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1 TRINDADE, 1989: 1.
344 Marcelo Almeida Oliveira
Figura n.º 1 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário em ouro Preto e Igreja de São Pedro dos Clérigos
em Mariana
Fotos: Marcelo Almeida oliveira.
Pinheyro [Concelho de Vieyra], Freguezia de Santa Maria de Terroso, Freguezia de Santa Maria
de Vigo, Freguezia de Santa Olaia de Lanhares, Freguezia de Santiago, Freguezia de Santiago
Dantas, Freguezia de São Cristovão de Gondomil, Freguezia de São Clemente de Silvary [Vila
de Guimarães], Freguezia de São João, Freguezia de São Julião de Taguassas, Freguezia de São
Martinho de Avidos Couto de Landim, Freguezia de São Martinho do Campo, Freguezia de
São Miguel da Borda de Ajudim de Basto, Freguezia de São Miguel das Marinhas, Freguezia
de São Miguel de..., Freguezia de São Miguel de Villa Cora, Freguezia de São Payo de Parada,
Freguezia de São Pedro de Bairro, Freguezia de São Pedro de Rates, Freguezia de São Pedro de
Riba Mouro [Termo da Vila de Valadares, Comarca de Valença], Freguezia de de São Pedro de
Serva, Freguezia de São Romão d’Aroins, Freguezia de São Salvador do Triguinho, Freguezia
de São Victor [cidade de Braga], Freguezia de Sardas, Lanoso, Ponte do Lanhoso, Ribeira de
Roman, Santa Maria de Ermenegilde, São Clemente de Saúde, São João de ..., São João de
Vaolim [Termo de Valladares, Comarca de Vallença], São Julião do Serapião, São Martinho de
..., São Miguel das Marinhas, São Pedro de Lamão, São Salvador da Villa do Monte [Termo de
Barcellos], São Salvador de Briteiros [Termo de Guimarães], São Thiago de Lanhoso, São Thiago
de Priscas [Termo de Barcellos], São Tiago, São Tiago de Penso [Termo da Vila de Valadares,
Vila de São Pedro de Uba de Mouro], Termo de Monção, Vianna, Vila ... dos Infantes, Vila de
Barcelos, Vila de Guimarães, Vila Nova de ..., Vila Real, Villa de Santarém, Villa de São João
de Caldas de Guimarães, Villa Real.
Quanto à região do Porto, detectaram-se registros que devem ser mais bem avaliados,
sobretudo numa perspectiva conjunta com outros pesquisadores. Ressaltamos, por
exemplo, a visão que Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves (2009) possui a respeito da
região do Entre-Douro e Minho, intrinsecamente associada ao assunto trabalhado.
Segundo o referido pesquisador, tal região era a mais populosa de Portugal, sendo
também grande fornecedora de mão-de-obra para vários lugares, principalmente
durante o século XVI. Levando-se em conta essa e outras constatações, percebemos
que os fatos verificados ganham dimensões novas e indicam possibilidades de pesquisas.
Para se ter noção da amplitude regional do Porto, listamos localidades detectadas,
relativas à origem da mão-de-obra atuante em Minas Gerais, sobretudo no século
XVIII. Destacam-se as seguintes referências:
Arresana de Souza, Arrifana, cidade do Porto, Freguezia de Castelo do Ouro, Freguezia
de Castelões, Freguezia de Christovão de Vaz, Freguezia de Nossa Senhora da Campanha,
Freguezia de Nossa Senhora da Victoria [cidade do Porto], Freguezia de Santa Cristina de
Mansores, Freguezia de Santa Maria de Termedo, Freguezia de Santa Maria do Fromedo [Villa
de Cabuais], Freguezia de Santo Idelfonso [cidade do Porto], Freguezia de São Bartolomeu
[Vila de Arouca], Freguezia de São João da Madeira, Freguezia de São Martinho, Freguezia
de São Miguel de..., Freguezia de São Pedro de Canedo, Freguezia de São Salvador de Grijó,
Freguezia de São Salvador de Pousos, Freguezia de São Salvador de Pousos, Freguezia de São
Thiago da Villa de Ostaneira, Freguezia de São Tiago de Labão [Comarca de terra da Feira],
Freguezia de São Vicente de Alfenas [Termo do Porto], Freguezia de Silvalde, Freguezia de
Teixeira, Lessa, Lessa de Bacho, Ramalda, Santa Maria de..., Santo André de Escaxis, Santo
Estevam de Vilela, São João da Foz, São João de..., São Martinho, São Pedro de..., São Pedro
Considerações sobre os artífices e os artistas portugueses em Minas Gerais 349
de Miragaya [cidade do Porto], São Pedro de Pedroso, São Simão de Axonis da Villa da Freira,
Terra da Feira, Torre da Freira, Vila de Arrifana de Souza, Vila de Ovar.
No universo trabalhado, de 744 indivíduos, 213 pertencem ao grupo dos artistas
e artífices portugueses, cerca de 28,63%, valor significativo que nos permite avançar
com outros tipos de informações levantadas.
A próxima questão examinada, de acordo com as fontes consultadas, trata a respeito
do tipo de mão-de-obra predominante. Sobressaíram no montante dos 213 indivíduos
pesquisados, as seguintes especialidades e as respectivas porcentagens: carpinteiro
e carapina (84; 39,43%), ferreiro (59; 27,70%), pedreiro (18; 8,45%); ourives (10;
4,69%); pintor (9; 4,23%), entalhador (6; 2,82%), marceneiro (5; 2,35%), serralheiro
(5; 2,35%), torneiro (2; 0,94%) e outros com apenas um representante, como: abridor
de cunhos, armeiro, caldeireiro-marceneiro, carpinteiro-mestre das obras Reais,
engenheiro, espadeiro, espingardeiro, ferreiro-serralheiro, oleiro, pedreiro-arquiteto,
pedreiro-carpinteiro, torneiro-marceneiro, conforme gráfico n.º 2.
Gráfico n.º 2 – Especialidades predominantes dos artífices e artistas portugueses em Minas Gerais,
século XVIII
Gráfico n.º 3 – Locais de atuação dos artífices e artistas portugueses em Minas Gerais, século XVIII
ocupação do território, sobressaem as bacias dos rios Grande, das Velhas e a cadeia
de montanhas da Serra do Espinhaço, referências marcantes na paisagem mineira.
Na sequência de questões a serem desenvolvidas, é importante também enfocar os
tipos de registros em que se notam informações relativas ao objeto de nosso estudo.
Nesse universo, destacam-se documentos arquivados pela Igreja e que ilustram
fatos associados a comportamentos e valores de uma época. Graças aos serviços de
cunho arquivístico, executados de modo austero por religiosos, avançamos na síntese
de dados. Atendo-se a tal fato, ressalta-se o seguinte dizer contido no interior do
Catálogo Geral da Arquidiocese de Mariana:
(...) até a República (15.IX.1889), antes do aparecimento dos cartórios, a Igreja serviu como
zelosa tabeliã, guardando registro dos batizados e nascimentos, matrimônios, óbitos da população e
ainda serviu como escrínio, cofre fiel dos testamentos e outros contratos celebrados entre as partes (...).
No intuito de estudarmos os portugueses em Minas e particularmente os artífices
e artistas, deparamo-nos com documentos relativos ao controle exercido pela Igreja,
sobressaindo-se nesse sentido a administração exercida por Dom Frei Manoel da Cruz,
primeiro bispo de Mariana (1745-1764). Das 213 referências relativas à população
atuante na construção de nosso patrimônio, 136 registros pertencem ao conteúdo
do Livro de Devassas, cerca de 63,85% do montante das referências apuradas. os
outros tipos de registros também encontram-se associados direta ou indiretamente
à administração eclesiástica, destacando-se o Livro de Registro de Termos de Visitas
(39; 18,31%), o Livro de Cartas de Exames e Provisões de ofícios (9; 4,23%), os
Testamentos e Livros de Termos de Admoestações (7; 3,29%), o Livro de Óbitos (6;
2,82%), além dos Autos de Cobrança (1; 0,47%), de acordo com o Gráfico n.º 4.
Gráfico n.º 4 – Tipos de documentos com referências aos artífices e artistas portugueses em Minas
Gerais, século XVIII
grupo estudado, identificamos que a época entre as décadas de 1720 a 1760 foi a
mais evidente e talvez a mais profícua para os artífices e artistas lusitanos, o que deve
ser tratado como parte de um contexto em que sobressai a crescente afirmação dos
poderes laico e religioso, o forte controle administrativo sobre a extração de riquezas
do solo e certo acúmulo de bens por parte da população. Com relação a esses pontos,
citamos dois fatos marcantes: a realização do Triunfo Eucarístico (1733) em Vila Rica,
organizado a partir da trasladação do Santíssimo Sacramento, manifestação clara da
afirmação de poderes na sociedade da época, e a crescente arrecadação de quintos
da extração do ouro, principalmente entre os anos de 1735 a 1751.
Quanto ao acúmulo de bens, ao consultarmos o Catálogo Geral do Arquivo da
Arquidiocese, notamos que houve expressivo número de testamentos entre os anos
de 1771 a 1780, cerca de 33 (22,15%) do montante de 149 testamentos realizados
pelos portugueses durante o século XVIII. Para termos noção desse montante, iden-
tificamos apenas 3 (2,01%) testamentos entre os anos de 1711 a 1720, 5 (3,36%)
entre 1721 a 1730, 6 (4,03%) entre 1731 a 1740, 14 (9,40%) entre 1741 a 1750,
24 (16,11%) entre 1751 a 1760, 26 (17,45%) entre 1761 a 1770, 21 (14,09%) entre
1781 a 1790, 17 (11,41%) entre 1791 a 1800 e apenas 2 (1,34%) registros no século
XIX. Atentamos também para o número de pedreiros que expressaram suas vontades
nos testamentos, conferir Quadro n.º 1.
Os dados sugerem que, sobretudo a partir da segunda metade dos setecentos, já
havia condições propícias ao acúmulo de bens, concentrados em poder de parte da
população reinol e seus beneficiários. Nesse período, observam-se além do apuro
arquitetônico nas edificações urbanas, maior preocupação com o ordenamento do
espaço nas vilas e cidades, fato exemplificado nas realizações ocorridas na sede da
Capitania, entre os anos de 1740 a 1760, como salienta Vasconcellos7.
O apuro em tais obras era reflexo das oportunidades e da ocorrência de mão-
de-obra especializada na Capitania, sobressaindo-se nessa conjuntura a atuação
de portugueses como: o entalhador Felipe Vieira, o abridor de cunhos João Gomes
Batista, o engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim (Sargento Mor), o carpinteiro
e Mestre de Obras Reais Manoel Francisco Lisboa e o pintor José Soares de Araújo
(Guarda Mor), dentre outros. Nota-se ainda o expressivo número de entalhadores
bracarenses que atuaram nas Minas (ver Quadro n.º 1).
Em Minas Gerais, havia ambiente propício ao desenvolvimento das artes e dos
ofícios, fato associado às rivalidades existentes entre os diversos grupos da sociedade
local, às regulações estabelecidas pelas corporações religiosas, ao controle camarário
desempenhado por meio dos juízes de ofícios, à realização de experiências práticas, às
possiblidades de aprendizado disponíveis aos muitos entalhadores, ferreiros, marcenei-
ros, ourives, pedreiros pintores, serralheiros e torneiros atuantes nas vilas e cidades.
Nesse ambiente fervilhante de ideias, reforçamos a importância de detectar os meios
de repasse de conhecimentos. Sabe-se, por exemplo, de uma possível ligação entre
Antônio Francisco Lisboa (c.1730-1814), mais conhecido pelo codinome “Aleijadinho”, e
o desenhista, pintor, também abridor de cunhos, João Gomes Batista (?-1788), discípulo
de Francisco Vieira na cidade de Lisboa, segundo registro do Vereador Joaquim José
da Silva da Câmara de Mariana (1782). Além dessa e de outras influências recebidas,
num mundo pautado por empreitadas, louvações e riscos atribuídos a Manoel Francisco
Lisboa8, salientamos que Antônio Francisco Lisboa é reflexo de uma época favorável
ao desenvolvimento de habilidades técnicas e ao apuro das artes.
No referido mundo, não podemos negar que os portugueses disseminaram conhe-
cimentos, procedimentos e técnicas relacionadas às origens e às demandas existentes.
O entendimento dessas questões certamente contribuirá com novas possibilidades
de pesquisa.
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