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Definição e aspectos gerais da RDIS

A Rede Digital com Integração de Serviços, RDIS, (em inglês ISDN, Integrated Services Digital
Network), é uma rede baseada em transmissão e comutação digitais, sendo caracterizada pela
integração do acesso dos utilizadores aos diversos serviços e redes actualmente existentes através
de interfaces normalizadas fisicamente
suportadas numa única linha digital.

O objectivo fundamental, é a criação de uma única rede de telecomunicações, uniformizada a


nível internacional, que permita a comutação dos vários serviços e tipos de informação.
A situação actual caracteriza-se pela existência de diversas redes de telecomunicações públicas
independentes, com a sua estrutura própria de transmissão e de comutação.

A RDIS é a resposta no sentido de uma integração da maior parte dos serviços de


telecomunicações actualmente existentes. Assim o utilizador pode através de uma única linha de
assinante ter acesso a um conjunto
diversificado de informações, sob a forma de voz, dados, texto e imagem, com uma característica
fundamental que é a de que todos estes tipos de informação poderem ser digitalizados.

Torna-se evidente que o meio mais eficaz de utilização da linha do assinante é ter uma linha
digitalizada, o que permite eliminar o fosso analógico ainda existente nas redes públicas digitais
(RDI). Com a digitalização da linha local do assinante, os utilizadores passarão a ter acesso a
canais digitais de ritmo muito superior aos permitidos pelas linhas analógicas, abrindo caminho
à utilização de um grande número de novos serviços e terminais.

A aprovação em finais de 1984 pelo ITU-T de um conjunto de recomendações designadas por


Série-I, especificando os aspectos essenciais da RDIS foi um marco fundamental para o
desenvolvimento da RDIS a nível mundial, nomeadamente por ter criado uma estrutura
normalizadora que permite a compatibilização entre os diversos desenvolvimentos em curso nos
vários paises e acelera o seu desenvolvimento.

Podemos considerar na RDIS vários tipos ou níveis de integração, que se referem a:


- integração de linha do assinante
- integração de serviços
- integração de número de acesso
- integração do terminal
- integração da comutação
- integração da transmissão
- integração da sinalização
- integração de redes.

Princípios básicos da RDIS

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Para garantir a compatibilidade com as redes de telecomunicações já existentes e
simultaneamente, dar ao sistema uma grande facilidade de expansão, que permita a fácil inserção
de novos serviços, a implementação da RDIS deve obedecer a um conjunto de princípios básicos,
definidos na recomendação I.120, de que se destacam os seguintes:

 Possibilidade de implementação de uma larga gama de serviços de voz, dados, texto e


imagens, que permitam a adaptação contínua da rede às necessidades dos utilizadores
 Definição de um conjunto limitado de interfaces e de esquemas básicos de ligação, que
facilitem a sua normalização e diminuam os riscos de incompatibilidade de comunicação
entre utilizadores
 Suporte de vários modos de transferência de informação, tais como comutação de
circuitos, comutação de pacotes e não comutado (alugado), de modo a permitir aos
utilizadores a opção pela tecnologia mais eficiente para cada aplicação
 Compatibilidade com o ritmo de comutação básico de 64 kbit/s das centrais digitais
actuais, de modo a poder utilizar a infraestrutura de comutação e transmissão digital das
redes públicas existentes
 Existência de "inteligência" para proporcionar serviços avançados, tal como se prevê que
venham a surgir no futuro próximo
 Utilização de uma arquitectura de protocolos de acordo com o modelo de referência OSI,
para flexibilizar a sua implementação e compatibilizar o sistema com o modelo adoptado
pela indústria informática
 Flexibilidade para adaptação às redes nacionais, de modo a ter em conta os vários níveis
de desenvolvimento tecnológico em diferentes países.

Por razões fundamentalmente de ordem económica, a evolução das redes de telecomunicações


actuais para RDIS deverá ser efectuada por etapas, tendo por base as infraestruturas de
comutação e transmissão das redes existentes. São definidos os seguintes princípios básicos de
evolução das redes públicas actuais para RDIS:

 A infraestrutura básica de início de implementação da RDIS é a rede digital integrada


(RDI), a qual servirá como suporte de transmissão e de comutação de circuitos;
 A RDIS interactuará com as redes dedicadas já existentes (redes de dados, telex, etc.),
utilizando as respectivas infraestruturas de comutação e transmissão;
 Em fases subsequentes a RDIS irá incorporando progressivamente as funções das redes
dedicadas, até à sua integração total;

Recomendações da Série-I do ITU-T

As recomendações da Série-I aprovadas pelo plenário do ITU-T em finais de 1984 e revistas em


finais de 1988, estão divididas em seis grupos, com a estrutura que se apresenta em seguida:

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Parte 1 - Série I.100. Estrutura Geral
Secção 1 - Estrutura das Recomendações da Série-I
Secção 2 - Descrição da RDIS
Secção 3 - Métodos de modelação gerais
Secção 4 - Redes de telecomunicações e atributos dos serviços

Parte 2 - Série I.200. Caracterização dos serviços


Secção 1 - Aspectos dos serviços RDIS
Secção 2 - Aspectos comuns dos serviços em RDIS.
Secção 3 - Serviços de suporte em RDIS
Secção 4 - Teleserviços suportados por RDIS
Secção 5 - Serviços suplementares em RDIS

Parte 3 - Série I.300. Aspectos globais da rede e funções


Secção 1 - Princípios funcionais da rede
Secção 2 - Modelos de referência
Secção 3 - Numeração, endereçamento e encaminhamento.
Secção 4 - Tipos de conexão
Secção 5 - Objectivos de desempenho

Parte 4 - Série-I.400. Interfaces utilizador-rede RDIS


Secção 1 - Interfaces utilizador-rede RDIS
Secção 2 - Aplicação das recomendações da Série-I às interfaces utilizador-rede RDIS.
Secção 3 - Interfaces utilizador-rede RDIS: recomendações da camada 1
Secção 4 - Interfaces utilizador-rede RDIS: recomendações da camada 2.
Secção 5 - Interfaces utilizador-rede RDIS: recomendações da camada 3.
Secção 6 - Multiplexagem, adaptação de ritmos e suporte de interfaces existentes.
Secção 7 - Aspectos de RDIS afectando requisitos dos terminais.

Parte 5 - Série-I.500. Interfaces entre redes RDIS


Parte 6 - Série I.600. Princípios de manutenção

ARQUITECTURA DA RDIS

Configuração de referência

O modelo básico de arquitectura da RDIS apresenta as possibilidades funcionais de comutação


e sinalização da
rede, o que é mostrado simplificadamente na figura:

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Modelo de arquitectura simplificado. Na figura observa-se a existência de uma interface
normalizada de acesso à rede RDIS e aos seus recursos de transmissão, comutação e sinalização
e ainda outras redes especializadas.

A rede RDIS como é representada na figura é um conjunto de recursos que são oferecidos ao
utilizador final. Em particular, explicam-se o significado dos três recursos principais
apresentados na figura.

Comutação de circuitos – Nos serviços de telefonia, telex e alguns serviços de dados, é


vantajoso e habitual reservar recursos ao longo de toda a linha de comunicação. Um caminho
dedicado é obtido e dedicado a uma só ligação entre dois pontos na rede durante toda a ligação
e não podem ser usados os recursos físicos por mais ninguém durante esse tempo.

Comutação de pacotes – É possível aceder-se a redes que funcionam por comutação de


pacotes, um esquema de transmissão que permite a partilha de recursos físicos por várias
entidades de comunicação, que enviam pedaços de informação para um serviço de
encaminhamento. Este tratará de re-enviar o pacote em direcção ao destino, até que este seja
atingido. Não é necessário um estabelecimento prévio de uma ligação física completa entre
as duas entidades comunicantes, é antes estabelecido um circuito virtual. A rede X.25, a
Internet e o protocolo IP são exemplos de redes comutadas em pacotes, e são acessíveis
neste modo através da RDIS.

Sinalização de canal comum – Permite usar as primitivas específicas do RDIS para o


envio e recepção de mensagens de sinalização, de uma forma transparente e coerente em
ambos os lados. Exemplos desta facilidade desta sinalização são as indicações de estado da
chamada (chamada pendente, em espera, etc). Estas facilidades dependem de recursos de
sinalização estabelecidos desde os primeiras camadas da linha.

Configuração de referência

Na seguinte figura está representada a configuração de referência mostrando a rede do assinante


(utilizador) ligado a uma central local. Cada bloco representa um grupo funcional, isto é, um
sistema que executa um conjunto determinado de funções de protocolo. Os pontos de referência
ou interfaces ligam estes blocos entre si e estão frequentemente associados a suportes físicos
diferentes

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Figura 2-2 Configuração de referência – Grupos funcionais e interfaces normalizadas. No
modelo RDIS de banda estreita e interface básica, a interface S é suportada por um cabo UTP
(Unshielded Twisted Pair) de 4 fios, sendo a interface U a linha normal telefónica (cabo UTP de
2 fios) . A interface R não é definida univocamente, existindo tantas quantos os adaptadores de
terminal TA.

Um TE1 é um equipamento terminal com interface normalizada RDIS (ponto S), o que
significa que pode comunicar directamente com o bloco NT2 (explicado adiante). Sendo
terminal, a função principal é interactuar com o utilizador. Além disso pode também servir
como conexão a outros equipamentos. Processa todos os níveis de protocolo desde a camada
física até a de aplicação.

Um TE2 é também um equipamento terminal, mas sem interface normalizada RDIS (pode
ser um telefone normal ou um modem analógico, por exemplo).

Um TA (Terminal Adapter) adaptador de rede adapta um terminal TE2 à interface RDIS. A


especificação não é rígida, podendo este desempenhar um número variado de funções de
adaptação de equipamento terminal, pode ser muito simples ou muito complexo. Pode
adaptar uma porta série, um telefone analógico, como pode adaptar vários destes e pode até
funcionar como um router RDIS e traduzir todo o tráfico de uma rede local (TCP/IP,IPX) para
a interface RDIS.

Um NT2 (Network Terminator 2) processa essencialmente protocolos de baixo nível baixo


(1-3) e incluiu funções de comutação, multiplexagem (concentração de terminais) e
manutenção. Usando uma característica do RDIS chamada passive bus, que executa
multiplexagem no tempo o NT2 pode ainda concentrar até 8 TE1 ou TA’s (interfaces S) através
de uma única interface T. O NT2 é facultativo, podendo um TA ser ligado directamente ao
NT1 (explicado adiante). Nesse caso as interfaces S e T coincidem.

Um NT1 (Network Terminator 1) processa apenas funções de nível físico (camada mais
baixa), essencialmente codificação e descodificação de linha, mas também funções auxiliares
a este nível como multiplexagem de nível físico, temporizações, manutenção física da linha,
etc...

Os blocos LT e ET representam a central RDIS pública. O bloco LT (Line Terminator) executa


apenas funções de adaptação física, sendo análogo ao NT1 do lado do assinante. O bloco ET
(Exchance Termination) processa protocolos até nível 3 e oferece ao utilizador os serviços
básicos da rede RDIS: comutação de circuitos, comutação de pacotes e sinalização.

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Na Figura Duas possibilidades de configuração RDIS.

a) representa uma possível configuração simples para um utilizador caseiro, ligando um


telefone e um computador.

b) representa uma possível configuração mais avançada com TE1 especializados e um router
RDIS TA que faz a interface entre uma rede local e o NT2

Dizer “tenho RDIS em casa” quer normalmente dizer que se possui dois aparelhos, um TA
ligado a um NT1 estando este último ligado à ficha telefónica que conduz a uma central digital.
Este TA pode ser simples ou complexo mas tem normalmente duas entradas, um telefones e
outro aparelhos (fax ou computadores). Devido à existência de dois canais B na interface RDIS
básica é então possível fazer uma chamada com o telefone e uma com o computador ao mesmo
tempo, através da mesma Interface RDIS.

Dizer “temos RDIS na empresa” pode querer dizer possuir um ou mais NT2 que deixam
partilhar o acesso aos dois canais B na interface RDIS básica por um máximo de 8 TA's
diferentes num espaço limitado, por exemplo uma ou duas salas. Esta configuração pode ser
replicada várias vezes e os NT2 podem tomar inclusive as funções de rede local privada. Pode
também ser usada uma interface de acesso primário com um número superior de canais B. É
assim possível realizar várias chamadas de voz e aceder a recursos da rede local ou externa
simultâneamente..

Interface de acesso do utilizador e ritmos de acesso.

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Actualmente a interface digital S de voz e dados do assinante pode ser de dois tipos: básico e
primário

Básico (S0) - constituída por dois canais B (Bearer) de 64Kbit/s cada e um canal D (Data) de
16Kbit/s. Perfaz assim um total de 144Kbit/s e é frequentemente designada por 2B+D

Primária (S1) - constituída por 23-30 canais B de 64Kbit’s cada e um canal D de 64Kbit/s. O
esquema de transmissão.desta interface não é coberto neste trabalho.

Aos canais B estão associados funções de transporte de voz e dados, podendo na interface básica
usar-se os dois canais B para fazer duas chamadas de voz simultâneas ou combinar os dois canais
para formar uma ligação de dados de 128 Kbit/s. Ao canal D estão associadas funções de
sinalização na rede, mas ele pode também transportar informação do utilizador quando operado
em modo de comutação de pacotes.

Modelos de protocolos da RDIS

O modelo de protocolos da RDIS é baseado no modelo OSI de sete camadas.

As camadas superiores (transporte, sessão, apresentação e aplicação)


são implementadas por equipamentos TE1/TA, detidos pelo utilizador
final.

A camada de rede (nível 3) é responsável por transportar


transparente mente informação entre utilizadores finais, implementando
funções de encaminhamento e retransmissão e podendo ainda interactuar
com outras sub-redes de modo transparente para as camadas superiores.

A camada de ligação (nível 2) permite ultrapassar as limitações do


meio físico, implementando funções de detecção e recuperação de erros,
conseguindo assim um circuito virtualmente sem erros.

A camada física (nível 1) define as características eléctricas e


mecânicas do circuito ou interface utilizados, transmitindo simplesmente
um fluxo de dados através de um certo meio físico de transmissão.

Figura 2-4 – Camadas do modelo OSI

Os grupos funcionais NT2 e ET implementam os níveis 1 a 3, enquanto que os grupos funcionais


NT1 e LT só implementam o nível físico. As recomendações RDIS definem apenas o
funcionamento destas três camadas inferiores e são essas que se estudam mais detalhadamente
neste trabalho.

Na interface S/T estão presentes as três camadas de cada um dos lados da comunicação.

Na figura seguinte observam-se, para a interface S0, as entidades que controlam e gerem os
diferentes canais disponíveis, estruturadas nas camadas do modelo OSI
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Podem ainda definir-se vários planos de comunicação, efectuado um corte transversal à
separação em camadas. Uma entidade de comunicação caracteriza-se pela sua posição nas duas
coordenadas: camada e plano. Resumem-se os planos de comunicação existentes em RDIS:

Plano de controlo (C – Control Plane) - Diz respeito à sinalização no canal D e cobre o


conjunto de protocolo de controlo de chamadas e serviços suplementares. Estão definidos nas
recomendações do ITU as três primeiras camadas deste plano.

Plano do utilizador (U – User Plane) - Diz respeito aos dados do utilizador e cobre as
camadas 1 a 7.

Plano de gestão (M – Management) - Este plano de gestão não é estruturado em


camadas e controla as funções de gestão, tratamento de erros entre outros.

Os protocolos que controlam os canais B nas camadas 2 e 3 não são especificados porque são de
utilização genérica dos utilizadores. O protocolo na camada física não distingue os diferentes
canais. No nível dois existe um protocolo normalizado chamado LAPD que controla a utilização
do canal D e permite a multiplexagem deste canal em várias entidades de nível 3.

Primitivas de comunicação entre camadas

Figura 2-5 Primitivas de comunicação entre camadas. Ainda que não sempre com o mesmo
nome, toda a comunicação entre duas quaisquer camadas se baseia em mensagens com estes
significados

De acordo com o modelo de referência OSI, há 4 tipos de primitivas de comunicação entre


camadas do modelo,as quais têm o seguinte significado neste caso concreto:

REQUEST - primitiva gerada quando a camada superior ou a entidade de gestão pede um


serviço à camada inferior.

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INDICATION - primitiva gerada pela camada inferior que fornece o serviço para informar
a camada superior ou a entidade de gestão do fornecimento desse serviço.

RESPONSE - primitiva gerada pela entidade de gestão para acusar a recepção de uma
primitiva INDICATION.

CONFIRM - primitiva gerada pela camada inferior que fornece o serviço indicando que este
foi completado.

Ainda que não seja feita uma referência explícita a este modelo, ele constitui uma base sólida
para compreender o funcionamento de uma pilha de protocolos e as mensagens de sinalização e
controlo que fluem através de diferentes níveis de abstracção.

Protocolo de nível 1 - Camada física

3.1. Interface S entre TE e NT - Configuração básica (S0)

A interface de acesso básica foi desenhada a pensar essencialmente em colocar um (ou mais)
terminais em bus, sem electrónica na tomada, alimentados através da própria interface.
Apresentam-se as três configurações possíveis para a interface S0 na figura seguinte.

Figura 3-1 Possibilidades de configuração física . a) ponto-a-ponto ; b) multiponto em bus ; c)


multiponto em bus com concentração de terminais

De notar que há restrições nos comprimentos máximos dos cabos tendo em conta as e
impedâncias e atenuações existentes. Na configuração ponto a ponto, é a primeira que dita o
comprimento máximo de 1 Km. Na configuração bus passivo há que contar com o desfasamento
de transmissão dos terminais que advém dos tempos de propagação ao longo do bus.. De modo
simplificado, para o ritmo binário 192Kbits/s (período ~= 5us) o round trip delay no bus não

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pode exceder os 2us, o que corresponde a um cabo de 200m de comprimento para uma
impedância de 150Ohm por metro. O número de terminais é limitado a 8 de modo a limitar a
desadaptação de impedância. Na configuração híbrida, que reúne vantagens das duas anteriores,
concentram-se terminais em redor de umas das extremidades do bus permitindo um
comprimento máximo de 500m e ainda a utilização em bus passivo.

Interacções Funcionais

No nível físico da interface S0 existem interacções funcionais de dois tipos entre os TE e NT

Ligações funcionais de transporte de dados

Os canais B1 e B2, de 64Kbit/s e bidireccionais, são estabelecidos em modo circuito o que


significa que a cada um é atribuído um só terminal de comunicação. Podem também ser
unidos para formar um canal de comunicação mais largo. O canal D é um canal de 16Kbit/s
bidireccional e é gerido em modo de comutação de pacotes, sendo partilhado por todos os
terminais da configuração multiponto

Ligações funcionais de gestão da interface

A gestão da interface acresce 48Kbit/s ao fluxo binário de nível físico. Aqui existe um canal E
de 16Kbit/s que transporta o eco do canal D, para resolução de conflitos de acesso a este
último. Existem também funções de sincronização a nível de bit e da trama, o transporte do
relógio de bit (embebido no sinal) e de trama (4Kbit/s) e funções de activação/desactivação
de grupos funcionais, para diminuição do consumo de energia. Por fim existe a função de
alimentação eléctrica, que permite que os TE’s sejam alimentados pelos NT’s.

3.1.2. Códigos de linha e estrutura da trama física

A capacidade de transmissão da linha da interface de acesso básico é, no total de 192 Kbit/s,


distribuídos da seguinte forma

B1 64 Kbit/s
B2 64 Kbit/s
D 16 Kbit/s

Soma 2B+D 144 Kbit/s

Controlo e 48 Kbit/s
sincronização

Total 192 Kbit/s

O código de linha utilizado nesta interface é do tipo AMI (Amplitude Mark Inversion) com sinais
de polaridade alternadamente positiva e negativa para codificar o valor lógico “0”, e ausência de
tensão para codificar o valor “1”. A alternância entre polaridades inversas para codificação do
“0” garantem a estabilização DC da linha. Para alinhamento de trama são usadas violações da
regra acima, e para repor a paridade de zeros na linha são usados bits de equilíbrio especiais.
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Tanto as tramas físicas no sentido TE->NT e no sentido NT->TE têm 48 bits e duram 250ns o que
corresponde a 4000 tramas/segundo. Existe um atraso de 2 bits da trama TE->NT em relação à
NT->TE.

Os 48 bits de cada trama dividem-se em 32 bits de canal B (16 de B1 e 16 de B2), 4 bits de canal D
e 12 bits de controlo. A utilização deste últimos 12 bits difere consoante o sentido da comunicação

Figura 3-2 Trama física entre os blocos funcionais NT e TE

TE->NT

1 bit F que indica o início da trama e 1 bit Fa auxiliar de sincronização

10 bits de equilíbrio L, um a seguir a F e Fa e um após cada grupo de bits de um canal

NT->TE

1 bit F que indica o início da trama e 2 bit Fa e N auxiliares de sincronização

2 bits de equilíbrio L, um a seguir a F e um no final da trama

4 bits E que ecoam o canal D no sentido TE->NT e o controlam em modo multiponto

1 bit M que indica modo multitrama

1 bit A de activação/desactivação do terminal

1 bit S reservado

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Controlo de acesso ao canal D

Para resolver conflitos de acesso ao canal partilhado D, usa-se um mecanismo CSMA-CR (Carrier
Sense Multiple Access – Contention Resolution). Baseia-se em características e pressupostos
rígidos de comunicação, principalmente a capacidade de cada terminal poder monitorar o canal
D através do eco nos bits E do sentido NT->TE.

Antes de emitir uma trama de nível 2 cada terminal deve verificar se o canal D está livre. O
mecanismo de prioridade de acesso ao canal D, cujo objectivo fundamental é assegurar uma
equitativa oportunidade de acesso ao canal D pelos vários terminais, é baseado na alteração
dinâmica do número de uns lógicos consecutivos que o terminal deve detectar para decidir que
o canal está livre.

Interface U entre NT e LT

A interface U, situada entre o NT1 e a central pública, não foi normalizada, e depende fortemente
do tipo de tecnologia de transmissão utilizada. No entanto deve providenciar um conjunto de
ligações funcionais análogo à interface S. De modo a poder reutilizar toda a infraestrutura
analógica existente, foi considerado importante o desenvolvimento de uma tecnologia de
transmissão full-duplex de alto débito sobre 2 cabos twisted-metal-pair. Tendo em conta a
distância entre o utilizador e a central digital (pode ir até aos 8 quilómetros), as atenuações altas,
a heterogeneidade das condições de transmissão, interferência entre linhas (crosstalk) e outros
problemas de dimensionamento inadequado, este é um objectivo difícil.

Obtenção do full-duplex

Para conseguir uma ligação full-duplex (transmissão simultânea bidireccional) no meio no


meio analógico foram desenvolvidas muitas técnicas, das quais seleccionam duas básicas.

TCM (Time Compressed Multiplexing)

Esta técnica, também conhecida por ping-pong, consiste em partilhar no tempo uma ligação
half-duplex, enviando pequenas tramas em sentidos alternados, e esperando tempos
suficientemente grandes de modo a que se processe a recepção do lado contrário e que se
atenuem suficientemente os ecos do último envio.

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Esta técnica permite enviar informação a ritmos da ordem dos 350-400 Kbit/s, para
comprimentos de linha relativamente curtos, da ordem dos 2-3 Km.

Figura 3-3 Time Compressed Multiplexing (ping-pong) –através de dois comutadores (blocos
de controlo) em exclusão mútua, enviam-se tramas em cada um dos sentidos, alternadamente.

Cancelamento de Eco

Esta técnica baseia-se na transmissão simultânea bidireccional nos dois fios twisted-metal-pair.
Devido a inúmeros factores de atenuação, interferência, sobreposição e interferêcia inter-
simbólica, é necessário usar um sistema que separa o sinal transmitido localmente do sinal
recebido e ainda processe o sinal recebido (através de um filtro digital adaptado às
características da linha em cada instante) para recuperar o sinal transmitido remotamente.

Esta técnica permite ter comprimentos de linha até aos 8 Km, e ritmos de linha da ordem dos
200Kbit/s. A implementação do sistema de cancelamento de eco é consideravelmente mais
complexo que o sistema TCM, no entanto, face ao maior comprimento de linha máximo, é hoje
em dia preferido a este último.

Figura 3-4 – Esquema de cancelamento de eco – Para extrair o sinal emitido remotamente, o
sinal Dr, constituido por várias componentes sobrepostas ao sinal emitido remotamente (ecos
do sinal De emitido localmente e varios tipos de ruido e interferencia) é diminuido de uma
quantidade obtida pelo filtro digital adaptativo. O filtro digital monitora permanentemente as
condições de eco na linha.

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Códigos de linha na interface U

Na interface S0 usa-se um código do tipo pseudo-ternário AMI. Devido à forte atenuação sentida
nas linhas desta interface, opta-se por códigos por códigos que optimizem a utilização da largura
de banda existente nestas linhas. Estes códigos são designados códigos de bloco, porque
concentram vários símbolos binários num símbolo (normalmente ternário ou quaternário). Os
códigos de bloco mais utilizados nesta interface são

4B3T Código ternário: 4 bits convertidos em 3 sinais ternários, com uma compressão de
25%

2B1Q Código quaternário: 2 bits convertidos em 1 sinal quaternário, com uma compressão
de 50%

Figura 3-5 – Comparação dos códigos de linha NRZ, AMI, 4B3T e 2B1Q. Para a mesma palavra
de código (01001110), os códigos 4B3T e 2B1Q têm uma variação mais “lenta” e usam portanto
menos largura de banda.

A redução no ritmo baud (símbolos enviados por segundo) na codificação da interface S0 para U,
implica uma equivalente redução na largura de banda do sinal. O aumento proporcional da
probabilidade de interferência intersimbólica é combatido pela escolha de palavras de código
convenientes, já que alguns códigos (como o 4B3T) permite uma subutilização do espaço de
codificação. Esta escolha permite também uma maior imunidade ao ruído, menor interferência
intersimbólica e uma detecção de erros mais facilitada no caso de transmissão de sequências não
permitidas.
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Protocolo de nível 2 - Camada de ligação

Como já referido, os protocolos que controlam os canais B nas camadas 2 e 3 não são especificados
porque são de utilização genérica dos utilizadores. A camada de ligação de dados é então
essencialmente responsável pela gestão do nível 2 do sistema de sinalização utilizado em RDIS.
O protocolo que faz isto chama-se LAPD (Link Access Protocol on D-Channel)

4.1. LAPD (Link Access Protocol on D-Channel)

O protocolo LAPD implementa funções de nível mais alto, a saber:

multiplexagem de várias entidades de ligação de dados sobre o mesmo canal D

delimitação (framing), transparência e sincronização de informação

garantia de sequenciamento das tramas transmitidas e recebidas através da sua


numeração

detecção de erros de transmissão, de formatação e de funcionamento sobre uma ligação de


dados

recuperação de erros de transmissão através da repetição de tramas recebidas com erro

notificação da entidade de gestão dos erros que não podem ser corrigidos

controlo de fluxo da informação entre emissor e receptor.

Opera em dois modos

modo confirmado (connection-oriented): a informação é encapsulada em tramas cuja


recepção é confirmada pelo entidade que as recebe. É usada uma estratégia de janela
deslizante e numeração de tramas que permite o envio de várias tramas mantendo o controlo
de fluxo. É possível detectar e recuperar de erros de transmissão e formatação.

modo não-confirmado (connectionless): a informação é encapsulada em tramas não-


numeradas e transmitida directamente, não havendo qualquer confirmação de recepção ou
controlo de fluxo.

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Para estabelecer uma ligação em modo confirmado, é preciso executar primeiro uma inicialização
(handshaking) entre os dois processos comunicantes. Este procedimento (SABME - Set
Asynchronous Balanced Mode Extended) decorre em modo não-confirmado, com tramas não
numeradas. A inicialização garante que uma sequência correcta de números são usados em
ambos os extremos.

O protocolo LAPD multiplexa no canal D vários tipos de informação provenientes de entidades


de nível superior (sinalização, dados, gestão, telemetria...). No sentido contrário efectua a
operação recíproca de desmultiplexagem.

4.2. Funções e estrutura da trama LAPD de nível 2

A estrutura básica desta trama e a sua análise permitem fazer explicar o funcionamento das
ligações funcionais proporcionadas pelo LAPD. Existem na trama em questão os seguintes
campos:

Figura 4-1 Trama LAPD

Flags de abertura e fecho

Estas campos têm um valor constante e delimitam o início e o fim da trama LAPD (já que esta é
de comprimento variável). Para evitar que estes valores reservados se repitam dentro dos outros
campos da trama é utilizada uma técnica de bit stuffing em que essas sequência potencialmente
coincidentes são acrescidas de um bit que resolve o conflito e pode ser retirado na descodificação.

Campo de controlo

O campo de controlo pode assumir diferentes formatos, caso a comunicação seja em modo
confirmado ou não confirmado. As tramas numeradas (I) associam-se ao primeiro e as não-
numeradas (U) ao segundo. Existem ainda tramas S de supervisão. Nas tramas numeradas são
gerados e enviados números de sequência que asseguram o fluxo controlado e ordenado de
informação, gerando retrasmissões em caso de perdas, atrasos ou erros. As tramas S de
supervisão auxiliam esta tarefa.

As tramas U servem para enviar informação em modo não-sincronizado, por exemplos


mensagens de estabelecimento de modo confirmado, de desconexão e outras mensagens
especiais.

Campo de endereço

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Este campo contêm a informação necessária para distinguir quem é o destinatário da trama (no
caso de trama multiplexados no canal D), se uma trama é um comando ou uma resposta a um
comando e ainda qual o tipo de informação transportada na trama.

A atribuição dos endereços aos terminais numa rede do assinante processa-se na troca entre TE’s
o NT de mensagens UI especiais de gestão dos endereços TEI (Terminal Equipment
Identification)

Campo de Informação (comprimento variável)

Este campo existe apenas nas tramas I, destinadas a transferir informação de camadas
superiores usando as tramas numeradas sequencialmente. O comprimento máximo é de 260
octetos.

Sequência de teste da trama

O campo FCS (Frame Check Sequence) é utilizado para detecção de erros da trama. Em caso de
erro de trama, é pedida ao emissor a repetição da trama, utilizando para tal as mensagens de
supervisão (tramas S).

Figura 4-2 Diagrama de mensagens LAPD. Neste


exemplo, é primeiro estabelecida uma ligação em
modo confirmado. O TE envia um comando SABME
ao qual o NT responde com um Unnumbered
Acknowledge (UA). A partir daí o TE começa a
enviar tramas numeradas. O primeiro número da
numeração indica qual a trama que o TE envia e o
segundo qual a confirmação pela qual espera. Com a
chegada da confirmação I 0,3 por parte do NT, o TE
envia uma próxima trama I 3,1. A resposta RR 4 por
parte do NT significa que acusa a recepção da trama
3, mas não tem informação para enviar em resposta.
É desfeita a ligação pela mensagem Disconnect
(DISC) do TE , ao qual o NT responde com um
Unnumbered Acknowledge (UA). Estas duas últimas
mensagens são enviadas em modo não confirmado e
são tramas não numeradas.

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5.Protocolo de nível 3 - Camada rede

No nível 3 tal como no nível 2, não estão definidos os protocolos de controlo dos canais B, pois
estão no plano do utilizador e são definidos por este. As recomendações do ITU dizem respeito
ao controlo do canal D.

5.1. Estrutura das mensagens de sinalização de RDIS

A entidade de nível 3 do plano de controlo do canal D corresponde à camada de rede no


modelo OSI. Toma as funções de controlo de chamadas e sinalização:

estabelecer chamadas e desligar chamadas

negociação de canais B

suspender chamadas

reactivar chamadas

pedir um recurso , utilizando os serviços disponibilizados pela camada 2, a saber

estabelecimento das conexões da camada de ligação de dados

transmissão de dados com protecção de erros

indicação de erros não recuperáveis da camada de ligação de dados

desligamento das conexões da camada de ligação de dados

indicação de falhas da camada de ligação de dados

recuperação de certas condições de erro

indicação de estado da camada de ligação de dados.

Estes serviços são utilizados para gerar versões análogas na camada 3. isto quer dizer que existe
também uma função de estabelecimento e desligamento de conexões nesta camada, só que as
conexões chamam-se agora chamadas. Implementam-se de modo semelhante funções de
transporte, sequenciamento, controlo de fluxo, recuperação de erros e multiplexagem, mas agora
a nível da mensagem, a unidade de informação associada a esta camada (o da camada 2 é a trama).
Além destes a camada 3 introduz um serviço de relaying, que determina a rota adequada entre
entidades de nível 3 na rede e oferece uma escolha entre comutação de circuitos ou pacotes.

As mensagens de sinalização são compostas por um cabeçalho (código do protocolo, referência


da chamada e código da mensagem) e por vários elementos de informação de comprimento
variável.
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Controlo de chamadas

Existem quatro tipos de mensagens para controlo de chamadas:

mensagens de estabelecimento de chamadas

mensagens da fase de transferência de informação

mensagens de desligamento de chamadas

mensagens diversas

Os sub-tipos destas mensagens podem variar caso a chamada funcione em comutação de circuitos
ou pacotes, ou se se referir a um tipo especial de conexão (sinalização ou global). Na figura
seguinte dá-se um exemplo de troca de mensagens de nível 3 entre duas redes RDIS
independentes.

Figura 5-1- Fase de estabelecimento de ligação a nível 3 entre dois terminais de redes de
assinante separadas. As mensagen SETUP e SETUP_ACK estabelecem a ligação entre o TE A e
a seu NT. Este passo recorre às primitivas de nível 2 já enunciadas. Depois do envio de algumas
mensagens do tipo INFO, atravessa a rede o pedido de chamada, que desencadeia um SETUP
na rede de assinante do TE B. A mensagem CALL PROCEEDING avisa o TE A deste facto. O
Terminal B envia mensagens ALERTING e CONNECT, e depois das respectivas confirmações,
pode começar-se o envio de informação de nível 3.

Deve compreender-se que este esquema genérico de estabelecimento e desligamento de chamada


estabelece as condições e o modo (pacotes ou circuitos) nas quais as entidades comunicam, sendo
a comunicação e outras condições e formatos adicionais especificados no protocolo que reside no
plano do utilizador. O objectivo do plano 3 é proporcionar uma base estável e transparente que
“esconda” a estratégia de comunicação. Toda a complexidade do formato das mensagens e em
torno dos elementos de informação encontra justificação no objectivo de generalizar, simplificar
e integrar a interface oferecida ao utilizador/programador.

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