento, atingindo até 20 g
quando atrasa; G3, as patas posteriores são desenvolvidas e as anteriores desen-
volvem internamente; G4, os girinos aproximam-se do clímax da metamorfose;

Aula 6 – Ranicultura 87 e-Tec Brasil


G5 ocorre o clímax, melhor dizendo, é a maior transformação na fase girino,
então, as patas anteriores são exteriorizadas, a cauda começa a regredir, a boca
se modifica, as brânquias desaparecem, o pulmão surge e há diferenciação dos
órgãos digestivos. Neste momento, o animal deixa de se alimentar.

Figura 6.6: Girino de rã-touro na fase G1


Fonte: <http://www.discoverlife.org/ap/copyright.html>. Acesso em: 25 abril 2011.

Após as cinco fases de girino, ele se transforma em imago que já possui as


características de uma rã adulta, mas ainda não está pronto para reproduzir.

Figura 6.7: Imago de rã-touro


Fonte: <http://www.discoverlife.org/ap/copyright.html>. Acesso em: 25 maio 2011.

e-Tec Brasil 88 Novas Oportunidades na Aquicultura


6.7 Escolha dos reprodutores aptos para
acasalamentos

A espécie mais utilizada em criações é a rã-touro Lithobates catesbeianus (Rana


catesbeiana), a qual apresenta dimorfismo (diferenciação) sexual.

Sexo
Feminino Masculino
Características

Região Pele é lisa Pele é enrrugada


gular geralmente geralmente
(papo) de cor branca de cor
amarela

Tamanho Semelhante Maior que


do tímpano ao do olho o do olho

Calo para
o abraço Ausente Presente
nupcial

Figura 6.8: Características morfológicas que diferenciam o macho da fêmea, Rana


catesbeiana
Fonte: Lima e Agostinho (1988).

O passo seguinte para a escolha dos reprodutores aptos para o acasalamento


deve ser a identificação das características que aparecem na maturação sexual.

Quadro 6.1: Características dos reprodutores quando maduros sexualmente


Características nas fêmeas Características nos machos

Região gular com intensa cor amarelada e dilatação na base, formando


Volume do ventre aumentado
um “papo”.

Faz a corte nupcial (coacha), ou seja, canta para a fêmea e disputa o


Fator de condição maior
território com outros machos.

ndice entre o diâmetro do abdômen e a


O dedo polegar com esponja ou calo bem desenvolvido.
distância entre os olhos maior

Abraça fortemente a fêmea (abraço nupcial), exibindo os braços


robustos.

Fonte: Lima e Agostinho (1988).

Na Figura 6.9, podemos visualizar melhor as características do macho e fêmea


maduros sexualmente que foram descritas no Quadro 6.1.

Aula 6 – Ranicultura 89 e-Tec Brasil


Figura 6.9: O funcionário da ranicultura Rãmazon (município de Icoaraci, Pará) pousa
para uma foto com um macho à direita (papo verde) e uma fêmea de cor
mais escura da rã-touro (à esquerda)
Fonte: Kedson Lima (2009).

6.8 Processo de produção


Os sistemas de produção são semelhantes aos de piscicultura. Podem ser ex-
tensivo, semi-intensivo e intensivo.

Você deve lembrar que na criação extensiva não requer muito cuidado, não
há monitoramento rigoroso da qualidade da água e o criador utiliza alimen-
tação natural, não se utiliza ração. Há um equilíbrio ecológico devido à rã se
alimentar de outros animais como os insetos. É comum em países como Japão,
China e Cuba.

Já na criação semi-intensiva, deve-se colocar 10 rãs/m2, se utilizando dos mo-


delos tradicionais que simulam o ambiente natural. A alimentação deve ser
balanceada, por isso já deve utilizar ração comercial.

Na criação intensiva há os sistemas denominados Confinamento, Anfigranja,


no qual se pode trabalhar com alta densidade (50 rãs/m²2), o Ranabox (vertical)
e hoje, apresentando-se como mais promissor, o de baias inundadas.. Neste
tipo de criação, deve-se ter rigoroso controle de temperatura, qualidade da
água e ração. Ficar atento ao surgimento de doenças para não contaminar
todo o plantel.

e-Tec Brasil 90 Novas Oportunidades na Aquicultura


Modelo de ranários

Figura 6.10: Ilustração do Ranário Aurora, 1938


Fonte: Lima e Agostinho (1988).

Na figura anterior, podemos observar folhas de zinco, um tanque contornado


por uma porção de terra – a vegetação cresce naturalmente.

Na década de 1970 passou a forma de tanques com cercado de náilon e,


posteriormente, tanque-ilha – 30/50 animais/m2.

Figura 6.11: Ilustração do ranário de tanques múltiplos


Fonte: Vizotto (1978).

Aula 6 – Ranicultura 91 e-Tec Brasil


Água

Ilha

Figura 6.12: Desenho esquemático de um tanque-ilha com tanque no centro rodeado


por água, o que nos lembra a ideia de uma ilha
Fonte: Kedson Lima (2009).

O sistema ranabox comporta a densidade de 600 a 1200 animais/m2 Figura 6.13).

Figura 6.13: Sistema Vertical Ranabox


Fonte: <redetec.org.br>. Acesso em: 25 abr. 2011.

O Sistema Vertical Ranabox (SVR), criado pela empresa RANAMIG, foi classifi-
cado e premiado como um dos três melhores inventos de Minas Gerais no 13º
concurso talento brasileiro, promovido pela Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais (FIEMG). A invenção refere-se a um conjunto de bandejas
autoportantes dispostas verticalmente em até o 21º andar.

e-Tec Brasil 92 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 6.14: Mapa do Brasil com quatro situações demarcadas para implantação da
ranicultura: inapta (branco), apta com restrição (pontos hachurados),
apta (quadrinhos) e preferencial (quadros maiores)
Fonte: Lima e Agostinho (1992).

O Brasil é um país com clima altamente favorável para a criação de rãs. Veja
a seguir o percentual de cada situação para se desenvolver criação de rãs
no Brasil. Note que a soma das regiões apta e preferencial chega a 83% do
território nacional.

Preferencial - > 62,4

Apta - > 20,6

Apta com restrições - > 12

Inapta - > 5

Aula 6 – Ranicultura 93 e-Tec Brasil


6.8.1 Instalações adequadas para um ranário
A maioria são soluções emergentes, pois resultados de pesquisas são demo-
rados. Para o manejo é necessário que sejam seguidas algumas premissas e
regras básicas.

Quadro 6.2: Etapas da criação de rãs


SETOR INSTALAÇÃO FASE ESTÁGIO

Baias de mantença Reprodutores (machos e fêmas)


Reprodução Ovo
Baia de acasalamento Desova

Tanque Inicial G1

Girinos Tanque Crescimento G1 a G2

Tanque Metamorfose G2 a G5

Baia inicial Inicial (<40g) Imago


Recria
Baia de crescimento/terminação Terminação (>40g) Rãs em engorda

Fonte: Lima e Agostinho (1992).

No quadro anterior estão discriminadas as etapas da criação de rãs. Na primeira


coluna estão os setores de reprodução, girinagem e recria. Na segunda coluna
aparecem os tipos de instalações utilizados: baias (para Reprodutores e para
Recria Inicial, < 40 g, e Final, de 40 g até o abate) e tanques (para Girinos nas
fases inicial, de crescimento e de metamorfose), sendo as fases indicadas na
terceira coluna. Na terceira coluna são apresentadas as fases de desova, inicial,
crescimento, metamorfose, inicial (menor que 40g) até terminação (maior que
40g) pronto para comercialização.

A produção de rãs em cativeiro apresenta a seguinte cadeia produtiva:

• A criação de rãs que chamamos de ranários.

• A indústria de abate e processamento.

• E a comercialização dos produtos oriundos da ranicultura.

A seguir, na Figura 6.15, você pode observar as etapas da cadeia produtiva.


Inicia-se no ranário com a desova, a fase de desenvolvimento do girino até a
metamorfose e a recria. Em seguida, as rãs são conduzidas para o abate nas
indústrias de processamento (abatedouros),  seguindo rigorosamente as nor-
mas higiênico-sanitárias definidas pelos órgãos de Saúde Pública. Processada
e embalada, a carne é enviada para o mercado consumidor.

e-Tec Brasil 94 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 6.15: Cadeia produtiva da ranicultura ilustrada com as instalações de um ranário
Fonte: Lima e Agostinho (1992).

Sistema anfigranja

Figura 6.16: Rãs no sistema anfigranja


Fonte: <www.tecnologiaetreinamento.com.br>. Acesso em: 25 maio 2011.

Aula 6 – Ranicultura 95 e-Tec Brasil


O sistema anfigranja é formado pelos setores de reprodução, de girinos e
de recria. A seguir, descreveremos cada um deles.

O setor de reprodução é constituído de duas áreas distintas: as baias de


mantença e as de acasalamento.

a) Nas baias de mantença as rãs reprodutoras são mantidas confortavel-


mente durante todo o ano, separadas por sexo e somente são transferidas
para as baias de acasalamento quando o ranicultor necessita de desovas.

b) Já as baias de acasalamento podem ser para apenas um casal de cada


vez ou para vários casais. Após a reprodução, a desova é transferida para
o setor de girinos e o casal retorna para a baia de mantença.

O setor de girinos é formado por um conjunto de tanques (tanque circular


ou retangular), construídos de acordo com o tamanho do empreendimento.
A desova é depositada em uma incubadora, onde ocorrerá o desenvolvimento
embrionário até a eclosão das larvas, que após alguns dias, darão origem
aos girinos. Nos tanques, os animais vão se desenvolver até a metamorfose.
  O setor de recria é constituído por baias de recria inicial e baias de termina-
ção. Essas baias consistem em salas equipadas com abrigos, cochos e piscinas
dispostos linearmente e adequados ao tamanho dos animais.

As baias de recria inicial recebem os imagos após a metamorfose, oriundos ou


não de uma mesma desova. Quando as rãs alojadas nessas baias alcançam de
30 a 40 g, são triadas e transferidas para as baias de crescimento e terminação.

As baias de crescimento e terminação são destinadas a receberem lotes


uniformes de rãs oriundas das baias de recria inicial, onde permanecem até
atingirem o peso de abate. Nesse momento são enviadas para a indústria de
abate e processamento.

e-Tec Brasil 96 Novas Oportunidades na Aquicultura


piscina

Setor
de
recria

abrigo cocho

Figura 6.17: Esquema apresentando setor de recria que contém abrigo, cocho e piscina
Fonte: Jacqueline Abrunhosa (2011).

6.8.2 Manejo da ranicultura

Matrizes

Dentro da área das matrizes colocaremos os reprodutores selecionados,


separando-se machos e fêmeas.. Deve-se dar atenção especial aos 12 meses
do ano.

Importante analisar!

• Quantidade de animais/m2

• Forma de alimentação

• Renovação do plantel

• Construção

• Forma e tipos e localização de matrizários

Quantidade de animais/m2

Ao determinarmos a quantidade de casais por m2, poderemos determinar o


tamanho da área a ser usada para esta função.

Aula 6 – Ranicultura 97 e-Tec Brasil


Exemplo: Considerando 5 casais/m2 (10 rãs/m2), então, 1.000 casais neces-
sitarão de 200 m2 mas, o ideal é que deixemos mais 50 m2 para possíveis
estruturações tendo um total de 250 m2.

5 casais/m2 = 10 rãs/m2 , então

1.000 casais/m2 = x → x = 1.000/5 → x = 200 m2

O espaço deverá conter área de permanência do animal (Mantença) e área de


reprodução (Acasalamento), pois o abrigo se faz necessário quando em regiões
frias ou para proteção.

Forma de alimentação

No centro entre os tanques grandes deverão estar dispostos os comedouros,


tendo sempre o cuidado de não fornecer excesso de alimento para evitar
desperdício e contaminação rápida da água.

Renovação do plantel

A renovação total do plantel ocorre de 4 a 6 anos, quanto mais velho o animal


maior a massa de ovos. Aos seis anos, a rã alcança o seu máximo de prolifici-
dade e fertilidade, vivendo em média de 14 a 16 anos.

Girinagem

A má circulação da água no tanque e o ac mulo de matéria orgânica podem


acarretar a perda de girinos. A densidade adequada é de dois girinos por
litro de água no tanque, mais que isso pode comprometer a qualidade do
cultivo. Altas densidades proporcionam altas concentrações de fezes e outras
impurezas na água, causando risco à sanidade dos animais, comprometendo
o teor de oxigênio, reduzindo e aumentando amônia e dióxido de oxigênio.

e-Tec Brasil 98 Novas Oportunidades na Aquicultura


Figura 6.18: Girinos em água com baixa qualidade. Observem as fezes no fundo. Di-
minuição no teor de oxigênio, podendo ocasionar mortalidade
Fonte: <www.chechosladisco.com>. Acesso em: 25 maio 2011.

Deve-se atentar para o comportamento das rãs, o canibalismo é comum,


porém, é uma porta de entrada para doenças, exemplo: necrose da cauda. Necrose é o estado de morte de
um tecido ou parte dele em um
organismo vivo. Fonte: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Necrose
Os girinos sugam a pele da cauda um dos outros, ocasionando ferimentos, isso
faz com que a água seja contaminada propiciando contaminação por bactérias
e, consequente, morte dos girinos afetados. O rabo transparente, branco e
com manchas também é um indicador da doença.

Recria

Consumo baixo de ração - como resolver? Cocho vibratório ou sistema


automático de alimentação.

Figura 6.19: Esquema da alimentação das rãs no cocho


Fonte: Kedson Lima (2009).

Aula 6 – Ranicultura 99 e-Tec Brasil


A Figura 6.19 apresenta o esquema de alimentação no cocho. Observa-se que
o cair da ração no cocho estimula os animais a se alimentarem. Para alcançar o
peso de abate, a rã necessita comer de 6 a 10 g de ração/dia. A ração representa
70% do custo total da produção, isso revela que a quantidade que deve ser
ofertada deve ser adequada para minimizar os custos da produção, além de
manter a boa nutrição das rãs. O custo deste alimento é elevado, pois há uma
baixa demanda desse produto específifico. A ração padrão que se utiliza geral-
mente é para peixes. A ração, na fase inicial, é moída fifinamente e jogada a
lanço. A quantidade ofertada é variável, deve-se consultar a tabela de consumo
apenas como parâmetro e fornecer de 3 a 4 vezes ao dia. Deve-se diminuir 50%
de sua oferta durante a metamorfose, pois nessa fase os girinos diminuem o
metabolismo, não necessitando da mesma quantidade de alimento. Já na fase
de imago deve ser oferecida na forma de pellets pequenos para truta. Nesse
mesmo período, deve-se administrar 50% de ração e 50% de larvas.

Pesquise sobre qual setor da indústria é o mais lucrativo com o aproveitamento


da rã e, em seguida, mostre o lucro que essa indústria obtém por ano.

Leituras complementares

Conheça o livro:

LIMA, S. L.; AGOSTINHO, C. A.   A Tecnologia da Criação de Rãs. Belo


Horizonte: UFV, 1992. 166p.

Esse livro fala sobre o sistema anfigranja, que atualmente é a tecnologia de


criação de rãs mais avançada no Brasil. Trata-se de um trabalho inédito de toda
a experiência dos autores, adquirida no campo com a assessoria técnica aos
produtores rurais que adotaram esta tecnologia, e com as pesquisas executa-
das no ranário experimental da Universidade Federal de Viçosa.

Síntese do conteúdo: Aspectos biológicos das rãs: o processo reprodutivo;


fases de crescimento. Criação: tipos de criação; modelos de ranários. Sistema
anfigranja: instalações; recomendações. Manejo: setor de reprodução; setor de

e-Tec Brasil 100 Novas Oportunidades na Aquicultura


girinos; setor de recria; manejo preventivo de enfermidades. Aspectos econômi-
cos: produtividade; índices zootécnicos; planejamento; análise de rentabilidade.

Veja também - Manejo da anfigranja: granja de rã. Roteiro e Direção Marcos


Orlando de Oliveira. Viçosa: UFV, 2008. 55min. Disponível em: <http://www.
agrosoft.org.br/agropag/28240.htm>. Acesso em: 25 abril 2011.

Esse é um curso CPT "Manejo de Anfigranja - Granja de Rã”. O Curso com-


pleto é constituído de manual com 29 páginas e, em DVD com total de 55
minutos. O curso aborda: setor de girinos, manejo das desovas ao imago, ins-
talações, manejo alimentar, manejo de rotina,controle do plantel, transporte,
setor de recria,instalações,manejo alimentar, manejo de rotina, controle do
plantel, transporte, moscário, setor de reprodução, aspectos da reprodução,
instalações e manejo da reprodução.

Resumo

Nesta aula, vimos a ranicultura como nova oportunidade na Aquicultura e


todos os seus aspectos. No decorrer da aula, observamos como se deve montar
uma instalação e as principais espécies cultivadas no Brasil, destacando-se a
Rana catesbiana com a criação intensiva. Vimos também os sistemas de criação
e quais subprodutos são industrializados com a rã. Espero que você tenha
gostado e possa apreciar a deliciosa carne de rã!

Atividades de aprendizagem

1. Como se iniciou a criação de rã e qual a espécie que melhor se adaptou


a criação em cativeiro? Marque a opção correta.

a) Teve início na Alemanha e a espécie que melhor adaptou-se foi a paulistinha.

b) Na Itália com a criação extensiva e a espécie que melhor adaptou-se foi


a paulistinha.

c) No Japão com a criação intensiva e a espécie que melhor adaptou-se foi


a rã-touro.

Aula 6 – Ranicultura 101 e-Tec Brasil


d) Em Cuba com a criação extensiva e a espécie que melhor adaptou-se foi
a rã-touro.

e) No Brasil com a criação semi-intensiva e a espécie que melhor adaptou-se


foi a rã-touro.

2. Em relação aos processos de produção, analise cada alternativa e indique


em que processo cada uma se adapta.

a) Criação que alia lucros com equilíbrio ecológico.

b) Este tipo de criação utiliza o ambiente natural

c) Neste sistema se utiliza rigoroso controle da qualidade da água, tempe-


ratura, quantidade de alimento, etc.

3. Se você implantasse um ranário em sua região, o que você precisaria para ter
uma estrutura mínima? Cite os itens ambientais e a estrutura de instalação.

4. Qual o sistema de criação que confina maior número de rãs e como é ele
constituído?

5. Marque V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) A fêmea possui calo nas patas, já o macho apresenta cor amarelada.

( ) A região gular da fêmea a pele é lisa e branca e, no macho a pele é


enrugada e de escura.

( ) O macho apresenta o tímpano maior que o olho, enquanto o da fêmea é


do mesmo tamanho.

( ) Para fazer o abraço nupcial o macho fica preso ao corpo da fêmea devido
à ajuda de um calo presente na pata e só solta quando lança o esperma-
tozoide na água.

( ) O sistema ranabox suporta de 600 a 1200 rãs/m2. E o tanque-ilha pode


conter de 30 a 50 animais/m2.

e-Tec Brasil 102 Novas Oportunidades na Aquicultura


Aula 7 – Utlização de probióticos
na Aquicultura

Objetivos

Saber o que são os probióticos.

Reconhecer como eles atuam.

Aprender como se desenvolve um probiótico.

7.1 Conhecendo os probióticos


Nesta aula, iremos falar sobre alguns microrganismos de grande importância
ao bom desenvolvimento da aquicultura, os probióticos. Conheceremos os
probióticos, assim como seus principais benenefícios aos organismos aquáticos.

A aquicultura tem se destacado como um ramo do agronegócio que mais


cresce no mundo, ocorrendo uma grande intensificação e expansão das áre-
as cultivadas. Como consequência dessa intensificação, há o surgimento de
diversas enfermidades, maior poluição ambiental e consequente impacto no
cultivo. No Brasil, por exemplo, as bactérias do gênero Aeromonas são um dos
principais causadores de consideráveis perdas na piscicultura (COSTA, 2003).
Com isso, se faz necessário o desenvolvimento de estratégias para prevenção
desses organismos. Como consequência, houve um incremento na utilização de
antibióticos, porém, o seu uso constante pode provocar uma maior resistência
desses patógenos e uma posterior transferência de genes de resistência. Nesse
contexto, uma das alternativas de controle microbiano para enfermidades é o
uso de bactérias consideradas probióticas como agentes de controle.

Além disso, a proibição de alguns antibióticos, bem como outras substân-


cias promotoras de crescimento utilizadas largamente na produção animal,
transformou-se em um grande desafio para os produtores. O mercado consu-
midor está cada vez mais exigente, o que contribui para a busca de medidas
alternativas aos antibióticos, sendo os probióticos uma alternativa viável.

Aula 1 – Nome da aula 103 e-Tec Brasil


7.2 Definição de probióticos
O termo probiótico foi definido pela primeira vez em 1965 como suplementos
microbianos vivos. Calma! Irei explicar: esses suplementos são formados por
bactérias ou fungos específicos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano
intestinal, reduzindo os agentes patogênicos e estimulando o sistema imune do
hospedeiro (WALKER; DUFFY, 1998). Outra definição publicada por Verschure
et al (2000) é que probióticos são microrganismos, que quando adicionados
aos tanques de cultivo, beneficiam o organismo aquático de interesse.

Vocês podem estar se


perguntando: Que benefício
é esse? Ora, os probióticos
melhoram o consumo da ração,
fortalecem o nosso sistema
imunológico, fazem o balanço
de bactérias no trato intestinal,
ou no ambiente de cultivo.

Figura 7.1: Pirarucu (Arapaima gigas)


Fonte: Tiago TH. Disponível em: <http://www.colombia.travel/po/turista-internacional/colombia/noticias/691-festival-
pirarucu-de-ouro-letra-e-musica-em-honra-do-amazonas>. Acesso em: 25 maio 2011.

Explique como os probióticos auxiliam na prevenção de doenças?

7.2.1 Microrganismos biorremediadores e


biocontroladores
Algumas vezes há certa confusão na definição de microrganismos biorreme-
diadores, microrganismos biocontroladores e microorganismos probióticos
propriamente ditos.

Os biorremediadores são aqueles capazes de melhorar os parâmetros de


qualidade da água e do solo, sendo adicionados diretamente na água ou
na ração, atuando na redução da matéria orgânica, metabólitos tóxicos e
diversos resíduos produzidos durante o cultivo. Os biocontroladores atuam
na redução dos agentes patogênicos presentes no ambiente de cultivo e os
probióticos atuam diretamente no hospedeiro. Vocês entenderam?

e-Tec Brasil 104 Nome da discilpina


Dessa forma, os microrganismos biorremediadores e biocontroladores atuam
diretamente no ambiente de cultivo, sendo que a melhora nos animais de
cultivo ocorre de forma indireta, ou seja, devido à melhor qualidade do am-
biente os animais irão obter um melhor desempenho e desenvolvimento. Já os
probióticos, que geralmente são adicionados na dieta, atuam diretamente nos
animais cultivados, estando presentes no trato intestinal dos peixes, auxiliam
na digestão dos alimentos, melhorando a absorção alimentar, crescimento,
sistema imunológico etc. Que coisa maravilhosa!

Resíduos

Biorremediadores

Matéria Metabólitos
orgânica sólidos

Figura 7.2: Digrama mostrando a ação dos biorremediadores no ambiente


Fonte: Jacqueline Abrunhosa

Qual a diferença entre microrganismos biorremediadores, biocontroladores e


probióticos?

Aula 1 – Nome da aula 105 e-Tec Brasil


7.3. Características gerais dos
microrganismos probióticos
Os probióticos podem conter microrganismos totalmente conhecidos e quan-
tificados ou culturas não definidas, sendo utilizados de forma individual ou
combinados com outros microrganismos. Dessa forma, diversos organismos
são utilizados como probióticos, dentre os principais podemos destacar as
bactérias Gram positivas e Gram negativas.

Quadro 7.1: Exemplo das principais bactérias Gram positivas e


Gram negativas que são utilizadas como probióticos
Bactérias Gram positivas Bactérias Gram negativas

Bacillus Pseudomonas sp

Carnobacterium Aeromonas sp

Enterococus Vibrio fluvialis

Lactobacillus

Fonte: Adaptado de Balcazar et al (2006).

Além de algumas leveduras, como Saccharomyces cerevisiae e Debaryomyces


hansenii.

• Bactérias Gram positivas: São as mais utilizadas como probióticos,


pois apresentam características bastante favoráveis, como por exemplo,
alta capacidade de redução dos patógenos presentes na água de cultivo.
Conseguem se fixar no intestino do hospedeiro, produzem compostos
antibacterianos, além da capacidade de esporulação, merecendo desta-
que as bactérias ácido-lácticas (Figura 7.3).

• Bactérias Gram negativas: Essas bactérias são muito utilizadas como


probióticos, principalmente no cultivo do camarão. Apresentam também
as características de organismos probióticos, porém alguns gêneros como
o Vibrio são patógenos oportunistas que causam danos ao hospedeiro
em situações de estresse.

• Leveduras: As leveduras são microrganismos que agem mais especifica-


mente na imunoestimulação do hospedeiro.

e-Tec Brasil 106 Nome da discilpina


Bactérias ácido-láticas dos gêneros
Outras bactérias
ácido-láticas Outros microoorganismos
Lactobacillus Bifidobacterium

L. acidophilus B. adolescentis Enterococcus faecalis Bacillus cereus (var. toyoi)

L. amylovorus B. animalis Enterococcus faecium Echerichia coli (cepa nissle)

L. casei B. bifidum Lactococcus lactis Propionibacterium freudenreichii

L. crispatus B. breve Leuconstoc mesenteroides Saccharomyces cerevesiae

L. delbrueckii B. infantis Pediococcus acidilactici Saccharomyces boulardii


subsp. bulgaricus

L. gallinarum
B. lactis Sporolactobacillus inulinus
L. gasseri
B. longum Streptococcus thermophilus
L. johnssonii

L. paracasei

L. plantarum

L. reuteri

L. rhamnosus

Figura 7.3: Alguns microrganismos com propriedades probióticas. Adaptado de Bal-


cazar et al. (2006)
Fonte: Cornélio (2009).

7.4 A ação dos probióticos


O mecanismo de ação dos probióticos ainda não está totalmente descrito.
Dentre os principais, podemos destacar a competição por sítios de ligação ou
“Exclusão Competitiva”. Os microrganismos probióticos se instalam nos sítios
de ligação na mucosa intestinal, formando uma barreira física às bactérias
patogênicas, que seriam excluídas pela competição. Posteriormente, esses
probióticos se estabelecem sobre os demais microrganismos, possibilitando
um equilíbrio microbiano em favor da microflora benéfica. Além disso, eles
estimulam o sistema de defesa do hospedeiro. Em resumo, temos:

• A “Exclusão Competitiva”.

• Produção de substâncias antibacterianas (antibióticos naturais), na qual


os probióticos produzem compostos como bacteriocinas, ácidos orgâni-
cos, peróxidos de hidrogênio etc..

• Produção de lactato e acetato que reduzem o pH do meio.

Aula 1 – Nome da aula 107 e-Tec Brasil


• Competição por nutrientes, ou seja, a escassez de nutrientes que pode-
riam ser utilizados (metabolizados) na alimentação dos patógenos.

• Estímulo do sistema imunológico do hospedeiro, pois essas bactérias


podem auxiliar a microbiota intestinal, a principal porta de entrada dos
patógenos.

• Maior produção de enzimas digestivas no hospedeiro.

Como se dá o mecanismo de ação dos probióticos no trato intestinal do


hospedeiro?

Resumo

Nesta aula, aprendemos o que é um probiótico e, vimos em que contexto ocor-


reu o seu desenvolvimento. Conhecemos também suas principais características
e representantes. Aprendemos os mecanismos de ação desses microrganismos.
E por fim, reconhecemos o protocolo para escolha e desenvolvimento de um
probiótico.

Leituras complementares
PEDREIRA MOURIÑO, José Luiz et al. Utilização de probíóticos na aquicultura. Revista
Panorama da Aquicultura, Ed. 117, 2010. Disponível em: <http://www.
panoramadaaquicultura.com.br/paginas/revistas/117/Probioticos117.asp>. Acesso em:
25 maio 2011.

______. Utilização de probíóticos na aqüicultura: desenvolvimento dos probióticos e


seus modos de ação. Revista Panorama da Aquicultura, Ed. 118, 2010.
Disponível em: <http://www.panoramadaaquicultura.com.br/paginas/Revistas/118/
Probioticos118.asp>. Acesso em: 25 maio 2011.

______. Utilização de probíóticos na aqüicultura: como avaliar seu uso. Revista


Panorama da Aquicultura, Ed. 119, 2010. Disponível em: <http://www.
panoramadaaquicultura.com.br/paginas/Revistas/118/Probioticos118.asp>. Acesso em:
25 maio 2011.

e-Tec Brasil 108 Nome da discilpina


Os textos sugeridos explicam bem a função dos probióticos na aquicultura
e mostram resultados de pesquisas que estão sendo realizadas por
pesquisadores do Laboratório de Camarões marinhos na UFSC.

Atividade de aprendizagem

Pesquise em livros, artigos na internet ou biblioteca sobre os trabalhos que


estão sendo realizados atualmente sobre a utilização dos probióticos na pisci-
cultura e, em seguida, comente sobre cada um deles.

Aula 1 – Nome da aula 109 e-Tec Brasil


Referências

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e-Tec Brasil 114


Currículo da professora-autora

Graduada em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (2001)


e mestre em Biologia Ambiental pela Universidade Federal do Pará (2007). Foi
professora substituta do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Pará em
2009-2010, ministrando as disciplinas de Beneficiamento do Pescado, Pisci-
cultura e Carcinicultura. Atualmente, é professora assistente da Universidade
Federal Rural da Amazônia (UFRA) ministrando as disciplinas de aquicultura,
piscicultura e ranicultura. Tem experiência em aquicultura, tecnologia do pes-
cado com ênfase em embutidos e aproveitamento de resíduos.

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Técnico em Aquicultura
Jacqueline Pompeu Abrunhosa

Novas Oportunidades na Aquicultura

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARÁ

Nov_Oport_Aquic_Capa_R 1 27/12/11 14:35

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