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18/01/2019 Temperamento musical – Wikipédia, a enciclopédia livre

Temperamento musical
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Temperamento musical é um esquema para dividir ou temperar a oitava. Ao longo dos tempos, foram propostos
mais de 100 sistemas. Desses, não mais de 20 terão sido realmente usados com mais generalidade. Os vários sistemas
ecoam os vários estilos e gostos musicais das suas épocas. E estes, por sua vez, também influenciaram os tipos de
afinações adoptado.

O problema do temperamento de uma escala


Quando um corpo está em vibração emite um som complexo cuja representação temporal pode ser decomposta na
soma de um conjunto de curvas senoidais que contêm a frequência fundamental f0 e um número variável de
harmónicos com frequência n*f0, n=2,3…, que podem nem todos existir num dado som. É a presença ou não de cada
um dos harmónicos - e a sua amplitude - que dá a cada instrumento musical o seu som peculiar - o seu timbre.

Por exemplo, quando uma corda de guitarra emite o som correspondente a um Dó (C, na notação européia e norte-
americana), para além do som fundamental correspondente a esse Dó, ouvem-se também, embora com menor
intensidade sonora, os seus harmónicos. Os primeiros nove (n*f0, para n=2 a 10) correspondem às notas Dó (uma
oitava acima), Sol (quinta, da oitava acima), Dó (duas oitava acima), Mi, Sol, Sib, Dó, Ré e Mi. Não são exactamente as
mesmas notas que usamos actualmente no ocidente (no chamado temperamento igual) mas são notas muito parecidas
com as da escala temperada.

A escala diatónica baseia-se exactamente nos sons harmónicos. Como os harmónicos principais correspondem ao
intervalo de oitava e de quinta, o que se pode tentar fazer é escolher as notas da escala de tal modo que cada intervalo
de quinta e oitava seja o intervalo natural que aparece espontaneamente entre os sons harmónicos.

No entanto, verifica-se que não é possível fazer uma escala em que os intervalos de
oitava e de quinta sejam todos naturais. Isso pode ser visto através do chamado
"círculo de quintas": se começássemos numa nota do piano e afinássemos outra por ela
de modo a ficar afinada para um intervalo de quinta e depois afinássemos uma outra
por essa do mesmo modo e por aí em diante, deveríamos verificar-se que ao fim de
fazermos isso 12 vezes chegaríamos à mesma nota inicial (por exemplo, C G D A E B
F#C#Ab Eb Bb F C). O problema é que não é isso que se verifica. Obtemos uma série
em que a última nota (que é B#e não C) dista da primeira (C) da chamada «coma
pitagórica». Isto tem que ver com o facto de que 3n=2m, nunca se verifica para n e m
Círculo de quintas.
inteiros. Ou seja, afinando usando intervalos de quinta (que correspondem a um factor
3n ou 3n/2k entre frequências) nunca podemos obter oitavas perfeitas (que
correspondem a um factor 2m).

A história dos sistemas de temperamentos roda em volta de vários esquemas de alteração dos intervalos de quinta de
modo a que o ciclo de quintas resulte num intervalo de oitava, tentando obter o máximo número de intervalos o mais
perto dos naturais que for possível.

Evolução histórica das afinações e temperamentos


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Os principais temperamentos históricos são:

Os sistemas de afinação natural - que procuram usar intervalos naturais ou justos, ou seja, intervalos que podem
ser representados por números racionais (razões de números inteiros, com preferência pelos menores números
inteiros possíveis). Usam-se razões de frequências baseados em proporções inteiras como as encontradas na série
harmónica em vez de, por exemplo, dividir a oitava em partes exactamente iguais, e não representáveis por números
racionais, como no caso do temperamento igual. Estes sistemas de afinação conseguem assegurar «a gama justa» para
uma dada tonalidade (normalmente dó maior) mas, para notas estranhas a essa tonalidade, ocorre sempre algum
desvio que é diferente para cada tipo de afinação.

É o caso do sistema pitagórico, usado na Idade Média, em que se encurtava só uma das quintas, a «quinta do lobo».
Usava-se o ciclo de quintas de Eb até G#, ficando com as oitavas afinadas e com todas as quintas perfeitamente
afinadas excepto a última (G#-Eb), que ficava dissonante e cujo batimento «uivava» como um lobo porque ficava
demasiado curta. Eram sobretudo as quintas e quartas que eram apresentados na sua forma idealmente pura e simples
porque eram os intervalos considerados estáveis no contexto estilístico da época. As terceiras e sextas tinham algum
batimento (menos do dobro das do temperamento igual), assim como os meios tons diatónicos, que eram pequenos,
mas tomava-se partido do seu poder expressivo que criava uma cor harmónica nas cadências que eram usadas na
época.

No século XV, começou a surgir o gosto por terceiras naturais (terças) e os músicos começaram a experimentar usar
formas modificadas da afinação pitagórica para obter terceiras (terças) mais perto do seu valor natural. O grande
teórico da Renascença, Gioseffo Zarlino (1517-1590), defendia um sistema de entonação justa baseado nas terceiras, e
não nas quintas, como no sistema pitagórico, já que as terceiras passaram a ser usados como pontos de resolução e as
terceiras pitagóricas já não assentavam bem no contexto musical. O sistema que preconizava era o que se chama hoje o
sistema ptolomaico, um dos sistemas propostos por Ptolomeu, no século II D.C.

Os temperamentos mesotónicos - Pouco a pouco, as terceiras e sextas foram assumindo um papel mais relevante
e, no início da Renascença, os músicos já desejavam encontrar novas afinações que tornassem um maior número delas
naturais. Isso deu origem ao aparecimento dos temperamentos mesotónicos (ou do tom médio) muito usados nos
séculos XVI e XVIII. Enquanto os sistemas de afinação natural procuravam aproximar-se dos intervalos ideais, os
sistemas de temperamento implicavam desvios deliberados, mas pequenos, desses valores. Procurando obter terças
justas, encurtavam fortemente 11 quintas, resultando uma delas demasiado grande (Mib-Lá, também chamada a
«quinta do lobo»). Este sistema não é mau para as tonalidades mais clássicas mas gera uma gama cromática muito
desigual. Não se pode tocar em algumas tonalidades. Mas já muitos teóricos da Renascença descreviam outras
alternativas em que os intervalos não eram números racionais (razões de inteiros) e que correspondiam ao que se
chama hoje o bom temperamento e o temperamento igual.
Intervalo é a diferença de altura entre duas

Os temperamentos irregulares - No notas. São classificados


temperamento quanto àpara
mesotónico, simultaneidade
favorecer a «beleza», tentou-se ter tantas
ou não dos sons e à distância (altura)
terceiras puras quanto possível, mesmo comprometendo as quintas e introduzindoentre eles.
alguns «lobos». No tempo de Bach,
Na música ocidental,
a partir do século XVIII, nos temperamentos os intervalos
irregulares, chamados são estudados
também «sistemas bem temperados»,
favorecendo a «utilidade com variedade», optou-se por conseguir um contínuo de As
a partir da divisão diatônica da escala. cores desde as terceiras puras às
unidades
quintas puras, mas de modo a que todos de medida
os intervalos deutilizáveis
fossem intervalos, baseadas
e não na «lobos». Estes temperamentos
tivessem
permitem tocar em todas as 24 tonalidades possíveis (12 maiores e 12 menores). Algumas quintas são mantidas
perfeitas e outras são encurtadas. Podem-se usar todas as tonalidades, ficando, no entanto, cada uma com a sua
«coloração diferente».

O temperamento igual - Favorecendo a utilidade, decidiu-se temperar cada quinta pela mesma quantidade de
modo a dispersar a coma pitagórica, deixando as terceiras ainda um tanto vibrantes mas já capazes de suportar tríades
estáveis. É o temperamento adoptado actualmente no ocidente, em que a gama é dividida em 12 semitons exactamente
iguais. As quintas, terças e quartas são falsas, embora iguais entre si e desviando-se suficientemente pouco do ideal

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para serem suportáveis; o ouvido contemporâneo já se habituou a elas. Só as oitavas são perfeitas (embora, de facto, os
afinadores de piano aumentem as oitavas nos graves e nos agudos, para terem em conta as características da
percepção auditiva humana).

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