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3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – Visão constitucional do direito ambiental
6 2.1 A urgente e necessária constitucionalização do Direito ambiental

11 2.2 Princípios do Direito Ambiental

15 2.3 A tutela constitucional do/ao meio ambiente


20 UNIDADE 3 – Princípios constitucionais do direito administrativo

SUMÁRIO
20 3.1 Direito Administrativo

21 3.2 Administração Pública

23 3.2.1 Indireta

25 3.2.2 Direta

25 3.3 Princípios constitucionais da Administração Pública

26 3.3.1 Princípios constitucionais explícitos

30 3.3.2 Outros Princípios Constitucionais Explícitos

31 3.4 Princípios Implícitos


33 UNIDADE 4 – A defesa do consumidor no plano constitucional
34 4.1 Os direitos do Consumidor reconhecidos pela ONU

35 4.2 Os dispositivos constitucionais

35 4.3 Os princípios regentes


41 UNIDADE 5 – As relações entre o direito penal e o direito constitucional
44 REFERÊNCIAS
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UNIDADE 1 – Introdução

Em cada ramo do direito encontramos rem sido comprovadas (AMARAL, 2010).


seus princípios próprios (trabalho in dúbio
pro misero, penal in dubio pro réu), mas
Nesse sentido, podemos classificar
todos os ramos seguem primeiro aos prin- os princípios em:
cípios comuns a todos os ramos que são os a) Princípios omnivalentes: quando
princípios gerais (CINTRA; GRINOVER; DINA- são válidos para todas as formas de saber,
MARCO, 2006). como é o caso dos princípios de identidade
Princípios são normas que fornecem co- e de razão suficiente.
erência e ordem a um conjunto de elemen- b) Princípios plurivalentes: quando
tos sistematizando-o, são fundamentos aplicáveis a vários campos de conhecimen-
que servem para regular as relações entre to, como se dá com o princípio de causalida-
as pessoas. São proposições que se colo- de, essencial às ciências naturais, mas não
cam na base da Ciência Jurídica e auxiliam extensivo a todos os campos do conheci-
na compreensão do conteúdo e extensão mento.
do comando inserido nas normas jurídicas e
em caso de lacuna da norma, servem como c) Princípios monovalentes: quando
fator de integração. só valem como âmbito de determinada ci-
ência, como é o caso dos princípios gerais de
A palavra princípio, em sua raiz latina úl- direito.
tima, significa “aquilo que se toma primeiro”
(primum capere), designando início, come- Se pensarmos o Direito como um siste-
ço, ponto de partida. Princípios de uma ciên- ma, ou seja, uma organização de normas, te-
cia, segundo JOSÉ CRETELLA JUNIOR (1989, remos dois tipos fundamentais de normas:
p. 129), “são as proposições básicas, funda- normas-princípios (normas de otimização
mentais e típicas que condicionam todas as do sistema) e normas-regras (normas me-
estruturas subsequentes”. Correspondem, ramente regradoras de condutas). Assim, o
mutatis mutandis, aos axiomas, teoremas e direito se mostra um sistema à medida que
leis em outras determinadas ciências. se apresenta como ordem, axiológica ou te-
leológica, de princípios gerais.
Pois bem, nessa mesma linha de pensa-
mento, temos que todo conhecimento filo- Enfim, princípio se relaciona ao juízo de
sófico ou científico implica a existência de concorrência, eis que norma que admite a
princípios, isto é, desses enunciados lógicos concorrência das demais da mesma espé-
admitidos como condição ou base de vali- cie para as situações idênticas ou análo-
dade das demais asserções que compõem gas. Uma definição adequada de princípios
todo o campo do saber. Dessa abordagem aponta para a circunstância de serem nor-
lógica da palavra “princípio”, pode-se dizer mas direta e imediatamente referidas a fins
que “os princípios são verdades fundantes” (valores) e indireta e imediatamente a con-
de um sistema de conhecimento, como tais dutas (fatos), enquanto regras são normas
admitidas, por serem evidentes ou por te- indireta e imediatamente referidas a fins
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(valores) e direta e imediatamente referi- E assim acontece sucessivamente com


das a condutas (fatos) (TURA, 2004). os demais ramos do Direito: eles encontram
todo tipo de aporte principiológico na Cons-
Porque estendermos tanto definindo e
tituição Federal de 1988.
conceituando “princípios”? Simples e lógico!
Ressaltamos em primeiro lugar que em-
Como a ideia a ser perseguida neste
bora a escrita acadêmica tenha como pre-
módulo paira justamente sobre o direito
missa ser científica, baseada em normas e
constitucional aplicado e suas implicações,
padrões da academia, fugiremos um pouco
acreditamos ser preciso entender a priori
às regras para nos aproximarmos de vocês
a essência dos princípios, pois eles regem,
e para que os temas abordados cheguem
cada um com focos específicos os diversos
de maneira clara e objetiva, mas não menos
ramos do direito a serem aqui estudados.
científicos. Em segundo lugar, deixamos cla-
Se tomarmos como exemplo o Direito do ro que este módulo é uma compilação das
Consumidor, este é um direito constitucio- ideias de vários autores, incluindo aqueles
nal inserido no capítulo dos princípios gerais que consideramos clássicos, não se tratan-
da atividade econômica, assim como a jus- do, portanto, de uma redação original e ten-
tiça social, a solidariedade e a dignidade do do em vista o caráter didático da obra, não
ser humano, seguindo princípios constitu- serão expressas opiniões pessoais.
cionais e específicos da matéria.
Ao final do módulo, além da lista de refe-
Outra referência encontramos no rências básicas, encontram-se outras que
Direito Processual Constitucional, e foram ora utilizadas, ora somente consulta-
muito bem justificado por HUMBERTO das, mas que, de todo modo, podem servir
THEODORO JUNIOR (2009): para sanar lacunas que por ventura venham
a surgir ao longo dos estudos.
[...] Diante de qualquer lesão ou ame-
aça a direito, o que a Constituição garan-
te é que, através do judiciário, seja dis-
ponibilizada uma tutela efetiva, capaz
de proporcionar a todos o desfrute real
(concreto) tanto dos direitos subjetivos
individuais como, principalmente, que
se efetive essa tutela de modo a fazer
respeitar e cumprir tudo aquilo que na
Constituição fora estabelecido em tor-
no das garantias fundamentais. [...] As
regras e princípios constitucionais des-
frutam de supremacia dentro de todo
o ordenamento jurídico e, por isso, de-
vem ser levados em conta sempre que
se houver de interpretar e aplicar as leis
processuais.
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UNIDADE 2 – Visão constitucional do
direito ambiental
De acordo com PAULO DE BESSA AN- princípios do Direito Ambiental: meio am-
TUNES (2005, p. 16), são de dois tipos os biente ecologicamente equilibrado como
princípios do Direito Ambiental: os explíci- direito fundamental da pessoa humana,
tos e os implícitos. Os primeiros são aque- natureza pública da proteção ambiental,
les que se encontram positivados nos controle de poluidor pelo Poder Público,
textos legais e na Constituição Federal, consideração da variável ambiental no
e os segundos são aqueles depreendidos processo decisório de políticas de desen-
do ordenamento jurídico constitucional. volvimento, participação comunitária, po-
É claro que tanto os princípios explícitos luidor-pagador, prevenção, função social
quanto os implícitos encontram aplicabi- da propriedade, desenvolvimento susten-
lidade no sistema jurídico brasileiro, pois tável e cooperação entre os povos.
os princípios não precisam estar escritos
Também encontramos alguns princí-
para serem dotados de positividade.
pios para o Direito Ambiental em RUI PIVA
Devido ao fato de parte dos princípios (2000, p. 51), a saber: participação do Po-
do Direito Ambiental serem construções der Público e da coletividade, obrigatorie-
eminentemente doutrinárias inferidas dade da intervenção estatal, prevenção e
dos textos legais e das declarações in- precaução, informação e notificação am-
ternacionais de Direito, a quantidade e a biental, educação ambiental, responsabi-
denominação desses princípios variam de lidade das pessoas física e jurídica.
um autor para outro, como explicitaremos
PAULO AFFONSO LEME MACHADO
abaixo:
(2001, p. 43) classifica os seguintes prin-
No entendimento de CELSO ANTÔNIO cípios do Direito Ambiental: acesso equi-
PACHÊCO FIORILLO (2003, p. 23) os prin- tativo aos recursos naturais, usuário-
cípios do Direito Ambiental são os seguin- -pagador e poluidor-pagador, precaução,
tes: desenvolvimento sustentável, polui- prevenção, reparação, informação e par-
dor pagador, prevenção, participação (de ticipação. TOSHIO MUKAI (2002) trabalha
acordo com o autor, a informação e a edu- com os seguintes princípios do Direito
cação ambiental fazem parte deste princí- Ambiental: prevenção, poluidor-pagador
pio) e ubiquidade. ou responsabilização e cooperação.

LUÍS PAULO SIRVINSKAS (2005, p. 34) Segundo PAULO DE BESSA ANTUNES


enumera os seguintes princípios do Direi- (2005, p. 26), os princípios do Direito Am-
to Ambiental: direito humano, desenvol- biental são: direito humano fundamental,
vimento sustentável, democrático, pre- desenvolvimento, democrático, precau-
venção (precaução ou cautela), equilíbrio, ção, prevenção, equilíbrio, limite, respon-
limite, poluidor-pagador e responsabilida- sabilidade, poluidor-pagador. Já para CRIS-
de social. TIANE DERANI (2001), os princípios do
Direito Ambiental são os seguintes: coo-
ÉDIS MILARÉ (2004, p. 136) elenca como
peração, poluidor-pagador, ônus social e
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precaução. 2004).

MARCOS DESTEFENNI (2004, p. 27) O grande número de catástrofes am-


enumera os seguintes princípios do Di- bientais (que se fôssemos elencar neste
reito Ambiental: obrigatoriedade da in- momento seria infindável) serviu para de-
tervenção estatal, prevenção, precaução, monstrar a importância do meio ambien-
usuário e poluidor pagador, ampla respon- te para a humanidade e de nada adianta
sabilidade da pessoa física e jurídica e de- atingir o máximo em desenvolvimento e
senvolvimento sustentável. progresso econômico se a vida em nosso
planeta corre perigo.
Como podemos observar, não há um
consenso sobre os princípios do Direito Felizmente, o homem começou a per-
Ambiental, nem podemos dizer que são ceber que o planeta Terra possui recursos
concorrentes ou podemos dizer que são finitos e se não mudarmos a concepção
enormes as divergências doutrinárias que ainda vigora, nossa sobrevivência es-
sobre o conteúdo de cada um deles, mas tará ameaçada.
com certeza, todos são importantes e só
Neste sentido, desde a década de 1970,
fazem acrescentar a defesa ao meio am-
impulsionada principalmente pela Con-
biente.
ferência das Nações Unidas sobre o Am-
biente Humano, realizada em Estocolmo,
2.1 A urgente e necessária na Suécia, em 1972, o homem começou
constitucionalização do Di- a se preocupar efetivamente com o meio
ambiente e com o destino da humanidade,
reito ambiental caso a degradação ambiental continuasse
Até pouco tempo tínhamos a concepção de forma devastadora.
de que os recursos naturais eram ilimita-
dos, existiam em abundância, motivo pelo A legislação pátria em matéria ambien-
qual todos nós, seres humanos, em qual- tal também tem sofrido os impactos des-
quer parte do Planeta Terra não nos pre- sa mudança de concepção, visto que esta
ocupávamos com a questão ambiental, ao tinha uma visão apenas utilitarista e ago-
contrário, a degradação do meio ambiente ra, influenciada principalmente pela nova
era sinônimo na maioria das vezes de pro- visão existente na Constituição Federal
gresso. A verdade é que usamos os recur- de 1988, em especial com relação a seu
sos de maneira irracional sem pensarmos cunho protetivo, começa a haver uma pre-
na coletividade e no futuro dos nossos se- ocupação real com o meio ambiente.
melhantes.
Sem dúvida, o aspecto mais importan-
A natureza era tida pelo Homem como te quando se refere a meio ambiente é a
um depósito, onde se retirava tudo que proteção à vida, lembrando que a expres-
lhe parecia interessante, deixando no lu- são meio ambiente inclui ainda a relação
gar o lixo e os resíduos dos diversos pro- dos seres vivos, bem como “urbanismo,
cessos de produção. O processo de evo- aspectos históricos paisagísticos e outros
lução da humanidade era subordinado à tantos essenciais, atualmente, à sobrevi-
degradação ambiental (MASCARENHAS, vência sadia do homem na Terra” (FREI-
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TAS, 2002, p. 17). O artigo 225 da CF de 1988 define que


todos têm direito ao meio ambiente equi-
A Constituição Federal trouxe a preo-
librado, bem de uso comum do povo e es-
cupação de caráter eminentemente social
sencial à sadia qualidade de vida, impon-
e humano. Ficou clara a inter-relação exis-
do-se o dever de defendê-lo e preservá-lo
tente entre o direito fundamental à vida e
para as presentes e futuras gerações.
o princípio da dignidade da pessoa huma-
na e o meio ambiente. Todos eles são fun- O inciso primeiro do artigo 2º da Lei
damentais e necessários à preservação nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
da vida. dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, estabelece como um de seus
O que é importante, tomando palavras
princípios a ação governamental na ma-
de LUCIANA MARTINS DE ARAÚJO MASCA-
nutenção do equilíbrio ecológico, consi-
RENHAS (2004) é que se tenha a consci-
derando o meio ambiente como um pa-
ência de que o direito à vida, como matriz
trimônio público a ser necessariamente
de todos os demais direitos fundamentais
assegurado e protegido, tendo em vista o
do Homem, é que há de orientar todas as
uso coletivo.
formas de atuação no campo da tutela
do meio ambiente. Cumpre compreender A ação do Poder público sempre é apon-
que ele é um fator preponderante, que tada como mediadora entre o povo e seu
há de estar acima de quaisquer outras estado de bem-estar.
considerações como as considerações de
Lembremos de pronto que nos direi-
desenvolvimento, de respeito ao direi-
tos de 3ª geração estão aqueles direitos
to de propriedade ou as considerações
transindividuais e difusos que pertencem
da iniciativa privada. Embora todas estas
às matérias do Direito Ambiental e Direito
considerações sejam garantidas no texto
do Consumidor. Direito ao meio ambien-
constitucional, é evidente que não podem
te ecologicamente equilibrado e direito a
primar sobre o direito fundamental à vida,
alimentos de qualidade são exemplos de
que está em jogo quando se discute a tu-
direitos da 3ª geração.
tela da qualidade do meio ambiente. É que
a tutela da qualidade do meio ambiente é Em termos de evolução do Direito am-
instrumental no sentido de que, através biental nas Constituições Brasileiras, a
dela, o que se protege é um valor maior: a Constituição brasileira, de 1824, não fez
qualidade de vida. menção a qualquer matéria na esfera am-
biental. Vale lembrar que nosso país na-
É verdade que o Brasil possui uma das
quela época era exportador de produtos
políticas ambientais mais desenvolvidas
agrícolas e minerais, no entanto, a visão
e severas do mundo, mas não apresenta
existente com relação àqueles produtos
fidelidade quanto ao cumprimento destas
era apenas econômica, não existindo ne-
leis (SANTOS, 2000). Felizmente a falta
nhuma conotação de proteção ambiental.
de uma disciplina que desse ao tema uma
visão unificada vem sendo superada com O Texto republicano de 1891 abordou
o movimento de constitucionalização do apenas a competência da União para le-
Direito Ambiental. gislar sobre minas e terras. Tal dispositivo
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tinha por objetivo proteger os interesses cionismo, por intermédio de um desenvol-


da burguesia e institucionalizar a explora- vimento técnico-industrial sustentável,
ção do solo, não tendo nenhum cunho pre- essa Cartas tiveram o mérito de ampliar,
servacionista. Apesar disto, foi a primeira de forma significativa, as regulamenta-
Constituição a demonstrar uma preocu- ções referentes ao subsolo, à mineração,
pação com a normatização de alguns dos à flora, à fauna, às águas, dentre outros
elementos da natureza (BELTRÃO, 2011). itens de igual relevância (MEDEIROS,
2004, p. 62).
A Constituição, de 1934, trouxe dispo-
sitivo de proteção às belezas naturais, Enfim chegamos à CF de 1988! Conhe-
patrimônio histórico, artístico e cultural cida como constituição cidadã que trouxe
e competência da União em matéria de ri- grandes inovações na esfera ambiental,
quezas do subsolo, mineração, águas, flo- também é tratada por alguns como “Cons-
restas, caça, pesca e sua exploração. tituição Verde”. Diferentemente da forma
trazida pelas constituições anteriores,
A Carta Constitucional de 1937, por sua
os constituintes de 1988 procuraram dar
vez, trouxe preocupação com relação aos
efetiva tutela ao meio ambiente, trazen-
monumentos históricos, artísticos e natu-
do mecanismos para sua proteção e con-
rais. Atribuiu competência para União le-
trole.
gislar sobre minas, águas, florestas, caça,
pesca, subsolo e proteção das plantas e Cumpre-nos observar que esta Cons-
rebanhos. tituição alçou a fruição do meio ambien-
te saudável e ecologicamente equilibra-
A Carta Magna de 1946, além de manter
do como direito fundamental. Como bem
a defesa do patrimônio histórico, cultural
coloca o mestre JOSÉ AFONSO DA SILVA
e paisagístico, conservou a competência
(2003, p. 43)
legislativa da União sobre saúde, subso-
lo, florestas, caça, pesca e águas. Dispo- o ambientalismo passou a ser tema
sitivos semelhantes estavam presentes de elevada importância nas Constitui-
tanto na Constituição de 1967, quanto ções mais recentes. Entre elas delibe-
na Emenda Constitucional nº 1/69. Neste radamente como direito fundamental
último texto constitucional, nota-se pela da pessoa humana, não como simples
primeira vez a utilização do vocábulo “eco- aspecto da atribuição de órgãos ou de
lógico”. entidades públicas, como ocorria em
Os dispositivos constantes nestas Constituições mais antigas.
Constituições tinham por escopo a racio-
nalização econômica das atividades de E ainda, salienta o mesmo autor, na
exploração dos recursos naturais, sem mesma obra à página 46 que a “Consti-
nenhuma conotação protetiva do meio tuição de 1988 foi, portanto, a primeira
ambiente. a tratar deliberadamente da questão am-
biental. Pode-se dizer que ela é uma Cons-
De qualquer sorte, apesar de não pos- tituição eminentemente ambientalista”.
suírem uma visão holística do ambiente
e nem uma conscientização de preserva- Destarte, o grande marco e impulso na
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mudança de concepção foi, sem dúvida, as dos à tutela do meio ambiente.


disposições da Carta Magna de 1988, tra-
Art. 225. Todos têm direito ao meio
zendo um arcabouço legislativo superior
ambiente ecologicamente equilibrado,
ao das legislações do primeiro mundo.
bem de uso comum do povo e essencial
Nossa Constituição traz a preocupação à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
com as questões ambientais como fun- Poder Público e à coletividade o dever de
damentais para continuidade da vida em defendê-lo e preservá-lo para as presen-
nosso Planeta, eis que esta preocupação tes e futuras gerações.
é de cunho global. Deve haver além de um
§ 1º - Para assegurar a efetividade des-
bom aparato jurídico sobre o assunto, um
se direito, incumbe ao Poder Público:
envolvimento de toda sociedade.
I - preservar e restaurar os processos
No entanto, como diz ÉDIS MILARÉ
ecológicos essenciais e prover o manejo
(2001, p. 232): ecológico das espécies e ecossistemas;

não basta apenas legislar. É fun- II - preservar a diversidade e a integri-


damental que todas as pessoas e au- dade do patrimônio genético do País e fis-
toridades responsáveis se lancem ao calizar as entidades dedicadas à pesquisa
trabalho de tirar essas regras do lim- e manipulação de material genético;
bo da teoria para a existência efetiva III - definir, em todas as unidades da Fe-
da vida real, pois, na verdade, o maior deração, espaços territoriais e seus com-
dos problemas ambientais brasileiros ponentes a serem especialmente prote-
é o desrespeito generalizado, impuni- gidos, sendo a alteração e a supressão
do ou impunível, à legislação vigente. permitidas somente através de lei, veda-
É preciso, numa palavra, ultrapassar- da qualquer utilização que comprometa a
-se a ineficaz retórica ecológica – tão integridade dos atributos que justifiquem
inócua, quanto aborrecida – por ações sua proteção;
concretas em favor do ambiente e da
vida. Do contrário, em breve, nova mo- IV - exigir, na forma da lei, para instala-
dalidade de poluição – a poluição regu- ção de obra ou atividade potencialmente
lamentar – ocupará o centro de nossas causadora de significativa degradação do
atenções. meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
Nos diversos artigos que se referem ao
V - controlar a produção, a comerciali-
meio ambiente na ordem constitucional,
zação e o emprego de técnicas, métodos
nota-se claro o caráter interdisciplinar
e substâncias que comportem risco para a
desta questão, eis que se referem a as-
vida, a qualidade de vida e o meio ambien-
pectos econômicos, sociais, procedimen-
te;
tais, abrangendo ainda natureza penal,
sanitária, administrativa, entre outras. VI - promover a educação ambiental em
todos os níveis de ensino e a conscienti-
Fora o artigo em tela, mais adiante ve-
zação pública para a preservação do meio
remos uma sequência deles, todos volta-
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ambiente; matéria nele abordada, vamos nos ater à


essência dessa mudança na visão sobre
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas,
o meio ambiente, constante no caput do
na forma da lei, as práticas que coloquem
artigo.
em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção de espécies ou submetam os Primeiramente, podemos inferir que o
animais a crueldade. meio ambiente sadio e equilibrado é di-
reito e dever de todos, tido como “bem
§ 2º - Aquele que explorar recursos mi-
de uso comum”, definido por HELY LOPES
nerais fica obrigado a recuperar o meio
MEIRELLES (1991, p. 426), como aquele
ambiente degradado, de acordo com so-
“que se reconhece à coletividade em geral
lução técnica exigida pelo órgão público
sobre os bens públicos, sem discriminação
competente, na forma da lei.
de usuários ou ordem especial para sua
§ 3º - As condutas e atividades conside- fruição”.
radas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
Cumpre observar ainda, que por “bens
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
de uso comum” não se pode entender so-
a sanções penais e administrativas, inde-
mente os bens públicos, mas também os
pendentemente da obrigação de reparar
bens de domínio privado, eis que podem
os danos causados.
ser fixadas obrigações a serem cumpridas
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a por seus proprietários. Estes têm o dever
Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal de envidar esforços visando a proteção do
Mato-Grossense e a Zona Costeira são pa- meio ambiente.
trimônio nacional, e sua utilização far-se-
Assim, nenhum de nós tem o direito de
-á, na forma da lei, dentro de condições
causar dano ao meio ambiente, pois es-
que assegurem a preservação do meio
taríamos agredindo a um bem de todos
ambiente, inclusive quanto ao uso dos re-
causando, portanto, dano não só a nós
cursos naturais.
mesmos, mas aos nossos semelhantes.
§ 5º - São indisponíveis as terras devo- O Poder Público tem um papel relevante
lutas ou arrecadadas pelos Estados, por nesse processo e dele devemos cobrar
ações discriminatórias, necessárias à pro- atitudes condizentes com esse dispositi-
teção dos ecossistemas naturais. vo constitucional.

§ 6º - As usinas que operem com reator O direito a um meio ambiente ecologi-


nuclear deverão ter sua localização defi- camente equilibrado é direito indisponível
nida em lei federal, sem o que não pode- e tem a natureza de direito público sub-
rão ser instaladas. jetivo, ou seja, pode ser exercitável em
face do próprio poder público, eis que a
Observe-se que o disposto nos pará-
ele também incumbe a tarefa de protegê-
grafos do artigo 225 visam justamen-
-lo: “cria-se para o Poder Público um dever
te dar efetividade ao disposto no caput,
constitucional, geral e positivo, represen-
qual seja, que todos tem direito ao meio
tado por verdadeiras obrigações de fazer,
ambiente ecologicamente equilibrado.
vale dizer, de zelar pela defesa (defender)
Destarte, tendo em vista a extensão da
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e preservação (preservar) do meio am-


biente” (MILARÉ, 2001, p. 235). o Direito Ambiental abriu ampla-
mente as portas para a participação
Não se pode olvidar ainda, que esse
da comunidade e de outros aparelhos
mesmo dever imposto ao Poder Público
do poder estatal na proteção da nossa
se estende também a todos os cidadãos.
grande casa. O cidadão e o Poder Judi-
São titulares deste direito a geração atual
ciário entram com força decisiva nesse
e ainda as futuras gerações.
magno combate do milênio: salvar o
Assim, o homem, na condição de cida- planeta.
dão, torna-se detentor do direito a um
meio ambiente saudável e equilibrado e 2.2 Princípios do Direito Am-
também sujeito ativo do Dever Funda-
mental de proteção do meio ambiente, de
biental
tal sorte que propomos a possibilidade de Segundo o princípio do acesso equi-
se instituir, no espaço participativo e na tativo aos recursos naturais, os bens am-
ética, uma caminhada rumo a um ordena- bientais devem ser utilizados de forma a
mento jurídico fraterno e solidário. satisfazer as necessidades comuns de to-
dos os habitantes da Terra, orientando-se
Ancora-se a análise da preservação sempre pela igualdade de oportunidades
ambiental como um direito fundamental, na sua fruição. Além disso, devem ser ex-
constitucionalmente reconhecido. Porém, plorados de tal modo que não haja risco de
esta não é a única questão suscitada: a serem exauridos, resguardando-os para
proteção ambiental constitui-se em res- as futuras gerações.
ponsabilidade tanto do indivíduo quanto
da sociedade, admitindo suas posições O princípio da prevenção ou precau-
no processo de preservação, reparação e ção prescreve que as normas de direito
promoção, assim, reveladas como um de- ambiental devem sempre se orientar para
ver fundamental. Como inerente do direi- o fato de que é necessário que o meio am-
to, pressupomos a exploração dos concei- biente seja preservado e protegido como
tos de eficácia e de efetividade da norma patrimônio público. A prevenção aplica-se
em relação à aplicação de princípios jurídi- tanto a situações onde há certeza quanto
cos à proteção do meio ambiente (MEDEI- aos riscos de danos ambientais, como às
ROS, 2004, p. 62). situações onde existem dúvidas e incer-
tezas.
É necessária e fundamental, a parti-
cipação da comunidade, eis que muitas Assim, se, por exemplo, na permis-
vezes ela é que constata a ocorrência de são ou autorização de uma obra ou de
dano ambiental. um novo agrotóxico há incerteza sobre
a existência ou probabilidade de danos à
Enfim, concordamos plenamente com o saúde pública ou à natureza, tal atividade,
pensamento de CARLOS GOMES DE CAR- em observância ao princípio da precau-
VALHO (2003, p. 152): ção, não deverá ser autorizada ou, pelo
menos, deverão ser tomadas medidas
preventivas que afastem os riscos. Enfim,
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prevenir é agir antecipadamente a fim de causar lesão a bens ambientais deve ser
evitar danos graves e irreparáveis ao meio responsabilizado por seus atos, reparan-
ambiente. do ou indenizando, de forma adequada,
os danos causados.
Enquanto doutrinadores como JOSÉ
AFONSO DA SILVA (2003) e TOSHIO MUKAI Esse princípio está previsto no § 3º do
(2002) sequer citam a precaução como art. 225 da Constituição Federal, citado
princípio do Direito Ambiental, outros anteriormente.
como CELSO ANTÔNIO PACHÊCO FIORILLO
A primeira parte do inciso VII do art.
(2003), EDIS MILARÉ (2004), LUÍS PAULO
4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio
SIRVINSKAS (2005) preferem adotar o
da responsabilidade ao determinar que a
princípio da prevenção como sinônimo ou
Política Nacional do Meio Ambiente visará
como gênero de que o princípio da precau-
à imposição ao poluidor e ao predador da
ção é espécie.
obrigação de recuperar e/ou indenizar os
Com efeito, existe uma grande seme- danos causados ao meio ambiente.
lhança entre o princípio da precaução e
O inciso IX do art. 9º dessa Lei também
o princípio da prevenção, qual seja, o pri-
prevê o princípio da responsabilidade ao
meiro é apontado como um aperfeiçoa-
classificar como instrumento da Política
mento do segundo. Prova disso é que os
Nacional do Meio Ambiente as penalida-
instrumentos da Política Nacional do Meio
des disciplinares ou compensatórias ao
Ambiente que se prestam a efetivar a
não cumprimento das medidas necessá-
prevenção são apontados também como
rias à preservação ou correção da degra-
instrumentos que se prestam a efetivar a
dação ambiental.
precaução (FARIAS, 2006).
O princípio da responsabilidade tam-
Nesse sentido temos a opinião de
bém foi consagrado pelo inciso VII do art.
ANA CAROLINA CASAGRANDE NOGUEIRA
4º e no § 1º do art. 14 da referida Lei ao
(2004) para quem o “princípio de precau-
dispor, respectivamente, que a Política
ção”, por sua vez, é apontado, pelos que
Nacional do Meio Ambiente visará à impo-
defendem seu status de novo princípio
sição, ao poluidor e ao predador, da obriga-
jurídico-ambiental, como um desenvolvi-
ção de recuperar e/ou indenizar os danos
mento e, sobretudo, um reforço do princí-
causados e, ao usuário, da contribuição
pio da prevenção. Seu fundamento seria,
pela utilização de recursos ambientais
igualmente, a dificuldade ou impossibili-
com fins econômicos, e que sem obstar a
dade de reparação da maioria dos danos
aplicação das penalidades previstas neste
ao meio ambiente, distinguindo-se do
artigo, é o poluidor obrigado, independen-
princípio da prevenção por aplicar-se es-
temente de existência de culpa, a indeni-
pecificamente às situações de incerteza
zar ou reparar os danos causados ao meio
científica.
ambiente e a terceiros, afetados por sua
O princípio da reparação ou da res- atividade, prevendo ainda que o Minis-
ponsabilidade, decorrente do princípio tério Público da União e dos Estados terá
da prevenção, orienta que aquele que legitimidade para propor ação de respon-
13

sabilidade civil e criminal por danos causa- OCDE – em 26 de maio de 1972, por meio
dos ao meio ambiente (FARIAS, 2006). da Recomendação C(72) 128 do Conselho
Diretor, que trata da relação entre as po-
O princípio da qualidade prescreve
líticas ambiental e econômica (ANTUNES,
que as normas de direito ambiental devem
2005).
se orientar para o fato de que o meio am-
biente deve ter qualidade propícia à vida A segunda parte do inciso VII do art. 4º
saudável e ecologicamente equilibrada. da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio do
poluidor-pagador ao determinar que a Po-
O princípio da participação popular
lítica Nacional do Meio Ambiente visará à
ou gestão democrática decorre da ne-
imposição ao usuário de contribuição pela
cessidade de uma democracia participa-
utilização de recursos ambientais com
tiva, bem como do fato de que cuidar do
fins econômicos.
meio ambiente não é tarefa apenas do Es-
tado, mas de toda a sociedade civil. Assim, A Declaração do Rio de Janeiro sobre
é fundamental um espaço de diálogo e co- Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-
operação entre os diversos atores sociais, bém dispôs sobre o princípio do poluidor-
seja para a formulação e execução de uma -pagador ao estabelecer no Princípio 16.
política e de ações ambientais, seja para
O princípio do poluidor pagador tem
a solução de problemas. Como exemplo
sido confundido por grande parte da dou-
deste princípio temos as audiências públi-
trina com o princípio da responsabilidade.
cas e os conselhos de recursos hídricos.
Contudo, o seu objetivo não é recupe-
O objetivo do princípio do poluidor- rar um bem lesado nem criminalizar uma
-pagador é forçar a iniciativa privada a conduta lesiva ao meio ambiente, e sim
internalizar os custos ambientais gerados afastar o ônus econômico da coletividade
pela produção e pelo consumo na forma e voltá-lo para a atividade econômica uti-
de degradação e de escasseamento dos lizadora de recursos ambientais (ANTU-
recursos ambientais. NES, 2005).

Esse princípio estabelece que quem Nesse sentido, destaca PAULO DE BES-
utiliza o recurso ambiental deve supor- SA ANTUNES (2005, p. 37) que o princípio
tar seus custos, sem que essa cobrança do poluidor pagador parte da constatação
resulte na imposição de taxas abusivas, de que os recursos ambientais são escas-
de maneira que nem Poder Público nem sos e o seu uso na produção e no consumo
terceiros sofram com tais custos. Como acarretam a sua redução e degradação.
afirma PAULO AFFONSO LEME MACHADO Ora, se o custo da redução dos recursos
(2001, p. 47), ao causar uma degradação naturais não for considerado no siste-
ambiental o indivíduo invade a proprieda- ma de preços, o mercado não será capaz
de de todos os que respeitam o meio am- de refletir a escassez. Tanto por isso são
biente e afronta o direito alheio. necessárias políticas públicas capazes de
eliminar a falha de mercado, de forma a
O princípio do poluidor-pagador foi in-
assegurar que os preços dos produtos re-
troduzido pela Organização para a Coo-
flitam os custos ambientais.
peração e Desenvolvimento Econômico –
14

ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS uso comum do povo e essencial à sadia


E BENJAMIN (1993, p. 227) afirma que o qualidade de vida”.
princípio do poluidor-pagador visa a fazer
Por sua vez, o princípio da publicida-
com que o empreendedor inclua nos cus-
de ou da informação decorre do princípio
tos de sua atividade todas as despesas
da participação e visa assegurar sua eficá-
relativas à proteção ambiental. A poluição
cia. Assim, toda a informação referente ao
dos recursos ambientais de uma maneira
meio ambiente é pública, vale dizer, qual-
geral, e especialmente em se tratando da-
quer cidadão pode ter acesso a ela. A in-
queles bens mais facilmente encontrados
formação visa garantir ao cidadão a possi-
na natureza, como a água, o ar e o solo, por
bilidade de tomar posições ou intervir em
conta da natureza difusa, é normalmente
determinada matéria, e refere-se tanto a
custeada pelo Poder Público.
documentos, como relatórios de impacto
Em termos econômicos, esse custo é ambiental, até estudos realizados sobre o
um subsídio à atividade econômica po- meio ambiente.
luidora, já que não está sendo levado em
Voltado para a Administração Pública, o
conta os prejuízos sofridos pela sociedade
princípio do limite, discorre sobre o de-
que ocorrem tanto quando a coletividade
ver de fixar parâmetros mínimos a serem
sente os efeitos da poluição quando os
observados em casos como emissões de
cofres públicos deixam de aplicar seu di-
partículas, ruídos, sons, destinação final
nheiro em outra finalidade para desconta-
de resíduos sólidos, hospitalares e líqui-
minar uma determinada região ou um de-
dos, dentre outros, visando sempre pro-
terminado recurso ambiental. O objetivo
mover o desenvolvimento sustentável.
do princípio do poluidor-pagador é evitar
que ocorra a simples privatização dos lu- A Declaração do Rio de Janeiro sobre
cros e a socialização dos prejuízos dentro Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-
de uma determinada atividade econômica bém dispôs sobre o princípio da responsa-
(ANTUNES, 2005, p. 38). bilidade ao estabelecer no Princípio 3 que
“o direito ao desenvolvimento deve ser
Os recursos ambientais de uma forma
exercido de modo a permitir que sejam
geral, e principalmente aqueles encon-
atendidas equitativamente as necessi-
trados em maior abundância na natureza,
dades de desenvolvimento e de meio am-
como a água (no caso de determinadas re-
biente das gerações presentes e futuras”.
giões do Brasil e do mundo), o ar e a areia,
são historicamente degradados por de- O inciso V do § 1º do artigo 225 da Cons-
terminados setores econômicos, que têm tituição Federal determina que para asse-
obtido o lucro à revelia do prejuízo sofrido gurar o direito ao meio ambiente ecolo-
pela coletividade. Trata-se de uma espé- gicamente equilibrado incumbe ao Poder
cie de privatização dos lucros e socializa- Público “controlar a produção, a comercia-
ção dos prejuízos, o que significa um en- lização e o emprego de técnicas, métodos
riquecimento ilícito visto que de acordo e substâncias que comportem risco para a
com o caput do art. 225 da Constituição vida, a qualidade de vida e o meio ambien-
Federal, o meio ambiente é um “bem de te”.
15

De acordo com PAULO DE BESSA AN- IX – proteção de áreas ameaçadas de


TUNES (2005, p. 34), a manifestação mais degradação;
palpável da aplicação do princípio do limite
ocorre com o estabelecimento de padrões
X – educação ambiental a todos os ní-
veis do ensino, inclusive a educação da co-
de qualidade ambiental concretizados na
munidade, objetivando capacitá-la para a
forma de limites de emissões de partícu-
defesa ativa do meio ambiente.
las, de limites aceitáveis de presença de
determinadas substâncias na água, entre Esses princípios estão consolidados no
outros. Somente são permitidas as prá- art. 225 e parágrafos da Constituição Fe-
ticas e condutas cujos impactos ao meio deral e na Lei nº 6938/81 que estabelece
ambiente estejam compreendidos dentro os objetivos da Política Nacional de Meio
de padrões previamente fixados pela le- Ambiente e tem sua execução regula-
gislação ambiental e pela Administração mentada pelo Decreto 99.274/90.
Pública.

Mais especificamente, estes prin- 2.3 A tutela constitucional


cípios se especializam nos seguintes do/ao meio ambiente
mandamentos: Embora Constituições anteriores te-
I – ação governamental na manuten- nham trazido dispositivos de interesse am-
ção do equilíbrio ecológico, considerando biental, a CF de 1988 é a primeira a trazer
o meio ambiente como um patrimônio pú- um capítulo específico destinado ao meio
blico a ser necessariamente assegurado e ambiente, consubstanciado no artigo 225 e
protegido, tendo em vista o uso coletivo; seus seis parágrafos. Ele é o Capítulo VI do
Título VIII, que dispõe sobre a Ordem Social.
II – racionalização do uso do solo, do Procedendo a uma hermenêutica sistemá-
subsolo, da água e do ar; tica, poderemos ver também que o meio
ambiente, como disposto na Constituição
III – planejamento e fiscalização do uso
brasileira, deve-se voltar para garantia tam-
dos recursos ambientais;
bém do bem-estar e da justiça social, tendo
IV – proteção dos ecossistemas, com a como primazia o trabalho.
preservação de áreas representativas;
Tem, por isso, natureza econômica, em
V – controle e zoneamento das ativida- que não se descura, obviamente, que esta
des, potencial ou efetivamente, poluido- peculiaridade está destinada a garantir a
ras; todos uma vida digna, em condições de sa-
tisfazer plenamente as necessidades do
VI – incentivos ao estudo e à pesquisa
gênero humano, garantindo-lhe o piso vital
de tecnologia orientadas para o uso racio-
mínimo.
nal e a proteção dos recursos ambientais;
Mas, apesar de ter um capítulo inteira-
VII – acompanhamento do estado da
mente dedicado ao meio ambiente, po-
qualidade ambiental;
demos visualizar em todo o seu texto dis-
VIII – recuperação de áreas degrada- positivos de interesse implicitamente ou
das; explicitamente ambiental.
16

Como bem afirma JOSÉ AFONSO DA SILVA bem como os terrenos marginais e as praias
(2004), corroborando com outros doutri- fluviais;
nadores, a CF de 1988 tratou a matéria em
V - os recursos naturais da plataforma
seus termos mais amplos e modernos, com
continental e da zona econômica exclusiva;
a questão do meio ambiente permeando
todo o texto, sempre correlacionada com os VI - o mar territorial;
temas fundamentais da ordem constitucio-
nal.
VII - os terrenos de marinha e seus acres-
cidos;
Abaixo, transcrevemos alguns artigos
que trazem para o texto constitucional
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
componentes de interesse ambiental natu- IX - os recursos minerais, inclusive os do
ral ou social: subsolo;
Art. 5º, LXXIII: qualquer cidadão é parte X - as cavidades naturais subterrâneas e
legítima para propor ação popular que vise os sítios arqueológicos e pré-históricos.
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe, à mo- Art. 21: Compete à União: [...]
ralidade administrativa, ao meio ambiente e XIX - instituir sistema nacional de geren-
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o ciamento de recursos hídricos e definir cri-
autor, salvo comprovada má-fé, isento de térios de outorga de direitos de seu uso;
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
XX - instituir diretrizes para o desenvol-
Art. 6º: São direitos sociais a educação, a vimento urbano, inclusive habitação, sane-
saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segu- amento básico e transportes urbanos;
rança, a previdência social, a proteção à ma-
ternidade e à infância, a assistência aos de- XXIII - explorar os serviços e instalações
samparados, na forma desta Constituição; nucleares de qualquer natureza e exercer
monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra,
Art. 7º: São direitos dos trabalhadores o enriquecimento e reprocessamento, a in-
[...] dustrialização e o comércio de minérios nu-
XXII - redução dos riscos inerentes ao cleares e seus derivados;
trabalho, por meio de normas de saúde, hi- XXIV - organizar, manter e executar a
giene e segurança; inspeção do trabalho;
Art. 20: São bens da União: XXV - estabelecer as áreas e as condi-
II - as terras devolutas indispensáveis (...) ções para o exercício da atividade de garim-
à preservação ambiental, definidas em lei; pagem, em forma associativa.

III - os lagos, rios e quaisquer correntes Art. 22: Compete privativamente à União
de água em terrenos de seu domínio, ou legislar sobre:
que banhem mais de um Estado, sirvam de IV - águas, energia, informática, teleco-
limites com outros países, ou se estendam municações e radiodifusão;
a território estrangeiro ou dele provenham,
XII - jazidas, minas, outros recursos mi-
17

nerais e metalurgia; fluentes, emergentes e em depósito, res-


salvadas, neste caso, na forma da lei, as de-
XXVI - atividades nucleares de qualquer
correntes de obras da União;
natureza;
Art. 30: Compete aos Municípios:
Art. 23: É competência comum da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- I - legislar sobre assuntos de interesse
nicípios: local;

II - cuidar da saúde e assistência pública, II - suplementar a legislação federal e a


[...]; estadual no que couber;

III - proteger os documentos, as obras VIII - promover, no que couber, adequado


e outros bens de valor histórico, artístico e ordenamento territorial, mediante planeja-
cultural, os monumentos, as paisagens na- mento e controle do uso, do parcelamento e
turais notáveis e os sítios arqueológicos; da ocupação do solo urbano;

IV - impedir a evasão, a destruição e a IX - promover a proteção do patrimônio


descaracterização de obras de arte e de histórico-cultural local, observada a legisla-
outros bens de valor histórico, artístico ou ção e a ação fiscalizadora federal e estadu-
cultural; al.

VI - proteger o meio ambiente e comba- Art. 91, § 1º: Compete ao Conselho de


ter a poluição em qualquer de suas formas; Defesa Nacional:

VII - preservar as florestas, a fauna e a III - propor os critérios e condições de


flora; utilização de áreas indispensáveis à segu-
rança do território nacional e opinar sobre
Art. 24: Compete à União, aos Estados
seu efetivo uso, especialmente na faixa de
e ao Distrito Federal legislar concorrente-
fronteira e nas relacionadas com a preser-
mente sobre:
vação e a exploração dos recursos naturais
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conser- de qualquer tipo.
vação da natureza, defesa do solo e dos re-
Art. 129: São funções institucionais do
cursos naturais, proteção do meio ambien-
Ministério Público:
te e controle da poluição;
III - promover o inquérito civil e a ação
VII - proteção ao patrimônio histórico,
civil pública, para a proteção do patrimônio
cultural, artístico, turístico e paisagístico;
público e social, do meio ambiente e de ou-
VIII - responsabilidade por dano ao meio tros interesses difusos e coletivos.
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos
Art. 170: A ordem econômica, fundada
de valor artístico, estético, histórico, turísti-
na valorização do trabalho humano e na li-
co e paisagístico;
vre iniciativa, tem por fim assegurar a to-
Art. 26: Incluem-se entre os bens dos Es- dos existência digna, conforme os ditames
tados: da justiça social, observados os seguintes
princípios:
I - as águas superficiais ou subterrâneas,
18

III - função social da propriedade; Art. 200: Competências do Sistema Úni-


co de Saúde:
VI - defesa do meio ambiente.
[...]
Art. 173, § 5º: A lei, sem prejuízo da res-
ponsabilidade individual dos dirigentes da VIII - colaborar na proteção do meio am-
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabi- biente, nele compreendido o do trabalho.
lidade desta, sujeitando-a às punições com-
Art. 215: O Estado garantirá a todos o
patíveis com sua natureza, nos atos pratica-
pleno exercício dos direitos culturais e aces-
dos contra a ordem econômica e financeira
so às fontes da cultura nacional, e apoiará
e contra a economia popular.
e incentivará a valorização e a difusão das
Art. 174, § 3º: O Estado favorecerá a or- manifestações culturais.
ganização da atividade garimpeira em coo-
§ 1º - O Estado protegerá as manifesta-
perativas, levando em conta a proteção do
ções das culturas populares, indígenas e
meio ambiente e a promoção econômico-
afro-brasileiras, e das de outros grupos par-
-social dos garimpeiros.
ticipantes do processo civilizatório nacional.
Art. 182: A política de desenvolvimento
Art. 216: Constituem patrimônio cultural
urbano, executada pelo Poder Público Muni-
brasileiro:
cipal, conforme diretrizes gerais fixadas em
lei, tem por objetivo ordenar o pleno desen- V - os conjuntos urbanos e sítios de valor
volvimento das funções sociais da cidade e histórico, paisagístico, artístico, arqueológi-
garantir o bem-estar de seus habitantes. co, paleontológico, ecológico e científico.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua Art. 217, § 3º: O Poder público incentiva-
função social quando atende às exigências rá o lazer, como forma de promoção social.
fundamentais de ordenação da cidade ex-
pressas no plano diretor.
Art. 220: Pensamento, criação, expres-
são e informação livres de restrição.
§ 4º É facultado ao Poder Público munici-
pal, mediante lei específica para área incluí-
§ 3º - Compete à lei federal:
da no plano diretor, exigir, nos termos da lei II - estabelecer os meios legais que ga-
federal, do proprietário do solo urbano não rantam à pessoa e à família a possibilidade
edificado, subutilizado ou não utilizado, que de se defenderem de programas ou progra-
promova seu adequado aproveitamento. mações de rádio e televisão que contrariem
o disposto no art. 221, bem como da propa-
Art. 186: A função social é cumprida
ganda de produtos, práticas e serviços que
quando a propriedade rural atende, simul-
possam ser nocivos à saúde e ao meio am-
taneamente, segundo critérios e graus de
biente.
exigência estabelecidos em lei, aos seguin-
tes requisitos: Art. 225: Todos têm direito ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado, bem
II - utilização adequada dos recursos na-
de uso comum do povo e essencial à sadia
turais disponíveis e preservação do meio
qualidade de vida, impondo-se ao poder pú-
ambiente;
blico e à coletividade o dever de defendê-lo
19

e preservá-lo para as presentes e futuras nal, garantido, em qualquer hipótese, o re-


gerações. torno imediato logo que cesse o risco.

[...] § 6º São nulos e extintos, não produzin-


do efeitos jurídicos, os atos que tenham por
Art. 231 São reconhecidos aos índios sua
objeto a ocupação, o domínio e a posse das
organização social, costumes, línguas, cren-
terras a que se refere este artigo, ou a ex-
ças e tradições, e os direitos originários so-
ploração das riquezas naturais do solo, dos
bre as terras que tradicionalmente ocupam,
rios e dos lagos nelas existentes, ressalva-
competindo à União demarcá-las, proteger
do relevante interesse público da União, se-
e fazer respeitar todos os seus bens.
gundo o que dispuser lei complementar, não
§ 1º São terras tradicionalmente ocupa- gerando a nulidade e a extinção direito a in-
das pelos índios as por eles habitadas em denização ou a ações contra a União, salvo,
caráter permanente, as utilizadas para suas na forma da lei, quanto às benfeitorias deri-
atividades produtivas, as imprescindíveis à vadas da ocupação de boa-fé.
preservação dos recursos ambientais ne-
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o
cessários a seu bem-estar e as necessárias
disposto no art. 174, §§ 3º e 4.º.
a sua reprodução física e cultural, segundo
seus usos, costumes e tradições. Art. 232. Os índios, suas comunidades e
organizações são partes legítimas para in-
§ 2º As terras tradicionalmente ocupa-
gressar em juízo em defesa de seus direitos
das pelos índios destinam-se a sua posse
e interesses, intervindo o Ministério Público
permanente, cabendo-lhes o usufruto ex-
em todos os atos do processo (JESUS JU-
clusivo das riquezas do solo, dos rios e dos
NIOR, 2008).
lagos nelas existentes.
Cremos não ter ficado dúvidas a respeito
§ 3º O aproveitamento dos recursos hí-
da importância constitucional dada às ques-
dricos, incluídos os potenciais energéticos,
tões ambientais.
a pesquisa e a lavra das riquezas minerais
em terras indígenas só podem ser efeti-
vados com autorização do Congresso Na-
cional, ouvidas as comunidades afetadas,
ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei.

§ 4º As terras de que trata este artigo


são inalienáveis e indisponíveis, e os direi-
tos sobre elas, imprescritíveis.

§ 5º É vedada a remoção dos grupos indí-


genas de suas terras, salvo, ad referendum
do Congresso Nacional, em caso de catás-
trofe ou epidemia que ponha em risco sua
população, ou no interesse da soberania do
País, após deliberação do Congresso Nacio-
20
UNIDADE 3 – Princípios constitucionais
do direito administrativo
3.1 Direito Administrativo ele regidas.
Tradicionalmente, podemos dividir o Quanto ao Direito Administrativo, este
direito em dois ramos: público e priva- pode ser definido como o conjunto har-
do. Enquanto o direito privado regula os mônico de princípios jurídicos que regem
interesses particulares, como forma de os órgãos, os agentes, as atividades pú-
possibilitar o convívio das pessoas em blicas tendentes a realizar concreta, di-
sociedade e uma harmoniosa fruição dos reta e imediatamente os fins desejados
seus bens, o direito público tem por ob- pelo Estado.
jeto e objetivo, regular os interesses da
Portanto, é o ramo do direito público
sociedade como um todo, ou seja, regular
que tem por objeto o estudo das normas
as relações entre a sociedade e o Estado
jurídicas relativas ao exercício da fun-
e entre as entidades e órgãos que com-
ção administrativa do Estado. Ou seja, é
põem o Estado.
o conjunto de regras que se impõem às
Ao prevalecer o interesse público so- pessoas jurídicas de direito público e as
bre os interesses privados, a desigual- pessoas jurídicas de direito privado que
dade nas relações jurídicas dá a tônica exercem função administrativa, estas
marcante ao direito público que se fun- últimas como delegadas do Estado, rea-
damenta na noção de que os interesses lizando os fins desejados pela ordem ju-
da coletividade prevalecem sobre os in- rídica e, idealmente, o bem comum (AN-
teresses privados, por isso, quando o Es- DRADE, 2012).
tado atua na defesa do interesse público,
As principais inovações no âmbito do
goza de certas prerrogativas que o situ-
direito administrativo foram introduzi-
am em posição jurídica de superioridade
das após a Constituição de 1988, seja
ante o particular, obviamente, respeitan-
com a adoção dos princípios do Estado
do as garantias individuais consagradas
Democrático de Direito, seja sob a inspi-
pelo ordenamento jurídico.
ração do neoliberalismo e da globaliza-
MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE ção, do sistema da common law e do di-
PAULO (2011, p. 2) abreviam que nas re- reito comunitário europeu, que levaram
lações jurídicas de direito público, o Esta- à chamada Reforma do Estado, na qual
do encontra-se em posição de desigual- se insere a Reforma da Administração
dade jurídica relativamente ao particular, Pública e, em consequência, a introdução
subordinando os interesses deste aos de novidades no âmbito do direito admi-
interesses da coletividade, ao interes- nistrativo.
se público, representados pelo Estado
Esse é um dos vieses que nos interes-
na relação jurídica, ao contrário do que
sam discutir nesta unidade, mas ainda
acontece no direito privado onde a nota
precisamos definir a Administração Pú-
característica é a existência de igualdade
blica!
jurídica entre os polos das relações por
21

3.2 Administração Pública recursos e serviços públicos fundamen-


tada em princípios e normas que aten-
Segundo PETER DRUCKER (1984, p.
dam à moralidade e transparência, afinal,
2), administrar é manter as organizações
a “res” pública é do povo.
coesas, fazendo-as funcionar. É assumir
tarefas. Significa disciplina. Mas inclui Para tanto, a Constituição Federal, no
também pessoal. Cada realização da ad- caput do art. 37, estabelece cinco prin-
ministração é a realização de um admi- cípios da Administração Pública (direta
nistrador. Cada fracasso pode ser visto e indireta): legalidade, impessoalida-
como o fracasso de um administrador. de, moralidade, publicidade e eficiência.
São pessoas que administram, e não for- Exatamente por estarem textualmente
ças, e nem fatos. O descortino, a dedica- previstos no texto constitucional, esses
ção e a integridade dos administradores princípios são chamados de princípios ex-
determinam se haverá administração ou pressos, em oposição a outros princípios
(des)administração. que, por não estarem elencados de forma
expressa na Constituição (embora por ela
No caso da Administração Pública, é
acolhidos), são chamados de princípios
nela que o Estado vai encontrar o instru-
reconhecidos ou princípios implícitos.
mento indispensável à execução das ta-
refas a que foi criado, ou seja, a gestão Aqui mais uma vez comprovamos que
dos interesses e bem-estar da coletivi- os princípios jurídicos são as ideias cen-
dade, com vistas ao progresso social. E se trais do sistema, que norteiam toda a
pensarmos no Brasil, um país de dimen- interpretação jurídica, conferindo a ele
sões continentais, com uma população já um sentido lógico e harmonioso. Os prin-
passando a conta dos 200 milhões, real- cípios estabelecem o alcance e sentido
mente a missão da Administração Pública amplo das regras existentes no ordena-
é difícil! mento jurídico (ANDRADE, 2013).
Enfim, todos nós dependemos em al- Voltemos mais um pouco a algumas
gum momento da Administração Pública, definições de Administração Pública para
portanto, ela faz parte de nossas vidas termos um embasamento firme para en-
cotidianamente. tendermos a importância dos princípios
constitucionais para essa seara.
Olhando pelo prisma acima (de instru-
mento indispensável...) MARIA SYLVIA WALTER CENEVIVA (2003) nos oferece
ZANELLA DI PIETRO (2011) leciona que a a conceituação mais simples e não menos
Administração Pública pode ser definida objetiva que é “o conjunto de órgãos do
como a atividade concreta e imediata que Estado encarregado de exercer, em be-
o Estado desenvolve, sob regime jurídico nefício do bem comum, funções previs-
de direito público, para a consecução dos tas na Constituição e nas leis”.
interesses coletivos.
Para HELY LOPES MEIRELLES (2007),
A Administração direcionada ao ofício reconhecido jurista e um dos doutri-
que lhe compete, objetivando concreti- nadores do Direito Administrativo:
zar os anseios populares, deve gerir os
22

Percebemos assim, que a Administra-


Em sentido formal, a Administração ção Pública atua por meio de seus órgãos
Pública, é o conjunto de órgãos insti- e agentes, os quais são incumbidos do
tuídos para consecução dos objetivos exercício da atividade administrativa, a
do Governo; em sentido material, é o qual é exercida tipicamente pelo Poder
conjunto das funções necessárias aos Executivo e a atipicamente pelos Poderes
serviços públicos em geral; em acepção Legislativo e Judiciário.
operacional, é o desempenho perene e
No art. 1º da CF – 88, é claramente de-
sistemático, legal e técnico, dos serviços
finida a nossa forma de governo: Repúbli-
do próprio Estado ou por ele assumidos
ca, a qual quer dizer coisa pública, assim,
em benefício da coletividade. Numa vi-
a administração pública no seu sentido
são global, a Administração Pública é,
operacional, realizada pelo Poder Exe-
pois, todo o aparelhamento do Estado
cutivo, nada mais é que administrar algo
preordenado à realização de seus servi-
alheio, de toda a sociedade.
ços, visando à satisfação das necessida-
des coletivas. No nosso sistema, a administração não
é feita diretamente pelo povo. Este esco-
lhe seus representantes para represen-
A distinção que o renomado professor
tá-lo e editar as normas que os agentes
(1982) faz entre a administração pública e
públicos irão aplicar em interesse da co-
privada é a seguinte “Na Administração Pú-
letividade. Contudo, os administradores
blica não há liberdade pessoal. Enquanto na
podem acometer abusos e ilegalidades e
administração particular é lícito fazer tudo o
por esta razão, torna-se necessário fisca-
que a lei não proíbe, na Administração Públi-
lizar e controlar os atos da Administração
ca só é permitido o que a lei autoriza”. Por isso
Pública.
que é uma organização do tipo burocrata.
Com a implementação do Plano Dire-
O conceito de JOSÉ AFONSO DA SILVA
tor da Reforma do Aparelho do Estado
(1998) não difere muito de Meirelles: em 1995, passou-se a adotado o seguinte
conceito para a administração pública: “é
Administração Pública é o conjunto de todo o aparelho do Estado pré-orientado
meios institucionais, materiais, financei- à realização de seus serviços, visando à
ros e humanos preordenados à execução satisfação das necessidades coletivas”
das decisões políticas. Essa é uma noção (BRASIL, 2001).
simples de Administração Pública que Esta definição está em consonância
destaca, em primeiro lugar, que é subordi- com a nova relação que deve existir en-
nada ao Poder Político; em segundo lugar, tre o Estado e a sociedade, onde se vê o
que é meio e, portanto, algo que se serve cidadão como contribuinte de impostos e
para atingir fins definidos e, em terceiro como cliente dos seus serviços. Os resul-
lugar, denota seus aspectos: um conjunto tados da ação do Estado são considerados
de órgãos a serviço do Poder Político e as bons não porque os processos adminis-
operações, atividades administrativas. trativos estão sob controle e são seguros,
23

mas porque as necessidades do cidadão- República e dos ministérios (Ver art. 4º, I,
-cliente estão sendo atendidas (BRASIL, Decreto Lei nº 200/67).
1995).

Enfim, a Administração Pública é o con- 3.2.1 Indireta


junto de órgãos instituídos para consecu- Na Administração Pública Indireta en-
ção dos objetivos do Governo. É o desem- contramos: as autarquias, as fundações
penho permanente, sistemático, legal e públicas (têm natureza jurídica de direi-
técnico dos serviços próprios do Estado to público, Incluído pela Lei nº 7.596, de
ou por ele assumidos em benefício da co- 1987), as empresas públicas (redação
letividade. É o aparelhamento do Estado dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969),
preordenado à realização de seus servi- as sociedades de economia mista (têm
ços, visando à satisfação das necessida- natureza de direito privado). Essas enti-
des coletivas. dades vinculam-se ao ministério em cuja
área de competência enquadra-se sua
A Administração Pública pode clas-
principal atividade e são responsáveis
sificar-se em:
pela execução de atividades de Governo
Administração Pública em senti- que necessitem ser desenvolvidas de for-
do objetivo, que se refere às atividades ma descentralizada (Ver art. 4º, II e art. 5º,
exercidas pelas pessoas jurídicas, órgãos Dec. Lei 200/67).
e agentes incumbidos de atender concre-
Cabe enfatizar que todos os entes da
tamente às necessidades coletivas; e,
administração indireta citados são pes-
Administração Pública em sentido soas administrativas, com personalidade
subjetivo, que se refere aos órgãos in- jurídica própria, enquanto que a União, os
tegrantes das pessoas jurídicas políticas Estados, o Distrito Federal e os Municípios
(União, Estados, Municípios e Distrito Fe- são pessoas políticas.
deral), aos quais a lei confere o exercício
No que se refere à criação desses entes
de funções administrativas (DI PIETRO,
da Administração Indireta, extraímos im-
2011).
portante lição da Constituição Federal:
Cada um desses entes políticos possui
Art. 37, XIX – somente por lei específica
sua organização administrativa. No caso
poderá ser criada autarquia e autorizada a
da administração federal, temos o Decre-
instituição de empresa pública, de socie-
to-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967
dade de economia mista e de fundação,
(com redações atualizadas e revogadas),
cabendo à lei complementar, neste último
que dispõe sobre a organização da Admi-
caso, definir as áreas de sua atuação (Re-
nistração Federal, e em seu art. 4º esta-
dação dada pela Emenda Constitucional
belece a divisão entre administração dire-
nº 19, de 1998).
ta e indireta (ANASTÁCIO, 2007).
Quanto às fundações (instituídas pelo
A Administração Pública Direta cons-
Poder Público), é importante saber que há
titui-se dos serviços integrados na es-
divergência doutrinária quanto a sua na-
trutura administrativa da Presidência da
tureza: se somente de natureza jurídica
24

pública ou se de natureza jurídica pública econômica que o Governo seja levado a


ou privada. exercer por força de contingência ou de
conveniência administrativa podendo
Vejamos rapidamente cada uma revestir-se de qualquer uma das formas
delas: admitidas em direito (Redação dada pelo
a) Autarquias Decreto-Lei nº 900, de 1969).

Destaca-se o conceito de Autarquia de Alguns exemplos seriam: Caixa Econô-


MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (2011): mica Federal – CEF –, Empresa Brasileira
“a pessoa jurídica de direito público, criada de Correios e Telégrafos – ECT –, Empresa
por lei, com capacidade de autoadminis- Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EM-
tração, para o desempenho de serviço pú- BRAPA.
blico descentralizado, mediante controle c) Sociedades de Economia Mista
administrativo exercido nos limites da lei”.
A entidade dotada de personalidade ju-
Cabe ainda, destacar neste ponto, a im- rídica de direito privado, criada por lei para
portância da exigência de criação das au- a exploração de atividade econômica,
tarquias por meio de lei, que está prevista sob a forma de sociedade anônima, cujas
no art. 37, inciso XIX, da Constituição Fe- ações com direito a voto pertençam em
deral, citado acima. sua maioria à União ou a entidade da Ad-
Outro conceito para autarquias seria ministração Indireta (Redação dada pelo
serviços autônomos criados por lei, com Decreto-Lei nº 900, de 1969).
personalidade jurídica, patrimônio (esta Exemplos: Banco do Brasil, Companhia
estrutura organizacional também é se- Vale do Rio Doce, Centrais Elétricas Brasi-
guida pelos Estados, Municípios e Distrito leiras S.A., Telecomunicações Brasileiras
Federal.) e receita própria, para executar S.A.
atividades típicas da administração públi-
ca que requeiram, para seu melhor funcio- d) Fundações Públicas
namento, gestão administrativa e finan-
A entidade dotada de personalidade
ceira descentralizada.
jurídica de direito privado, sem fins lu-
Temos como exemplos: Instituto Bra- crativos, criada em virtude de autoriza-
sileiro de Meio Ambiente e dos Recursos ção legislativa, para o desenvolvimento
Naturais Renováveis – IBAMA –, Instituto de atividades que não exijam execução
Nacional de Seguridade Social – INSS – e o por órgãos ou entidades de direito públi-
Instituto Nacional de Metrologia, Norma- co, com autonomia administrativa, pa-
lização e Qualidade Industrial – INMETRO. trimônio próprio gerido pelos respecti-
vos órgãos de direção, e funcionamento
b) Empresas Públicas custeado por recursos da União e de ou-
Entidade dotada de personalidade ju- tras fontes (Incluído pela Lei nº 7.596, de
rídica de direito privado, com patrimônio 1987).
próprio e capital exclusivo da União, cria- Como exemplo de fundações públicas,
do por lei para a exploração de atividade podemos citar as universidades federais
25

e a Fundação Instituto Brasileiro de Geo- (concessionários ou permissionários),


grafia e Estatística - FIBGE. conforme regras, regulamentos e contro-
le estatal. Entre eles estão os transportes
A definição de personalidade jurídica
coletivos, energia elétrica, serviços de te-
de direito privado para as Fundações Pú-
lefonia, dentre outros.
blicas foi alterada pela atual Constitui-
ção, dando-lhes a personalidade jurídica Segundo HELY LOPES MEIRELLES
de direito público e passando a integrar a (2007), o serviço privativo visa a satisfa-
estrutura das entidades da Administração zer as necessidades gerais e essenciais da
Indireta (MEIRELLES, 2007). coletividade, com a finalidade precípua de
subsistência e desenvolvimento. Nos ser-
e) Serviços públicos
viços de utilidade pública, o objetivo é fa-
Serviços Públicos são todos aqueles cilitar a vida dos cidadãos na coletividade,
serviços prestados pela Administração colocando serviços à sua disposição que
ou delegados, sob normas e controle es- lhes proporcionarão conforto e bem-es-
tatais, para satisfazer as necessidades da tar.
coletividade ou simples conveniência es-
tatal.
3.2.2 Direta
Eles podem ser divididos em: serviço Administração Direta corresponde à
privativo do Estado e serviço de Utilidade prestação dos serviços públicos direta-
Pública. mente pelo próprio Estado e seus órgãos.
No primeiro caso, os serviços privativos Assim, quando a União, os Estados-
são aqueles que a Administração presta -membros, Distrito Federal e Municípios,
por reconhecer a sua essencialidade e ne- prestam serviços públicos por seus pró-
cessidade para a sobrevivência do grupo prios meios, diz que há atuação da Admi-
social e do próprio Estado. Por isso mes- nistração Direita.
mo, tais serviços são considerados priva-
tivos do Poder Público, no sentido de que Chama-se centralizada a atividade
só a Administração deve prestá-los. Sig- exercida diretamente pelos entes esta-
nifica dizer que não se poderá delegar a tais, ou seja, pela Administração Direita.
terceiros, porque exigem atos de império Descentralizada, por sua vez, á a ativida-
e medidas compulsórias em relação aos de delegada (por contrato), ou outorgada
administrados. (por lei), para as entidades da Administra-
ção Indireta.
Como exemplos desses serviços temos
a segurança interna, a defesa nacional e a 3.3 Princípios constitucio-
preservação da saúde pública.
nais da Administração Pú-
No segundo caso, dos serviços de utili-
dade pública, a Administração reconhece blica
a sua conveniência para os membros da Relembremos que determinadas áreas
sociedade e presta esses serviços dire- como a administrativa e a contabilidade
tamente ou descentraliza para terceiros são regidas por princípios. Eles exercem
26

múltiplas funções, entre as quais temos: a) Princípio da Legalidade


ser fundamentadora, interpretativa, su-
Encontramos no Art. 5º, II da CF/88 que
pletiva, integrativa, diretiva e limitativa.
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar
Ou seja, são fontes de legitimação de uma
de fazer alguma coisa senão em virtude
situação fundamentando e orientando
de lei”.
sua interpretação.
Sendo assim, o princípio da Legalidade
Neste mundo globalizado, com novas
é um dos sustentáculos da concepção do
tecnologias surgindo a cada momento, a
Estado de Direito e do próprio regime jurí-
aplicação dos princípios é imprescindível,
dico-administrativo.
tendo a função de dar um norte, de dire-
cionar as novas situações que vão surgin- O Princípio da legalidade nasceu com o
do. Ao contrário das regras, eles são aber- Estado de Direito e constitui uma das prin-
tos, captam as mudanças da realidade e cipais garantias de respeito aos direitos
estão em sintonia com as concepções de individuais, ou seja, “é o postulado basilar
verdade e justiça. de todos os Estados de Direito, consistin-
do, a rigor, no cerne da própria qualificação
Já vimos também que, de acordo com a
destes” (ALEXANDRINO; PAULO, 2011).
legislação vigente, o art. 37 da CF/88 reza
que “A Administração Pública direta e in- Isto porque a lei, como bem afirma MA-
direta de qualquer dos Poderes da União, RIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (2011),
dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- ao mesmo tempo em que define os prin-
nicípios obedecerá aos princípios de lega- cípios, estabelece também os limites da
lidade, impessoalidade, moralidade, publi- atuação administrativa que tenha por ob-
cidade e eficiência”. jeto a restrição ao exercício de tais direi-
tos em benefício da coletividade.
Já o art. 2º da Lei 9784/99, vai além e
fala de outros princípios aos quais a admi- No mundo privado, a máxima regente
nistração pública deverá obedecer. é: “o que não é proibido é permitido”. No
mundo público, o administrador, em cum-
A Administração Pública obedecerá, primento ao princípio da legalidade, “só
dentre outros, aos princípios da legali- pode atuar nos termos estabelecidos pela
dade, finalidade, motivação, razoabili- lei”. Não pode este por atos administrati-
dade, proporcionalidade, moralidade, vos de qualquer espécie (decreto, porta-
ampla defesa, contraditório, seguran- ria, resolução, instrução, circular, entre
ça jurídica, interesse público e eficiên- outros) proibir ou impor comportamento
cia. a terceiro, sendo a lei seu único parâme-
tro. Enfim, a Administração só pode fazer
Existem ainda os princípios implíci- o que a lei autorizar antecipadamente.
tos. Vejamos:
b) Princípio da Impessoalidade

3.3.1 Princípios constitu- Disposto no art. 5º, I onde consta que


todos são iguais perante a lei, sem qual-
cionais explícitos quer distinção de qualquer natureza e no
27

art. 37 da CF/88, valendo para a adminis- casos nas dotações orçamentárias e nos
tração pública, o princípio da impessoali- créditos adicionais abertos para esse fim.
dade da Administração Pública pode ser
No segundo sentido, o princípio sig-
definido como aquele que determina que
nifica, segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA
os atos realizados pela Administração
(2003, p. 647), que os atos e provimentos
Pública, ou por ela delegados, devam ser
administrativos são imputáveis não ao
sempre imputados ao ente ou órgão em
funcionário que os pratica, mas ao órgão
nome do qual se realiza, e ainda destina-
ou entidade administrativa da Adminis-
dos genericamente à coletividade, sem
tração Pública, de sorte que ele é o autor
consideração, para fins de privilegiamen-
institucional do ato. Ele é apenas o órgão
to ou da imposição de situações restriti-
que formalmente manifesta a vontade
vas, das características pessoais daqueles
estatal.
a quem porventura se dirija.
Na Lei nº 9784/99, o princípio não apa-
É a obrigação atribuída ao Poder Públi-
rece expressamente mencionado, porém,
co de manter neutra em relação aos admi-
está implicitamente contido no art. 2º, pa-
nistrados, só produzindo discriminações
rágrafo único, inciso III, nos dois sentidos
que se justifiquem em razão do interesse
assinalados, pois se exige “objetividade
público.
no atendimento do interesse público, ve-
De acordo com MARIA SYLVIA ZANELLA dada a promoção pessoal de agentes ou
DI PETRO (2011, p. 68), esse princípio apa- autoridades”.
rece pela primeira vez com essa denomi-
nação, no art. 37 da CF/88, dando margem
MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE
a diferentes interpretações, pois, ao con- PAULO (2011) lembram que esse prin-
trário dos demais, não tem sido objeto de cípio está ligado à ideia de vedação à
cogitação pelos doutrinadores brasileiros. pessoalização das realizações da Ad-
Exigir impessoalidade da Administração ministração Pública, à promoção pes-
tanto pode significar que esse atributo soal do agente público, consagrada
deve ser observado em relação aos admi- no § 1º, do art. 37 da CF nos termos:
nistrados como à própria Administração.
§ 1º - A publicidade dos atos, progra-
No primeiro sentido, o princípio estaria mas, obras, serviços e campanhas dos
relacionado com a finalidade pública que órgãos públicos deverá ter caráter educa-
deve nortear toda a atividade adminis- tivo, informativo ou de orientação social,
trativa. Significa que a Administração não dela não podendo constar nomes, símbo-
pode atuar com vistas a prejudicar ou be- los ou imagens que caracterizem promo-
neficiar pessoas determinadas, uma vez ção pessoal de autoridades ou servidores
que é sempre o interesse público que tem públicos.
que nortear o seu comportamento.
O escopo quer dizer proibir a vinculação
O art. 100 da CF é um exemplo: refe- de atividades da Administração à pessoa
rente aos precatórios judiciais, o disposi- dos administradores, evitando que estes
tivo proíbe a designação de pessoas ou de utilizem a propaganda oficial para sua
28

promoção pessoal. A inclusão desse princípio no caput do


art. 37 da CF/88, nos leva a perceber que
Um bom exemplo é dado pelos autores
ao administrador público brasileiro, por
acima: uma obra pública realizada por um
conseguinte, não bastará cumprir os es-
Estado, não pode ser anunciada como re-
tritos termos da lei, tendo seus atos que
alização de fulano ou beltrano, mas sim do
serem adequados à moralidade adminis-
governo daquele estado.
trativa, a padrões éticos de conduta que
c) Princípio da Moralidade orientem e balizem sua realização.

A moralidade faz parte dos nossos es- Outra maneira de fazer respeitar esse
tudos desde a Antiguidade, quando os princípio é através do tratamento dado à
filósofos de então diziam que a moral era probidade administrativa (art. 37, XXII, §
uma condição essencial para o exercício 4º) que pune aquele que não serve com
de atividades públicas. honestidade, aproveitando-se dos pode-
res a ele outorgados ou das facilidades
HELY LOPES MEIRELLES (2007) se decorrentes em proveito pessoal ou de
manifesta dizendo que: outrem.
o agente administrativo, como ser É importante compreender que o fato
humano dotado da capacidade de atu- de a Constituição haver erigido a moral
ar, deve, necessariamente, distinguir administrativa em princípio jurídico ex-
o Bem do Mal, o honesto do desones- presso permite afirmar que ele é um re-
to. E, ao atuar, não poderá desprezar quisito de validado do ato administrativo,
o elemento ético de sua conduta. As- e não de aspecto atinente ao mérito.
sim, não terá que decidir somente en-
tre o legal e o ilegal, o justo e o injus- Ressalte-se que um ato contrário à mo-
to, o conveniente e o inconveniente, o ral administrativa não está sujeito a uma
oportuno e o inoportuno, mas também análise de oportunidades e conveniência,
entre o honesto e o desonesto. Por mas a uma análise de legitimidade, i.e.,
considerações de direito e de moral, o um ato contrário à moral administrativa é
ato administrativo não terá que obe- nulo, e não meramente inoportuno ou in-
decer somente à lei jurídica, mas tam- conveniente.
bém à lei ética da própria instituição, Em consequência, o ato contrário à mo-
porque nem tudo que é legal é hones- ral administrativa não deve ser revogado,
to, conforme já proclamavam os roma- e sim declarado nulo. Mais importante ain-
nos – non omne quod licet honestum da, asseveram MARCELO ALEXANDRINO e
est. A moral comum é imposta ao ho- VICENTE PAULO (2011), como se trata de
mem para sua conduta externa; a mo- controle de legalidade ou legitimidade,
ral administrativa é imposta ao agen- este pode ser efetuado pela Administra-
te público para a sua conduta interna, ção e, também, pelo poder judiciário.
segundo as exigências da instituição a
que serve, e a finalidade de sua ação: o d) Princípio da Publicidade
bem comum. O poder público deve agir com a maior
29

transparência possível, então, para que de sigilo tido como imprescindível à segu-
os administrados ou a população tenham rança da sociedade e do Estado (art. 5º,
conhecimento, a todo momento, das ati- XXXIII, c/c. art. 37, § 3º, II, da CF).
vidades realizadas pelos administradores,
Não se pode esquecer que uma coisa
o princípio da publicidade é visto como um
é a publicidade necessária para o conhe-
princípio administrativo.
cimento do público (dever constitucional)
Encontramos no Art. 1º da CF/88 que e outra é a publicidade como propaganda
“todo poder emana do povo”, então, seria dos atos de determinada gestão (leva ao
incoerente que os interessados, o próprio estado de improbidade administrativa).
povo, não soubesse o que acontece no
e) Princípio da Eficiência
governo emanado por ele, contudo, ele
não é um elemento formativo do ato ad- Em virtude de alteração introduzida
ministrativo, é requisito da eficácia e mo- pela emenda Constitucional nº19, o prin-
ralidade. cípio da eficiência, que era implícito, tor-
nou-se expresso no caput do art. 37 da
Sobre a forma de atuação da publicida-
CF/88.
de, ela poderá ser realizada através de pu-
blicação ou simples comunicação do ato, A eficiência é um conceito econômico e
mas não quer dizer que o interessado leia, qualifica atividades. Significa fazer algu-
por exemplo, uma publicação feita no Di- ma coisa com racionalidade. Este princípio
ário Oficial, havendo, no entanto, presun- orienta a atividade administrativa no sen-
ção de ciência do destinatário, ou seja, a tido de conseguir os melhores resultados
obrigação de tornar o ato público foi cum- ou o maior benefício com o menor custo
prida. E é isso que basta à consecução do possível.
princípio da publicidade.
Fica claro que um sistema que tem os
Outro ponto importante diz respeito princípios da moralidade e da finalidade
à forma adequada de se dar publicidade não poderia admitir a ineficiência adminis-
aos atos da Administração Pública. Nor- trativa, daí a importância desse princípio.
malmente, esse dever é satisfeito por
Para JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDO-
meio da publicação em órgão de impren-
ZO (1999), ser eficiente exige primeiro da
sa oficial da Administração, seja federal,
Administração Pública o aproveitamento
estadual, municipal e quando não houver,
máximo de tudo aquilo que a coletivida-
jornais particulares contratados para de-
de possui, em todos os níveis, ao longo da
sempenhar esta função.
realização de suas atividades. Significa
Existem, porém, limites constitucionais racionalidade e aproveitamento máximo
ao princípio da publicidade. Ele não pode das potencialidades existentes. Mas não
violar a intimidade da vida pública, da hon- só. Em seu sentido jurídico, a expressão,
ra e da imagem das pessoas (art. 5º, X, c/c. que consideramos correta, também deve
art. 37, § 3º, II (32), da CF), do sigilo da fon- abarcar a ideia de eficácia da prestação, ou
te quando necessário ao exercício profis- de resultados da atividade realizada. Uma
sional (art. 5º, XIV, da CF), ou com violação atuação estatal só será juridicamente efi-
30

ciente quando seu resultado quantitativo ou alienações do Poder Público, a admi-


e qualitativo for satisfatório, levando-se nistração pública tem o dever de sempre
em conta o universo possível de atendi- buscar entre os interessados em com ela
mento das necessidades existentes e os contratar, a melhor alternativa disponível
meios disponíveis. no mercado para satisfazer aos interes-
ses públicos.
No entendimento de HELY LOPES MEI-
RELLES (2007), dever de eficiência é o que Assim, agindo de forma honesta e ade-
se impõe a todo agente público de realizar quada e com o dever de assegurar igual-
suas atribuições com presteza, perfeição dade de oportunidades, sem privilegiar ou
e rendimento funcional. É o mais moder- desfavorecer alguém, surgiu o Princípio
no princípio da função administrativa, que da licitação.
já não se contenta em ser desempenhada
apenas com legalidade, exigindo resulta-
No art. 37, XXI, esta é sua redação:
dos positivos para o serviço público e sa-
Ressalvados os casos especificados
tisfatório atendimento das necessidades
na legislação, as obras, serviços, com-
da comunidade e de seus membros.
pras e alienações serão contratados
Percebemos que a ideia de eficiên- mediante processo de licitação pública
cia não deve se limitar ao razoável, deve que assegure igualdade de condições a
aproveitar da forma mais adequada o que todos os concorrentes, com cláusulas
se encontra disponível visando alcançar o que estabeleçam obrigações de paga-
melhor resultado possível em relação aos mento, mantidas as condições efetivas
fins desejáveis. da proposta, nos termos da lei, o qual
permitirá as exigências de qualificação
técnica e econômica indispensáveis à
3.3.2 Outros Princípios garantia do cumprimento das obriga-
Constitucionais Explícitos ções (ver Lei nº 8666/93).
Os princípios explícitos como visto aci-
Quanto ao Princípio da prescritibilida-
ma, são aqueles mencionados de modo
de, o art. 37, XXII, § 5º dispõe que
formal e categórico, com clareza e deter-
minação. Já os implícitos, são subenten-
a lei estabelecerá os prazos de pres-
didos, estão contidos numa proposição,
crição para ilícitos praticados por qual-
mas sem uma hierarquia prévia. Os demais
quer agente, servidor ou não, que cau-
princípios explícitos são: da Licitação, da
sem prejuízos ao erário, ressalvadas as
Prescritibilidade dos ilícitos administrati-
respectivas ações de ressarcimento.
vos, da Responsabilidade da administra-
ção, da participação e da Autonomia ge- É uma forma de perda da exigibilidade
rencial. de direito dado pela inércia de seu titular.
Sendo a Licitação um procedimento ad- No art. 37, XXII, § 6º, temos a redação
ministrativo destinado a provocar propos- do Princípio da responsabilidade da admi-
tas, escolher proponentes de contratos nistração:
de execução de obras, compras, serviços
31

entidade, cabendo à lei dispor sobre:


As pessoas jurídicas de direito pú-
I – o prazo de duração do contrato;
blico e as de direito privado prestado-
res de serviços públicos responderão II – os controles e critérios de ava-
pelos danos que seus agentes, nessa liação de desempenho, direitos, obriga-
qualidade, causarem a terceiros, asse- ções e responsabilidade dos dirigentes;
gurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou cul-
III – a remuneração do pessoal.
pa. Este princípio permite algo inusitado
segundo alguns juristas, entre eles, JOSÉ
Quer dizer que a responsabilidade por AFONSO DA SILVA (1998), que constata a
qualquer dano causado por um agente pú- criação de uma forma de contrato admi-
blico, no exercício da função pública, é do nistrativo entre administradores de ór-
Estado, enquanto pessoa jurídica, mes- gãos do poder público com o próprio poder
mo se o agente tenha agido com culpa ou público e infere que serão precisas defini-
dolo. ções mais claras no texto da lei.
O princípio da Participação do usuário
na Administração Pública foi introduzido 3.4 Princípios Implícitos
pela EC 19/98. O § 3.º do art. 37 discipli- Para finalizar, temos abaixo os princí-
na as formas de participação do usuário pios implícitos, agregados ao regramento
na administração pública direta e indireta, constitucional da Administração Pública,
especialmente as reclamações relativas que embora não estejam escritos na lei,
à prestação dos serviços públicos em ge- servem como base do direito e são reco-
ral, o acesso dos usuários a registro admi- nhecidos pela maioria dos doutrinadores,
nistrativos e informações sobre atos do atribuindo-lhes caráter e força normativa,
governo, observando o respeito à priva- de certo modo, agregados ao regramento
cidade e o direito de receber dos órgãos constitucional da Administração Pública.
públicos informações de seu interesse ou Salientamos que não veremos todos eles,
de coletivo em geral e a disciplina da re- somente aqueles que julgamos mais per-
presentação contra o exercício negligen- tinentes à matéria constitucional em es-
te ou abusivo de cargo, emprego ou fun- tudo.
ção na administração pública.
De acordo com o Princípio da suprema-
O Princípio da autonomia gerencial, cia do interesse público sobre o privado e
também introduzido pela Emenda Consti- Princípio da autotutela, a administração
tucional 19/98 é regido pelo Art. 37, XXII, pública tem o dever de respeitar e zelar
§ 8º. A Autonomia gerencial, orçamentá- para que o interesse público seja alcança-
ria e financeira dos órgãos e entidades da do, sendo este sobreposto aos interesses
administração direta e indireta poderá ser particulares quando vierem a se chocar.
ampliada mediante contrato, a ser firma-
Vimos no princípio da legalidade que
do entre seus administradores e o poder
a Administração Pública só pode agir de
público, que tenha por objeto a fixação de
acordo com o que expressa a lei, então, o
metas de desempenho para o órgão ou
32

Princípio da finalidade imprime à autori- máquina pública, os agentes, além de co-


dade administrativa o dever de praticar o nhecer e saber interpretar tais princípios,
ato administrativo com vistas à realização devem pautar pela sua integridade e con-
da finalidade perseguida pela lei. cretude.

Para CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE


MELLO (2006), esse princípio impõe que
o administrador, ao manejar as competên-
cias postas a seu encargo, atue com rigo-
rosa obediência à finalidade de cada qual.
Isto é, cumpre-lhe cingir-se não apenas à
finalidade própria de todas as leis, que é o
interesse público, mas também à finalida-
de específica obrigada na lei a que esteja
dando execução.

Por fim, temos os princípios da razoabi-


lidade e da proporcionalidade que inferem
o seguinte:

Uma vez que o administrador público


deva obediência à lei (princípio da lega-
lidade) e o dever de satisfazer aos inte-
resses públicos (princípio da finalidade),
é muito pertinente o Princípio da razoa-
bilidade, vindo supor que o administrador
pautará por satisfazer ao público o que for
legal, mas razoável às suas necessidades
e às suas competências.

Igualmente, o Princípio da proporciona-


lidade vem com o objetivo de evitar que o
agente público assuma uma conduta des-
proporcional ao que lhe é devido para o
exercício regular de sua competência.

Pode-se constatar que os princípios es-


senciais e relevantes à administração pú-
blica, ou estão explícitos ou implícitos na
Constituição Federal, mas lá estão de fato
e são as diretrizes norteadoras da condu-
ta da administração pública.

Podemos concluir também que para


o pleno e excelente funcionamento da
33
UNIDADE 4 – A defesa do consumidor no
plano constitucional
O Direito acompanha os fenômenos so- (ONU) cuidou especificamente por meio
ciais procurando adaptar o sistema nor- da Resolução nº 39/248 de 10 de abril de
mativo à realidade social. Da Revolução 1985, reconhecendo a vulnerabilidade da-
Industrial aos dias atuais, muitas trans- quele a quem são endereçadas as normas
formações ocorreram na sociedade (so- protetivas, enunciando-lhes os direitos
ciais, políticas, econômicas, entre outras), básicos e propondo medidas que deve-
desencadeadas, principalmente, pelo riam ser adotadas pelos países-membros
avanço do conhecimento humano, cientí- no intuito de que todos, principalmente
fico e tecnológico. Um complexo de rela- os dos países em desenvolvimento, vies-
ções jurídicas foi surgindo, derivado des- sem a instituir legislação em mecanismos
se desenvolvimento tecnológico criador protetivos do consumidor.
(HOLTHAUSEN, 2006).
No caso do Brasil, dentre os princípios
A massificação da produção fazendo da atividade econômica que está muito
com que os produtos deixassem de ser bem preconizado no art. 170 da CF “(...)
produzidos de maneira artesanal passan- fundada na valorização do trabalho huma-
do para produção em escala, decorrente no e na livre iniciativa que tem por fim as-
da revolução industrial, somando-se ao segurar a todos existência digna, confor-
surgimento das novas tecnologias de in- me os ditames da justiça social (...)” temos
formação e comunicação que podemos a defesa do consumidor.
sintetizar no que chamamos movimento
O legislador foi mais uma vez feliz ao
da “globalização” são alguns dos fatores
colocar a defesa do consumidor nos prin-
que fizeram surgir novas relações entre
cípios constitucionais, inserido no capítu-
as pessoas. Acirramento da competição
lo dos princípios gerais da atividade eco-
de um lado e consumismo exagerado de
nômica e não nos cansamos de lembrar
outro provocou a necessidade de regula-
que o termo princípio aqui utilizado, está
mentos e leis específicas para que essas
no sentido de norma-fonte informadora
relações fossem mais justas.
do sistema, ou seja, no sentido de que em
Nesse contexto, momento importante toda atividade econômica deve ser pro-
em nossa história, está o reconhecimen- movida a defesa do consumidor, seja pelo
to da existência de direitos inerentes aos particular espontaneamente, seja pela
homens e na esteira dos acontecimentos atuação estatal.
dessa evolução da humanidade, o direi-
É impossível na pós-modernidade, no
to do consumidor ganhou destaque. Essa
Brasil, por expresso mandamento cons-
proteção jurídica vai muito além de um
titucional, aceitar uma ordem econômica
país específico, é um direito supranacio-
que não esteja jungida pelos ditames da
nal!
justiça social, da solidariedade e da digni-
A tutela do consumidor é matéria da dade do ser humano.
qual a Organização das Nações Unidas
34

Como proposto no título da unidade, possível, o equilíbrio que deve haver nas
veremos a defesa do consumidor no plano relações de consumo.
constitucional.
g) Direito a um meio ambiente sau-
dável – à medida que o equilíbrio ecoló-
4.1 Os direitos do Consumi- gico reflete na melhoria da qualidade de
dor reconhecidos pela ONU vida do consumidor, de nada adiantaria
São direitos fundamentais e universais cuidar dele isoladamente enquanto o
do consumidor, reconhecidos pela Organi- ambiente que o cerca se deteriora e traz
zação das Nações Unidas (ONU), por meio efeitos ainda mais nocivos à sua saúde.
da Resolução nº 32/248, de 10 de abril de Assim sendo, tendo os direitos básicos
1985, e também pela Iocu, hoje Interna- do consumidor, universalmente reconhe-
tional Consumers: cidos, verifica-se que o legislador brasi-
a) Direito à segurança – outorga ga- leiro cuidou de adotá-los e transplantá-
rantia contra produtos ou serviços que -los para o Código do Consumidor, com
possam ser nocivos à vida, à saúde e à se- pequenas modificações ou ampliações.
gurança. Desse modo, observa-se certa sime-
b) Direito à escolha – assegurar ao tria entre os direitos enumerados pelo
consumidor opção entre vários produtos organismo internacional e aqueles asse-
e serviços com qualidade satisfatória e gurados pelo legislador pátrio no art. 6º, I
preços competitivos. a X, do CDC. São simétricos, por exemplo,
os incisos I, II, III, VI e VII; configuram am-
c) Direito à informação – o consumi- pliação os incisos IV, V, VIII e X; foi veta-
dor deve conhecer os dados indispensá- do o inciso IX, que assegurava o direito a
veis sobre produtos ou serviços para atu- ser ouvido, e não contemplado na nova
ar no mercado de consumo e decidir com legislação o direito a um meio ambiente
consciência. saudável. Não obstante, nesses reparos,
d) Direito a ser ouvido – o consumidor é positiva a enumeração de tais direitos,
deve ser participante da política de defe- posto que a lei é dirigida aos operadores
sa respectiva, sendo ouvido e tendo as- do Direito em geral, mas deve ser acessí-
sento nos organismos de planejamento e vel, também, e principalmente, às partes
execução das políticas econômicas e nos envolvidas, o fornecedor e o consumidor,
órgãos colegiados de defesa. não necessariamente versadas no estu-
do das leis. A legislação bem explícita e
e) Direito à indenização – é indispen- ordenada de forma didática servirá, sem
sável buscar-se a reparação financeira por dúvida, para que se chegue a um maior
danos causados por produtos ou serviços. grau de esclarecimento e conscientiza-
f) Direito à educação para o consumo ção dos partícipes da relação de consu-
– o consumidor deve ser educado formal e mo, o que poderá redundar numa redu-
informalmente para exercitar consciente- ção de conflitos (ALMEIDA, 2010).
mente sua função no mercado, restabe-
lecendo-se, por esse meio, na medida do
35

4.2 Os dispositivos constitu- relação às operações e prestações que


destinem bens e serviços a consumidor
cionais final localizado em outro Estado, adotar-
Na Constituição brasileira de 1988 o -se-á:
termo “consumidor” consta nos seguintes
dispositivos:
a) a alíquota interestadual, quando o
destinatário for contribuinte do imposto;
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, ga-
b) a alíquota interna, quando o destina-
tário não for contribuinte dele.
rantindo-se aos brasileiros e aos estran-
geiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
4.3 Os princípios regentes
à segurança e à propriedade, nos termos Dentre os princípios constitucionais
seguintes: que direta ou indiretamente regem, su-
periormente, no Brasil, o direito pátrio e
XXXII: o Estado promoverá, na forma mais especificamente o direito do consu-
da lei, a defesa do consumidor; midor podemos citar:
Art. 170: A ordem econômica, funda- 1) Princípio da soberania (art. 1º, I,
da na valorização do trabalho humano e e 170, I, CF):
na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os di- Pode ser entendido como o poder ab-
tames da justiça social, observados os se- soluto de autodeterminação. No plano
guintes princípios: [...] individual pode ser a independência de
ser livre, ideal sensível e caro aos seres
V – defesa do consumidor; humanos. Em termos de Estado, que é a
Art. 48, ADCT: O Congresso Nacional, soma dos indivíduos, podemos dizer que
dentro de cento e vinte dias da promulga- a soberania é inalienável, indivisível e im-
ção da Constituição, elaborará código de prescindível.
defesa do consumidor. 2) Princípio da dignidade da pes-
Art. 24. Compete à União, aos Estados soa humana (art. 1º, III, CF):
e ao Distrito Federal legislar concorrente- Contido no art. 1º da Declaração
mente sobre: Universal dos Direitos Humanos, in
VIII – responsabilidade por dano ao verbis:
meio ambiente, ao consumidor, a bens e Todos os seres humanos nascem livres
direitos de valor artístico, estético, histó- e iguais em dignidade e direitos. São do-
rico, turístico e paisagístico; tados de razão e consciência e devem agir
Art. 150, § 5º. A lei determinará medi- uns com os outros com espírito de frater-
das para que os consumidores sejam es- nidade.
clarecidos acerca dos impostos que inci- Logo após o valor soberania, a Carta
dam sobre mercadorias e serviços. Magna elege o valor cidadania (cuja ver-
Art. 155, § 2º, VII, alíneas “a” e “b”. Em tente econômica traz o cidadão como con-
36

sumidor) e, em seguida (o melhor seria Miragem, 2003/119) que foi positivada


inverter esses dois valores) estampa o va- no sentido de indicar os fins pretendidos
lor dignidade da pessoa humana. São três pelo legislador, auxiliar na interpretação
princípios cardeais que iluminam todo o teleológica, guiando o operador do direi-
texto constitucional, como de resto toda to para alcançar o efeito útil das normas
a ordem jurídica brasileira. Nenhum outro (princípios e regras) (SANTANA, 2009).
princípio é tão fundamental quanto o da
A dignidade humana no direito do con-
dignidade da pessoa humana, o da sobe-
sumidor parece-nos bem aquilo que o
rania é assim como um pressuposto exis-
professor Pacheco Fiorillo chamou de
tencial, uma base em que podem florescer
“mínimo vital”, ou seja, para se começar a
os demais princípios, pelo menos enquan-
respeitar a dignidade da pessoa humana
to a humanidade ainda for menos que uma
tem-se de assegurar concretamente os
única família global.
direitos básicos, notadamente os sociais e
Eis aí a base filosófica de todos os siste- os econômicos (NUNES, 2004, p. 25).
mas jurídicos positivados após essa pro-
Desde a EC 45/04 que os tratados so-
clamação. Esse documento ímpar, a De-
bre direitos humanos (e aqui incluem-se
claração Universal dos Direitos Humanos,
os direitos do consumidor) passam a ter
mais uma vez se refere à dignidade do ser
hierarquia de norma constitucional den-
humano, agora no art. 22:
tro de nosso ordenamento jurídico, nos
Toda pessoa, como membro da socie- termos do art. 5º, § 3º, da CF/88. Desse
dade, tem direito à segurança social e à modo, todos os tratados internacionais de
obtenção, mediante o esforço nacional e proteção ao consumidor, desde que apro-
cooperação internacional e de acordo com vados em cada Casa do Congresso Nacio-
a organização e recursos de cada Estado, nal por maioria de 3/5 e em dois turnos,
da satisfação dos direitos econômicos, terão, pois, nível de norma constitucional,
sociais e culturais, indispensáveis à sua “consagrando mais uma vez a tutela do
dignidade e ao livre desenvolvimento da consumidor, agente mais fraco nas rela-
sua personalidade. ções de consumo” (ABREU, 2009).

Como se pode perceber, o princípio da Aqui, LUIZ OTÁVIO DE OLIVEIRA AMA-


dignidade humana é pedra angular de RAL (2010) abre um parêntese para infor-
todo o microssistema jurídico de defesa mar que: se no plano interno a proteção
do consumidor. É que o consumo, inde- do consumidor brasileiro, sobretudo do
pendente da sociedade dita de consumo, ponto de vista do direito positivo, está
é essencial ao ser humano. Bem por isso bem aparelhada, o mesmo não ocorre no
que o art. 4° do CDC, que dispõe sobre a plano externo. É que o direito internacio-
política nacional de relações de consumo, nal privado e, menos ainda, o direito su-
não apresenta a estrutura comum das nor- pranacional carecem de normas tutelares
mas jurídicas que, descrevendo uma con- desse sujeito de direito já hipossuficiente
duta, cominam uma sanção. Ali se cuida e vulnerável no plano interno e mais ainda
de norma-objetivo (Grau, 1993/185-189) no plano externo. Todavia, numa relação
ou norma-narrativa (Marques, Benjamin; jurídica de consumo (firmada eletronica-
37

mente ou do modo tradicional) com cone- razão ainda será, a liberdade, decisiva nos
xão internacional, há, ainda que mais não negócios jurídicos de consumo – vontade
seja, o princípio estruturante (norma de qualificada de consumir. Nessa hipótese,
ordem pública) do direito brasileiro que essa liberdade se faz mais relevante, dada
garante a aplicação da norma mais favo- a situação especialíssima de um dos sujei-
rável ao consumidor. tos desse negócio, ou seja, o consumidor,
cuja vulnerabilidade (técnica, jurídica e
3) Princípio da liberdade (art. 1º,
econômica) impõe um tratamento jurídico
IV, 3º, I, 5º, CF):
desigual, como desigual é a dialética for-
A liberdade focada aqui é a de ação, a necedor x consumidor.
liberdade material/real, a liberdade ins-
Há nessa questão, um pressuposto
trumental. Assim, é livre a iniciativa de
supranacionalmente acenado e desde
todos e de qualquer um de empreender
1985, ou seja, na 106ª Sessão Plenária
atividade econômica nos termos da legis-
da Organização das Nações Unidas (ONU),
lação. Aí temos a liberdade mais voltada
por meio da Resolução nº 39/248, fixado
ao fornecedor, ao empresário (antítese do
como princípio (ou seja, mandamento de
consumidor), mas há a liberdade garanti-
otimização) a vulnerabilidade do sujeito-
da constitucionalmente ao hipossuficien-
-consumidor, reconhecendo-o como par-
te do mercado, o consumidor. A liberdade
te mais fraca/frágil na relação sociojurí-
está para o direito assim como o oxigênio
dica dita de consumo. E por isso mesmo a
está para a vida.
ONU tornou esse sujeito-frágil merecedor
Com efeito, em toda manifestação de de tutela jurídica específica, no que foi se-
vontade, essência de todo negócio jurí- guido pela legislação consumerista brasi-
dico (nos contratos principalmente), essa leira.
vontade há de ser livre. O ato para ser vo-
Aqui se exige mais, bem mais, do com-
luntário (ato é vontade em direito) pres-
portamento (e até da aparência jurígena)
supõe liberdade (a possibilidade de opção)
daqueles sujeitos, principalmente do hi-
que inclusive exige um mínimo de conhe-
perssuficiente (o fornecedor, o empresá-
cimento sobre o objeto principal dessa
rio, pessoa física ou jurídica). Assim, por
vontade. “Tudo que é feito por ignorância
exemplo, o negócio jurídico de consumo
é não voluntário” (ARISTÓTELES, 2001, p.
há de ter transparência (consciência do
51 apud AMARAL, 2010). Desse modo, a
consumidor do alcance de seu ato jurídico
ignorância é sempre impeditiva da liber-
de consumo), boa-fé (dever de lealdade,
dade e logo da vontade, assim o negócio
sinceridade e honestidade máxima diante
jurídico resta inválido.
da fragilidade já conceitual, já efetiva do
Vale ressaltar que os chamados vícios consumidor), entre outros pressupostos,
de vontade (erro/ignorância, dolo e coa- mais que noutras relações jurídicas.
ção entre os clássicos) são defeitos dos
4) Princípio da atividade econômi-
negócios jurídicos exatamente por viola-
ca (art. 170, V, CF):
rem a liberdade volitiva. Mas sendo assim,
nos negócio jurídicos em geral, com mais Nesse artigo constitucional (art. 170)
38

há vários outros princípios de interesse princípios: [...] V - defesa do consumidor”).


para o direito do consumidor além do es- Igualmente, nas Disposições Constitucio-
tampado no inc. V (o da defesa do consu- nais Transitórias, em seu art. 48 (“O Con-
midor). O princípio da soberania nacional; gresso Nacional, dentro de cento e vinte
o da função social da propriedade (inc. II); dias da promulgação da Constituição, ela-
o da livre concorrência (inc. IV). O impera- borará Código de Defesa do Consumidor”).
tivo da defesa do consumidor entre nós é,
Assim, sempre que faz referência ao
inovadoramente, um princípio norteador
consumidor, a CF determina sua defesa,
da atividade econômica no Brasil. É assim
ou seja, reconhece necessidade de sua
um farol a iluminar empresários/fornece-
proteção especial, porque reconhece a
dores e homens do direito.
sua vulnerabilidade dentro da relação de
5) Princípio da informação ao con- consumo.
sumidor
A CF determina o dever dos órgãos pú-
A CF determina o dever dos órgãos pú- blicos de informar o cidadão, quer sejam
blicos de informar o cidadão, quer sejam informações de seu interesse particular,
informações de seu interesse particular, quer sejam de interesse coletivo em ge-
quer sejam de interesse coletivo em ge- ral, no prazo da lei, sob pena de responsa-
ral, no prazo da lei, sob pena de respon- bilidade, ressalvadas as informações cujo
sabilidade, ressalvadas as informações sigilo seja imprescindível à segurança da
cujo sigilo seja imprescindível à segurança sociedade e do Estado (CF, art. 5º, inciso
da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII). XXXIII). Da mesma forma, o art. 37 da CF
Também da CF temos como princípio da dispõe como um dos princípios da admi-
administração pública, a publicidade. nistração pública a publicidade (SMANIO,
Quanto ao CDC, este amplia o direito de 2007).
informação, incluindo o dever de informar
Então, a Constituição Federal impõe
aos fornecedores, o que será analisado
o dever de informar dirigido aos órgãos
nos direitos básicos do consumidor.
públicos, o que evidentemente inclui a in-
6) Princípio da vulnerabilidade do formação devida aos consumidores sobre
consumidor situações de relevância, como riscos, qua-
lidade de produtos e serviços, responsa-
A CF refere-se ao consumidor entre os
bilidade, entre outros.
direitos e garantias fundamentais, em seu
art. 5º, inciso XXXII (“O Estado promoverá, O Código de Defesa do Consumidor
na forma da lei, a defesa do consumidor” amplia o direito de informação, incluindo
[...]); bem como entre os princípios gerais o dever de informar aos fornecedores, o
da atividade econômica, em seu art. 170, que também será analisado nos direitos
V (“A ordem econômica, fundada na va- básicos do consumidor.
lorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos
7) Princípio da proteção em face da
existência digna, conforme os ditames da
publicidade e propaganda
justiça social, observados os seguintes A CF trata da publicidade, primeiramen-
39

te, no art. 37, § 1º, quando estabelece para arts. 5°, XlV, e 220; de ser informado, e o
os órgãos públicos o dever de dar caráter de se informar. No âmbito do principian-
educativo, informativo, ou de orientação te direito do consumidor, a informação
à publicidade de seus atos, programas, assume foros de importância fundamen-
obras, serviços e campanhas. Dessa for- tal, eis que dela vem o conhecimento de
ma, o consumidor está protegido quanto causa tão essencial nas manifestações
à publicidade do Poder Público sobre seus de vontade em geral e principalmente nas
serviços e obras que constituam relação de consumo. Contudo, no plano constitu-
de consumo. Isso tudo sem contar que o cional, a matéria tem foco genérico, o que
art. 37, caput, da CF, estabelece o princípio não poderia deixar de ser, mas, já no plano
da moralidade, o que nos leva a afirmar infraconstitucional, o direito à informação
que a publicidade do Poder Público deve- titularizado pelo consumidor é bem espe-
rá ser verdadeira, tendo em vista o valor cífico e rico. No CDC há vários dispositivos
ético assegurado constitucionalmente legais (todos de ordem pública e interesse
(AMARAL, 2010). social, o que há de ter consequências efe-
tivas na prática) que cuidam desse direito
A Carta Magna também estabelece, a
fundamental do consumidor brasileiro 1.
respeito da Comunicação Social, que a lei
federal deverá estabelecer meios legais Há ainda outros princípios ou eixos
que garantam à pessoa e à família a pos- constitucionais que merecem destaque
sibilidade de se defenderem da propagan- porque são do interesse, direto ou indire-
da de produtos, práticas e serviços que to, do consumidor brasileiro. Por exemplo,
possam ser nocivos à saúde e ao meio am- o clássico princípio da igualdade que na
biente (art. 220, § 3º, inciso II, CF). esfera tão desigual das relações de con-
sumo, foco do direito do consumidor (hi-
Portanto, a saúde e o meio ambiente do
possuficiência x hiperssuficência), carece
consumidor estão protegidos pela deter-
de uma forte adequação, ou seja, aqui a
minação constitucional, em face da pro-
igualdade é exatamente um tratamento
paganda abusiva.
desigual conforme a desigualdade efeti-
Igualmente, a propaganda comercial de va, é não manter a igualdade no desequi-
tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, líbrio (social, econômico, técnico e logo
medicamentos e terapias deverá conter, jurídico) da situação concreta subjacente.
sempre que necessário, advertência so-
Sucede que o direito não é um fim em
bre os malefícios decorrentes de seu uso
si mesmo, mas instrumento (de realização
(art. 220, § 4º, CF), o que assegura ao
de justiça, de equidade), meio (de promo-
consumidor proteção específica sobre a
ção do bem comum pela permanente re-
propaganda desses produtos (SMANIO,
construção dos conceitos e teorias jurídi-
2007).
cas) e assim não é a situação concreta que
8) Princípio da informação ou do
direito subjetivo de informação 1- O CDC refere-se à informação 28 vezes: arts. 4°, IV, 6°, III, 8°,
caput e parágrafo único, 9°, 12,14, 30, 31, 36, parágrafo único,
37, §§ 1º e 3°, 38, 39, VII, 43, caput, §§ 1°, 3° e 6°, 44, § 1°, 55, §§
Este eixo ou princípio tem como pre- 1º e 4°, 66, 72, 73, 101, lI, e 106, IV No Regulamento do CDC (Dec.
2.181, de 20.03.1997) há muitas referências a esse direito de
missa o direito/prerrogativa de informar, informação.
40

deve adaptar-se ao direito, senão antes


ao contrário. A mente jurídica, que perdeu
essa percepção, já perdeu a noção do que
deve ser feito e, pior, do que está sendo
feito. Não precisamos saber o que é justi-
ça. O que é justo, senão para servi-lo, para
vivê-lo! (AMARAL, 2010).

Outro eixo paradigmático de destaque


é quanto à erradicação da pobreza (art. 3º,
III, da CF/88), ora se o pacto jurídico-po-
lítico reconhece como objetivo da Repú-
blica a erradicação da pobreza, por certo
o julgador se ergue como um dos fortes
fiadores dessa promessa constitucional e
o direito do consumidor como campo fértil
para esse cumprimento, porque o merca-
do consumidor é constituído em boa par-
te por pobres – alvos daquela erradicação
prometida – e a pobreza quando associa-
da à qualidade de consumidor agrava a
vulnerabilidade e a hipossuficiência que
se pretende ver reduzida com o CDC.

Também essa pobreza-consumidora é


alvo de outro objetivo republicano (e seria
de qualquer outro regime político) que é a
solidariedade (art. 3º, I), ou seja, o dever
ético e social de todos para com todos de
assistência e promoção social (AMARAL,
2010).
41
UNIDADE 5 – As relações entre o direito
penal e o direito constitucional
Podemos afirmar que os direitos huma- tuição como redutor do Direito Penal.
nos permeiam todo universo das ciências,
É cediço que a Constituição desempe-
sejam elas sociais, humanas, até mesmo
nha relevante papel na construção das
exatas! E claro, quando se trata de “aplicar
normas penais, uma vez que atua como
penas”, grosso modo, evidentemente que
centro (fonte) de autorização e legitima-
ele se faz muito presente.
ção do jus puniendi, sendo que, em maté-
Os direitos humanos são inalienáveis, ria penal, a lei como fonte de Direito pos-
imprescritíveis, que devem ser necessa- sui um significado muito mais intenso que
riamente previstos na Lei Maior de um em outros ramos jurídicos, haja vista ser
país, para que esse possa vir a ser carac- mister atender-se à exigência do Princípio
terizado como verdadeiro Estado Demo- da Legalidade (GOMES, 1990).
crático de Direito.
A Constituição, ainda, influencia as
Na medida em que tais direitos huma- normas penais ao atuar como redutor do
nos passam a ser previstos na Constitui- Direito Penal, sendo as limitações consti-
ção, portanto dotados de um status dife- tucionais de duas espécies: de natureza
renciado em relação aos demais direitos, material e de natureza formal. As limita-
fala-se que passam a possuir a caracte- ções materiais impedem a criação de nor-
rística da fundamentalidade, e então se mas penais contrárias aos princípios e ga-
fala de direitos fundamentais. Além da rantias constitucionais que decorrem do
previsão constitucional, grande parte dos rol de direitos e garantias individuais con-
direitos humanos é prevista nos principais sagrados na Constituição. Por exemplo: é
instrumentos internacionais, formando vedada a criação de pena de morte, uma
um sistema internacional de proteção aos vez que tal norma seria contrária ao direi-
direitos humanos. to à vida propugnado pela Lei Magna (LO-
PES, 1999, p. 167). As limitações formais,
Mas queremos tratar do íntimo relacio-
por sua vez, impedem a edição de normas
namento entre Direito Penal e Constitui-
em desconformidade com os princípios
ção que se traduz em inúmeras relações
constitucionais que regulam a elaboração
decorrentes desse contato. A caracterís-
da lei penal. Por exemplo: a vedação às leis
tica preponderante dessas relações con-
penais retroativas (LOPES, 1999, p. 167).
siste na superioridade hierárquica da nor-
ma constitucional, que atua como centro Assim, a Constituição reduz o al-
de fundação do Direito e constitui o pa- cance do Direito Penal ao informar
drão de validade das normas penais (LO- material e formalmente a construção
PES, 1999, 2000 apud SILVA, 2002). e aplicação das normas penais. Nes-
Entre essas relações, duas se mostram sa linha de raciocínio, MÁRCIA DOME-
mais relevantes, a saber: a) a Constituição TILA LIMA DE CARVALHO (1992, p. 37)
como fonte do Direito Penal; e, b) a Consti- pontifica:
42

ativa;
A nova Constituição traz um caráter
a lei posterior mais benéfica é retro-
limitador das leis penais, no momento
ativa;
em que regula os direitos e liberdades
fundamentais, contemplando, impli- a anterior mais benéfica é ultra-ativa.
citamente, ou mesmo de forma explí-
Princípio do estado de inocência: “Nin-
cita, os limites do poder punitivo e os
guém será considerado culpado até o
princípios informadores do direito re-
trânsito em julgado de sentença penal
pressivo: as proibições penais não se
condenatória” (art. 5º, LVII, da CF).
podem estabelecer para fora dos li-
mites que permite a Constituição, isto Princípio da igualdade – consiste na
significando, também, que não podem consideração de que todos são iguais pe-
ser afrontados os princípios éticos, rante a lei; é expressamente proibida a
norteadores da Lei Maior, mesmo que discriminação de qualquer natureza (art.
instituídos em dispositivos programá- 5º, caput, da CF).
ticos, sem regulamentações que lhes
garantam uma existência real.
Princípio da proporcionalidade da
pena – a pena deve ser proporcional ao
crime praticado (art. 5º, XLVI e XLVII, da
Posto isso, as normas penais – tanto os
CF).
princípios como as regras jurídicas – têm
sua fonte primeira na Constituição, a qual Princípio da dignidade da pessoa
fornece os parâmetros para a fundamen- humana – nenhuma previsão legal de in-
tação e legitimação do jus puniendi, de- fração penal pode ter conteúdo atentató-
terminando o alcance e os limites. rio à dignidade humana.

Vejamos alguns exemplos: Princípio da individualização da


pena – garante ao acusado a individu-
O princípio da legalidade ou da reserva alização da pena imposta pelo Estado,
legal quer dizer que em matéria penal só a de acordo com os critérios legais (art. 5º,
lei, em seu sentido mais estrito, pode de- XLVI, da CF).
finir crimes e cominar penalidades (art. 5º,
XXXIX, CF/88). Em se tratando do Processo Penal, este
também encontra suas bases na Consti-
De acordo com o princípio da anteriori- tuição Federal. Vejamos novamente:
dade, para que haja crime e seja imposta
pena é preciso que o fato tenha sido co- De acordo com o princípio da indisponi-
metido depois de a lei entrar em vigor (art. bilidade que só existe na ação penal pú-
5º, XXXIX, CF/88; art. 1º e 2º do CP). blica, quando se tratar de crime de ação
penal pública ninguém pode dispor do
O princípio da irretroatividade da processo. É de competência do Ministé-
lei penal nova mais severa (arts. 5º, rio Público, pois é ele que promove a ação
XL, da CF/88 e 2º, parágrafo único do penal pública e uma vez ajuizada, ela tor-
CP), diz que: na-se indisponível, ninguém nem o Minis-
tério Público pode desistir da ação penal
a lei posterior mais severa é irretro-
43

pública, porque mesmo existindo a vítima, Todo réu goza da presunção constitucio-
o direito é coletivo e não apenas dessa nal de inocência.
vítima. Nenhum efeito tem a vontade da
Princípio da oficialidade – é próprio
parte, porque esse tipo de ação é indis-
apenas da ação penal pública. Só quem
ponível. De acordo com a Lei nº 9.099/95
promove a ação penal pública é o Estado
pode ser suspenso o processo para os ca-
por intermédio do seu órgão oficial públi-
sos em que a pena mínima não é superior
co, que é o Ministério Público (art. 129, I,
a um ano. Se decorrido o prazo de suspen-
CF). Compete privativamente ao Ministé-
são, a pessoa cumpre tudo, o processo é
rio Público o patrocínio da ação penal pú-
extinto. Esse é um tipo de exceção para o
blica.
princípio da indisponibilidade. Art. 129, I,
CF. Enfim, o Direito Penal marca presença
nas Constituições por meio de postulados
Princípio do contraditório (art. 5º,
que resguardam as garantias individuais à
LV, CF) – ninguém pode abrir mão da de-
medida que restringem a intervenção pu-
fesa, ou tem defesa ou o processo é nulo.
nitiva do Estado; por outro lado, ampliam
Nesse caso, a nulidade é absoluta. Art.
o campo de atuação da Lei Penal com vis-
261, CPP.
tas a proteger um maior número de bens
Princípio do devido processo legal jurídico.
(art. 5º, LIV, CF) – ninguém será privado
da sua liberdade e de seus bens sem o de-
vido processo legal. Tem que haver neces-
sariamente o processo.
Princípio da inadmissibilidade das
provas ilícitas (art. 5º, LVI, CF) – não se
admite no processo as provas produzidas
ilicitamente, tudo o que for obtido de for-
ma criminosa, ilícita não deve servir de
prova no processo penal. Na prática, não
acontece bem assim. Ex.: um grampo te-
lefônico, interceptação de cartas não são
admissíveis. Alguns doutrinadores enten-
dem que a prova mesmo ilícita, mas verda-
deira deve ser admitida, essa é a posição
da minoria. O que prevalece é o que está
na Constituição Federal.
Princípio da presunção de inocência
(art. 5º, LVII, CF) – ninguém será conside-
rado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória. Enquanto
não existir uma sentença definitiva que
o condene, o réu é considerado inocente.
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