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Disciplina 03
Disciplina 03
3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – Visão constitucional do direito ambiental
6 2.1 A urgente e necessária constitucionalização do Direito ambiental
SUMÁRIO
20 3.1 Direito Administrativo
23 3.2.1 Indireta
25 3.2.2 Direta
UNIDADE 1 – Introdução
precaução. 2004).
prevenir é agir antecipadamente a fim de causar lesão a bens ambientais deve ser
evitar danos graves e irreparáveis ao meio responsabilizado por seus atos, reparan-
ambiente. do ou indenizando, de forma adequada,
os danos causados.
Enquanto doutrinadores como JOSÉ
AFONSO DA SILVA (2003) e TOSHIO MUKAI Esse princípio está previsto no § 3º do
(2002) sequer citam a precaução como art. 225 da Constituição Federal, citado
princípio do Direito Ambiental, outros anteriormente.
como CELSO ANTÔNIO PACHÊCO FIORILLO
A primeira parte do inciso VII do art.
(2003), EDIS MILARÉ (2004), LUÍS PAULO
4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio
SIRVINSKAS (2005) preferem adotar o
da responsabilidade ao determinar que a
princípio da prevenção como sinônimo ou
Política Nacional do Meio Ambiente visará
como gênero de que o princípio da precau-
à imposição ao poluidor e ao predador da
ção é espécie.
obrigação de recuperar e/ou indenizar os
Com efeito, existe uma grande seme- danos causados ao meio ambiente.
lhança entre o princípio da precaução e
O inciso IX do art. 9º dessa Lei também
o princípio da prevenção, qual seja, o pri-
prevê o princípio da responsabilidade ao
meiro é apontado como um aperfeiçoa-
classificar como instrumento da Política
mento do segundo. Prova disso é que os
Nacional do Meio Ambiente as penalida-
instrumentos da Política Nacional do Meio
des disciplinares ou compensatórias ao
Ambiente que se prestam a efetivar a
não cumprimento das medidas necessá-
prevenção são apontados também como
rias à preservação ou correção da degra-
instrumentos que se prestam a efetivar a
dação ambiental.
precaução (FARIAS, 2006).
O princípio da responsabilidade tam-
Nesse sentido temos a opinião de
bém foi consagrado pelo inciso VII do art.
ANA CAROLINA CASAGRANDE NOGUEIRA
4º e no § 1º do art. 14 da referida Lei ao
(2004) para quem o “princípio de precau-
dispor, respectivamente, que a Política
ção”, por sua vez, é apontado, pelos que
Nacional do Meio Ambiente visará à impo-
defendem seu status de novo princípio
sição, ao poluidor e ao predador, da obriga-
jurídico-ambiental, como um desenvolvi-
ção de recuperar e/ou indenizar os danos
mento e, sobretudo, um reforço do princí-
causados e, ao usuário, da contribuição
pio da prevenção. Seu fundamento seria,
pela utilização de recursos ambientais
igualmente, a dificuldade ou impossibili-
com fins econômicos, e que sem obstar a
dade de reparação da maioria dos danos
aplicação das penalidades previstas neste
ao meio ambiente, distinguindo-se do
artigo, é o poluidor obrigado, independen-
princípio da prevenção por aplicar-se es-
temente de existência de culpa, a indeni-
pecificamente às situações de incerteza
zar ou reparar os danos causados ao meio
científica.
ambiente e a terceiros, afetados por sua
O princípio da reparação ou da res- atividade, prevendo ainda que o Minis-
ponsabilidade, decorrente do princípio tério Público da União e dos Estados terá
da prevenção, orienta que aquele que legitimidade para propor ação de respon-
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sabilidade civil e criminal por danos causa- OCDE – em 26 de maio de 1972, por meio
dos ao meio ambiente (FARIAS, 2006). da Recomendação C(72) 128 do Conselho
Diretor, que trata da relação entre as po-
O princípio da qualidade prescreve
líticas ambiental e econômica (ANTUNES,
que as normas de direito ambiental devem
2005).
se orientar para o fato de que o meio am-
biente deve ter qualidade propícia à vida A segunda parte do inciso VII do art. 4º
saudável e ecologicamente equilibrada. da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio do
poluidor-pagador ao determinar que a Po-
O princípio da participação popular
lítica Nacional do Meio Ambiente visará à
ou gestão democrática decorre da ne-
imposição ao usuário de contribuição pela
cessidade de uma democracia participa-
utilização de recursos ambientais com
tiva, bem como do fato de que cuidar do
fins econômicos.
meio ambiente não é tarefa apenas do Es-
tado, mas de toda a sociedade civil. Assim, A Declaração do Rio de Janeiro sobre
é fundamental um espaço de diálogo e co- Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-
operação entre os diversos atores sociais, bém dispôs sobre o princípio do poluidor-
seja para a formulação e execução de uma -pagador ao estabelecer no Princípio 16.
política e de ações ambientais, seja para
O princípio do poluidor pagador tem
a solução de problemas. Como exemplo
sido confundido por grande parte da dou-
deste princípio temos as audiências públi-
trina com o princípio da responsabilidade.
cas e os conselhos de recursos hídricos.
Contudo, o seu objetivo não é recupe-
O objetivo do princípio do poluidor- rar um bem lesado nem criminalizar uma
-pagador é forçar a iniciativa privada a conduta lesiva ao meio ambiente, e sim
internalizar os custos ambientais gerados afastar o ônus econômico da coletividade
pela produção e pelo consumo na forma e voltá-lo para a atividade econômica uti-
de degradação e de escasseamento dos lizadora de recursos ambientais (ANTU-
recursos ambientais. NES, 2005).
Esse princípio estabelece que quem Nesse sentido, destaca PAULO DE BES-
utiliza o recurso ambiental deve supor- SA ANTUNES (2005, p. 37) que o princípio
tar seus custos, sem que essa cobrança do poluidor pagador parte da constatação
resulte na imposição de taxas abusivas, de que os recursos ambientais são escas-
de maneira que nem Poder Público nem sos e o seu uso na produção e no consumo
terceiros sofram com tais custos. Como acarretam a sua redução e degradação.
afirma PAULO AFFONSO LEME MACHADO Ora, se o custo da redução dos recursos
(2001, p. 47), ao causar uma degradação naturais não for considerado no siste-
ambiental o indivíduo invade a proprieda- ma de preços, o mercado não será capaz
de de todos os que respeitam o meio am- de refletir a escassez. Tanto por isso são
biente e afronta o direito alheio. necessárias políticas públicas capazes de
eliminar a falha de mercado, de forma a
O princípio do poluidor-pagador foi in-
assegurar que os preços dos produtos re-
troduzido pela Organização para a Coo-
flitam os custos ambientais.
peração e Desenvolvimento Econômico –
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Como bem afirma JOSÉ AFONSO DA SILVA bem como os terrenos marginais e as praias
(2004), corroborando com outros doutri- fluviais;
nadores, a CF de 1988 tratou a matéria em
V - os recursos naturais da plataforma
seus termos mais amplos e modernos, com
continental e da zona econômica exclusiva;
a questão do meio ambiente permeando
todo o texto, sempre correlacionada com os VI - o mar territorial;
temas fundamentais da ordem constitucio-
nal.
VII - os terrenos de marinha e seus acres-
cidos;
Abaixo, transcrevemos alguns artigos
que trazem para o texto constitucional
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
componentes de interesse ambiental natu- IX - os recursos minerais, inclusive os do
ral ou social: subsolo;
Art. 5º, LXXIII: qualquer cidadão é parte X - as cavidades naturais subterrâneas e
legítima para propor ação popular que vise os sítios arqueológicos e pré-históricos.
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe, à mo- Art. 21: Compete à União: [...]
ralidade administrativa, ao meio ambiente e XIX - instituir sistema nacional de geren-
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o ciamento de recursos hídricos e definir cri-
autor, salvo comprovada má-fé, isento de térios de outorga de direitos de seu uso;
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
XX - instituir diretrizes para o desenvol-
Art. 6º: São direitos sociais a educação, a vimento urbano, inclusive habitação, sane-
saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segu- amento básico e transportes urbanos;
rança, a previdência social, a proteção à ma-
ternidade e à infância, a assistência aos de- XXIII - explorar os serviços e instalações
samparados, na forma desta Constituição; nucleares de qualquer natureza e exercer
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra,
Art. 7º: São direitos dos trabalhadores o enriquecimento e reprocessamento, a in-
[...] dustrialização e o comércio de minérios nu-
XXII - redução dos riscos inerentes ao cleares e seus derivados;
trabalho, por meio de normas de saúde, hi- XXIV - organizar, manter e executar a
giene e segurança; inspeção do trabalho;
Art. 20: São bens da União: XXV - estabelecer as áreas e as condi-
II - as terras devolutas indispensáveis (...) ções para o exercício da atividade de garim-
à preservação ambiental, definidas em lei; pagem, em forma associativa.
III - os lagos, rios e quaisquer correntes Art. 22: Compete privativamente à União
de água em terrenos de seu domínio, ou legislar sobre:
que banhem mais de um Estado, sirvam de IV - águas, energia, informática, teleco-
limites com outros países, ou se estendam municações e radiodifusão;
a território estrangeiro ou dele provenham,
XII - jazidas, minas, outros recursos mi-
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mas porque as necessidades do cidadão- República e dos ministérios (Ver art. 4º, I,
-cliente estão sendo atendidas (BRASIL, Decreto Lei nº 200/67).
1995).
art. 37 da CF/88, valendo para a adminis- casos nas dotações orçamentárias e nos
tração pública, o princípio da impessoali- créditos adicionais abertos para esse fim.
dade da Administração Pública pode ser
No segundo sentido, o princípio sig-
definido como aquele que determina que
nifica, segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA
os atos realizados pela Administração
(2003, p. 647), que os atos e provimentos
Pública, ou por ela delegados, devam ser
administrativos são imputáveis não ao
sempre imputados ao ente ou órgão em
funcionário que os pratica, mas ao órgão
nome do qual se realiza, e ainda destina-
ou entidade administrativa da Adminis-
dos genericamente à coletividade, sem
tração Pública, de sorte que ele é o autor
consideração, para fins de privilegiamen-
institucional do ato. Ele é apenas o órgão
to ou da imposição de situações restriti-
que formalmente manifesta a vontade
vas, das características pessoais daqueles
estatal.
a quem porventura se dirija.
Na Lei nº 9784/99, o princípio não apa-
É a obrigação atribuída ao Poder Públi-
rece expressamente mencionado, porém,
co de manter neutra em relação aos admi-
está implicitamente contido no art. 2º, pa-
nistrados, só produzindo discriminações
rágrafo único, inciso III, nos dois sentidos
que se justifiquem em razão do interesse
assinalados, pois se exige “objetividade
público.
no atendimento do interesse público, ve-
De acordo com MARIA SYLVIA ZANELLA dada a promoção pessoal de agentes ou
DI PETRO (2011, p. 68), esse princípio apa- autoridades”.
rece pela primeira vez com essa denomi-
nação, no art. 37 da CF/88, dando margem
MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE
a diferentes interpretações, pois, ao con- PAULO (2011) lembram que esse prin-
trário dos demais, não tem sido objeto de cípio está ligado à ideia de vedação à
cogitação pelos doutrinadores brasileiros. pessoalização das realizações da Ad-
Exigir impessoalidade da Administração ministração Pública, à promoção pes-
tanto pode significar que esse atributo soal do agente público, consagrada
deve ser observado em relação aos admi- no § 1º, do art. 37 da CF nos termos:
nistrados como à própria Administração.
§ 1º - A publicidade dos atos, progra-
No primeiro sentido, o princípio estaria mas, obras, serviços e campanhas dos
relacionado com a finalidade pública que órgãos públicos deverá ter caráter educa-
deve nortear toda a atividade adminis- tivo, informativo ou de orientação social,
trativa. Significa que a Administração não dela não podendo constar nomes, símbo-
pode atuar com vistas a prejudicar ou be- los ou imagens que caracterizem promo-
neficiar pessoas determinadas, uma vez ção pessoal de autoridades ou servidores
que é sempre o interesse público que tem públicos.
que nortear o seu comportamento.
O escopo quer dizer proibir a vinculação
O art. 100 da CF é um exemplo: refe- de atividades da Administração à pessoa
rente aos precatórios judiciais, o disposi- dos administradores, evitando que estes
tivo proíbe a designação de pessoas ou de utilizem a propaganda oficial para sua
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A moralidade faz parte dos nossos es- Outra maneira de fazer respeitar esse
tudos desde a Antiguidade, quando os princípio é através do tratamento dado à
filósofos de então diziam que a moral era probidade administrativa (art. 37, XXII, §
uma condição essencial para o exercício 4º) que pune aquele que não serve com
de atividades públicas. honestidade, aproveitando-se dos pode-
res a ele outorgados ou das facilidades
HELY LOPES MEIRELLES (2007) se decorrentes em proveito pessoal ou de
manifesta dizendo que: outrem.
o agente administrativo, como ser É importante compreender que o fato
humano dotado da capacidade de atu- de a Constituição haver erigido a moral
ar, deve, necessariamente, distinguir administrativa em princípio jurídico ex-
o Bem do Mal, o honesto do desones- presso permite afirmar que ele é um re-
to. E, ao atuar, não poderá desprezar quisito de validado do ato administrativo,
o elemento ético de sua conduta. As- e não de aspecto atinente ao mérito.
sim, não terá que decidir somente en-
tre o legal e o ilegal, o justo e o injus- Ressalte-se que um ato contrário à mo-
to, o conveniente e o inconveniente, o ral administrativa não está sujeito a uma
oportuno e o inoportuno, mas também análise de oportunidades e conveniência,
entre o honesto e o desonesto. Por mas a uma análise de legitimidade, i.e.,
considerações de direito e de moral, o um ato contrário à moral administrativa é
ato administrativo não terá que obe- nulo, e não meramente inoportuno ou in-
decer somente à lei jurídica, mas tam- conveniente.
bém à lei ética da própria instituição, Em consequência, o ato contrário à mo-
porque nem tudo que é legal é hones- ral administrativa não deve ser revogado,
to, conforme já proclamavam os roma- e sim declarado nulo. Mais importante ain-
nos – non omne quod licet honestum da, asseveram MARCELO ALEXANDRINO e
est. A moral comum é imposta ao ho- VICENTE PAULO (2011), como se trata de
mem para sua conduta externa; a mo- controle de legalidade ou legitimidade,
ral administrativa é imposta ao agen- este pode ser efetuado pela Administra-
te público para a sua conduta interna, ção e, também, pelo poder judiciário.
segundo as exigências da instituição a
que serve, e a finalidade de sua ação: o d) Princípio da Publicidade
bem comum. O poder público deve agir com a maior
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transparência possível, então, para que de sigilo tido como imprescindível à segu-
os administrados ou a população tenham rança da sociedade e do Estado (art. 5º,
conhecimento, a todo momento, das ati- XXXIII, c/c. art. 37, § 3º, II, da CF).
vidades realizadas pelos administradores,
Não se pode esquecer que uma coisa
o princípio da publicidade é visto como um
é a publicidade necessária para o conhe-
princípio administrativo.
cimento do público (dever constitucional)
Encontramos no Art. 1º da CF/88 que e outra é a publicidade como propaganda
“todo poder emana do povo”, então, seria dos atos de determinada gestão (leva ao
incoerente que os interessados, o próprio estado de improbidade administrativa).
povo, não soubesse o que acontece no
e) Princípio da Eficiência
governo emanado por ele, contudo, ele
não é um elemento formativo do ato ad- Em virtude de alteração introduzida
ministrativo, é requisito da eficácia e mo- pela emenda Constitucional nº19, o prin-
ralidade. cípio da eficiência, que era implícito, tor-
nou-se expresso no caput do art. 37 da
Sobre a forma de atuação da publicida-
CF/88.
de, ela poderá ser realizada através de pu-
blicação ou simples comunicação do ato, A eficiência é um conceito econômico e
mas não quer dizer que o interessado leia, qualifica atividades. Significa fazer algu-
por exemplo, uma publicação feita no Di- ma coisa com racionalidade. Este princípio
ário Oficial, havendo, no entanto, presun- orienta a atividade administrativa no sen-
ção de ciência do destinatário, ou seja, a tido de conseguir os melhores resultados
obrigação de tornar o ato público foi cum- ou o maior benefício com o menor custo
prida. E é isso que basta à consecução do possível.
princípio da publicidade.
Fica claro que um sistema que tem os
Outro ponto importante diz respeito princípios da moralidade e da finalidade
à forma adequada de se dar publicidade não poderia admitir a ineficiência adminis-
aos atos da Administração Pública. Nor- trativa, daí a importância desse princípio.
malmente, esse dever é satisfeito por
Para JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDO-
meio da publicação em órgão de impren-
ZO (1999), ser eficiente exige primeiro da
sa oficial da Administração, seja federal,
Administração Pública o aproveitamento
estadual, municipal e quando não houver,
máximo de tudo aquilo que a coletivida-
jornais particulares contratados para de-
de possui, em todos os níveis, ao longo da
sempenhar esta função.
realização de suas atividades. Significa
Existem, porém, limites constitucionais racionalidade e aproveitamento máximo
ao princípio da publicidade. Ele não pode das potencialidades existentes. Mas não
violar a intimidade da vida pública, da hon- só. Em seu sentido jurídico, a expressão,
ra e da imagem das pessoas (art. 5º, X, c/c. que consideramos correta, também deve
art. 37, § 3º, II (32), da CF), do sigilo da fon- abarcar a ideia de eficácia da prestação, ou
te quando necessário ao exercício profis- de resultados da atividade realizada. Uma
sional (art. 5º, XIV, da CF), ou com violação atuação estatal só será juridicamente efi-
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Como proposto no título da unidade, possível, o equilíbrio que deve haver nas
veremos a defesa do consumidor no plano relações de consumo.
constitucional.
g) Direito a um meio ambiente sau-
dável – à medida que o equilíbrio ecoló-
4.1 Os direitos do Consumi- gico reflete na melhoria da qualidade de
dor reconhecidos pela ONU vida do consumidor, de nada adiantaria
São direitos fundamentais e universais cuidar dele isoladamente enquanto o
do consumidor, reconhecidos pela Organi- ambiente que o cerca se deteriora e traz
zação das Nações Unidas (ONU), por meio efeitos ainda mais nocivos à sua saúde.
da Resolução nº 32/248, de 10 de abril de Assim sendo, tendo os direitos básicos
1985, e também pela Iocu, hoje Interna- do consumidor, universalmente reconhe-
tional Consumers: cidos, verifica-se que o legislador brasi-
a) Direito à segurança – outorga ga- leiro cuidou de adotá-los e transplantá-
rantia contra produtos ou serviços que -los para o Código do Consumidor, com
possam ser nocivos à vida, à saúde e à se- pequenas modificações ou ampliações.
gurança. Desse modo, observa-se certa sime-
b) Direito à escolha – assegurar ao tria entre os direitos enumerados pelo
consumidor opção entre vários produtos organismo internacional e aqueles asse-
e serviços com qualidade satisfatória e gurados pelo legislador pátrio no art. 6º, I
preços competitivos. a X, do CDC. São simétricos, por exemplo,
os incisos I, II, III, VI e VII; configuram am-
c) Direito à informação – o consumi- pliação os incisos IV, V, VIII e X; foi veta-
dor deve conhecer os dados indispensá- do o inciso IX, que assegurava o direito a
veis sobre produtos ou serviços para atu- ser ouvido, e não contemplado na nova
ar no mercado de consumo e decidir com legislação o direito a um meio ambiente
consciência. saudável. Não obstante, nesses reparos,
d) Direito a ser ouvido – o consumidor é positiva a enumeração de tais direitos,
deve ser participante da política de defe- posto que a lei é dirigida aos operadores
sa respectiva, sendo ouvido e tendo as- do Direito em geral, mas deve ser acessí-
sento nos organismos de planejamento e vel, também, e principalmente, às partes
execução das políticas econômicas e nos envolvidas, o fornecedor e o consumidor,
órgãos colegiados de defesa. não necessariamente versadas no estu-
do das leis. A legislação bem explícita e
e) Direito à indenização – é indispen- ordenada de forma didática servirá, sem
sável buscar-se a reparação financeira por dúvida, para que se chegue a um maior
danos causados por produtos ou serviços. grau de esclarecimento e conscientiza-
f) Direito à educação para o consumo ção dos partícipes da relação de consu-
– o consumidor deve ser educado formal e mo, o que poderá redundar numa redu-
informalmente para exercitar consciente- ção de conflitos (ALMEIDA, 2010).
mente sua função no mercado, restabe-
lecendo-se, por esse meio, na medida do
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mente ou do modo tradicional) com cone- razão ainda será, a liberdade, decisiva nos
xão internacional, há, ainda que mais não negócios jurídicos de consumo – vontade
seja, o princípio estruturante (norma de qualificada de consumir. Nessa hipótese,
ordem pública) do direito brasileiro que essa liberdade se faz mais relevante, dada
garante a aplicação da norma mais favo- a situação especialíssima de um dos sujei-
rável ao consumidor. tos desse negócio, ou seja, o consumidor,
cuja vulnerabilidade (técnica, jurídica e
3) Princípio da liberdade (art. 1º,
econômica) impõe um tratamento jurídico
IV, 3º, I, 5º, CF):
desigual, como desigual é a dialética for-
A liberdade focada aqui é a de ação, a necedor x consumidor.
liberdade material/real, a liberdade ins-
Há nessa questão, um pressuposto
trumental. Assim, é livre a iniciativa de
supranacionalmente acenado e desde
todos e de qualquer um de empreender
1985, ou seja, na 106ª Sessão Plenária
atividade econômica nos termos da legis-
da Organização das Nações Unidas (ONU),
lação. Aí temos a liberdade mais voltada
por meio da Resolução nº 39/248, fixado
ao fornecedor, ao empresário (antítese do
como princípio (ou seja, mandamento de
consumidor), mas há a liberdade garanti-
otimização) a vulnerabilidade do sujeito-
da constitucionalmente ao hipossuficien-
-consumidor, reconhecendo-o como par-
te do mercado, o consumidor. A liberdade
te mais fraca/frágil na relação sociojurí-
está para o direito assim como o oxigênio
dica dita de consumo. E por isso mesmo a
está para a vida.
ONU tornou esse sujeito-frágil merecedor
Com efeito, em toda manifestação de de tutela jurídica específica, no que foi se-
vontade, essência de todo negócio jurí- guido pela legislação consumerista brasi-
dico (nos contratos principalmente), essa leira.
vontade há de ser livre. O ato para ser vo-
Aqui se exige mais, bem mais, do com-
luntário (ato é vontade em direito) pres-
portamento (e até da aparência jurígena)
supõe liberdade (a possibilidade de opção)
daqueles sujeitos, principalmente do hi-
que inclusive exige um mínimo de conhe-
perssuficiente (o fornecedor, o empresá-
cimento sobre o objeto principal dessa
rio, pessoa física ou jurídica). Assim, por
vontade. “Tudo que é feito por ignorância
exemplo, o negócio jurídico de consumo
é não voluntário” (ARISTÓTELES, 2001, p.
há de ter transparência (consciência do
51 apud AMARAL, 2010). Desse modo, a
consumidor do alcance de seu ato jurídico
ignorância é sempre impeditiva da liber-
de consumo), boa-fé (dever de lealdade,
dade e logo da vontade, assim o negócio
sinceridade e honestidade máxima diante
jurídico resta inválido.
da fragilidade já conceitual, já efetiva do
Vale ressaltar que os chamados vícios consumidor), entre outros pressupostos,
de vontade (erro/ignorância, dolo e coa- mais que noutras relações jurídicas.
ção entre os clássicos) são defeitos dos
4) Princípio da atividade econômi-
negócios jurídicos exatamente por viola-
ca (art. 170, V, CF):
rem a liberdade volitiva. Mas sendo assim,
nos negócio jurídicos em geral, com mais Nesse artigo constitucional (art. 170)
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te, no art. 37, § 1º, quando estabelece para arts. 5°, XlV, e 220; de ser informado, e o
os órgãos públicos o dever de dar caráter de se informar. No âmbito do principian-
educativo, informativo, ou de orientação te direito do consumidor, a informação
à publicidade de seus atos, programas, assume foros de importância fundamen-
obras, serviços e campanhas. Dessa for- tal, eis que dela vem o conhecimento de
ma, o consumidor está protegido quanto causa tão essencial nas manifestações
à publicidade do Poder Público sobre seus de vontade em geral e principalmente nas
serviços e obras que constituam relação de consumo. Contudo, no plano constitu-
de consumo. Isso tudo sem contar que o cional, a matéria tem foco genérico, o que
art. 37, caput, da CF, estabelece o princípio não poderia deixar de ser, mas, já no plano
da moralidade, o que nos leva a afirmar infraconstitucional, o direito à informação
que a publicidade do Poder Público deve- titularizado pelo consumidor é bem espe-
rá ser verdadeira, tendo em vista o valor cífico e rico. No CDC há vários dispositivos
ético assegurado constitucionalmente legais (todos de ordem pública e interesse
(AMARAL, 2010). social, o que há de ter consequências efe-
tivas na prática) que cuidam desse direito
A Carta Magna também estabelece, a
fundamental do consumidor brasileiro 1.
respeito da Comunicação Social, que a lei
federal deverá estabelecer meios legais Há ainda outros princípios ou eixos
que garantam à pessoa e à família a pos- constitucionais que merecem destaque
sibilidade de se defenderem da propagan- porque são do interesse, direto ou indire-
da de produtos, práticas e serviços que to, do consumidor brasileiro. Por exemplo,
possam ser nocivos à saúde e ao meio am- o clássico princípio da igualdade que na
biente (art. 220, § 3º, inciso II, CF). esfera tão desigual das relações de con-
sumo, foco do direito do consumidor (hi-
Portanto, a saúde e o meio ambiente do
possuficiência x hiperssuficência), carece
consumidor estão protegidos pela deter-
de uma forte adequação, ou seja, aqui a
minação constitucional, em face da pro-
igualdade é exatamente um tratamento
paganda abusiva.
desigual conforme a desigualdade efeti-
Igualmente, a propaganda comercial de va, é não manter a igualdade no desequi-
tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, líbrio (social, econômico, técnico e logo
medicamentos e terapias deverá conter, jurídico) da situação concreta subjacente.
sempre que necessário, advertência so-
Sucede que o direito não é um fim em
bre os malefícios decorrentes de seu uso
si mesmo, mas instrumento (de realização
(art. 220, § 4º, CF), o que assegura ao
de justiça, de equidade), meio (de promo-
consumidor proteção específica sobre a
ção do bem comum pela permanente re-
propaganda desses produtos (SMANIO,
construção dos conceitos e teorias jurídi-
2007).
cas) e assim não é a situação concreta que
8) Princípio da informação ou do
direito subjetivo de informação 1- O CDC refere-se à informação 28 vezes: arts. 4°, IV, 6°, III, 8°,
caput e parágrafo único, 9°, 12,14, 30, 31, 36, parágrafo único,
37, §§ 1º e 3°, 38, 39, VII, 43, caput, §§ 1°, 3° e 6°, 44, § 1°, 55, §§
Este eixo ou princípio tem como pre- 1º e 4°, 66, 72, 73, 101, lI, e 106, IV No Regulamento do CDC (Dec.
2.181, de 20.03.1997) há muitas referências a esse direito de
missa o direito/prerrogativa de informar, informação.
40
ativa;
A nova Constituição traz um caráter
a lei posterior mais benéfica é retro-
limitador das leis penais, no momento
ativa;
em que regula os direitos e liberdades
fundamentais, contemplando, impli- a anterior mais benéfica é ultra-ativa.
citamente, ou mesmo de forma explí-
Princípio do estado de inocência: “Nin-
cita, os limites do poder punitivo e os
guém será considerado culpado até o
princípios informadores do direito re-
trânsito em julgado de sentença penal
pressivo: as proibições penais não se
condenatória” (art. 5º, LVII, da CF).
podem estabelecer para fora dos li-
mites que permite a Constituição, isto Princípio da igualdade – consiste na
significando, também, que não podem consideração de que todos são iguais pe-
ser afrontados os princípios éticos, rante a lei; é expressamente proibida a
norteadores da Lei Maior, mesmo que discriminação de qualquer natureza (art.
instituídos em dispositivos programá- 5º, caput, da CF).
ticos, sem regulamentações que lhes
garantam uma existência real.
Princípio da proporcionalidade da
pena – a pena deve ser proporcional ao
crime praticado (art. 5º, XLVI e XLVII, da
Posto isso, as normas penais – tanto os
CF).
princípios como as regras jurídicas – têm
sua fonte primeira na Constituição, a qual Princípio da dignidade da pessoa
fornece os parâmetros para a fundamen- humana – nenhuma previsão legal de in-
tação e legitimação do jus puniendi, de- fração penal pode ter conteúdo atentató-
terminando o alcance e os limites. rio à dignidade humana.
pública, porque mesmo existindo a vítima, Todo réu goza da presunção constitucio-
o direito é coletivo e não apenas dessa nal de inocência.
vítima. Nenhum efeito tem a vontade da
Princípio da oficialidade – é próprio
parte, porque esse tipo de ação é indis-
apenas da ação penal pública. Só quem
ponível. De acordo com a Lei nº 9.099/95
promove a ação penal pública é o Estado
pode ser suspenso o processo para os ca-
por intermédio do seu órgão oficial públi-
sos em que a pena mínima não é superior
co, que é o Ministério Público (art. 129, I,
a um ano. Se decorrido o prazo de suspen-
CF). Compete privativamente ao Ministé-
são, a pessoa cumpre tudo, o processo é
rio Público o patrocínio da ação penal pú-
extinto. Esse é um tipo de exceção para o
blica.
princípio da indisponibilidade. Art. 129, I,
CF. Enfim, o Direito Penal marca presença
nas Constituições por meio de postulados
Princípio do contraditório (art. 5º,
que resguardam as garantias individuais à
LV, CF) – ninguém pode abrir mão da de-
medida que restringem a intervenção pu-
fesa, ou tem defesa ou o processo é nulo.
nitiva do Estado; por outro lado, ampliam
Nesse caso, a nulidade é absoluta. Art.
o campo de atuação da Lei Penal com vis-
261, CPP.
tas a proteger um maior número de bens
Princípio do devido processo legal jurídico.
(art. 5º, LIV, CF) – ninguém será privado
da sua liberdade e de seus bens sem o de-
vido processo legal. Tem que haver neces-
sariamente o processo.
Princípio da inadmissibilidade das
provas ilícitas (art. 5º, LVI, CF) – não se
admite no processo as provas produzidas
ilicitamente, tudo o que for obtido de for-
ma criminosa, ilícita não deve servir de
prova no processo penal. Na prática, não
acontece bem assim. Ex.: um grampo te-
lefônico, interceptação de cartas não são
admissíveis. Alguns doutrinadores enten-
dem que a prova mesmo ilícita, mas verda-
deira deve ser admitida, essa é a posição
da minoria. O que prevalece é o que está
na Constituição Federal.
Princípio da presunção de inocência
(art. 5º, LVII, CF) – ninguém será conside-
rado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória. Enquanto
não existir uma sentença definitiva que
o condene, o réu é considerado inocente.
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