Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RECIFE
2016
ERICKSON ARAÚJO SANTANA DE OLIVEIRA
RECIFE
2016
Catalogação na fonte
Bibliotecária Eliane Ferreira Ribas CRB/4-832
É um prazer agradecer ao professor Torquato da Silva Castro Jr. (UFPE), pela orientação, e aos
professores Bruno Meyerhof Salama (FGV-SP), Adrualdo de Lima Catão (UFAL) e George
Browne Rego (UFPE), que me apontaram, uns mais, outros menos, o caminho certo; aos colegas
Gustavo Azevedo, Ítalo Oliveira e Luiz Augusto Freire da Silva, pelos primeiros comentários;
a Rodrigo Guimarães Colares e Danielle de Melo Gomes Siqueira, pela compreensão e apoio
inestimáveis; aos meus pais, que antes de mim já sabiam; e à Luciana Valença Garcia, pelo amor
devoto e desinteressado.
The purpose of this research is to describe the evolution of the wealth maximization concept
by looking at the work of Richard A. Posner. Several prior researches emphasize the existence
of "phases"in his work, while this research was designed to identify a "leitmotiv"that would
pervade all his work and represent its unity. To that effect, this dissertation follows the evolution
of Posner’s work, using the concept of economic efficiency as key to better understand his work,
from the identification of such concept as a "Rosetta stone"of the common law, passing it as a
normative criterion, to its accomodation in the everyday pragmatism put forth by the author. This
dissertation, by extrapolation, opens a direct dialogue with the Law and Economics movement,
of which the author was and continues to be a key figure, seeking a form of rationality that is
common to all the movement e that could be used as a mean to evaluate public policy. At last, it
focus on the usage of macroeconomic theory as a new vector for Economic Analysis of Law.
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2 EFICIÊNCIA COMO LÓGICA INTERNA DO COMMON LAW . . . . 13
2.1 UM BREVE HISTÓRICO DA ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO . . . 13
2.2 O CONCEITO DE COMMON LAW NA OBRA DE RICHARD POSNER . 18
2.3 A HIPÓTESE DA EFICIÊNCIA DO COMMON LAW OU COMO A EFICI-
ÊNCIA INFORMA O DIREITO PRODUZIDO PELOS JUÍZES (JUDGE-
MADE LAW) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4 O PAPEL DOS JUÍZES NA PROMOÇÃO DA EFICIÊNCIA . . . . . . . . 32
2.5 CRÍTICAS ÀS TEORIAS ECONÔMICAS POSITIVAS DO COMMON LAW 36
3 DA POSITIVIDADE À NORMATIVIDADE: A MAXIMIZAÇÃO DA
RIQUEZA COMO FUNDAMENTO AXIOLÓGICO DO DIREITO . . 41
3.1 UMA GILHOTINA DE HUME ÀS AVESSAS E A EFICIÊNCIA NO MER-
CADO DOS FUNDAMENTOS MORAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2 O CRITÉRIO DE MAXIMIZAÇÃO DA RIQUEZA . . . . . . . . . . . . . 43
3.3 A MAXIMIZAÇÃO DA RIQUEZA COMO CRITÉRIO VALORATIVO
DAS NORMAS E INSTITUIÇÕES JURÍDICAS: O FUNDAMENTO DA
ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO SEGUNDO RICHARD POSNER 48
3.4 O PROBLEMA DA EFICIÊNCIA ENQUANTO VALOR . . . . . . . . . . 60
3.4.1 Inconsistências Lógicas e Dificuldades Metodológicas . . . . . . . . . . . 60
3.4.2 O problema da racionalidade e do consentimento dos agentes . . . . . . 63
3.4.3 O problema da distribuição de riqueza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.5 A AUTONOMIA DO DIREITO FRENTE À ECONOMIA . . . . . . . . . 67
3.5.1 O problema dos direitos fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.5.2 A eficiência como meio ou como fim? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4 A EFICIÊNCIA POSTA EM CONTEXTO: UMA ESCOLHA PRAG-
MÁTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.1 O ESVAZIAMENTO DA RELEVÂNCIA DOS GRANDES SISTEMAS
MORAIS NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS PRÁTICOS . . . . . . . . . . 74
4.2 UMA ABORDAGEM PRAGMÁTICA PARA O DIREITO . . . . . . . . . 78
4.2.1 A divisão de trabalho entre o Judiciário e o Legislativo . . . . . . . . . . 79
4.2.2 As intuições morais como teste definitivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.2.3 A Constituição como reduto de segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.3 O PRAGMATISMO JURÍDICO-ECONÔMICO E A SUA APLICAÇÃO A
POLÍTICAS PÚBLICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.3.1 A racionalidade econômica (liberal) como forma de alcançar objetivos
sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5 A CONTEMPORANEIDADE DO DEBATE SOBRE EFICIÊNCIA E
EVENTUAIS DESDOBRAMENTOS PARA A TEORIA DO DIREITO 93
5.1 ARGUMENTOS DE CARÁTER CONSEQUENCIALISTA NO DIREITO . 95
5.1.1 O pragmatismo cotidiano de Posner e o consequencialismo irrestrito . . 95
5.1.2 Levando as consequências a sério . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
5.1.3 O uso pragmático da razão prática e a prática do consequencialismo
restrito no Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.2 MACROECONOMIA E ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO . . . . . 105
5.2.1 As interseções entre Direito e Macroeconomia . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.2.2 A convergência de duas artes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
10
1 INTRODUÇÃO
Direito, mas o fio condutor é a vasta obra de Posner. Esta longa bibliografia é um desafio sob
pelo menos dois aspectos importantes. O primeiro deles tem que ver com a extensão da obra, e
com a impossibilidade prática de manejar todos os textos do autor no tempo dedicado à pesquisa.
Para contornar esta dificuldade, neste trabalho procurou-se isolar aqueles com maior ênfase
teórica e aqueles de maior importância para a questão da eficiência (maximização da riqueza),
que mais contribuem para a formação da linha evolutiva dos conceitos abordados na obra de
Posner.
Por se tratar de uma análise não-exaustiva, as escolhas feitas neste trabalho podem,
ao menos em tese, levar a conclusões equivocadas ou imprecisas. Entende-se que este é um risco
inerente aos trabalhos autorais em geral, risco este que é infinitamente maior quando se trata
da obra de um autor vivo. É que contar a história de uma ideia (ou mesmo uma História das
Ideias) implica preencher os vazios com a imaginação daquele que a descreve. A síntese mental
dos pontos isolados pouco serviria se não houvesse o traço que os une (pensemos num jogo de
“ligar os pontos”). Para minimização deste risco, extensa bibliografia secundária foi consultada,
dentre as quais destacaria os trabalhos nacionais que muito colaboraram para a fixação do status
quaestionis5 no contexto brasileiro.
Tratando da linha evolutiva, chegamos ao segundo aspecto do desafio. A produção
dispersa de um autor que tanto produz é difícil de organizar e condensar em um todo uno,
acabado e, sobretudo, coerente. Enquanto obras recentes procuraram indicar a existência de
fases de um chamado eficientismo na obra de Posner6 , distintas entre si como se existissem, ao
longo do tempo, autores diferentes, este trabalho procura reconstruir o pensamento de Posner em
torno da questão da eficiência, revelando os contornos de uma linha cambiante de pensamento,
sem, contudo, perder a unidade que lhe é própria.
Assim, a seção 2, procurará discutir os aspectos da chamada “primeira fase” do
5 V. nota anterior e mais SALAMA, Bruno Meyerhof. A história do declínio e queda do eficientismo na obra
de richard posner. In: LIMA, Maria Lúcia L. M. Pádua (Ed.). Agenda contemporânea: direito e economia:
Trinta anos de brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1, p. 284–321., JÚNIOR, Ronaldo Porto MACEDO. Posner
e a análise econômica do direito: da rigidez neoclássica ao pragmatismo frouxo. In: LIMA, Maria Lúcia L.
M. Pádua (Ed.). Agenda contemporânea: direito e economia: Trinta anos de brasil. São Paulo: Saraiva,
2012. v. 1, p. 262–279. e LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito e economia: os caminhos do debate. In:
LIMA, Maria Lúcia L. M. Pádua (Org.) (Ed.). Agenda contemporânea: direito e economia: Trinta anos de
brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1.
6 V.g, MATHIS, Klaus. Effiency Instead of Justice? [S.l.]: Springer, 2009., SALAMA, Bruno Meyerhof. A
história do declínio e queda do eficientismo na obra de richard posner. In: LIMA, Maria Lúcia L. M. Pádua
(Ed.). Agenda contemporânea: direito e economia: Trinta anos de brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1, p.
284–321. e LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito e economia: os caminhos do debate. In: LIMA, Maria
Lúcia L. M. Pádua (Org.) (Ed.). Agenda contemporânea: direito e economia: Trinta anos de brasil. São
Paulo: Saraiva, 2012. v. 1.
12
deu sem resistência por parte das demais ciências ditas “sociais”, as quais vêm percebendo, nas
últimas décadas, suas respectivas áreas de atuação serem invadidas por cientistas iniciados nos
instrumentos de análise criados ou aperfeiçoados por economistas, notadamente com a utilização
crescente de modelos estatísticos e matemáticos.
Uma outra observação preliminar que se faz necessária é a de que a colocação do
direito, suas normas e institutos como objetos da ciência econômica não é novidade. De fato,
muito embora a historiografia canônica do movimento destaque o importante papel do clima
acadêmico na Universidade de Chicago a partir das décadas de 1940 e 1950, ou mesmo os
artigos de Coase e Calabresi, diversos autores indicam origens distantes para o tratamento do
direito como objeto das ciências econômicas. Entre estas origens distantes, estariam as obras
de Beccaria, Adam Smith, David Ricardo, Thomas Maltus, Karl Marx, Jeremy Bentham, entre
outros4 .
Por outro lado, para aqueles que defendem a importância do clima acadêmico na
Universidade de Chicago nas décadas de 1940 e 1950, o fato de haver um economista no
Departamento de Direito parecer ter tido uma influência enorme no jump-start do movimento5 .
Apesar disso, entre nós é sabido que a Lei de 11 de agosto de 1827, já previa
a matéria de Economia Política como a primeira cadeira do 5o ano dos Cursos de Ciências
Jurídicas e Sociais criados, um na cidade de São Paulo, e outro na de Olinda. O próprio Visconde
da Cachoeira, no texto que precede o seu Projeto de Estatuto para o Curso Jurídico – citado
pela própria lei – já entendia que sem o ensino de economia política não se poderiam formar
“verdadeiros e hábeis” jurisconsultos6 .
Mais ainda, o Prof. Pedro Autran da Matta e Albuquerque, autor do primeiro tratado
de Economia Política publicado no Brasil e lente da cadeira de Economia Política no Curso
Jurídico de Olinda, no seu Tratado de Economia Política, publicado em 1850, já manifestava a
4 Neste sentido, cf. CABANELLAS, Guillermo. El análisis económico del derecho. evolución histórica, metas
y instrumientos. In: KLUGER, Viviana (org.) (Ed.). Análisis Económico del Derecho. Buenos Aires:
Heliasta, 2006.; PEARSON, Heath. Origins of Law and Economics: The economist’s new science of law,
1830-1930. Cambridge: Cambridge University Press, 1997., BACKHAUS, Jürgen. The Elgar Companion to
Law and Economics. Cheltenham: Edward Elgar, 1999., MACKAAY, Ejan. History of law and economics.
In: BOUCKAERT B.; DE GEEST, G. (Eds.) (Ed.). Encyclopedia of Law and Economics. Cheltenham:
Edward Elgar, 2000. v. 1., entre outros. Entre nós, v. LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito e economia: os
caminhos do debate. In: LIMA, Maria Lúcia L. M. Pádua (Org.) (Ed.). Agenda contemporânea: direito e
economia: Trinta anos de brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. e SALAMA, Bruno Meyerhof. Apresentação.
In: SALAMA, Bruno Meyerhof (Ed.). Direito e Economia: Textos Escolhidos. 1a . ed. São Paulo: Saraiva,
2010. p. 9–57.
5 DUXBURY, Neil. Patterns of American Jurisprudence. Oxford: Oxford University Press, 1997.
6 MELO, Luiz José de Carvalho e. Estatuto dos cursos jurídicos. Rio de Janeiro: Instituto dos Advogados
Brasileiros, 1977., pp. 11-16.
15
opinião de que o jurista deveria se preocupar com as consequências que a lei teria, razão pela
qual entendia importante o estudo da Economia Política7 .
Do que se conclui que a presença de economistas no Departamento de Direito em
determinada universidade, no caso específico, a Universidade de Chicago, pode ter contribuído
para a ascensão desta corrente de pensamento, mas não é um fator determinante, nem tampouco
suficiente, para tanto8 .
Este estudo clássico das instituições e normas jurídicas pela Economia, entretanto,
consistia basicamente na aplicação de conhecimentos econômicos em áreas em que tradicional-
mente já era esperada a presença de análises de cunho econômico (mercadológico, melius), como
o direito tributário, o direito concorrencial, etc. Porém, quando economistas passaram a discutir,
por exemplo, o efeito dissuasivo das políticas criminais, criminologia, pena de morte, a proteção
do consumidor, ou mesmo até o divórcio, a reação não poderia ser outra senão o estranhamento.
Com efeito, o jurista é acostumado a absorver argumentos de cunho filosófico e
moral acerca destas questões, e em seguida filtrá-los, traduzi-los para a linguagem própria do
direito, para, por fim, dar-lhes uma roupagem jurídica, tornando-os “compatíveis com a própria
autorregulação do direito”9 . Essa dinâmica de repulsa e absorção se desenvolve ao longo do
tempo na aposta do direito em diferenciar-se em torno da sua própria identidade.
À esta doutrina positivista, opuseram-se diversos movimentos, tão variados quanto
diferentes entre si, dentre os quais aqueles que cabem sob a denominação comum de “realismo
jurídico”, que externaliza, grosso modo, o desejo de abertura do direito aos fatos10 e sinaliza
positivamente à interdisciplinaridade com as demais ciências e campos do conhecimento humano.
Neste contexto, por ser a Análise Econômica do Direito um campo eminentemente
prático do conhecimento, e possuidor de forte caráter consequencialista, seja na sua vertente
descritiva ou prescritiva11 , seus aspectos mais teóricos despertam pouco interesse entre os
acadêmicos inseridos neste movimento, mais ou menos como o desinteresse experimentado
pelo profissional do direito pelas grandes questões da Filosofia do Direito tradicional, como o
7 ALBUQUERQUE, Pedro Autran da Matta. Tratado de Economia Política. Recife: Typographia Universal,
1859., p. X.
8 Sobre a discussão a respeito das causas do crescimento extraordinário da Análise Econômica do Direito nos
Estados Unidos e a sua não-correspondência no Reino Unido e na Europa continental, vide DAU-SCHMIDT,
Kenneth G. Lost in translation: The economic analysis of law in the united states and europe. Columbia
Journal of Transnational Law, n. 44, p. 602–621, 2006.
9 RESTA, Eligio. Diritto Vivente. Bari: Laterza, 2008., p. 102.
10 FARALLI, Carla. A filosofia contemporânea do direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006.
11 GICO JR., Ivo. Introdução ao direito e economia. In: TIMM, Luciano Benetti (Ed.). Direito e Economia no
Brasil. 1a . ed. São Paulo: Atlas, 2010.
16
A eficiência do common law, conforme proposta por diversos autores, dentre eles
Posner, é uma das hipóteses que legitima uma análise econômica positiva do Direito, nos termos
já discutidos acima. Mas antes de entrarmos no mérito da discussão, convém esclarecer o alcance
daquilo que está sendo discutido, passando, necessariamente, pelo tratamento específico do
conceito de common law utilizado nas discussões.
Com efeito, diferentemente das definições sistêmicas com as quais estamos acos-
tumados (ao menos no contexto brasileiro), Posner utiliza um conceito restrito do que seria o
common law, sobre o qual é construída a hipótese de um common law possivelmente eficiente.
A expressão common law, em Posner e, de resto, em todo o presente trabalho,
deve ser entendida como designando aquele direito produzido por juízes (judge-made law),
em oposição àquele direito produzido por legisladores, assembleias constituintes ou outros
organismos de natureza não-judicial21 . Em outras palavras, o direito produzido pelos juízes seria
simplesmente aquele distinto do direito legislado22 .
A distinção é importante na medida em que os proponentes da chamada teoria
“descritiva” da eficiência no Direito postulam a aparente incapacidade do judiciário de lidar com
problemas de “distribuição” da riqueza, daí se segue que a análise da eficiência no Direito deve
se debruçar sobre o ofício dos juízes produtores do direito, ou seja, dos juízes do common law.
Assim, convém destacar, em breves linhas, as diferenças fundamentais entre o
sistema do common law e o sistema do civil law. Segundo a narrativa comum, a chamada família
do common law comporta o direito inglês e os direitos que se modelaram sobre ele, enquanto a
do civil law compreende o direito dos países nos quais a ciência do direito se formou a partir
da base do direito romano23 . Para os nossos fins, no entanto, a diferença entre os dois sistemas
reside, fundamentalmente, na origem das normas jurídicas. Enquanto no civil law, as regras
do direito tendem a ser regras de conduta, ligadas a preocupações de justiça ou de moral, no
common law o direito surge a partir da necessidade de resolução de conflitos particulares por
aplicação do direito: hermenêutica e análise econômica do direito. Tese (Doutorado) — USP, São Paulo,
2010.; RIEFFEL, Luiz Reiner Rodrigues. Um mundo refeito: o consequencialismo na análise econômica do
direito de richard posner. Dissertação (Mestrado) — UFRGS, Porto Alegre, 2006. e ROSA, Christian Fernandes
Gomes da. Eficiência como axioma da Teoria Econômica do Direito. Dissertação (Mestrado) — USP, São
Paulo, 2008.
21 Cf. POSNER, Richard A. The law and economics movement. The American Economic Review, v. 77, n. 2,
1987., p. 5.
22 POSNER, Richard A. Pragmatic liberalism versus classical liberalism. The University of Chicago Law
Review, v. 71, 2004., p. 68.
23 DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. 4a . ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
19
parte dos magistrados. No common law, o princípio regente do Direito Privado é aquele que
diz que ubi Remedium, ibi Jus, significando que onde há um remédio, há o direito. Em outras
palavras, o procedimento, o remédio jurídico, é o que dá forma ao direito substantivo24 .
Em relação aos direitos de propriedade, contratual, antitruste e com relação aos
delitos civis ou responsabilidade civil, assim como aos direitos básicos de natureza penal e
processual, o sistema de common law (em especial nas jurisdições anglo-americanas) permite
que os juízes, ao exercerem seu ofício judicante, criem o direito, e não somente o apliquem25 ,
como em geral se diria do ofício dos juízes em países de civil law segundo a tradição legicentrista
que gravita em torno do juiz “bouche de la loi” de Montesquieu.
A bem da verdade, também sob a tradição do civil law os juízes possuem um certo
espaço de manobra a partir do qual, efetivamente, criam direito. Esta afirmação não é verdadeira
somente às margens do direito, onde a abertura normativa é sabidamente grande26 , mas é o caso
também da jurisprudence constant no direito francês, e, através de um esforço de coordenação
crescente, dos milhares de verbetes de súmulas editadas pelos tribunais brasileiros, em especial
pelos tribunais superiores.
O fato é que a observação feita por Holmes, de que a vida do direito não deriva da
lógica, mas da experiência27 , alcançou um significado profundo na obra de Posner. Segundo o
próprio Holmes, não se pode considerar o próprio direito como estando contido em “axiomas e
corolários de um livro de matemática”28 , mas sim como se o direito corporificasse a história do
desenvolvimento de uma nação ao longo de séculos.
Neste mesmo sentido, um dos pontos de especial interesse na carreira de Posner tem
sido a evolução do direito, desde as sociedades primitivas até os dias atuais, intento no qual se
nota, com relativa clareza, a influência de Holmes no seu pensamento.
De fato, Holmes descrevia a responsabilidade civil e criminal29 (e, até certo ponto,
24 Cf. HEPBURN, Charles M. The Historical Development of Code Pleading in America and England. New
Jersey: The Lawbook Exchange, 2002., p. 20 e ss. Além disso, no Direito Romano, ação era o que distinguia o
direito do simples interesse, de modo que Moreira Alves é categórico ao afirmar que “não há direito subjetivo
sem ação judicial que o tutele em caso de violação”, em ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 14a .
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.. No mesmo sentido, Cretella Júnior, definia Direito e proteção judiciária
como “conceitos correlatos e inseparáveis. Quando se fala de direito, fala-se de proteção judiciária, porque sem
esta o próprio conceito de direito não existe”: cf. CRETELLA JÚNIOR, José. Direito Romano Moderno:
Introdução ao direito civil brasileiro. 2a . ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
25 cf. POSNER, Richard A. Prefácio à edição brasileira. In: . A Economia da Justiça. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2010.
26 cf. POSNER, Richard A. Problemas de Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007., p. 6.
27 HOLMES JR, Oliver Wendell. The Common Law. Cambridge: Harvard University Press, 2009., p. 3.
28 HOLMES JR, Oliver Wendell. The Common Law. Cambridge: Harvard University Press, 2009., p. XXIV.
29 Tradução livre da expressão “liability”.
20
patamar37 , para Posner a história do direito pode ser explicada como uma longa marcha até a
eficiência econômica.
A ideia geral pode ser ilustrada por meio de um exemplo tirado da descrição das
regras de responsabilidade em sociedades primitivas. Em seu livro Law & Literature, Posner
descreve a vingança como um protótipo jurídico: em uma sociedade em que não há possibilidade
de obter uma indenização por um dano causado por outra pessoa por uma via heterônoma, uma
vítima em potencial possui duas alternativas: ou aumenta a sua capacidade de defesa, investindo
em autoproteção, ou promove retaliação contra a pessoa do agressor38 .
A primeira hipótese envolveria um alto custo (monetário ou não), sem qualquer
garantia de sucesso. A segunda, por sua vez, seria economicamente ineficiente, vez que um
homem racional – um homo oeconomicus – perceberia rapidamente que o dano sofrido é um
custo irrecuperável e que causar algum dano ao agressor não anularia o dano sofrido pela vítima
em primeiro lugar. Em outras palavras, perseguir um agressor procurando vingança, do ponto
de vista estritamente racional, seria um desperdício irracional de recursos, ou, para usarmos a
expressão inglesa, o agente racional estaria throwing good money after bad.
No entanto, a instituição da vingança como prática social poderia ter um efeito
dissuasivo, e ser mesmo racional, se satisfeitos alguns pressupostos. De fato, a ameaça de
retaliação pode ser vista como um mecanismo básico através do qual a ordem social seria
mantida39 . Para isso, a vítima em potencial deve convencer o potencial agressor de que haverá
retaliação mesmo que o custo real seja superior à expectativa de benefício oriundo da retaliação.
Para uma maior eficácia (especialmente em relação a assassinatos), esta “tática” deve envolver
os familiares, estendendo a responsabilidade do agressor aos seus familiares40 .
Esta extensão de responsabilidade, resultando em uma responsabilidade coletiva,
portanto, teria um duplo efeito: de um lado, a família do agressor agora teria um maior incentivo
para impedir que este cometa atos ilícitos. E, por outro lado, ao mesmo tempo que aumenta o
número de potenciais “vingadores”, o número de alvos também aumenta, reduzindo, assim, o
custo sistêmico.
Ocorre que, quanto maior o número de familiares do lado do agressor, menor o
incentivo para que não haja retaliação, o que tornaria o sistema dinamicamente instável41 . Além
37 Ibid, p. 16.
38 POSNER, Richard A. Law & Literature. Cambridge: Harvard University Press, 2009., p. 76.
39 cf. POSNER, Richard A. The Economics of Justice. Cambridge: Harvard University Press, 1982.
40 POSNER, Richard A. Law & Literature. Cambridge: Harvard University Press, 2009., p. 78.
41 POSNER, Richard A. A Economia da Justiça. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010., p. 82.
22
disso, o sistema é custoso: uma vez que não há pessoas especializadas na manutenção da ordem
– como existiria em um Estado moderno, por exemplo – cada um tem que destinar uma parcela
de seu tempo a ser policial, procurador, juiz e algoz, gerando uma perda de eficiência decorrente
da sub-especialização.
Diversas objeções poderiam ser feitas do ponto de vista moral a esta prática que se
perpetua, às vezes, por gerações, e resiste até mesmo ao estabelecimento do Estado de Direito,
ignorando-o e funcionando como uma espécie de teia “alimentada pelo velho sentimento de
ódio famélico, ressentido, vingativo”, aliás presente até hoje no “Brasil profundo”, conforme
evidenciado por recentes pesquisas42 , fazendo vivas as palavras de Guimarães Rosa: ”Matar,
matar; sangue manda sangue”43 .
No entanto, segundo Posner, este sistema não seria um barbarismo, como apontado
por Holmes, mas um verdadeiro sistema de controle social. De fato, Posner vai além e identifica
um papel suplementar do sentimento de vingança mesmo nas sociedades modernas, capaz de
incentivar a aplicação rigorosa das leis penais, por exemplo44 .
O abandono da vingança como meio de controle social, neste sentido, não teria se
dado por razões morais, e sim pela existência de um excedente econômico na atribuição do
poder de coerção em alguns especialistas45 , a legitimar, em outras palavras, a alçada do Estado à
condição de legítimo detentor do monopólio da força46 , capaz de tornar criminoso até mesmo o
ato de “fazer justiça pelas próprias mãos”47 .
Desde logo perceba-se que a condição de sociedade primitiva descrita acima não se
trata do “estado de natureza” hipotético, onde haveria uma “guerra de todos contra todos”, como
em Hobbes, mas de uma situação em que já existe uma efetiva forma de organização social, a
qual poderia, inclusive, ter o aval de uma autoridade, que, nestes casos, sancionaria a aplicação
da “justiça privada”.
Com efeito, seriam, grosso modo, duas formas de abstração dos fundamentos da
organização social, mas baseadas em causas aproximadas. De um lado, argumenta-se que o
42 MAIA, Dalila Maria; CAVALCANTE, Peregrina Fátima. Sertão, espaço e tempo: conflitos de famílias e
vingança privada. O público e o privado, n. 7, jan 2006.
43 ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994., p. 35.
44 POSNER. R. A., Op. Cit., p 78.
45 POSNER. R. A., Op. Cit., p 82.
46 Para uma visão sociológica do Estado enquanto única fonte do “direito” de usar a violência, v. WEBER, Max.
A política como vocação. In: . Ensaios de Sociologia. 5a . ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1982.
47 A definição do crime de “exercício arbitrário das próprias razões”, previsto no art. 345 do Código Penal em
vigor, é bastante ilustrativa: “Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora
legítima, salvo quando a lei o permite: (...) Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena
correspondente à violência.”
23
fundamento se encontra nos freios e contrapesos da possibilidade de sofrer retaliação por uma
atitude ilícita. Por outro lado, o fundamento da sociedade estaria no receio de levar uma vida
infeliz, “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta”48 .
As duas abstrações não são excludentes, e ambas estão fundadas em razões conse-
quencialistas. Impondo uma ordem cronológica arbitrária, poderíamos dizer que o direito em
uma “sociedade da vingança” seria uma etapa intermediária entre o “estado de natureza” e o
direito de uma sociedade organizada sob um Estado, ou mesmo uma sociedade característica de
um Estado “primitivo”, que, gradualmente, evoluiria para os contornos do que hoje conhecemos
como Estado de Direito49 .
É que abdicar da prerrogativa de fazer justiça com as próprias mãos é condição para
o pacto social, pelo qual se estabelece uma sociedade civil sob um soberano. Este soberano, por
sua vez, em troca da “força” que recebe dos súditos, oferecer-lhes-ia proteção. Qualquer que
seja a causa, a conclusão é a mesma: a vida em sociedade, organizada sob um Estado soberano
e governada pelas leis, seria uma forma superior de vida, seja do ponto de vista moral, seja do
ponto de vista econômico.
Assim, desconsiderando as demais nuanças da exposição de Posner (entre elas, a
incorporação dos princípios de retribuição, composição e compaixão ao contexto das sociedades
primitivas), tem-se que a vingança não seria um mecanismo de controle social imoral, posto
que pode ser vista como resultado de um sentimento inclusive natural e mesmo religioso50 ,
mas certamente ineficiente, especialmente quando comparado com as demais alternativas de
organização disponíveis.
Afastando-se a pecha de “barbarismo” atribuída por Holmes, portanto, pode-se dizer
que a evolução do direito nas sociedades modernas se move por critérios consequencialistas,
critérios estes que possuiriam, segundo Posner, acentuados contornos econômicos, dos quais
tratam as seções seguintes.
48 HOBBES, Thomas. Leviathan. Oxford: Oxford University Press, 1998., p. 84. No original, se lê: “(. . . ) and
the life of man, solitary, poor, nasty, brutish, and short.”
49 De acordo, aliás, com o que diz o próprio Posner em POSNER, Richard A. A Economia da Justiça. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2010., pp. 242-245.
50 Como, por exemplo, a Lei do Talião, prevista no Levítico ou no Êxodo.
24
Vimos, na subseção anterior, que o common law em Posner seria aquele direito
produzido por juízes (judge-made law), e que este direito – enquanto forma de organização social
– parece possuir uma tendência monotônica de mover-se em direção à eficiência econômica. Esta
subseção lida com a chamada hipótese da eficiência do common law e trata de como a eficiência
daria forma ao direito.
A tese da eficiência do common law foi primeiro proposta por Posner na primeira
edição do seu Economic Analysis of Law51 , em que ele sustenta a tese de que existiria uma lógica
econômica implícita no common law52 . Desta forma, seria possível descrever diversas áreas
do direito “produzido por juízes” em termos econômicos, de modo a explicar não somente as
doutrinas relacionadas a cada uma delas, mas sobretudo a tornar claro que as áreas do direito
são, em verdade, partes de uma unidade econômica. Assim, a Economia seria, diz Posner, “a
estrutura profunda do common law” e as doutrinas a respeito das áreas do direito seriam “a
estrutura superficial”53 do common law.
Ao afirmá-lo, Posner, em princípio, está realizando uma mera descrição do common
law, dissecando-o e examinando os seus componentes mais básicos, de acordo com a metodologia
proposta por Milton Friedman e abertamente encampada pelo próprio Posner, segundo a qual o
papel das suposições científicas na construção de um modelo – no caso de Friedman, um modelo
propriamente econômico – não é o de retratar a realidade de um modo realista, mas sim fornecer
aproximações adequadas ao propósito analítico a que se destinam54 .
É evidente, no entanto, que uma ciência que se pretende aplicada, nos dizeres de von
Mises, não pode ser um “sistema integrado de raciocínios apriorísticos desligado de qualquer
referência à realidade”55 , como se pura lógica ou matemática fosse, senão deve se satisfazer com
o fato de que o tratamento (teórico) das suposições pode ser útil para a compreensão da realidade.
No mesmo sentido, Friedman defende que uma hipótese teórica deve possuir relevância analítica,
e não exatidão descritiva, posto que um modelo que representasse os fatos exatamente como
51 POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 8a . ed. New York: Wolkers Kluwer, 2011.
52 Na verdade, Posner atribui esta “descoberta” da lógica ecônomica interna do common law ao artigo de Coase,
já citado. Cf. POSNER, R.A., Op Cit, p. 30.
53 Cf. POSNER, R.A., Op Cit, p. 315.
54 FRIEDMAN, Milton. Essays in Positive Economics. Chicago: University of Chicago Press, 1953., pp. 3-43.
55 Cf. MISES, Ludwig von. Human Action: A treatise on economics. 4a . ed. San Francisco: Fox & Wilkes,
1996., p. 66.
25
estes se apresentam no mundo real não se prestaria à análise de qualquer outra situação que
não exatamente a que gerou o modelo, tornando-a completamente inútil do ponto de vista
teórico-analítico.
Em outras palavras, uma teoria significativa deve estabelecer quais pontos são
importantes para o entendimento de determinada classe de fenômenos que se apresentam no
mundo real, em detrimento de outros que, por serem considerados não-importantes, são deixados
de fora. Não interessa se existe uma correlação exata até os mínimos detalhes no modelo teórico
e no mundo dos fatos: a hipótese deve prever comportamentos no mundo observável como se
“estes ocorressem num mundo hipotético e altamente simplificado, contendo apenas as forças
que a hipótese considera importantes”56 .
A incompletude de um modelo teórico, aliás, não é uma característica exclusiva dos
modelos utilizados nas ciências sociais, nem muito menos na Economia. Mesmo as ciências
chamadas “duras”, como a Física, por exemplo, por vezes se utilizam de modelos parciais e
sabidamente incompatíveis entre si, mas que são capazes de descrever certos aspectos do universo
de fenômenos observáveis, como é o caso da mecânica quântica e da teoria da relatividade geral57 .
Esta incompletude, no entanto, está longe de invalidar um modelo teórico; na verdade,
ela o legitima, como o próprio Posner descreve:
A utilidade analítica de uma hipótese teórica, portanto, deveria ser testada por meio
de um triplo teste: (a) deve, primeiro, possuir a habilidade de explicar a realidade. Em seguida,
(b) deve possuir poder preditivo. Por fim, deve (c) possuir a habilidade de assinalar intervenções
efetivas no mundo real59 . Mais adiante no mesmo livro, ao tratar do aspecto positivo da Análise
56 FRIEDMAN, M. Op. Cit. Tradução livre de “(...) as if they occurred in a hypothetical and highly simplified
world containing only the forces that the hypothesis asserts to be important.”
57 Cf. HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo: do big bang aos buracos negros. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994., p. 33.
58 cf. POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 8a . ed. New York: Wolkers Kluwer, 2011., p. 21.
Tradução livre do inglês. No original lê-se: “(...) an economic theory of law will not capture the full complexity,
richness, and confusion of the phernomena (...) that it seeks to illuminate. But its lack of realism in the sense of
descriptive completeness, far from invalidating the theory, is a precondition of theory. A theory that sought
faithfully to reproduce the complexity of the empirical world in its assumptions would not be a theory – an
explanation – but a description.”
59 POSNER, R.A. Ibid. Ibidem.
26
Econômica do Direito, ainda de maneira introdutória, Posner é claro em afirmar que muitas áreas
do direito estariam marcadas com o carimbo do pensamento econômico60 .
A despeito deste insight inicial, poucas decisões judiciais à época continham refe-
rências explícitas a conceitos econômicos. A resposta de Posner para essa constatação é de
que o fundamento de determinada decisão judicial é frequentemente ocultado pela retórica
característica dos julgados. Não obstante, seríamos capazes de encontrar um caráter econômico
sob a superfície retórica de diversos julgamentos.
Perceba-se que, ao tratar do papel da ideologia dos juízes do século XIX, Posner
acaba por atribuir ao julgador um papel eminente no processo evolutivo do common law, como se
este efetivamente julgasse os casos com base em uma ideologia liberal-econômica, mas revestisse
os seus votos (opinions) de uma retórica destinada a ocultar a sua real motivação. Seriam, nos
dizeres de Castro Jr., “quereres travestidos de saberes”61 .
O ponto de partida destas descrições, segundo Posner, é o artigo The Problem of
Social Costs de Coase, que sugere que “o Direito de Propriedade inglês62 teria uma lógica
implícita econômica”63 . A afirmação de Posner, no entanto, parece ignorar diversas afirmações
em contrário feitas pelo próprio Coase ao longo de seu artigo. Ao analisar superficialmente os
pressupostos dos julgamentos de casos que envolvessem direitos de propriedade, Coase pondera:
“(...) [P]arece claro, a partir de um exame superficial, que as cortes têm reco-
nhecido as implicações econômicas de suas decisões e estão cientes (...) da
natureza recíproca do problema. Além disso, de tempos em tempos, elas levam
essas implicações econômicas em consideração, juntamente com outros fatores,
para chegar às suas decisões” (grifo nosso)64
De fato, qualquer fator que apenas de tempos em tempos e em conjunto com outros
fatores parece ser levado em consideração nem de longe satisfaz a pretensão científica de
descrever ou de explicitar a lógica econômica intrínseca de qualquer coisa, ou pelo menos não
traria nenhum benefício analítico, já que ninguém negaria que circunstâncias ou fundamentos
morais, ideológicos ou mesmo religiosos, especialmente caros ao juiz do caso – sejam elas qual
60 Ibid, p. 31.
61 V. CASTRO JR., Torquato da Silva. A bola do jogo: uma metáfora performativa para o desafio da pragmática
da norma jurídica. In: ADEODATO, J. M. L.; BITTAR, E. C. (Ed.). Filosofia e Teoria Geral do Direito:
homenagem a tercio sampaio ferraz júnior. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 1075–1088. e CASTRO JR.,
Torquato da Silva. Direito à mentira talvez sempre também. Mimeo.
62 Aqui usando a expressão “direito de propriedade” como equivalente de “law of nuisance”, conforme proposto na
tradução brasileira do artigo. V. COASE, Ronald. O problema do custo social. In: SALAMA, Bruno Meyerhof
(Ed.). Direito e Economia: Textos Escolhidos. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 59–112.
63 cf. POSNER, Richard A. The economic approach to law. Texas Law Review, v. 53, 1975., p. 758.
64 COASE, R. Op Cit., p. 81.
27
forem – poderiam ter uma participação significativa no processo decisório, de vez em quando e
em conjunto com outros fatores. Além disso, Coase descreve a atuação dos juízes em relação aos
problemas econômicos trazidos pelos casos perante as cortes como se o sentido de determinado
instituto sofresse mutação:
Sobre o agir consciente (ou não) dos juízes ao decidir casos levando em consideração
aspectos econômicos em algum momento, falaremos, de uma maneira mais geral, adiante. Por
ora, e antes de passar a descrever com mais detalhes o conteúdo da hipótese da eficiência do
common law, diga-se que se os juízes conduzissem seus processos com base em “injunções
diretas da economia”, para usar os termos de Neves66 , esses “colocariam de lado o código-
diferença lícito/ilícito e os respectivos programas e critérios”67 , sacrificando o direito no altar da
economia (ou de qualquer outro código de um subsistema – no sentido luhmanniano – que lhe
fizesse as vezes)68 .
Evidentemente, esta troca de códigos nem sempre é explícita. De fato, os juristas
são proficientes na arte de apresentar um silogismo que tem por premissa maior uma regra geral
prévia para justificar, e, sobretudo, legitimar uma decisão a que se chegou por outros meios69 . De
resto, fiquemos com a indicação feita por Adeodato de exemplo de “mencionar o que geralmente
juízes não mencionam”, contida na ementa do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, de
recurso extraordinário sobre justa indenização em desapropriações:
Dentre aqueles que procuraram tratar da teoria da eficiência do common law pelo lado
da demanda, entendendo que a força-motriz da eficiência no sistema jurídico seria a demanda
gerada pela ação dos vários litigantes, estão Rubin e Priest, que são uníssonos em dizer que a
pressão evolutiva do common law existe – e se materializa – independentemente da vontade dos
juízes77 .
Com efeito, Rubin argumenta que o interesse do público em maximizar a sua própria
utilidade seria um mecanismo evolutivo do direito, oriundo do fato de que é mais provável
que existam ações que versem sobre regras que são ineficientes. Este interesse, ademais, seria
intensificado conforme o peso que as partes atribuem ao resultado de determinado julgamento
enquanto precedente potencialmente utilizável na resolução de demandas futuras78 .
Neste sentido, existiriam três situações: (a) na primeira delas, ambas partes estão
interessadas na formação de precedentes; (b) na segunda, apenas uma das partes está interessada
na formação de precedente; e, por fim (c) na terceira, nenhuma das partes se interessa pela
formação de precedentes79 .
Rubin conclui, por meio de modelos matemáticos, que se ambas partes possuem um
interesse substancial em casos da mesma natureza e a regra em discussão é ineficiente, as partes
irão questioná-la em juízo até que esta seja modificada. Isto se daria por conta de uma regra de
pressão evolucionária, e não em virtude da sabedoria econômica de algum juiz. De fato, mesmo
se os juízes decidissem independentemente da eficiência, mais cedo ou mais tarde uma regra tida
por eficiente prevaleceria, em detrimento de uma alternativa ineficiente, vez que a atitude ou a
ideologia do juiz não toma parte no modelo proposto80 .
Por outro lado, quando somente uma das partes se interessa pela formação de
precedentes, haveria uma tendência de que a parte interessada ingressasse em juízo até que o
precedente mude em seu favor. Neste caso, não haveria tendência à eficiência81 . Por fim, se
nenhuma das partes possui interesse na formação de precedentes, a regra atual seria mantida, e as
serviço de solucionar, legitimamente, os conflitos. Cf. CATÃO, Adrualdo de Lima. Law and economics,
consequentialism and legal pragmatism: the influence of oliver holmes jr. In: 25th IVR World Congress: Law,
Science and Technology Frankfurt am Main 15–20 August 2011 ; Paper Series ; 045. [S.l.: s.n.], 2012., p.
4: “In pragmatic view, judges provide a public service. The service of legitimate solution of conflicts. But they
provide this service not only by applying the legislative rules, but by creating the Common Law”.
77 Para uma visão caricatural, que atribui a esta concepção a pecha de “conservadora”, e, portanto, à direita na
matriz política norte americana, v. MALLOY, Robin Paul. Law and Economics: A comparative approach to
theory and practice. St. Paul: West Publishing Co, 1990., pp. 60 e ss.
78 RUBIN, Paul. Why is common law efficient? The Journal of Legal Studies, n. 6, 1977., pp. 51-52.
79 Ibid., p. 53.
80 Ibid., pp. 53-55.
81 Ibid, pp. 55-56.
30
relação à decisão de ingressar ou não em juízo a fim de discutir determinado fato ou tese. E é
precisamente neste ponto que a microeconomia, preocupada em analisar racionalmente o agir
individual, de maneira pretensamente científica, encontra a eficiência do common law, enquanto
sistema jurídico.
Um terceiro modelo foi apresentado por Goodman, em seu artigo An Economic
Theory of the Evolution of Common Law87 . Goodman inicia por descrever uma disputa judicial
como um jogo de duas pessoas, no qual introduz um coeficiente de viés (linear biasedness,
em inglês, representado pela letra grega λ ), que representa a razão entre os custos incorridos
pelas duas partes para que ambos tenham a mesma probabilidade de ganho. Assim, se λ = 1, o
julgador não possui nenhum viés88 .
Em seguida, Goodman dá forma ao modelo ao introduzir o conceito econômico de
retornos decrescentes de escala no tratamento dos custos incorridos pelas partes89 . Retorno
decrescente, neste caso, significa, grosso modo, que a utilidade marginal de um acréscimo nas
despesas jurídicas se reduziria conforme o aumento da própria despesa90 .
Isto significaria, de um lado, que este jogo de dois jogadores sempre possui um ponto
de equilíbrio, e, do outro lado, que a parte com um maior interesse econômico no jogo (ou seja,
no processo), teria, no ponto de equilíbrio, uma maior probabilidade de vencê-lo. No longo prazo,
isto significa que uma parte que possua grande interesse econômico em um determinado processo
teria uma probabilidade maior de sair vitorioso, ainda que um determinado precedente favoreça
uma solução ineficiente. Intuitivamente, portanto, “se o precedente é suficientemente ineficiente,
espera-se que seja superado por uma série de decisões contrárias”91 , conclui Goodman.
Os modelos indicados acima certamente não esgotam o conjunto de formulações
possíveis e outras até verificadas historicamente, as quais podem assumir diversas feições, con-
forme o caso92 , e certamente acarretam uma modificação na formulação tradicional, descrita por
Coase e Posner, de que a eficiência pareceria um movimento, inconsciente ou não, impulsionado
87 GOODMAN, John C. An economics theory of the evolution of common law. The Journal of Legal Studies,
v. 7, n. 2, p. 393–406, 1978.
88 Ibid., pp. 394-395
89 Ibid., p. 395
90 Matematicamente: seja U a utilidade obtida de um investimento C em despesas jurídicas. Pela lei do retorno
decrescente, a variação marginal de C será maior do que a variação marginal de U, ou, em notação matemática,
∂ dU ∂ dC
U < C
91 Ibid, Ibidem. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “if precedent is sufficiently inefficient we expect it
to be overturned through a series of reversals”.
92 Para um apanhado geral destas teorias, v. KORNHAUSER, Lewis A. A guide to the perplexed claims of
efficiency in the law. Hofstra Law Review, v. 8, n. 3, 1980., pp. 627 e ss. Outra tentativa de descrição é feita
por GOULD, John P. The economics of legal conflict. The Journal of Legal Studies, v. 2, n. 2, jun 1973.
32
majoritariamente pelos juízes (de que falaremos adiante). Servem, contudo, para evidenciar
que a hipótese da eficiência do common law era uma das várias teorias positivas ou hipóteses
econômicas do (ou sobre o) direito, da qual Posner, dentre outros, era ferrenho defensor.
e eficiente possível96 .
Por fim, o common law tradicional preocupava-se mais em valorizar a ordem privada
e os costumes do que impor à população normas cogentes de cumprimento obrigatório por
todos. Neste sentido, a produção do common law consistia, em larga medida, na enunciação de
cláusulas standard, cuja aplicabilidade poderia ser afastada pelas partes em determinado negócio
jurídico97 , quando, por exemplo, entendiam que a determinada regra era ineficiente.
Segundo Posner, e estritamente em concordância com a ideia de “modelo”, exposta
acima, a teoria positiva da eficiência do common law deve ser entendida como uma explicação
das regras e efeitos do common law, e não como uma explanação sobre as razões pelas quais o
common law passou a se preocupar com a eficiência98 .
No entanto, o próprio Posner oferece um pequeno apanhado de explicações para
tal. A primeira delas tem que ver com o período formativo do common law, entre 1800 e 1950,
durante o qual o utilitarianismo teria ocupado lugar de destaque na ideologia política inglesa
e norte-americana99 . Em uma outra versão do mesmo argumento, a eficiência do common law
seria derivada do fato de que grande parte de sua doutrina teve origem no século XIX, onde
a ideologia do laissez-faire, baseada na economia clássica, seria a ideologia dominante das
classes educadas nos Estados Unidos100 . Daí se seguiria que os juízes escolhidos dentre este
pool estariam imbuídos da ideologia liberal e dispostos, inconscientemente ou não, a moldar a
realidade através dos seus julgamentos conforme a sua consciência liberal-econômica.
Uma segunda possível causa seria a ausência de instrumentos jurídicos por meio dos
quais os juízes pudessem favorecer uma determinada classe social, forçando-os a adotar medidas
que enriquecessem a sociedade como um todo, na expectativa de que aquela determinada classe
social pudesse compartilhar os ganhos101 .
Essas considerações, no entanto, serviriam para contextualizar o ambiente no qual
96 ZYWICKI, T. Op. Cit., p. 36. Perceba-se que os mesmos adjetivos são utilizados atualmente para explicar, de
certa forma, a atratividade dos procedimentos arbitrais.
97 ZYWICKI, T. Op. Cit., p. 72.
98 cf. POSNER, Richard A. A reply to some recent criticisms of the efficiency theory of the common law. Hofstra
Law Review, v. 9, 1981., p. 776.
99 Ibid. Ibidem.
100 POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 8a . ed. New York: Wolkers Kluwer, 2011., p. 32 e
POSNER, Richard A. Problemas de Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007., p. 482.
101 Um argumento similar, porém produzido em um contexto completamente diferente, é o de Shavell e Kaplow
sobre a superioridade do sistema tributário no atingimento do objetivo de distribuição de renda, quando
comparado com a utilização de normas jurídicas. Cf., a respeito, KAPLOW, Louis; SHAVELL, Steven. Why
the legal system is less efficient than the income tax in redistributing income. The Journal of Legal Studies,
v. 23, n. 2, p. 667–681, 1994. V. também, SHAVELL, Steven. Foundations of Economic Analysis of Law.
Cambridge: Harvard University Press, 2004., pp. 647 e ss.
34
teria surgido uma suposta essência do common law, indicando sobretudo as limitações impostas
aos juízes pelas circunstâncias nas quais eles estariam envolvidos102 , mas pouco ou nada diz
sobre a propensão dos juízes em contribuir para a eficiência do sistema jurídico como um todo.
É que, nas palavras do próprio Posner,
no campo da Teoria Geral ou da Filosofia do Direito, refletem sobre o direito positivo como o
coroamento de um discurso que venceu106 .
Estas indicações, se servem para aprofundar a nossa compreensão sobre o fenômeno
jurídico no Brasil, ainda que a atividade legislativa seja – em tese – apartada da aplicação das leis,
tanto mais são verdadeiras a respeito de um sistema em que o próprio corpus de normas jurídicas
é fruto direto da atividade judicante dos juízes e, por via mediata, dos demais operadores do
direito. Como a criação do direito, ao menos do direito privado, é fundamentalmente endógena no
common law, a influência no desenvolvimento do ordenamento jurídico destes estágios e decisões
iniciais com base em uma ideologia específica, pode assumir contornos bastante expandidos,
sobretudo se levamos em consideração a teoria da dependência da trajetória, segundo a qual:
Com efeito, as palavras de Warat, sobre o senso comum teórico dos juristas são ainda
mais penetrantes108 , se levarmos em consideração que no múnus de um juiz de common law
está a própria criação do Direito: não se trata, tão somente, do “retorno da episteme à doxa”,
106 A referência mais próxima é a de Adeodato: “A tese repetida aqui é que todo direito tem conteúdo ético,
todo direito é essencialmente ético, pelo menos para determinado grupo social, justamente o vencedor na
“luta pelo direito”, na luta para transformar suas convicções éticas em direito posto”. V. ADEODATO, João
Maurício Leitão. A construção retórica do ordenamento jurídico: três confusões sobre ética e direito. In:
CARVALHO, Paulo de Barros (Org.). Sistema tributário brasileiro e a crise atual. São Paulo: Noeses, 2009.
v. 6, p. 355–366.
107 HATHAWAY, Oona A. Path dependence in the law: The course and pattern of legal change in a common
law system. The Iowa Law Review, v. 86, n. 2, 2001. Tradução livre do original inglês, onde se lê “The
doctrine of stare decisis thus creates an explicitly path-dependent process. Later decisions rely on, and are
constrained by, earlier decisions. (...) Because each legal decision increases the probability that the next will
take a particular form, the common law exhibits increasing returns path dependence. Because the law changes
through a process of punctuated yet historically constrained evolution, the common law exhibits evolutionary
path dependence. And because the legal process involves sequential decision making in a process marked by
competing alternatives and multiple actors, the common law exhibits sequencing path dependence. Therefore,
just as biological and social processes are constrained by history, the law is firmly guided by the heavy hand of
the past”.
108 WARAT, Luís Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. Sequência, v. 3, n. 5, p. 48–57,
1982.
36
destinado a legitimar um conjunto de crenças procedimentais, senão que a própria doxa, se torna,
de certa maneira, a episteme.
A hipótese da eficiência do common law não foi poupada de duras críticas, a maioria
delas vinda de críticos do movimento Law and Economics, mas também de um proponente ao
outro (como o caso de Goodman contra o modelo que ele chama de Rubin-Priest). O próprio
Posner descreve (e rebate) algumas dessas críticas, em seu A Reply to Some Recent Criticisms
of the Efficiency Theory of the Common Law109 , condensando-as em respostas aos artigos de
Kornhauser110 , Tullock111 e Markovits112 , todos publicados por ocasião de um Simpósio sobre a
importância da eficiência para o Direito em 1980113 .
A escolha de Posner ao criticá-los parece bem colocada, concentrando em alguns
pontos trazidos pelos autores as principais classes de argumentos contra a teoria da eficiência do
common law. Seriam estes argumentos metodológicos, de um lado, e empíricos, do outro. Kor-
nhauser, segundo Posner, traz em seu artigo uma crítica sobretudo metodológica, argumentando
que o modelo utilizado pelos teóricos da análise econômica positiva do Direito não se sustenta
quando confrontado com a realidade114 , o que seria facilmente rebatido uma vez esclarecida a
diferença entre explicar o direito e descrever o direito, o que tentamos trazer acima.
Por sua vez, segundo Posner, Tullock e Markovits questionam o substrato de evidên-
cias que sustentariam a teoria econômica positiva do common law115 : Tullock indicando duas
passagens do Economic Analysis of Law, as quais seriam resultado de um empirismo casual e
109 POSNER, Richard A. A reply to some recent criticisms of the efficiency theory of the common law. Hofstra
Law Review, v. 9, 1981.
110 KORNHAUSER, Lewis A. A guide to the perplexed claims of efficiency in the law. Hofstra Law Review,
v. 8, n. 3, 1980.
111 TULLOCK, Gordon. Two kinds of efficiency. Hofstra Law Review, v. 8, n. 3, p. 659–669, 1980.
112 MARKOVITS, Richard S. Legal analysis and the economic analysis of allocative efficiency. Hofstra Law
Review, v. 8, n. 4, p. 811–903, 1980.
113 HOFSTRA LAW, REVIEW. Symposium on efficiency as a legal concern introduction. Hofstra Law Review,
v. 8, n. 3, 1980.
114 Cf. POSNER, R. A. Op. Cit., p. 780-781, e também KORNHAUSER, L. A., Op. Cit., p. 627: “the
development of these [nonevolutionary] models over time suggests that for each efficiency result in a simple
word, a suboptmal result in a more plausible world will be found. The common law may be efficient, but
economic models of legal phenomena at best provide a shaky logical foundation for nonevolutionary claims”
e, na p. 633: “Evalution of the evolutionary claims, therefore, presents significant difficulties. Having only
been advanced recently, their logic in rudimentary and has not yet been subjected to extensive criticism. The
discussion above outlines only several potential reasons to suspect that careful elaboration of these models will
lead to predictions at variance with the descriptive claim”.
115 POSNER, R. A. Op Cit., p. 781-785.
37
129 POSNER, Richard A. Problems of Jurisprudence. Cambridge: Harvard University Press, 1993., pp. 371-
372. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “It seems that intuitions about wealth maximization have
shaped to a significant degree the doctrines of the common law and that statute law does reflect to a much
greater degree the pressure of interest groups. Although it would be a gross overstatement to conclude from
the evidence gathered to date that the logic of the common law has been wealth maximization and the logic of
statute law wealth redistribution, the statement contains some truth – and (...) undermines suggestions that law is
an autonomous field of social thought and action. (...) Some day what I have been calling the positive economic
theory of law will be subsumed under a broader theory – perhaps, although not necessarily, an economic theory –
of the social behavior we call law. Meanwhile, (...) the economic theory of law is a default rule, or presumption
– the right place to start, although not necessarily to end, in analyzing law from a positive standpoint”.
41
anterior.
O ritual de “passagem” entre a análise positiva e a normativa carrega todas as
complicações comuns às distinções entre fato/valor nas ciências. O apanhado de discussões
sobre a diferença entre economia positiva e normativa poderia ser um terreno fértil para procurar
entender o papel da ideologia (e aqui a palavra é utilizada livre de qualquer significado político
que seja) na conformação da realidade apresentada nas chamadas análises positivas: quem
procura descrever uma realidade, ao mesmo tempo a conforma? Quanto esconde aquilo que
escolhemos mostrar? O que revela aquilo que escondemos?
A verdade é que a sofisticação dos modelos econômicos faz com que seja possível
procurar sempre um ângulo ou um viés pelo qual determinada situação de direito pareça mais ou
menos eficiente, mais ou menos adequada. E muito desta indeterminação deriva da ausência de
uma definição precisa daquilo que mereceria ser buscado de acordo com a proposta da Análise
Econômica do Direito. Fala-se em eficiência, em maximização da riqueza, e a discussão em
termos abstratos permanece sempre confortável. Afinal de contas, é duvidoso que alguém em sã
consciência procure defender o desperdício de recursos.
Porém, são nas situações limites, em que o direito (ou mesmo a justiça) recorre a
outras disciplinas confinantes (o recurso tradicional é feito sobretudo à filosofia moral) para
resolver ou procurar dar uma solução razoável a conflitos difíceis, como a venda de bebês4 ,
apenas para ficarmos entre os assuntos mais polêmicos já tratados por Posner, é que a análise
econômica do direito pretende oferecer a sua contribuição normativa.
Na ausência de uma bússola moral que apascente as dissonâncias de uma sociedade
cada vez mais plural, na qual é difícil encontrar um lugar comum no qual as pessoas possam
dialogar e chegar a consensos informados, especialmente naqueles casos em que, como descreve
Posner, a legislação infraconstitucional somente se limita a criar balizamentos de caráter geral,
deixando “uma grande área em aberto para o exercício da discricionariedade judicial”5 .
Em tempos de “anarquia moral”, derivada, em parte, do declínio da influência
religiosa no cotidiano da população e do enfraquecimento da cultura ocidental “tradicional”,
várias éticas (sensu largo) procuram ser o fundamento moral de determinada posição política,
que informa, à sombra da lei, tantas decisões judiciais onde o direito excede aquilo que a lei diz6 .
4 LANDES, Elisabeth M; POSNER, Richard A. The economics of the baby shortage. The Journal of Legal
Studies, v. 7, n. 2, p. 323–348, 1978.
5 POSNER, Richard A. Prefácio à edição brasileira. In: . A Economia da Justiça. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2010., p. XVI.
6 RESTA, Eligio. Diritto Vivente. Bari: Laterza, 2008., p. 32.
43
Desta definição de equilíbrio proposta por Pareto, que veio a ser conhecida, de resto,
por toda ciência econômica como um ótimo de Pareto, uma determinada situação, portanto, é
7 POSNER, R. Op. Cit., p. XIX.
8 POSNER, Richard A. Utilitarianism, economics, and legal theory. The Journal of Legal Studies, v. 8, p.
103–140, 1979.
9 POSNER, Richard. The ethical and political basis of the efficiency norm in common law adjudication. Hofstra
Law Review, v. 8, p. 487, 1980.
10 POSNER, Richard A. A Economia da Justiça. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
11 V. KRONMAN, Anthony T. Wealth maximization as a normative principle. The Journal of Legal Studies,
v. 9, n. 2, p. 227–242, 1980.
12 PARETO, Vilfredo. Manual de Economia Política. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1988.
44
tida como ótima ou eficiente no sentido de Pareto (ou Pareto-eficiente) se é verdade que não é
possível melhorar a utilidade de um agente sem degradar a utilidade de qualquer outro agente
econômico13 .
O ótimo de Pareto é uma forma de descrever uma situação de equilíbrio de mercado.
Partindo desta definição de eficiência, um outro conceito correlato pode ser delineado de forma
relativa. Quando identificamos uma situação em que a utilidade de um agente econômico pode
ser aumentada sem que isto tenha efeito negativo sobre nenhum outro, dizemos que esta é uma
melhoria de Pareto. Por via de consequência, um ótimo de Pareto é atingido quando não há mais
melhorias de Pareto possíveis em uma determinada situação.
O desenvolvimento da chamada economia do bem-estar trouxe consigo diversas
críticas à utilização do critério de Pareto. A primeira delas é o problema da dotação inicial dos
bens. A dotação inicial dos bens (isto é, o conjunto de bens que um determinado agente possui
antes de realizar qualquer troca) é indiferente para os fins de aplicação do critério de Pareto. Em
outras palavras, a “justeza” da dotação inicial não influencia na aplicação do critério: assumimos
que, qualquer dotação inicial iria replicar a distribuição existente em determinado momento14 .
Apesar de que, dada uma determinada dotação inicial de bens, um estado Pareto-
eficiente é sempre preferível, quando se considera a dotação inicial dos bens como uma variável,
várias situações satisfazem o critério de eficiência de Pareto, inclusive os mais absurdos, conforme
afirma Amartya Sen: “um estado em que algumas pessoas estão famintas e sofrendo de carência
aguda enquanto outras estão vivendo a boa vida ainda pode ser considerada ótima no sentido de
Pareto”15 .
Complicações outras incluem a discussão sobre a formação da dotação inicial de
bens (como resultado de violência, opressão, fraude, etc.) e o fato de que a redistribuição de
renda em favor dos pobres é impossível sob a égide do princípio de Pareto, sendo que este sempre
favoreceria o status quo.
O princípio de Pareto também ignora as externalidades, que ocorrem sempre que
13 A eficiência no sentido de Pareto é, aliás, a formulação para definir eficiência econômica nos manuais de
economia. Negativamente, segundo Varian, “uma alocação ineficiente no sentido de Pareto tem a característica
indesejável de que há alguma forma de melhorar a situação de alguém sem prejudicar ninguém mais”. Segundo
Hall e Liebermann, “economic efficiency is achieved when there is no way to rearrange the production of
allocation of goods in a way that makes one person better off without making anybody else worse off”. Cf.
VARIAN, Hal R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. e HALL, Robert;
LIEBERMAN, Marc. Microeconomics: Principles and applications. [S.l.]: Cengage Learning, 2012.
14 V. MATHIS, K. Op. Cit, p. 36.
15 SEN, Amartya. Apud MATHIS, K. Op. Cit, p. 36. Tradução livre do original, onde se lê: “A state in which
some people are starving and suffering from acute deprivation while others are tasting the good life can still be
Pareto optimal”.
45
Kaldor-Hicks indica que uma mudança na alocação de bens é aceitável, desde que os benefícios
aos ganhadores potencialmente excedam as desvantagens dos perdedores.
Destaque-se, desde já, que o critério de Kaldor-Hicks não exige que haja efetivamente
uma compensação aos perdedores. Com efeito, se esta compensação de fato existisse, não
estaríamos diante da aplicação do critério de Kaldor-Hicks, mas sim do critério de Pareto, uma
vez que se a compensação houvesse, os perdedores não estariam em pior situação após a mudança
na alocaão de bens.
Críticas também não faltam ao critério de Kaldor-Hicks, incluindo (i) a dificuldade
em medir o quantum de eventual compensação hipotética; (ii) a existência de situações extre-
mamente injustas, que poderiam ser consideradas eficientes, tomando em consideração que
a compensação é essencialmente hipotética neste modelo; (iii) a presença de notas de fundo
coletivista, uma vez que a aplicação do critério de Kaldor-Hicks ignora o arbítrio daqueles
que se sujeitarão às mudanças em favor da maioria, ainda que não o desejem; (iv) a ausência
de garantias em relação ao aumento da utilidade social; e (v) as desvantagens da ausência de
consenso entre os ganhadores e perdedores20 .
Tanto o critério de Pareto quanto o de Kaldor-Hicks, a despeito da conveniência
de sua utilização do ponto de vista positivo, são ainda mais problemáticos se tomados como
fundamentos normativos. No entanto, é precisamente isso que faz Posner ao alçar a eficiência
como maximização da riqueza à condição de princípio ético em seu Utilitarianism, Economics
and Legal Theory21 , onde estabelece distinções entre o seu conceito de maximização da riqueza
e aquele comum à tradição utilitarista, que procura maximizar a utilidade.
Conforme aponta Mathis, na primeira edição do tratado Economic Analysis of Law,
Posner não trata especificamente dos fundamentos normativos da Análise Econômica do Direito,
se limitando a apontar uma ligação entre a teoria econômica e o utilitarismo de Jeremy Bentham,
concluindo que “o utilitarismo de Bentham, em seu aspecto de teoria positiva do comportamento
humano, é um outro nome para teoria econômica. O prazer é valor e a dor é custo.”22
Este identificação preliminar levou H. L. A. Hart a concluir, em 1976, que o utilita-
rismo foi a inspiração da escola da análise econômica do direito, gestada na Universidade de
20 Condensadas em MATHIS, K. Op. Cit., p. 42 e ss.
21 POSNER, Richard A. Utilitarianism, economics, and legal theory. The Journal of Legal Studies, v. 8, p.
103–140, 1979.
22 POSNER, R. Apud MATHIS, K. Op. Cit., p. 144. Tradução livre do original, onde se lê: “Bentham’s
utilitarianism, in its aspect as a positive theory of human behaviour, is another name for economic theory.
Pleasure is value and pain is cost.”
47
Chicago23 . Esta observação foi considerada equivocada, mas compreensível, pelo próprio Posner,
na medida em que, ainda em 1979, ele mesmo considerava os dois sistemas insuficientemente
distintos entre si24 .
Segundo Posner, os críticos da teoria econômica normativa do direito, qualificando a
sua teoria como uma versão do utilitarismo, aproveitam as críticas direcionadas ao utilitarismo
para refutar os argumentos utilizados em favor da maximização da riqueza como princípio ético.
O utilitarismo, utilizando a definição de Posner, é a doutrina que sustenta que o valor moral de
uma ação deve ser julgado pelo seu efeito na promoção da felicidade (o agregado de prazer sobre
dor), em toda a sociedade25 .
Talvez a mais famosa das críticas ao utilitarismo seja a de Robert Nozick, formulada
em seu clássico Anarchy, State, and Utopia26 . Nele, Nozick faz um experimento mental em que
a existência de um ser é postulada. Este ser – um monstro utilitarista – percebe mais utilidade no
consumo de um determinado bem do que qualquer outra pessoa. Se tal ser existisse, de acordo
com o utilitarismo, a distribuição dos recursos da sociedade deveria ser feita de acordo com
essa disparidade de obtenção da utilidade. Por exemplo, se o monstro utilitarista obtivesse 100
unidades de prazer por cada biscoito que come, enquanto uma pessoa normal apenas obtivesse 1
unidade. O argumento segue até que, no limite, maus-tratos e mesmo a aniquilação de todas as
outras pessoas fossem justificáveis de acordo com a doutrina utilitarista27 .
A situação limite retratada por Nozick, cuja validade enquanto redução ao absurdo
não será objeto deste trabalho, nos coloca na trilha da crítica de Posner à doutrina do utilitarismo.
De fato, Posner enumera como pontos fracos do utilitarismo: (i) a indefinição do domínio do
utilitarismo (de quem a felicidade importa?)28 ; (ii) a ausência de um método de cálculo dos
efeitos de determinada decisão sobre a felicidade do grupo relevante 29 ; (iii) os perigos de
instrumentalização dos direitos das pessoas30 ; e (iv) a “monstruosidade moral”, dividida em dois
tipos: a recusa em distinguir os tipos de prazer e o fato de que um utilitarista estaria sempre
pronto a sacrificar inocentes no altar da necessidade social31
23 HART, Herbert L. A. American jurisprudence through english eyes: the nightmare and the noble dream.
Georgia Law Review, v. 11, 1976.
24 Cf. POSNER, R. Utilitarianism, p. 104.
25 Ibid. Ibidem.
26 NOZICK, Robert. Anarchy, state, and utopia. Cambridge: Blackwell, 1974.
27 NOZICK, R. Op Cit., em especial p. 41: “maximizing the average utility allows a person to kill everyone else
if that would make him ecstatic, and so happier than average”.
28 POSNER, R. Op. Cit., pp. 112-113.
29 POSNER, R. Op. Cit., pp. 113-115.
30 POSNER, R. Op. Cit., pp. 115-116.
31 POSNER, R. Op. Cit., pp. 116-117.
48
do original, onde se lê: “[R]emember that wealth as used by economists is not an accounting concept; it is
measured by what people would pay for things (or demand in exchange for giving up things they possess), not
by what they do pay for them. Thus leisure has value and is a part of wealth, even though it is not bought and
sold.We can speak of leisure having an implicit or shadow price”.
36 Cf. MATHIS, Klaus. Effiency Instead of Justice? [S.l.]: Springer, 2009., p. 147.
37 Um exemplo bastante claro dessa utilização é a legitimação da desapropriação por interesse público, nos casos
em que seria impossível negociar com todos proprietários afetados pela duplicação de uma via urbana, por
exemplo. A respeito, cf. CALABRESI, Guido; MELAMED, A Douglas. Property rules, liability rules, and
inalienability: one view of the cathedral. Harvard Law Review, v. 85, n. 6, 1972., p. 1106 e ss.
50
de mercado tão séria que, no caso concreto, a única alternativa viável para a maximização da
riqueza seja a ação do Estado, por si só custosa. Esta abordagem teria a vantagem de trazer o
diagnóstico de falha de mercado e a mensuração dos custos para o campo da análise empírica48 ,
enquanto que em um sistema utilitarista os eventuais debatedores somente poderiam recorrer a
uma análise axiológica, frequentemente sem saída.
Por outro lado, Posner reconhece, por exemplo, que um sistema de maximização da
riqueza é bem menos amigável à redistribuição de riqueza do que seria um sistema utilitarista.
Neste, os utilitaristas poderiam se valer do conceito de retornos decrescentes de utilidade e do
“palpite” de que as funções de utilidade de todas as pessoas seriam parecidas para justificar a
redistribuição da riqueza. Contudo, ocorre que toda transferência compulsória de riqueza é
improdutiva (e, portanto, reduz a riqueza total), o que seria contrário ao princípio de maximização
da riqueza.
Esta conclusão, entretanto, deve ser qualificada de duas maneiras. Os esforços no
sentido de tornar a distribuição de renda mais igualitária podem ser economicamente justificadas,
em primeiro lugar, na medida em que tal distribuição pode reduzir a incidência de crimes e
portanto o custo associado com a criminalidade. Em segundo lugar, desde que exista um certo
altruísmo na sociedade e, portanto, pessoas dispostas a doar parte de sua riqueza para aqueles
em pior situação relativa, uma certa intervenção pública seria justificável, na medida em que o
alívio da pobreza sistêmica pode trazer benefícios aos desafortunados que não podem doar49 .
Por fim, é colocada a questão da monstruosidade moral, i.e., se a abordagem econô-
mica geraria resultados violentamente incompatíveis com o senso comum moral, como é o caso
do mostro utilitarista de Nozick. Como vimos, a “monstruosidade moral” do utilitarismo é
derivada de duas falhas: (i) a ausência de distinção entre tipos de prazeres; e (ii) a possibilidade
de sacrificar pessoas inocentes no altar do bem-comum.
A maximização da riqueza evita ou mitiga estes problemas, vez que esta, ainda
segundo Mathis, “é voltada para o trabalho e produção humanos, que são finitos, e não para a
capacidade de gozar de utilidade, o que é teoricamente ilimitada”50 . O que ocorre é que, em um
sistema utilitarista, mesmo o mais antissocial dos comportamentos deve ser medido de acordo
com a satisfação que traz ao agente (devendo ser contabilizado como prazer adicionado à cesta
global), enquanto que em um sistema de maximização da riqueza a única maneira de gerar
48 POSNER, R. Op. Cit., p. 130.
49 POSNER, R. Op. Cit., p. 131.
50 MATHIS, Klaus. Effiency Instead of Justice? [S.l.]: Springer, 2009., p. 158.
54
como os custos com atividades de prevenção com o intuito de salvar uma vida estatística55 .
Em que pese o desenvolvimento de diversos métodos econômicos para aferir o valor
de uma vida estatística, para os fins do presente trabalho basta afirmar que este não pode ser
infinito – ao menos se trabalhamos com a ideia de análise de custo/benefício. A equação a seguir
talvez facilite o entendimento. Marginalmente (ou seja, no ponto em que salvar ou não uma vida
é indiferente), seja V = C (onde V é o valor estatístico de uma vida e C é o custo de resgate),
de modo que será sempre eficiente escolher salvá-la desde que a seguinte inequação permaneça
verdadeira:
V
>1 (3.1)
C
Se, por outro lado, considerássemos, para os fins de cálculo de custo/benefício, como
a doutrina cristã o faz, que o ser humano é imagem de Deus e que a vida humana, por via de
consequência, é sagrada e inviolável, possuindo um valor intrínseco absoluto e inalienável56 , e se
nenhum outro interesse é comparável (em termos de valor) ao valor da vida humana, chegaríamos
a conclusão de que o valor da vida tende ao infinito. Assim, chegamos a seguinte equação:
limV →∞ V
>1 (3.2)
C
Quando vidas humanas concretas estão em jogo - por exemplo, mineiros presos
em uma mina desmoronada - há um tabu universal contra qualquer recusa de
montar uma ação de resgate com o fundamento de que os custos dos esforços
de resgate excederiam o valor das vidas humanas em causa. No caso de riscos
abstratos no dia-a-dia, por outro lado, nós tacitamente aceitamos um certo risco
de mortalidade e, assim, implicitamente atribuímos um valor à vida. 57 .
No final das contas, cálculos “econômicos” de custo/benefício são feitos para men-
surar vidas humanas o tempo todo, sempre que avaliamos a redução do risco de mortalidade.
Em outras palavras, “se o valor da vida é sempre infinito, então (...) as pessoas nunca tomariam
nenhum risco – uma descrição obviamente falsa do comportamento humano.”58
Outros pontos polêmicos são levantados por Posner até o final do artigo, com um
apêndice que discute a pena de morte59 , o direito à privacidade60 , a remoção de barreiras jurídicas
para o comércio de bebês e órgãos humanos61 e o conceito de liberdade como riqueza62 . Quanto
a este último ponto, Posner sustenta a tese de que os direitos políticos não possuiriam precedência
em relação aos direitos econômicos. Do ponto de vista da maximização da riqueza, tanto faz se
o cidadão de determinado país não pode cruzar as suas fronteiras por falta de dinheiro ou por
proibição governamental; de um jeito ou de outro, a liberdade é limitada da mesma maneira63 .
Em seu artigo The Ethical and Political Basis of the Efficiency Norm in Common
Law Adjudication64 , Posner traz a ideia do consenso como estratégia argumentativa para embasar
o princípio da maximização da riqueza.
57 HAMMER, Balz. Op. Cit., p. 232. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “When concrete human
lives are at stake – e.g. miners trapped in a collapsed mine – there is a universal taboo against any refusal to
mount a rescue action on the grounds that the costs of rescue efforts would exceed the value of the human lives
concerned. In the case of abstract risks in everyday life, on the other hand, we tacitly accept a certain risk of
mortality and thereby implicitly attribute a value to life”.
58 Cf. POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 8a . ed. New York: Wolkers Kluwer, 2011. Tradução
livre do original inglês, se lê “[I]f (...) the value of life is always infinite, then (...) people would never take any
risks – an obviously false description of human behaviour”.
59 POSNER, Op. Cit., pp. 136-137.
60 POSNER, Op. Cit., pp. 137-138.
61 POSNER, Op. Cit., pp. 138-139.
62 POSNER, Op. Cit., p. 140.
63 No que Posner se aproxima bastante das concepções econômicas mais liberais. V., por exemplo, a descrição
da simbiose entre liberdade econômica e outras liberdades que faz Ludwig von Mises: “Frequentemente
as pessoas se equivocam quanto ao seu significado [o da expressão ’liberdade econômica’], supondo que
liberdade econômica seja algo inteiramente dissociado de outras liberdades, e que estas outras liberdades – que
reputam mais importantes – possam ser preservadas mesmo na ausência de liberdade econômica. Mas liberdade
econômica significa, na verdade, que é dado às pessoas que a possuem o poder de escolher o próprio modo de
se integrar ao conjunto da sociedade. A pessoa tem o direito de escolher sua carreira, tem liberdade para fazer o
que quer. Cf. MISES, Ludwig von. As seis lições. 4a . ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1993., p. 17.
64 POSNER, Richard. The ethical and political basis of the efficiency norm in common law adjudication. Hofstra
Law Review, v. 8, p. 487, 1980.
57
responsabilidade por acidentes com veículos automotores. Posner trabalha com pressuposto de
que um sistema de responsabilidade subjetiva(negligence)68 é mais eficiente do que um sistema
de responsabilidade objetiva(strict liability), ou seja, o somatório dos prêmios de seguro a serem
pagos tanto pelos causadores de acidentes quanto pelas vítimas é menor em um sistema de
responsabilidade subjetiva. Neste caso, Posner conclui que um sistema de responsabilidade
subjetiva é mais vantajoso para todos, uma vez que todos se beneficiariam da redução nos
custos de seguro. Esta redução nos custos de contratação de seguro – na média – compensaria
quaisquer desvantagens de incorporar um regime de responsabilidade subjetiva. Se vítimas e
causadores de acidentes, ao final, de fato estariam em melhor situação é irrelevante para o critério
de compensação ex ante69 .
No mesmo artigo, Posner compara a sua posição a de John Rawls como sendo
originárias de uma raiz liberal comum70 . Ambas teorias tratam de decisões em ambientes de
incerteza. Segundo Posner, o conceito de “posição original” foi originalmente utilizado por
economistas na tentativa de estabelecer um fundamento consensual para a maximização de
utilidade, citando Kenneth Arrow, que postulava que as escolhas dos agentes em uma posição
original tenderiam a maximizar a expectativa de utilidade. Por outro lado, Rawls teria distorcido
este cenário ao postular que as escolhas não deveriam maximizar a utilidade de cada um, mas
sim a utilidade dos mais fracos, defendendo uma escolha racional que protege os mais pobres71 .
Posner, entretanto, procura afastar-se da situação de escolha em ambientes de incerte-
zas com base no consenso. Isto porque, além da dificuldades em descrever as funções de utilidade
em uma situação como esta, a abordagem que utiliza o cenário da “posição original” abriria
espaço para o pleito daquelas pessoas não-produtivas, já que as atividades a serem exercidas por
cada um não são conhecidas de antemão. Logo, “as escolhas de um indivíduo nessa posição
refletirão, em algum grau, a possibilidade de ele se revelar um membro improdutivo da sociedade,
68 O termo “negligence” é traduzido por “responsabilidade civil por negligência” na tradução brasileira do
The Economics of Justice. No entanto, não há porque imaginar que a responsabilidade civil subjetiva do
exemplo é limitada às hipóteses de “negligência”, excluindo-se, portanto, as demais espécies do gênero “culpa”:
imprudência e imperícia. Daí a opção pela tradução do termo por responsabilidade subjetiva, que, ademais,
serve apenas para contrastar com uma regra em que a responsabilidade independe de culpa (negligence). Limitar
o conceito, neste caso, nos parece, a um só tempo, equivocado, do ponto de vista da tradução propriamente dita,
e inconveniente, do ponto de vista analítico. Em todo caso, cf. POSNER, Richard A. A Economia da Justiça.
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010., p. 114, em que é utilizada a tradução de que discordamos.
69 POSNER, R. Op. Cit., p. 493.
70 POSNER, R. Op. Cit., p. 497.
71 POSNER, R. Op. Cit., p. 498.
59
A primeira classe de críticas tem que ver com as inconsistências lógicas apontadas
pelos críticos do princípio da maximização da riqueza. Segundo Dworkin, diversas dificuldades
conceituais são identificáveis. A primeira delas é que para a maior parte das pessoas existe uma
diferença entre o valor que elas estão dispostas a pagar por algo que elas ainda não possuem e
o valor que elas aceitariam em troca deste algo se elas já o possuíssem. Frequentemente, diz
Dworkin, o primeiro é maior, dando azo ao fenômeno conhecido como “a grama do vizinho é
mais verde” (”grass is greener”)79 .
Este fenômeno, conforme corretamente aponta Mathis80 , recebe o nome de “efeito
dotação”, denominação dada por Richard Thaler ao “fato de que as pessoas frequentemente
pedem muito mais para se desfazer de um objeto do que eles estariam dispostos a pagar para
adquiri-lo”81 . Diversos experimentos foram conduzidos ao longo do tempo, com um resultado
expressivo de que, na média, existe uma proporção de 2:1 (dois para um) entre o valor de venda
e o valor de compra. O efeito é também chamado de “aversão à perda”82 .
Como riqueza é definida como o valor em dólares atribuído a um bem por alguém,
por conta do efeito dotação, o sistema de maximização da riqueza social seria inerentemente
instável, tendo em vista que haveria uma melhoria com a transferência de determinado bem de A
para B e também de B para A, em um segundo momento, tornando o princípio de maximização
77 A ressalva é importante, na medida em que seria impraticável, dentro do escopo deste trabalho, reproduzi-las
todas ou mesmo uma fração representativa do universo de correntes cujo resultado contradiz ou critica a Análise
Econômica do Direito.
78 MATHIS, K. Op. Cit.
79 DWORKIN, Ronald. Is weath a value? The Journal of Legal Studies, v. 9, n. 2, mar 1980., p. 192
80 MATHIS, K. Op. Cit., p. 166.
81 KAHNEMAN, Daniel; KNETSCH, Jack L.; THALER, Richard H. Anomalies: The endowment effect, loss
aversion, and status quo bias. The Journal of Economic Perspectives, v. 5, n. 1, 1991., p. 194.
82 V. KAHNEMANN, D. et al. Ibid. Ibidem. Para um apanhado da literatura a respeito do “efeito dotação em
geral”, v. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: Duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.,
p. 360 e ss.
61
Por fim, sustenta Rizzo que mesmo uma mudança simples na ordem de alocação
de alguns direitos básicos pode alterar dramaticamente o resultado final de equilíbrio (se é que
este existe). Por fim, a utilização de preços “marginais” na análise, esconderia as unidades
inframarginais, de importância quando comparamos o todo (como duas sociedades alternativas,
por exemplo)89 .
Após considerar outros pontos, Rizzo conclui que a eficiência é impraticável como
standard porque os requisitos informacionais são enormes, deixando a entender que a atratividade
da teoria posneriana, como se põe, é derivada de construções simplificadas em que é relativamente
fácil mostrar o resultado (eficiente) desejado. No mundo real, seria outra coisa, diz Rizzo90 .
As críticas de Rizzo condensam, regra geral, as críticas da chamada escola austríaca
de economia, e têm como fundamento primeiro o problema do cálculo econômico sem a definição
prévia dos direitos de propriedade91 , os quais precisam ser definidos para além da economia.
Segundo Stringham, o problema é semelhante ao encontrado na execução de cálculos econômicos
pelas economias socialistas: “se não existem direitos de propriedade, nenhum preço significativo
existe, e sem preços não há forma confiável de empreender cálculos econômicos”92 .
Desta forma, o cálculo econômico de “direitos” por juízes sem o conhecimento
prévio (e necessário) dos seus titulares – o que aconteceria sobretudo nos chamados hard cases,
seria, nos dizeres de Stringham e White, o equivalente judiciário de uma economia centralizada,
distribuindo bens e pessoas sem levar em consideração os preços93 .
88 RIZZO, M. Op. Cit., p. 650. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “On one set of relative prices
right X ought to be granted to individual A. Once this is accomplished, however, relative prices may change
as a result and, on the new set, right X ought to be given to B. Hence in any conflict between two classes of
individuals, A and B, it can be efficiente both to reassign a right from B to A and then, after having made that
move, to allocate the right back to B”.
89 RIZZO, M. Op. Cit., pp. 650-651.
90 RIZZO, M. Op. Cit., p. 658. Para uma crítica da eficiência como parâmetro, v. ROTHBARD, Murray N. The
myth of efficiency. In: RIZZO, Mario (Ed.). Time, Uncertainty, and Disequilibrium. Lexington: DC Health,
1979. p. 90–95.
91 STRINGHAM, Edward Peter; WHITE, Mark D. Economic analysis of tort law: Austrian and kantian pers-
pectives. In: OPPENHEIMER, Margaret; MERCURO, Nicholas (Ed.). Law and Economics: Alternative
Economic Approaches to Legal and Regulatory Issues. New York: M.E. Sharpe, 2004. p. 374–392.
92 STRINGHAM, E; WHITE, M. Op. Cit., p. 378. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “Without
property rights, no meaningful prices exist, and without prices, we have no reliable way to engage in economic
calculation”.
93 Muito embora exista uma literatura própria e relativamente extensa oriunda na Análise Econômica do Direito
63
Mathis observa ainda que, mesmo que feitas anteriormente, na verdade poucas
escolhas feitas no mercado são racionais99 . Mas ainda que todas elas o fossem, o que, segundo
Mathis, levaria a compreensão do mercado como um uma espécie de processo eleitoral, uma
objeção muito contundente poderia ser levantada contra a distribuição desses votos. Com
efeito, neste mercado, o processo eleitoral é governado pela regra “um dólar, um voto”, o que
se aproximaria de uma verdadeira plutocracia, onde o desenlace de determinado mercado é
“resultado de um número grande de escolhas, umas mais racionais que as outras, com direitos de
voto distribuídos plutocraticamente”100 .
O segundo problema é relacionado com o consentimento dos agentes. O primeiro
aspecto problemático é o de consistência. Com efeito, Posner agrega ao seu princípio da
maximização da riqueza, como vimos, uma espécie de consentimento prévio, que chama de
consentimento ex ante ou consentimento fictício. Ocorre que, ainda que deslocado no tempo,
consentimento é consentimento. Se existe um consentimento daquele que perde (mesmo que
esteja, no passado, considerando o risco de perda como parte da sua equação de expectativa de
utilidade), não se pode falar da aplicação do critério de eficiência de Kaldor-Hicks, sob pena de
violação do requerimento de compensação potencial101 .
Dworkin também critica a abordagem consensual, indicando que se trata de um
conceito contrafactual102 ao imputar aos agentes outras qualidades que não o consentimento
propriamente dito, como a ideia de “interesse próprio” (self-interest). Ao distinguir as duas coisas,
Dworkin argumenta que a presença de “interesse próprio” em determinada situação poderia
servir como indício de que uma pessoa efetivamente consentiu com alguma coisa, quando este
consentimento está em dúvida, por qualquer motivo, mas nada além disso. Um consentimento
contrafactual não é uma forma diluída de consentimento, diz Mathis descrevendo o argumento
de Dworkin: é nenhum consentimento.
Um outro ponto problemático diz respeito à alegação de Posner de que a fórmula da
psiquiátrico, por exemplo. V. SPELLECY, Ryan. Reviving ulysses contracts. Kennedy Institute of Ethics
Journal, v. 13, n. 4, p. 373–392, 2003.
99 Além do próprio conceito de “racionalidade limitada” (bounded rationality), em voga hoje nas ciências econô-
micas e em muitos outros campos, existem “atalhos cognitivos” hoje estudados pela Economia Comportamental
que frequentemente levam a decisões subótimas. V., em geral, a obra de KAHNEMAN, D. Op. Cit.
100 Tradução livre do original inglês, onde se lê: “[a market outcome] is the result of a large number of choices,
some more rational than others, with voting rights distributed plutocratically”. Cf. MATHIS, K. Op. Cit., p.
164.
101 V., a este respeito, KRONMAN, Anthony T. Wealth maximization as a normative principle. The Journal of
Legal Studies, v. 9, n. 2, p. 227–242, 1980., p. 238.
102 Dworkin descreve um consentimento contrafactual como sendo aquele “a proposição segundo a qual eu teria
consentido se tivesse sido perguntado”. Cf. DWORKIN, Ronald. Why efficiency?: A response to professors
calabresi and posner. Hofstra Law Review, v. 8, 1979.,p. 575.
65
maximização da riqueza seria uma espécie de meio termo entre o “kantismo” e o “utilitarismo”,
em que o fanatismo seria afastado e as boas características de ambos seriam preservadas. Dworkin
recorda a afirmação de Posner de que apenas um fanático insistiria em medir a legitimidade de
determinada medida apenas diante de uma unanimidade absoluta para enfrentar a sua tentativa
de caracterizar o consentimento prévio como substituto do consentimento “verdadeiro”. Se
abrirmos pelo menos uma exceção, i.e, se apenas uma pessoa tem a sua situação piorada, a
justificativa dada pelo princípio de Pareto não é diminuída ou relativizada, mas destruída103 .
Ao permitir uma violação que seja, o princípio passaria a ser utilitarista – vez que o conceito
paretiano seria do tipo “tudo ou nada”.
A ideia de que a maximização da riqueza traz, na verdade, o pior dos dois mundos, é
reverberada também por Kronman, na medida em que o mesmo problema fundamental presente
no utilitarismo (o dos direitos “fundamentais”) estaria também presente na maximização da
riqueza. E mais: se um utilitarista puro se convencesse, por fim, que os seres humanos têm
direitos que devessem ser respeitados, certamente não o faria com base em uma regra de
maximização da riqueza que, como vimos, também não satisfaz os ideais kantianos de respeito à
autonomia:
Alguma coisa já foi dita sobre a distribuição da riqueza no modelo posneriano, mas
somente do ponto de vista metodológico. Convém, agora, analisarmos os efeitos da aplicação de
um princípio da maximização da riqueza sem levar em consideração a distribuição da riqueza
previamente à utilização desta regra como axioma. Neste sentido, a utilização do critério de
eficiência de Kaldor-Hicks como fundamento do princípio de maximização da riqueza traz
consigo uma série de objeções desde este ponto de vista.
Ao postular um modelo baseado em mercados (sejam estes hipotéticos ou não), a
demanda de cada um dos agentes é limitada pela renda que possuem. Neste contexto, por via de
103 DORKIN, R. Op. Cit., p. 582.
104 Tradução livre do original inglês, onde se lê: “Wealth maximization is not utilitarianism limited by a respect
for rights: if it is a species of utilitarianism at all, wealth maximization is utilitarianism constrained by a
respect for something which is neither rights nor utility, something of uncertain and (...) dubious value.”. Cf.
KRONMAN, A. Op. Cit., p. 234.
66
consequência, aqueles mais ricos podem comprar mais do que os mais pobres. Aplicando-se
o critério de maximização da riqueza, um determinado direito (ou bem, ou serviço) deve ser
atribuído àquele com maior disposição de pagar, o que gera um sistema enviesado, que favorece
o status quo – i.e., favorece os que já possuem mais dinheiro em detrimento dos mais pobres105 .
Essa ausência de neutralidade é destacada também por Veljanovski, segundo o qual
esta característica tende a diminuir a atratividade do critério:
Essas críticas encontraram um terreno fértil, sobretudo diante das posições mais
radicais defendidas por Posner. Basta lembrarmos que, em princípio, Posner considera possível –
105 V., por exemplo, BEBCHUK, Lucian A. The pursuit of a bigger pie: Can everyone expect a bigger slice?
Hofstra Law Review, v. 8, n. 3, 1980.
106 VELJANOVSKI, C. Op. Cit., p. 6. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “Kaldor-Hicks efficiency is
not income distribution neutral, which is to say that it gives greater priority to those with income and market
power. To the extent that the existing distribution of wealth is deemed “unjust” in society the ethical appeal of
the Kaldor-Hicks test must corresponding diminish”.
107 KRONMAN, A. Op. Cit., p. 240. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “The principle of wealth
maximization gives an additional advantage to those who are already advantaged, and this quite rightly strikes
us as unfair”.
108 POSNER, Richard A. Wealth maximization and judicial decision-making. International Review of Law
and Economics, v. 4, n. 2, 1984., p. 133. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “the prices which
determine value in a system dedicated to wealth maximization depend ultimately on how wealth is distributed in
the system; there will be a different pattern of demands and therefore different prices if it is highly concentrated
than if it is highly equalized”.
67
ao menos teoricamente – que a escravidão seja, de fato, eficiente e condizente com o princípio
da maximização da riqueza109 , desde que fosse uma escolha voluntária. Essa escolha voluntária
somente seria possível em um cenário limite em que, por exemplo, a alternativa à escravidão
fosse a completa inanição ou a morte certeira. Escolher a escravidão, neste caso, deixaria o
novo escravo em uma situação melhor do que a anterior e, por via de consequência, tornaria a
sociedade como um todo mais rica.
Os contornos quase cruéis desta descrição são ainda mais acentuados quando nos
deparamos com o tratamento das pessoas que seriam, simplesmente, privadas de quaisquer
recursos. Estas pessoas, segundo Posner, somente contariam como variáveis na função de
utilidade de outra pessoa que tivesse recursos, e que a sociedade não teriam qualquer dever
de ajudar os pobres, ainda que esta situação ferisse as “sensibilidades modernas”, como as
descreve110 . Além disso, poucas seriam as hipóteses em que a redistribuição de riqueza pelas
mãos do estado poderiam acontecer, como já vimos mais acima. No entanto, muitas destas
posições vieram a ser relativizadas pelo próprio Posner ao longo do tempo, como veremos
adiante.
O início desta subseção será dedicado à análise de outros dois problemas identificados
na teoria da maximização da riqueza de Posner: o problema dos direitos fundamentais e o
problema da riqueza como fim em si mesma. Com isso, espera-se lançar luz sobre o ponto ótimo
de interseção entre o Direito e a Economia.
de facto em uma sociedade onde a maximização da riqueza é aplicada é muito diferente de uma
proibição absoluta, ainda que Posner acredite que tal sociedade não se tornaria escravocrata ou
albergaria qualquer outro tipo de instituição de contornos monstruosos:
No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Uma coisa que tem um
preço pode ser substituída por qualquer outra coisa equivalente; pelo contrário,
o que está acima de todo preço e, por conseguinte, o que não admite equivalente,
é o que tem uma dignidade. 117
Dworkin propõe diversas formas de responder esta questão. A primeira delas diz
que a riqueza social é um componente do “valor social” (social value). Essa afirmação pode ser
dividida em duas formas para melhor análise: uma versão imodesta e outra modesta. A imodesta
sustenta que a riqueza é o único componente do valor social. A modesta afirma que a riqueza é
apenas um dos componentes do conjunto que forma o valor social119 .
A segunda, por sua vez, sustenta que a riqueza social não seria um componente do
valor social, mas tão somente um instrumento para alcançá-lo. Portanto, uma melhora na riqueza
social não seria um bem em si mesmo, mas somente na medida em que produza uma melhoria
em outros valores que, aí sim, são meritórios por si mesmos. Esta resposta instrumental, como
chama Dworkin, pode ser também subdividida de 3 (três) maneiras. A primeira delas afirmaria
que melhorias na riqueza social por si só causariam outras melhorias – como, por exemplo,
a redução da pobreza. Da segunda, infere-se que a riqueza é um ingrediente do valor social,
na medida em que forneceria as condições materiais para aumentar-se o valor social. Por fim,
de acordo com uma terceira subdivisão, a riqueza não seria nem causa nem ingrediente, mas
um substituto, uma espécie de segundo-melhor, que funcionaria enquanto houvesse uma alta
correlação entre um aumento na riqueza e um aumento na felicidade (um objetivo utilitarista,
portanto)120 .
Dentre as diversas razões oferecidas por Dworkin para rejeição da riqueza como
valor social, a que sobressai é a de que a riqueza perde toda sua plausibilidade como valor social
quando dissociada da noção de utilidade. Para ilustrar essa conclusão, Dworkin oferece um
118 DWORKIN, Ronald. Is weath a value? The Journal of Legal Studies, v. 9, n. 2, mar 1980., p. 194.
Tradução livre do original inglês, onde se lê: “Economic analysis holds, on its normative side, that social wealth
maximization is a worthy goal so that judicial decisions should try to maximize social wealth, for example, by
assigning rights to those who would purchase them but for transaction costs. But it is unclear why social wealth
is a worthy goal. Who would think that a society that has more wealth, as defined, is either better or better
off than a society that has less, except someone who made the mistake of personifying society, and therefore
thought that a society is better off with more wealth in just the way any individual is? Why should anyone who
has not made this mistake think social wealth maximization a worthy goal”?
119 DWORKIN, R. Op. Cit., pp. 194-195.
120 DWORKIN, R. Op. Cit., p. 195.
71
exemplo que reproduzimos a seguir, com algumas alterações. Suponha que existem duas pessoas
no mundo, A e B. A é um sujeito doente e miserável, e tem um livro, que costuma ser um de
seus únicos consolos na vida. A está disposto a vendê-lo por $2,00 para comprar remédios. Do
outro lado, B é um sujeito rico e feliz. B está disposto a pagar $3,00 pelo livro (uma parcela
infinitesimal do seu patrimônio), somente por achar que um dia pode vir a lê-lo, mesmo sabendo
que provavelmente não vá. Imagine agora que exista um tirano com poder e disposição para
realocar as coisas conforme algum critério pre-selecionado. Se o tirano retirar o livro de A e
entregá-lo a B, a situação será melhor? Segundo o utilitarismo, não, porque a transferência sem
compensação faria a utilidade total cair. Por outro lado, se utilizarmos o conceito específico
de riqueza de Posner, sim. Do ponto de vista geral, no entanto, Dworkin responde que não,
classificando como irrelevante, do ponto de vista moral, o argumento de que o livro estaria nas
mãos daquele que pagaria mais por ele.
Partindo da sociedade para o indivíduo, a conclusão de Dworkin segue a mesma
lógica. A riqueza não é um valor em si mesmo, mas apenas um meio pelo qual outros valores
podem ser atingidos. Nas palavras de Rothbard, muito embora Dworkin provavelmente não
ligaria o seu pensamento ao dele, “a eficiência jamais pode servir como base ética; pelo contrário,
a ética deve ser o guia e a pedra-de-toque de qualquer consideração de eficiência”121 . Qualquer
pessoa, diz Dworkin, que empregue maior valor do que isso à riqueza tem um fetiche pelas
“notas verdinhas”122 .
De modo similar, Coleman e Veljanovski também negam a existência de valor
intrínseco à riqueza. Segundo Veljanovski, o “homo economicus” não possui preferência por
riqueza, mas por algum fim que seria capturado pela expressão “maximização da utilidade”. E
conclui, muito claramente, dizendo que “riqueza é meio, não fim”123 . Coleman, por sua vez,
enquanto reconhece valor ao conceito de “felicidade” ou “bem-estar” o nega à riqueza, nos
seguintes termos: “riqueza não é algo com valor intrínseco. Se a busca da riqueza for um bem,
deve ser porque a busca da riqueza promove outras coisas de valor”124 .
Por fim, cumpre salientar que em diversas ocasiões Posner salientou o caráter instru-
mental da maximização da riqueza. Como, por exemplo, no seu artigo de resposta “The value of
121 ROTHBARD, Murray N. The myth of efficiency. In: RIZZO, Mario (Ed.). Time, Uncertainty, and
Disequilibrium. Lexington: DC Health, 1979. p. 90–95.. Tradução livre do original inglês, onde se lê:
“Efficiency can never serve as the basis for ethics; on the contrary, ethics must be the guide and touchstone for
any consideration of efficiency”.
122 DWORKIN, R. Op. Cit., p. 200.
123 VELJANOVSKI, C. Op. Cit., p. 8.
124 COLEMAN, J. Op. Cit., p. 527.
72
Por outro lado, parece injusto atribuir a Posner uma busca desmedida de uma
moralidade somente baseada na eficiência. Em que pese a validade de muitos dos argumentos
apresentados contra a sua teoria, sobretudo no começo da década de 1980, muitos parecem ter
perdido de vista o fio da meada. É que a construção de um marco normativo coerente constituía,
nos dizeres de Priest, um passo integrante do projeto positivo de Posner126 . 3 anos depois, no
prefácio à segunda edição do The Economics of Justice, já citado acima, Posner qualifica a
sua teoria ética como objeto de especulação, e não como um plano de ação social127 . Um ano
depois, reduz a aplicabilidade de sua teoria somente à atuação dos juízes. Isto porque os juízes
de common law nada podem fazer em relação à distribuição da riqueza. Portanto, devem tomá-la
como um dado fático e atuar no sentido de maximizar a riqueza, já que este é o campo da política
(policy) que foi deixado aos seus cuidados:
Como deve estar claro a esta altura, meu argumento não é que a maximização
da riqueza seja o único valor social a que o governo deve prestar atenção, senão
que é o único valor (...) que as cortes podem fazer muito para promover128
No limite, parece aparecer nas entrelinhas a conclusão de que, para Posner, o im-
portante é propor (e provar a aceitabilidade de) a utilização de uma norma ética fundada nos
preceitos liberais-econômicos, dos quais ele comungava abertamente129 . Mesmo no contexto de
sua famosa “capitulação”, como veremos na seção adiante, Posner é incisivo ao dizer que “argu-
mento éticos não convencem aqueles que estão em dúvida, senão que fornecem racionalizações
para posições éticas tomadas em um contexto emocional”130 .
125 POSNER, Richard A. The value of wealth: A comment of dworkin and kronman. The Journal of Legal
Studies, v. 9, n. 2, mar 1980., p.245. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “But perhaps I have misled
Dworkin and others by being insufficiently explicit about what I think wealth is conducive to. It is conducive to
happiness, freedom, self-expression, and other uncontroversial goods (...)”.
126 PRIEST, George. El surgimiento del análisis económico del derecho: Memoria de los primeros años. In:
ALEGRE, Marcelo (Ed.). El Dinero y la Justicia. Buenos Aires: Universidad de Palermo, 2010. p. 17–60., p.
58.
127 POSNER, Richard A. Prefácio à edição brasileira. In: . A Economia da Justiça. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2010.
128 POSNER, Richard A. Wealth maximization and judicial decision-making. International Review of Law
and Economics, v. 4, n. 2, 1984., p. 133.
129 V. POSNER, Richard A. Law and economics is moral. Valparaiso University Law Review, v. 24, 1989.
130 POSNER, Richard A. Wealth maximization revisited. Notre Dame Journal of Law, Ethics & Public Policy,
v. 2, 1985., p. 90. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “Ethical arguments do not convince doubters but
rather provide rationalizations for ethical positions taken on emotional grounds.”
73
Do ponto de vista analítico, parece certo afirmar que existe uma diferença substancial
quanto a posição ocupada pela eficiência (do ponto de vista normativo) em um sistema de
pensamento posneriano em dois momentos diferentes, de maneira a justificar a identificação de
uma fase distinta de pensamento.
Para além da mera justificativa de plausibilidade desse então novo campo do saber
que parece sempre ser o maior objetivo de Posner, é possível identificar traços que permeiam
toda a sua obra, os quais conferem a indispensável unidade no pensamento que caracteriza a sua
obra um pensamento crítico do Direito3 .
Nesta seção, trataremos da “queda” do eficientismo enquanto ideal normativo, com a
ressalva de que também o ideal positivo, da maximização da riqueza enquanto pedra de Rosetta,
teve a sua importância diminuída ao longo do tempo4 .
1 POSNER, Richard A. Problems of Jurisprudence. Cambridge: Harvard University Press, 1993. e a corres-
pondente tradução brasileira, já referida, POSNER, Richard A. Problemas de Filosofia do Direito. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.
2 POSNER, Richard A. Wealth maximization revisited. Notre Dame Journal of Law, Ethics & Public Policy,
v. 2, 1985.,p . 90. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “My goal is therefore quite modest. I do not
seek to ’convert’ anyone to wealth maximization. I merely want to persuade you that it is a reasonable, though
not a demonstrably or a universally correct, ethic (...)”.
3 A referência a “crítica” ou “pensamento crítico” deve ser entendida como despida de qualquer referência
ideológica, querendo antes significar a atitude filosófica consistente em examinar, de maneira reflexiva, as
condições, pressupostos e consequências de determinado conceito ou disciplina.
4 V. Seção 2, acima.
74
filósofos moralistas para discutir, no detalhe, os aspectos particulares de cada um dos dilemas
morais, sobre os quais “já se consumiram oceanos de tinta”8 .
Neste sentido, em uma sociedade diversificada, em que os pontos de partida, sejam
eles intuições morais ou princípios pré-estabelecidos, não são comuns aos agentes envolvidos,
não existiria método racional capaz de resolver um grande dilema moral, como o do aborto, por
exemplo9 , porque as premissas que formam as proposições com base nas quais determinada
resposta se afigura correta são controversas10 .
Ao questionar a aplicabilidade da filosofia moral aos problemas do Direito, Posner
a um só tempo procura minar as objeções de natureza moral ao princípio da maximização da
riqueza e, ao mesmo tempo, abrir o campo a um pragmatismo de contornos próprios, mas não
sem antes dar o braço a torcer e declarar que muitas das críticas que consideram a maximização
da riqueza uma teoria insatisfatória “não são passíveis de resposta”11 . Após uma breve análise
destas críticas (que deixam de ser interessantes justamente na medida em que deixam de ser
polemizadas), a conclusão pouco surpreendente é de que o argumento mais forte a favor da
maximização da riqueza enquanto parâmetro normativo é de natureza pragmática.
O esforço argumentativo pode ser explicado de maneira satisfatória pela teoria
das alternativas relevantes. Epistemologicamente, a teoria das alternativas relevantes é uma
das tentativas de escapar do argumento cético sobre a impossibilidade de conhecer algo12 . A
ilustração mais famosa da teoria das alternativas relevantes é a de Drestke, em um artigo de 1970,
denominado Epistemic Operators13 .
Neste artigo, Drestke oferece um exemplo para ilustrar sua ideia central do que
viria a ser o processo de escolha diante de alternativas relevantes. Suponha que uma pessoa
encontra-se em um zoológico e se depara com um animal parecido com um cavalo, mas com
listras pretas e brancas. A placa indicativa diz: “Zebra”. Nestas circunstâncias, a pessoa saberia
dizer se o animal é uma zebra? E o que dizer da possibilidade de que o animal na verdade seja
8 Ibid. Ibidem.
9 POSNER, Richard A. Op. Cit., p. 470.
10 POSNER, Richard A. Op. Cit., p. 472.
11 POSNER, Richard A. Op. Cit., p. 503.
12 O exemplo mais comum é o do “cérebro numa cuba”. Na hipótese, os terminais nervosos do cérebro são
ligados a um supercomputador que tem a tarefa de a pessoa de quem é o cérebro acreditar que tudo está normal.
Todas as experiências e sensações são sentidas da mesma forma que uma pessoa “de carne e osso” as sentiria.
Partindo dessa premissa hipotética, o argumento é construído de forma a negar mesmo as intuições mais óbvias
do conhecimento, como o fato de termos verdadeiras mãos, da seguinte maneira: (I) Eu não sei se eu não sou
um “cérebro numa cuba”. (II) Se eu não sei se eu não sou um “cérebro numa cuba”, eu não sei se eu tenho mãos.
Logo: (III) Eu não sei se eu tenho mãos. Variações outras incluem a possibilidade de estarmos sonhando, as
ilusões de um demônio maléfico e, mais recentemente, a possibilidade de vivermos em uma matrix.
13 DRETSKE, Fred I. Epistemic operators. The Journal of Philosophy, p. 1007–1023, 1970.
76
um cavalo pintado de modo a parecer com uma zebra? A pessoa pode ter boas razões para
acreditar que, de fato, não se trata de um cavalo pintado, já que zoológicos normalmente não
fariam isso. Mas as evidências não são boas o suficiente para que esta pessoa saiba que o animal
é, de fato, uma zebra e não um cavalo pintado.
Sem fazer nenhum teste especial, um cético diria que o sujeito não pode saber que
se trata de uma zebra ou um cavalo pintado. Mas Drestke tenta resolver a questão ao incluir
a possibilidade de levarmos em consideração as alternativas relevantes. Assim, no caso do
exemplo, a probabilidade de que o zoológico andasse pintando cavalos para que se passassem
por zebras com o objetivo de enganar os visitantes não seria uma alternativa relevante, e que,
neste contexto, seria possível saber que o animal a frente da pessoa no exemplo seria, de fato,
uma zebra, desde que as alternativas relevantes dentro do contexto em que a afirmação é feita
possam ser excluídas a contento.
Por extrapolação, quanto mais alternativas relevantes uma proposição p pode excluir
em contextos e circunstâncias variadas, mais robusta é a proposição. Por sua resiliência, para
utilizarmos as palavras de Posner, a proposição p passa a fazer parte de uma “reserva de conheci-
mento útil”14 , que corrobora uma espécie de “conhecimento interpretativo da realidade”15 , com
o qual o pragmatista estaria confortável.
“Todas as perspectivas são parciais”, diz Posner, decorrendo daí a insensatez de
procurar “descrições completas e conclusivas de como as coisas são” e a necessidade de enxergar
as teorias como “ferramentas e não visões da realidade”16 . É necessário, portanto, enxergar a
ciência como um conjunto de “métodos comprovados de ampliação do estoque de conhecimentos
úteis e acertados do ser humano”17 .
Ora, se as “verdades” são parciais e contextualizáveis, não é mais necessário defender
uma posição absoluta e universal de aplicabilidade da maximização da riqueza ao conjunto de
fenômenos jurídicos que enxergamos no mundo dos fatos. Para legitimar essa abordagem, basta
que seja superior as alternativas relevantes – que, no caso de Posner, são as “filosofias morais”, o
“kantismo” e o “utilitarismo”, não sendo um problema reconhecer, ultimamente, que:
(1) A sua teoria normativa não é adequadas para resolver todos os problemas. (2)
Não é baseada em qualquer teoria moral que tudo abarca (como, por exemplo,
o utilitarismo). (3) A riqueza não possui um valor intrínseco, não instrumental,
14 POSNER, Richard A. Para além do Direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009., p. 418.
15 POSNER, R. A. Op. Cit., p. 10.
16 Ibid. Ibidem.
17 Ibid, p. 20. Perceba-se que a insistência na utilidade do conhecimento guarda uma íntima relação com os
pressupostos metodológicos da teoria econômica positiva do direito, de que se trata na Seção 2, acima.
77
Assim, a defesa de um princípio normativo deveria ser feita pelos seus resultados
(consequências) e de maneira relativamente independentemente dos seus fundamentos, com
base em uma análise de sua adequabilidade às circunstâncias particulares, de modo a configurar
um instrumento superior para consecução de determinados objetivos sociais com base em um
substrato comum. Em outras palavras, é preciso aferir se esse instrumento é capaz de excluir as
alternativas relevantes, sendo o substrato comum uma espécie de máximo denominador comum
dos valores compartilhados pela sociedade.
Quanto à aplicabilidade universal, é necessário prosseguir com cautela. É que, a
uma primeira vista, diante das circunstâncias identificadas por Posner na sociedade americana
para justificar a sua velha ideia nova, a segurança com que é possível defender a transposição
destas ideias para outra realidade, como, por exemplo, a brasileira, é inversamente proporcional
à convergência cultural das duass sociedades. E não há motivos para subestimar as diferenças.
Embora o caminho mais fácil seja optar pela intransponibilidade das conclusões, este não parece
ser o mais adequado. Com efeito, os fundamentos pelos quais se rejeitaria a “importação” dessas
ideais são os mesmos utilizados para retirar-lhes legitimidade no “mercado interno”, vez que: (i)
18 MATHIS, Klaus. Effiency Instead of Justice? [S.l.]: Springer, 2009., p. 178. Tradução livre do original
inglês, onde se lê: “(1) His normative theory is not suitable for solving all problems. (2) It is not founded on any
all-embracing moral theory (as, for instnace, utilitarianism is). (3) Wealth has no intrinsic, non-instrumental
value as, for instance, ’goodness’ or ’happiness’ do in other philosophical theories”.
19 Ibid, p. 427.
20 Ibid, p. 426
21 Ibid, p. 423.
22 Ibid, pp. 426-427.
78
a defesa é duvidosa desde o início, já que a exclusão das alternativas relevantes é certamente
uma posição arbitrária, que depende de critérios externos; e (ii) nada garante que o intervalo
entre a geração de que falava Posner em 1995 e a atual geração norte-americana conservem as
mesmas circunstâncias e alternativas relevantes.
Ambos argumentos, no entanto, possuem pouco ou nenhum efeito diante de um
interlocutor que aceita um pragmatismo metodológico. O próprio Posner oferece respostas
implícitas aos dois questionamentos possíveis, ao afirmar que uma abordagem deste tipo somente
pode funcionar bem quando existe uma “concordância ao menos razoável quanto aos fins
almejados”23 sendo inapropriada nos casos em que outros valores “gozem de unanimidade
política e moral”24 . Ainda assim, é bom que se diga que Posner parece acreditar que os preceitos
de maximização da riqueza são comuns a “todas as sociedades modernas”25 .
Por ser inconcebível, no sistema proposto, a existência de verdades imutáveis e
absolutas, a proposta de Posner é que a instrumentalidade da maximização da riqueza pode servir
de guia do direito de políticas públicas diversas. A fórmula proposta é a de que a maximização
da riqueza seria o princípio geral (entre outros fundamentos, dada a correlação empírica entre
livre mercado e riqueza humana26 ), “deixando ao proponente dos desvios relativos (...) o ônus
da demonstração de sua conveniência”27 .
Dada a ausência de alternativas relevantes também no contexto brasileiro, a fórmula
proposta por Posner pode ser entendida como um componente importante de um “estoque de
conhecimentos úteis” a ser construído em torno de um consenso, ainda que restrito, acerca dos
objetivos a serem perseguidos.
Em que pese o distanciamento dos autores “de margem” das discussões teoréticas, a
eficiência na alocação dos recursos continua sendo uma preocupação constante dos acadêmicos
que praticam análise econômica do direito. A bem da verdade, a redistribuição, em qualquer
hipótese gera ineficiência. Esta constatação está presente desde o início do artigo de Kaplow
e Shavell32 . No entanto, há situações em que, levando-se em consideração o trade-off entre
equidade e eficiência, aquela se sagrará vencedora. Mas, mesmo nos casos em que se admita a
perseguição de objetivos redistributivos por meio do direito privado, é certo que nestas hipóteses
deverá se buscar também a eficiência. A frase de Cooter e Ulen, neste sentido, é bastante
esclarecedora: “a eficiência sempre é relevante para a definição de políticas já que é melhor
atingir qualquer política dada a um custo menor do que a um custo mais alto”33 .
31 KAPLOW, Louis; SHAVELL, Steven. Why the legal system is less efficient than the income tax in redistributing
income. The Journal of Legal Studies, v. 23, n. 2, p. 667–681, 1994.. Tradução livre do original em inglês,
onde se lê: “Redistribution is accomplished more efficiently through the income tax system than through the
use of legal rules, even when the redistributive taxes distort behavior”. No mesmo sentido, v. POLINSKY,
A. Mitchell. An Introduction to Law and Economics. New York: Wolters Kluwer, 2011., p. 153-162
32 KAPLOW, L.; SHAVELL, S. Op. Cit., p. 688.
33 COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Bookman, 2010., p. 26.
81
Com essa visão do “todo”, a prosperidade da sociedade em geral poderia ser legitima-
mente alcançada com o sacrífico da liberdade dos seus membros menos produtivos, que, em prol
da maximização da riqueza, poderiam inclusive ser escravizados. Este tipo de conclusão, tomada
de “cima para baixo”, nos termos já discutidos acima, embora formalmente condizente com
os ditames da maximização da riqueza, segundo Posner, é frontalmente contrária às intuições
inabaláveis dos cidadãos americanos.
Ora, enquanto princípio moral (ou de justiça), a maximização da riqueza está sujeita
às mesmas limitações tratadas na subseção 4.2.1, acima, entre elas a incapacidade de solucionar
problemas práticos. Do embate entre uma conclusão prática obtida, dedutivamente, de um
princípio moral abrangente e uma intuição moral contrária aplicável ao caso em análise, esta
deverá prevalecer.
34 POSNER, Richard A. Wealth maximization revisited. Notre Dame Journal of Law, Ethics & Public Policy,
v. 2, 1985. p. 103.
35 Ibid. Ibidem.
36 POSNER, Richard A. Problemas de Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007., p. 506
37 Ibid, ibidem.
82
evidente que o comando constitucional não é auto-aplicável, por padecer de substrato material.
A ausência de desenvolvimento desta norma programática rica em retórica não traz
surpresa, considerando os pressupostos pragmáticos de que já se tratou. Provavelmente, uma
ética formada a partir de princípios absolutos é incapaz de condenar a desigualdade como um
mal-em-si; diferentemente da pobreza, por exemplo, que, segundo a Constituição, caberia ao
Estado brasileiro erradicar. A antipatia à desigualdade talvez não passe mesmo disso: uma
aversão espontânea e irracional a uma projeção do verdadeiro problema.
De um ponto de vista liberal pragmático, as coisas se desenham de maneira substan-
cialmente diferente. Existiria, de partida, uma neutralidade em relação à desigualdade, ou talvez
até uma certa propensão a percebê-la como necessária para o bem-comum.
É que, segundo Cooter e Schäfer, o debate sobre o ponto ótimo de desigualdade
perde de vista que, sobretudo em países em desenvolvimento, os cidadãos conseguem escapar
da pobreza na medida em que seus salários aumentam. Nos países ricos, os salários seriam
mais altos “porque as pessoas são mais produtivas”, e não porque existiria menos desigualdade.
Neste sentido, a desigualdade existente, em tese, seria justificável na medida em que torna a
população em geral mais produtiva, e, ao mesmo tempo, aumenta o bem-estar social57 . Ao tratar
de políticas públicas, a conclusão a que Cooter e Schäfer chegam é que:
O modelo competitivo simplificado para este caso específico pode ser descrito da
seguinte maneira. Considere que um trabalhador A “vende” o seu trabalho por um determinado
preço e que não existem custos de transação e que todas as informações sobre o empregador e o
empregado estão plenamente disponíveis.
Neste caso, o equilíbrio é atingido quando o preço de equilíbrio é igual a quantidade
de equilíbrio. Em outras palavras, o equilíbrio se dá quando ao empregador é indiferente contratar
um novo trabalhador dado um determinado nível de preço, ao mesmo tempo em que é indiferente
ao trabalhador marginal aceitar a proposta de emprego ou não.
Quando o governo estabelece um “preço” mínimo, o mercado se desloca do ponto de
equilíbrio para um ponto artificialmente alto na curva de demanda, como se pode ver na Figura 1
(onde a linha traçejada corta a curva de demanda). A descrição é como segue.
Forçosamente, o governo adota um piso salarial tal que P > PE, onde “P” é o
salário mínimo e “PE” é o preço de equilíbrio. Como consequência, diversos trabalhadores
que não estavam dispostos a trabalhar dado o nível de preço anterior, agora procuram ingressar
no mercado de trabalho (o incremento é dado por Q − QE)63 . Ocorre que, por este preço, o
empregador somente estaria disposto a contratar Q0 , representado no gráfico da Figura 1 pelo
ponto em que a linha traçejada do salário mínimo cruza a curva de demanda.
Em termos mais simples, o efeito do estabelecimento de um salário mínimo em
um mercado de trabalho competitivo é duplo, na medida em que: (i) aumenta o número de
trabalhadores que estão dispostos a trabalhar pelo preço mais alto (Q > QE); e (ii) reduz o
número de trabalhadores que os empregadores estão dispostos a contratar dado o nível de preço
mais alto (Q0 < QE). O efeito agregado é dado pela equação Q − Q0 , representado graficamente
na Figura 1 pela chave que une os pontos nos quais a linha traçejada do salário mínimo cruza as
linhas de demanda e oferta.
Do outro lado, a percepção de um salário mínimo “capaz de atender a suas neces-
sidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
62 Tradução livre do original em inglês, onde se lê: “In sum, we view the literature—when read broadly and
critically—as largely solidifying the conventional view that minimum wages reduce employment among
low-skilled workers, and as suggesting that the low-wage labor market can be reasonably approximated by
the neoclassical competitive model.” em NEUMARK, David; WASCHER, William. Minimum wages and
employment: A review of evidence from the new minimum wage research. [S.l.], 2006., p. 123.
63 Perceba que esta definição é plenamente compatível com a definição de “desemprego” adotada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística em suas “Pesquisas Mensais de Emprego”.
90
Preço
Oferta
Desemprego
(excesso de mão-de-obra)
Salário mínimo
Preço de
equilíbrio
Demanda
Quantidade de Quantidade
equilíbrio
vestuário, higiene, transporte e previdência social” é um direito social dos trabalhadores urbanos
e rurais, na forma do Art. 6o , IV da Constituição Federal64 . Este direito, como também os outros
a que já nos referimos acima, é considerado um direito de “segunda dimensão”65 , que englobaria
os chamados “direitos de defesa” do cidadão frente ao Estado.
A fundamentação principiológica, novamente, é quase inexistente nas obras dos
constitucionalistas consultados. Ingo Sarlet se limita a afirmar que esta classe de direitos podem
ser consideradas:
deve ser o princípio geral, “deixando ao proponente dos desvios da maximização da riqueza
o ônus da demonstração de sua conveniência”72 , explicitar os motivos pelos quais se entende
socialmente desejável o estabelecimento do salário mínimo – e de tantos outros direitos – é uma
forma de tornar o Direito mais transparente, menos esotérico e mais acessível ao questionamento
da opinião pública em geral, se esta for a sua vontade, sem que seja necessária a remissão a
inumeráveis princípios amorfos de utilidade duvidosa, do ponto de vista pragmático.
Tal regra também tem por corolário uma estratégia iconoclasta de mostrar as entra-
nhas do processo retórico em que um discurso ético sagra-se vencedor e reduz as suas crenças a
termo na forma de um dispositivo legal, ao tempo em que estimularia o jurista sair do conforto
de dar palpites sem qualquer sustentação empírica sobre qualquer assunto.
72 POSNER, Richard A. Problemas de Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007., p. 520.
93
de convergência em que o sistema continental de civil law parece poder aproveitar-se do rico
debate travado nos países de common law.
De nossa parte, esse passo atrás também é justificável se levarmos em conta a já
mencionada relativa imaturidade da disciplina no Brasil. E, com a soma dos dois fatores, para
além de possibilitar uma maior compreensão dos efeitos de determinada lei, hoje o desafio que
se afigura com maior peso é o da formulação e consolidação de políticas públicas por meio
do direito, cabendo a este o papel de “conservar o maior número de possibilidades”(save the
chances), não agindo como o “secretariado-geral da exatidão” a tudo vetar em absoluto, senão
consentir que outros terrenos gerenciem suas próprias tragédias6 .
Uma postura pragmática no direito parece ter uma etapa prévia de legitimação de
uma ética consequencialista, em pelo menos dois pontos fundamentais. O primeiro tem que ver
com a utilização de argumentos consequencialistas na formulação e na discussão de políticas
públicas, de que já tratou a seção anterior. Já o segundo, tem a ver com a utilização desta espécie
de raciocínio na resolução de problemas especificamente jurídicos (como a solução dada a um
caso pelo julgador, por exemplo). Esta seção trata deste último.
conduzir ao abandono total das análises de impacto: “o objetivo é conduzir as análises de impacto
até onde for possível”26 , no que se aproxima da definição de pragmatismo cotidiano de Posner.
Além disso, parece evidente que a autonomia sistêmica absoluta do direito carrega
consigo alguns perigos. Citando Esser, Mathis pondera que a proibição de qualquer reflexão crí-
tica por parte do julgador por meio de um isolamento ideológico e de uma compartimentalização
autônoma, coloca o direito à mercê de manipulações políticas27 . Mathis ainda considera que a
visão de Luhmman é atrasada, e estaria baseada na ideia montesquiana do juiz-boca-da-lei, e que
a aplicação do direito não é um “programa” pronto para ser implementado na forma de algoritmo,
como quis Luhmann, na medida em que as mesmas pessoas responsáveis pela aplicação do
direito também criam direito28 .
Um outro lado das críticas ao consequencialismo lato sensu é bem representado
por Dworkin. Em Levando os Direitos a Sério, no capítulo dedicado à solução dos hard cases,
aqueles casos em que a solução não é claramente ditada pela lei ou pelos precedentes, Dworkin
estabelece uma distinção entre princípios e políticas (no sentido de policy)29 , advogando pela
utilização exclusiva de princípios em detrimento de argumentos baseados em objetivos políticos,
já que estes argumentos seriam de uso exclusivo do legislador30 .
Neste famoso capítulo, derivado de um paper anterior, publicado na Harvard Law
Review em 197531 , Dworkin esboça a tese da “única decisão correta”, segundo a qual as
cortes podem e devem encontrar o único julgamento possível (e correto). Esta resposta correta,
mesmo nos casos mais difíceis, poderia ser encontrada por um juiz com características hercúleas,
“de capacidade, sabedoria, paciência e sagacidade sobre-humanas”32 . A situação desenhada
26 MATHIS, K. Op. Cit., p. 7
27 ESSER, Jossef. Apud MATHIS, K., Op. Cit., p. 7.
28 O argumento de compartimentalização, aliás, foi atacado em diversas frentes. No campo próprio da filosofia
do Direito, a discussão parecer repousar no locus de legitimação das regras jurídicas aplicáveis. Seja pela norma
pressuposta e exclusivamente formal a sustentar qualquer compreensão do ordenamento jurídico, como quer
Kelsen, seja pelo recurso a uma norma de segundo nível, como quer Hart, a formulação própria do positivismo
jurídico deriva a validade de determinada norma tão somente pelo fato de estarem inseridas no ordenamento
jurídico por meios de vias previstas anteriormente. Assim, deposto todo conteúdo material, o direito sobreviveria
tão-somente da forma. Se a isso tomássemos como paradigma absoluto, o juiz-boca-da-lei e a previsão de
“programas condicionais” não seriam capazes de afastar a aplicação daquelas leis “extraordinariamente injustas”
de que fala Radbruch. V. KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1998., p. 24 e
passim e HART, Herbert LA. The Concept of Law. London: Oxford University Press (Clarendon), 1961.
29 DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002., p. 129: “Os argumentos
de política justificam uma decisão política, mostrando que a decisão fomenta ou protege algum objetivo coletivo
da comunidade como um todo. (...) Os argumentos de princípio justificam uma decisão política, mostrando que
a decisão respeita ou garante um direito de um indivíduo ou de um grupo”.
30 DWORKIN, R. Op. Cit.
31 DWORKIN, Ronald. Hard cases. Harvard Law Review, v. 88, n. 6, p. 1057–1109, 1975.
32 DWORKIN, R. Op. Cit., p. 165.
100
permitiria, portanto, chegar à seguinte conclusão: se um juiz acredita que o direito é incompleto,
incoerente ou impreciso, a culpa reside nas suas capacidades intelectuais limitadas, e não em
uma suposta imperfeição do direito33 .
Se, portanto, um juiz, ao decidir um caso concreto, se valesse de argumentos de
política, estaria, segundo a descrição que faz Hart da teoria de Dworkin, “pisando em terreno
proibido, reservado ao legislativo eleito”, na medida em que o direito estabelece aquilo a que as
pessoas têm direito em matéria de justiça distributiva, “e não aquilo a que deveriam ter porque
seria do interesse público que o tivessem”34 .
Dworkin justifica a sua posição com base em três argumentos centrais, descritos de
forma apropriada por Mathis:
“De acordo com o argumento democrático, os juízes não são geralmente eleitos
pelo povo, ou pelo menos não respondem perante o eleitorado da mesma
maneira que o legislativo, e, consequentemente, não estão legitimados a produzir
novos direitos. No argumento de retroatividade, Dworkin aponta que seria um
absurdo se uma parte fosse vencida em um ação em virtude da quebra de um
dever que somente lhe foi imposto ex post facto. Finalmente, Dworkin teme
que a admissibilidade de argumentos de política resultaria em uma perda de
coerência no julgamento. A aplicação do direito no caso de argumentos de
princípio deve estar em harmonia com os casos anteriores, o qual garante um
igual tratamente, argumenta ele, enquanto que a satisfação de objetivos políticos
particulares não necessariamente requerem um tratamento igual”. 35
Em resposta a este modelo, Hart pondera que um juiz, ao se deparar com um novo
caso, deve procurar um princípio que explique não só o caso em tela, mas também os casos
passados da mesma espécie, e que é provável que um juiz irá encontrar diversos princípios que
expliquem os casos anteriores e que dêem, cada um, uma nova solução ao presente caso, e que a
exclusão postulada por Dworkin é parte de sua hostilidade frente ao utilitarismo36 .
No mesmo sentido, Kelsen já havia se posicionado a respeito desta ficção de que
uma norma jurídica somente possuiria um único sentido correto37 . De maneira complementar,
33 MATHIS, K. Op. Cit., p. 8.
34 HART, Herbert L. A. American jurisprudence through english eyes: the nightmare and the noble dream.
Georgia Law Review, v. 11, 1976., p. 141
35 MATHIS, K. Op. Cit., p. 9. Tradução livre do original inglês, onde se lê: “According to the democracy
argument, judges are not generally elected by the people, or at least are not answerable to the electorate in the
same way as the legislature, and consequently they are not legitimized to make new law. In the retroactivity
argument, Dworkin points out that it would be an outrage if a party lost an action for breaching a duty that had
only been imposed upon them ex post facto. Finally, Dworkin fears that the admissibility of policy arguments
would result in a loss of coherence in adjudication. Application of law in the case of principles arguments must
be in harmony with previous cases, which guarantees equal treatment, he argues, whereas the achievement of
particular policy goals does not necessarily require any such equal treatment”.
36 HART, Herbert L. A. American jurisprudence through english eyes: the nightmare and the noble dream.
Georgia Law Review, v. 11, 1976., p. 141
37 KELSEN, H. Op. Cit., p. 396: “A interpretação jurídico-científica tem de evitar, com o máximo cuidado,
101
MacCormick considera que princípios e políticas são dois lados da mesma moeda, na medida em
que os valores positivados no ordenamento jurídico na forma de princípios são uma expressão
das políticas que prevaleceram em determinado momento38 .
Por fim, em Kelsen retornamos ao ponto de onde partimos, isto é, que os argumentos
consequencialistas têm lugar no raciocínio jurídico na medida em que a legislação assim o
faculta. Ao tratar do caráter político do exercício da jurisdição, Kelsen diz:
a ficção de que uma norma jurídica apenas permite, sempre e em todos os casos, uma só interpretação: a
interpretação ’correta’. Isto é uma ficção de que se serve a jurisprudência tradicional para consolidar o ideal
da segurança jurídica. Em vista da plurissignificação da maioria das normas jurídicas, este ideal somente é
realizável aproximativamente”.
38 MACCORMICK, Neil. Argumentação Jurídia e Teoria do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2006., p.
343: “(...) as esferas do princípio e da política não distintas e mutuamente opostas, mas irremediavelmente
entrelaçadas(...). Expressar a conveniência de alguma meta geral de política é enunciar um princípio. Enunciar
um princípio é estruturar uma possível meta política”.
39 KELSEN, Hans. Quem deve ser o guardião da constituição. In: . Jurisdição constitucional. São Paulo:
Martins Fontes, 2003., p. 251.
40 POSNER, Richard A. Direito, Pragmatismo e Democracia. Rio de Janeiro: Forense, 2010., p. 208.
41 POSNER, R. Op. Cit., p. 210.
42 Ibid. Ibidem.
43 Ibid. Ibidem.
102
Deve estar claro, a esta altura, que uma rejeição peremptória da utilização de ar-
gumentos consequencialistas no direito é infundada. Senão por outro motivo qualquer, pelo
fato de que o ato de julgar não raras vezes se reveste de um caráter verdadeiramente criador do
direito, sendo “impossível manter uma separação estrita entre argumentos jurídicos e argumentos
políticos”44 .
Ainda segundo Mathis, sempre que o aplicador do direto cria direito, é como se
funcionasse em um modo diferente, a que Mathis chama de modo legislatoris. Nesta situação,
em que o juiz cria o direito, é que o véu dos programas condicionados luhmannianos cairiam, e
o juiz chegaria mais perto de assumir a responsabilidade pelas consequências de sua decisão.
Em outras palavras, a diferenciação do processo decisório deixa de existir e a distância entre a
aplicação do direito e a formulação de regras genéricas tende a zero.
O juiz responderia pelas consequências de sua decisão como se legislador fosse. É
evidente que, nestes casos, o julgador deve fazer o mesmo esforço em executar as avaliações de
impacto de sua decisão. Este dever é tanto maior quanto mais abrangente o alcance de sua decisão.
Assim, o julgador deve atentar tanto para as consequências reais de micronível (aquelas que
atingem as partes diretamente afetadas pelo julgamento) quanto para as consequências reais de
macronível (aquelas que atingem toda a sociedade), e sobretudo, no caso do direito, com o efeito-
precedente de sua decisão, que engloba não só uma possível reverberação do mesmo racional
decisório para outros casos semelhantes, mas também compreende, no precedente, a função do
controle de expectativa daqueles que sequer possuem processos pendentes de julgamento45 .
Parece, ademais, que a forma do discurso adotada, o tipo de resposta, deve fugir da
mera referência usual a uma regra ou um princípio qualquer de contornos e bases imprecisas
e duvidosas. O terminus ad quem do discurso, para usarmos a expressão de Habermas46 ,
neste caso, exige honestidade e transparência absoluta em relação ao substrato sobre o qual se
baseia a decisão. Quem decide, deve ter sempre em mente que o seu papel envolve facilitar o
entendimento e a discussão de sua decisão em um cenário democrático, e que, neste caso, a
valoração das consequências passaria ser o próprio fundamento decisório.
44 MATHIS, K. Op. Cit., p. 18.
45 MATHIS, K. Op. Cit., pp. 3-4.
46 HABERMAS, Jürgen. Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática. Estudos avançados, v. 3, n. 7, p.
4–19, 1989.
103
tivas de determinado comando legal com as repercussões práticas de cada uma delas53 . Esta
necessidade não só tem sido reconhecida54 , mas inclusive gerou novos institutos direcionados
especificamente a oficializar a prática. Como bem apontam Pargendler e Salama, são bons
exemplos:
Civil.
cem no noticiário, não é nenhuma surpresa a afirmação de que os economistas divergem bastante
entre si, sobretudo quando se trata de fazer previsões. Regra geral, esta dissonância se deve a
dois fatores, um positivo e outro normativo.
Do ponto de vista positivo, os economistas podem divergir quanto à aceitabilidade
de um ou de outro modelo existente para explicar o funcionamento do mundo ou quanto à
importância dada a determinado parâmetro ou mesmo sobre a relação entre as diversas variá-
veis econômicas consideradas em determinado modelo. Como a testabilidade das hipóteses
macroeconômicas é altamente discutível63 , problemas de aplicabilidade frequentemente tornam
a ser problemas teóricos, e uma espécie de “ideologia epistemológica”64 , esta desconfiança
frequentemente contamina as análises normativas de políticas públicas.
Para exemplificar estas dificuldades, faz-se referência à análise do salário mínimo
levada a cabo na subseção 4.3.1, acima. Daquele exemplo, resta claro que, do ponto de vista
microeconômico, o estabelecimento de um piso salarial aumenta o desemprego marginal. Do
ponto de vista macroeconômico, o efeito parece ser o aumento no desemprego entre trabalhadores
jovens e não-qualificados, conclusão com que 79% dos economistas profissionais alcançados por
uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 1992 concordavam65 .
E os 21% vencidos, o que têm a dizer? Do ponto de vista positivo, em primeiro
lugar, que, ao contrário do que a análise microeconômica sugere, a existência de um piso salarial
tem um efeito desprezível no desemprego agregado66 . Neste contexto, a diferença entre o efeito
esperado e o encontrado no estudo de Schmitt pode ser explicada, como propõe o autor, pela
ênfase exacerbada na empregabilidade do trabalhador marginal, quando, na prática, o efeito de
um aumento de salário dos trabalhadores menos qualificados seria pequeno quando considerado
o custo total de operação das empresas. Além disso, as empresas possuiriam outras formas de
ajuste, dentre elas a redução no turnover67 , a melhora na eficiência organizacional68 , a redução
dos salários daqueles que ganham mais69 e, por fim, um aumento modesto nos preços dos
63 Principalmente se se leva em consideração, dentre outros fatores, o tempo e abrangência necessários para
confirmar ou rechaçar determinada previsão.
64 SALAMA, B. M. Op. Cit., p. 13.
65 ALSTON, R. M.; KEARL, J. R.; VAUGHN, M. B. Apud MANKIW, G. Op. Cit., p. 34
66 V., por exemplo, SCHMITT, John. Why does the minimum wage have no discernible effect on employment?
Center for Economic and Policy Research, v. 22, p. 1–28, 2013.
67 Termo muito utilizado em Administração, significa o controle estatístico de quantos trabalhadores saíram da
empresa e geraram a necessidade de contratação para preenchimento das vagas.
68 Oriunda, talvez, da teoria dos salários de eficiência, segundo a qual a oferta de salários acima do nível de
equilíbrio pode aumentar a eficiência dos trabalhadores de determinada empresa.
69 Mesmo considerando o princípio da irredutibilidade do salário no direito brasileiro, o mesmo efeito poderia ser
alcançado mediante o “congelamento” dos salários.
107
Apesar destas dificuldades, Salama sustenta que o direito pode contribuir com a
formulação de políticas macroeconômicas. Estas contribuições, no entanto, somente seriam
viáveis se levadas em consideração três lições básicas teóricas e práticas sobre o direito.
A primeira delas seria de que a existência de políticas públicas consistentes não
necessariamente dependem de regras, nem seriam estas instrumentos suficientes para obtenção
dos fins desejados. Pensar diferente, segundo Salama, seria idealizar o papel do direito, como se
a aplicação de determinada regra sobre um caso concreto fosse uma atividade mecânica, quando
na verdade existe um grau de indeterminação inerente a toda regra que compõe o ordenamento
jurídico. Neste sentido, a criação de regras cada vez mais precisas com o intuito de reduzir a
discricionariedade do julgador, na verdade, poderia ter, inclusive, o efeito contrário83
A segunda, ligada intimamente à primeira, diz respeito à imprevisibilidade do
funcionamento do sistema jurídico. A lei, lato sensu, tem por atributos, dentre outros, a
generalidade e a prospectividade. Isto é, se presta a regular não somente os casos existentes
no momento de sua edição, mas também aqueles futuros que lhes guardem semelhança. Esta
prospectividade abre caminho para que existam consequências indesejadas de determinada
previsão legal, seja porque a racionalidade humana limitada não foi capaz de excepcionar da
regra legal determinados casos indesejados ex ante, seja por força da atuação concentrada e
estratégica de agentes que influenciem o alcance de determinada normal84 .
Por fim, a terceira, relacionada com o que já se tratou sobre o papel da doutrina, tem
que ver com o papel do discurso jurídico enquanto limitador da discricionariedade dos julgadores.
A ideia é que o substrato discursivo produzido pelos juristas ao descrever o racional por trás de
determinada medida regulatória pode servir como agente preservante de uma ideologia jurídica a
respeito do assunto em questão. Em uma democracia moderna, em que a separação de poderes se
vê mitigada pelo papel cada vez mais importante que assume o Judiciário, uma saída alternativa
à insistência em um sistema formal de “checks and balances” pode ser a combinação entre a
utilização de princípios, em oposição a utilização de regras específicas85 , e uma maior robustez
do discurso jurídico em torno do assunto86 .
83 Ibid., pp. 22-24.
84 Ibid., pp. 24-25.
85 A discussão sobre rules vs. standards é antiga na disciplina de Direito & Economia. Para um apanhado
sistematizado em português, cf. NÓBREGA, Flavianne Fernanda Bitencourt. Custos e benefícios de um sistema
jurídico baseado em standards: uma análise econômica da boa-fé objetiva. Economic Analysis of Law Review,
v. 3, n. 2, p. 170, 2012., pp. 171-176.
86 SALAMA, B. M. Op. Cit., pp. 25-26.
112
não ser o mais adequado. O direito deve, nas palavras de Resta, “adquirir, por si próprio, o senso
do limite” e orientar, antes de tudo “a sua ação à redução do próprio dano”91 .
Nesta linha entre a ciência e a arte, caberia ao direito, utilizando-se do arcabouço
lógico e das meta-regras do sistema jurídico, produzir “dogmática” que propicie uma aplicação
mais uniforme do direito em assuntos macroeconômicos e possibilitar, dentro do seu campo
“artístico”, a escolha e o desenho do melhor arranjo jurídico necessário a garantir a efetividade
do outro saber prático, no caso, a macroeconomia.
Por outro lado, deve procurar restringir o “decisionismo”, em duas frentes: prospecti-
vamente, resguardando-se para que não seja culpado pelas perdas de oportunidade e, na aplicação
do direito, aceitando que o terreno da macroeconomia gerencie suas próprias tragédias.
6 CONCLUSÃO
fraqueza. Certamente o seria, caso o autor buscando princípios absolutos e verdades acabadas, o
que não é verdade. Pelo contrário, na maturidade de seu pensamente, o que torna o pragmatismo
posneriano “frouxo” é também aquilo que o torna mais forte.
Definitivamente, ao examinar a obra teórica por inteiro, a impressão é de estar diante
de um autor preocupado continuamente com a eliminação de inconsistências que viessem a im-
possibilitar a identificação a posteriori de uma unidade de seu pensamento. Essa autorreferência
contínua (que continua até hoje2 ) é indício forte de uma dialética construtiva contínua ao longo
de sua obra.
Isto porque a fundamentação para utilização de um princípio de maximização da
riqueza e da Análise Econômica do Direito, com o perdão da antítese, desde há muito deixou
de ser principiológica e passou a ser pragmática e, por conseguinte, permeável. É utilizável
precisamente enquanto for útil, e a sua utilidade pode ser verificada em pelo menos duas grandes
vertentes, já discutidas antes e agora resumidas a título de conclusão:
A primeira delas é de introduzir, no estudo do direito, virtudes acadêmicas que se
percebem necessárias ao estudo do direito em uma sociedade moralmente complexa, sobretudo
as análises de custos, eficiência e eficácia, bem como a utilização das ferramentas das Ciências
Econômicas para levar a cabo tais análises.
A segunda é a de contribuir dentro de um contexto em que os objetivos são moral-
mente controvertidos, com a formulação de políticas públicas dentro dos contextos administrativo
e legislativo, ainda que do ponto de vista kelseniano estas sejam atividades extrajurídicas. Ainda
que a análise econômica não possa contribuir de forma cabal para validar qualquer medida
distributiva ou para encerrar o debate sobre questões morais complicadas, muitos argumentos
descritivos podem ser úteis na avaliação das medidas adequadas e consequências previstas.
Este papel de apontar as consequências implica, necessariamente, mudar significati-
vamente a forma com que os juristas refletem sobre o direito, descrevem as normas jurídicas e se
posicionam sobre o ordenamento jurídico como posto, sobre o processo de formação das leis,
sobre a prática dos tribunais e sobre a experiência do direito em geral.
A racionalidade econômica pode ser de grande valia nesta tarefa, ao expor (no sentido
não só de descrever, como também de vexar) as entranhas do sistema jurídico e político para
Trinta anos de brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1, p. 262–279.
2 Vide, por exemplo, POSNER, Richard A. Norms and values in the economic approach to law. In: HATZIS,
Aristides N.; MERCURO, Nicholas (Ed.). Law and Economics: philosophical issues and fundamental
questions. New York: Routledge, 2015. p. 1–15.
116
entender o jogo que termina por sagrar vencedor um determinado discurso e mantê-lo em uma
posição dominante.
Repensar o direito sob esta ótica abre caminhos para vislumbrar um conjunto possível
de ciências do agir humano, voltadas ao melhoramento da sociedade, abertas aos desenvolvimen-
tos científicos que constituem o capital humano, em um reavivamento de uma “arte” jurídica,
mais frouxa e, por isso mesmo, mais resiliente.
Além do propósito autoral e do argumento principal, a pesquisa realizada serviu
como base de estudo dos fundamentos teóricos da Analise Econômica do Direito. A partir da
obra do autor-paradigma, procurou-se de alguns assuntos que, por pertinência ou por limitação
de espaço foram apenas tratados de maneira tangencial.
Espera-se que estes pontos sirvam de pontos de partida para pesquisas futuras
tanto no contexto da Análise Econômica do Direito, como também em Teoria do Direito,
dentre eles: (i) a conveniência da utilização de modelos para descrição do funcionamento do
sistema jurídico, em especial a utilização dos modelos de economia comportamental; (ii) a
(ir)relevância da ponderação de princípios enquanto parâmetro decisório judicial; (iii) a Teoria
das Alternativas Relevantes como paradigma de racionalidade das decisões judiciais; (iv) a
racionalidade consequencialista na avaliação e no enforcement de políticas públicas e os seus
reflexos no judiciário; (v) o papel do direito no desenho, no desenvolvimento e na aplicação
de políticas públicas macroeconômicas e (vi) a abertura do direito às técnicas e a superação do
modelo de fechamento do ordenamento jurídico.
117
REFERÊNCIAS
ACKERMAN, Bruce A. Law, economics, and the problem of legal culture. Duke Law Journal,
v. 1986, n. 6, 1986.
ADEODATO, João Maurício Leitão. Ética e Retórica. 2a . ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 14a . ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
ARRUDA, Thais Nunes de. Como os juízes decidem os casos difíceis?: A guinada pragmática
de richard posner e a crítica de ronald dworkin. Dissertação (Mestrado) — USP, São Paulo, 2011.
BACKHAUS, Jürgen. The Elgar Companion to Law and Economics. Cheltenham: Edward
Elgar, 1999.
BARBOSA, Bruno Sarmento. A análise econômica do direito segundo richard posner: o efici-
entismo como alternativa ao método subsuntivo e à ponderação de princípios constitucionais
tributários. In: V Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia. [S.l.: s.n.],
2013.
BEBCHUK, Lucian A. The pursuit of a bigger pie: Can everyone expect a bigger slice? Hofstra
Law Review, v. 8, n. 3, 1980.
BECKER, Gary S. Human capital and the rise and fall of families. In: . Human Capital:
a
A theoretical and empirical analysis with special reference to education. 3 . ed. Chicago: The
University of Chicago Press, 1994.
BECKER, Gary S. The economic way of looking at life. In: FOUNDATION, NOBEL (Ed.).
Singapura: Torsten Persson, 1997.
118
BECKER, Gary S; POSNER, Richard A. The Future of Law and Economics. 2011. Acesso
em 02 jan. 2016. Disponível em: <http://www.law.uchicago.edu/alumni/magazine/fall11/
lawandecon-future>.
BERG, Andy; OSTRY, Jonathan. Equality and efficiency. Finance & Development, v. 48, n. 3,
p. 12–15, 2011.
CABANELLAS, Guillermo. El análisis económico del derecho. evolución histórica, metas y
instrumientos. In: KLUGER, Viviana (org.) (Ed.). Análisis Económico del Derecho. Buenos
Aires: Heliasta, 2006.
CALABRESI, Guido. Some thoughts on risk distribution and the law of torts. Yale Law Journal,
n. 49, 1961.
CALABRESI, Guido; MELAMED, A Douglas. Property rules, liability rules, and inalienability:
one view of the cathedral. Harvard Law Review, v. 85, n. 6, 1972.
CASTRO JR., Torquato da Silva. Direito à mentira talvez sempre também. Mimeo.
CASTRO JR., Torquato da Silva. A bola do jogo: uma metáfora performativa para o desafio
da pragmática da norma jurídica. In: ADEODATO, J. M. L.; BITTAR, E. C. (Ed.). Filosofia e
Teoria Geral do Direito: homenagem a tercio sampaio ferraz júnior. São Paulo: Quartier Latin,
2011. p. 1075–1088.
CATÃO, Adrualdo de Lima. Law and economics, consequentialism and legal pragmatism: the
influence of oliver holmes jr. In: 25th IVR World Congress: Law, Science and Technology
Frankfurt am Main 15–20 August 2011 ; Paper Series ; 045. [S.l.: s.n.], 2012.
CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
COASE, Ronald. The problem of social cost. Journal of Law and Economics, v. 3, p. 1–44,
out. 1960.
COASE, Ronald. Law and economics at chicago. Journal of Law and Economics, v. 36, n. 1,
abr. 1993.
COASE, Ronald. O problema do custo social. In: SALAMA, Bruno Meyerhof (Ed.). Direito e
Economia: Textos Escolhidos. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 59–112.
COLEMAN, Jules L. Efficiency, utility, and wealth maximization. Hofstra Law Review, v. 8,
n. 3, 1980.
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Bookman, 2010.
COOTER, Robert D; SCHÄFER, Hans-Bernd. Solomon’s knot: how law can end the poverty
of nations. [S.l.]: Princeton University Press, 2012.
CRETELLA JÚNIOR, José. Direito Romano Moderno: Introdução ao direito civil brasileiro.
2a . ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
DAU-SCHMIDT, Kenneth G. Lost in translation: The economic analysis of law in the united
states and europe. Columbia Journal of Transnational Law, n. 44, p. 602–621, 2006.
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. 4a . ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
119
DERZI, Misabel de Abreu Machado; BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. A análise econômica
de posner e a ideia de estado de direito em luhmann: breves considerações críticas. Revista da
Faculdade de Direito da UFMG, n. Esp, p. 327–352, 2013.
DWORKIN, Ronald. Hard cases. Harvard Law Review, v. 88, n. 6, p. 1057–1109, 1975.
DWORKIN, Ronald. Why efficiency?: A response to professors calabresi and posner. Hofstra
Law Review, v. 8, 1979.
DWORKIN, Ronald. Is weath a value? The Journal of Legal Studies, v. 9, n. 2, mar 1980.
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
FARALLI, Carla. A filosofia contemporânea do direito. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2006.
FRIEDMAN, David. Law’s Order: What economics has to do with law and why it matters.
Princeton: Princeton University Press, 2000.
GAROUPA, Nuno; LIGÜERRE, Carlos Gómez. The syndrome of the efficiency of the common
law. Boston University International Law Journal, v. 29, p. 287–355, 2011.
GICO JR., Ivo. Introdução ao direito e economia. In: TIMM, Luciano Benetti (Ed.). Direito e
Economia no Brasil. 1a . ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GINSBURG, Tom; MILES, Thomas J. Empiricism and the rising incidence of coauthorship in
law. University of Illinois Law Review, 2011.
GOODMAN, John C. An economics theory of the evolution of common law. The Journal of
Legal Studies, v. 7, n. 2, p. 393–406, 1978.
GOULD, John P. The economics of legal conflict. The Journal of Legal Studies, v. 2, n. 2, jun
1973.
HABERMAS, Jürgen. Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática. Estudos avançados,
v. 3, n. 7, p. 4–19, 1989.
HAMMER, Balz. Valuing the invaluable?: Valuation of human life in cost-efficiency assessments
of regulatory interventions. In: MATHIS, Klaus (Ed.). Efficiency, Sustainability, and Justice
to future generations. Dordrecht: Springer, 2011. p. 211–233.
HART, Herbert LA. The Concept of Law. London: Oxford University Press (Clarendon), 1961.
HART, Herbert L. A. American jurisprudence through english eyes: the nightmare and the noble
dream. Georgia Law Review, v. 11, 1976.
HATHAWAY, Oona A. Path dependence in the law: The course and pattern of legal change in a
common law system. The Iowa Law Review, v. 86, n. 2, 2001.
HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo: do big bang aos buracos negros. Rio de
Janeiro: Rocco, 1994.
HICKS, John R. The foundations of welfare economics. The Economic Journal, v. 49, n. 196,
p. 696–712, dec 1939.
HILL, Claire A; KING, Christopher. How do german contracts do as much with fewer words?
Chicago-Kent Law Review, v. 79, 2004.
HOLMES JR, Oliver Wendell. The Common Law. Cambridge: Harvard University Press, 2009.
HUME, David. Tratado da Natureza Humana. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
JOÃO PAULO II, Papa São. Evangelium Vitae: sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana.
Roma: [s.n.], 1995. Disponível em http://www.vatican.va/edocs/POR0061/I NDEX.HT M.
JÚNIOR, Ronaldo Porto MACEDO. Posner e a análise econômica do direito: da rigidez ne-
oclássica ao pragmatismo frouxo. In: LIMA, Maria Lúcia L. M. Pádua (Ed.). Agenda con-
temporânea: direito e economia: Trinta anos de brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1, p.
262–279.
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: Duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva,
2011.
121
KAHNEMAN, Daniel; KNETSCH, Jack L.; THALER, Richard H. Anomalies: The endowment
effect, loss aversion, and status quo bias. The Journal of Economic Perspectives, v. 5, n. 1,
1991.
KAPLOW, Louis; SHAVELL, Steven. Why the legal system is less efficient than the income tax
in redistributing income. The Journal of Legal Studies, v. 23, n. 2, p. 667–681, 1994.
KELMAN, Mark. Could lawyers stop recessions? speculations on law and macroeconomics.
Stanford Law Review, p. 1215–1310, 1993.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
KELSEN, Hans. Quem deve ser o guardião da constituição. In: . Jurisdição constitucional.
São Paulo: Martins Fontes, 2003.
KORNHAUSER, Lewis A. A guide to the perplexed claims of efficiency in the law. Hofstra
Law Review, v. 8, n. 3, 1980.
KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2013.
LANDES, Elisabeth M; POSNER, Richard A. The economics of the baby shortage. The Journal
of Legal Studies, v. 7, n. 2, p. 323–348, 1978.
LEESON, Peter T. An austrian approach to law and economics, with special reference to
superstition. The Review of Austrian Economics, v. 25, n. 3, p. 185–198, 2012.
LIMA, Maria Lúcia L. M. Pádua. Agenda contemporânea: direito e economia: Trinta anos
de brasil. São Paulo: Saraiva, 2012.
LISTOKIN, Yair. Law and Macroeconomics. 2014. Acesso em 15 jan. 2016. Disponí-
vel em: <http://law.stanford.edu/wp-content/uploads/sites/default/files/event/719308/media/
slspublic/Yair%20Listokin%20-%20Law%20and%20Macroeconomics.pdf>.
LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito e economia: os caminhos do debate. In: LIMA, Maria
Lúcia L. M. Pádua (Org.) (Ed.). Agenda contemporânea: direito e economia: Trinta anos de
brasil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1.
LUHMANN, Niklas. Direito positivo. In: . Sociologia do Direito II. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1985.
MACCORMICK, Neil. Argumentação Jurídia e Teoria do Direito. São Paulo: Martins Fontes,
2006.
MACKAAY, Ejan. History of law and economics. In: BOUCKAERT B.; DE GEEST, G. (Eds.)
(Ed.). Encyclopedia of Law and Economics. Cheltenham: Edward Elgar, 2000. v. 1.
122
MAIA, Dalila Maria; CAVALCANTE, Peregrina Fátima. Sertão, espaço e tempo: conflitos de
famílias e vingança privada. O público e o privado, n. 7, jan 2006.
MALLOY, Robin Paul. Law and Economics: A comparative approach to theory and practice.
St. Paul: West Publishing Co, 1990.
MARKOVITS, Richard S. Legal analysis and the economic analysis of allocative efficiency.
Hofstra Law Review, v. 8, n. 4, p. 811–903, 1980.
MATHIS, Klaus. Consequentialism in law. In: Efficiency, Sustainability, and Justice to Future
Generations. [S.l.]: Springer, 2012. p. 3–29.
MELO, Luiz José de Carvalho e. Estatuto dos cursos jurídicos. Rio de Janeiro: Instituto dos
Advogados Brasileiros, 1977.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional.
7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MENESES, Tobias Barreto de. Ideia do direito. In: . Estudos de Direito. Salvador: Livraria
Progresso Editora, 1951.
MILLER, Geoffrey. Law and economics versus economic analysis of law. NYU Law and
Economics Research Paper, n. 11-16. Disponível em http://ssrn.com/abstract=1804920.
MISES, Ludwig von. As seis lições. 4a . ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1993.
MISES, Ludwig von. Human Action: A treatise on economics. 4a . ed. San Francisco: Fox &
Wilkes, 1996.
PARETO, Vilfredo. Manual de Economia Política. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1988.
PEARSON, Heath. Origins of Law and Economics: The economist’s new science of law,
1830-1930. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
POLINSKY, A. Mitchell. An Introduction to Law and Economics. New York: Wolters Kluwer,
2011.
POSNER, Richard. The ethical and political basis of the efficiency norm in common law
adjudication. Hofstra Law Review, v. 8, p. 487, 1980.
POSNER, Richard. How i became a keynesian: Second thoughts in the middle of a crisis. The
New Republic, v. 23, 2009.
POSNER, Richard A. Killing or wouding to protect a property interest. Journal of Law and
Economics, v. 14, n. 1, p. 201–232, abr 1971.
POSNER, Richard A. An economic approach to legal procedure and judicial administration. The
Journal of Legal Studies, v. 2, 1973.
POSNER, Richard A. The economic approach to law. Texas Law Review, v. 53, 1975.
POSNER, Richard A. Utilitarianism, economics, and legal theory. The Journal of Legal Studies,
v. 8, p. 103–140, 1979.
POSNER, Richard A. The value of wealth: A comment of dworkin and kronman. The Journal
of Legal Studies, v. 9, n. 2, mar 1980.
POSNER, Richard A. A reply to some recent criticisms of the efficiency theory of the common
law. Hofstra Law Review, v. 9, 1981.
POSNER, Richard A. The Economics of Justice. Cambridge: Harvard University Press, 1982.
POSNER, Richard A. Wealth maximization revisited. Notre Dame Journal of Law, Ethics &
Public Policy, v. 2, 1985.
POSNER, Richard A. The law and economics movement. The American Economic Review,
v. 77, n. 2, 1987.
POSNER, Richard A. Law and economics is moral. Valparaiso University Law Review, v. 24,
1989.
POSNER, Richard A. What do judges and justices maximaze?: (the same thing everybody else
does). Supreme Court Economic Review, v. 3, n. 1, 1993.
POSNER, Richard A. The Problematics of Moral and Legal Theory. Cambridge: Belknap,
1999.
POSNER, Richard A. Frontiers of Legal Theory. Cambridge: Harvard University Press, 2001.
POSNER, Richard A. Pragmatic liberalism versus classical liberalism. The University of Chi-
cago Law Review, v. 71, 2004.
POSNER, Richard A. Problemas de Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
POSNER, Richard A. Law & Literature. Cambridge: Harvard University Press, 2009.
POSNER, Richard A. Para além do Direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
POSNER, Richard A. A Economia da Justiça. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
POSNER, Richard A. On the receipt of the ronald h. coase medal: Uncertainty, the economic
crisis, and the future of law and economics. American Law and Economics Review, v. 12, n. 2,
2010.
POSNER, Richard A. On the receipt of the ronald h. coase medal: Uncertainty, the economic
crisis, and the future of law and economics. American Law and Economics Review, v. 12, n. 2,
p. 265–279, 2010.
POSNER, Richard A. Prefácio à edição brasileira. In: . A Economia da Justiça. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2010.
POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 8a . ed. New York: Wolkers Kluwer, 2011.
POSNER, Richard A. Norms and values in the economic approach to law. In: HATZIS, Aristi-
des N.; MERCURO, Nicholas (Ed.). Law and Economics: philosophical issues and fundamental
questions. New York: Routledge, 2015. p. 1–15.
PRIEST, George. El surgimiento del análisis económico del derecho: Memoria de los primeros
años. In: ALEGRE, Marcelo (Ed.). El Dinero y la Justicia. Buenos Aires: Universidad de
Palermo, 2010. p. 17–60.
PRIEST, George L. The common law process and the selection of efficient rules. The Journal
of Legal Studies, n. 6, p. 65–82, 1977.
RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
REALE, Miguel. Introdução. In: . Teoria Tridimensional do Direito. 3a . ed. São Paulo:
Saraiva, 1980.
SILVA, Luiz Augusto Freire da. Direito Subjetivo ao Devido Processo Legislativo: uma crítica
realista. Brasília: Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado) – UnB, 2015.
SMITH, Adam. The Theory of Moral Sentiments. Harmondsworth: Penguin, 2010.
SPELLECY, Ryan. Reviving ulysses contracts. Kennedy Institute of Ethics Journal, v. 13,
n. 4, p. 373–392, 2003.
STIGLER, George J. The division of labor is limited by the extent of the market. The Journal
of Political Economy, p. 185–193, 1951.
STRINGHAM, Edward Peter; WHITE, Mark D. Economic analysis of tort law: Austrian and
kantian perspectives. In: OPPENHEIMER, Margaret; MERCURO, Nicholas (Ed.). Law and
Economics: Alternative Economic Approaches to Legal and Regulatory Issues. New York:
M.E. Sharpe, 2004. p. 374–392.
TIMM, Luciano Benetti. Direito e Economia no Brasil. 1a . ed. São Paulo: Atlas, 2010.
TIMM, Luciano Benetti. Introdução. In: COOTER, Robert; ULEN, Thomas (Ed.). Direito &
Economia. Porto Alegre: Bookman, 2010.
TULLOCK, Gordon. Two kinds of efficiency. Hofstra Law Review, v. 8, n. 3, p. 659–669,
1980.
ULEN, Thomas S.; GAROUPA, Nuno M. The market for legal innovation: Law and economics
in europe and the united states. Alabama Law Review, v. 59, n. 5, p. 1555–1633, 2008.
VARIAN, Hal R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
VELJANOVSKI, Cento G. Wealth maximization, law and ethics: On the limits of economic
efficiency. International Review of Law and Economics, v. 1, n. 1, 1981.
VILANOVA, Lourival. Teoria jurídica da revolução. In: . Escritos Jurídicos e Filosóficos,
vol. I. São Paulo: Axis Mundi e IBET, 2003.
VILLEY, Michel. O direito e os direitos humanos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007.
VOLOKH, Eugene. Academic Legal Writing: Law review articles, student notes, seminar
papers, and getting on law review. New York: Foundation Press, 2010.
WARAT, Luís Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. Sequência, v. 3, n. 5, p.
48–57, 1982.
WEBER, Max. A política como vocação. In: . Ensaios de Sociologia. 5a . ed. Rio de Janeiro:
LTC Editora, 1982.
WEISBACH, David A. The Future of Law and Economics. 2011. Acesso em 22 set. 2015.
Disponível em: <http://www.law.uchicago.edu/alumni/magazine/fall11/lawandecon-future>.
ZYLBERSZTAJN, D; STAJN, R. Direito & Economia: Análise econômica do direito e das
organizações. 1a . ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
ZYWICKI, T; STRINGHAM, E. P. Common law and economic efficiency. In: PARISI, Fran-
cesco; POSNER, Richard (Ed.). Encyclopedia of Law and Economics. 2a . ed. Chatelham:
Edward Elgar, 2011.
127
ZYWICKI, Todd J. The rise and fall of efficiency in the common law: A supply-side analysis.
Northwestern University Law Review, v. 97, n. 4, p. 1551–1633, 2003.