Você está na página 1de 2

Grego

Língua clássica por excelência, como o latim, o grego serviu de veículo a uma das culturas mais
opulentas do mundo e teve grande importância na história do Ocidente, o que explica por que
todos os idiomas europeus são devedores dessa língua, sobretudo no vocabulário erudito.

Idioma pertencente à grande família indo-européia -- mas não ao mesmo grupo de que deriva
o latim --, o grego é uma língua foneticamente doce, cheia de vogais e cantante a tal ponto
que usa a mesma nomenclatura da música. O vocabulário é muito rico, pois os gregos
desenvolveram a ciência, a lógica, a filosofia e a matemática, de tal modo que criaram grande
número de palavras em cada um desses ramos do saber. Cerca de noventa por cento da
terminologia científica, filosófica e artística baseia-se em radicais do grego e do latim. O grego
moderno, ou romaico, é falado atualmente na Grécia continental e insular e pelas
comunidades gregas da Turquia, Albânia, Rússia, Egito, Romênia, Itália e Estados Unidos. É
resultante da evolução do grego antigo.

Grego antigo. Os assentamentos de povos indo-europeus de língua grega no território da


Grécia continental e nas ilhas e costas orientais do mar Egeu ocorreram durante o segundo
milênio antes da era cristã. Os primeiros registros da língua grega remontam ao século XIV
a.C., quando florescia a civilização micênica. Devido à invasão dórica do século XII, perdeu-se a
antiga escrita silábica (em que cada signo correspondia a uma sílaba). Os gregos só voltaram a
ter outra escrita no século VIII, quando, a partir de um modelo semítico, criaram seu próprio
alfabeto, no qual cada letra representava um som. Entre os séculos VIII e V, esse alfabeto teve
distintas variações locais, numa das quais baseou-se o alfabeto latino. A partir do século IV, em
todo o mundo helênico passou a ser adotada a modalidade jônica de escrita e chegou-se a
uma forma definitiva do alfabeto grego, até hoje corrente na Grécia moderna.

A língua grega conserva, como outras da família lingüística indo-européia (germânicas, latinas
e célticas), as consoantes guturais iniciais, sem palatizá-las. Outros aspectos, no entanto,
aproximam mais o grego do grupo indo-irânico, especialmente no que se refere à flexão
verbal, na qual essas línguas alcançaram maior complexidade. No conjunto, o grego era
bastante conservador em relação ao indo-europeu.

No plano fonológico, as distinções mais peculiares do grego foram a separação entre vogais
longas e breves e a existência de um acento tonal e não de intensidade. A morfologia se
caracteriza pela riqueza. Os nomes podiam apresentar cinco casos; os verbos expressavam, em
suas distintas formas, tanto na voz ativa quanto na médio-passiva, numerosos matizes
temporais e modais, além de grande número de infinitivos e particípios. Nos nomes e nos
verbos, quando em forma pessoal, podia-se indicar, além do singular e plural, o número dual.
Por outro lado, o grego experimentou uma série de evoluções, como a criação do artigo
definido e um notável desenvolvimento da composição e derivação nominais, que tornaram a
língua bastante adequada para a expressão do pensamento complexo e para a formação de
um vocabulário de termos abstratos.

O grego antigo, a julgar pelas inscrições e escritos conservados, não era geograficamente
uniforme. Havia quatro grandes grupos dialetais: o ocidental ou dórico, o eólico, o jônico-ático
e o acádio-cipriota. Os três últimos procediam da antiga língua da era micênica. No entanto,
em que pese à fragmentação dialetal, a língua se mantinha unida na essência. A partir do
século V a. C. o dialeto ático ganhou maior prestígio, fundamentalmente devido ao
extraordinário nível cultural de Atenas. Os grandes mestres da tragédia e da comédia, além do
historiador Tucídides, escreveram em ático.

O grego clássico é a língua desse século e do século posterior, quando se afirmou a


predominância cultural de Atenas. A dominação macedônica, imposta por Filipe II e Alexandre
o Grande, grandes admiradores da cultura ateniense, consolidou a predominância do ático.
Com a formação do império helênico por Alexandre, teve lugar a grande expansão do grego ao
longo das costas do Mediterrâneo oriental. A língua que se propagou foi a chamada he koiné
diálektos ("a língua comum"), que, embora baseada no ático, simplificava bastante a gramática
e alterava a pronúncia. A escrita baseou-se na forma jônica do alfabeto.

Quanto aos aspectos fonológicos, o mais importante foi a redução do sistema vocálico e a
modificação das consoantes oclusivas aspiradas para fricativas (expiradas): ph, th e kh
passaram a se pronunciar como f, z [ ] e rr [ ], respectivamente. No plano gramatical, observou-
se a tendência a uma maior analogia no sistema desinencial, perdeu-se o número dual e o
modo optativo e desenvolveram-se as formas perifrásticas (formas verbais compostas que
permitem introduzir novos matizes na linguagem). Ao mesmo tempo, o vocabulário
enriqueceu-se com a incorporação de termos de outras línguas. Essas tendências ocorreram
especialmente na língua falada, cada vez mais diversa da literária, esta baseada no uso que os
escritores clássicos faziam da língua e portanto bastante conservadora. Alguns textos
importantes, no entanto, como a tradução grega do Novo Testamento, foram escritos na
"língua comum".

Grego moderno. Depois da queda do Império Romano do Ocidente, quando a língua corrente
era o latim, apenas o Império Romano do Oriente, ou bizantino, manteve o grego como língua,
até 1453, data da tomada de Constantinopla pelos turcos. Durante esse período prosseguiu a
tradição de ajustar a língua literária aos modelos do ático do período clássico, enquanto a
língua falada continuava a evoluir, mesmo sob a dominação otomana.

A independência da Grécia, conquistada no final da década de 1820, inaugurou um novo


período na história do idioma. O grego moderno deriva da koiné, acrescido das variantes locais
surgidas durante o período bizantino. Além dos numerosos dialetos, distinguem-se duas
variações da língua. O katharevusa, purista e arcaizante, originado no século XIX, é
basicamente a língua burocrática, da imprensa e das publicações técnicas. O demótico é a
modalidade coloquial mais generalizada nas cidades da Grécia continental; na variação culta, é
a mais empregada em literatura.

O grego moderno caracteriza-se pela sobrevivência apenas dos casos nominativo, acusativo e
genitivo; ocorrência no sistema verbal de diferentes aspectos da ação; relativa liberdade na
ordem das palavras; riqueza de derivação e composição; predomínio da coordenação sobre a
subordinação e acentuação móvel.

Você também pode gostar