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| E-ISSN 1808-2599 |

A mitologia na representação cultural


da cachaça: imagem negativa
e tentativa de ressignificação
Daniella Ramos Silva e Sérgio Carvalho Benício de Mello

1 Introdução 1/14
Resumo
Foram identificados os mitos que permeiam a A cachaça começou a fazer parte da história
cachaça na cultura brasileira, tendo por base o brasileira no período de ascensão da indústria
fato de eles favorecerem a representação cultural
açucareira. Ela foi “descoberta” por acaso
– imagem de uma cultura sobre determinado

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objeto – negativa desta bebida. Constitiu-se um durante o processo de produção do açúcar
corpus de pesquisa caracterizado por guardar
mascavo, da rapadura e do melaço nos
vínculos significativos com a prática social em foco.
A metodologia adotada foi a semiologia. Assim, engenhos do período colonial brasileiro
foram identificados cinco mitos relacionados à
(CASCUDO, 2006).
representação cultural da cachaça: “cachaceiro”,
“desprestígio”, “bebida popular”, “Brazilian brandy”
Como consequência de um processo de evolução
e “da moda”. Concluiu-se que, ao contrário do que
se supunha antes no início do estudo, os mitos natural, de alguma forma os escravos aprenderam
não atribuem única e exclusivamente conotações
a destilar a garapa azeda – espuma “suja e
negativas à cachaça no Brasil; conferem-lhe
também conotações positivas. Entretanto, os mitos feculenta” formada na superfície dos tachos
positivos ainda não conseguem ressignificar a
da produção de açúcar, a qual era retirada
representação cultural dessa bebida.
à alimentação de animais e de escravos –,
Palavras-chave
Cachaça. Representação cultural. Mitologia. convertendo-a em cachaça. E, pouco a pouco,
essa bebida se tornou popular entre os escravos
Daniella Ramos Silva | daniellaramossilva@hotmail.com e outras pessoas de baixa renda da colônia
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco
(CASCUDO, 2006).
(UFPE). Professora do Centro Acadêmico do Agreste – CAA/UFPE.

Sérgio Carvalho de Mello | sergio.benicio@gmail.com Pode-se dizer que o Brasil e a cachaça são
Tem formação na área de Administração de Empresas, Doutor pela
City University London (Cass Business School), Reino Unido (1997).
contemporâneos. Contudo, apesar de a história
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco e
de ambos ser indissociável, a bebida possui uma
bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, com experiência nas
áreas de ensino e pesquisa em Administração atuando principalmente representação cultural bem diferente daquela do
com os seguintes temas: Inovação Organizacional e Tecnológica;
Gestão de Tecnologias Emergentes; Sistemas Inteligentes de Brasil para os brasileiros. A representação dela,
Mobilidade; Cibercultura e Espaço Urbano.
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diferentemente da do Brasil, é permeada por mitos, 2 Mitologia em Roland Barthes


alguns deles estigmatizantes, a exemplo de: a) que
Nesse estudo foi considerada a obra “Mitologias”
a cachaça é uma bebida de qualidade ruim; b) que a
de Roland Barthes (1993) – devido à sua
cachaça é uma bebida destinada a pessoas de baixa
relevância. A partir do desenvolvimento de sua
renda; c) que a cachaça encontra-se apenas em
obra, ele passou a refletir sobre a naturalidade
“botecos”; e d) que cachaça está diretamente ligada
com que a arte, a imprensa e o senso comum
à identidade do cachaceiro.
mascaram continuamente uma realidade. E, após
Observa-se que a cachaça tem significado ter explorado uma série de fatos da atualidade da
definido, o que ela representa literalmente, o que época, definiu, de forma metódica, o mito, que é
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está e é inerente a ela – uma bebida alcoólica. O explicado a seguir.
signo da cachaça, no entanto, foi ressignificado
O mito é uma fala, mas não uma fala qualquer,
várias vezes desde a colonização, ao ser
já que existem condições especiais para que
associado à qualidade ruim, pessoas de baixa

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a linguagem se transforme em mito. É a fala
renda, “botecos” e à identidade do cachaceiro.
(parole) definida por Saussure (BARTHES, 1993),
Com efeito, ela não é vista mais apenas como
representando a parte puramente individual, ou
uma bebida alcoólica. Na verdade, uma nova
seja, a combinação particular dos signos existentes
significação atribuiu a ela um “espírito” de
no sistema da língua, feita pelo usuário falante.
desqualificação, como uma propriedade natural.
Assim, pode-se dizer que o mito é uma mensagem,
Na representação cultural – imagem de uma é um modo de significação em que a sociedade tem
cultura ou grupo de pessoas sobre determinado um papel ativo (BARTHES, 1993 p. 131).
objeto –, os membros de uma cultura usam a
A fala é uma mensagem que pode ser formada
linguagem, nesse caso os mitos discutidos a
por escritas, representações, fotografias,
priori e, possivelmente, localizados a posteriori,
cinema, reportagens, esportes, espetáculos,
que serão explicados detalhadamente na
publicidade, entre outras formas. Todas as
próxima seção, para produzir significado a
matérias-primas do mito pressupõem uma
um artefato cultural. Portanto, reitera-se que
consciência significante e por essa razão se
a cachaça sofre preconceitos devido aos mitos
pode raciocinar sobre ele, independentemente
inerentes à cultura brasileira.
das matérias-primas. Toda unidade ou toda
De fato, o objetivo deste estudo é identificar síntese significativa poderá ser fala se
os mitos que permeiam a cachaça na cultura significar alguma coisa. Isto não quer dizer que
brasileira, tendo em vista que eles favorecem a se deva tratar a fala mítica como a língua, pois
representação cultural negativa da bebida. o mito depende de uma ciência geral extensiva
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à linguística, que é a semiologia (BARTHES, No mito encontram-se o esquema tridimensional


1993 p. 132). de significante, significado e signo. Porém, o mito
é um sistema particular, visto que ele se constrói a
Como estudo de uma fala, a mitologia é apenas
partir de uma cadeia semiológica já existente. Ele
um fragmento da semiologia, que é uma ciência
é um sistema semiológico segundo. O que era signo
que estuda as significações, independentemente
no primeiro sistema, transforma-se em significante
dos seus conteúdos. Como também a semiologia
para o segundo. Assim, as matérias-primas da fala
sozinha não explica a mitologia. Por conseguinte,
mítica, desde que são captadas pelo mito, reduzem-
é importante perceber que a unidade de uma
se à função de significante (BARTHES, 1993 p. 136).
explicação depende da coordenação dialética das
Para melhor entendimento, vê-se a figura 1, abaixo. 3/14
ciências particulares que nela estão engajadas.
Então, a mitologia faz parte simultaneamente da Logo, pode-se entender que no mito existem dois
semiologia, como ciência formal, e da ideologia, sistemas semiológicos: um sistema linguístico – a
como ciência histórica (BARTHES, 1993 p. 133). língua – e o próprio mito – a metalinguagem –, uma

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segunda língua que fala da primeira. O semiólogo,
Toda semiologia relaciona dois termos, o
então, não deve interrogar-se sobre o sistema
significante e o significado, que levam, portanto,
linguístico. Ele só terá que se preocupar com o signo
a um terceiro termo, o signo, o total associativo
global, na medida em que este se presta ao mito
dos dois termos anteriores. No plano de análise,
(BARTHES, 1993 p. 137).
não se pode confundir significante, significado
e signo. Naturalmente, existem entre eles Assim, é possível se entender o significado da
implicações funcionais (como a da parte ao todo) cachaça por meio da análise da formação de
que podem fazer a análise parecer desnecessária, seu mito. Os vários mitos sobre a cachaça – dos
mas essa distinção tem grande importância para quais foram identificados, a priori – quatro neste
o estudo do mito como esquema semiológico trabalho, contribuem para sua representação
(BARTHES, 1993 p. 134). cultural ser estigmatizada.

Figura 1: Sistema mitológico

Fonte: Adaptado de Barthes (1993).


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Vê-se, com mais detalhes, na próxima seção, como Enfatiza-se que as representações culturais são
essa significação aconteceu na cultura brasileira. sempre determinadas pelos interesses de grupo.
Por isso elas não são neutras. Produzem práticas
3 Representação cultural da cachaça – sociais e políticas – para a legitimação das

A representação cultural inclui as práticas escolhas e condutas dos indivíduos. Portanto,

de significação, por meio das quais os as representações são supostas de estarem

significados são produzidos (WOODWARD, colocadas num campo de concorrência e

2000). Destaca-se, pois, que ela conecta competições que se efetivam em termos de poder

cultura a significado e linguagem, o que e dominação (GUERRA, 2006; BERGMANN, 2007;

denota usar a linguagem para dizer algo FREIRE FILHO, 2005; CHARTIER, 2002). 4/14

significativo ou para representar o mundo


O processo histórico da cachaça confirma essa
significativo para outras pessoas. Além do
luta ideológica e política de sua representação
mais, a representação é um processo que
cultural. A bebida, desde sua origem, foi

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produz e troca significados entre os membros
rejeitada pela elite brasileira, e a partir de
de uma cultura. Esse processo envolve o
então passou a representar um produto ruim e
uso da linguagem, de signos e imagens para
para pessoas pobres.
representar algo (HALL, 1997a; 1997b).
Como para Souza (2006) o sujeito não está livre
Pode-se dizer também que a representação é
para decidir o que bem quiser, porque está
a produção do significado dos conceitos que
“pressionado” pelas representações impostas pela
estão nas mentes das pessoas. O sistema de
sociedade, a rejeição da bebida pela elite tende a
representações consiste no conceito coletivo
influenciar também as demais classes sociais.
sobre algo (CHARTIER, 2002). São as formas
de organização, aglomeração, arranjo e Assim sendo, as ações dos sujeitos não são só

classificação de conceitos e da estabilização deles. Eles agem de acordo com a história,

entre eles. Quando se afirma que pessoas vivem filiam-se a outras ações de acordo com algo que

em uma mesma cultura, quer se dizer que elas já foi feito e legitimado. Agem influenciados

partilham mapas conceituais. Ou seja, têm uma pelas representações culturais. Ou seja, rejeitam

interpretação do mundo de forma parecida, a cachaça porque as pessoas mais influentes e

conceitos das coisas parecidos. Por conseguinte, com maior poder a rejeitaram em determinado

os mapas conceituais podem ser transformados período histórico e isso foi dado como certo.

em signos, que é a transmissão dos conceitos A representação da cachaça, logo, tornou-

através de elementos como sons, palavras, gestos se estigmatizada por influências culturais,

e expressões (HALL, 1997b). ideológicas e políticas.


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A mídia também produz novas representações Engarrafamento Pitú Ltda. Fora do País, o
através dos discursos divulgados em jornais, significado da cachaça está atrelado à alegria
revistas, televisão e outros meios (GARCIA; brasileira, ao samba, ao carnaval, ao futebol,
ROCHA; HINERASKY, 2007; CAMPOS, 2006; entre outros aspectos da cultura. Neste
GUERRA, 2006; SGARBIERI, 2006; FREIRE sentido, os exportadores dizem que vender
FILHO, 2005). A mídia pode construir mitos e cachaça é como “vender” o Brasil.
associar muitos produtos a significados que não
correspondem literalmente a eles. Mas, no caso 4 A construção de
um corpus de pesquisa
da cachaça, o que se vê no Brasil é que a mídia
tentou algumas vezes, porém não conseguiu Esta pesquisa apontou para a descoberta dos 5/14

modificar a sua representação. mitos que permeiam a representação cultural da


cachaça no Brasil. A construção de um corpus
A Sagatiba, por exemplo, uma empresa “nova” no
de elementos significativos e a decisão pelos
setor industrial, apostou no slogan “puro espírito

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dados suplementares que foram coletados e
do Brasil” para suas campanhas publicitárias.
usados focalizaram os indivíduos e instituições
Apesar de o marketing da empresa ser bem feito
que obtinham alguma relação significativa com
e de bom gosto, o novo mito que se tentou formar
a prática social sob investigação. Assim, o estudo
agregando o significado da cachaça a aspectos
compreendeu os discursos de:
brasileiros parece não ter feito sentido para o
povo e, por isso, não foi suficiente para modificar 1. Ypióca Agroindustrial Ltda.

a representação.
2. Engarrafamento Pitú Ltda.

Em princípio, tem-se a impressão de que a


3. Associação Mineiras dos Produtores
cachaça carrega uma representação cultural
de Cachaça de Qualidade (AMPAQ).
desfavorável no Brasil. No entanto, no exterior,
os aspectos históricos em que a cachaça 4. Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC).

foi introduzida, bem como a publicidade


5. Marcelo Câmara – Expert no tema cachaça
veiculada em alguns países, conseguiram gerar
na área de consumo, autor do livro “Cachaça
significados positivos à bebida. A tentativa
Prazer Brasileiro”.
feita pela Sagatiba no Brasil foi efetuada
com sucesso por várias outras empresas do 6. Livro: Ypióca, 160 anos: A saga de uma família,

setor de cachaça que, desde 1968, exportam- a história de uma paixão, o segredo de uma lenda.

na. São exemplos: Ypióca Agroindustrial


7. Livro: Cachaça: Prazer brasileiro.
Ltda, Companhia Müller de Bebidas e
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Os extratos do corpus analítico ora citados foram sociedade, Barthes estudou as significações que
selecionados a partir de diversas fontes de dados podem ser atribuídas à vida social. Ele explicou,
(entrevistas em profundidade, observações então, como as linguagens expressam e como
e levantamentos bibliográficos), agrupados ocultam a realidade.
e categorizados após o trabalho em campo.
A seguir, dando início à análise, apresenta-
Ressalta-se que a objetividade deste estudo
se o repertório com os elementos de
pode ser avaliada através da qualidade de suas
representação e consumo da cachaça e seus
observações e da escolha das fontes de dados e
respectivos significantes.
dos entrevistados, com base em uma coerência
teórico-epistemológica entre dados e indagações 6/14
5.1 Repertório
de pesquisa.
A partir da análise do corpus foram
O corpus de pesquisa foi categorizado em dois identificados elementos que tratavam de
gêneros discursivos: bibliográfico e entrevista.

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termos referentes à cachaça e significantes
O bibliográfico consistiu na leitura, aálise que geravam significados a esses elementos.
e categorização em trechos significantes Quando se tratava da representação cultural,
da “representação cultural” dos livros. O por exemplo, em alguns trechos do corpus,
entrevista consistiu em entrevistas pessoais utilizava-se o elemento “branquinha” para tratar
semi-estruturadas com os sujeitos de pesquisa da cachaça industrial e os significantes produto
da Ypióca, Pitú, AMPAQ, IBRAC e com Marcelo genuinamente brasileiro e preferência nacional
Câmara. Logo, depois de transcritas, elas foram para dar significado a tal elemento.
categorizadas em trechos significantes da
Dessa forma, analisando-se minuciosamente o
“representação cultural”.
corpus, criou-se um repertório com elementos

5 Análise do corpus e significantes para a representação cultural.


Observa-se, assim, no quadro 1, o repertório da
A análise do corpus desta pesquisa teve um
representação cultural.
caráter semiológico, isto é, desvelou os textos
obtidos para o alcance do objetivo deste estudo. O repertório demonstra um contexto
Foi seguida a linha metodológica de Roland categorizado pronto a ser significado.
Barthes (1996; 1993), o ensaísta, crítico e Entretanto, os significados transmitidos pela
linguista que procedeu a análise semiológica do cachaça são apropriados à cultura brasileira,
mundo social. Com base na semiologia, a ciência ao entendimento dos membros dessa cultura.
que tem como objeto as palavras, os símbolos, os O significado é cultural, tendo em vista ser
ícones e todos os sistemas de signos atuantes na formado pela representação, um conceito
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Quadro 1: Repertório da representação cultural

Fonte: a autora.
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coletivo sobre algo (CHARTIER, 2002), e pode 2008). No caso deste estudo, deu-se de forma
ser trazido à mente das pessoas que participam ideológica. Interpretou-se ideologicamente o
dessa cultura por vários significantes. Para repertório da representação cultural, exposto

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que se alcance o signo, é preciso restabelecer no quadro 1.
a cadeia de intenções que está por trás
A interpretação ideológica procurou mostrar
do significante que se oferece na cultura
que existem várias ideologias permeando
brasileira. E isso só é possível através da
a cachaça e formando seus significados. E,
reconstituição da estrutura. Os significantes
de tais significados, foi possível observar o
e os significados formam um todo indissolúvel
surgimento de alguns mitos da cultura brasileira
que detém um sentido (BARTHES, 1993).
relacionados à cachaça.
Vê-se, então, como é possível alcançar o sentido
através da metalinguagem. 5.2.1 Interpretação ideológica
Os elementos 1, 2, 3 e 4 – “branquinha”, cachaça
5.2 Metalinguagem artesanal, cachaça industrial envelhecida e
Para se compreender a representação da cachaça artesanal envelhecida, respectivamente
cachaça, deve-se proceder a uma interpretação – tratam de tipos diferentes de cachaça com
de segundo nível – interpretação da representações culturais também diferentes.
metalinguagem. Por sua vez, esta interpretação Os significantes 1.1, produto genuinamente
é o desvelamento dos sentidos ocultos dos brasileiro, e 1.2, preferência nacional,
signos mitológicos (BARTHES, 1993; 1996). Ela literalmente têm um sentido positivo em relação
pode ser feita de forma alegórica, analógica, ao elemento, “branquinha”. Porém, mesmo
tropológica e ideológica (THIRY-CHERQUES, sendo um produto genuinamente brasileiro,
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parece que as pessoas ainda não desejam O elemento 2, cachaça artesanal, tem o seu
associar as suas identidades como brasileiros sentido formado pelo significantes 2.1, prestígio,
à identidade do consumidor de cachaça – o 2.2, obra de arte, 2.3, bebida superior, e 2.4,
cachaceiro –, pois, na atualidade, o consumo imagem de excelência. O elemento 3, cachaça
não é uma mera compra de mercadorias, industrial envelhecida, por 3.1, prestígio, 3.2,
mas um processo de criação de identidades imagem boa, e 3.3, uísque nacional. O elemento
(BARBOSA; CAMPBELL, 2006; SLATER, 2002; 4, cachaça artesanal envelhecida, por 4.1,
MILLER, 1997). prestígio, 4.2, bebida superior, e 4.3, imagem
de excelência.
Resultado: surge o mito do cachaceiro.
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Os significantes 2.1, 3.1 e 4.1, prestígio,
A preferência nacional é citada, muitas vezes,
significam que as cachaças diferenciadas estão
como sinônimo de destilado mais consumido
tendo mais atenção da elite da sociedade
do Brasil. Entretanto, apenas o fato de ser
consumidora, por serem cachaças mais caras e

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este destilado não significa que a cachaça seja
requintadas, com aspectos sensoriais também
uma preferência nacional, assim tal afirmação
diferenciados, e, por isso, têm uma imagem
é contestável. Se as pessoas de baixa renda
positiva. O significante 2.2, obra de arte é a
são as principais consumidoras do produto,
prova do requinte, significando que a cachaça
então, elas podem consumir cachaça porque a
artesanal é feita de forma peculiar, resultando
preferem ou apenas porque não têm condições
em um produto de excelência. Os significantes
financeiras para consumir outro tipo de
2.3 e 4.2, bebida superior, significam que a
bebida alcoólica, a cerveja, por exemplo, que
cachaça artesanal é uma bebida com padrão de
é o retrato da ascensão social das pessoas
qualidade mais elevado em relação à industrial.
de baixa renda e consequente negação da
Os significantes 2.4 e 4.3, imagem de excelência,
cachaça. Demonstrando, assim, a ação política
também se referem, especificamente, às
no contexto, ou seja, a condução do processo
cachaças artesanais, demonstrando que a sua
social em antagonismos (cachaça e cerveja)
imagem é a melhor de todas. O elemento 3.2,
concorrentes (MOUFFE, 1996). Por conseguinte,
imagem boa, significa que a imagem da cachaça
o elemento 1, “branquinha”, que é significado
industrial envelhecida é boa; no entanto,
por esses dois significantes (1.1 e 1.2) tem uma
inferior às artesanais (branca e envelhecida),
representação cultural estigmatizada perante
contudo melhor que a imagem da “branquinha”.
a sociedade, relacionada à identidade do
Nesse sentido, identifica-se uma hierarquia de
cachaceiro e ao público consumidor.
imagens, em que as artesanais ficam em primeiro
Resultado: surge o mito do desprestígio. lugar, com uma clara imagem de excelência; a
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industrial envelhecida, em segundo, com uma do pensamento burguês (HALL, 2003).


imagem boa; e, por último, a “branquinha”, com O antagonismo retrata a representação
uma imagem desprestigiada. O significante 3.3, diferenciada entre as classes, porque uma
uísque nacional, demonstra como a cachaça bebida que veio da “senzala” não poderia fazer
foi apresentada ao Brasil de uma forma sucesso na “casa grande”, nessa perspectiva
“melhorada”. Tornar-se um uísque é diferente de ideológica. Assim, apesar de ser consumida em
ser cachaça. Então, a imitação do estrangeirismo, todas as classes, ela ainda é “mal vista”
segundo Ribeiro (1983), influenciaria a aceitação pelas elites.
da bebida denominada dessa forma.
Em se tratando de Althusser (2001), a classe
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Nota-se que a representação estigmatizada da dominante pode exercer seu poder econômico,
cachaça é devida à sua origem pobre (CASCUDO, político e ideológico através dos aparelhos
2006), fabricada por escravos e consumida, ideológicos de Estado e passar a dominar uma
inicialmente, por eles e pessoas de baixa renda. situação. No caso, a representação cultural da

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Vale ressaltar que, apenas quando o significante cachaça torna-se estigmatizada pela imposição
cachaça é acompanhado de adjetivos como de classe. Daí a representação é repassada para
artesanal, envelhecida e artesanal envelhecida, as demais pessoas, através da interpelação do
a representação cultural estigmatizada afasta-se sujeito, que ao nascer já toma como certo a
do significante. Mas, como a pesquisa não está representação como negativa.
tratando especificamente desses diferenciais
Por meio do conceito de deformação de Paul
de cachaça, e sim de seu significante simples –
Ricouer (1977), o processo de vida real deixa
cachaça –, usou-se a representação cultural, de
de constituir a base para ser substituído por
um modo geral, como estigmatizada neste artigo.
aquilo que os homens dizem e representam, o
No elemento 5, público, significado por 5.1, que faz a imagem ser tomada como real. Dessa
trabalhador, 5.2, pobre, 5.3, classe média, e forma, as representações culturais da cachaça,
5.4, elite, identifica-se que todas as classes estigmatizadas, são tomadas como o real. Logo,
sociais consomem o produto, no entanto a apesar de todas as classes sociais consumirem
imagem da cachaça, ainda assim, é permeada a bebida, o público que realmente a representa
por estigmas ruins. Com base em uma leitura são as classes mais pobres.
marxista, identifica-se uma questão antagônica
Resultado: surge o mito da bebida popular.
entre a representação da cachaça como bebida
para pobre e não para elite, enfatizando que O elemento 6, espaço geográfico, significado
Marx tratava das manifestações negativas por 6.1, Brasil, e 6.2, exterior, demonstra as
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diferentes representações no Brasil e no exterior. eles, custa pouco porque é ruim, reforçando,
No Brasil, a cachaça possui uma conotação assim, o mito da bebida popular. Contudo, no
negativa devido à sua origem. Entretanto, no exterior, a história é diferente. Com a ausência da
exterior, não há mitos que estigmatizem a estigmatização, a cachaça custa caro: em média,
cachaça. Desde 1968, por exemplo, a bebida é quatorze euros a garrafa, o que equivale, no
oficialmente exportada para a Alemanha e, aos Brasil, hoje, a dez vezes mais que o valor vendido
poucos, as exportações se expandiram. Hoje, no mercado interno.
segundo o SEBRAE (2008), a cachaça pode ser
Resultado: este fato ajuda a reforçar o mito
encontrada em quase todo o mundo.
do Brazilian brandy.
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Segundo Hall (1997a; 1997b), isso acontece
O elemento 8, antes versus hoje, significado pelos
porque os significados são produzidos entre os
significantes 8.1, ruim versus boa, 8.2, ruim
sujeitos de uma cultura. Portanto, no exterior a
versus regular, e 8.3, ruim versus ruim, retrata
cachaça significa o próprio espírito do Brasil. Na

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diferentes opiniões acerca da representação
perspectiva de Câmara (2004), ela representa
da cachaça. Existe uma concordância em
o samba, o futebol, o carnaval, entre outros
relação ao antes, que se originou com estigmas
aspectos culturais brasileiros, reconhecidos no
ruins. Contudo, em relação ao hoje, muitas são
mundo. De fato, a sua representação cultural no
as opiniões acerca da representação. Boa é
exterior não tem estigmas ruins.
provável que não seja, pois, como foi exposto
Resultado: surge o mito do Brazilian brandy. na problemática, existem mitos permeando a
representação da bebida. Assim, a recepção da
O elemento 7, preço, significado por 7.1,
representação é influenciada pela forma como
Brasil, 7.2, exterior, e 7.3, barato, determina
os mitos mascaram continuamente a realidade
as diferenças de preço da cachaça. No Brasil,
(BARTHES, 1993). Ruim, sabe-se que já foi,
a maior parte da cachaça produzida custa
devido à sua formação (CASCUDO, 2006). No
barato e a precificação fornece subsídios para
entanto, a representação tem sido influenciada
a estigmatização, pautada na ideologia de que
pela representação positiva, ligada aos aspectos
tudo que é barato é ruim. Fato que também pode
culturais brasileiros no exterior, demonstrando,
ser explicado pelo conceito de deformação de
nesse sentido, a formação de um mito da moda
Paul Ricouer (1977), constatando que o real é a
da cachaça. Dessa forma, acredita-se que ela se
imagem da cachaça barata. Não é possível negar
apresente de maneira diferente da sua origem
que também existam cachaças que custam caro
negativa. Então, não pode ser ruim também.
no Brasil. Mas são poucas. A rigor, no imaginário
O significante regular parece ser plausível
dos brasileiros, cachaça custa pouco. E, para
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para conotar a representação, já que é o ponto 5.3.1 Cachaceiro


intermediário entre os dois outros, demonstrando
O cachaceiro representa os estigmas negativos
uma “suavizada” na representação negativa,
relacionados à identidade do consumidor de
mas que não a modifica suficientemente para
cachaça. O termo não representa apenas o
torná-la positiva.
consumidor, mas também a embriaguez causada
Resultado: surge o mito “da moda”. pela cachaça ou por qualquer outra bebida
alcoólica, incluindo os constrangimentos sociais
5.3 Mitos da representação levados por ela.
cultural da cachaça
Devido a este mito, a identidade do cachaceiro 11/14
De acordo com Barthes (1993), o mito é formado pela
continua sendo repudiada. A elite e a classe
metalinguagem, ou segundo sistema de significação
média parecem não pretender associar suas
de um signo, conforme previamente discutido. E, com
identidades a ela através do consumo – consumo
base nesse pressuposto, observa-se, em sequência, a

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que é, de fato, um processo de criação de
seguir, os mitos da representação cultural da cachaça
identidades. Grosso modo, apenas as pessoas
identificados neste trabalho.
de baixa renda, que frequentemente tomam
Cinco elementos, dos oito encontrados, do cachaça, têm suas identidades associadas
repertório de representação cultural ao cachaceiro. Assim, o mito fortalece a
formaram os mitos. O elemento 1, “branquinha”, representação cultural negativa da cachaça.
gerou os mitos do cachaceiro e do desprestígio.
Os elementos 5 e 7, público e preço, levaram 5.3.2 Desprestígio
ao mito bebida popular. Os elementos 6 e O mito do desprestígio está relacionado
7, espaço geográfico e preço, resultaram ao principal público consumidor de
no mito: Brazilian brandy. O elemento 8, cachaça e à identidade do cachaceiro, que,
antes versus hoje, formou o mito da moda. Os separadamente, também é um mito, como se
elementos 2, 3 e 4, cachaça artesanal, cachaça pode observar.
industrial envelhecida e cachaça artesanal
No imaginário das pessoas: a) a cachaça era
envelhecida, não geraram mitos porque não
destinada apenas aos pobres, apesar de se
tratam do significante cachaça unicamente,
contatar que tal fato não é verídico, tendo em
mas acompanhado de adjetivos, conforme
vista a existência de cachaças diferenciadas,
mencionado na interpretação ideológica da
destinadas a outros públicos; e b) o consumidor
representação. Observam-se a seguir, mais
desta bebida é um “cachaceiro” – no sentido
detalhadamente, os mitos.
pejorativo da palavra –, representando a
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embriaguez e os males sociais decorrentes Com exportações anuais de ordem crescente,


do consumo. a cachaça é, hoje, um dos destilados mais
consumidos no mundo. Vale ressaltar que,
Mesmo sendo o destilado mais consumido
no exterior, o seu preço é mais alto, quando
do Brasil, a “branquinha” sofre, ainda hoje,
comparado ao preço praticado no mercado
preconceitos na cultura brasileira. O significante
interno brasileiro. Em verdade, no exterior,
“cachaça”, de maneira geral, representa
a cachaça é vista como um produto típico do
desprestígio. Reforçando, assim, a estigmatização
Brasil e é relacionada a aspectos culturais
da representação cultural.
reconhecidos universalmente como brasileiros.
12/14
5.3.3 Bebida popular A rigor, este mito não contribui à criação de

O mito da bebida popular é oriundo do público estigmas negativos para a representação cultural.

consumidor da cachaça e do preço baixo pelo Pelo contrário, ele ajuda a suavizar o preconceito
sobre a cachaça, demonstrando que a bebida

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qual ela é frequentemente vendida, preço
este que não se torna significante apenas do remete a um produto bem aceito mundialmente.

significado de acessibilidade a todas as classes,


mas também de inferioridade. Mitos advindos
5.3.5 Da moda
da crença de que tudo que é barato é ruim É inegável que a cachaça, desde a sua origem,
reforçam a “inferioridade” do produto. adquiriu uma imagem estigmatizada. No
entanto, há indícios de que ela vem tendo a
O mito da bebida popular – barata e destinada
sua representação modificada ao longo do
a pessoas de baixa renda – está cristalizado,
tempo, por causa, sobretudo, das influências da
há muito, na cultura brasileira e reforça a
representação positiva no exterior.
estigmatização negativa da representação.
Possivelmente, a representação negativa da
5.3.4 Brazilian brandy cachaça no Brasil ainda não regrediu por

A representação cultural da cachaça “tipo completo. É preciso mais tempo para que a

exportação” é melhor que a comercializada no representação positiva surta efeitos junto aos

mercado interno, embora sejam o mesmo produto, brasileiros e ao marketing.

modificando apenas embalagem e rótulo. A cachaça


Especula-se que a cachaça está em “alta”, que
tipo exportação não significa apenas um produto
não mais é bebida de pobre, que todas as classes
destinado ao exterior, mas um produto melhor.
sociais a consomem, contudo isso parece não

Fora do Brasil – a exemplo de Alemanha e de passar de um modismo. De fato, os preconceitos

Portugal –, a história da cachaça é diferente. contra a cachaça são advindos de ideias


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enraizadas na cultura brasileira e, portanto, a Ao contrário, as empresas do setor, por exemplo,


sua ressignificação não seria em tão curto prazo. agem individualmente. Elas veiculam campanhas
publicitárias que não demonstram a realidade e,
Ao se reconhecer a cachaça como uma bebida
portanto, não atingem o povo brasileiro. Esse é o
“da moda”, há de se reconhecer também a
caso das campanhas que mostram jovens bonitos,
importância da “bebida ‘da moda’” como
bem vestidos, em lugares atraentes, bebendo
um elemento que melhora sua imagem.
cachaças industriais, quando se sabe que eles
Na realidade, este mito, assim como o
não são o público-alvo desse tipo de cachaça. E,
do Brazilian brandy, ajuda a suavizar o
assim, têm-se, em verdade, um discurso vazio.
preconceito contra a cachaça.
13/17
A representação estigmatizada da cachaça
6 Conclusão no Brasil, enraizada há séculos, só poderá ser

Ao contrário do que se pensava no início revertida no campo cultural em médio e longo


prazos. E isso só ocorrerá a partir do momento

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deste estudo, os mitos não atribuem única e
exclusivamente conotações negativas à cachaça em que o povo brasileiro a compreender como um

no Brasil. De fato, atribuem também conotações dos elementos da sua identidade – elemento que

positivas. Entretanto, os mitos positivos não deve ser reconhecido como um símbolo nacional,

conseguem ressignificar a representação uma amostra da criatividade e da persistência de

cultural da cachaça e fazer com que ela se um povo, e, sobretudo, das suas classes

torne uma preferência nacional, em todas as menos privilegiadas.

classes sociais.
Aceitar que se atribua à cachaça uma imagem

Nesse sentido, não é uma ação de empresas exagerada e exclusivamente negativa é um

isoladas, ou de governo, ou de marketing – esta desserviço à cultura popular brasileira. A rigor,

última, aquela que o setor parece julgar ser a tal aceitação parece interessar a uma elite

mais eficaz –, que minimizará a estigmatização nacional preconceituosa, além de aos setores de

da imagem da cachaça e do seu consumo, mas bebidas concorrentes.

sim uma política conjunta entre os envolvidos.


Os mitos Brazilian brandy e da moda – surgidos

Grosso modo, não existem ações políticas a partir do senso comum e aproveitados,

conjuntas. Os envolvidos com o setor não formam oportunamente, pela mídia – são exemplos

uma rede coesa para lutar por ideologias comuns iniciais de soluções de ressignificação à cachaça.

a eles, como o melhoramento da representação


Um processo de estigmatização que se
cultural da cachaça no Brasil.
desenvolveu no Brasil a partir do período colonial
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naturalmente não será ressignificado com ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DA COMUNICAÇÃO


(Intercom), 28., 2005, Rio de Janeiro. Anais... Rio de
facilidade. Afinal, são séculos de uma imagem
Janeiro: Intercom, 5-9 set. 2005. [CD-ROM]
desfavorável, frente a algumas décadas de esforço
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The mythology in the cultural La mitología en la representación


representation of the cachaça: cultural de la cachaça:
negative image and attempt imagen negativa e intento
to reframe de resignificación
Abstract Resumen
The myths that permeate “cachaça” in the Fueron identificados los mitos que permean la
Brazilian culture were identified, based on the fact cachaça en la cultura brasileña, basada en el
that they favor the negative cultural representation hecho de que están a favor de la representación
– the image of an object on a particular culture – of cultural – la imagen de un objeto en una cultura
this drink. It was constituted a corpus of research particular – negativa de esta bebida. Se constituyó
characterized by establishing significant links un corpus de investigación caracterizado por
with the social practice in focus. The methodology establecer vínculos significativos con la práctica 16/17

adopted was semiology. Thus, five myths related social en enfoque. La metodología adoptada
to the cultural representation of the “cachaça” fue la semiología. Así, fueron identificados
were identified: “drunkard”, “discredit”, “popular cinco mitos relacionados con la representación
drink”, “Brazilian brandy” and “fashion”. It was cultural de cachaça: “borracho”, “desprestigio”,
concluded that, contrary to what was thought “bebida popular”, “brandy de Brasil” y “de moda”.

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before the beginning of the study, the myths do not Se concluyó que, contrariamente a lo que se
assign solely and exclusively negative connotations pensaba antes del inicio del estudio, los mitos
to the cachaça in Brazil. They also give it positive no se atribuyen únicamente a las connotaciones
connotations. However, the positive myths cannot negativas de la cachaça de Brasil. Le asignan
yet reformulate a new meaning to the cultural también una connotación positiva. Sin embargo,
representation of this drink. los mitos positivos todavía no pueden reformular

Keywords la representación cultural de esta bebida.

Cachaça. Cultural representation. Mythology. Palabras clave


Cachaça. Representación cultural. Mitología.

Recebido em: Aceito em:


20 de fevereiro de 2010 13 de maio de 2010
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A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Revista da Associação Nacional dos Programas
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Pós-Graduação em Comunicação.
(Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a Brasília, v.13, n.1, jan./abr. 2010.
produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos A identificação das edições, a partir de 2008,
em instituições do Brasil e do exterior. passa a ser volume anual com três números.

CONSELHO EDITORIAL João Freire Filho


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Afonso Albuquerque
Universidade Federal Fluminense, Brasil John DH Downing
University of Texas at Austin, Estados Unidos
Alberto Carlos Augusto Klein
Universidade Estadual de Londrina, Brasil José Luiz Aidar Prado
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Alex Fernando Teixeira Primo
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil José Luiz Warren Jardim Gomes Braga
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Alfredo Vizeu
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Juremir Machado da Silva
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Lorraine Leu
University of Bristol, Grã-Bretanha
Ana Silvia Lopes Davi Médola
Universidade Estadual Paulista, Brasil Luiz Claudio Martino
Universidade de Brasília, Brasil 17/17
André Luiz Martins Lemos
Universidade Federal da Bahia, Brasil Maria Immacolata Vassallo de Lopes
Universidade de São Paulo, Brasil
Ângela Freire Prysthon
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Maria Lucia Santaella
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Antônio Fausto Neto
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Mauro Pereira Porto
Tulane University, Estados Unidos
Antonio Carlos Hohlfeldt
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Muniz Sodre de Araujo Cabral
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
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Universidade de São Paulo, Brasil Nilda Aparecida Jacks
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
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Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Paulo Roberto Gibaldi Vaz
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
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Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Ronaldo George Helal
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Universidade Paulista, Brasil Rosana de Lima Soares
Universidade de São Paulo, Brasil
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Rossana Reguillo
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Francisco Menezes Martins
Rousiley Celi Moreira Maia
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Gelson Santana Samuel Paiva
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Goiamérico Felício Sebastião Albano
Universidade Federal de Goiás, Brasil Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Hector Ospina Sebastião Carlos de Morais Squirra
Universidad de Manizales, Colômbia Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil Universidade Federal Fluminense, Brasil
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Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Universidade de Brasília, Brasil
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COMISSÃO EDITORIAL
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Rose Melo Rocha | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
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Irene de Araújo Machado | Universidade de São Paulo, Brasil Julio Pinto
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Secretária-Geral
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Bruno Souza Leal | Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Ana Carolina Escosteguy
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REVISÃO DE TEXTO E TRADUÇÃO | Everton Cardoso
carolad@pucrs.br
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Roka Estúdio

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