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pt/ruivo)
Noutros tempos, pouco ou nada se sabia fora das paredes das instituições educativas; ou
então, tudo se perdia entre regras de falsa etiqueta proporcionadas pela paridade e
homogeneidade dos grupos sociais que tinham acesso à escola, sobretudo aos níveis de
escolaridade mais avançados. Hoje, felizmente, sabe-se mais e, sobretudo, sabe-se
melhor. Por exemplo, dizem-nos que 40 por cento das crianças portuguesas são vítimas
de bullying. E, nesse escandaloso número, ainda nem se contabiliza a violência
psicológica exercida por alguns jogos de consola, por alguns sites que as crianças e
jovens visitam e até por alguns programas de televisão a que assistem, sem qualquer
controle parental.
Finalmente, tenhamos em conta que a exponencial evolução dos meios e dos processos
de comunicação de massas (internet, telemóveis, PCs portáteis, fotografia e filme
digitais…) permitiu que o bullying ultrapassasse rapidamente as portas da escola, do
bairro, da cidade, do país… revelando-se um verdadeiro campeão de audiências nas
redes sociais da internet – referimo-nos, claro está, ao cyberbullying, associado ao
cybercrime.
Nesta sociedade que tarda a reencontrar-se e onde até a imbecilidade humana tem
direito à globalização; onde infelizmente não sobram exemplos de coerência e de ética;
onde as famílias se constituem mais com base no “ter” do que no “ser”; onde se permite
que todos os dias se destrua um pouco mais deste planeta que é única casa de todos, não
é de estranhar que desde muito cedo (98% das mães americanas inquiridas admitiram
que os seus filhos, com menos de dois anos de idade, já tinham acesso e brincavam na
internet…) se incrementem as tentações totalitárias, desumanas e irracionais e que estas
se sobreponham ao prazer de brincar, de conviver e de aprender com o “outro”.
Por isso, hoje, a diferença situa-se na ténue fronteira da amplitude a que pode chegar a
pressão dos pares sobre o indivíduo (o mal são os outros?), e da justificação que se
quiser dar ao livre arbítrio que conduz à selecção da vítima e da motivação.
João Ruivo
ruivo@ipcb.pt