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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
ÍNDICE
Lei 4898/65 - Abuso de Autoridade ...................................................................................................................2
Introdução ..........................................................................................................................................................................2

Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com
fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na Internet, sem autorização do AlfaCon Concursos Públicos.
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Lei 4898/65 - Abuso de Autoridade


Introdução
O abuso de autoridade determina responsabilização tripla do agente que comete o ilícito, a qual
consiste em: responsabilização administrativa, civil e criminal, sendo esta última o chamado crime
de abuso de autoridade.
Elas são autônomas e uma não depende da outra para o seu julgamento. Não há previsão de
suspensão de um processo numa determinada esfera para que haja continuidade em outra.
Contudo, caso o agente seja absolvido na esfera penal, por inexistência do fato ou negativa de
autoria, esses motivos têm força de retirar a responsabilização nas outras esferas. Cabe lembrar que a
inexistência de provas absolve apenas a esfera penal.
No entanto, a Lei nº 4.898/65 não é exclusivamente criminal. Assim, vejamos: 
“Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as
autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei”.
Vamos tratar, neste estudo, dos aspectos criminais da referida lei, de sua interpretação e extensão,
de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal,
sempre de forma objetiva e com o fim de resolver as questões propostas.
Responsabilidade do servidor
A responsabilidade dos agentes públicos é regressiva e subjetiva. É regressiva, no sentido que as
pessoas jurídicas indenizam os prejuízos causados a terceiros, depois, ingressam com ação judicial
contra os agentes se estes forem ou causadores do dano. É subjetiva, no sentido de que o servidor só
indenizará prejuízos que tenha causado em caso de dolo ou de culpa.
O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular das suas atribui-
ções funcionais.
A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte
prejuízo ao erário ou a terceiros.
A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles será executada, até o limite
do valor da herança recebida.
A responsabilidade penal (criminal) abrange crimes e contravenções imputadas ao servidor,
nessa qualidade.
A responsabilidade administrativa resulta de ato comissivo ou omissivo, praticado no desempe-
nho do cargo ou função.
As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si.
Vale lembrar que a esfera penal pode vincular as demais quando ocorrer a absolvição por negativa de
autoria ou inexistência do fato, não vinculando em caso de absolvição por falta de provas.
Elementos fundamentais da lei
O sujeito ativo é a autoridade pública para fins penais. Portanto, trata-se de crime funcional,
próprio, deste modo, praticado por funcionário público que exerça cargo de autoridade. Nesses
termos, é o disposto no art. 5º da lei. Assim: 
“Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de
natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração”.
Esse conceito de autoridade pública é o mesmo conceito de funcionário público para fins penais
do art. 327, caput, do Código Penal.

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Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de ativi-
dade típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
Os abusos podem se dar por ação ou por omissão das autoridades.
O particular pode responder por abuso de autoridade desde que cometa o crime juntamente com
uma autoridade e, desde que, saiba da qualidade de autoridade do agente que comete o crime.
Quanto ao sujeito passivo, temos duas pessoas afetadas, uma física outra jurídica. A pessoa física
é a que sofre o abuso de forma direta e o Estado sempre será o sujeito passivo secundário, pois estará
sendo afetado, visto que o agente está em imputação à pessoa jurídica a que está ligado. O crime é
de dupla objetividade jurídica, pois estarão sendo afetados tanto os direitos individuais como os
direitos coletivos.
Incapazes e estrangeiros também podem ser vítimas de abuso de autoridade. Enfim, qualquer
pessoa física, nacional ou estrangeira, capaz ou incapaz. A própria autoridade pública, inclusive,
pode ser vítima de abuso de autoridade.
Pessoas jurídicas de direito público ou privado também podem ser vítimas de abuso de autorida-
de. Em resumo, o crime de abuso de autoridade é crime de dupla subjetividade passiva.
Os crimes só são punidos na forma dolosa. Não existe abuso de autoridade culposo. O dolo tem que
abranger também a consciência por parte da autoridade de que está cometendo o abuso. Assim, além
do dolo é exigida a finalidade específica de abusar, de agir com arbitrariedade. Desse modo, se a auto-
ridade, na justa intenção de cumprir seu dever e proteger o interesse público, acaba cometendo algum
excesso (que seria um excesso culposo), o ato é ilegal, mas não há crime de abuso de autoridade.
Os crimes de abuso de autoridade estão previstos no art. 3º e no art. 4º da Lei nº 4.898/65. Os
crimes do art. 3º não admitem a tentativa porque a lei já pune o simples atentado como crime consu-
mado, os quais podem ser chamados de crimes de atentado.
→ “Art. 3 º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”
O simples atentado já configura crime consumado. Assim, São chamados de crimes formais ou
de efeitos cortados. Na prática, esses crimes do art. 3º da Lei de Abuso de Autoridade não admitem
tentativa.
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O  art. 4º, alíneas “c”, “d”, “g” e “i” também não admitem a tentativa, porque esses são crimes
omissivos puros ou próprios, e crimes dessa natureza não admitem tentativa. As demais formas do
art. 4º admitem tentativa.
→ “Art. 4 º Constitui também abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou
com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em
lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao Juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer
outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao
seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de
carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com
abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i)  prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de
expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade”.
A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas previstas nos tipos penais mencio-
nados.
→ Os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública incondicionada. A representação
mencionada no art. 12 não é aquela condição de procedibilidade do Código de Processo Penal, e
sim apenas o direito de petição contra o abuso de poder, previsto no art. 5º, XXXIV, “a”, da Cons-
tituição. Por esse motivo, é importante cuidar da leitura dos artigos, pois dão a entender que se
trata de crime de ação pública, condicionada à representação:
“Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as
autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou
militar culpada, a respectiva sanção;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra
a autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do
abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas,
no máximo de três, se as houver.[...]
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia
do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso.”
A pena máxima prevista para esses crimes é de 6 meses. Então, a competência é dos Juizados
Especiais Criminais, estaduais ou federais, dependendo do caso. Via de regra, é da Justiça Estadual;
será, no entanto, do Juizado Especial Federal, se atingir bens, interesses ou serviços da União.
O crime de abuso de autoridade não é crime militar, pois não está previsto no Código Penal
Militar. Entretanto, havendo concurso de crimes entre crime militar e crime de abuso de autoridade,
haverá separação de processos (art. 79, I, CP):
“Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
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I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;”

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


Dividiremos a análise em duas partes: uma para os crimes de que trata do art. 3º da lei em tela, e
outra para os crimes previstos no art.4º da referida lei, sempre relacionando-os com a jurisprudência
atual dos Tribunais Superiores. Vejamos:
DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 3º DA LEI Nº 4.898/65
“Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e g arantias legais assegurados ao exercício profissional.”
O tipo penal, aqui, é aberto, pois é impossível ao legislador prever todas as formas possíveis de
abuso. Assim como no crime culposo, é impossível ao legislador prever todas as formas de culpa.
Do Atentado à liberdade de locomoção
A liberdade de locomoção está tutelada no art. 5º, XV, CF/88. Esse direito à liberdade de locomo-
ção inclui o direito de ir, vir e permanecer em locais públicos.
Do Atentado à inviolabilidade do domicílio
Domicílio é qualquer local não aberto ao público onde a pessoa trabalhe ou ocupe como moradia
permanente ou provisória.
Do Atentado ao sigilo da correspondência
Fundamento constitucional: art. 5º, XII, CF. Não se trata de um direito absoluto. Só estão prote-
gidas pelo sigilo as correspondências fechadas. As abertas perdem o caráter sigiloso. Se um policial
consultar uma correspondência aberta, ela entra no sistema como prova documental, como qualquer
outra e não é abuso de autoridade.
Do Atentado à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício do
culto religioso
Os excessos e abusos cometidos, na manifestação do pensamento religioso, podem e devem ser
coibidos pelas autoridades, inclusive com providencias criminais cabíveis. Não podem ser coibidas
manifestações pacíficas de pensamento religioso.
Do Atentado à liberdade de associação
Fundamento constitucional: art. 5º, XVII a XX, CF. A Constituição diz que é plena a liberdade de
associação e só proíbe dois tipos de associações: associações para fins ilícitos e associações parami-
litares.
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Do Atentado ao direito do voto e ao direito de reunião


É um crime subsidiário. Se a conduta não configurar nenhum crime eleitoral, configurará abuso
de autoridade.
No art. 5º, XVI, CF, a Constituição garante o direito de reunião. Porém, a própria Constituição
delimita a conduta. Logo, os excessos cometidos no direito de reunião podem e devem ser coibidos
pelas autoridades. Exemplo: passeata violenta. As autoridades podem não só dissolver a passeata,
como também prender os infratores.
Do Atentado à incolumidade física
Atentado à incolumidade física não exige lesão física na vítima porque o simples atentado já
constitui abuso de autoridade. 
Atentado ao exercício profissional
Fundamento constitucional: art. 5º, XIII, CF. Este dispositivo é uma norma penal em branco,
pois deve ser complementada por outra norma que prevê os direitos e garantias no exercício profis-
sional.
DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 4º DA LEI Nº 4.898/65
“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
a)  ordenar  ou  executar  medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou
com abuso de poder;”
Nesse caso, há duas hipóteses: a) o infrator executa uma medida privativa de liberdade sem as
formalidades legais; ou b) quando a prisão é executada com abuso de poder. Exemplo: uso de algemas
desnecessário.
“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: [...]
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em
lei;”
Nesse caso, só há o crime se o constrangimento for ilegal. Essa modalidade de abuso de autorida-
de não é necessariamente praticada por funcionários dos presídios. Pode ser, por exemplo, praticada
por funcionários de manicômios judiciários. Se essa conduta for praticada contra criança ou adoles-
cente, o crime será o do art. 232, do ECA.
“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: [...]
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao Juiz competente a prisão ou detenção de qualquer
pessoa;”
O art. 5º, LXII, CF, impõe um duplo dever de comunicação: a prisão deve ser comunicada ao Juiz
competente e à família ou pessoa por ele indicada. Deixar de comunicar imediatamente a prisão
do preso ao Juiz é abuso de autoridade. A demora injustificada na comunicação configura crime.
Deixar de comunicar a prisão à família do preso não é abuso de autoridade.
“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: [...]
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;”
O crime é próprio só pode ser praticado por Juiz. Porém, este dispositivo deve ser lido como
“qualquer autoridade judicial”. Consuma-se com a simples omissão. A tentativa não é possível. Se for
criança ou adolescente, o crime será o do art. 234, do ECA.
“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: [...]
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;”
Este crime existe quando a pessoa é recolhida na prisão ou mantida na prisão quando a pessoa
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tem o direito de prestar a fiança e quer prestá-la.


“ f)  cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou
qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie, quer
quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de
carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;”
No Brasil, não há nenhuma lei que cobre despesas de pessoas presas. Ou seja, a cobrança será
sempre sem apoio em lei, logo, a cobrança configurará sempre abuso de autoridade.
“h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com
abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;”
Só há crime se o ato lesivo da honra/patrimônio for ilegal. Se o ato for legal, não há crime, apesar
de gerar prejuízo.
“i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de
expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade”.
Trata-se de um crime de conduta mista (composto por uma ação e por uma omissão). Há o crime
quando ocorre a prolongação irregular de prisão temporária, pena ou medida de segurança. A alínea
“i” não faz menção à prisão preventiva. Logo, essa prolongação configura o crime do art. 4º, “b”,
constrangimento ilegal ao preso.
“Art. 6º [..]
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá
em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até
três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.”
→ Quando o agente for um policial, a lei ainda prevê mais uma pena:
“Art. 6º [...]
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer cate-
goria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de
natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.”
Porém, a reforma da parte geral do CP extinguiu as penas acessórias. Logo, não é possível a apli-
cação acessória desta sanção.
Sanções administrativas
“Art. 6º [...]
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de venci-
mentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.
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§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indeni-
zação de quinhentos a dez mil cruzeiros.

Normas processuais
art. 7º recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção administrativa, a autoridade
civil ou militar competente determinará a instauração de inquérito para apurar o fato.
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou
federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.
§ 2º não existindo no município no Estado ou na legislação militar normas reguladoras do inquérito
administrativo serão aplicadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de
outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União).
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação penal
ou civil.
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou militar.
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à autoridade administrativa ou independente-
mente dela, poderá ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou ambas, da
autoridade culpada.
Art. 10. Vetado
Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Código de Processo Civil.
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia
do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso.
Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a representação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e
oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz
a sua citação, e, bem assim, a designação de audiência de instrução e julgamento.
§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada em duas vias.
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade houver deixado vestígios o ofendido ou o
acusado poderá:
a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência de instrução e julgamento, a designação
de um perito para fazer as verificações necessárias.
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o
apresentarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e julgamento.
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a representação poderá conter a indicação de mais duas tes-
temunhas.
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia requerer o arquivamento da
representação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa da represen-
tação ao Procurador-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério Público
para oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual só então deverá o Juiz atender.
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida
ação privada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a queixa, repudiá-la e oferecer
denúncia substitutiva e intervir em todos os termos do processo, interpor recursos e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de quarenta e oito horas, proferirá despacho, receben-
do ou rejeitando a denúncia.
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz designará, desde logo, dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente. dentro de cinco dias.
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julgamento final e para comparecer à audiência de instru-
ção e julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acompanhado da segunda via da representa-
ção e da denúncia.
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Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão ser apresentada em juízo, independentemente de
intimação.
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de precatória para a audiência ou a intimação de teste-
munhas ou, salvo o caso previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos para a realização de diligências,
perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em despacho motivado, considere indispensáveis tais providên-
cias.
Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro dos auditórios ou o oficial de justiça declare
aberta a audiência, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito, o representante do Ministério
Público ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu.
Parágrafo único. A audiência somente deixará de realizar-se se ausente o Juiz.
Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o Juiz não houver comparecido, os presentes poderão
retirar-se, devendo o ocorrido constar do livro de termos de audiência.
Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pública, se contrariamente não dispuser o Juiz, e rea-
lizar-se-á em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juízo ou, excepcionalmente, no local
que o Juiz designar.
Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o interrogatório do réu, se estiver presente.
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor
para funcionar na audiência e nos ulteriores termos do processo.
Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério
Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de
quinze minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz.
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente a sentença.
Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá,
em resumo, os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa, os requerimentos e, por extenso, os
despachos e a sentença.
Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante do Ministério Público ou o advogado que houver
subscrito a queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão.
Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem difíceis e não permitirem a observância dos
prazos fixados nesta lei, o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, até o dobro.
Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas do Código de Processo Penal, sempre que compatí-
veis com o sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei.
Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, caberão os recursos e apelações previstas no Código
de Processo Penal.
EXERCÍCIOS
01. A Lei n° 4.898/65, que prevê os crimes de abuso de autoridade, é aplicável, inclusive, aos que
exercem cargo, emprego ou função pública de natureza civil, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.
Certo ( ) Errado ( )
02. No que se refere ao crime de abuso de autoridade, admitem-se as modalidades dolosa e culposa.
Certo ( ) Errado ( )
03. O agente que retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício para satisfazer a inte-
resse ou sentimento pessoal cometerá o crime de abuso de autoridade.
Certo ( ) Errado ( )
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04. Se, por ter cerceado ilegalmente a liberdade de locomoção de um cidadão, um policial
civil estiver respondendo por abuso de autoridade nas esferas administrativa, civil e penal,
o processo administrativo deverá ser suspenso pelo prazo máximo de um ano, para que se
aguarde a decisão penal sobre o caso.
Certo ( ) Errado ( )
05. Marcelo, agente penitenciário federal, não ordenou o relaxamento da prisão de Bernardo, o
qual se encontra preso sob sua custódia. Bernardo foi preso ilegalmente, fato esse que é de
conhecimento de Marcelo. Nessa situação, é correto afirmar que Marcelo cometeu crime de
abuso de autoridade.
Certo ( ) Errado ( )
06. A punição à prática do crime de abuso de autoridade condiciona-se à presença do elemento
subjetivo do injusto, consistente na vontade consciente do agente de praticar as condutas,
mediante o exercício exorbitante do seu poder na defesa social.
Certo ( ) Errado ( )
07. Há concurso de crimes de abuso de autoridade e de tortura se, em um mesmo contexto, mas
com desígnios autônomos, dois agentes torturam preso para que ele confesse a autoria de
delito e, em seguida, exibem-no, sem autorização, para as redes de televisão como suposto
autor confesso do crime.
Certo ( ) Errado ( )
GABARITO
01 – CERTO
02 - ERRADO
03 – ERRADO
04 – ERRADO
05 – ERRADO
06 – CERTO
07 - CERTO

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Lei 9.455/97 – Tortura .........................................................................................................................................2
Introdução ..........................................................................................................................................................................2

Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com
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Lei 9.455/97 – Tortura


Introdução
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seu art. 5º, III, que “ninguém será submetido a
tortura nem a tratamento desumano e degradante”.
O texto constitucional é cópia do que foi determinado na Declaração dos Direitos Humanos, de
10 dezembro de 1948, conhecido como pacto de São José da Costa Rica.
A Constituição também determinou, em seu art. 5º, XLIII, que a Lei considerará crimes inafian-
çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandan-
tes, os executores e os que, podendo evitá-los, omitirem-se;
Esse instituto constitucional primeiramente foi regulado pela Lei dos Crimes Hediondos – Lei
8.072/90, que equiparou a tortura a crimes hediondos, tratando-a com cunho processual penal mais
grave.
A lacuna legal inicialmente foi suprimida pelo art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente –
que previa a tortura a adolescentes, mas que hoje se encontra revogado.
Para sanar a falha, foi aprovada e promulgada a Lei 9.455/97, que regulamentou o crime de tortura
e deu outras providências.
Dos crimes em espécies
A Lei dos Crimes Hediondos, em seu bojo, traz insculpidos vários delitos penais ligados à prática
de tortura, sendo que cada crime tem as próprias características.
Tortura-prova, tortura para prática de crimes e tortura discriminatória
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Temos, no inciso I, do art. 1º, três figuras típicas com o mesmo nome jurídico. Para fazer a dife-
renciação, basta uma leitura do próprio texto de lei. Temos como ponto inicial a objetividade jurídica
que é a incolumidade física e mental dos cidadãos.
Como meio de execução, temos a violência e a grave ameaça a pessoa. O ponto interessante é que
a tortura não é crime próprio, pode ser cometido por qualquer pessoa e não apenas pela autoridade e
seus agentes.
A consumação do crime se dá no momento do emprego da provação do sofrimento físico ou
mental. A tentativa é possível, por exemplo, quando o agente emprega violência, mas essa não atinge
a vítima, mas se prova a intensão do agente.
O elemento subjetivo depende do próprio ilícito que o agente quer cometer.
Na alínea “a”, o agente torturador quer obter informação, declaração ou confissão, como por
exemplo, empregar violência contra um pai para obter informações do filho. Um ponto importante
é acerca do conflito aparente de normas penais. No caso de crimes mais graves, como no caso da
extorsão, teremos o princípio da consunção, ou seja, se o agente quiser cometer o crime de extorsão e,
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para isso, emprega violência com sofrimento físico ou mental para obter senha do banco e, posterior-
mente, sacar dinheiro, teremos apenas o crime de extorsão e não o crime de tortura.
Na alínea “b”, temos a tortura para a prática de crimes. Nesse caso, não haverá conflito aparente
de normas penais e o agente responderá em concurso material (soma-se as penas) pelos delitos per-
petrados. Assim, caso o torturador empregue violência ou grave ameaça na vítima, para que ela
cometa um crime de furto, teremos a chamada autoria mediata, em que o agente criminoso respon-
derá como autor dos crimes de tortura e furto. A vítima ficará isenta de pena, pois estava em uma
coação moral irresistível.
Uma coisa importante é que se o agente emprega violência ou grave ameaça com sofrimento
físico e mental para a prática de contravenção penal, não teremos o crime de tortura e sim de cons-
trangimento ilegal (art. 146 do CP), em concurso material com a contravenção penal perpetrada.
Por fim, no caso da alínea “a” e “b”, o agente responde mesmo se o resultado intentado não
ocorrer, visto serem espécies de crimes formais.
Na alínea “c”, o agente responde pela tortura se tiver como meio motivacional a discriminação.
Lembrando que, dependendo do caso concreto, poderá o agente responder pelo crime de racismo,
art. 20 da Lei 7.716/89.
Tortura Castigo
Art. 1º, caput, II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Tratamos, aqui, de crime próprio, pois só pode ser cometido por quem possui autoridade, guarda
ou vigilância sobre a vítima. Temos como sujeito ativo tanto o agente público quanto o privado. O
importante é ter a custodia, guarda ou estar sob o poder ou autoridade, por isso pode ser praticado
contra filho, pai, preso, tutelado, sempre que ocorrer violência ou grave ameaça com fim de causar
sofrimento físico ou mental. As mulheres não entram nessa figura típica, pois não estão sob a guarda
dos maridos. Assim, quando se trata de violência contra elas, estaremos diante do art. 129 § 9° (lesão
corporal).
O elemento subjetivo, aqui, exige o chamado animus corrigendi, que compreende a intenção de
expor a vítima a grave sofrimento como forma de aplicação de castigo ou medida de caráter preven-
tivo.
Por fim, os tipos penais descritos são normalmente crimes comissivos, mas podem ser omis-
sivos impróprios (comissivo por omissão) também. Comissivo nos exemplos mais comuns, como
socos, pontapés e choques elétricos. Comissivo por omissão, quando o sujeito ativo tem o dever de
“garante” (art. 13, parágrafo 2º, CP), como no caso do policial que tem a vítima sob custódia, que
sabe ser portadora de determinada moléstia, e que precisa fazer uso de determinado medicamento, e
deixa de fornecer a medicação, provocando-lhe sofrimento, com o fim de obter confissão, informa-
ção ou declaração.
Vale lembrar que a tortura castigo se diferencia das torturas do inciso I por necessitar do
“intenso” sofrimento físico ou mental, o que não ocorre no inciso I que pede apenas sofrimento físico
ou mental, ou seja, não prevê o “intenso”.
Tortura do preso ou de pessoa sujeita a medida de segurança
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento
físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
Temos, aqui, a proteção do art. 5º, inciso XLIX, da CF/88 que garante aos presos a integridade
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física e corporal. Por esse motivo, estão proibidos os castigos físicos, celas escuras e solitárias.
Só temos que nos atentar ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Nesse caso, temos uma
espécie de solitária, mas regulada pela lei. Assim, quem o faz está amparado por uma excludente de
ilicitude de exercício regular de um direito e quem faz sem as disposições legais comete o crime de
tortura.
Omissão perante a tortura
Art. 1º, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las,
incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
Temos, aqui, a chamada tortura imprópria, ou seja, o agente garantidor que se omite em face à
tortura deverá responder por esse dispositivo legal. Nesse caso, o agente tinha o dever de evitar ou
apurar a ocorrência. Podemos notar que o agente que incorrer em tal fato típico não pratica efetiva-
mente a tortura, mas de forma omissiva, permite que outro a realize.
A tortura imprópria é crime próprio, pois só poderá ser praticada por aquele que estiver na
posição de garante, o que tinha o dever de evitar o crime, grande parte das vezes será um funcionário
público. Vale lembrar que de maneira diversa o crime de tortura é crime comum, ou seja, pode ser
praticado por qualquer pessoa. A tortura imprópria admite a prática apenas na modalidade dolosa,
não sendo possível tortura imprópria culposa.
A pena prevista é de detenção, ao contrário das demais formas de tortura que preveem a possi-
bilidade de cumprimento da pena em regime fechado. Cabe salientar que a tortura imprópria não é
equiparada ao crime hediondo, o que caracteriza exceção às demais espécies de tortura.
Temos, como exemplo, o delegado de polícia que sabe da existência da tortura e nada faz para
apurá-la.
Formas qualificadas
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos;
se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
→ As lesões graves e gravíssimas estão assim previstas no art. 129 do CP:
→ – Lesão corporal de natureza grave:
§ 1º Se resulta:
I – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II – perigo de vida;
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV – aceleração de parto.
Pena – reclusão, de um a cinco anos.
→ – Lesão corporal de natureza gravíssima:
§ 2° Se resulta:
I – Incapacidade permanente para o trabalho;
II – enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV – deformidade permanente;
V – aborto.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
No caso da qualificadora por morte, temos a diferenciação entre a tortura qualificada e o
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homicídio qualificado pela tortura. Aqui, o que vai diferenciar é a intenção do agente.
Se o agente tortura e causa a morte por culpa, teremos a tortura qualificada
Se a tortura é utilizada como meio para o homicídio, teremos o homicídio qualificado pela
tortura.
Causa de aumento de pena
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I – se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos;
III – se o crime é cometido mediante sequestro.
O inciso I traz como causa de aumento de pena a qualidade de funcionário público. Porém, temos
que nos atentar para o no bis in idem, ou seja, não podemos aplicar esse aumento de pena quando a
própria elementar do crime necessite dela. Isso vale para o caso da tortura do § 2º”omissão em face
da tortura”, já que, para se omitir, tem que ter o dever de apurar, e quem tem o dever de apurar é fun-
cionário público.
Os incisos II e III trazem, em seu bojo, aplicações objetivas no caso da tortura.
Efeitos da condenação
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercí-
cio pelo dobro do prazo da pena aplicada.
A condenação por delito, previsto na Lei de Tortura, acarreta, como efeito extrapenal automá-
tico da sentença condenatória, a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada – Precedentes do STJ e do STF. Em resumo, a perda
do cargo é automática, segundo os Tribunais.
Aspectos processuais
Art. 1º § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
Esse dispositivo legal repete o que é determinado no texto constitucional, em seu art. 5º, inciso
XLIII. O STF entende que a palavra graça é gênero que comporta a espécie indulto, assim, o indulto
também está proibido.
Do regime inicial da pena
Art. 1º § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da
pena em regime fechado.
→ A qualquer que seja a pena, mesmo que o agente seja primário, deve-se aplicar a regra do regime
inicialmente fechado. A pessoa condenada pelo crime de tortura poderá progredir de regime,
depois de cumpridos os seguintes prazos:
Primário: após cumprir dois quintos da pena.
Reincidente: Cumprido três quintos da pena.
Contudo, devemos nos atentar à figura da tortura imprópria, prevista no art. 1º § 2º da lei. Nesse
caso, é possível o início em regime aberto, bem como concessão do sursis ou a substituição da pena
pela restritiva de direito.
Da extraterritorialidade da Lei
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se, ainda, quando o crime não tenha sido cometido em território
nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

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→ Aqui, há duas condições, de modo que deve ocorrer uma das duas, para que a lei se aplique:
– Que vítima seja brasileira.
– Que o agente torturador esteja em local que a lei brasileira seja aplicável.
Da revogação do art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente
Os institutos relativos à tortura passaram a ser regulamentados pela Lei 9.455/97, revogando,
assim, expressamente o art. 233 do ECA.
EXERCÍCIOS
01. (CESPE – 2013). Se um integrante de corporação policial militar for processado penalmente
pela prática de tortura, ao submeter agente preso por sua guarnição a sofrimento físico intenso
com a intenção de obrigá-lo a delatar os comparsas, o julgamento do processo deverá ocorrer
na justiça comum, e a eventual condenação implicará, automaticamente, a perda do cargo,
função ou emprego público e a interdição para seu exercício, pelo dobro do prazo da pena
aplicada, como efeito automático da condenação, dispensando-se motivação circunstanciada.
Certo ( ) Errado ( )
02. (CESPE – 2013). O agente público que submeter pessoa presa a sofrimento físico ou mental,
ainda que por intermédio da prática de ato previsto em lei ou resultante de medida legal, prati-
cará o crime de tortura.
Certo ( ) Errado ( )
03. (CESPE – 2013). Um agente penitenciário federal determinou que José, preso sob sua custódia,
permanecesse em pé, por dez horas ininterruptas, sem que pudesse beber água ou alimentar-
se, como forma de castigo, já que José havia cometido, comprovadamente, grave falta discipli-
nar. Nessa situação, esse agente cometeu crime de tortura, ainda que não tenha utilizado de
violência ou grave ameaça contra José.
Certo ( ) Errado ( )
04. (CESPE – 2013). Para que um cidadão seja processado e julgado por crime de tortura, é pres-
cindível que esse crime deixe vestígios de ordem física.
Certo ( ) Errado ( )
05. (CESPE – 2013). Determinado policial militar efetuou a prisão em flagrante de
Luciano e o conduziu à delegacia de polícia. Lá, com o objetivo de fazer Luciano con-
fessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável por seu in-
terrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu pescoço,
asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou-o trancado na sala de in-
terrogatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro, período em
que lhe dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de polícia, ciente do que
ocorria na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em depoimento posterior, Luciano
afirmou que a conduta do policial lhe provocara intenso sofrimento físico e mental.
Considerando a situação hipotética descrita e o disposto na Lei Federal n.º 9.455/1997, julgue o
item subsequente.
O delegado não pode ser considerado coautor ou partícipe da conduta do policial, pois o crime de
tortura somente pode ser praticado de forma comissiva.
Certo ( ) Errado ( )

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06. (CESPE – 2013). O crime de tortura é considerado crime comum, uma vez que não se exige
qualidade ou condição especial do agente que o pratica, ou seja, qualquer pessoa pode ser con-
siderada sujeito ativo desse crime.
Certo ( ) Errado ( )
07. (CESPE – 2012). Há concurso de crimes de abuso de autoridade e de tortura se, em um mesmo
contexto, mas com desígnios autônomos, dois agentes torturam preso para que ele confesse a
autoria de delito e, em seguida, exibem-no, sem autorização, para as redes de televisão, como
suposto autor confesso do crime.
Certo ( ) Errado ( )
08. (CESPE – 2012). O policial condenado por induzir, por meio de tortura praticada nas depen-
dências do distrito policial, um acusado de tráfico de drogas a confessar a prática do crime,
perderá automaticamente o seu cargo, sendo desnecessário, nessa situação, que o juiz senten-
ciante motive a perda do cargo.
Certo ( ) Errado ( )
GABARITO
01 - CERTO
02 - ERRADO
03 - CERTO
04 - CERTO
05 - CERTO
06 - ERRADO
07 - CERTO
08 - CERTO

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

ÍNDICE
Lei de Lavagem de Capitais - Lei 9613/98�����������������������������������������������������������������������������������������������������2
Conceito de Lavagem de Capitais���������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Etapas da Lavagem de Capitais������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Gerações de Leis de Lavagem de Capitais���������������������������������������������������������������������������������������������������2
Bem Jurídico Tutelado�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Sujeitos do Delito de Lavagem��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Acessoriedade do Crime de Lavagem de Capitais����������������������������������������������������������������������������������������3
Reunião dos Processos�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Influência do Processo da Infração Penal Antecedente�������������������������������������������������������������������������������3
Tipos Objetivos������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Tipo Subjetivo��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
Exercícios���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4

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Lei de Lavagem de Capitais - Lei 9613/98 Etapas da Lavagem de Capitais


O crime de lavagem de capitais, mais conhecido como As etapas da lavagem de capitais são as fases pelo qual
lavagem de dinheiro, tem origem na doutrina norte americana passa o “dinheiro” para que volte ao mercado financeiro com
com a preocupação de punir a ocultação de dinheiro feita pelos forma lícita:
gangsters de Chicago quando da lei seca que se utilizavam de →→ 1° etapa: PLACEMENT (COLOCAÇÃO)
lavanderias para esconder a origem ilícita do dinheiro, por isso, Nesta etapa o dinheiro é introduzido no sistema finan-
“lavagem” de dinheiro, pois deriva do inglês “Money launde- ceiro. Existem variadas técnicas para introdução do dinheiro
ring”. Nos países europeus, ficou mais conhecida a expressão no sistema financeiro, uma delas é o chamado smurfing que
“branqueamento de capitais. consiste no fracionamento de elevadas quantias em valores
Conceito de Lavagem de Capitais pequenos para que passem despercebidos pelos órgãos de pre-
O conceito de lavagem de capitais é trazido pela própria venção à lavagem de capitais.
lei 9613/98, porém é interessante observar que esse conceito →→ 2° etapa: LAYERING (DISSIMULAÇÃO)
foi recentemente alterado pela lei 12.683/12. Por isso, torna-se Nesta etapa ocorre uma série de movimentações ou transa-
importante o estudo do conceito atualizado com as diferenças ções de modo a encobrir a origem ilícita do dinheiro.
trazidas pela atualização legislativa. →→ 3° Etapa: INTEGRATION (INTEGRAÇÃO)
Antigo art. 1° da lei 9.613/98: Nesta etapa o dinheiro já parecerá que é lícito e, dessa
Art. 1º - Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, forma, será incorporado ao sistema econômico normalmen-
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou te com investimentos no mercado mobiliário ou imobiliário
valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: (compra de imóveis, restaurantes, veículos, apartamentos).
O antigo artigo 1° conceituava como lavagem de capitais Nota: Na ação penal 470, o STF entendeu que não é ne-
como a ocultação ou dissimulação da natureza, origem, mo- cessária a comprovação das três etapas para configuração do
vimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores prove- delito, tão somente a ocultação já restaria configurado.
nientes, direta ou indiretamente, de crime e esses crimes eram
listados nos incisos seguintes ao artigo 1°, a saber: Gerações de Leis de Lavagem de Capitais
I. de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas Leis de 1ª Geração: Nessas leis, o crime de lavagem de
afins; capitais somente tinham como crime antecedente o tráfico de
II. de terrorismo; drogas.
II. de terrorismo e seu financiamento; (Redação dada pela Lei Leis de 2ª Geração: Na segunda geração, o rol de crimes
nº 10.701, de 9.7.2003) antecedente é aumentado, no entanto, ainda se encontra em um
rol taxativo previsto pela legislação pertinente ao assunto (EX.:
III. de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material
destinado à sua produção;
A lei 9.613/95 antes da alteração trazida pela lei 12.683/12)
IV. de extorsão mediante sequestro; Leis de 3ª Geração: Na terceira geração, o rol de crimes
antecedentes fica bem mais amplo de modo que não é neces-
V. contra a Administração Pública, inclusive a exigência,
sária a comprovação que os bens, direitos ou valores prove-
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer
nham de determinado delito. A lei 9.613/98, após as alterações
vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão
de atos administrativos;
trazidas pela lei 12.683/12, colocou o Brasil na 3° geração, de
forma que não é necessário um CRIME antecedente e sim que
VI. contra o sistema financeiro nacional; os bens, direitos e valores sejam o produto direto ou indireto de
VII. praticado por organização criminosa. INFRAÇÃO PENAL (seja qualquer crime ou qualquer con-
VIII. praticado por particular contra a administração pública travenção penal, desde que possa resultar em bens, direitos ou
estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei nº valores).
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal). (Inciso
incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)
Bem Jurídico Tutelado
Novo art. 1° da lei de lavagem de capitais: Prevalece na doutrina que o bem jurídico tutelado pela lei
de lavagem de capitais é a ordem econômico-financeira. Le-
Art. 1º - Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
vando-se em consideração esta boa parte da doutrina, é possível
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. inferir que cabe o princípio da insignificância nos crimes pre-
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) vistos pela lei de lavagem de capitais.
Percebe-se então que a maior diferença trazida pela nova Sujeitos do Delito de Lavagem
lei é que agora a ocultação ou dissimulação de bens, direitos ou O sujeito ativo do delito é qualquer pessoa, portanto crime
valores não necessariamente deverão ser produto de um crime comum. Vale ressaltar que se a pessoa cometeu a infração
antecedente previsto na lei e sim devem ter como precedente penal antecedente, ela poderá responder também pelo crime
qualquer infração penal (inclusive as contravenções penais, de lavagem, caso pratique uma nova conduta que configure
principalmente o jogo do bicho). Portanto, o que se precisa o crime. No entanto, o fato de autor da infração antecedente
provar num processo de lavagem de capitais hoje é tão somente apenas se encontrar com o dinheiro, por exemplo, guardada
a natureza ilícita (dinheiro sujo) dos bens, direitos ou valores, em casa ou em sua posse, não configura o delito de lavagem de
capitais.
não se necessitando a que ele proveio de determinado crime
para sua existência. Caso um terceiro participe tão somente da lavagem, ele
responderá somente pelo crime de lavagem de capitais, não

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sendo necessário que ele tenha participado da infração penal Influência do Processo da Infração Penal
antecedente.
Antecedente
Como o bem jurídico tutelado é a ordem econômico-fi-
nanceira, o sujeito passivo é o Estado. Embora os processos da infração antecedente e o processo
pelo delito de lavagem de capitais sejam autônomos e indepen-
Acessoriedade do Crime de Lavagem de dentes, vale ressaltar que a lavagem de capitais depende de uma
Capitais infração antecedente para que o crime de lavagem possa existir.
Para a configuração do crime de lavagem de capitais é ne- Uma questão bastante interessante é quando ocorrem senten-
cessário que os bens, direitos ou valores tenham origem ilícita, ças diversas nos processos independentes, ou melhor, quando o
isto é, derivem direta ou indiretamente de infração penal. agente é absolvido no processo pela infração antecedente e con-
Portanto, pode-se dizer que o crime de lavagem de capitais denado pelo crime de lavagem de capitais. Resta-nos entender
depende de uma infração penal antecedente, funcionando esta até que ponto a decisão absolutória de um processo influencia-
como elementar do crime de lavagem de dinheiro (expressão rá a na decisão do outro.
comum no vocabulário pátrio).
Os processos criminais pela infração penal antecedente e
o crime de lavagem de capitais são independentes e autônomos
de forma que poderá o agente ser punido por lavagem, mesmo
que seja desconhecido ou isento de pena o autor da infração
antecedente.
Art. 2° - O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
II. independem do processo e julgamento das infrações penais
antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao
juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão
sobre a unidade de processo e julgamento
§1º - A denúncia será instruída com indícios suficientes da exis-
tência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos
previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o
autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente.
Reunião dos Processos
Vale lembrar que reunião dos processos não é o mesmo que
conexão ou continência, sendo aquela como um efeito destas, Tipos Objetivos
sempre que possível. →→ Tipo 1:
O delito de lavagem de capitais segue essa regra, pois é Art. 1º - Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
notável que normalmente ocorra a conexão, principalmente a disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
probatória, mas nem sempre será possível a reunião dos proces- valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
sos, mesmo que seja o ideal, pois as infrações penais anteceden- (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
tes podem até ter ocorrido no exterior. O art. 1° caput traz o primeiro tipo objetivo do crime de
Anotações: lavagem de capitais consistente na ocultação e dissimulação de
bens direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente,
___________________________________________
de infração penal.
___________________________________________
___________________________________________ Como exemplo pode-se citar uma quadrilha que incorpo-
___________________________________________ ra dinheiro proveniente do jogo do bicho (agora pode ser de
___________________________________________ qualquer infração penal) em uma lavanderia de carros, pois
___________________________________________ como fica difícil comprovar a quantidade de carros que são
___________________________________________ lavados, eles aumentam exorbitantemente os lucros injetando
___________________________________________ o dinheiro do jogo do bicho na lavanderia.
___________________________________________ Importante observar que os verbos ocultar e dissimular são
___________________________________________ verbos permanentes e, por isso, uma novel legislação in pejus
___________________________________________ poderia abarcar as situações que ainda se encontrem na perma-
___________________________________________ nência.
___________________________________________ Exemplo interessante e bastante atual para melhorar a
___________________________________________ compreensão do exposto são os casos dos praticantes da con-
___________________________________________ travenção penal de jogo do bicho, pois antes da novel legisla-
___________________________________________ ção não poderiam eles responder por lavagem de capitais (a
___________________________________________ lei 9.613/98 só possuía como infrações antecedentes os crimes
___________________________________________ em um rol taxativo). No entanto, se ainda ocultem os bens,
___________________________________________ direitos ou valores provenientes da contravenção penal, mesmo
___________________________________________ que essa contravenção tenha sido praticada na vigência da lei
___________________________________________ menos gravosa, poderão eles serem enquadrados no crime de
___________________________________________ lavagem de capitais já que se trata de um crime permanente.
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Súmula 711, STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime Art. 1° §2° - Incorre, ainda, na mesma pena quem:
continuado ou permanente, se a sua vigência é anterior à cessação II. Participa de grupo, associação ou escritório tendo conheci-
da continuidade ou permanência. mento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida
→→ Tipo 2: à prática de crimes previstos nesta Lei.
§1º - Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular Exercícios
a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração
penal: Com relação às legislações pertinentes aos crimes de abuso
de autoridade, lavagem de capitais e tortura, bem como à lei
I. os converte em ativos lícitos;
que disciplina os procedimentos relativos às infrações de menor
II. os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em potencial ofensivo, julgue os itens :
garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere;
Considere a seguinte situação hipotética.
III. importa ou exporta bens com valores não correspondentes
aos verdadeiros. Lucas, penalmente responsável, comanda uma intensa
e lucrativa rede de receptação e venda de veículos roubados.
Nesses casos os verbos são diferentes e a ocultação e a dissi- Visando ocultar valores provenientes da atividade ilícita, ele
mulação passam a ser a finalidade dos delitos forjou pagamentos a um suposto prestador de serviços de ad-
→→ Tipo 3: vocacia e, após, os mesmos montantes foram simuladamente
§2º - Incorre, ainda, na mesma pena quem: emprestados a empresas de sua titularidade.
I. utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, 01. Nessa situação hipotética, Lucas responderá pelo crime
direitos ou valores provenientes de infração penal; de lavagem de dinheiro.
II. participa de grupo, associação ou escritório tendo conheci- Certo ( ) Errado ( )
mento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida Gabarito
à prática de crimes previstos nesta Lei.
01 - CERTO
O parágrafo segundo se trata diretamente daquele que não
participou da infração penal antecedente. O inciso I trata das Anotações:
hipóteses daqueles que se beneficiam do produto do ilícito e ___________________________________________
tira proveito do ganho obtido pelo criminoso, razão pela qual ___________________________________________
se torna igualmente delinquente(Guilherme de Souza Nucci ___________________________________________
em seu livro de leis penais e processuais penais comentadas. ___________________________________________
Volume 2.). ___________________________________________
___________________________________________
Tipo Subjetivo ___________________________________________
O tipo subjetivo dos delitos de lavagem de capitais é ___________________________________________
somente o dolo, pois não há previsão de forma culposa. ___________________________________________
Importante notar que ainda há uma grande discussão ___________________________________________
sobre a aceitação do dolo eventual (assume o risco do resultado) ___________________________________________
quando da prática do crime de lavagem de capitais, principal- ___________________________________________
mente quando se trata de agente que não participou do crime ___________________________________________
antecedente. ___________________________________________
Ao olharmos para os tipos objetivos do artigo primeiro e ___________________________________________
do parágrafo primeiro, não fica dúvida de que admitem o dolo ___________________________________________
direto e o dolo eventual, a questão começa a ficar mais interes- ___________________________________________
sante quando se trata do parágrafo segundo. ___________________________________________
___________________________________________
No parágrafo segundo, o inciso I somente aceita o dolo ___________________________________________
direto, pois citava que o agente deveria saber serem os valores ___________________________________________
provenientes de qualquer dos crimes antecedentes. ___________________________________________
Redação anterior: ___________________________________________
Art. 1° §2º - Incorre, ainda, na mesma pena quem: ___________________________________________
I. utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, ___________________________________________
direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer ___________________________________________
dos crimes antecedentes referidos neste artigo; ___________________________________________
No entanto, a nova redação passou a aceitar tanto o dolo ___________________________________________
direto como o dolo eventual. ___________________________________________
___________________________________________
Redação atual: ___________________________________________
Art. 1° §2º - Incorre, ainda, na mesma pena quem: ___________________________________________
I. Utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, ___________________________________________
direitos ou valores provenientes de infração penal; ___________________________________________
O inciso II manteve a redação anterior e como antes só ___________________________________________
prevê o dolo direto, pois é necessário que aquele que participa ___________________________________________
de grupo, associação ou escritório tenha conhecimento (dolo ___________________________________________
direto) da atividade ilícita. ___________________________________________
4 Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com fins comerciais ou
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

ÍNDICE
Continuação de Lei de Lavagem de Capitais - Lei 9613/98����������������������������������������������������������������������������2
Tipo Subjetivo��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Teoria das Instruções da Avestruz��������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Tentativa de Lavagem de Capitais��������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Causa de Aumento de Pena������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Delação Premiada��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Aspectos Processuais Penais����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Redação Antiga������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Redação Atual�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Medidas Assecuratórias������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Material Complementar���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
Alienação Antecipada���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������4
Ação Controlada����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5
Administrador dos Bens Assegurados��������������������������������������������������������������������������������������������������������5
Bens, Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro��������������������������������������������������5

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empatou em 5x5 quando discutiam o uso do dolo eventual no


Continuação de Lei de Lavagem crime de lavagem de capitais.
de Capitais - Lei 9613/98
Tentativa de Lavagem de Capitais
Tipo Subjetivo A tentativa é punível de acordo com o código penal, ou
O tipo subjetivo dos delitos de lavagem de capitais é seja, como uma causa de diminuição de pena:
somente o dolo, pois não há previsão de forma culposa. Art. 1° §3º - A tentativa é punida nos termos do parágrafo único
Importante notar que ainda há uma grande discussão do art. 14 do Código Penal.
sobre a aceitação do dolo eventual (assume o risco do resultado) Art. 14, p. único, CP - Salvo disposição em contrário, pune-se a
quando da prática do crime de lavagem de capitais, principal- tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, dimi-
mente quando se trata de agente que não participou do crime nuída de um a dois terços.
antecedente.
Causa de Aumento de Pena
Ao olharmos para os tipos objetivos do artigo primeiro e
do parágrafo primeiro, não fica dúvida de que admitem o dolo Os crimes de lavagem de capitais terão sua pena aumenta-
direto e o dolo eventual, a questão começa a ficar mais interes- da de um terço a dois terços se forem praticados de forma reite-
sante quando se trata do parágrafo segundo. rada ou por intermédio de organização criminosa. Importante
observar que as causas de aumento de pena incidiam apenas
No parágrafo segundo, o inciso I somente aceita o dolo
em alguns casos de crimes antecedentes previstos. Como a
direto, pois citava que o agente deveria saber serem os valores
lei alterou o rol taxativo de crime antecedente para qualquer
provenientes de qualquer dos crimes antecedentes.
infração penal, as causas de aumento agora são aplicáveis em
Redação anterior: qualquer modalidade de lavagem de capitais.
Art. 1° §2º - Incorre, ainda, na mesma pena quem: Art. 1° §4º - A pena será aumentada de um a dois terços, se os
I. utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou
direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer por intermédio de organização criminosa.
dos crimes antecedentes referidos neste artigo;
Delação Premiada
No entanto, a nova redação passou a aceitar tanto o dolo
direto como o dolo eventual. A delação premiada está prevista em várias leis do orde-
namento jurídico brasileiro e consiste em uma possibilidade
Redação atual: dada a um dos participantes do crime (co-autor ou partícipe)
Art. 1° §2º - Incorre, ainda, na mesma pena quem: de prestar informações relativas ao crime e receber algum be-
I. Utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, nefício.
direitos ou valores provenientes de infração penal; Insta observar que, em sua maioria, o benefício concedido
O inciso II manteve a redação anterior e como antes só é uma diminuição de pena, no entanto, a lei de lavagem de
prevê o dolo direto, pois é necessário que aquele que participa capitais trouxe benefícios diferenciados que ficaram a critério
de grupo, associação ou escritório tenha conhecimento (dolo do juiz, são eles:
direto) da atividade ilícita. 1) Diminuição de um a dois terços e cumprimento de pena
Art. 1° §2° - Incorre, ainda, na mesma pena quem: em regime aberto ou semi-aberto.
II. Participa de grupo, associação ou escritório tendo conheci- 2) Possibilidade de substituição de pena privativa de liber-
mento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida dade por restritiva de direitos.
à prática de crimes previstos nesta Lei.
3) Perdão judicial (o juiz poderá deixar de aplicar a pena)
Teoria das Instruções da Avestruz Requisitos:
Essa teoria tem origem no direito norte americano (ostrich ˃˃ Colaboração espontânea com as autoridades
instructions), pois conota a conduta da avestruz que coloca a ˃˃ Esclarecimentos que conduzam à apuração das infra-
cabeça dentro de um buraco para não saber das más notícias ções penais, à identificação dos autores, co-autores e
que a envolve. Também denominada teoria da cegueira deli- partícipes
berada, doutrina da cegueira intencional (willful blindness
doctrine) e ainda doutrina do ato de ignorância consciente ˃˃ Localização dos bens, direitos ou valores objeto do
(conscious avoidance doctrine). crime.
Art. 1° §5º - A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser
Essa teoria traz a ideia daquele que aufere vantagens o
cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz
produto do ilícito praticado e, de forma deliberada, toma deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena
atitudes para que não saiba detalhadamente da origem ilícita restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar
dos bens direitos ou valores. Essa teoria já foi aplicada no Brasil espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos
quanto a crimes eleitorais em Rondônia também, pelo menos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação
em primeira instância, no famoso caso do furto ao banco dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens,
central de fortaleza. direitos ou valores objeto do crime. (Redação dada pela Lei nº
Os “assaltantes” compraram 11 carros com dinheiro em 12.683, de 2012)
espécie e os vendedores dos carros foram condenados pelo Aspectos Processuais Penais
crime de lavagem de capitais em primeira instância pela alta
possibilidade que aquele dinheiro usado para a compra dos Competência para Julgamento dos crimes de
carros serem ilícitos. lavagem
Nota: O STF no julgamento da ação penal 470 (mensalão) Em regra, a competência para julgamento dos crimes de
2 Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com fins comerciais ou
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lavagem de capitais é da Justiça Estadual. o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em li-
A competência será transferida para a Justiça Federal se berdade. (Revogado pela Lei nº 12.683, de 2012)
forem praticados contra o sistema financeiro ou a ordem eco- Recurso em liberdade
nômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou in- A mesma discussão ocorre em torno do recolhimento
teresse da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas à prisão para poder recorrer de uma sentença condenatória,
públicas. quanto a esse tema o STF se manifestou na súmula 347:
Também será transferida para a Justiça Federal se a “O conhecimento do recurso de apelação independe de
infração penal antecedente for de competência da Justiça sua prisão”
Federal (tráfico internacional de drogas).
Portanto, o condenado somente será recolhido à prisão
Aplicação do art. 366 do CPP se estiverem presentes os pressupostos de aplicação da prisão
O artigo 366 do CPP prevê que se o acusado for citado por preventiva, sendo a regra a liberdade. Em consonância com tal
edital e não comparecer nem constituir advogado, ficarão sus- entendimento, o artigo 3° que previa uma fundamentação do
pensos o processo e o curso do prazo prescricional. No entanto juiz para o recurso em liberdade foi revogado.
prevê a lei de lavagem de capitais que o art. 366 do CPP não Medidas Assecuratórias
se aplicará aos processos por crime de lavagem de lavagem de
capitais, devendo o processo ter prosseguimento até o julga- Medidas assecuratórias são medidas que recaem sobre
mento do feito, com a nomeação de defensor dativo. os bens do acusado ou que estejam com interposta pessoa
Art. 366 do código de processo penal - Se o acusado, citado
que sejam produto do crime de modo a minorar um possível
por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão prejuízo para processo, para a vítima ou para o estado.
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o São medidas assecuratórias:
juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas →→ Apreensão
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do
A apreensão acontece através de uma busca com o objetivo
disposto no art. 312.
apreender objetos, coisas, documentos que tenham interesse
Art. 2° § 2° da lei 9.613/98 - No processo por crime previsto no processo, normalmente recaem sobre o chamado corpo de
nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei delito.
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir →→ Sequestro
advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julga- O sequestro é uma medida assecuratória de natureza pa-
mento, com a nomeação de defensor dativo. trimonial que recairá sobre o bem produto direto do crime ou
Importante observar que uma boa parte da doutrina cri- adquiridos com a vantagem auferida com a prática delituosa na
ticava a inconsistência do art. 4° §3° da lei de lavagem que intenção de assegurar uma pena de posterior perdimento em
mandava aplicar o art. 366, no entanto o artigo 4° § 3° foi favor do Estado.
alterado, não mais prevendo a aplicação do art. 366 do CPP. O artigo 4° prevê aplicação da apreensão e do sequestro,
pois se trata diretamente de bens direitos ou valores que sejam
Redação Antiga instrumento, produto ou proveito do crime de lavagem ou da
§3º - Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o com- infração penal antecedente.
parecimento pessoal do acusado, podendo o juiz determinar
a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou Aplicação das Medidas assecuratórias
valores, nos casos do art. 366 do Código de Processo Penal. O juiz que aplicará as medidas assecuratórias e aplicação
poderá se dar de 03 formas:
Redação Atual
1) O juiz pode aplicar de ofício
§3º - Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o com-
parecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa a que se 2) O juiz pode aplicar a requerimento do Ministério
refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar a prática Público
de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem 3) O juiz pode aplicar mediante representação do delegado
prejuízo do disposto no § 1o. de polícia
Liberdade Provisória e Fiança: Art. 4º - O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público
ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Mi-
A liberdade provisória como diz boa parte da doutrina é
nistério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios
um remédio para a prisão em flagrante, pois a pessoa presa em suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecura-
flagrante fica em liberdade e obrigada a cumprir certas condi- tórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou
ções, a liberdade provisória pode ser com ou sem fiança. existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento,
A vedação completa da liberdade provisória com ou sem produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações
fiança é alvo de diversas críticas da doutrina, pois entendem penais antecedentes. As medidas assecuratórias também podem
que o legislador não poderia vedar a liberdade de uma pessoa ser decretadas com a finalidade de reparação do dano causado
sem que estejam presentes os requisitos da prisão preventiva à vítima:
(arts 312 e 313 do CPP). Pois bem, essa vedação estava presente §4º - Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens,
no art. 3° da lei de lavagem de capitais e foi revogado pela lei direitos ou valores para reparação do dano decorrente da infração
12.683/12. penal antecedente ou da prevista nesta Lei ou para pagamento de
Artigo revogado da lei de lavagem de capitais: prestação pecuniária, multa e custas.
Art. 3º - Os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de A lei de lavagem previa um prazo de 120 dias para o
fiança e liberdade provisória e, em caso de sentença condenatória, término do inquérito policial no qual teriam sido aplicadas as
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medidas assecuratórias senão elas seriam levantadas, diferen- antecipada:


temente o código de processo penal em seu artigo 131, I. No §1º - Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do
entanto, essa regra de 120 dias foi revogada e como a própria lei valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de
de lavagem manda aplicar o CPP subsidiariamente, esse prazo deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para
passou para 60 dias. sua manutenção.
Art. 17-A - Aplicam-se, subsidiariamente, as disposições do De- A lei 12.683/12 trouxe o art. 4°-A para regular a alienação
creto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de antecipada:
Processo Penal), no que não forem incompatíveis com esta Lei. Art. 4º-A - A alienação antecipada para preservação de valor
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) de bens sob constrição será decretada pelo juiz, de ofício, a re-
Levantamento dos bens querimento do Ministério Público ou por solicitação da parte
Caso se ultrapasse o prazo para o término os bens, direitos interessada, mediante petição autônoma, que será autuada em
ou valores poderão ser levantados (devolvidos) pelo acusado. apartado e cujos autos terão tramitação em separado em relação
ao processo principal. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
Também serão levantados os bens (total ou parcialmente)
§1º - O requerimento de alienação deverá conter a relação de
caso o acusado comprove a licitude de sua origem, nesse caso o
todos os demais bens, com a descrição e a especificação de cada
ônus da prova da licitude cabe ao acusado, essa é a previsão do um deles, e informações sobre quem os detém e local onde se en-
art. 4° § 2°: contram.
§2º - O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, §2º - O juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos aparta-
direitos e valores quando comprovada a licitude de sua origem, dos, e intimará o Ministério Público.
mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários
e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações §3º - Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre
pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal.” o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o valor
atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão ou
Os bens também serão devolvidos ao acusado, caso ela seja pregão, preferencialmente eletrônico, por valor não inferior a
absolvido no fim do processo, porém nesse caso, cabe ao Mi- 75% (setenta e cinco por cento) da avaliação.
nistério Público, titular da ação penal, o ônus da prova da ilici-
tude da origem dos bens. §4º - Realizado o leilão, a quantia apurada será depositada em
conta judicial remunerada, adotando-se a seguinte disciplina:
Qualquer pedido de devolução deverá ser feito com o com-
I. nos processos de competência da Justiça Federal e da Justiça
parecimento pessoal do acusa:
do Distrito Federal:
§3º - Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o com-
a) os depósitos serão efetuados na Caixa Econômica Federal
parecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa a que se
ou em instituição financeira pública, mediante documen-
refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar a prática
to adequado para essa finalidade;
de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem
prejuízo do disposto no § 1o. b) os depósitos serão repassados pela Caixa Econômica
Federal ou por outra instituição financeira pública para
01. Nos termos do quanto determina o art. 2.º, da Lei n.º a Conta Única do Tesouro Nacional, independentemente
9.613/98, no processo e julgamento dos crimes de de qualquer formalidade, no prazo de 24 (vinte e quatro)
“Lavagem” ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores, horas; e
I. a competência é da Justiça Federal quando a da infração c) os valores devolvidos pela Caixa Econômica Federal ou
penal antecedente também for; por instituição financeira pública serão debitados à Conta
II. admite-se a citação por edital e, nessa hipótese, segue-se a Única do Tesouro Nacional, em subconta de restituição;
suspensão do processo e do prazo rescricional; II. nos processos de competência da Justiça dos Estados:
III. a denúncia será instruída com indícios suficientes da a) os depósitos serão efetuados em instituição financeira de-
existência do crime antecedente, sendo puníveis os fatos de signada em lei, preferencialmente pública, de cada Estado
“lavagem” ainda que desconhecido ou isento de pena o autor ou, na sua ausência, em instituição financeira pública da
do crime antecedente. União;
É correto o que se afirma em b) os depósitos serão repassados para a conta única de cada
a) II, apenas. Estado, na forma da respectiva legislação.
b) III, apenas. §5º - Mediante ordem da autoridade judicial, o valor do
c) I e III, apenas. depósito, após o trânsito em julgado da sentença proferida na
ação penal, será:
d) II e III, apenas.
I. em caso de sentença condenatória, nos processos de
e) I, II e III. competência da Justiça Federal e da Justiça do Distrito
Gabarito Federal, incorporado definitivamente ao patrimônio da
01 - C União, e, nos processos de competência da Justiça Estadual,
incorporado ao patrimônio do Estado respectivo;
Material Complementar II. em caso de sentença absolutória extintiva de punibili-
Alienação Antecipada dade, colocado à disposição do réu pela instituição finan-
ceira, acrescido da remuneração da conta judicial.
A alienação antecipada é uma medida que via proteger os
bens que foram sequestrados, submetidos a medidas assecura- §6º - A instituição financeira depositária manterá controle dos
valores depositados ou devolvidos.
tórias para que não se deteriore.
O art. 4° § 1° traz a primeira previsão de alienação §7º - Serão deduzidos da quantia apurada no leilão todos os
tributos e multas incidentes sobre o bem alienado, sem prejuízo
4 Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com fins comerciais ou
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de iniciativas que, no âmbito da competência de cada ente da Ministério Público, que requererá o que entender cabível.
Federação, venham a desonerar bens sob constrição judicial Efeitos da Condenação
daqueles ônus.
São efeitos da condenação, além dos previstos no Código
§8º - Feito o depósito a que se refere o § 4o deste artigo, os autos Penal:
da alienação serão apensados aos do processo principal.
I. a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de
§9º - Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos competência da Justiça Estadual -, de todos os bens, direitos
contra as decisões proferidas no curso do procedimento previsto e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos
neste artigo. crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para
§10º - Sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal con- prestar a fiança, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro
denatória, o juiz decretará, em favor, conforme o caso, da União de boa-fé;
ou do Estado: II. a interdição do exercício de cargo ou função pública de
I. a perda dos valores depositados na conta remunerada e da qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de ad-
fiança; ministração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no
II. a perda dos bens não alienados antecipadamente e daqueles art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade
aos quais não foi dada destinação prévia; e aplicada.
III. a perda dos bens não reclamados no prazo de 90 (noventa) A União e os Estados, no âmbito de suas competências,
dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória, res- regulamentarão a forma de destinação dos bens, direitos e
salvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé. valores cuja perda houver sido declarada, assegurada, quanto
§11º - Os bens a que se referem os incisos II e III do § 10 deste aos processos de competência da Justiça Federal, a sua utili-
artigo serão adjudicados ou levados a leilão, depositando-se o zação pelos órgãos federais encarregados da prevenção, do
saldo na conta única do respectivo ente. combate, da ação penal e do julgamento dos crimes previstos
§12º - O juiz determinará ao registro público competente que nesta Lei, e, quanto aos processos de competência da Justiça
emita documento de habilitação à circulação e utilização dos Estadual, a preferência dos órgãos locais com idêntica função.
bens colocados sob o uso e custódia das entidades a que se refere o Os instrumentos do crime sem valor econômico cuja perda
caput deste artigo. em favor da União ou do Estado for decretada serão inutili-
§13º - Os recursos decorrentes da alienação antecipada de bens, zados ou doados a museu criminal ou a entidade pública, se
direitos e valores oriundos do crime de tráfico ilícito de drogas e houver interesse na sua conservação.
que tenham sido objeto de dissimulação e ocultação nos termos Bens, Direitos ou Valores Oriundos de
desta Lei permanecem submetidos à disciplina definida em lei
específica. Crimes Praticados no Estrangeiro
Ação Controlada O juiz determinará, na hipótese de existência de tratado ou
convenção internacional e por solicitação de autoridade estran-
A ação controlada é a previsão legal para não prisão em fla- geira competente, medidas assecuratórias sobre bens, direitos
grante pela prática de delitos com a finalidade de se investigar ou valores oriundos de crimes de lavagem de capitais pratica-
os verdadeiros responsáveis pelos delitos, os chamados “peixes dos no estrangeiro.
maiores”.
Caso não exista tratado ou convenção internacional, o juiz
No caso da lei de lavagem de capitais, a previsão estava no poderá aplicar as medidas assecuratórias quando o governo do
art. 4 § 4° e agora está no art. 4°-B. país da autoridade solicitante prometer reciprocidade ao Brasil.
Art. 4º-B - A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecura- Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos ou
tórias de bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, valores privados sujeitos a medidas assecuratórias por solicita-
ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata ção de autoridade estrangeira competente ou os recursos prove-
puder comprometer as investigações. nientes da sua alienação serão repartidos entre o Estado reque-
No entanto, a previsão da ação controlada prevista na lei rente e o Brasil, na proporção de metade, ressalvado o direito
de lavagem não abrange a prisão em flagrante, pois abrange tão do lesado ou de terceiro de boa-fé.
somente a prisão com ordem, ou seja, a prisão preventiva e a Anotações:
prisão temporária.
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Administrador dos Bens Assegurados ___________________________________________
Quando as circunstâncias o aconselharem, o juiz, ouvido ___________________________________________
o Ministério Público, nomeará pessoa física ou jurídica qualifi- ___________________________________________
cada para a administração dos bens, direitos ou valores sujeitos ___________________________________________
a medidas assecuratórias, mediante termo de compromisso. ___________________________________________
A pessoa responsável pela administração dos bens: ___________________________________________
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I. fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que será sa- ___________________________________________
tisfeita com o produto dos bens objeto da administração; ___________________________________________
II. prestará, por determinação judicial, informações perió- ___________________________________________
dicas da situação dos bens sob sua administração, bem como ___________________________________________
explicações e detalhamentos sobre investimentos e reinvesti- ___________________________________________
mentos realizados. ___________________________________________
Os atos relativos à administração dos bens sujeitos a ___________________________________________
medidas assecuratórias serão levados ao conhecimento do ___________________________________________
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