Você está na página 1de 49

Introdução

O inconsciente e o consciente existem num estado profundo de interdependência recíproca e o


bem-estar de um é impossível sem o bem-estar do outro.

A consciência é o sonho mais profundo do inconsciente. Até onde se pode traçar a história do
espírito do homem, onde ele se desfaz do mito e da lenda, o inconsciente lutou incessantemente
para lograr uma percepção cada vez maior de toda sorte de formas não racionais de conhecimento
precioso, de riqueza inexaurível do significado a ser compreendido do inconsciente coletivo.

Tal percepção tem como objetivo carrear reforços destinados a expandir e fortalecer a consciência
o homem, empenhada numa campanha sem fim contra as exigências do cotidiano comum.

O Tarô tem sua origem em padrões profundos do inconsciente coletivo, e seu estudo proporciona
uma maior percepção desses padrões. Ponte não racional entre o consciente e o inconsciente,
ampliou a história e a nossa compreensão do papel de importante fonte não racional da
consciência.

Como figuras enigmáticas que surgem de repente em nossos sonhos para nos chamar a atenção,
significando os aspectos negligenciados por nós mesmos buscando reconhecimento.

Uma viagem pelas cartas do tarô, é uma viagem as nossas próprias profundezas; o que for
encontrado no caminho é um aspecto do nosso mais profundo e elevado eu.

As cartas do tarô nasceram num tempo em que o misterioso e o irracional tinham mais realidade no
cotidiano, como uma ponte efetiva para a sabedoria ancestral do nosso eu mais íntimo. Essa
sagrada e perene sabedoria é uma grande necessidade do nosso tempo – sabedoria para resolver
nossos problemas pessoais e sabedoria para encontrar respostas criativas às perguntas universais.

O tarô tem 4 naipes com 10 cartas numeradas em cada um deles. Em cada naipe (bastões/paus,
copas/taças, espadas/espadas e moedas/ouros) temos 4 cartas da corte: o Rei, a Rainha, o Valete e
o Cavaleiro, este jovem e ousado ginete montado num cavalo fogoso, desapareceu das cartas de
baralho atuais. O cavaleiro é importante porque precisamos da sua coragem e espírito de indagação
se quisermos que a nossa jornada seja bem-sucedida.

Essa jornada se dará com os 22 arcanos que não pertencem a nenhum dos 4 naipes, e a todos eles:
O Louco, O Mago, A Sacerdotisa, A Imperatriz, O Imperador, O Hierofante, Os Enamorados, O Carro
do Triunfo, A Justiça, O Eremita, A Roda da Fortuna, A Força Alquímica, O Enforcado, A
Transmutação, A Temperança, O Diabo, A Torre de Babel, A Estrela de Esperança, A Lua, O Sol, O
Julgamento e O Mundo.

Mantenedores de códigos chave pra além da mente racional, contam histórias pela imagem que
representam as experiências típicas encontradas ao longo do caminho da autocompreensão.

Arcanos, lâminas, cartas, trunfos, triunfos... na Renascença, foram assuntos de muitas pinturas,
sonetos e representações teatrais.

Através do tarô de Marselha, parte do conhecimento que em Avallon era material didático
amplamente utilizado, voltou ao conhecimento geral.

1
Para a finalidade de nosso estudo, o enfoque a ser tratado no tarô será a importante, real e
transformadora essência da emoção!

Pra isso, o tarô de Marselha é o mais indicado. Seus desenhos transcendem o pessoal, vem
desacompanhado de um texto explicativo e sua versão preserva, de um modo geral, o tom e o estilo
dos desenhos mais antigos, que nos oferecem uma história pela imagem em uma canção sem
palavras sugerindo sentimentos e introvisões.

...É mais ou menos como ler um livro ilustrado e percorrer uma galeria de arte. O livro estimula o
intelecto e a empatia, a galeria a imaginação. Ambos, combinados, viabilizam um mergulho em
nossa própria criatividade e experiência de amplificação e compreensão!...

Todo material simbólico deriva de um nível de experiência humana comum a toda a humanidade.
Suas imagens não nascem do nosso intelecto ordenado, e não se apresentam de maneira lógica.

Para manutenção do enfoque proposto, não faremos correlações com outras disciplinas e,
amplificando pela analogia, deixaremos o sentido final do símbolo como sempre livre.

Por definição, o símbolo representa alguma coisa que não pode ser apresentada de nenhuma outra
maneira e cujo significado transcende todos os específicos e inclui muitos opostos aparentes. Algo
muito distante da nossa compreensão intelectual.

Assim sendo, podemos fazer melhor conexão com seu significado através da analogia com mitos,
contos de fadas, dramas, quadros, acontecimentos históricos, filmes, romances, novelas, ou outro
material com motivos similares que evoquem universalmente grupos de sentimentos, intuições,
pensamentos ou sensações.

As figuras do tarô estão sempre presentes em nossas vidas, surgindo durante o sono e nos
instigando a ações criativas durante o dia, fazendo travessuras com os nossos planos lógicos e
estabelecendo conexões com nossas esperanças e desejos mais secretos.

2
Mapa da Jornada:

Povoamos o mundo exterior de feiticeiras, princesas, diabos e heróis do drama sepultado em nossas
próprias profundezas.

Tais projeções são úteis instrumentos à conquista do autoconhecimento, como reflexos de espelho
da nossa realidade interior.

Os trunfos são ideais para esse propósito porque representam simbolicamente as forças instintivas
que operam de modo autônomo nas profundezas do nosso inconsciente.

Seu caráter é universal, as variações de cultura para cultura, de pessoa para pessoa que as imagens
podem assumir não alteram seu caráter essencial.

São diversas as técnicas de contato com as cartas, assim como a forma como reagimos a cada uma
delas.

Sua ordem numérica cria um padrão de acesso ao nosso interior:

Aborde cada carta diretamente antes de ler a seu respeito; isso lhe oferece uma oportunidade de
reagir com liberdade e franqueza ao que nela esteja retratado.

Escreva tudo que lhe vier a cabeça! Ideias, lembranças, reações e associações. Por mais forçado
que pareça, não censure nada, pois esse material poderá ligá-lo a introvisões importantes mais
tarde.

Não tentando rotular, avaliar e analisar o que foi escrito, quando vier a conhecer o trunfo em
questão, será interessante confrontar suas primeiras impressões com suas reações mais recentes.

Contente-se, enquanto isso, em guardar esse material como se fosse um poema. Mantendo a razão
a mão, pois como são gente da imaginação o holofote do intelecto as farão correr se esconder.

Colorir as cartas é uma maneira lúdica de buscar-lhes a essência, acrescentando uma nova
dimensão à sua compreensão.

Atraindo os personagens do tarô pro nosso mundo, podemos conhecê-los melhor, examinando os
símbolos, sentimentos e intuições que eles inspiram, percebendo como são isentos de rótulos de
certo ou errado, pois todo material simbólico abarca muito opostos, incluindo aparentes paradoxos.

Vivemos a maior parte do tempo condicionados, num mundo de opostos fixos (ou/ou).

Mas no mundo dos sentimentos, intuições, sensações e ideias espontâneas geralmente usamos:
Ambos/E, com o coração leve e a mão livre.

É preciso consciência de mente, que não se pode dar definições precisas aos símbolos, e que quanto
menos consciência se tem das forças arquetípicas, mais elas nos governam a vida.

A dimensão final do estudo, com profundidade, é explorá-los plenamente.

3
O Louco

Andarilho livre para viajar à vontade, perturbando não raro a ordem preestabelecida..

Liga dois mundos – o mundo cotidiano e a terra não-verbal da imaginação. Move-se livremente
entre os mundos e às vezes os confunde um pouco.

Ele sem dúvida observa e relata o que fazemos. Aparecendo súbita e inesperadamente ora aqui, ora
ali, e depois desaparecendo antes que possamos agarrá-lo. Gosta de estar onde está a ação e,
quando não há nenhuma, a cria.

Em algumas cartas o louco é retratado vendado, enfatizando sua capacidade de introvisão,


utilizando sua capacidade intuitiva em lugar da lógica convencional.

Seu espontâneo estilo de vida combina sabedoria, humor, sandice e desatino. Geralmente os
resultados são milagrosos, mas quando essa combinação coalha acabando em confusão o louco,
sendo sandeu, tem o bom senso de não se levar a sério porque sabe que o mais alto conhecimento é
admitir a ignorância, condição necessária de todo saber.

Nosso louco interior nos empurra para a vida, onde a mente reflexiva é cautelosa.

Vê-lo dançar é sondar o mistério de toda a criação!

Caminha pra frente, mas olha pra trás, ligando a sabedoria do futuro à inocência da infância.

4
Sua energia tem um propósito próprio, move-se fora do espaço-tempo. Habitam-lhe o espírito os
ventos da profecia e da poesia.

Sem morada fixa, subsiste intacto. Sua roupa multicor faz girar a roda do arco-íris e nos oferece
vislumbres da eternidade.

Em perpétuo movimento, dança através das cartas, ligando o fim ao princípio – interminavelmente.

Suas vestes coloridas e extravagantes simbolizam, por excelência, os pares de opostos, indicando
um espírito discordante. No entanto, dentro daquele caos aparente, se apresenta uma ponte entre o
mundo caótico do inconsciente e o mundo ordenado do consciente.

Sua função é recordar-nos da nossa mortalidade e das loucuras que todos fazemos, ajudando a nos
resguardar do pecado da arrogância.

A ambivalência e a ambiguidade o tornam criativo. Ele abarca todas as possibilidades!

Sua presença serve às forças governantes de lembrete constante de que o impulso para a anarquia
existe na natureza humana e precisa ser levado em consideração.

Aceito como parte integrante e importante nos revitaliza com ideias frescas e novas energias, mas
para termos acesso à sua vitalidade criativa precisamos aceitar seu comportamento não-
convencional.

Sem as observações inesperadas e seus bem-humorados conselhos, nossa paisagem interna


provavelmente não passaria de um deserto estéril.

Admitir o louco em nossa vida é admitir nossa própria loucura, toda vez que o fazemos num
momento de conflito, os resultados são desarmantes! Não encontrando resistência, o antagonismo
fica com a cara no chão, a hostilidade acaba em risos e todos os participantes meneando a cabeça
diante da insensatez!

A energia que despendíamos defendendo nossa própria estupidez é agora liberada para um uso
mais criativo. Enfeitiçador, pode nos desviar de maneiras não convencionais de pensar e levar-nos
de volta a simplicidade infantil.

Mantendo um bom relacionamento com ele, podemos jornadear em sua companhia entre os
mundos, desde que complementemos sua vitalidade e criatividade com nosso intelecto ordenado,
para não nos perdermos no mundo instintual, voltado somente a uma atitude experimental da vida.

Nos próximos 21 arcanos observaremos o Louco nas vinte e uma fases ao longo do caminho da sua
transformação.

Deus tocou o Louco de muitas maneiras. Revelam-se seres humanos de profundidade e sabedoria
incomuns.

No tarot de Marselha, o Louco tem o número zero.

5
Como as estrelas, os números brilham com uma realidade eterna, projetando luz sobre seu caráter e
destino. São chamados de ossos do universo porque são arquétipos que simbolizam as inter-
relações de todas as coisas, mortais e imortais.

As palavras expressam as ideias do homem; os números a realidade de Deus/Deusa.

O conceito de zero, desconhecido do mundo antigo, só apareceu na Europa a partir do século XII.

Seu uso ampliou a capacidade de pensar do homem. O sistema decimal concretizou o assombroso
paradoxo de que o “nada” é realmente alguma coisa, ocupando espaço e contendo poder!

No velho jogo italiano tarocchi, o Louco não tem valor por si mesmo, mas aumenta o de qualquer
carta com que seja combinado.

A iridescência do Louco não pode ser apresada em palavras.

Seu riso é para lembrar-nos de que o humor é um ingrediente importante em todas as relações e
um artigo necessário para qualquer viagem.

Do toque do Louco ninguém se recupera.

E quem haveria de querer recuperar-se?!

6
O Mago

Sua energia é dirigida para os objetos à sua frente, que ele dá atenção especial, colocados sobre a
mesa da realidade para que, dentro de seus limites, a sua energia não extravase ou fuja dele. Ele,
evidentemente tem um plano, simbolizando um fator em nós que dirige essa energia e ajuda a
humanizá-la, visto que empunha uma varinha.

Grande iniciador do processo de autocompreensão e guia de nossa viagem pelo mundo de nossos
eus mais profundos.

O homem sempre reconheceu a existência de um poder que transcende o ego, e procura interação e
compreensão do mesmo através de ritos mágicos. Como o Louco, o Mago acha-se à vontade dentro
do mundo transcendental, onde o bufão nos ensina pelo riso e o Mago através da mistificação.

Como número um, interessa-lhe descobrir o princípio criativo único por trás da diversidade, quer
manipular a natureza e suas energias.

O Mago de Marselha segura a varinha numa das mãos e, na outra, uma moeda de ouro,
simbolizando o poder de domar a natureza e canalizar-lhe as energias para um emprego criativo.

Como a própria consciência humana cria maya, a ilusão mágica das “dez mil coisas.” Transformando
e transmutando traz a luz a consciência que debaixo das “dez mil coisas”, todas as manifestações,
elementos e energias são uma só.

7
Ele nos ajuda a compreender que o universo físico não resulta do Poder Original da Vida atuando
sobre a matéria, resulta antes do Poder da Vida atuando sobre si mesmo.

A magia é às vezes chamada ciência das relações ocultas, uma base essencial dessa arte é a
revelação.

O Mago tem o poder de revelar a realidade fundamental, o estado de ser que constitui a base de
tudo. Representa um aspecto de nós mesmos realizador de prodígios, que pode adivinhar as fontes
ocultas da vida e abri-las para uso criativo, onde os milagres só acontecem em resposta a uma
necessidade que transcende o ego.

Descendente do astuto Mercúrio, o Mago herda-lhe honestamente a duplicidade, também


mensageiro dos Deuses, liga o interior e o exterior, o acima e o abaixo compartilhando de ambos.

A versão de Marselha oferece o pleno encantamento das múltiplas facetas do Mago. Sua roupa
multicolorida insinua a incorporação de muito elementos díspares, seus remendos coloridos
deliberadamente sugerem oposição e interação, contraste e coordenação, suas cores vibrando
alternadamente parecem emitir faíscas de energia elétrica.

Sua antítese criativa é ainda mais evidente pelo chapéu de aba de lemniscata (sinal matemático que
representa o infinito), cujo contorno é quase hipnótico, demonstrando o movimento dos opostos
como símbolo chinês do Tai Chi que mostra a interação incessante do yang e do yin, forças positiva
e negativa inerentes a todo universo dual demonstrando o movimento perpétuo da criação. O
símbolo do infinito pode ser viso também como um par de óculos, cujo uso viabiliza o vislumbre de
novas dimensões de realidade.

As experiências que o Mago oferece são na realidade um fenômeno natural, tão inerentes e
arraigadas a nossa natureza, quanto as plantas debaixo de seus pés.

A roupa do Louco não tem nenhum toque de verde, pois não está plantado em nossa realidade, sua
é a energia que flui livremente. O Mago organiza essa energia criativa para incorporá-la na
realidade consciente.

O barrete do Louco é amarelo (poder flamejante do Sol), em sua extremidade está presa uma esfera
ou uma campainha vermelha, a aba de infinito do chapéu do Mago representa sua doação/empenho
incondicional na tarefa diante de si. O amarelo do ouro está presente nos cabelos e na coroa do
chapéu do Mago.

Sua varinha é um instrumento destinado a concentrar e dirigir energia que precisa de direção, onde
ocorre somente com a cooperação consciente do homem, que modula as mesmas criando harmonia
e ritmo. Segura a varinha com a mão esquerda, indicando que seu poder é antes de um treinamento
resultante de seu refinado intelecto, um dom natural acessado diretamente no inconsciente.

Sua natureza de um lado nos ajuda no contato com o Grande Círculo da Unidade e, por outro, a
separar-lhe os elementos para exame, revelando para nosso entendimento sua unidade essencial.

8
Inteiramente absorto, em perfeita concentração, dominando a intrincada coreografia da revelação,
demonstrando a correspondências entre o núcleo central e seus envoltórios e suas
correspondências. Os alquimistas chamavam isso de “a libertação do espírito escondido ou
aprisionado na matéria”, trabalhando com os elementos, alcançavam uma conexão intuitiva com
sua natureza interna através de uma correspondência com os mesmos (Na Terra como no Céu).

Resumidamente, nosso Mago interior personifica o “espírito criador do mundo, escondido e


aprisionado no inconsciente” nossa tarefa aqui é libertá-lo para a luz da percepção consciente de
modo a funcionar como “substância transformadora”.

Através da consciência humana com os arquétipos inconscientes, percebemos a Criação como um


processo contínuo, não estático ou fixo, mas fluido em sua eterna dança cósmica onde participamos
como cocriadores. O Mago de Marselha simboliza bem o processo.

O número um, simbólico do poder penetrante masculino, yang, leve, ativo e penetrante, associado
ao céu e ao espírito, mas que possui ambiguidades ocultas, contido em si mesmo princípio feminino,
a energia yin. Como o peixe branco yang do símbolo do Tai Chi que possui os olhos escuros da
energia yin.

A palavra magia é afim da palavra imaginação, ingrediente necessário para toda criatividade. O que
poderia acontecer se todo ser humano vivo “Imaginasse” a Não-violência!!!!

9
A Sacerdotisa

Figura feminina substancial, representando assim, o poder espiritual além da sua pessoa individual.
Vaso da transformação, por onde somente através da receptividade yin, o espírito se faz carne. Ela
capta a centelha divina propagada e celebrada pelo ativo yang; a protege e nutre, gerando assim
uma nova realidade.

Segura um livro aberto, símbolo da Sabedoria Divina. Seu número dois é sagrado para todas as
divindades femininas. Através dela, o espírito será trazido à realidade.

Sua tiara indica fertilidade perpétua, organização instintiva e nutrição doadora de vida, ocorre nos
três mundos: o celestial, o físico e debaixo d'água.

Em suas costas estendeu-se um grande véu sustentado por dois pilares, demonstrando que sentada
à sua entrada, é guardiã de seus mistérios.

A tiara e o livro indicam também contenção e tradição, e os pilares, as limitações da dura realidade.
Seu poder vem pela lenta persistência, amor e paciência femininas, representada pela água: o poder
frio, escuro e fluido da Lua.

O número dois expressa o paradoxo de sua dualidade. Ela, que é a mãe da vida em toda a sua
plenitude, preside também a morte, demonstrando incansavelmente que somente a luz do espírito
é imortal.

10
A magia da sacerdotisa é velada e oculta como seus cabelos, e permanecerá assim inacessível à
penetração da consciência meramente racional masculina.

Dela é o reino da profunda experiência interior. Guardiã do mistério do nascimento e do


renascimento, os guarda, porém não os controla.

Princípio feminino que personifica o nascimento no corpo e o renascimento numa nova dimensão
de percepção. Essa nova percepção é a libertação da humanidade à subserviência do princípio
masculino negativado, cuja autonomia acabou por se converter em tirania.

Podemos esperar que esteja prestes a nascer um novo papel, tanto para os homens como para as
mulheres. A ajuda nesse processo vem da consciência e de como pode operar em nós o Sagrado
Masculino e o Sagrado Feminino, cuja interação motiva e ilumina nossas vidas.

Em termos gerais, esse arcano representa a feminilidade de um eu espiritualizado.

O poder mutável da lua é muito sutil, porém muito forte, como o da Grande Deusa, que baseada
pelos ritmos Universais traz a seu tempo a nutrição doadora de vida, as secas ou as enchentes... A
natureza feminina é refletiva, por isso, em geral, tem mais consciência das suas influências e aceita
com mais facilidade os ritmos da natureza, em detrimento aos sistemas de lógica.

Assim percebemos que é do inconsciente que nasce a consciência.

Em sua força e significado originais, virgem quer dizer, não casada. Livre, pertencia a si mesma, e de
um modo especial, aberta ao Espírito Santo. Necessariamente forte, robusta e sólida.

11
A Imperatriz

Seu cetro comprova sua capacidade de conexão com a ligação céu/terra. Evidenciado pelo modo
como o trono lembra um par de asas de ouro. A águia também de ouro é outra prova de sua
conexão com o espírito, sugerindo a liberação e transformação que ela abraça gentilmente. Seus pés
tocam firme o chão, comprovando sua ação no plano físico, cujo foco é a espiritualização dos
instintos.

A Imperatriz governa intuitivamente, seu domínio é flexível, pela forma como segura o cetro fica
claro que o poder do amor lhe é mais claro que o amor ao poder. Toda vez que encontrarmos nossa
vida bloqueada por rígidas dicotomias, podemos procurar-lhe a ajuda!

Tanto a sacerdotisa, quanto a Imperatriz incorporam o princípio feminino, presidindo


conjuntamente aos 4 mistérios: formação, preservação, nutrição e transformação, cada qual
enfatizando aspectos diferentes. A sacerdotisa é virgem, já a Imperatriz, a Madona e Rainha
Imperial, a sacerdotisa paciência e espera, a Imperatriz ação e conclusão.

Em resumo, a sacerdotisa segura o livro da profecia e a imperatriz realiza a profecia.

A natureza da Imperatriz é mais sociável, não esconde os cabelos deixando-os cair livremente, veste
uma túnica e uma camisa ornamentadas com graciosos bordados e faixas. Usa uma coroa aberta, de
centro carmesim, simbolizando o quente amor materno.

12
Numerologicamente, o um do Mago mais o dois da Papisa, adicionados um ao outro, produzem o
número 3 da Imperatriz, que une esses opostos e a ambos abraça. De um modo geral o número três
reflete em todos os conjuntos de trindades: Criação, Manutenção e Transformação; passado,
presente, futuro; mãe, pai e filho; Ísis, Hórus e Osíris.

O número 3 cria o triângulo, uma figura plana com princípio, meio e fim. Uma realidade tangível à
experiência humana, onde a intenção divina se concretizou.

Considerada a base desse triângulo, a Imperatriz se manifesta como pura criatividade. Uma de suas
principais funções é ligar as energias primárias yin e yang dando-lhes corpo no mundo da
experiência sensorial. Portadora da semente da qual brotará a percepção transcendental de que o
espírito e a carne podem ser experimentados como um só.

A Imperatriz tem muitas facetas, todas ativas hoje em dia! Generosa, ousada e, inovadora, não raro
marca o caminho para os que buscam autoexpressão. A chave de seu poder é o amor e a inspiração
ativa. A força de sua personalidade nos impele a testarmos nossos limites. Tocada por Vênus, ama a
beleza em todas as suas formas e naturalmente tende a criar combinações que revelem algo
interessante.

Negativada, sua fertilidade torna-se desenfreada levando ao excesso de indulgência e estagnação.


Ciumenta , possessiva e dominadora, tornar-se-á asfixiante. Por vezes é representada como um
dragão ambicioso e sedento de poder. Tal aspecto torna aparente que seu verdadeiro reino foi
negligenciado, sua força não concilia mais de maneira sutil e gentil, tornando-se o estridente amor-
poder que negligencia o Relacionamento em suas inúmeras formas. Por isso se a tratarmos com
paciente civilidade, certamente mostrar-se-á mais cordial e menos ressentida, tornando-se mais
acessível a infinita variedade de nossos potenciais, viabilizando uma compreensão ainda mais
profunda de nosso poder criativo.

13
O Imperador

Princípio masculino ativo, vem prestar auxílio compartilhando responsabilidades. Complementa,


com seu conhecimento racional, o impulso intuitivo de ação da Imperatriz. Um não funciona
criativamente sem o outro. Simbolizam a união harmoniosa de suas energias complementares e dos
seus respectivos reinos igualmente divinos.

O Imperador ordena pensamentos e energias, ligando-os a realidade de um modo prático. Sua


liderança tem como objetivo, inspirar e proteger a civilização.

Apresenta-se informalmente sentado, no campo de ação, como um líder prático, aberto e


intimamente ligado à espécie humana e suas atividades. Traz em sua cabeça um elmo de campo,
cujas linhas elegantes se repetem na ornamentação da cadeira régia e no escudo, ficando evidente
que seu império possui refinamento cultural. Porém nem sempre foi assim. Reparem na mão que
segura o cetro, em contraste com a mão esquerda. Seu império ele conquistou a duras penas. O
Imperador aqui retratado transcende o pai meramente pessoal, ou mesmo o líder de um clã ou
estado homogêneo, já que seu império abrange diversos povos e climas.

A vida em comunidade é o passo intermediário indispensável entre a identidade inconsciente


experimentada na infância e o ponto de vista mais consciente e individual da idade adulta.

14
O seu escudo, também com uma águia de ouro, já não mais necessário à defesa, simboliza sua
conexão com os poderes celestiais. Ave de rapina, a águia nos lembra que o uso inadequado do
poder transforma o direito divino em força do ego. Enquanto a águia da Imperatriz parece alçar
voo, simbolizando o espírito masculino da esposa que enxerga longe, a águia do Imperador
mantém-se numa postura protetora.

O número quatro simboliza a totalidade, indicando nossa orientação para a dimensão humana. Seu
equivalente geométrico, o quadrado, assim como os quatro pontos cardeais da bússola, impede de
nos sentirmos perdidos em áreas não mapeadas; as quatro paredes de um aposento dão uma
sensação de contenção segura, que nos ajuda a concentrar energias e focalizar com precisão a
atenção de modo racional e humano.

De maneira semelhante, o espírito diretor do Imperador nos ajuda a examinar as realidades e nos
referir a elas de modo consciente e criativo, trazendo permanência, estabilidade e perspectiva.
Representa o princípio do qual depende a fertilidade e o bem-estar do reino.

Se, ele for ferido, toda a comunidade sofrerá.

Tanto cultural quanto pessoalmente, o número quatro do Imperador anuncia um novo começo, o
princípio simbolizado pelo verbo. Deixamos o mundo não verbal do feminino cuja expressão é
através da dança, imagens e música, para entrarmos no mundo das palavras, cuja magia nos ajuda a
nomear e classificar, conhecendo o mundo mais objetivamente. Dar nome as coisas é uma parte
importante da tarefa do Imperador, longe de ser uma questão puramente intelectual, o
descobrimento do nome correto para as coisas é uma arte criativa, que envolve sentimento,
intuição, faculdade pensante e uma boa conexão com a experiência sensorial.

O Imperador reina essencialmente por meio do pensamento, o fato objetivo é a verdade honesta. A
Imperatriz por meio do sentimento, o fato interior é igualmente importante. O trabalho conjunto e
por vezes alternado poderá encontrar uma solução legítima para um fato da realidade externa,
levando em consideração o igualmente importante sentimento interno.

15
O Hierofante

Sentado no trono, ladeado por dois cardeais e pelos dois pilares atrás, reitera o seu número cinco.
Número simbólico da quinta essência, a preciosa e indestrutível qualidade só conhecida do homem
que transcende os quatro elementos na sua busca de conexão com a divindade.

Figura poderosa, liga os mundos interno e externo de maneira consciente e franca. Sua função é
tornar acessível ao homem o mundo transcendental até aqui alcançado apenas pela intuição. O
hierofante lhes oferece a sabedoria de um sistema de valores coletivos para apoiá-las e guiá-las ao
longo do caminho.

Sua mão direita erguida revela dois dedos estendidos, a indicar que os problemas morais que
envolvem opostos estão sob seu domínio, para serem reconhecidos e manipulados. O polegar e os
dois dedos restantes, que ele mantém escondidos, podem significar que a Trindade é um mistério
sagrado. Segura a chave desse mistério na palma da mesma mão, demonstrando sua habilidade de
interpretar a lei espiritual e servir de ponte entre o código e sua aplicação prática.

Sua mão empunha o cajado que lhe simboliza o cargo. Ele segura o cajado com a mão esquerda;
governa mais pelo coração do que pela força da vontade.

16
Os dois sacerdotes simbolizam os muitos impulsos gêmeos na natureza religiosa humana, que só
agora está tomando consciência, como os conflitos entre o fato exterior e o seu significado interior.
Ajoelhados de costas para nós, demonstra que, embora esteja emergindo, a percepção dos opostos
ainda é inconsciente. Não enfrentam os conflitos diretamente: voltam-se para o Papa em busca de
orientação. Inclinam-se diante de sua autoridade. Com sua barba patriarcal e suas vestes ondeantes,
representa o papel de mãe e pai, expressando a preocupação da Igreja pelo desenvolvimento
pessoal de cada um dos seus paroquianos, embora enuncie, preserve e defenda a lei geral. Em
contraste com a Papisa, que se comunica amplamente através da intuição e do sentimento, o Papa
organiza e verbaliza suas ideias, juntando-as num sistema formal, racional. Suas preocupações são
mais abrangentes que as do Imperador, sua preocupação vai além do bem-estar físico e social dos
súditos, se preocupa também com o mundo interior da consciência e da responsabilidade. É nesse
ponto que o homem emerge como entidade separada e começa a experimentar a própria qualidade
de ser em relação com os poderes supra-pessoais. Sem essa interação entre o humano e o
transcendente a consciência humana não poderia evoluir e amadurecer.

O número cinco ajusta-se perfeitamente a tudo o que foi dito a respeito desse personagem. Ele
encarna os quatro elementos comuns a toda a criação, sintetizando-os através do Um do espírito,
que é a província especial do homem. O cinco possui a qualidade mágica de quando elevado ao
quadrado, sempre volta sobre si mesmo. Cinco é três mais dois: combina a Trindade do espírito
com a dualidade humana. Como quatro mais um também personifica a quinta-essência, a preciosa
substância além dos quatro elementos. Como todos os números ímpares, o cinco é considerado
masculino e portador de uma valência especial do espírito. O pentagrama, estrela da síntese
universal, significa ordem.

O Papa interior é a função em nós mesmos que nos governa o bem-estar espiritual, a consciência
inata que nos diz quando negligenciamos de alguma maneira o Espírito. A cautela deve ser
redobrada em relação a julgamentos em geral.

17
Os Enamorados

A carta número seis dramatiza um problema específico e muito humano: um moço envolvido com
duas mulheres. Precisa, portanto, encontrar, dentro de si mesmo, a força para enfrentar a
confrontação; precisa assumir, sozinho, a responsabilidade por qualquer ação que pratique.
Envolvido de corpo e alma, vê-se que cada uma exerce uma influência definida sobre ele.

A mulher de toucado tem a mão possessivamente sobre seu ombro, enquanto a loira parece tocar-
lhe mais de perto o coração. Acima dos três um arqueiro alado.

Enamorado o jovem se acha, imobilizado entre as duas mulheres, sua cabeça voltada pra uma e o
resto do corpo pra outra. Dividido por impulsos conflitantes, dividido dentro de si mesmo.

Cada uma exerce uma atração mágica sobre ele, de um modo compulsivo e misterioso. Quando se
conectar com esse poder internamente, a projeção criada não mais lhe manipulará as emoções e a
vida. Ambas possessivas, afiguram-se a primeira vista; uma um tipo maternal oferecendo apoio,
proteção e sustento; a outra cujos cabelos são parecidos com os dele indica afinidade natural entre
ambos.

A maturidade que sua decisão requer demonstra a necessidade de conciliação entre todos os
envolvidos, cuja decisão consciente tem de vir do jovem enamorado, a fim de ser senhor de si
mesmo.

18
O Papa oferece iniciação na vida do espírito, neste arcano o desafio consiste em ligar a vida
espiritual à emocional.

O conflito é a essência da vida, o pré-requisito necessário a todo o crescimento espiritual, como o


sabiam os velhos alquimistas.

Somente através da tomada de consciência dos nossos conflitos, do seu enfrentamento e da


resistência que lhe opomos podemos ao resolver a situação em questão, encontrar paz autêntica.

Paradoxalmente, entrar numa profunda análise para resolução de um conflito significa mergulhar
no mesmo mais e mais profundamente e ao mesmo tempo experimentar reinos ainda mais
profundos de autopercepção e consequentemente paz genuína.

O enamorado precisa se decidir e assumir a responsabilidade por tudo o que resultar da sua
escolha; entretanto, um fator divino representado pelo cupido influirá na decisão, comprovando
que sem intensidade emocional nenhuma transformação ocorre.

Numa profunda experiência de Amor, o “fogo divino” inicia a condição necessária para o
autoconhecimento e consequentemente transcendência do ego, cuja chama purifica a existência
puramente centrada no ego, (re)criando a correta harmonia entre o espírito e instinto.

O número seis é único de muitas maneiras. Somando um, dois e três voltamos ao seis. É o único
número considerado masculino e feminino ao mesmo tempo. Retratado como a estrela de seis
pontas, cujo triângulo superior é conhecido como triângulo de fogo e o inferior como de água. Dessa
forma sua união representa o espírito masculino e a emoção feminina, o macro e microcosmo,
criando uma forma nova e brilhante.

19
O Carro

O trunfo número sete mostra um jovem e vigoroso rei postado diante de nós em toda a sua glória,
parece saber onde vai e já estar a caminho. As quatro colunas, os dois cavalos e o rei formam o
número sete, cujo carro é um veículo de poder e conquista em que o herói pode viajar pela vida a
fim de explorar suas potencialidades e pôr à prova suas limitações; um veículo para nosso
autoconhecimento, onde a jornada exterior é um símbolo da jornada interior.

Aprendemos a respeito de nós mesmos através do envolvimento com outros e do enfrentamento


dos desafios do nosso meio, oferecendo durante a jornada inúmeras oportunidades de novas
percepções e experiências.

Simbolicamente, o carro tem poderes celestiais. Na Cabala é o meio de transporte que se utiliza
para a alma humana se unir à alma do mundo e a Divindade.

No tarô de Marselha, as rodas do carro são colocadas de viés de maneira singularíssima


pretendendo mostrar suas qualidades mágicas. São com efeito tronos móveis, ainda observável nos
dias de hoje durante as procissões religiosas onde o Papa é carregado.

20
Na carta, junto as quatro colunas, o rei representa um elemento quintessencial, sendo por nascença
um personagem real, dotado de poderes e privilégios especiais, mas reduzido a dimensões
humanas, apesar de ser colocado acima da humanidade comum. Sua coroa de ouro, como um halo,
liga-o à iluminação e à energia do Sol. Age com força diretiva no centro do veículo, trazendo consigo
nova energia e novas ideias.

O Carro permite maior latitude e flexibilidade; sua força motriz é fornecida pelos dois cavalos,
formando uma parelha insólita, um muito vermelho enquanto o outro é azul, acrescentando sabor e
espírito à nossa vida e simbolizando os polos da energia animal que existe em toda a natureza,
sendo o aspecto físico pintado de vermelho e o espiritual de azul. Para nosso pasmo, os cavalos não
tem rédeas, para dirigir um veículo desses o condutor precisa ter poderes suprapessoais. Sua
jornada exigirá força, coragem e determinação.

Simbolicamente, representa o impulso para a consciência mais elevada. O jovem rei terá de passar
por muitas provas se quiser estabelecer uma firme identidade e manter um duradouro
relacionamento com o princípio diretivo interior. Haverá inúmeras provas pelo caminho; uma delas
poderá ser teatralizar a viagem apenas no nível externo e, pelo jornadear compulsivo, evitar o
desafio da busca interior e o repouso necessário à sua realização.

Sintonizado com o destino, ele não dirige nem é dirigido, viaja pela estrada acidentada com uma
graça natural. Sua essência é o movimento.

A vitalidade do trunfo é visível nos rebentos verdes surgidos no primeiro plano. O número sete liga-
o ao fado, ao destino e à transformação. Assinala o início de uma nova era, apropriadamente
denominada reino do equilíbrio. Aqui apreende suas primeiras intuições, embora fugazes; tem a
percepção de que são instrumentos através do qual o seu eu mais profundo encontra manifestação.
O problema mais importante agora é o equilíbrio.

Cada um de nós tem um carro à nossa disposição, pronto para quando quisermos embarcar numa
viagem imaginativa pelo nosso espaço interior!

21
A Justiça

Lá está, grandiosamente sentada, incorruptível e onisciente. Os dois pratos da balança, vazios,


prontos para aceitarem e receberem a dualidade humana.

Só na medida que aceitamos essa nossa natureza seremos capazes de abordá-la e compreendê-la .

Nesse momento da jornada precisamos assumir a plena responsabilidade por nossas ações.

O número desta carta é o oito, repetido em sua forma no eixo da balança e no encaixe dos dois
pratos redondos da balança, mostrando o envolvimento dos dois eixos celeste e terreno
conjuntamente na consecução do equilíbrio.

O simbolismo da Justiça acentua sistematicamente uma união harmoniosa de forças opostas.

A grande figura feminina sentada em seu trono mostra a força compassiva do sagrado feminino. No
entanto, empunha uma espada e usa um elmo, demonstrando que a força e a coragem do sagrado
masculino também fazem parte de todo o processo. A espada ereta, como se pode segurar um cetro
ou cajado, com a ponta voltada para cima, como que buscando orientação divina, enorme, de ouro, o
que enfatiza ainda mais o seu valor permanente.

22
O momento de responsabilização chegou (com o fio do discernimento), é hora de atravessar
camadas de confusão e ilusão, por mais caras que nos pareçam ser, para revelar a Verdade Única!
Não é mais possível viver a vida de maneira ilusória. Para continuarmos a jornada, é necessário
ajustamentos para se manter intactas as decisões fiéis ao espírito.

Na mão esquerda segura a balança; seus dois pratos, símbolos da receptividade feminina contrasta
com a inflexível e singular afirmação da espada masculina, que juntas formam a cruz da luta
espiritual contra o hedonismo e o apego. A Justiça apresenta-se como mediadora entre as duas
realidades.

A noção de totalidade e equilíbrio desse trunfo sugerem complementaridade dos opostos em um


eterno bailado de compensação.

A forma como os pratos se opõem ilustra bem o significado original da palavra oposto. Existem
numa oposição amistosa semelhante em relação um ao outro, criando fluidez tão somente, sem
qualquer implicação de hostilidade e conflito. Sua essência é um movimento perpétuo e gentil. Os
pratos da balança de ouro pode ajudar a recuperar o equilíbrio sempre que nos dispusermos a
meditar sobre eles, na medida que nossas confrontações diárias ocorrem.

A figura ponderosa da Justiça mostra em plenitude o sentido real de que a aplicação da lei é uma
operação de sentimento, onde a verdade é um pré-requisito estabelecido que exerce sempre uma
benigna influência. Ela não se ocupa da moralização severa de crime e castigo. Dedica-se, antes, à
restauração das leis universais da harmonia e do equilíbrio criativo.

Todos precisamos estabelecer contato com um princípio de harmonia e equilíbrio universais, para
termos certeza de que, por trás de todas as aparentes injustiças, existe um Grande Conselho, onde
podemos pleitear sempre a nossa causa, cujo Equilíbrio Uno que permeia todo o Universo são
Verdade, Justiça, Amor e Perdão.

23
O Eremita

O monge aqui retratado personifica uma sabedoria que não se encontra em livros, seu dom é tão
elementar e perene quanto o fogo de sua lâmpada, vive no silêncio, por isso não nos traz sermões.
Com sua presença ilumina e aquece nossos corações.

Uma figura assim personifica “o arquétipo do espírito”, uma figura muito humana, um simples
andarilho com apenas sua lampadazinha para lhe iluminar o caminho. Ao contrário do papa porta-
voz e árbitro das leis gerais, ou da balança pesando os imponderáveis.

Como o louco, é um andarilho; ambos irmãos de espírito.

Nosso ancião, assimilou as experiências do passado, contente com o presente imediato, seus olhos
estão sempre abertos para recebê-lo, seja lá o que for de acordo com sua própria iluminação.

Enquanto a ênfase principal do papa é a experiência religiosa sob condições prescritas, o eremita
mostra a possibilidade de iluminação individual como potencial humano universal, colocada até
certo ponto, ao alcance da humanidade.

24
A chama que ele carrega representando o espírito quintessencial , a chama dourada capaz de
dissipar o caos e as dúvidas de ordem espiritual, sabendo ele que seu lume precisa ser
cuidadosamente controlado para ser útil. Sua lanterna possui venezianas vermelhas cuja
representação remete a humanidade em carne e osso.

No entanto, percebe-se o empobrecimento paralelo do espírito humano, privando-nos do eu “não-


descoberto” e suas preciosas reservas de energia primeva e sabedoria antiga, e uma crescente
necessidade de busca universal em muitos níveis de respostas.

Seu manto azul, cor celestial, com seu forro amarelo sugerindo uma conexão com o ouro espiritual,
representado assim uma nova luz e novas esperanças que se encontram, profundamente
encerradas no cerne da natureza humana.

O Eremita foi capaz de descobrir dentro de si o que a sociedade moderna ignorou ou perdeu, sendo
capaz de projetar sua luz antiga nos problemas contemporâneos. Nesse momento a sociedade de
modo geral encontra-se vazia de significação. A busca dessa centelha divina só termina quando a
redescobrimos e a alimentamos, transcendendo as meras preocupações/necessidades do ego.

Os seres humanos de todas as idades, ao flutuarem no “pântano cultural”, separados do deus em seu
interior, procurarão o espírito em toda parte – frequentemente em lugares profanos.

Procuramos o velho sábio porque ele pertence à nossa natureza instintual, cujas respostas
permitem respostas para nossa ansiedade e temores da civilização moderna.

Um olhar dirigido aos olhos bondosos do velho monge, enquanto segura a lanterna bem alto e
prescruta a escuridão, percebemos que sua jornada não foi penosa, e que seu caminhar proporciona
a força de um exemplo do compartilhar de sua sabedoria e espiritualidade sem sermões ou criticas,
mas com o sincero acolhimento de um simples sorriso quando não há nada há ser dito.

25
A roda da fortuna

Aqui nesse arcano o reino do equilíbrio mostra a questão central do destino X livre-arbítrio, cuja
essência é o movimento.

Nessa carta vemos dois seres dando voltas, impotentes, na Roda sempre girante; parecem presos
numa gangorra sem sentido, dos opostos complementares da natureza operando em todos nós.

Acima da roda percebemos um ser governante, dúbio e por consequência amoral, que guarda a roda
(com uma autoridade representada pela coroa e pela espada), mas que não lhe fornece a força
motriz.

A tarefa aqui é liberar nossa consciência das energias animais presas na ronda instintual repetitiva.

Encontrando uma maneira de transcender essas limitações, obtemos a consciência desse


mecanismo tornando-o acessível ao uso humano. Isso ocorre ao compreendermos que a vida se
apresenta como um processo, um sistema em constante mutação.

Envolve igualmente a integração e a desintegração, a geração e a degeneração, fundindo-as


sutilmente umas nas outras, num eterno ciclo não sequencial no tempo, num sistema de igualdade e
relação mútua, onde nenhuma posição é preferível a outra.

26
As reflexões sobre as eternas revoluções da Roda nos permite perceber a simultaneidade de todos
os opostos como complementos, como nascimento e morte, experimentando um mundo não criado
no tempo – que começa e acaba interminavelmente.

A grande questão é aceitar integralmente essa realidade, a ideia de que os momentos de nossas
vidas não são acontecimentos jorrando do nada, mas sim um processo em constante mutação em
que podemos nos envolver num relacionamento de responsabilização de que cada ato vem com
uma consequência.

Que na verdade somos nós que criamos nossa realidade, porém dentro de moldes pré-
determinados que viabilizam nossa evolução/aprendizado.

É a percepção de que a vida é um eterno aprimorar, sempre.

Assim sendo, podemos visualizar o giro incessante da Roda através do espaço-tempo de tal maneira
que nos vemos voltando sempre “ao mesmo lugar”.

A roda girante em muitas culturas é um símbolo da jornada interior rumo a consciência.

27
A Força

A partir desse ponto, a jornada se voltará para uma maior necessidade de introvisão espiritual.

O foco sairá cada vez mais das energias de sobrevivência e competição, nutrindo agora um sentido
de unificação e desenvolvimento adicional.

O arquétipo aqui representa o poder de mediação, inspirada pelo refinamento, diplomacia e


educação, pessoal e direta, residente dentro de todo ser em sua polaridade feminina ativa.

A figura feminina aqui representada é repleta de compaixão diante da natureza primitiva e


instintual, orgulhosa de si mesma e expondo livremente sua essência.

Ela é capaz, com a força e firmeza de sua delicadeza, de lidar de maneira coerente, destemida e
carinhosa com os mais passionais instintos que por nós, na grande maioria das vezes, são temidos
e/ou negados.

Toda vez que tentamos virar as costas para essa parte “animal” em nós ela se torna ainda mais
exigente. Manifesta muita vezes por doenças psicossomáticas, ou por excessos de qualquer
natureza, que sempre ocorrem quando nos recusamos a manter um relacionamento saudável e
respeitoso com nosso lado instintual. Somos animais que se desenvolveram de modo especial, com
o impulso consciente de evolução.

28
O papel do sagrado feminino aqui é celebrado e muito necessário como mediadora.

Simbolicamente, essa maga lida com uma força natural que precisa ser integrada de maneira
respeitosa e gentil, devido à pureza de sua natureza instintiva, imune à ambição do “homem
civilizado”.

A perda de contato com nosso lado instintual precipita ao caos natural da raiva/fúria represadas,
que, sem prévio aviso, jorram com força descomunal desconcertando nosso cotidiano a qualquer
momento.

Os instintos suprimidos e feridos e/ou os não reprimidos são a real ameaça da atual civilização.

Quer gostemos ou não, a natureza animal é nossa companheira por toda vida, e assim sendo, é sábio
aceitarmos e buscarmos um pacífico convívio.

É certo que nossas almas animais almejam um convívio benéfico com nossa alma humana.

29
O enforcado

Nesse trunfo um moço está dependurado de cabeça pra baixo, com um semblante sereno,
conquistado pela sábia resignação de que é inútil se rebelar com a situação.

Para o homem ocidental é estranho tolerar a inatividade forçada, pois perdeu o contato com a
dimensão de profundidade.

Aqui nosso herói vislumbra a situação em si como uma oportunidade de nova percepção do mundo,
como uma ação libertadora a ser encarada com humildade e paciência, onde é muito importante
não perder o que é real e perene, e aproveitar esse momento precioso de crescimento, vindo
através do desapego.

Quando isso ocorre, experimentamos uma nova autoridade, com a calma e a confiança de quem
desvendou um segredo: a inevitabilidade/necessidade de quando em quando sairmos de nossa
zona de conforto, com coragem e firmeza, agradecendo incondicionalmente essa sagrada
oportunidade de crescimento.

Vendo a vida de um novo ângulo, experimentamos com muita competência o renascimento, o


ressurgir para um mundo novo, sagrado e eterno em detrimento do mundo comum.

Iniciações assim ocorrem em vários momentos de nossas vidas, onde é colocado à prova nossa
capacidade de colocar em ação novas/desconhecidas reservas de energia.

30
Ao sacrificarmos (tornar sagrado) nossas imagens centradas no ego espontaneamente, não mais
haverão rupturas de como as coisas deveriam ser e de como elas são de fato.

Aceitaremos com mais vontade os ciclos de introversão que viabilizam uma ação mais efetiva.

Teremos a real percepção que o estar “indefeso”, é na realidade um desafio e não um castigo.

Com a nossa cooperação voluntária, com o consentimento do coração e da alma, poderemos acessar
um poder celestial que viabiliza uma nova conexão com o universo.

Quando aceitamos o destino, estamos de certa forma o escolhendo e assim o transcendendo através
do consentimento.

Tendo superado todos os desafios, nossa jornada será trilhada de maneira mais consciente e
dedicada.

E é, compreendendo/aceitando que é apenas através da renúncia dos nossos apegos, que somos
capazes de aceitar plenamente a força impessoal do crescimento e desenvolvimento.

Estamos constantemente predispostos a dar mais valor às realidades óbvias presentes no mundo
externo do que as do mundo interno. Fomos condicionados a isso, e requer muita força de vontade
para quebrar esse paradigma, cujo resultado é invisível ao mundo profano.

O enforcado tem a oportunidade sagrada de explorar a vida contida dentro dele.

E isso só possível com gratidão e reverência.

31
A Transmutação

O décimo terceiro trunfo retrata a ideia de revitalização, renovação e regeneração, sempre baseado
numa estrutura de ordem universal, simbolizado aqui pelo esqueleto, que ceifa incansavelmente
nossa realidade sempre que ela se encontra pronta pra passar por um novo estágio de existência.

É aquele momento em que percebemos a necessidade de cortar de nossas vidas o que não nos serve
mais, porém é necessário querermos muito fazê-lo, pois a tendência a manter velhos hábitos é forte,
pois não demanda muito trabalho mantermos por perto o que nos é conhecido.

Essa carta é como um diagrama universal, que revela o funcionamento interior das coisas, da nossa
criação e de toda a criação, um modelo do modo como as coisas funcionam.

Impessoal e universal, o esqueleto é o nosso segredo mais pessoal, nossa base enterrada dentro de
nós mesmos, o nosso eu mais verdadeiro. Porém, somos capazes de senti-lo somente, é esse o nosso
contato com o mesmo, porque não o vemos a olho nu.

Esse arcano inclui muitos pares de opostos:

A ceifa em formato de meia lua representa os ciclos intermináveis do vir a ser e torna a existir, que
para se manifestarem a seu tempo é indispensável que aja a dissolução do antigo.

32
Para celebrar o novo é preciso desapegar do velho em gratidão e reverência.

A morte é fundamental para a vida, pois sua promessa de transmutação, harmonização e


purificação se inclui em todas as possibilidades, não é vingativa, tem simplesmente uma tarefa a
executar, um horário a cumprir no grande calendário cósmico.

Intelectualmente, dizemos a nós mesmos que a morte faz parte da vida, mas como entramos num
acordo com a nossa própria mortalidade?

Na verdade, aceitar e confiar na morte é aceitar e confiar na vida em toda a sua plenitude.

Aceitar como um fato a existência de novas dimensões de realidade, de percepção espiritual, torna a
morte uma passagem, uma porta a ser atravessada para um mundo radiante no futuro.

No entanto, o desafio da morte se apresenta de uma forma singular e especial a cada vez que a
experimentamos, apesar de que, em sua essência real, morrer seja uma experiência comum.

A grande dificuldade é contemplar e aceitar verdadeiramente o desconhecido em qualquer


contexto, seja ele qual for.

Sempre que o espírito fica para trás, obstrui o fluxo natural da vida, reprimindo a corrente vital com
hábitos “mortos” e conceitos antiquados.

Na verdade viver a vida plenamente é a maneira natural de abordarmos a morte.

As coisas desse mundo só podem ser abandonadas e a morte efetivamente bem recebida através da
iluminação de uma experiência que transcende todas as outras coisas.

33
A Temperança

Essa lâmina simboliza tradicionalmente a dissolução de velhas formas e o desatamento de laços


rígidos, anunciando uma libertação do mundano, a capacidade de associação de ideias de maneira
mais coerente e consciente.

Essa alquimia funde em si mesma dois aspectos ou essências opostas/complementares que juntas
produzem a energia vital em suas inúmeras manifestações.

O anjo da temperança inspira a interação e harmonia cotidiana e a capacidade de nos mantermos


acima das questões mundanas. Ele posta-se diante de nós tranquilamente como uma presença
permanente, na incansável ação de verter; com sua serenidade nos mostra que no universo existem
forças que vão além, e que somente confiando nesse fluxo experienciaremos a verdadeira harmonia
que existe no vir a ser e tornar a existir.

A principal mensagem dessa carta é a percepção da importância da interação do individual com o


coletivo de maneira sempre e cada vez mais harmoniosa, compreender que as energias criativas
não são dirigidas simples e somente pela força de vontade para os canais escolhidos pelo ego,
requer antes paciência.

Em qualquer nível de significação, a reconciliação dos opostos não é puramente uma questão de
lógica e razão, é antes uma oportunidade de experienciarmos o ritmo do universo em seu fluxo
infinito, restabelecer um contato cada vez mais consciente com o mistério.

34
Seu simbolismo é impessoal e abstrato, nos oferecendo uma visão do ponto de vista da eternidade,
que existe atrás do mundo de aparências. Ela é alada, mas está com os pés no chão, mostrando se
compartilhar do céu na terra.

O anjo restabelece uma conexão entre o mundo cotidiano e o tempo sagrado, seu auxílio é prático e
vital para quando surge a necessidade de reconciliar o mundo dos sonhos com o mundo da vida
cotidiana, cuja manutenção só será possível por nós mediante a tentativa e erro.

A temperança limpa nossas percepções equivocadas, nos mostrando que a ligação entre o divino e o
humano é imutável. Esse processo circular contínuo resume a relação entre o inconsciente coletivo
e a realidade do ego do homem.

Daqui por diante será possível conferir a mesma validade ao interior e exterior.

Na filosofia medieval a temperança, em seu sentido literal, é simplesmente moderação.

Essa “moderação alquímica” opera uma linda transição entre o mundo dos problemas morais e o
mundo da iluminação divina.

A dança da temperança não segue uma lógica exata, segue antes um curso espiral alternado.

35
O Diabo

Seu pecado, a arrogância, foi criado naturalmente pela prepotência e ambição em demasia.

Sua figura arquetípica remonta direta e indiretamente a mais alta antiguidade, mas somente na
cultura judaico-cristã adotou gradualmente características mais humanas. Significando que
estamos cada vez mais preparados para vê-lo como exatamente é, um aspecto de nós mesmos a ser
tratado com respeito e cuidadosamente. Ele age sempre que a mente racional adormece, o que não
é necessariamente uma coisa ruim, nosso medo dele sim é algo ilógico. Ele retrata simplesmente
nossos anseios mais profundos e secretos, egoisticamente falando. Intuitivamente tememos essa
capacidade de navegar às escuras, no entanto, essa mesma capacidade,, se usada a nosso favor, o
torna um anjo guardião capaz de enxergar antecipadamente o que nos passa desapercebido. Ele na
verdade é o reflexo “invertido” de nossa natureza primordial. No universo dual, ele é o contraponto
entre luz e sombra.

Porém, mais do que qualquer outro arquétipo é muito importante lidarmos com ele, com o cuidado
de jamais nos identificarmos para que não nos tornemos o próprio.

A segurança complacente do amor pacífico por ele sempre foi sentida como maldição, ele arma
confusões porque ele mesmo está confuso. Através do livre-arbítrio, suas energias continuam a ser
dirigidas mais para o conflito e mais para o poder, até que se entenda que sua busca de
conhecimento sempre vem através do conflito gerado por suas indagações e questionamentos.

36
Ele retrata a nossa necessidade de evolução, de sair da zona de conforto do comportamento
automático, da experiência da dualidade como forma de alcançar o discernimento entre os instintos
e a espiritualidade. Ele busca significado para a existência, é impelido pela mesma, mas na maioria
das vezes, sem a menor noção do que fazer. Impelido pelo que pode ser, chamado de
“desobediência” a uma ordem pré estabelecida, e esse é o real motivo de seu poder nos aterrorizar.

Ele prova que a obediência automática não permite a real liberdade, pois não nos
responsabilizamos com maturidade por cada um de nossos atos.

As religiões e filosofias orientais consideraram o aspecto demoníaco como parte da divindade, uma
das inúmeras máscaras de Deus.

O descaso com essa polaridade complementar do universo dual é a principal responsável pelo
sofrimento solto no mundo, hoje.

Quando aspectos negativos de nós mesmos não são reconhecidos começam a agir no exterior.

A palavra hebraica diabo significa hostil adversário, mas a ideia de que a divindade tem um aspecto
de sombra, abrangendo todos os opostos, possuindo características brilhantes e redentoras, em
nossa cultura pode nos parecer chocante.

Qualquer impulso manifestado inconscientemente é potencialmente perigoso e nocivo.

À medida que se expande, a consciência se torna mais refinada.

De modo que a máxima: Aumento de poder é aumento de responsabilidade, passa ser uma
realidade cotidiana indispensável.

37
A Torre

A conexão entre a torre do tarot e a de babel é proposital, na gravura vemos que a altivez dá lugar
para exposição e confusão.

A função da torre é elevar a mente e o coração do homem proporcionando meios para uma conexão
divina mais estreita, onde se perceba a manifestação do céu na terra, desfazendo assim o
rompimento ilusório de que realmente existe uma interação entre o espírito e a matéria.

No entanto, aqui representada mostra que, selada no topo, seus dois moradores não são capazes de
reconhecer autoridade alguma acima de sua própria criação, vivem como prisioneiros de suas
mentes e corações frios e escuros, como a torre por eles materializada, cuja estrutura rígida não se
deixa penetrar pelos elementos, é uma construção baseada em palavras e ideias.

Quem vive num plano acima da terra geralmente perde contato com ela, com seu aspecto natural e
instintual. Assim sendo, uma intervenção divina aqui se faz necessária, marcando o fim de uma fase
e o início de outra.

Essa intervenção sempre vem de maneira inesperada, para que não nos pegue totalmente de
surpresa é importante que fiquemos atentos aos sinais que prenunciam a tempestade....

38
O baralho de Marselha pinta o relâmpago em sua forma mais benéfica e criativa, embora
surpreendentemente forte e duradoura, vem como uma ação libertadora de um estado de
encarceramento voluntário e nocivo.

Pelo amor divino, a nossa torre não foi totalmente destruída, antes sua coroa foi derrubada,
simbolizando assim a oportunidade de contato com a energia vital e seus ciclos, nos mostrando
nossas próprias limitações até então desconhecidas. Essa revelação divina num primeiro momento
é comumente sentida como uma catástrofe, pois o pensamento racional é excessivamente
valorizado pela sociedade moderna.

O raio significa mudança súbita, inesperada e irresistível, que nos ajuda a aumentar a percepção de
áreas de nossas vidas que até aqui foram ignoradas.

Todo o cenário dessa lâmina nos mostra que, na verdade, o caos propriamente dito é uma
oportunidade de crescimento e evolução.

Se com nosso livre-arbítrio escolhermos amaldiçoar, ao invés de agradecer essa dolorida, porém
preciosa oportunidade de crescimento, estaremos nos retirando da vida em si mesma, de todos os
seus contrastes e oportunidades de crescimento, estaremos negando, nossa unidade e interação
com a natureza e seus ciclos.

Assim sendo uma ação vigorosa se fez necessária e sempre a será, cada vez que tentarmos nos alçar
acima do bem e do mal.

39
Estrela da esperança

Nesse arcano descobrimos, pela primeira vez, uma figura despojada de seu intelecto negativo e
pretensioso. De joelhos, diante da água corrente, interage com a mesma de maneira consciente
dividindo e separando. Medita sobre significados que se inter-relacionam interna e externamente.
Seu estado reflexivo mostra sua sutil relação com o céu atrás dela, com suas estrelas como
presenças também interiores, influenciando suas ações.

Se move somente sujeita ao ritmo da natureza; livre da nossa sociedade orientada para o
masculino, nos mostra pelo seu exemplo humilde e eficaz como utilizar o ritmo interior em
harmonia com o ritmo do Universo em constante movimento.

Entramos aqui numa nova dimensão de realidade, dentro da qual as vicissitudes da vida serão
vistas sob o aspecto da eternidade; que a manifestação das leis cósmicas são na verdade
derramadas sempre, como um bálsamo curativo.

As sete estrelas em torno de uma estrela dupla central, representam a roda do sol. A grande estrela
sugere uma nova visão da totalidade ao alcance da consciência total.

Nesse cenário calmo e natural, há lugar para contemplação, e espaço para o crescimento silencioso,
viabilizando um interagir cada vez mais conscientemente com o Todo.

Assim, o espírito humano começa finalmente a se libertar, de maneira serena, silenciosa e


introspectiva. Passamos a regar, cultivar e plantar nossos sonhos na realidade exterior!

40
Nutrindo nossos sonhos, redimimos potenciais até então ocultos, utilizando na vida diária intuições
e introvisões livres da excessiva racionalização e revivificadas pelos sentimentos e pela emoção.

Ao contato com o elemento água, a mulher estrela parece chorar; liberando também suas águas, ela
é capaz de diluir aspectos rígidos da personalidade para poder acessar novas imagens, ideias e
impulsos libertadores que viabilizem uma ação cada vez mais integrada dos diferentes aspectos de
nossa personalidade.

Ela não consulta livros; lida simplesmente com o material que a natureza lhe apresenta.

Ela sabe ouvir sua alma em harmonia com a natureza, criando uma nova realidade capaz de
impregnar a vida de um novo significado e um novo propósito.

As duas árvores simbolizam o eu universal, nos recordando das gêmeas: a Árvore da Vida e a
Árvore do Conhecimento, onde uma nos leva a viver e a outra a conhecer a vida.

O pássaro empoleirado numa delas nos mostra a conexão entre Céu e Terra; ele alça voo, mas
também se nutre das águas e frutos.

Percebemos nesse trunfo que a jornada para a consciência é contínua e circular; percebemos a
oportunidade de trabalhar com padrões recorrentes até então desapercebidos.

41
A lua

Essa lâmina apresenta uma paisagem misteriosa, desolada e sobrenatural; vivenciar essa jornada
interna requer coragem e confiança em si mesmo. Essa é a hora da verdade, rumo a auto-
compreensão, onde temos a oportunidade de não recuar, indo fundo rumo ao desconhecido abismo
de nossa própria natureza, onde ao emergirmos sairemos renascidos e fortalecidos.

Sua referência aqui é o rosto da lua, símbolo de esperança e promessa. Promessa de uma nova
realidade, não mais baseada no ego mas no eu imortal.

Diz-se que amorosamente a lua, todas as noites, reúne os sonhos esquecidos pela humanidade,
devolvendo-os à Terra como orvalho; essas lágrimas nutrem toda a vida sobre a Terra, nos
permitindo uma conexão maior com nossos valores perdidos. Sua ação compassiva não permite que
nada de valioso para o crescimento do homem se perca.

Sua natureza é a reflexão, onde os segredos da natureza só se revelarão através do contato íntimo
de uma mão delicada e de um coração compreensivo.

O lagostim simboliza nossa natureza ancestral, resistente a mudanças, e até então desprezada. Uma
prova muda da estrutura resistente que sustenta toda a vida.

42
Dois impulsos opostos/complementares, são aqui representados pelo lobo e pelo cão; a fera em nós
mesmos e o animal domesticado representam a relatividade de todos os opostos, das tendências
instintuais que nos protegem e que também, até certo ponto, nos guiam o caminho.

Guardas as torres douradas de nosso lado puramente intelectual.

Ao realizarmos essa travessia, nos comprometemos realmente com nossa espiritualidade e com o
desenvolvimento da mesma. Aqui, nenhum desvio é possível. Confrontados, nos deparamos com os
desafios impostos pelo caminho.

Aqui a pálida e fria luz da lua contrasta e complementa a luz do sol . Sob o brilho lunar, assustador a
princípio, experimentamos a vida com um novo olhar, cujo brilho bruxuleante é capaz de dissolver
categorias definidas e compartimentadas.

A lua é doadora de sonhos, reveladora de mistérios ocultos.

A lua a todos contempla – em silêncio.

No escuro da lua, o sol se prepara para nascer.

43
O sol

Benévolo, o sol surge em toda a sua glória; com seu brilho e fulgor, nos apresenta um mundo em
harmonia, cheio de novas oportunidades.

O deleite é o segredo, o crescer em quietude, de onde toda a vida emerge delicadamente, de onde o
dia é um eterno amanhecer de potencialidades ,agora acessadas conscientemente como uma nova
maneira de experienciar o mundo conhecido, sem nenhum assombro de dúvidas.

O jardim murado é local seguro e sagrado, onde as crianças brincam em harmonia e alegria, sem
medo ou repulsa, numa aceitação amorosa e respeitosa do modo de ser de cada uma. Aqui não
existe o medo do diferente, ele não é ameaçador.

As crianças representam a proximidade com a natureza manifesta em todas as coisas, com


espontaneidade e pureza. Aqui o corpo e a alma estão representados como iguais, interagindo,
interligados de amor compassivo.

O sol retrata a reconexão com a experiência direta da divindade iluminadora da vida transcendente,
como um momento mágico de iluminação espiritual, aqui agora, onde a natureza de um ego maduro
capaz de se relacionar naturalmente com o eu, conscientemente espiritualizado, onde juntos,
criarão um mundo novo, numa interação direta e mais humana.

44
Isso só será possível quando o corpo e suas sensações forem clareadas, saciadas e purificadas,
possibilitando uma conexão com o espírito de maneira ainda mais consciente.

Essa experiência interna só surge como a corporificação de todos os opostos, quando através de um
reconhecimento de sua relação cada qual recebe o que lhe é devido, transformando assim,
naturalmente, suas relações com o mundo externo; uma união final de todas as forças opostas,
capazes de juntas criarem energia pura, fonte de toda a vida.

A cada dia o sol traz consigo uma nova luz e novas oportunidades, renovando a fé num cosmo
ordenado, não linear, evocando o sentimento de reciprocidade mútua.

Para receber sua luz de maneira benéfica, primeiro precisamos reconhecer nosso espaço sagrado e
nele construir um jardim.

O sol anuncia um novo período de luz e nutrição, de renascimento para a luz. É um momento de
efetuação, de deixar para sempre o mundo de opiniões estéreis e dogmas formais, para ingressar no
mundo ensolarado da experiência direta e do conhecimento puro.

45
O julgamento

Nessa carta vemos um rapaz que se ergue do túmulo renascido, cuja consciência foi alcançada
basicamente através da desidentificação com o eu pensante, cujo uso excessivo do pensamento
lógico é inútil.

Descobre que todo o seu aprendizado até aqui é, na verdade, um processo de resgate de si mesmo.

A consciência de que toda vez que resgatamos algo devemos pagar o preço da responsabilização
por nós mesmos, enfrentando o desafio da nova luz.

Para lhe dar as boas vindas, vemos um anjo e duas figuras humanas, em postura de solene oração,
pelo regresso do moço são e salvo, e pela perspectiva de vê-lo ingressar numa nova vida!

Este, de sua sepultura, ergue os olhos para o céu à procura de orientação, pois agora ouve o
chamado de servir a um poder acima e além de si mesmo.

O anjo aqui surge com um pronunciamento desafiador, de que uma nova vida surge poderosa, onde
não se antecipava nenhuma; ela surge naturalmente, como fruto do fluxo da vida em si mesma, do
incessante nascer/crescer/morrer/renascer.

46
É hora de colocar à prova nosso poder pessoal. Não há mais como negar que é possível sermos
felizes, completos e realizados, nesse corpo, aqui e agora.

No julgamento aceitamos que uma força celestial opera em nós e além de nós. Ao interagirmos com
ela, nossa existência ganha um sentido real.

A intuição integrada ao nosso intelecto renasce saudável e revitalizada, com a percepção de que, na
verdade, nunca houve separação entre ambas, pois são naturalmente complementares.

Até aqui demos uma ampla volta em torno de elementos específicos, que sempre viabilizaram uma
maior compreensão de nós mesmos.

O julgamento dramatiza o renascimento espiritual de diversas maneiras, todas elas como uma
promessa de integração crescente de nossas potencialidades a serviço de um viver mais coerente e
responsável.

47
O mundo

Nessa gravura final, vemos uma figura andrógina, pertencente a um mundo transcendental.

Segura em cada mão um bastão, símbolo dos polos opostos de energia positiva e negativa, se
movimentando de modo compensatório e recíproco.

A grinalda elíptica indica um entrelaçamento harmonioso de todos os aspectos da natureza,


formando um contínuo sagrado, sSeparando tudo que não é significativo e essencial.

Dentro dela a figura se movimenta livremente, em seu próprio espaço se expressa de maneira livre
e consciente. Não se expõe exageradamente, mantendo seu eu resguardado e protegido.

Ela dança numa renovação criativa sem fim., cuja arte consiste em nos movermos pela vida
cotidiana de maneira natural e espontânea, sem nenhum outro propósito senão o de simplesmente
ser, num ritmo do presente, sempre mutável.

Experimentamos um sentimento de estarmos em terra firme dentro de nós mesmos, num trecho de
eternidade interior que nem mesmo a morte pode tocar.

Nos tornamos agora cientes dos eternos ciclos de nascimento/crescimento/morte/renascimento,


os aceitando como algo simples e natural, passamos a reagir com a razão e a emoção de uma
maneira mais profunda e consciente.

48
A consciência ampliada passa a ser uma função de relação com o mundo dos objetos, cujo foco deixa
de ser nossos temores, esperanças e ambições pessoais.

As quatro figuras nos cantos montam guarda com eterna vigilância; simbolizam o estado de
desenvolvimento em que a abertura de nossa percepção está agora para o coletivo, a noção de um
mundo mais amplo, onde a unidade entre carne e espírito, céu e terra é reiterada.

Testemunham a dança da vida de um modo natural, não-científico, onde o amor divino é a chave do
mistério de toda a vida.

A vida, como nos mostrou o tarot, é processo em movimento, onde o segredo da serenidade é
interagir de maneira destemida e bem- humorada, com cada desafio/aprendizado que surgir.

Percebemos, que o mundo não é o fim da jornada, mas a inspiração para uma eterna viagem de
descobertas!!!

A meta só é importante como ideia.

O essencial é o que conduz à meta.

Essa é a meta de toda a vida.

49

Você também pode gostar