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EUCARÍSTIA

O texto menciona os verbos gregos eucharistein (Lc 22,19; 1 Co11,24) e eulogein (Mt 26,26; Mc 14,22),
que guardam relação com as bênçãos judaicas nas quais se louvava e agradecia a Deus pelas Suas obras:
a criação, a redenção e a santificação (cf. CIC 1328).
No texto evangélico de São Lucas, originalmente escrito em grego, Jesus emprega esse verbo na
celebração da Última Ceia: εὐχαριστήσας (“eucharistēsas”), na passagem em que Ele “dá graças”, parte
o pão e o dá aos discípulos (São Lucas 22,17-19).

Memória é toda capacidade de conservar mentalmente informações e dados sobre pessoas, fatos ou
circunstâncias. É um testemunho daquilo que aconteceu no passado ou acontece na atualidade. Para as
coisas futuras não há memória, e sim mera expectativa.

Nisto, temos a distinção entre MEMÓRIA PÓSTUMA (passada ou reminiscente) e MEMÓRIA ATUAL
(memória real ou em movimento).

MEMÓRIA PÓSTUMA = mneuma (Grego Koiné: μνημόσυνον)


MEMORIAL ATUAL = anamnésis (Grego Koiné: ἀνάμνησιν)

Exemplo de memorial póstumo ou mneuma (μνημόσυνον) é dado por Cristo em relação à mulher que
lhe ungiu com perfume ao professar fé no sacrifício do Cordeiro:

"Derramando esse perfume em meu Corpo ela fez em vista da minha sepultura. Em verdade eu vos
digo: Em toda parte onde for pregado este Evangelho pelo mundo inteiro, será contado em sua
MEMÓRIA o que ela fez." (Mateus 26, 12-13)

No idioma Grego Koiné, idioma originário do Novo Testamento, o versículo 13 está assim:

“ἀμὴν λέγω ὑμῖν, ὅπου ἐὰν κηρυχθῇ τὸ εὐαγγέλιον τοῦτο ἐν ὅλῳ τῶ κόσμῳ,λαληθήσεται καὶ ὃ
ἐποίησεν αὕτη εἰς μνημόσυνον(mneuma) αὐτῆς”

Fonte de Mateus 26,13 no Grego Koiné: https://biblehub.com/text/matthew/26-13.htm

Já o MEMORIAL em movimento ou anamnésis (ἀνάμνησιν), implica memorar uma realidade atual


daquilo que é real, acessível e palpável, cuja existência independente de sua própria memória. É um
memorando presencial estabelecido pela ligação da razão, dos afetos e dos sentidos com o fato atual.

É a lembrança, não do que já acabou e passou, mas daquilo que ainda vivemos, e por isso é um
memorial mais perfeito e completo que o simples memorial póstumo.

O memorial presencial que emerge da memória em movimento é perfeito e completo, porque além nos
fazer lembrar de algo em todos os seus detalhes e contornos, nos permite interagir com o que está
sendo lembrado.
Por exemplo, um carro comprado há muitos anos, e que fora destruído, existe na memória do seu
antigo dono apenas enquanto lembrança; ao passo que o automóvel que atualmente ele possui está na
sua memória enquanto realidade concreta, em interação sensível. O automóvel atual é o fato atual,
porque está presente em memória atual diante de nós.

Assim é o memorial EUCARÍSTICO do Corpo e do Sangue de Cristo, Corpo este, que está DIANTE DE NÓS,
sob as aparências do pão e vinho consagrados. A Ceia é a anamnésis que significa o MEMORIAL DE
CORPO PRESENTE.

“Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: ISTO É O MEU
CORPO, que é dado por vós; fazei isto em MEMÓRIA DE MIM." (Lucas 22, 19)

No idioma Grego Koiné, idioma originário do Novo Testamento, está assim:

“καὶ λαβὼν ἄρτον εὐχαριστήσας ἔκλασεν καὶ ἔδωκεν αὐτοῖς λέγων, τοῦτό ἐστιν τὸσῶμά μου τὸ ὑπὲρ
ὑμῶν διδόμενον· τοῦτο ποιεῖτε εἰς τὴν ἐμὴν ἀνάμνησιν(anamnésis)”

Fonte de Lucas 22,19 no Grego Koiné: https://biblehub.com/text/luke/22-19.htm

Memorial da realidade do CORPO PRESENTE ou anamnésis (ἀνάμνησιν), não do pensamento, nem da


ideia do fato passado.

Então, Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do
Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e
bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é
VERDADEIRAMENTE uma comida e o meu sangue, VERDADEIRAMENTE uma bebida.” (João 6, 53-55)

VERDADEIRAMENTE no grego é alēthēs (ἀληθής) emprega sentido real, não simbólico.

Comparemos: — “tu és VERDADEIRAMENTE (ἀληθής) O FILHO DE DEUS.” (Mt 14, 33). E ainda: — “Eu
sou a VIDEIRA VERDADEIRA (ἀληθής)” (Jo 15, 1). Cristo também utilizou metáforas, comparando-se, por
exemplo, a uma “porta: “Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.” (Jo 10, 7) Mas a
palavra “verdade” aí empregada é “amēn” (ἀμήν) que é a confirmação de uma ideia, e não de uma
realidade fática, como alēthēs (ἀληθής).

Fonte de João 6,55 no Grego Koiné: https://biblehub.com/text/john/6-55.htm


Fonte de Mateus 14,33 no Grego Koiné: https://biblehub.com/text/matthew/14-33.htm
Fonte de João 10,7 no Grego Koiné: https://biblehub.com/text/john/10-7.htm

Definição de amēn (ἀμήν):


https://www.blueletterbible.org/lang/lexicon/lexicon.cfm?t=nasb&strongs=g281
Definição de alēthēs (ἀληθής):
https://www.blueletterbible.org/lang/lexicon/lexicon.cfm?t=kjv&strongs=g227
Neste sentido, dizia uma antiga profecia mosaica, à cerca da Eucaristia, prefigurada nos sacrifícios de
cordeiros para aspersão do sangue e ingestão da carne: “Este holocausto será PERPÉTUO e será
oferecido, em todas as gerações futuras, à entrada da tenda de reunião, diante do Senhor, ONDE VIREI A
VÓS, PARA FALAR CONTIGO”. (Êxodo 29.42)

Não à toa que o Apóstolo esclarece que a injúria contra o Pão e o Vinho Eucarísticos, é ofensa CONTRA o
CORPO e o SANGUE de Cristo, e não contra sua memória passada: “Portanto, qualquer que comer este
pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será CULPADO DO CORPO E DO SANGUE do Senhor.” (I
Cor 11, 27)

Ora, para ser réu contra o Corpo e o Sangue, há de haver Corpo e Sangue como realidades num
memorial presencial, e não como lembrança em memorial póstumo de um fato já cessado no tempo.
Comunhão é ato físico entre duas realidades concretas, e não entre duas manifestações intelectuais ou
psíquicas. Não podemos comungar com o inexistente, o qual não está no meio de nós, senão apenas
como lembrete. Por isso, está escrito em João 6, 51: “EU SOU O PÃO VIVO QUE DESCEU DO CÉU. QUEM
COMER DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE; E O PÃO, QUE EU HEI DE DAR, É A MINHA CARNE PARA A
SALVAÇÃO DO MUNDO.”

A Santa Missa é a perpetuidade desta Ação de Graça (“Eucharistia” em Grego Koiné), portanto, é uma
atualização do único e perfeito Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz, só que reapresentado de forma
incruenta em espécies eucarísticas, este é o Culto perfeito a Deus que, com efeito, envolve o Sacrifício
perfeito.

A necessidade de sacrifício como reconhecimento da nossa dependência de Deus sempre existiu. Essa
noção da Eucaristia como Sacrifício já era ensinado pelos Apóstolos como visto na Didaquê, escrita por
cristãos por volta do ano 70 d.C, ainda antes de alguns Livros do Novo Testamento: “Reúna-se no dia do
Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro.”
(Didaquê, Capítulo XIV — Fonte: http://www.newadvent.org/fathers/0714.htm)

Alguns Testemunhos sobre a Eucaristia da Igreja Primitiva:

“Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso
Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade,
ressuscitou.” (Epístola à Igreja aos Esmirniotas, Capítulo VII — Santo Inácio de Antioquia, Bispo de
Antioquia, nascido ano 35 e martirizado 108 d.C — Fonte:
http://www.newadvent.org/fathers/0109.htm)

“Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia
serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a
regeneração e vive conforme o que Cristo nos ensinou. De fato, não tomamos essas coisas como pão
comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do
Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração
ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças — alimento com o
qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne — é a carne e o sangue daquele mesmo
Jesus encarnado.” (A Primeira Apologética, Capítulo LXVI — São Justino de Roma, nascido ano 100 e
martirizado ano 165 d.C — Fonte: http://www.newadvent.org/fathers/0126.htm)

“Os que negam a salvação da carne, desprezam sua regeneração, declarando ser ela incapaz de receber
a incorruptibilidade. Se a carne não se salvará, então nem o cálice Eucarístico é a Comunhão com o seu
Sangue, nem o Pão que partimos é a Comunhão com sua carne. O Verbo de Deus nos remiu por seu
SANGUE, como disse o Apóstolo: – Nele temos a remissão por seu sangue, e a remissão dos pecados.
Por sermos seus membros, somos nutridos por meios da matéria criada, RECONHECENDO COMO SEU
PRÓPRIO SANGUE O CÁLICE, tirado da natureza criada com o qual fortifica o nosso sangue; e
PROCLAMOU SEU CORPO NO PÃO, de onde fortifica nossos corpos. Os nossos corpos, alimentados por
esta Eucaristia, ressuscitarão no seu tempo.” (Contra Heresias, Livro V, 2.2 p. 522 e 523 — Santo Irineu
de Lyon, nascido ano ano 130 e martirizado ano 220 d.C — Fonte:
http://www.newadvent.org/fathers/0103502.htm)

Por que na Eucaristia, após a consagração, não há mais pão e vinho?


https://magisteriotradicaoescrituras.com/2018/07/21/por-que-na-eucaristia-apos-a-consagracao-nao-
ha-mais-pao-e-vinho/

MISSA
Missa - Sacrifício
Eucaristia - Ação de Graça
Hóstia - Vítima
Liturgia da Palavra – Calvário

A Santa Missa é uma atualização incruenta do Sacrifício de Cristo. Atualiza o infinito mérito que Cristo
adquiriu no Calvário por nós. Não é outro sacrifício e nem uma repetição, portanto, Cristo não morre de
novo na Santa Missa. É sempre uma atualização do mesmo Sacrifício onde Cristo é reapresentado de
modo diferente; sobre as duas espécies eucarísticas (Pão e Vinho), e de forma incruenta; sem sangue e
sofrimento. Uma observação; mesmo recebendo somente numa espécie, normalmente o Pão, recebemos
integralmente o Corpo e o Sangue de Cristo. Esse é o culto perfeito à Deus, que implica sempre um
sacrifício, por isso que é motivo de excomunhão dizer que a Santa Missa é uma ceia, tal como os
protestantes dizem.

Um rito se concluí quando a série invariável de todos os seus elementos essências se realizam.
Quem realiza a Consagração e o Rito Eucarístico é somente o Sacerdote, in persona Christi,
seguindo a matéria e forma do Sacramento. Por isso que não há Missa sem Sacerdote, mas há
Missa somente com o Sacerdote sem fiéis, pois só o Sacerdote é necessário e tem a faculdade
para realizar o Rito Eucarístico. O fiel, que não é essencial para a realização do Rito, está ali
para Comungar com o Jesus Sacramentado e, portanto, basta para ele a mínima partícula de
Hóstia Consagrada, pois ali se encontra a totalidade do Corpo de Jesus Cristo. A Santa Igreja
inibiu a distribuição do Vinho em vista da profanação, pois o Vinho pode ser fácil derramado,
profanando o Corpo de Jesus Cristo. Contudo, há lugares que o fiel comunga com as duas
espécies eucarísticas, embora, repito, não seja necessário.

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