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CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ANCHIETA

ALESSANDRA FERNANDES DE OLIVEIRA

DEJAIR DE SOUSA MODESTO

RODRIGO JACINTO

ABERTURAS HORIZONTAIS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Análise teórica de aberturas na

região da alma de vigas de concreto armado

Jundiaí – SP

2016
ii

ALESSANDRA FERNANDES DE OLIVEIRA

DEJAIR DE SOUSA MODESTO

RODRIGO JACINTO

ABERTURAS HORIZONTAIS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Análise teórica de aberturas na

região da alma de vigas de concreto armado

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

LINHA DE PESQUISA: DESEMPENHO ESTRUTURAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à banca examinadora do
Curso de Engenharia Civil do Centro
Universitário Padre Anchieta, como
exigência parcial para obtenção do
grau de Bacharel em Engenharia Civil,
sob a orientação do Prof. Me. Kleber
Aparecido Gomige, e co-orientação do
Prof. Esp. Thiago Drozdowski Priosta.

Jundiaí – SP

2016
iii

ALESSANDRA FERNANDES DE OLIVEIRA, RA 1202376

DEJAIR DE SOUSA MODESTO, RA 1202694

RODRIGO JACINTO, RA 1202101

ABERTURAS HORIZONTAIS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Análise teórica de aberturas na

região da alma de vigas de concreto armado

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do


título de Bacharel em Engenharia Civil pela seguinte banca examinadora de
Graduação do Centro Universitário Padre Anchieta:

Nota: ___________________________

Data da Defesa: ___________________

___________________________________________
Orientador: Prof. Me. Kleber Aparecido Gomide

___________________________________________
Examinador 01: Prof. Me. Hélio Françozo Junior

___________________________________________
Examinador 02: Prof. Esp. Thiago Drozdowski Priosta
iv

Dedicamos aos nossos pais e


amigos, partes preciosas de nossas
vidas.
v

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus acima de tudo por nos sustentar e tornar nosso fardo mais
leve.
A nossa família por todo apoio e compreensão, tão necessários nos momentos
mais críticos de nossas jornadas, tanto no desenvolvimento deste trabalho, quanto em
todas as demais batalhas da nossa vida.
Ao nosso orientador, Prof. Me. Kleber, o qual nos deu suporte e confiança para
o desenvolvimento deste trabalho.
Ao nosso co-orientador Prof. Thiago, que nos ajudou a enxergar nossos
obstáculos de forma mais simples e fácil.
Ao Prof. Hélio, pela generosa contribuição com as análises desenvolvidas ao
longo deste trabalho, como também pelo profissional ético e amigo.
vi

Se pude ver mais longe, foi por estar


sobre ombros de gigantes.
Isaac Newton
vii

RESUMO

A compatibilização entre projetos nem sempre é desenvolvida de uma forma


eficiente e quando não sanada na fase de projeto, causa muitas vezes, empecilhos
na execução gerando gastos excedentes, atraso no cronograma e divergências
arquitetônicas. Neste cenário, este trabalho tem como objetivo abordar um dos
aspectos de compatibilidade entre projetos estruturais e de instalações, no caso, as
aberturas horizontais em vigas para passagem de tubulações. Essas aberturas
horizontais devem ser locadas em regiões onde a sua influência (no que se diz
respeito aos esforços internos da viga) não cause percas na rigidez do elemento ou
instabilidades. A ABNT NBR 6118:2014 aponta condições limites para que a inserção
destes furos em elementos estruturais seja analisada e caso não estejam nos limites
estipulados pela norma referida, são indicados métodos alternativos para a verificação
estrutural. Após estudo dos métodos indicados pela NBR 6118:2014, sendo eles,
Bielas e Tirantes e Elementos finitos, e métodos alternativos desenvolvidos por outros
autores sobre o tema proposto, foi analisada uma viga bi apoiada com carregamento
distribuído onde foi verificada a perturbação do fluxo de tensões da viga, causadas
pela descontinuidade da seção, justificando o modelo de bielas e tirantes proposto
através do método dos elementos finitos, além do dimensionamento desta mesma
viga utilizando o método alternativo de cálculo. Baseando-se nas prescrições da
norma e seus modelos de cálculo, foi possível concluir que quando não atendidos os
limites descritos em norma, há a necessidade de reforços estruturais para que se
mantenha o mesmo desempenho da viga de seção cheia. Observou-se também que
o cálculo através de métodos alternativos é eficaz, porem conservador. Já o método
de bielas e tirantes é mais completo e preciso no que se diz respeito à aplicação de
reforços, pois verifica o arranjo de tensões na estrutura.

Palavras-chave: Compatibilidade, Viga de concreto, Aberturas, MEF, Bielas e


Tirantes.
viii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Exemplo de vigas com abertura para passagem de sistemas de


instalações. ................................................................................................................. 3
Figura 2 - Dimensões limites apontados pela norma. ................................................. 7
Figura 3 - Situações típicas de regiões “D” ................................................................. 8
Figura 4 - Comparação de modelos para uma mesma viga parede, onde o modelo
adequado (a) possuí tirantes mais curtos que o (b). ................................................. 14
Figura 5 - Regiões “B” e “D”. ..................................................................................... 15
Figura 6 - Consolo com aplicação de tensões de compressão e tração. .................. 17
Figura 7 - Exemplo de aplicação do processo do caminho em uma viga-parede,
sendo a estrutura e seus contornos; Caminhamento das ações externas; Modelo
Bielas e Tirantes........................................................................................................ 18
Figura 8 - Configurações típicas de campos de tensões de compressão. ................ 20
Figura 9 - Estado biaxial de tensões para o concreto de 30 Mpa.............................. 22
Figura 10 - Diversos estados de tensões, sendo: a) Compressão uniaxial zona
indeformada, b) Tensão normal a direção da compressão, c) Tensão obliqua em
relação à direção da compressão. ............................................................................ 24
Figura 11 - Exemplo de nós contínuos (A) e singulares (B). ..................................... 26
Figura 12 - Nós somente com forças de compressão. .............................................. 27
Figura 13 - Nós com ancoragens somente de barras paralelas. ............................... 28
Figura 14 - Nós com barras dobradas. ...................................................................... 30
Figura 15 - Nós com tirantes em direções ortogonais. .............................................. 31
Figura 16 - Exemplo de malha em viga com abertura. .............................................. 34
Figura 17 - Exemplos de formas de elementos finitos. .............................................. 34
Figura 18 - Regiões de concentração de tensões. .................................................... 35
Figura 19 - Exemplo de vigas com abertura na alma. ............................................... 37
Figura 20 - Disposição das armaduras em uma viga com abertura retangular ......... 39
Figura 21 - Armaduras adicionais em vigas com aberturas circulares. ..................... 39
Figura 22 - Mecanismo de funcionamento do modelo. .............................................. 41
Figura 23 - Análise da viga na região do furo ........................................................... 44
Figura 24 - Indicação de esforços nas seções S1-S1 e S2-S2 .................................... 44
Figura 25 - Detalhamento da armadura de reforço na região do furo ....................... 45
ix

Figura 26 - Seção transversal das vigas ................................................................... 46


Figura 27 - Detalhamento da armadura de reforço das vigas do grupo 3 ................. 47
Figura 28 - Quantidade média de fissuras ................................................................ 47
Figura 29 - Comparação de fissuras no ELU das vigas do grupo 2 e 3 .................... 48
Figura 30 - Deslocamento médio no estado limite ultimo .......................................... 48
Figura 31 - Modelo proposto para a análise. ............................................................. 50
Figura 32 - Viga VG1 – Furo respeitando os limites da norma. ................................. 50
Figura 33 - Distribuição das Tensões σxx na viga VG1. ............................................. 51
Figura 34 - Viga VG2 - Furo a uma distância menor que 2 h do apoio. .................... 51
Figura 35 - Distribuição das Tensões σxx na viga VG2. ............................................. 52
Figura 36 - Viga VG3 - Furo maior que o diâmetro mínimo recomendado pela norma.
.................................................................................................................................. 52
Figura 37 - Distribuição das tensões σxx na viga VG3. .............................................. 53
Figura 38 - Viga VG4 - Furo na região comprimida da peça ..................................... 53
Figura 39 - Distribuição das tensões σxx na viga VG4. .............................................. 53
Figura 40 - Modelo de viga proposto por Silva e Giongo. ......................................... 56
Figura 41 - Modelo utilizado. Cook & Mitchell (1988). ............................................... 58
Figura 42 - Arranjo das armaduras da viga com abertura. ........................................ 60
Figura 43 - Modelo de discretização utilizada na modelagem SAP2000. .................. 61
Figura 44 - Tensões de Compressão e Tração no modelo. ...................................... 62
Figura 45 - Tensões próximas a abertura. ................................................................ 63
Figura 46 - Tensões de cisalhamento no modelo. ..................................................... 63
Figura 47 - Tensões próximas ao apoio. ................................................................... 64
Figura 48 - Detalhamento da seção transversal da viga cheia. ................................. 65
Figura 49 - Arranjo das armaduras de viga com abertura pelo método alternativo. .. 67
Figura 50 - Comparação de modelos. a) Modelo Bielas e tirante desenvolvido por
Silva e Giongo (2000) b) Modelagem feita através do SAP2000. ............................. 68
Figura 51 - Viga bi-apoiada com abertura de dimensões L1 x a. .............................. 77
Figura 52 - Diagrama de iteração (Fusco) - Flexão Composta ................................. 78
x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Limites inferiores ou superiores para o ângulo formado entre as diagonais


compridas e a armadura longitudinal da viga. ........................................................... 19
Tabela 2 - Resultados médios dos ensaios das vigas dos grupos 1,2 e 3. ............... 49
Tabela 3 - Área das barras. ....................................................................................... 57
xi

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

OBJETIVO .................................................................................................................. 5

1. ABERTURAS EM VIGAS DE CONCRETO ......................................................... 6

1.1. CONSIDERAÇÕES DA ABNT NBR 6118:2014 ............................................. 6

1.1.1. APRESENTAÇÃO DO MODELO BIELAS E TIRANTES ...................... 10

1.1.1.1. O MODELO ........................................................................................ 10

1.1.1.2. GEOMETRIA DO MODELO ............................................................... 12

1.1.1.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS REGIÕES B E D ............................. 14

1.1.1.4. ANÁLISE ELÁSTICA .......................................................................... 16

1.1.1.5. PROCESSO DO CAMINHO DE CARGA ........................................... 17

1.1.1.6. DETERMINAÇÃO DAS BIELAS ......................................................... 19

1.1.1.7. DIMENSIONAMENTO DOS TIRANTES ............................................ 24

1.1.1.8. DIMENSIONAMENTO DOS NÓS ...................................................... 25

1.1.1.9. PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DAS REGIÕES NODAIS ........... 31

1.1.2. APRESENTAÇÃO DO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ........... 33

1.2. CONSIDERAÇÕES DE LEONHARDT E MÖNNING (1978) ........................ 36

1.3. CONSIDERAÇÕES DE MANSUR et al. (1985) apud Arantes (2001) .......... 40

1.4. CONSIDERAÇÕES DE CAMPOS E VARGAS (2013) ................................. 42

1.5. CONSIDERAÇÕES PAULO S. T. MIRANDA (2015) ................................... 49

2. ANÁLISE TEÓRICA DE VIGA COM ABERTURA ............................................. 55

2.1. EXEMPLO BIELAS E TIRANTES: EXERCICIO SILVA E GIONGO (2000) . 55

2.2. EXEMPLO MEF: MODELAGEM PELA FERRAMENTA COMPUTACIONAL


SAP2000 ................................................................................................................ 61

2.3. EXEMPLO MÉTODO ALTERNATIVO DE CÁLCULO.................................. 64

3. RESULTADOS ................................................................................................... 68
xii

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 73

ANEXO A .................................................................................................................. 75
1

INTRODUÇÃO

O mundo globalizado e a revolução tecnológica trazem consigo um cenário onde


a competividade está diretamente vinculada a especialização e terceirização, pois
cada vez mais o mercado vem impondo um alto padrão de desempenho dos produtos
e serviços. Segundo NAKANO (1994) estas duas forças (a globalização e revolução
tecnológica) exercendo pressão, determinam quais empresas e organizações
sobrevivem com a intensificação da competição global. Esse cenário faz com que a
mão de obra se torne cada vez mais especializada para que seja alcançado o
desempenho esperado, tanto por órgãos fiscalizadores, quanto para os clientes e ou
usuários dos serviços ou produtos em questão.
Na Engenharia Civil, assim como acontece em outras áreas, o produto final é
uma compilação de subprodutos, os quais devem manter um padrão dentro do exigido
por condutas e normas técnicas vigentes, para que o produto alcance um padrão
aceitável. Estes subprodutos são os diversos seguimentos do ramo como exemplo,
estrutura metálica, estrutura de concreto e os sistemas de instalações prediais. Todos
esses seguimentos devem interagir entre si para que haja compatibilização,
resultando em um projeto, ou obra, completa e sem divergências.
A mão de obra especializada está vinculada com a qualificação dos profissionais,
que se especializam em áreas distintas, buscando o domínio das técnicas do
seguimento escolhido que, no exercício de sua função, acabam por vezes focando em
detalhes de suas disciplinas que aumentam o desempenho específico, porém é
possível que não haja a compatibilização com as demais disciplinas quando
confrontados.
Segundo Fabrício e Melhado (2002), a formulação de um projeto geral se dá pelo
desenvolvimento fracionado de diversas disciplinas, estas elaboradas por
profissionais qualificados nestas áreas. Seguindo uma hierarquia e a ordem lógica,
desenvolvem seus projetos e ao fim de suas atividades passam para o próximo
profissional. Neste meio tempo, podem-se haver interferências que quando previstas
em projeto, devem ser revistas e solucionadas ainda a tempo de buscar uma solução
que melhor se adeque as necessidades, pois caso não solucionadas em projeto, irão
acarretar em diversos pontos durante a obra, tais como, empecilhos durante a
execução, gastos excedentes e atraso no cronograma como citado por Agustinho
(2009).
2

Introduzidos neste contexto, a compatibilização entre estrutura e as demais


disciplinas é de extrema importância, tendo em vista que a alteração em um elemento
estrutural por erros de compatibilidade de projeto pode ocasionar a ruína prematura
das peças, Simão (2014).
Segundo Mansur (2006), uma das alterações encontradas pela
incompatibilidade de projetos é a necessidade da transposição da estrutura por dutos
de instalações (hidro-sanitárias, elétrica, dados e outras). A passagem destas
tubulações sob os elementos estruturais, como por exemplo, as vigas geram um
espaço morto, pois tendem a ser cobertas por um teto suspenso (Alves, 2015), o que
ocasiona a perca do pé direito do pavimento. No caso que este pé direito não pode
ser alterado por necessidades arquitetônicas é gerado um aumento na altura total da
edificação. Se tratando de edifícios, este aumento é acumulativo, sendo assim,
encontra-se a necessidade de transpor a estrutura através de aberturas evitando o
surgimento dos espaços mortos.
Segundo Agustinho (2009), a falta de planejamento na abertura destes
elementos, pode ocasionar diversas patologias que muitas vezes são associadas a
outros tipos de problemas. Deformações excessivas em vigas, por exemplo, atuam
diretamente sobre as alvenarias de vedação causando fissuras que podem ter sua
causa no mau dimensionamento destas transposições. Na Fig. 1, temos exemplos de
aberturas em vigas para a transposição de diferentes tipos de instalações, tais como
esgoto, elétrica, gás, entre outros.
3

Figura 1 - Exemplo de vigas com abertura para passagem de sistemas de instalações.

Fonte: engelocfuros.com.br.

Segundo Simão (2014), é muito comum engenheiros civis e projetistas indicarem


como melhor local para a abertura, a linha neutra, mas será que esta é a melhor
posição para locação das aberturas? Diversos métodos foram desenvolvidos ao longo
do tempo para o correto dimensionamento destas aberturas que pode variar de acordo
com as cargas atuantes e a geometria do elemento estrutural, não sendo tão simples
seu dimensionamento como o usualmente proposto por profissionais do ramo.
O método bielas e tirantes é um modelo que vêm sido utilizado ao longo do tempo
para a análise e dimensionamento de elementos com este tipo de descontinuidade na
seção. Este método é um modelo atualizado da clássica Treliça de Mörsh, proposto
no inicio do século XX. Atualmente é o principal método de calculo, sugerido pela
Norma Brasileira (NBR) 6118, como alternativa para cálculo de vigas de concreto
armado com abertura na direção de sua largura com dimensões excedentes aos
limites apresentados em norma.
Posteriormente Leonhardt e Mönning (1978), Süssekind (1984) e outros autores,
desenvolveram métodos alternativos para o dimensionamento deste tipo de elemento
que consiste em interceptar o elemento na seção da abertura transformando as cargas
que causam tensões nas vigas em forças normais nos banzos inferiores e superiores
da abertura.
4

Com o avanço da tecnologia, a análise destes elementos através de softwares


se tornou rotineira. A grande maioria destes softwares analisam as tensões atuantes
nos elementos através de uma fragmentação de suas seções em pequenas seções
finitas, tornando uma análise considerada complexa de um elemento, em finitas
análises simples. Este método adotado por ferramentas computacionais, como o
SAP2000 é chamado de Método dos Elementos Finitos (MEF).
5

OBJETIVO

O intuito deste trabalho é a analise e verificação de vigas de concreto armado


com aberturas na direção de sua largura, com dimensões fora dos limites prescritos
pela NBR 6118:2014. Esta verificação será desenvolvida pelos métodos indicados
pela norma para este tipo de situação e também por métodos alternativos estudados
por outros autores.
6

1. ABERTURAS EM VIGAS DE CONCRETO

Seguindo uma linha de estudos sobre a abertura em vigas de concreto armado,


serão apresentadas as considerações da Norma brasileira (NBR) 6118:2014 - Projeto
de estruturas de concreto – procedimento, e de diversos autores que desenvolveram
trabalhos relacionados ao assunto, com o intuito de melhor compreensão do tema
deste trabalho.

1.1. CONSIDERAÇÕES DA ABNT NBR 6118:2014

A Associação brasileira de normas técnicas (ABNT) NBR 6118:2014 no seu item


13.2.5 (Furos e aberturas), define que quando houver a necessidade de se executar
furos e aberturas em elementos estruturais, o efeito dessas aberturas na resistência
e na deformação deve ser verificado, não podendo ser ultrapassados os limites
previstos na mesma.
Para diferenciar os furos das aberturas a norma define os furos como tendo
dimensões pequenas em relação ao elemento estrutural, enquanto as aberturas têm
dimensões maiores, diz ainda que um conjunto de furos muito próximos deve ser
tratado como uma abertura.
A ABNT NBR 6118:2014 define ainda no seu item 21.3.1 que as estruturas que
necessitam desses furos ou aberturas, devem ser calculadas e detalhadas
considerando as perturbações das tensões que se concentram em torno dessas
aberturas, prevendo, além das armaduras para resistir aos esforços de tração
convencionais, também prever armaduras complementares dispostas no contorno e
nos cantos das aberturas.
Na seção 13.2.5.1 a NBR 6118:2014 define os parâmetros relativos a furos que
atravessam as vigas na direção de sua largura, dizendo que a distância de um furo à
face mais próxima da viga deve ser maior ou igual a 5 cm ou duas vezes o cobrimento
previsto para a face em análise. A seção da viga na região do furo, descontada a área
ocupada pelo furo, deve ser capaz de resistir aos esforços previstos em cálculo e
permitir uma boa concretagem.
7

A referida norma estipula condições e limites para as dimensões e locação


dessas aberturas em vigas de concreto onde, respeitadas essas condições
simultaneamente, a verificação referente à resistência e deformação pode ser
dispensada. A seguir são descritas essas condições, ilustradas também na Fig. 2.

a) Os furos ou aberturas devem ser locados na zona de tração da viga e a uma


distância da face interna do apoio de no mínimo 2 , onde é a altura da viga;

b) Dimensões do furo ou abertura de no máximo 12 cm e /3;

c) Distância entre faces de furos, em um mesmo tramo, de no mínimo 2 ;

d) Cobrimentos suficientes e não seccionamento das armaduras.

Figura 2 - Dimensões limites apontados pela norma.

Fonte: Autores

A referida norma ainda estipula que quando não for possível respeitar as
condições descritas acima, a verificação estrutural pode ser realizada pelo método de
bielas e tirantes ou pelo método dos elementos finitos, como citado na seção 21.3.2,
da referida norma.
Com relação a paredes de concreto e vigas parede, a NBR 6118:2014 diz que
quando as aberturas estiverem locadas em regiões pouco solicitadas em que a
presença não modifique significativamente o funcionamento desses elementos, basta
que se detalhe a armadura de compatibilização da abertura com o conjunto. Caso
contrário deve ser adotado um modelo específico de cálculo baseado nos métodos
8

citados acima.
A seção 22 da ABNT NBR 6118:2014 define as prescrições relativas aos
elementos especiais. A seção 22.1 descreve as simbologias e a 22.2 descreve os
critérios para o projeto de elementos com descontinuidade e define o que são as
regiões B e D como descrito neste trabalho no item 1.1.1.3. Na seção 22.2 da referida
norma é ilustrado conforme Fig. 3, algumas situações típicas de regiões descontínuas
com distribuição de deformações não linear devido à:

a) descontinuidade geométrica,
b) descontinuidade estática e
c) descontinuidade geométrica e estática.

Figura 3 - Situações típicas de regiões “D”

Fonte: NBR 6118:2014

Com relação aos critérios de cálculo, a referida norma diz que devido à
9

responsabilidade dos elementos especiais na estrutura, nas regiões D, devem-se


majorar as solicitações de cálculo por um coeficiente adicional 𝛾𝑛 , conforme ABNT
NBR 8681:2004.
Na seção 22.3 a norma prescreve os procedimentos para a aplicação do
método de bielas e tirantes em elementos especiais de concreto abrangendo também
vigas com aberturas.
A referida norma permite a análise da segurança no estado-limite último (ELU)
de um elemento estrutural, ou de uma região descontínua contida neste elemento,
através de uma treliça idealizada, isostática, composta por bielas que representam a
resultante das tensões de compressão em uma região, tirantes que representam uma
armadura ou um conjunto de armaduras concentradas em um único eixo e nós que
ligam as bielas e tirantes e recebem as forças concentradas aplicadas ao modelo.
A referida norma descreve que em torno dos nós existirá um volume de
concreto, denominado como zona nodal, onde é verificada a resistência necessária
para a transmissão das forças entre as bielas e os tirantes. Descreve ainda que os
eixos das bielas devem estar o mais próximo possível das tensões principais de
compressão e os eixos dos tirantes o mais próximo possível dos eixos das armaduras
a serem efetivamente detalhadas. As bielas inclinadas devem ter ângulo de inclinação
cuja tangente esteja entre 0,57º e 2° em relação ao eixo da armadura longitudinal.
As verificações das bielas, tirantes e nós são efetuadas a partir das forças
obtidas na análise da treliça isostática sob a ação do sistema auto equilibrado de
forças ativas e reativas na treliça. Os parâmetros para a verificação de tensões de
compressão máximas nas bielas e regiões nodais são dados pelas equações 1, 2, 3
e 4 e o parâmetro de resistência de cálculo dos tirantes é dado na equação 5.

𝐹𝑐𝑑1 = 0,85 𝑎𝑣2 𝑓𝑐𝑑 (bielas prismáticas ou nós CCC); Eq (1)

𝐹𝑐𝑑2 =0,60 𝑎𝑣2 𝑓𝑐𝑑 (bielas atravessadas por mais de um tirante, ou Eq (2)
nós CTT ou TTT);
𝐹𝑐𝑑3 = 0,72 𝑎𝑣2 𝑓𝑐𝑑 (bielas atravessadas por tirante único, ou nós Eq (3)
CCT).
10

𝑓
𝑐𝑘 Eq (4)
𝑎𝑣2 = (1 − 250 ) e 𝑓𝑐𝑘 , valor em megapascal (Mpa).

Onde:
𝑎𝑣2 – ângulo de inclinação das bielas
𝐹𝑐𝑑1 – tensão resistente máxima no concreto, em verificações pelo método
de bielas e tirantes, em regiões com tensões de compressão transversal ou
sem tensões de tração transversal e em nós onde confluem somente bielas de
compressão (nós CCC);
𝐹𝑐𝑑2 – tensão resistente máxima no concreto, em verificações pelo método
de bielas e tirantes, em regiões com tensões de tração transversal e em nós
onde confluem dois ou mais tirantes tracionados (nós CTT ou TTT);
𝐹𝑐𝑑3 – tensão resistente máxima no concreto, em verificações pelo método
de bielas e tirantes, em nós onde conflui um tirante tracionado (nós CCT)
𝑓𝑐𝑑 – resistência de cálculo do concreto a compressão.

A área de aço (𝐴𝑠) a ser aplicada em cada tirante é dada pela equação 5:

𝐹𝑠𝑑 Eq. (5)


𝐴𝑠 =
𝑓𝑦𝑑

Onde,
𝐹𝑠𝑑 – é o valor de cálculo da força de tração determinada no tirante.
𝑓𝑦𝑑 – tensão de escoamento de cálculo do aço.

1.1.1. APRESENTAÇÃO DO MODELO BIELAS E TIRANTES

1.1.1.1. O MODELO

A partir das premissas citadas em Norma NBR 6118:2014 e prosseguindo a


análise em aberturas com dimensões superiores as descritas em seção 13, o
dimensionamento e cálculo de tensões deverá ser através do Método de Bielas e
11

Tirantes. Segundo Simão (2014) este método é um modelo atualizado da clássica


treliça de MÖRSCH generalizada do século XX e é muito utilizado no
dimensionamento de vigas de concreto armado, onde os elementos ou regiões da
peça são utilizados como elementos da treliça, sendo que a biela representa o campo
de compressão e o tirante a tração. O Método das Bielas e Tirantes baseia-se no
Teorema Inferior da Teoria da Plasticidade, que diz que se existe um caminho propício
a ruptura, a estrutura irá seguir este caminho, fornecendo um limite superior para a
carga limite, admitindo-se a hipótese de que os tirantes irão escoar antes do concreto
chegar à ruptura.
Ao longo do tempo, de acordo com as necessidades e tecnologia aplicada nos
estudos sobre este assunto, diversos autores desenvolveram teorias para a melhor
aplicação e dimensionamento de regiões com descontinuidade, como exemplo,
aberturas em vigas.
Segundo Santos (2006), o modelo de bielas e tirantes teve um avanço
significativo e ampla divulgação á partir da década de 80, com estudos
complementares e mais profundos de pesquisadores como Marti (1985) e Schlaich &
Schafer (1988), onde conduziram à generalização da Analogia da treliça e criaram
uma base científica mais refinada, proporcionando um avanço considerável para a
aplicação racional do modelo em vigas. As pesquisas se mantiveram profundas neste
aspecto, diversos autores surgiram ao longo dos anos com análises mais completas,
que fazem do método mais seguro e aplicável. Atualmente, diversas normas
internacionais e inclusive a NBR 6118:2014 fazem menção ao método, como racional
e cientificamente comprovado, recomendado como base para cálculo em situações
onde a norma não tem abrangência.

Santos (2006), ainda diz que a qualidade e confiabilidade de um projeto


estrutural em geral estão relacionadas não com o seu comportamento global, mas sim
com a precisão de dimensionamento em regiões de descontinuidade e os seus
elementos isoladamente, que podem se caracterizar imprecisos sendo que, o
dimensionamento de regiões descontínuas são geralmente projetados por modelos
relativamente simples e ainda não consagrados com base somente na experiência do
projetista.

Pode-se entender o modelo de bielas e tirantes, como um modelo de treliça


mais abrangente, onde o mecanismo de resistência de vigas de concreto armado é o
12

resultado de campos de tração e compressão das mesmas. Segundo Simão (2014) o


modelo de Bielas e Tirantes adotado, geralmente, é função da geometria da estrutura
a ser analisada e das ações atuantes no elemento. Existem diversas soluções que
estão a critério do projetista para identificar o modelo que melhor descreve o
mecanismo de funcionamento da estrutura.

1.1.1.2. GEOMETRIA DO MODELO

A geometria de um modelo pode variar de acordo com as ações atuantes ao


seu redor. Segundo Silva e Giongo (2000), a geometria do modelo pode,
normalmente, ser obtida analisando os seguintes aspectos:

a) Tipos de ações atuantes;

b) Ângulos entre Bielas e tirantes;

c) Área de aplicação das ações e reações;

d) Número de camadas de armaduras;

e) Cobrimento das armaduras.

O modelo de Bielas e Tirantes trata de campos de tensões de compressão


resistidas pelo concreto e trações resistidas pela armadura, respectivamente.
Segundo Santos (2006), “ocasionalmente, o concreto também pode absorver as
tensões de tração, desde que sejam respeitadas as condições de segurança relativas
à resistência a tração do concreto.” Buscando representar a estrutura real, o modelo
é construído com base em métodos numéricos, tais como o método dos elementos
finitos, onde são expressas as tensões elásticas e suas principais direções, o que
ajuda na determinação do modelo.

Este modelo idealizado se baseia na construção de barras comprimidas e


tracionadas na estrutura, que são ligadas por nós. As forças nas bielas e tirantes são
expressas pelo equilíbrio de forças internas e externas atuantes na estrutura.

Assim como demonstrado por Santos (2006), podemos verificar o processo do


caminho da força através da viga parede conforme Fig. 7.
13

Segundo Schlaich et al. (1987) apud Silva e Giongo (2000), o melhor caminho
é aquele que apresenta menores deformações. Sendo os tirantes os elementos da
armadura mais susceptíveis a deformação o modelo que possuir o menor número de
tirantes e com menores comprimentos é o modelo mais adequado, pois reduz
consideravelmente a deformação. A formulação matemática que exemplifica este
critério de escolha do modelo é dada pela equação 6:

Σ𝐹𝑖 𝑙𝑖 𝜀𝑚𝑖 = 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜 Eq. (6)

onde, 𝐹𝑖 é a força atuante, 𝑙𝑖 , o comprimento, 𝜀𝑚 é a deformação específica


médias, sendo todas as grandezas referidas à biela ou tirante 𝑖.

Esta equação é obtida a partir do Princípio da Energia de Deformação Mínima


para comportamento elástico-linear de bielas e tirantes após a fissuração. Devido à
contribuição de deformação das bielas serem usualmente muito menores que a dos
tirantes, estas, podem ser omitidas.

Na Fig. 4, pode-se ver um exemplo de dois modelos sendo um o modelo mais


adequado para aplicação do método e o outro um modelo considerado errado de
acordo com sua disposição, onde a Fig. 4a possui tirantes mais curtos que o modelo
apresentado na Fig. 4b.
14

Figura 4 - Comparação de modelos para uma mesma viga parede, onde o modelo
adequado (a) possuí tirantes mais curtos que o (b).

Fonte: Silva e Giongo (2000).

Segundo Silva e Giongo (2000), algumas vezes as ações atuantes podem


conduzir a modelos mais complicados, nestes casos, a solução mais interessante
proposta seria a sobreposição de dois modelos mais simples, desde que o modelo
combinado satisfaça os requisitos de angulação entre bielas e tirantes de acordo com
a Tab. 1.

1.1.1.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS REGIÕES B E D

Para efeito de aplicação do método de cálculo, é possível dividir as regiões da


estrutura em duas áreas distintas, sendo uma contínua e uma descontínua. Segundo
Silva e Giongo (2000), “as regiões continuas são aquelas que as hipóteses de
Bernoulli1, que apresentam distribuição linear de deformações ao longo da seção
transversal, são válidas. Em regiões descontínuas, essas hipóteses não prevalecem
válidas”. A nomenclatura de regiões “B” e “D” foi desenvolvida por Schlaichet al. (1987)
apud Silva e Giongo (2000), que denomina as regiões contínuas de regiões “B”
(Bernoulli) e descontínuas de regiões “D” (Descontinuidade).

Na Fig. 5, é possível ver a subdivisão das estruturas (ou partes) em regiões B


e D.

1 Segundo Souza (2004) A Hipótese de Bernoulli estabelece que seções planas perpendiculares ao
eixo neutro de uma barra, permanecem planas depois da ocorrência da flexão nessa barra. Essa
hipótese não possui formulação matemática, é baseada em uma intuição a respeito do comportamento
de certo elemento estrutural.
15

Figura 5 - Regiões “B” e “D”.

Fonte: Silva e Giongo (2000).

Segundo Silva e Giongo (2000), as regiões D, onde a distribuição de cargas de


tensão não é linear, podem ser produzidas por descontinuidades estáticas e/ou
geométricas, como o caso de aberturas. Ainda segundo Silva e Giongo (2000), “A
utilização do modelo de bielas e tirantes permite um tratamento unificado no projeto
das regiões B e D, pois o modelo de treliça nada mais é do que um caso particular do
modelo de bielas e tirantes”.

As subdivisões das regiões B e D podem ser feitas através das trajetórias de


tensões nas proximidades das áreas descontínuas. Segundo Silva e Giongo (2000),
16

com o Princípio de Saint-Venant2, podemos definir as regiões D considerando as


descontinuidades geométricas ou estáticas, em comparação das alturas das regiões
contínuas e cheias “B” adjacentes.

1.1.1.4. ANÁLISE ELÁSTICA

O modelo de bielas e tirantes também pode ser obtido por meio do


comportamento da estrutura, ou seja, o fluxo de tensões elásticas que atuam na
estrutura, podendo ser obtido pelo processo do caminho de carga ou por modelos
padronizados. Segundo Santos (2006), esta análise elástica da estrutura aumenta a
confiabilidade do método e pode ser dada através da aplicação do Método de
Elementos Finitos (MEF), onde as direções das bielas e dos tirantes são comumente
adotadas de acordo com a direção média dos campos de tensões de compressão e
tração, respectivamente. Estas direções podem ser determinadas de acordo com os
centros de gravidade dos diagramas de tensão, conforme Fig. 6.

2 Principio de San-Vernant diz que há uma região definida por dimensões da mesma ordem de
grandeza da seção transversal do elemento carregado, na qual se processa a regularização das
tensões.
17

Figura 6 - Consolo com aplicação de tensões de compressão e tração.

Fonte: Adaptada Santos (2006).

1.1.1.5. PROCESSO DO CAMINHO DE CARGA

O Modelo de Bielas e Tirantes também pode ser desenvolvido através do


caminho do fluxo de tensões das cargas dentro da estrutura. Segundo Silva e Giongo
(2000), deve-se primeiramente assegurar que o equilíbrio externo da região a ser
modelada seja atendido pela determinação de todos os esforços atuantes no
contorno, assim o caminhamento das tensões dentro da estrutura se dá através dos
campos de tensões de tração e compressão (bielas e tirantes, respectivamente).

Regiões que possuem carga uniformemente distribuída devem ter seus


carregamentos transformados em uma força concentrada equivalente de modo que
as ações percorram um caminho da carga e encontre do outro lado ações que as
equilibram. Segundo Silva e Giongo (2000), estes caminhos das cargas devem ser
aliados para que não se interceptem. A Fig. 7 nos exemplifica o caminho das cargas
e as representações distintas das bielas e tirantes aplicadas em uma viga parede.
18

Figura 7 - Exemplo de aplicação do processo do caminho em uma viga-parede, sendo


a estrutura e seus contornos; Caminhamento das ações externas; Modelo Bielas e
Tirantes.

Fonte: Adaptado de Silva e Giongo (2000).

Segundo o Comité Euro-Internacional du Béton - CEB-FIP (1990)3 apud Silva e


Giongo (2000), “a orientação pelas trajetórias de tensões é mais importante para as
bielas do que para os tirantes, os quais podem ser dispostos paralelamente às
extremidades dos elementos seguindo considerações práticas de arranjo das
armaduras”.

Segundo Simão (2014), “as tensões transversais combinadas às tensões de


compressão longitudinal podem causar fissuras longitudinais que levam a uma ruptura
prematura do concreto.” A partir disso, devido a uma resistência baixa do concreto à
tração, é necessário reforçar o campo de tensão transversal com armaduras na
direção paralelas ao campo de tensão a fim de evitar fissuração. Simão (2014) ainda

3Simão (2014) optou em seu referencial teórico, o uso da norma CEB-FIP (1990), pois mesmo não
estando mais em vigor, expõe a teoria do modelo Bielas e Tirantes de forma mais ampla do que seu
sucessor o Código CEB-FIP (2010).
19

diz que, essa armadura transversal necessária pode ser obtida a partir de diagramas
simplificados, por meio de resultados experimentais ou de um novo modelo de bielas
e tirantes dentro deste campo de tensão. Ainda existem observações quanto à
angulação máxima das regiões nodais com concentração de cargas de tensões, onde,
segundo a NBR 6118:2014 as bielas principais e os tirantes do modelo não deverem
ser superiores a 45º e nem inferiores a 30º.

As regiões nodais são de extrema importância, pois são eles que garantem a
passagem correta das forças entre as bielas e tirantes. Por sua importância, esta vem
sido estudada por diversos outros pesquisadores e normas internacionais. Na Tab. 1
é possível verificar que diferentes definições podem ser aplicadas ao método.

Tabela 1 - Limites inferiores ou superiores para o ângulo formado entre as diagonais


compridas e a armadura longitudinal da viga.

Valores limites para o ângulo θ

Norma ou Pesquisador Ângulo permitido


NBR 6118:2014 30° ≤ θ ≤ 45°
ACI 318 (2002) 25° ≤ θ ≤ 65°
EUROCODE 2 (1992) 31° ≤ θ ≤ 59°
Projeto de revisão do EUROCODE 2 (1999) 21° ≤ θ ≤ 45°
CEB-FIP ModelCode (1990) 18,4° ≤ θ ≤ 45°
FUSCO (1984) 26° ≤ θ ≤ 63°
SCHLAICH & SCÄFER (1988, 1991) 45° ≤ θ ≤ 60°
Fonte: Adaptada de Silva (2006).

1.1.1.6. DETERMINAÇÃO DAS BIELAS

Segundo Silva e Giongo (2000), as bielas no modelo são discretizações de


campos de tensões de compressão no concreto, tratando-se obviamente de uma
idealização da realidade, uma vez que de acordo com a forma que as tensões de
compressão se distribuem entre a estrutura, contando com as aplicações de ações
concentradas, obtemos tensões diferentes. A Fig. 8 ,demonstra três configurações
distintas.
20

Figura 8 - Configurações típicas de campos de tensões de compressão.

Fonte: Silva e Giongo (2000).

Na Fig. 8, os três diagramas de tensões se dividem em:

a) Distribuição de tensões radial, onde idealiza um campo de tensões e


possuí suas curvaturas desprezíveis. Podem-se encontrá-los nas
regiões “D” onde as forças concentradas se propagam de maneira
suave. Neste campo de tensões não há o desenvolvimento de tensões
de tração transversal.
b) Distribuição de tensões em linhas curvilíneas com afunilamento da
seção, onde as forças concentradas são induzidas e propagadas de
forma acentuadas. O desenvolvimento destas tensões provocam
compressões biaxiais ou até mesmo triaxiais abaixo da força e
tensões de tração transversais consideráveis, que quando
combinadas podem levar a peça a criação de fissuras ou ate mesmo
ruptura prematura. Segundo Silva e Giongo (2000), como a resistência
a tração é muito baixa, é necessário reforçar o campo de tensão
transversal por meio de diagramas simplificados ou um novo modelo
de bielas e tirantes dentro deste campo.
21

c) Distribuição de tensões paralela que ocorrem quando se distribuem


de forma uniforme, sem perturbação. Este é um típico campo onde se
encaixa a região “B” e evidentemente não se desenvolvem tensões de
tração transversais.

O cálculo da resistência efetiva das bielas é sugerido por diversos autores e


normas internacionais, como a CSA-A23.3 (Canadian Standards Association) CEB-FIP
(2010) e Schafer & Schlaich (1998). Segundo Schafer & Schlaich (1998) apud Silva
e Giongo, (2000), os seguintes valores são sugeridos para a resistência das bielas
através das equações 7, 8 e 9:

a) 0,85 𝑓𝑐𝑑 para um estado de tensão uniaxial e sem Eq (7)


perturbações;

b) 0,68 𝑓𝑐𝑑 para campos de compressão com fissuras Eq (8)


paralelas às tensões de compressão;

c) 0,51 𝑓𝑐𝑑 para campos de compressão com fissuras Eq (9)


inclinadas.

onde, 𝑓𝑐𝑑 é a resistência à compressão sendo dada pela equação 10:

𝑓𝑐𝑘 Eq. (10)


𝑓𝑐𝑑 =
𝛾𝑐

onde, 𝑓𝑐𝑘 sendo a resistência característica à compressão e 𝛾𝑐 o coeficiente de


majoração.

Segundo Simão (2014), estes valores podem ser obtidos através da Fig. 9, que
mostra o comportamento de um concreto com resistência de 30 MPa submetido a
tensões biaxiais.
22

Figura 9 - Estado biaxial de tensões para o concreto de 30 Mpa.

Fonte: Adaptada de CEB-FIP (1990) apud Simão (2014)

Segundo o antigo Código Modelo do CEB-FIP (1990) apud Simão (2014), para
a resistência das bielas deveria ser considerada a tensão média obtidas das seguintes
expressões:

a) Para zonas não fissuradas temos a equação 11:

𝑓𝑐𝑘 Eq. (11)


𝑓𝑐𝑑1 = 0,85 [1 − ] 𝑓𝑐𝑑 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
250

b) Para zonas fissuradas temos a equação 12:

𝑓𝑐𝑘 Eq. (12)


𝑓𝑐𝑑2 = 0,60 [1 − ] 𝑓𝑐𝑑 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
250

Esses valores são válidos, desde que a deformação de compressão máxima


𝜀 ∗𝑐𝑢 (demonstrado em equação 13) no concreto seja igual a:

𝑓𝑐𝑘 Eq. (13)


𝜀 ∗𝑐𝑢 = 0,004 − 0,002 (𝑓 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
100 𝑐𝑘
23

Ainda, segundo Simão (2014), o Código Modelo do CEB-FIP (2010), sugere


que a resistência das bielas deve ser considerada como a tensão média obtida da
seguinte equação 14:

𝑓𝑐𝑑1= 𝑘𝑐 . 𝑓𝑐𝑑 (𝑓𝑐𝑑 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎) Eq. (14)

Onde, 𝑘𝑐 vai variar segundo o estado de compressão ao qual o concreto estará


submetido e deve ser obtido pelas seguintes expressões:

a) Para zonas não fissuradas submetidas à compressão uniaxiais, como


apresentado na Fig. 10a do modelo temos a equação 15:

1⁄ Eq. (15)
30 3
𝑘𝑐 = 1,0 (𝑓 ) ≤ 1,0 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
𝑐𝑘

b) Para zonas com fissuras paralelas à direção de compressão e com


armadura na direção perpendicular a tensão, como visto na Fig. 10b do
modelo, pode-se considerar a equação 16:

1⁄ Eq. (16)
30 3
𝑘𝑐 = 0,75 (𝑓 ) ≤ 0,8 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
𝑐𝑘

c) Para zonas com fissuras paralelas à direção de compressão e com


armadura na direção obliqua a tensão, como demonstrado na Fig. 10c, do
modelo, é usada a equação 17:

1⁄ Eq. (17)
30 3
𝑘𝑐 = 0,55 (𝑓 ) ≤ 0,55 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
𝑐𝑘

Segundo Souza (2004), os seguintes valores das equações 18 e 19 são


sugeridos para a resistência efetiva das bielas:

a) 0,63 𝑓𝑐𝑘 para bielas prismáticas; Eq (18)

b) 0,48 𝑓𝑐𝑘 para bielas de tipo garrafa atravessadas por Eq (19)


tirantes.
24

Figura 10 - Diversos estados de tensões, sendo: a) Compressão uniaxial zona


indeformada, b) Tensão normal a direção da compressão, c) Tensão obliqua em
relação à direção da compressão.

Fonte: CEB-FIP (1990) apud Simão (2014).

1.1.1.7. DIMENSIONAMENTO DOS TIRANTES

Segundo Silva e Giongo (2000), usualmente as forças nos tirantes devem ser
absorvidas pelas barras da armadura cujo eixo deve coincidir com o do tirante no
modelo. As áreas da armadura necessárias são obtidas diretamente por meio da força
no tirante e da resistência de escoamento de cálculo do aço considerando o Estado
Limite Último pela equação 20:

𝛾𝑓 . 𝑅𝑠𝑡 Eq. (20)


𝐴𝑠 =
𝑓𝑦𝑑

onde, 𝛾𝑓 é o coeficiente de segurança, 𝑅𝑠𝑡 é a força no tirante, 𝑓𝑦𝑑 é a resistência


de escoamento do aço.

Segundo Silva e Giongo (2000), é necessária uma atenção especial quanto a


ancoragem das barras nas extremidades das regiões nodais, uma vez que, uma
ancoragem bem realizada e com a utilização de bitolas mais finas e em maior
25

quantidade de camadas, contribuem na geometria do modelo e na resistência das


bielas e regiões nodais.

Simão (2014) aponta que em alguns casos onde não podem ser utilizadas
armaduras por questões construtivas, surge a necessidade de utilizar os tirantes de
concreto para garantir o equilíbrio do modelo proposto. Apesar de ser difícil
desenvolver um critério de projeto adequado, a resistência à tração do concreto pode
e deve ser utilizada para equilíbrio das forças, apenas quando se espera ruptura frágil
ou zonas de ruptura local. Segundo Silva e Giongo (2000), “neste caso, mesmo no
concreto não fissurado, solicitações causadas por deformações impostas e
microfissuras devem ser consideradas”.

1.1.1.8. DIMENSIONAMENTO DOS NÓS

Segundo Silva e Giongo (2000), um nó pode ser definido como um volume de


concreto que envolve as interseções das bielas comprimidas, em combinação com
forças de ancoragem e/ou forças de compressão externas (ações concentradas ou
reações de apoios). Aplicado ao modelo Bielas e Tirantes, o nó representa uma
mudança brusca de direção das forças, enquanto em um elemento estrutural real de
concreto, esse desvio normalmente ocorre por certo comprimento e largura. Em nós
onde há tirantes ancorados, ou seja, várias barras de armadura, distribuídas
uniformemente, esse desvio pode ser feito de forma satisfatória.

Schafer & Schlaich (1988) apud Silva e Giongo (2000) dizem que existem dois
tipos de nós, sendo eles;

Nós contínuos: onde o desvio das forças é feito em comprimentos razoáveis


(Fig. 11-A);

Nós singulares: onde forças concentradas são aplicadas e o desvio das forças
é feito localizadamente (Fig. 11-B).
26

Figura 11 - Exemplo de nós contínuos (A) e singulares (B).

Fonte: Silva e Giongo (2000).

Em geral, os nós devem ser dimensionados de tal modo que todas as forças
sejam ancoradas e equilibradas de forma segura. O Código Modelo CEB-FIP (1990)
apud Silva e Giongo (2000) dizia que normalmente, as tensões de compressão nos
nós precisam ser verificadas somente onde forças concentradas são aplicadas à
superfície do elemento estrutural, como exemplo, regiões de aplicação de forças e de
ancoragem em placas de apoios.

O código Modelo do CEB-FIP (1990) apresentava quatro modelos distintos e


típicos de regiões nodais, sendo eles:

 Nós que apresentem somente força de compressão (CCC);


 Nós com ancoragem somente de barras paralelas (CCT);
 Nós com barras dobradas (CTT);
 Nós com tirantes em direções ortogonais (TTT).
27

Quanto aos nós que apresentam somente forças de compressão, segundo


Simão (2014), as tensões ao longo de sua superfície podem ser supostas
uniformemente distribuídas, e a limitação da região nodal pode ser considerada um
polígono que não precisa apresentar ângulos retos com a direção das bielas.

Para o código CEB-FIP (1990), nos nós ocorrem:

Forças concentradas (Fig. 12a);

Acima de forças concentradas em vigas contínuas (Fig. 12b);

Em apoios que cabos protendidos são ancorados (Fig. 12c);

Em vértices reetrantes comprimidas (Fig. 12d).

Para estes nós é necessária às verificações de tensões 𝜎𝑐1 (Fig. 12a) e 𝜎𝑐2 (Fig.
12b) no caso da altura 𝑎0 dos nós for limitada por uma fissura ou pela largura das
bielas representadas pelas resultantes 𝑅𝑐2 e 𝑅𝑐5 . Este tipo de nó ocorre em apoios
intermediários de vigas contínuas ou em apoios em que cabos pretendidos são
ancorados.

Figura 12 - Nós somente com forças de compressão.

Fonte: Silva e Giongo (2000).


28

Os nós com ancoragem somente de barras paralelas é o tipo de nó que ocorre


quando um tirante é ligado a duas ou mais bielas, como pode se ver na Fig. 11, sendo
n o número de camadas, o cobrimento, s espaçamento vertical entre as barras da
armadura e a1 a largura da 𝑅𝑐1 .

Partindo do exemplo que segue, onde Silva e Giongo (2000) apresentam


algumas expressões a partir das tensões existentes em apoios na extremidade de
vigas-parede concentradas que são aplicadas em consolos, podem-se verificar as
tensões neste tipo de região nodal de tal forma representada pela Fig. 13 e equações
de cálculo 21, 22, 23, 24, 25, e 26:

Figura 13 - Nós com ancoragens somente de barras paralelas.

Fonte: Silva e Giongo (2000).

ℎ𝑑𝑖𝑠𝑡 = 𝑛𝜙 + 2𝑐 + (𝑛 − 1)𝑠 Eq. (21)


29

𝑅𝑐1 Eq. (22)


𝜎𝑐1 =
𝑎1 𝑏
𝑅𝑐2 𝑅𝑐1 Eq. (23)
𝜎𝑐2 = =
𝑎2 𝑏 𝑎2 𝑏 sin 𝜃
ℎ𝑑𝑖𝑠𝑡 Eq. (24)
𝑎2 = (𝑎1 + ℎ𝑑𝑖𝑠𝑡 cotg 𝜃) sin 𝜃 = 𝑎1 (1 + cotg 𝜃) sin 𝜃
𝑎1
𝑅𝑐1 Eq. (25)
𝜎𝑐2 = ℎ𝑑𝑖𝑠𝑡
sin 𝜃. 𝑎1 (1 + cotg 𝜃) sin 𝜃. 𝑏
𝑎1

𝑅𝑐1 Eq. (26)


𝜎𝑐2 = ℎ𝑑𝑖𝑠𝑡
(1 + cotg 𝜃) sin² 𝜃
𝑎1

onde, n é o número de camadas.

O Código Modelo do CEB-FIP (1990) apud Simão (2014) dizia que era
recomendado que em extremos de vigas-parede fossem verificadas a tensão 𝜎𝑐2
quando existir a igualdade representada na equação 27:

ℎ𝑑𝑖𝑠𝑡 = 𝑎1 cotg 𝜃 Eq. (27)

Segundo Simão (2014), é recomendado que em casos onde a armadura é


prolongada além do apoio, a distribuição das armaduras em diversas camadas e a
uma altura hdist estejam ancoradas por meio de laços ou ganchos horizontais.

Os nós com barras dobradas acontecem quando o equilíbrio destes nós é


garantido pelo desvio das forças nas barras dobradas, ou por tensões de aderência
geradas pelas bielas não simétricas em relação ao nó, conforme podemos analisar na
Fig. 14. Neste caso a tensão σc é determinada pela equação 28:

𝑅𝑐1 Eq. (28)


𝜎𝑐 =
2𝑟. 𝑐𝑜𝑠𝜃. 𝑏
30

Figura 14 - Nós com barras dobradas.

Fonte Silva e Giongo (2000).

Nos nós com tirantes em direções ortogonais a principal característica são


interseções de tirantes em direções ortogonais entre si como é possível observar na
Fig. 15 para banzos tracionados de vigas, vigas-parede e regiões descontínuas.
Segundo Simão (2014), devem ser verificadas as ancoragens e as tensões de
compressão diagonais, que podem se formar críticas. A armadura dimensionada pelo
tirante 𝑅𝑠𝑡𝑤 deve ser disposta em diâmetros menores e com pequenos espaçamentos,
devendo envolver as barras longitudinais.
31

Figura 15 - Nós com tirantes em direções ortogonais.

Fonte: Silva e Giongo (2000).

1.1.1.9. PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DAS REGIÕES NODAIS

Segundo Silva e Giongo (2000), os fatores que afetam a resistência das regiões
nodais são a existência de armadura tracionada nestas regiões e o modo que ela é
distribuída e ancorada, assim como o nível de confinamento existente. Sendo assim,
diversos autores e métodos de limites e parâmetros foram desenvolvidos. A seguir
seguem alguns parâmetros e recomendações:

Schafer & Schlaich (1988) apud Silva e Giongo (2000), sugerem os seguintes
limites nas equações 29 e 30 para as tensões médias de compressão no contorno dos
nós:

a) 0,935𝑓𝑐𝑑 – Para nós onde só encontram bielas Eq (29)


comprimidas, criando estado de tensão biaxial ou triaxial;
b) 0,680𝑓𝑐𝑑 – Para nós onde a armadura é ancorada. Eq (30)

O Código Modelo do CEB-FIP (1990) apud Silva e Giongo (2000), indicava que
a tensão média em qualquer superfície da seção de um nó singular (regiões nodais
32

de estado multiaxial de tensões) não deve ultrapassar os seguintes valores de


resistência do concreto:

a) 𝑓𝑐𝑑1 – Para nós onde só chegam as bielas de compressão;

b) 𝑓𝑐𝑑2 – Para nós onde barras tracionadas são ancoradas.

Onde, 𝑓𝑐𝑑1 e 𝑓𝑐𝑑2 são os mesmos parâmetros de resistência das bielas que
também podem ser aplicados as regiões nodais em estado multiaxial de tensões.

O Código Modelo do CEB-FIP (2010 apud Simão 2014) indica que os


parâmetros de resistência média para dimensionamentos dos nós sejam obtidos
através da equação 31:

𝑓𝑐𝑑1 = 𝑘𝑐 . 𝑓𝑐𝑑 (𝑓𝑐𝑑 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎) Eq. (31)

onde, 𝑘𝑐 varia segundo o tipo de nó, sendo:

a) Para nós sem laços ancorados, expressado na equação 32:

1⁄ Eq. (32)
30 3
𝑘𝑐 = 1,0 ( ) ≤ 1,0 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚𝑀𝑃𝑎)
𝑓𝑐𝑘

b) Para nós com mais de um laço ancorado, expressado na equação 33:

1⁄ Eq. (33)
30 3
𝑘𝑐 = 0,75 ( ) ≤ 0,80 (𝑓𝑐𝑘 𝑒𝑚 𝑀𝑃𝑎)
𝑓𝑐𝑘

Ainda, Souza (2004) sugere valores para os limites de tensão média depois da
análise de expressões relevantes de diversos autores e normas, conforme as citadas
nas equações 34, 35 e 36:

a) 0,58𝑓𝑐𝑘 – para regiões nodais circundadas por bielas ou Eq (34)


placas de apoio (CCC);
b) 0,46𝑓𝑐𝑘 para regiões nodais ancorando um único tirante Eq (35)
(CCT);
33

c) 0,40𝑓𝑐𝑘 para regiões nodais ancorando vários tirantes Eq (36)


(CTT).

Silva e Giongo (2000) recomendam em caso de divergências nos valores


apresentados pelos autores e normas, a utilização dos valores indicados pelo Código
Modelo do CEB-FIP (1990), atualmente substituído pelo CEB-FIP (2010).

1.1.2. APRESENTAÇÃO DO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Outro método indicado pela ABNT NBR 6118:2014 para a resolução de


abertura com dimensões superiores as indicadas pela referida norma, é o método de
Elementos Finitos (MEF).

Segundo Azevedo (2003), no campo da engenharia de estruturas, o MEF é


uma ferramenta para a determinação do estado de tensão e de deformação de um
sólido de uma geometria arbitrária sujeito a ações exteriores.

Soriano (2009) apud Simão (2014) aponta o método como a ideia principal para
encontrar a solução de um problema complexo através da substituição do problema
inicial por vários outros problemas menores e com fácil solução. Hoje, o MEF está
perfeitamente estabelecido e é reconhecido como um dos melhores métodos para a
resolução de uma ampla gama de problemas da Engenharia e Física.

Segundo Simão (2014), a resolução se baseia na divisão do elemento, em


vários elementos de dimensões finitas. A modelagem destes elementos é feita
geralmente através de equações diferenciais ou equações integrais onde é levada em
consideração a geometria do elemento.

No conceito matemático, o MEF consiste na subdivisão do domínio de


integração em um número finito de pequenas regiões onde o comportamento do
campo possa ser aproximado por análises matriciais (funções simples, chamadas de
funções de interpolação, que são definidas em termos dos valores dos campos
variáveis dos nós – graus de liberdade), onde o meio contínuo pode ser discretizado.
Esta divisão é chamada de malha, e está representada na Fig. 16. Então os elementos
34

finitos são ligados através de nós, que nos pontos onde uma solução aproximada pode
ser adotada e onde as equações de equilíbrio podem ser estabelecidas.

Figura 16 - Exemplo de malha em viga com abertura.

Fonte: Autores.

Segundo Soriano (2009) apud Simão (2014), os elementos finitos podem


apresentar diversos eixos, como unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais
além das mais variadas formas e padrões com números distintos de pontos nodais
em seus lados e faces, como na Fig. 17.

Figura 17 - Exemplos de formas de elementos finitos.

Fonte: Soriano (2009) apud Simão (2014).


35

Segundo Simão (2014), após a divisão do domínio em uma malha, ao invés de


buscar uma função admissível que satisfaça os contornos de todo um domínio, essas
funções são definidas para cada elemento. Após a definição e resolução das
equações de equilíbrio, os valores nodais dos campos variáveis são conhecidos e a
partir destes, utiliza-se as funções de interpolação para descrever os comportamentos
dos nós da estrutura chegando a um valor aproximado para o meio contínuo. Esta
solução obtida não é exata, porém com o refinamento do processo são obtidos
resultados bastantes precisos.

A precisão do MEF além de estar diretamente relacionada à formulação dos


elementos, também depende da malha gerada para analisar um determinado
elemento. Portanto, na discretização do elemento deve-se adotar o número, o tipo e
o arranjo de cada um dos elementos de acordo com o que se deseja analisar.

Quanto às malhas, segundo Soriano (2009) apud Simão (2014), é necessário


existir um maior refinamento de malhas nas regiões de variações elevadas de tensão,
como em cantos reetrantes, em proximidades de forças concentradas e em
modificações bruscas de espessura, como é possível visualizar na Fig. 18. Soriano
(2009) apud Simão (2014), ainda aponta que é aconselhável evitar o uso de elementos
adjacentes de tamanhos diferentes.

Figura 18 - Regiões de concentração de tensões.

Fonte: Soriano (2009) apud Simão (2014).


36

Segundo Simão (2014), quanto menor a dimensão do elemento, maior é a


precisão da solução, mas quanto menor o elemento, maior é também o número de
elementos para descrever o contorno e consequentemente maior o número de
equações a serem resolvidas, o que exige mais das ferramentas computacionais para
calculo e maior tempo para processamento. O refinamento da malha torna o resultado
mais preciso, mas existe um limite o qual a precisão não pode ser melhorada. Este
maior refinamento é recomendado para regiões onde estão sujeitas a concentração
de tensões, como cantos e reentrâncias.

1.2. CONSIDERAÇÕES DE LEONHARDT E MÖNNING (1978)

Segundo Leonhardt e Mönning (1978), as aberturas em almas de vigas de


concreto para a passagem de tubulações e dutos dos diversos sistemas de
instalações, só podem ser executadas, nos trechos onde existe força cortante, se
permanecerem na alma dessas vigas as bielas de compressão importantes ou se a
região da abertura se comportar como um pórtico fechado suficientemente rígido
(ilustrado nos exemplos da Fig. 19). Nos trechos da viga onde a força cortante é
pequena, é possível executar aberturas compridas (exemplo “d” Fig. 19). Aberturas
com comprimento maior que 0,6h (onde h é o valor da altura total da viga) devem ser
levadas em conta no dimensionamento, já que ocorre uma interrupção nas bielas de
compressão. Na região dessas aberturas, a viga se comporta como um pórtico
semelhante a uma viga Vierendeel4·. Os autores ainda destacam que as aberturas
circulares são mais favoráveis do que as com ângulos reentrantes e que nesses casos
os vértices devem ser os mais arredondados possíveis.
Os autores recomendam os seguintes critérios a serem seguidos para o
dimensionamento (notações na Fig. 20):

4 A viga Vierendeel é um sistema estrutural formado por barras que se encontram em pontos
denominados nós. Nesse sistema os nos são rígidos, diferente do sistema de treliça onde os nós são
articulados. As barras horizontais são denominadas membruras e as verticais montantes. A membrura
superior e os montantes estão sujeitos a esforços de compressão simples, a momento fletor e a força
cortante. A membrura inferior está sujeita à tração simples, a momento fletor e a força cortante. (Fay,
2006)
37

1) A seção m-m (Fig. 20) deve ser dimensiona á flexão considerando a seção
cheia.
2) Forças normais aplicadas nos banzos, dados peça equação 37:

𝑀𝑚 Eq. (37)
(−)𝐷 = 𝑍 =
𝑧

Onde, 𝑀𝑚 é o momento máximo no eixo da abertura considerando a seção


cheia, D é a força normal no banzo superior (indicado como negativo devido ser uma
força de compressão), Z é a força normal de tração no banzo inferior e z é a distancia
entre os eixos dos banzos;

Figura 19 - Exemplo de vigas com abertura na alma.

Fonte: Leonhardt e Möning (1978)

3) Forças cortantes aplicadas nos banzos: o banzo superior comprimido


absorve a maior parte da força cortante 𝑄𝑚 , valores dados pelas equações.
38 e 39:

𝑄 (𝑠𝑢𝑝) = (0,8 𝑎 0,9)𝑄𝑚 Eq. (38)

𝑄 (𝑖𝑛𝑓) = (0,1 𝑎 0,2)𝑄𝑚 Eq. (39)

Onde, 𝑄 (𝑠𝑢𝑝) é a força cortante no banzo superior comprimido, 𝑄 (𝑖𝑛𝑓) é a força


cortante no banzo inferior tracionado e 𝑄𝑚 é a força cortante no eixo da abertura
38

considerando a seção cheia. Devem-se prever estribos nos banzos de acordo com a
distribuição de 𝑄𝑚 ;

4) O dimensionamento dos banzos deve ser à flexão composta conforme as


equações. 40, 41, 42 e 43:
(𝑠𝑢𝑝) 𝑙′ Eq. (40)
𝑀𝑏𝑎𝑛𝑧𝑜 𝑚𝑎𝑥 = ±𝑄 (sup) .
2
(𝑖𝑛𝑓) 𝑙′ Eq. (41)
𝑀𝑏𝑎𝑛𝑧𝑜 𝑚𝑎𝑥 = ±𝑄 (inf) .
2
𝑁 (𝑠𝑢𝑝) = 𝐷 Eq. (42)

𝑁 (𝑖𝑛𝑓) = 𝑍 Eq. (43)

(𝑠𝑢𝑝) (𝑖𝑛𝑓)
Onde 𝑀𝑏𝑎𝑛𝑧𝑜 𝑚𝑎𝑥 é o momento máximo no banzo superior, 𝑀𝑏𝑎𝑛𝑧𝑜 𝑚𝑎𝑥 é o
momento máximo no banzo inferior, 𝑁 (𝑠𝑢𝑝) e 𝑁 (𝑖𝑛𝑓) são as forças normais nos banzos
superior e inferior respectivamente e 𝑙’ é o comprimento total da abertura.

5) Deve-se prever armadura de suspensão junto à abertura, no lado mais


afastado do apoio: dimensionar para ±0,8𝑄𝑚 ; do lado mais próximo do
apoio, colocar de 1 a 3 estribos apenas;

6) Em vigas com grandes dimensões dispor barras inclinadas nos vértices dos
cantos reentrantes como ilustrado na Fig.20 com as linhas tracejadas
39

Figura 20 - Disposição das armaduras em uma viga com abertura retangular

Fonte: Leonhardt e Möning (1978)

Os autores ainda instruem que no caso de vigas que tiverem dispostas ao longo
de sua alma, várias aberturas circulares próximas umas às outras, as distâncias entre
essas aberturas devem permitir que se constituísse uma treliça com diagonais
tracionadas e comprimidas cruzando-se entre as aberturas, e que nesses casos, são
convenientes barras em forma de “V”, como armadura adicional de cisalhamento (Fig.
21).

Figura 21 - Armaduras adicionais em vigas com aberturas circulares.

Fonte: Leonhardt e Möning (1978)


40

1.3. CONSIDERAÇÕES DE MANSUR et al. (1985) apud Arantes (2001)

Em seu trabalho, Arantes (2001) apresenta o trabalho de Mansur et al (1985)


os quais desenvolveram um modelo para determinar a resistência de vigas de
concreto armado com grandes aberturas.
O modelo de Mansur considerou como variáveis as características geométricas
da abertura como Comprimento, altura, excentricidade (em relação a linha neutra) e a
localização da abertura ao longo da viga, pois segundo Mansur et. al. (1985), todos
estes parâmetros influenciam na parcela de força cortante absorvida por cada banzo
acima e abaixo da abertura. Foi considerada também como variáveis a quantidade e
arranjo de armaduras compostas por estribos nos banzos superior e inferior da
abertura e o reforço dos cantos, constituídos só por estribos e por estribos combinados
com barras diagonais a 45° (Mansur et al justificam as barras inclinadas pelo fato da
concentração de tensões nos cantos da abertura devido à redução da seção
transversal da viga).

O modelo de cálculo desenvolvido por Mansur et al limitou-se a vigas com


aberturas retangulares sujeitas à flexão simples, sendo que as cargas não foram
aplicadas diretamente sobre a abertura. O modelo baseou-se na análise da carga de
ruptura, satisfazendo-se as condições de equilíbrio, escoamento e o mecanismo de
funcionamento (ARANTES, 2001).
A Fig. 22 demonstra o mecanismo utilizado no modelo de cálculo, que consiste
em banzos articulados nas extremidades (parte superior e inferior da abertura), em
cada canto da abertura, com a hipótese de força cortante constante ao longo da
abertura.
41

Figura 22 - Mecanismo de funcionamento do modelo.

Fonte: Adaptado de Mansur et. al. (1985) apud Simão (2014).

O método de cálculo proposto por Mansur et. al. se assemelha as modelos


desenvolvidos por Leonhardt e Mönning (1978) e Süssekind (1984), onde as forças
axiais que agem nos banzos são calculadas em função do momento fletor que atua
na seção, diferenciando-se somente na consideração dos banzos como colunas não
contraventadas.
Foram ensaiadas 12 vigas com aberturas reforçadas seguindo a modelo de
calculo de Mansur et. al.,onde foram obtidos os seguintes resultados:

a) Com relação à resistência da viga:


 A resistência da viga diminui com o aumento do comprimento e da
altura da abertura.
 A localização da abertura interfere na resistência última da viga pela
𝑀𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 (𝑀)
relação no centro da abertura, como também ocorre um
𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 (𝑉)

aumento na flecha máxima e na abertura de fissuras com o aumento


dessa relação.
 Quando se aumenta a distância da abertura em relação à linha neutra
(em região de tração), ocorre um aumento na resistência última da
viga.
42

b) Com relação às forças cortantes nos banzos:


 As parcelas da força cortante absorvidas pelo banzo superior e
inferior da abertura, na ruptura, dependem das propriedades de suas
seções transversais, tamanho (comprimento e altura) e localização
(com relação ao eixo longitudinal e aos apoios) da abertura. No caso
de pequenas aberturas o banzo superior absorveu quase que toda a
força cortante, mas no caso de grandes aberturas o banzo inferior
absorve uma parcela significativa da força cortante.

c) Com relação às armaduras de reforço:


 As barras diagonais nos cantos são mais eficientes no controle da
fissurarão e reduzem a flecha da viga. Usando uma combinação
adequada de barras inclinadas e estribos a fissuração pode ser
controlada. Com um fator de concentração de cisalhamento k=2, as
barras diagonais resistirão aproximadamente 75% da força cortante.
Portanto, seu uso foi mais do que satisfatório e então pode ser
recomendado para projeto.

1.4. CONSIDERAÇÕES DE CAMPOS E VARGAS (2013)

Campos e Vargas (2013) desenvolveram uma análise experimental de vigas com


furo próximo ao apoio. Para essa análise foram moldadas 9 vigas divididas em 3
grupos distintos conforme descrito abaixo:

 Grupo 1 – Viga de alma cheia, sem presença de furo, que serviu de


parâmetro para comparação dos resultados;
 Grupo 2 – Viga com um furo circular de 10 cm de diâmetro, próximo ao
apoio, atendendo os limites da antiga ABNT NBR 6118:2007 sem
armadura de reforço;
43

 Grupo 3 – Viga com um furo circular de 10 cm de diâmetro, próximo ao


apoio, atendendo os limites da antiga ABNT NBR 6118:20075, adotando
uma armadura de reforço.

As armaduras de reforço adotadas para as vigas do grupo 3 foram calculadas


segundo o método de Süssekind (1984), método similar ao de Leonhardt e Möning
(1978) apresentado no item 1.2 deste trabalho, que indica interceptar a viga num plano
que atravessa o eixo da abertura, obtendo o equilíbrio e aplicando nesta seção as
resultantes dos esforços atuantes (vide Fig. 23):

1) O momento fletor máximo no eixo da abertura será transmitido pelas


resultantes 𝐷𝑑 e 𝑍𝑑 no concreto e no aço, respectivamente, onde 𝐷𝑑 é a força
normal no banzo superior da abertura, e 𝑍𝑑 é a força normal no banzo inferior
Süssekind (1984) apud Campos e Vargas (2013);

2) O esforço cortante total no eixo da abertura 𝑄𝑑 se dividirá em 𝑄1𝑑 e 𝑄2𝑑


proporcionais à rigidez a flexão de cada banzo, onde 𝑄1𝑑 é a fração da cortante
absorvida pelo banzo comprimido e 𝑄2𝑑 a fração absorvida pelo banzo
tracionado. No banzo superior tem-se a rigidez de uma peça comprimida e no
banzo inferior tracionado (fissurado) somente da armadura existente. Como a
rigidez do banzo superior comprimido é muito maior, considera-se 𝑄1𝑑 =𝑄𝑑 e
𝑄2𝑑 =0,1. 𝑄𝑑 , limitando a fissuração no banzo inferior Süssekind (1984) apud
Campos e Vargas (2013);

3) Para o dimensionamento considera-se a seção S1-S1 submetida à flexão


composta (vide Fig. 24), atuando um esforço 𝑁𝑑 = 𝐷𝑑 (a 0,4x da borda mais
comprimida) (vide Fig.23) e um momento fletor 𝑀1𝑑 = 𝑄𝑑 . 𝑎, e na seção S2-S2,

5O trabalho desenvolvido por Campos e Vargas foi baseado nos limites da NBR 6118/2007, a qual
sofreu uma revisão que entrou em vigor em 2014, porém os limites (com relação às aberturas em vigas)
estipulados na versão de 2007 não se alteraram na versão 2014. Sendo assim, todos os resultados
obtidos nas análises são válidos.
44

𝑀2𝑑 =0,1. 𝑄𝑑 . 𝑎 e 𝑁𝑑 =𝑍𝑑 , aplicada no nível da armadura de flexão tracionada,


onde “𝑎” é a altura da região comprimida Süssekind (1984) apud Campos e
Vargas (2013).

Figura 23 - Análise da viga na região do furo

Fonte: Süssekind (1984) apud Campos e Vargas (2013)

Figura 24 - Indicação de esforços nas seções S1-S1 e S2-S2

Fonte: Süssekind (1984) apud Campo se Vargas (2013)

4) Deve-se prever armadura de suspensão junto a abertura no lado mais afastado


do apoio dimensionar para cerca de 0,9 𝑄𝑑 ; do lado mais próximo do apoio
45

colocar de 1 a 3 estribos apenas. Süssekind (1984) apud Campos e Vargas


(2013);
5) No intuito de evitar enganos, no detalhamento da armadura na região do furo
adota-se uma armadura simétrica conforme Fig. 25, Süssekind, (1984) apud
Campos e Vargas (2013).

Figura 25 - Detalhamento da armadura de reforço na região do furo

Fonte: Süssekind (1984) apud Campos e Vargas (2013)

Todas as vigas foram moldadas com seção transversal de 12x30cm, com


comprimento de 250 cm e vão teórico de 240 cm. A área de aço (𝐴𝑠) estabelecida
para as vigas foi de 2,5cm², adotando-se a partir disso 2 Ø12,5mm para a armadura
de flexão e 2 Ø5,0mm para os porta estribos. Os diâmetros dos estribos foram de
Ø5,0mm espaçados a cada 15 e concreto 𝑓𝑐𝑘 25 MPa, vide Fig. 26.
46

Figura 26 - Seção transversal das vigas

Fonte: Campos e Vargas (2013)

A partir da área de aço estipulada para as vigas, foi determinado o valor do


momento fletor de calculo 𝑀𝑑 , e posteriormente o valor dos esforços cortantes e as
reações de apoio. Com esses valores foram calculadas as armaduras longitudinais
nas seções S1 e S2 adotando 2 Ø5,0mm para o banzo superior e 2 Ø5,0mm para o
banzo inferior, adotou-se estribo de Ø5,0mm a cada 4cm nas seções S 1 e S2. A
armadura de suspensão ficou com estribos de Ø5,0mm divididos em uma largura de
10 cm para cada lado do furo, como mostrado na Fig. 27
47

Figura 27 - Detalhamento da armadura de reforço das vigas do grupo 3


Fonte: Campos e Vargas (2013)

Após os ensaios os autores obtiveram os seguintes resultados:

 A capacidade de carga das vigas do grupo 3 foi de 3,76% a mais que


as do grupo 1, e 6,01% a mais que as do grupo 2, coincidindo com os
resultados dos ensaios de Leonhardt e Möning (1978), os quais
constataram que em vigas com abertura, quando se aplica uma
armadura de reforço adequada, atinge-se cargas de ruptura por flexão
similares as obtidas em vigas sem abertura (vide tab. 2).

 As vigas do grupo 3 obtiveram menos quantidade de fissuras e


abertura máxima de fissuras de 0,1mm (igual a do grupo 1), já as do
grupo 2 o valor foi de 0,2mm (vide Fig. 28 e 29).

10
10 9,33

8
Quantidade (mm)

7,33
6

GRUPO 1
GRUPO 2
GRUPO 3

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

Figura 28 - Quantidade média de fissuras

Fonte: Adaptado Campos e Vargas (2013)


48

Figura 29 - Comparação de fissuras no ELU das vigas do grupo 2 e 3

Fonte: Campos e Vargas (2013)

 Em todos os grupos de vigas os valores de deslocamentos foram


próximos, atingindo valor máximo no meio da viga. As vigas do grupo
3 em media obtiveram valores mais altos (vide Fig. 30).

4 3,7 4,04
3,26 3,5 3,76
3,18
Deslocamento (mm)

0
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3

Deslocamento eixo do furo Deslocamento no meio da viga

Figura 30 - Deslocamento médio no estado limite ultimo

Fonte: Adaptado de Campos e Vargas (2013)

 Em geral as vigas do grupo 2 se comportaram de maneira diferente e


49

romperam logo que o aço escoou.

Tabela 2 - Resultados médios dos ensaios das vigas dos grupos 1,2 e 3.

Vigas Carga de Qtd. máxima Abertura Deslocamento Deslocamento


Grupo ruptura de fissuras máx.de médio no eixo médio no
média (KN) (un) fissuras do furo (mm) meio da viga
(mm) (mm)
G1 70,25 12 0,1 3,26 3,70
G2 68,76 10 0,2 3,18 3,50
G3 72,89 8 0,1 3,76 4,04
Fonte: Adaptado de Campos e Vargas (2013)

1.5. CONSIDERAÇÕES PAULO S. T. MIRANDA (2015)

Miranda (2015) verificou, através de uma modelagem em elementos finitos


através do software Mesh Tool, as tensões na região de furos que atravessam vigas
de concreto na direção de sua largura, com o intuito de analisar os parâmetros para a
dispensa da verificação das tensões em torno dos furos recomendados pela NBR
6118:2014.
Para essa análise foram modeladas 4 vigas com furos em lugares distintos,
descritas a seguir:
 VG16 - Viga com furo que obedece às recomendações da NBR
6118:2014.
 VG2 - Viga com furo a uma distância menor que 2h do poio, sendo h a
altura da viga.
 VG3 - Viga com furo maior que o diâmetro mínimo recomendado pela
NBR 6118:2014
 VG4 - Viga com furo na região comprimida da viga

6As nomenclaturas VG1, VG2, VG3 e VG4 foram introduzidas pelos autores deste trabalho, para uma
melhor referência no arranjo das imagens relacionadas ao trabalho do autor Miranda (2015). Essas
nomenclaturas não são descritas no trabalho original.
50

As dimensões da viga utilizada nas análises e o carregamento aplicado são


descritos na Fig. 31

Figura 31 - Modelo proposto para a análise.

Fonte: Autores

A seguir são apresentadas as verificações feitas:

1) Verificação de um furo que obedece às recomendações da NBR 6118:2014


para dispensa de verificação de tensões (Fig. 32 e 33);

Figura 32 - Viga VG1 – Furo respeitando os limites da norma.

Fonte: Autores
51

Figura 33 - Distribuição das Tensões σxx na viga VG1.

Fonte: Adaptado Miranda (2015).

2) Verificação de um furo a uma distância menor que 2 h do apoio (Fig. 34 e


35):

Figura 34 - Viga VG2 - Furo a uma distância menor que 2 h do apoio.

Fonte: Autores.
52

Figura 35 - Distribuição das Tensões σxx na viga VG2.

Fonte: Adaptado Miranda (2015).

3) Verificação de um furo maior que o diâmetro mínimo recomendado pela


NBR 6118:2014 (Fig. 36 e 37):

Figura 36 - Viga VG3 - Furo maior que o diâmetro mínimo recomendado pela norma.

Fonte: Autores
53

Figura 37 - Distribuição das tensões σxx na viga VG3.

Fonte: Adaptado Miranda (2015).

4) Verificação de um furo na região comprimida da peça (Fig. 38 e 39):

Figura 38 - Viga VG4 - Furo na região comprimida da peça

Fonte: Autores

Figura 39 - Distribuição das tensões σxx na viga VG4.

Fonte: Adaptado Miranda (2015).


54

O autor conclui que no que se diz respeito à dispensa de verificação das


tensões na região de furos que atravessam vigas na direção de sua largura segundo
a NBR 6118:2014, as recomendações da norma foram confirmadas pelo modelo
numérico, pois foram verificadas nas análises que, respeitando os limites da norma
NBR 6118:2014, as tensões que surgem entorno do furo são somente de tração. De
forma simplificada Miranda (2015) afirma que nessa situação, as armaduras das vigas
são responsáveis por combater esses esforços.
Nos demais casos surgiram esforços de compressão entorno das aberturas,
sendo necessária uma avaliação mais detalhadas desses elementos.
55

2. ANÁLISE TEÓRICA DE VIGA COM ABERTURA

Com o objetivo de análise global do elemento estrutural (viga em concreto


armado), foi feita uma modelagem através do Software SAP2000, onde utiliza o MEF
como base para cálculos para obtenção de tensões atuantes no elemento. Esta
modelagem será utilizada como parâmetro comparativo para justificar a disposição
das armaduras obtidas através dos métodos Bielas e Tirantes indicado pela NBR
6118:2014 e método alternativo de cálculo.

Será apresentado o exercício proposto por Silva e Giongo (2000), junto a


análise obtida no Software SAP2000 demonstrando as tensões atuantes no elemento
sem abertura e com abertura, para verificação das perturbações nas tensões devida
esta descontinuidade locada na viga.

Os cálculos desenvolvidos através do método alternativo tiveram com o intuito


a realização de uma análise comparativa das áreas de aço Método Bielas e Tirante x
Método Alternativo.

2.1. EXEMPLO BIELAS E TIRANTES: EXERCICIO SILVA E GIONGO (2000)

De acordo com o exercício proposto por Silva e Giongo (2000), é analisada


uma viga simplesmente apoiada com abertura nas dimensões indicadas na Fig. 40,
com a finalidade de permitir a passagem de dutos. O concreto é classe C20 e as
barras de aço de categoria CA-50. A carga é uniformemente distribuída e de módulo
igual a 14kN/m.
56

Figura 40 - Modelo de viga proposto por Silva e Giongo.

Fonte: Silva e Giongo, 2000.

O exercício posposto por Silva e Giongo (2000), é desenvolvido através das


premissas da NBR 6118:2014, que indica que o efeito dessa abertura na resistência
da viga deve ser verificado, pois apesar da abertura estar situada a uma distância
maior que 2h da face do apoio, ela pode estar interceptando uma biela de compressão.
Além disso, as dimensões da abertura, comprimento de 40 cm e altura de 20 cm, são
superiores às permitidas.

Esforços na viga:

Os esforços solicitantes devem ser determinados considerando as condições


de vinculação e o tipo de ação aplicada. De acordo com Silva e Giongo (2000), temos
os seguintes valores:

Na seção do meio de vão (seção 2-2) tem-se:

𝑀𝑘2 = 38,7 𝑘𝑁. 𝑚 𝑒 𝑉𝑘2 = 0

Na seção que coincide com o meio da abertura (seção 1-1), os esforços


solicitados são:

𝑀𝑘1 = 35,7 𝑘𝑁. 𝑚 𝑒 𝑉𝑘1 = 9,1 𝑘𝑁


57

A tabela 3 por Silva e Giongo (2000) apresenta as áreas das armaduras


necessárias para absorver as tensões de tração oriundas da ação do momento fletor.
Como as seções são muito próximas, a quantidade de barras a adotar-se pode ser a
mesma de 4 Ø10,0mm (vide Tab. 3).

Tabela 3 - Área das barras.

Seção 𝑴𝒅 𝒌𝒄 𝜷𝒙 x 𝒌𝒔 𝑨𝒔 Ø

(kN.m) (cm) (cm²) (mm)

2-2 54,2 8,15 0,13 6,11 0,024 2,77 4 Ø10,0

1-1 50,0 8,84 0,12 5,64 0,024 2,55 4 Ø10,0

Fonte: Silva e Giongo, 2000

Modelo utilizado e esforço nas barras:

A Fig. 41 apresenta o modelo de dissipação de cargas proposto por Cook &


Mitchell (1988)7 para esse tipo de abertura , nele o momento fletor e a força cortante
que atuam na seção 1-1 são substituídos pelo binário equivalente e pela resultante
das forças atuantes à esquerda da seção respectivamente.

7 Segundo Silva e Giongo (2000), o modelo Cook&Mitchell (1988), propõe que a biela comprimida na
diagonal é interrompida pela abertura, causando forças de tensão cisalhantes na seção ao lado da
abertura, o que exige um aumento na quantidade de estribos nesta região. Conforme imagem XXXX,
um tirante vertical é utilizado para suspender a ação e conduzi-la ao apoio por meio de uma biela de
compressão. A armadura locada acima da abertura, que pode ser utilizada também para resistir às
tensões de compressão, quando a seção disponível do banzo comprimido superior é insuficiente.
58

Figura 41 - Modelo utilizado. Cook & Mitchell (1988).

Fonte: Silva e Giongo (2000).

Para isso, é preciso determinar para seção 1-1 o valor da posição da linha
neutra e, por conseguinte, os respectivos valores dos braços de alavanca, resultando:

𝑥 = 5,64 𝑐𝑚

𝑧1 = 45 𝑐𝑚

𝑧2 = 30 𝑐𝑚

Sendo, 𝑥 a linha neura, e 𝑧1 e 𝑧2 os braços de aplicação da força.

As forças dos binários são determinadas pelas equações 44, 45 e 46:

𝑅𝑐𝑐1 = 𝐴𝑐𝑐 . 𝑓𝑐𝑑1 Eq (44)

𝑅𝑠𝑡1 (𝑧1 − 𝑧2 ) + 𝑅𝑐𝑐1 𝑧2 = 𝑀𝑑 → 𝑅𝑠𝑡1 Eq (45)

𝑅𝑠𝑡1 + 𝑅𝑠𝑡2 = 𝑅𝑐𝑐1 → 𝑅𝑠𝑡2 Eq (46)


59

Considerando os equilíbrios dos nós, obtêm-se as forças nos tirantes e na biela


junto à face superior da viga, resultado:

𝑅𝑠𝑡1 = 81,3 𝑘𝑁, 𝑅𝑠𝑡2 = 44,7 𝑘𝑁, 𝑅𝑠𝑡3 = 18,2 𝑘𝑁,

𝑅𝑠𝑡𝑠𝑡41 = 9,1 𝑘𝑁, 𝑅𝑠𝑡5 = 62,3 𝑘𝑁, 𝑅𝑐𝑐1 = 126,0 𝑘𝑁.

Dimensionamento das áreas das armaduras dos tirantes

Segundo Silva e Giongo (2000), as áreas das barras das armaduras são
determinadas como se apresenta a seguir.

Armadura de tração interior 𝐴𝑠1 = 1,87 𝑐𝑚², conforme equação 47 :

𝑅𝑠𝑡1 Eq (47)
𝐴𝑠1 =
𝑓𝑦𝑑

Esta área pode ser representada por 3 barras de 10,0 mm de diâmetro.

Armadura de tração junto à face inferior da abertura igual a 𝐴𝑠2 = 0,42 𝑐𝑚²,
conforme equação 48:

𝑅𝑠𝑡3 Eq (48)
𝐴𝑠2 =
𝑓𝑦𝑑

Esta área pode ser representada por 1 estribo de dois ramos de diâmetro de
6,3mm.

Estribos verticais abaixo da abertura 𝐴𝑠4 = 0,21 𝑐𝑚², conforme equação 49.

𝑅𝑠𝑡4 Eq (49)
𝐴𝑠4 =
𝑓𝑦𝑑

Segundo Silva e Giongo (2000), esta armadura pode ser constituída por 2
estribos de dois ramos de 6,3 mm de diâmetro.

Verificação das tensões:

Para a força atuante na biela horizontal, posicionada acima da abertura, a


resistência do concreto é de 𝑓𝑐𝑑1 = 1,12𝑘𝑁/𝑐𝑚² dada por:

𝑓𝑐𝑑1 = 0,782𝑓𝑐𝑑 Eq (50)


60

A tensão na biela é dada pela expressão seguinte, com a largura da viga de 20


cm e altura da biela de 5,64 cm que é a distância da linha neutra medida a partir da
face superior.

126,0
𝜎𝑏1 = = 1,12 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
5,64𝑋20

O valor desta tensão pode ser aceito, pois resultou igual ao limite da resistência
𝑓𝑐𝑑1 .

Para a região nodal do apoio A a resistência do concreto é igual a


𝑓𝑐𝑑2 = 0,79 𝑘𝑁/𝑐𝑚² dado por:

𝑓𝑐𝑑2 = 0,552𝑓𝑐𝑑 Eq (51)

A tensão de contato é calculada considerando-se a reação de apoio com seu


valor de cálculo, resultado:

1,4𝑥32,9
𝜎𝑐1 = = 0,12 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
20𝑥20

Esta tensão 𝜎𝑐1 é menor do que o valor do parâmetro de resistência do concreto


em função das indefinições geométricas desses elementos.

Detalhamento:

O arranjo das armaduras é representado pela Fig. 42.

Figura 42 - Arranjo das armaduras da viga com abertura.

Fonte: Silva e Giongo (2000).


61

2.2. EXEMPLO MEF: MODELAGEM PELA FERRAMENTA COMPUTACIONAL


SAP2000

A ferramenta computacional SAP2000 é um programa que usa como base o


MEF – Método dos Elementos Finitos, que através de uma interface gráfica possibilita
a modelagem, análise (lineares e não lineares) e dimensionamento de uma vasta
gama de estruturas e objetos em tridimensionais.

A analise foi realizada utilizando uma viga com dimensões e cargas


apresentada no item 2.1 deste trabalho. Na modelagem a viga foi subdividida em
elementos sólidos, com arestas de dimensão 10x10cm conforme apresentado na Fig.
43

Figura 43 - Modelo de discretização utilizada na modelagem SAP2000.

Fonte: Autores.

Para efeito de análise, será considerada uma viga isostática a qual foram
atribuídos às características como sendo de concreto (módulo de elasticidade, 𝑓𝑐𝑘 ,
coeficiente de poisson, etc).

A Fig. 44a, ilustra as tensões na flexão geradas devido à carga distribuída, onde
podemos observar que as tensões máximas de tração (positivas) e compressão
(negativas) ocorrem no centro da viga, de forma linear. No caso da viga com abertura
demonstrada na Fig. 44b, é possível observar a descontinuidade do fluxo de tensões,
ocasionando uma concentração de tensões logo acima da abertura, deslocada do
centro da viga. Em módulo, os valores obtidos na viga cheia, foram inferiores aos
62

valores de tensão máxima de compressão na viga com abertura. Esse acumulo de


tensões, pode ser explicado pela diminuição da seção útil de concreto utilizada para
resistir os esforços de compressão, ou seja, o banzo superior da abertura, terá uma
maior solicitação de carga para que a estabilidade da estrutura seja mantida.

Figura 44 - Tensões de Compressão e Tração no modelo.

Unidades em 𝒌𝑵/𝒄𝒎²

Fonte: Autores.

Na Fig. 45, é possível notar o acúmulo de tensões próximas às faces da


abertura, exemplificando o mencionando por Leonhardt e Mönning (1978) no item 1.2
desse trabalho, onde os autores instruem a abertura de vigas com bordas o mais
arredondado possível para melhor dissipação das cargas. Para exemplo de
dissipação das cargas envolta dos furos redondos, ver exemplos Miranda (2015) no
item 1.3 desse trabalho.
63

Figura 45 - Tensões próximas a abertura.

Unidades em 𝒌𝑵/𝒄𝒎²

Fonte: Autores.

A Fig. 46a demonstra o surgimento das tensões de cisalhamento atuantes na


viga e os pontos mínimos e máximos (Fig. 47). Como esperado, há uma perturbação
pela inserção da abertura no fluxo destas tensões, como demonstrado na Fig. 46b,
mostrando que a distribuição das armaduras convencionais para combater o
cisalhamento deve ser modificada ou acrescida para que esse novo fluxo criado seja
suprido.

Figura 46 - Tensões de cisalhamento no modelo.

Unidades em 𝒌𝑵/𝒄𝒎²

Fonte: Autores.
64

Figura 47 - Tensões próximas ao apoio.

Unidades em 𝒌𝑵/𝒄𝒎²

Fonte: Autores.

2.3. EXEMPLO MÉTODO ALTERNATIVO DE CÁLCULO

Os métodos alternativos apresentados neste trabalho foram desenvolvidos ao


longo do tempo por autores como Leonhardt e Möning (1978) e Süssekind (1984),
para o dimensionamento do reforço de abertura em vigas de concreto, que em sua
concepção são próximos um ao outro. Foi utilizado o roteiro de cálculo apresentado
no Anexo A, que tem como base o método desenvolvido por Leonhardt.

O exemplo foi desenvolvido com os dados da viga proposta no item 2.1 ilustrado
na Fig. 40:

1. Os esforços solicitantes de momento e cortante foram obtidos


considerando a viga bi apoiada isostática, obtendo os valores de:

𝑀𝑚á𝑥 = 38,7 𝑘𝑁. 𝑚 (centro do vão)


𝑉𝑚á𝑥 = 32,9 𝑘𝑁 (no apoio)

2. Dimensionamento da viga à flexão e ao cisalhamento seguindo as


prescrições da NBR 6118:2014,
65

𝐴𝑠 = 2,8 𝑐𝑚²
𝐴𝑠𝑚𝑖𝑛 = 1,5 𝑐𝑚²

Sendo adotadas:

𝐴𝑠: 4 Ø10mm, para absorver as tensões oriundas do momento fletor.

𝐴𝑠𝑚𝑖𝑛 : 2 Ø10mm, utilizadas como porta estribos na parte superior da viga.

Á partir da cortante máxima foi obtido o valor de 𝐴𝑠𝑤 = 0,91 𝑐𝑚²/𝑐𝑚 adotando
estribos Ø 6,3 a cada 20,0 cm, detalhados na Fig. 48.

Figura 48 - Detalhamento da seção transversal da viga cheia.

Fonte: Autores.

3. Esforços solicitantes no centro da abertura:

𝑀𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡. = 35,7 𝑘𝑁. 𝑚; 𝑉𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡. = 9,1 𝑘𝑁 (no centro da abertura)

4. O posicionamento da abertura já esta pré-definido de acordo com o


modelo apresentado no item 2.1.

5. As forças normais nos banzos foram obtidas através do roteiro de cálculo


Anexo A, sendo 𝑁𝑐 = 𝑁𝑡 = 142,8𝑘𝑁

6. As forças cortantes nos banzos foram obtidas através do roteiro de


cálculo Anexo A, sendo 𝑉𝑐 = 10,19𝑘𝑁; 𝑉𝑡 = 2,55 𝑘𝑁.
66

7. Os momentos calculados seguindo o roteiro de cálculo Anexo A, sendo:


𝑀𝑐 = 203,8 𝑘𝑁. 𝑐𝑚; 𝑀𝑡 = 51 𝑘𝑁. 𝑐𝑚.

8. Os dimensionamentos dos banzos foram realizados seguindo o roteiro


de cálculo proposto no Anexo A, de acordo com as prescrições da NBR
6118:2014. Para compressão, devido aos valores obtidos não estarem
na abrangência de valores do Ábaco Fig. 52 - Anexo A, foi utilizada a
equação 60:

𝑁𝑘. 𝛾𝑓 Eq (52)
𝐴𝑠 =
𝑓𝑦𝑑

Obtendo os valores, 𝐴𝑠𝑐 = 3,28 𝑐𝑚²; 𝐴𝑠𝑡 = 3,28 𝑐𝑚².

Os estribos foram calculados, obtendo os seguintes valores: 𝐴𝑠𝑤𝑐 =


0,99 𝑐𝑚²; 𝐴𝑠𝑤𝑡 = 2,55 𝑐𝑚². Devido a um arranjo construtivo na região da
abertura, para ambos os estribos, foram adotados barras de Ø6,3 a cada
10 cm.

9. A armadura de suspensão para as extremidades da viga foi calculada


de acordo com o roteiro de cálculo Anexo A, obtendo os valores de
𝐴𝑠𝑤𝑠 = 0,99 𝑐𝑚², adotando Ø6,3 cada 10 cm, detalhados na Fig. 49.
67

Figura 49 - Arranjo das armaduras de viga com abertura pelo método alternativo.

Fonte: Autores.
68

3. RESULTADOS

Com base nas análises apresentadas no capitulo 2, é possível verificar a


convergência dos métodos Bielas e Tirantes e MEF, onde as tensões de compressão
demonstram diferentes intensidades de aplicação no se diz respeito aos banzos
inferior e superior a abertura. A comparação realizada na Fig. 50 aponta que o método
de bielas e tirantes nos leva a resultados satisfatórios, quando confrontados com o
MEF.

Figura 50 - Comparação de modelos. a) Modelo Bielas e tirante desenvolvido por Silva


e Giongo (2000) b) Modelagem feita através do SAP2000.

Unidades em 𝒌𝑵/𝒄𝒎²

Fonte: Autores

Os tirantes obtidos no modelo Bielas e tirantes se encontram em regiões onde


possuem tração, e como visto no modelo SAP2000, com intensidades diferentes. A
biela de compressão no banzo superior pode ser vista no modelo MEF como uma
região próxima de tensões máximas, onde no caso do modelo Bielas e tirantes, estas
tensões máximas serão utilizadas para a determinação destas bielas e obtenção das
armaduras.

Referente aos resultados obtidos pelo método alternativo de cálculo observou-


se que em comparação ao método de bielas e tirantes o desenvolvimento do cálculo
69

torna-se mais prático para aplicações de projetos, pois os resultados são obtidos
através de fórmulas diretas.

Em um comparativo realizado com as áreas de aço feitas entre o modelo de


bielas e tirantes e o método de cálculo alternativo verificaram-se diferenças quanto às
armaduras longitudinais e de reforço. No arranjo do exercício proposto no item 2.1, a
armadura de tração se mantém contínua por toda a extensão da viga, tendo área de
aço total de 𝐴𝑠 = 2,9𝑐𝑚² (sendo, 1,87 cm² armadura de tração interior e 1,03 cm² junto
a face inferior da abertura). Observou-se que para a armadura superior da viga foi
utilizado armadura somente para porta-estribos, pois com base nas análises das
tensões resistentes e atuantes do concreto, a região acima da abertura é suficiente
para resistir às tensões de compressão. Quanto ao arranjo do exercício desenvolvido
no item 2.3, na região da abertura, obteve-se como valor para área de aço 𝐴𝑠 =
4,44 𝑐𝑚², valor superior ao desenvolvido no método desenvolvido no exercício do item
2.1. No restante da viga, a área de aço total obtiveram valores similares nos dois
métodos, sendo para o exercício item 2.1 𝐴𝑠 = 2,9 𝑐𝑚² e para o exercício desenvolvido
no item 2.3 𝐴𝑠 = 2,8 𝑐𝑚².

De acordo com a tensão de tração máxima obtida através do SAP2000 (0,71


kN/cm²), foi verificada a resistência à tração da peça, seguindo o prescrito pela NBR
6118:2014 para concretos de classes até C50, nas equações 53 e 54:

𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 = 0,7𝑓𝑐𝑡,𝑚 Eq (53)

𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑠𝑢𝑝 = 0,3 𝑓𝑐𝑘 2/3 Eq (54)

Onde, 𝑓𝑐𝑡𝑘 é a resistência característica do concreto a tração direta e 𝑓𝑐𝑡 é a


resistência do concreto a tração direta.

De acordo com a verificação, o valor de resistência à tração do concreto foi


interior ao valor atuante, sendo 𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 (0,27 kN.cm²) < 0,71 kN/cm², ou seja, a viga
encontra-se em estado fissurado. Estes resultados são esperados, pois como a viga
está dentro do Domínio II, é desprezada a tensão resistente de tração do concreto,
deixando para o aço resistir todas as tensões de tração.
70

CONCLUSÃO

Um projeto bem realizado necessita de um estudo prévio de todas as


características a serem adotadas durante a execução. Como abordado neste trabalho,
a compatibilidade entre projetos pode gerar a necessidade de transpor elementos
estruturais, que quando verificadas em fase inicial de projeto, evita o surgimento de
dúvidas e adaptações durante a execução.

Após a revisão bibliográfica e o estudo dos métodos de cálculos utilizados para


dimensionamento de vigas com abertura com dimensões superiores as prescrições
da norma NBR 6118:2014, observou-se com a análise das tensões atuantes na viga
e em torno da abertura, a real necessidade de reforços para que se mantenha o
desempenho estrutural, mais próximo de uma viga sem abertura, ou seja, a viga sem
abertura.

Quanto ao dimensionamento de vigas através da aplicação do método Bielas e


Tirantes, por se tratar de um método complexo, é necessário o estudo das tensões no
elemento, principalmente na região das aberturas. Neste caso a aplicação de métodos
numéricos, como o MEF se torna extremamente importante pela sua precisão, pois
com a interação entre esses dois métodos de calculo pode-se formular um modelo de
bielas e tirantes mais coeso e eficaz.

Na comparação realizada entre o método de Bielas e Tirantes e o método de


cálculo alternativo, observou-se que o método alternativo é mais conservador em
relação ao método Bielas e Tirantes, sendo menos econômico, porém a favor da
segurança, tendo em vista uma área de aço superior à encontrada para bielas e
tirantes. Em contra partida, o método de bielas e tirantes é mais completo, pois verifica
todas as tensões atuantes na viga e cria reforços com base nos resultados obtidos
para estas tensões. Uma vez que, o método alternativo simplifica as equações de
cálculo, as áreas de armadura necessitam suprir as tensões de forma geral com folgas
para que haja a segurança do método.

Para a resolução cotidiana da problemática de furos na estrutura, sempre que


possível, é melhor que se utilizem os limites estipulados pela norma. Em situações em
que esses limites não podem ser respeitados, o método de Bielas e Tirantes, aliado a
71

análises mais precisas como o MEF, trás resultados mais dinâmicos e precisos. O
método alternativo para o cálculo, mesmo não sendo citado em norma, pode ser
utilizado como base para um pré-dimensionamento, uma vez que é um método de
fácil de aplicação.
72

TRABALHOS FUTUROS

Como apresentado na problemática deste trabalho, a incompatibilidade de


projetos pode levar a transposição de vigas sem o dimensionamento prévio correto.
Para estes casos, onde as aberturas são realizadas em obra, necessita um
redimensionamento das cargas da viga, para entender as novas configurações nas
tensões. Atualmente, placas e anéis de diversos materiais com resistência que
possam suprir as necessidades criadas por tais aberturas são utilizadas para tais fins,
porém o dimensionamento necessita de parâmetros para que possam ser atendidos.
Estes parâmetros necessitam de um estudo específico para que se possa dimensionar
e projetar o melhor material para o reforço.
73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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aberturas na direção da sua largura. In: SEMANA OFICIAL DA ENGENHARIA E
DA AGRONOMIA, 72., 2015, Fortaleza. Artigo. Fortaleza: Contecc, 2015. p. 1 - 4.

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alma em região de apoio. Campinas: Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Engenharia Civil – UNICAMP, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de


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de concreto armado. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC. Criciúma. 2009.

AZEVEDO, Álvaro F. M.. Método dos Elementos Finitos. Portugal: Abril, 2003.

CAMPOS, Lucas; VARGAS, Alexandre. Análise experimental de vigas de concreto


armado com furo na alma próximo ao apoio utilizando armadura de reforço. In:
Engenharia Civil, 2013, Criciúma SC. Artigo. UNESC, 2013. p.1 - 15.

FABRICIO, Márcio M.; MELHADO, Silvio B. Por um processo de projeto


simultâneo. Atrigo Escola de Engenharia. São Carlo, SP: EDUFSCAR, 2002.

FAY, Liliana. Estruturas Arquitetônicas Composição e Modelagem. Apostila IT826.


UFRRJ 2006.

FUSCO, Péricles Brasiliense. Técnicas de armar as estruturas de concreto. São


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GIUGLIANI, Eduardo, Abertura em elementos estruturais de concreto. 2003. 9 f.


Apostila – FENG, Curso de Engenharia Civil, Estruturas de concreto III, PUCRS, 2003.

LEONHARDT, F.; MÔNNIG, E. Construções de concreto: princípios básico sobre


armação de estruturas de concreto. 1ed. Rio de Janeiro: Interciência. V.3, 1978

MANSUR, M.A. DESIGN OF REINFORCED CONCRETE BEAMS WITH WEB


OPENINGS. In: PROCEEDINGS OF THE 6TH ASIA-PACIFIC STRUCTURAL
ENGINEERING AND CONSTRUCTION CONFERENCE, 6., 2006, Kuala Lumpur.
Proceedings. . Kuala Lumpur, Malaysia: Apsec, 2006. p. 104 - 120.

MIRANDA, Paulo S T. Método dos Elementos Finitos em estruturas de


concreto: revisão bibliográfica e exemplo de aplicação do método. 2015. 25 f. Artigo
74

- Curso de Engenharia Civil, Engenharia Estrutural e Construção Civil, Universidade


Federal do Ceará, Fortaleza, 2015.

NAKAMO, Yoshiaki. Globalização, competitividade e novas regras do comércio


mundial. Revista economia politica, v. 14, n. 4, p. 07-30, out/dez. 1994.

SANTOS, Daniel dos. Análise de vigas de concreto armado utilizando modelos


de bielas e tirantes. 2006. 195 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
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SILVA, Reginaldo Carneiro da; GIONGO, José Samuel. Modelos Bielas e Tirantes
Aplicados a Estruturas de Concreto Armado. São Carlos: Eesc-usp, 2000. 189 p.

SIMÃO, David Williams da Glória. Análise e dimensionamento de vigas de


concreto armado com aberturas na alma. Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal de Pernambuco. Caruaru. 2014.

SOUZA, Rafael Alves de, Concreto Estrutural: análise e dimensionamento de


elementos com descontinuidades. 2004. 379 f. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica
da universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
75

ANEXO A

Curso Engenharia Civil – CONCRETO ARMADO III. PUCRS


Aberturas em elementos estruturais de concreto. – Prof. Eduardo Giugliani.
ETAPAS PARA O DIMENSIONAMENTO DE
ARMADURAS DE REFORÇO EM ABERTURAS DE VIGAS

1. Definição dos diagramas de solicitações de M e V da viga, para as cargas


atuantes;
2. Dimensionamento da viga à flexão e ao cisalhamento considerando a seção
cheia. (M → As flexão; V → Asw);
3. Definição da seção s onde será posicionado o centro da abertura, obtendo-se as
solicitações Ms e Vs,
onde :
Ms → momento fletor na seção s
Vs → esforço cortante na seção s
4. Posicionamento da abertura na direção da altura da viga, priorizando-se
preferencialmente a ocupação da zona tracionada da alma e os critérios indicados na
Figura 1;
5. Determinação das forças normais nos banzos: Nc = Nt = Ms / z
onde:
Nc → força de compressão, no banzo comprimido
Nt → força de tração, no banzo tracionado
z → distância na vertical entre os eixos dos banzos
6. Determinação das forças cortantes nos banzos, a partir do Vs da seção,
considerando-se que um maior % de Vs seja absorvido pelo banzo comprimido,
pois o banzo tracionado é admitido fissurado (Estádio II):

Vc = 0,80 a 0,90 Vs → cortante no banzo comprimido (adotado: 0,80)


Vt = 0,20 a 0,10 Vs → cortante no banzo tracionado (adotado: 0,20)
7. Determinação dos momentos fletores nos banzos:
Mc = Vc.L1/2 → momento fletor no banzo comprimido
Mt = Vt.L1/2 → momento fletor no banzo tracionado
8. Dimensionamento dos banzos à flexão composta: Banzo comprimido:
Mc, Nc, Vc → Asc e Aswc Banzo tracionado: Mt e Nt , Vt → Ast e Aswt sendo
Asc e Ast → as armaduras longitudinais nos banzos, calculadas de acordo
com as orientações da NBR 6118/20038 para flexão-composta, devidamente
ancoradas de um comprimento Lb na região de alma cheia da viga, e
Aswc e Aswt → as armaduras transversais nestes mesmos banzos,
calculadas de acordo com as orientações da NBR 6118/2003.

8 Os parâmetros utilizados para o desenvolvimento do exercício seguem as prescrições da norma


vigente NBR 6118:2014.
76

9. Determinar armadura de suspensão (Asws) nas extremidades da abertura


para um esforço cortante equivalente a 0,80 Vs, distribuída em uma largura de h/4,
em ambos os lados;

A Figura 51 ilustra estas etapas a serem seguidas com vistas ao


dimensionamento das armaduras de reforço no entorno de aberturas em vigas de
concreto.
77

Figura 51 - Viga bi-apoiada com abertura de dimensões L1 x a.

Fonte: Giugliano (2003).


78

Figura 52 - Diagrama de iteração (Fusco) - Flexão Composta

Fonte: Giugliani (2003).

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