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A Morte Da Razão - Francis Schaeffer PDF
A Morte Da Razão - Francis Schaeffer PDF
RAZAO
Francis Schaeffer
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Francis Schaeffer
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A m orte da Razão. Traduzido do original em inglês: Escape from Keason
C opyright© 1968 por Inter-V arsity Press, Leicester, In g laterra
D ireitos reservados pela:
ABU Editora S/C
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cursos de treinam ento. A ABUB faz p arte da IFES - Internacional Fellowship o f Evangelical
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tos estudantis sem elhantes por todo o mundo.
07-3496 C D D -2 3 1.042
Nota do E ditor..................................................................................... 5
Prefácio................................................................................................. 7
Capítulo 1 ............................................................................................. 9
Natureza e graça. Tomás de Aquino e o autônomo. Pintores e
escritores Natureza versus Graça. Leonardo da Vinci e Rafael.
Capítulo 2 ............................................................................................ 18
Uma unidade de natureza e graça. A Reforma e o homem. Mais
acerca do homem. Reforma, Renascença e moral. 0 homem
integral.
Capítulo 4 ............................................................................................. 40
O salto. Existencialismo secular. Existencialismo religioso. A Nova
Teologia. Experiências do andar superior. Análise lingüística e 0
salto.
Capítulo 5 ............................................................................................. 49
A arte como salto no andar superior. A poesia: Heidegger no período
final. A arte: André Malraux. Picasso. Bernstein. A pornografia. O
Teatro do Absurdo.
Capítulo 6 ............................................................................................. 58
Loucura. O andar superior no cinema e na televisão. Misticismo do
andar superior. Jesus, a bandeira indefinida.
Capítulo 7 .............................................................................................
Racionalidade e fé. A Bíblia pode manter-se por si só. Começando de
mim mesmo, mas... A fonte do conhecimento de que necessitamos.
A mentalidade do "salto no escuro". O imutável num mundo
mutável
5
NOTA DO EDITOR
PREFÁCIO
1
Natureza e graça
GRAÇA
NATUREZA
Pintores e escritores
GRAÇA - UNIVERSAIS
NATUREZA - PARTICULARES
16 A M ORTE DA R A Z Ã O
ALMA - UNIDADE
' Leonardo D a Vinci ( R eynal- Co., N ew York, 1963),p p l 63-174: O pensamento de Leonardo.
2
Uma unidade de
Natureza e graça
A essa altu ra, é im p o rtan te observar certas relações históricas.
C alvino nasceu em 1509. Suas Institutas foram escritas em 1536. L eo
nard o faleceu em 1519, m esm o ano em que se travou a D isputa de Lei-
pzig, entre L utero (1483-1546) e Eck. O rei que tinha levado L eonardo
para a França no final da vida foi Francisco I, a quem C alvino havia
enviado suas Institutas. C hegam os, pois, a um p o n to de justaposição
da R enascença e da R eform a. Q u a n to ao problem a da unidade, a Re
form a deu resposta com pletam ente op o sta à da Renascença. A R efor
ma repudiou tan to a form ulação aristotélica q u an to a neo-platônica.
Q ue resposta deu, então? Sustentou que a raiz da dificuldade brotava
do velho e crescente H um anism o cultivado na Igreja C atólica R om ana
e do conceito incom pleto da Q ueda expresso na teologia de Tom ás de
Aquino, que contem plava o hom em com o autô n o m o , livre. A Refor
ma aceitou a noção bíblica de um a Q ueda to tal, absoluta. O hom em
em sua to talid ad e era o b ra de Deus; agora, porém , é decaído em toda
a sua n atureza, inclusive o intelecto e a vontade. Em contraste com a
posição to m ista, adm itia que som ente D eus é autônom o.
Isso era verdadeiro em duas áreas. Em prim eiro lugar, nada havia
de au tô n o m o na área de autoridade final. Para a R eform a, o conheci
m ento final e suficiente residia na Bíblia, isto é, som ente na E scritura,
em contraste com a idéia de que estava na E scritura e tam bém em
o u tra coisa paralela, fosse a Igreja ou a teologia natural. Em segundo
lugar, não existia a m ínim a idéia de que o hom em fosse autô n o m o
na área da salvação. A posição católico-rom ana defendia um a obra
dividida de salvação - C risto m orreu p ara a nossa salvação, m as o
hom em teria que m erecer o m érito de C risto. Assim, entrava em jogo
o elem ento hum anista. O s reform adores declararam que não há nada
que o hom em possa fazer; nenhum esforço hu m an o m oral ou religio
Uma unidade de Natureza e Graça
19
so, hum an ista ou au tônom o, pode ajudar. Somos salvos unicam ente
com base na o b ra consum ada de C risto, q uando m orreu no espaço e
no tem po na história, e o único m eio de o bter a salvação é elevar as
m ãos vazias da fé e, pela graça de Deus, aceitar o dom g ra tu ito de
Deus - a fé som ente.
Isso po sto , não existe divisão em nenhum a dessas duas áreas.
N ã o há divisão no conhecim ento norm ativo final - p o r um lado, entre
o que a Igreja ou a teologia n atu ral diriam e o que a Bíblia afirm a;
nem , p o r o u tro , entre o que a Bíblia e os pensadores racionalistas ca
tegorizariam . Tam bém não havia divisão na obra da salvação. Era só
a E scritura e só a Fé.
O s evangélicos devem observar, nesse pon to , que a R eform a afir
mou “a E scritura so m en te” e não “ a Revelação de Deus em C risto
som ente” . Se não tem os o m esm o conceito das E scrituras que os re
form adores tiveram , não contam os com o real conteúdo da palavra
“C risto ”, e essa é a m oderna tendência na teologia. O term o é u tili
zado sem co n teúdo pela teologia m o derna, pois percebe um “ C risto ”
inteiram ente alienado das Escrituras. A R eform a, porém , seguiu o en
sino do p ró p rio C risto, vinculando a revelação que fizera de Deus com
a revelação escrita, a Escritura.
A Bíblia oferece a chave para dois tipos de conhecim ento: o co
nhecim ento de D eus e o conhecim ento do hom em e da n atureza. As
grandes confissões da Reform a acentuam que Deus revelou Seus a tri
butos ao hom em nas E scrituras e que essa revelação revestiu-se de
significado tan to p arta D eus com o p ara o hom em . N ão poderia ter
havido a R eform a, nem cultura reform ada na E uropa S etentrional,
sem a com preensão de que Deus fala ao hom em na Bíblia e de que,
p o rta n to , conhecem os algo verdadeiram ente acerca de Deus porque
ele p ró p rio revelou isso ao hom em .
N o interesse contem porâneo em com unicação e lingüística, é im
p o rta n te lem brar o princípio de que, na form ulação bíblica, em bora
não tenham os a verdade com pleta, auferim os da Bíblia o que eu ch a
m o de “verdade verdadeira” . D iante disso, conhecem os a verdade ver
dadeira acerca de Deus, a verdade verdadeira acerca do hom em e algo
verdadeiro acerca da natureza. Desse m odo, com base nas Escrituras,
em bora não tenham os conhecim ento com pleto, alcançam os conheci
m ento verdadeiro e unificado.
20 A M ORTE DA R A Z Ã O
A Reforma e o homem
Temos que ver algo m ais acerca do hom em . Para isso, é preciso
ter em m ente que tu d o no sistem a bíblico rem onta a Deus. A dm iro o
sistem a bíblico com o sistem a. Em bora possam os não gostar da co n o
tação do term o sistem a, pois parece um tan to frio, isso não quer dizer
que o ensino bíblico não constitua um sistem a. Tudo rem ete ao p rin
cipio, e dessa form a o sistem a reveste-se de beleza e perfeição únicas,
um a vez que tu d o se acha sob o ápice do sistem a. Tudo com eça com
um D eus que está “presente”. Esse é o princípio e o ápice do to d o ,
tudo daí em an an d o de m aneira não co n trad itó ria. A Bíblia diz que
*Jeus e um Deus vivo e conta m uito a Seu respeito. Talvez o que pareça
Uma unidade de Natureza e Graça
23
Abismo
Homem
Animal
Vegetal
Máquina
O homem integral
GRAÇA
NATUREZA
3
A ciência moderna
nos primórdios
A ciência exerceu papel de grande destaque na situação que tem os
delineado. O que nos im p o rta reconhecer, entretanto, é que a ciência
m o derna, em seus p rim órdios, foi o p ro d u to daqueles que viveram
no consenso e cenário do C ristianism o. Um hom em com o J. R obert
O ppenheim er, p or exem plo, apesar de não ser cristão, com preendeu
esse fato. Ele afirm ou que o C ristianism o era necessário para d ar o ri
gem à ciência m oderna. O C ristianism o era necessário para o com eço
da ciência m oderna pela simples razão de que o C ristianism o criou
um clim a de pensam ento que colocou o hom em em posição de inves
tig ar a form a do universo.
Jean Paul Sartre (1905-1980) afirm ou que a grande questão filo
sófica é que algo existe e não que nada existe. N ão im p o rta o que o
hom em pensa, ele tem de se haver com o fato e o problem a de que
há algo que realm ente existe. O C ristianism o oferece um a explicação
do porquê dessa existência objetiva. Em contraste com o pensam ento
oriental, a trad ição hebraico-cristâ afirm a que Deus criou um univer
so real fora de Si mesmo. N ão estou atribuindo à expressão “fora de Si
m esm o” um a acepção espacial; quero apenas dizer que o universo não
e um a extensão da essência de Deus. N ão é sim plesm ente um sonho
de Deus. Algo existe realm ente, p ara se pensar, com que tra ta r e p ara
investigar, revestido de um a realidade objetiva. O C ristianism o o u to r
ga a certeza da realidade objetiva e de causa e efeito, certeza suiicien-
tem ente sólida para que sobre ela se assente o fundam ento do saber.
Assim, existem realm ente o objeto, e a história, e a causa, e o efeito.
Além disso, m uitos dos prim eiros cientistas tiveram a m esm a
perspectiva geral de Francis Bacon (1561-1626), que afirm ou, na obra
Novum O rganum Scientiarum (O novo órgão da ciência): “O hom em ,
pela Q ueda, decaiu ao m esm o tem po do estado de inocência e d o d o
28 A M ORTE DA R A Z Ã O
Kant e Rousseau
LIBERDADE
NATUREZA
Hegel
GRAÇA
NATUREZA
LIBERDADE
NATUREZA
FÉ
RACIONALIDADE
A Ciência moderna nos primórdios
37
FILOSOFIA
1
KANT
A LINHA DO
i
- HEGEL -
DESESPERO ARTE
I
KIERKEGAARD MUSICA
/ \ CULTURA GERAL
EXISTENCIALISMO EXISTENCIALISMO
TEOLOGIA
SECULAR RELIGIOSO
do século 21, que pensam conform e o novo prism a e não acham que
verdade seja verdade nem que direito seja direito?
A grande m assa recebeu o novo m odo de pensar m ediante os
m eios de com unicação sem analisá-lo. T anto pior para eles, porque
foram atingidos diretam ente, já que o cinem a, a televisão, os livros,
a im prensa, as revistas sofreram um a com pleta infiltração das novas
form as de pensam ento, sem que houvesse análise ou crítica. In terp o s
ta com o que num bolsão entre os intelectuais e a classe o perária, en
contra-se a classe m édia superior. Sem dúvida, um a das dificuldades é
que a m aioria de nossas igrejas enquadra-se nessa faixa de classe m é
dia superior, e o m otivo p o r que os cristãos n ão estão entendendo os
p ró p rio s filhos é que estes estão sendo educados em função do o u tro
m odo de pensar. N ã o é que sim plesm ente eles pensem coisas diferen
tes. E que sua m aneira de pensar sofreu m udanças de tal ordem que a
frase “ O C ristianism o é verdadeiro” n ão significa p ara eles o m esm o
que p ara nós.
Em terceiro lugar, esse m odo de pensar dissem iftr.u --w por meio
de sucessivas disciplinas, com o representado no diagram a anterior: a
filosofia, depois a arte, em seguida a m úsica, então a cultura gera! -
que pode ser dividida em determ inado núm ero de áreas - e finalm ente
a teologia. N a arte, p o r exem plo, tem os os grandes im pressionistas -
Van G ogh (1853-1890); G aughin (1848-1903) e Cézanne (1839-1906).
Seguem-se os pós-im pressionistas. E assim nos acham os em pleno
m undo m oderno. N a m usica, Debussy (1862-1918) é o vestíbulo. N a
cu ltura geral, pode-se pensar em T. S. Eliot em seus prim eiros tem pos.
O vulto que abriu os p o rtais da teologia foi Karl M arx.
N o d iag ram a, cham o essa linha de L inha do Desespero. N ão que
todos os que se enco ntram abaixo da linha chorem e clam em , ainda
que alguns, com o o p in to r Francis Bacon, tenham feito isso. G iaco-
m etti tam bém agiu assim - m orreu aos prantos.
Q ue é esse desespero? E a resultante da perda da esperança de
um a resposta unificada ao conhecim ento e à vida. O hom em m oder
no continua a se apegar ao racionalism o e à revolta au tô n o m a que
o caracterizam , em bora p ara agir assim ele tenha de abrir m ão de
qu alq u er esperança racional de um a resposta unificada. N o período
precedente, os hom ens de cultura não desistiam da racionalidade e da
esperança de um cam po unificado de conhecim ento. O hom em m o
A ciência moderna nos primórdios ^
2 No livro T H E GOSD WHO IS T H E R E ( 0 Deus que intervém - Hodder and Stougkton, Lon
dres, 1968), mostrei com pormenores o desenvolvimento processado abaixo da linha de Dísespero
nessas áreas (filosofia, arte, música, cultura geral e teologia), desde o tempo quando baixaram a
essa posição até opresente.
40
4
O salto
Existencialismo secular
Existencialismo religioso
A Nova Teologia
No estado marxista, o árbitro absoluto éo estado, que estabelece absolutos pormenorizados e arbitran-
tes como leis, com vistas a conferir unidade no turbilhão de seu materialismo hegeliano. Os artistas
foram, a princípio, os sustentá-culos da Revolução, mas, ao mesmo tempo (graças a suas modernas
formas de arte, baseadas emformas depensamento modernas), constituíram uma ameaça que teria
de ser debelada, porque desafavam a suficiência do estado e suas leis em relação a: (a) signifcado do
indivíduo; fb) tentativa de restringir o desenvolvimento naturalpartindo dopensamento hegeliano
epolarizando~se para com umaprogressiva carência de sentido, como se temprocessado no Ocidente.
Teóricos, como Adam Schajf de Varsóvia, estão procurando um meio de descobrir um sentido para
o indivíduo, sem se engolfar no crescente caos do Ocidente. 0 relativismo hegeliano é consenso em
ambos os lados da Cortina de Ferro; assim, no se?itido mais básico, a situação em ambos os lados da
Cortina de Ferro é uniforme, em ambos os lados o homem está morto. 0 Ocidente pode ressaltar
a perda de significado do indivíduo em conseqüência da supressão política e da lavagem cerebral
reinantes nos Estados Comunistas, mas o indivíduo igualmente perde o significado no Ocidente.
Pode-seperguntar, afim de conter o caos crescente, se isso não levará rapidamente à supressãoprática
do indivíduo no Ocidente de igual modo. Nesse aspecto, é de se lembrar a sugestão deJohn Kenneth
Galbraith quanto a um estabelecimento científico e acadêmico —Elite Estatal ”ou o provocativo
conceito deAlien insberg sobre um sistema de castas à moda da índia.
2 Allen and Un-win, Londres, 1961.
5
A arte como salto
no andar superior
silen ce” (As vozes d o silên cio), a últim a seção é in titu lada “A co n se
qüência d o a b so lu to ". N ela, ele revela que entende m uito bem a m u
dan ça que se tem o p erad o ante o m odern o falecim en to d a esperan ça
de um absoluto.
H á , na a tu alid ad e, m uitos livros em p en h ad o s em co n co rd ar com
ele. N o num ero de 6 de ou tu b ro de 1966 da R evista N o v aio rq u in a de
Livros, diversos livros sã o d iscu tid o s. N esse exem plar, en con tram os
o seguinte co m en tário : “ T od as as o b ra s de M a lra u x são b isse tad as...
sem p o ssib ilid ad e de reso lu ção , entre d u as p o siçõ e s, no m ínim o: um
an ti-h u m an ism o b ásico (represen tado, con form e a s circun stân cias,
por orgulh o intelectual, busca de poder, erotism o e assim p o r diante)
e um a a sp ira ç ã o em últim a in stân cia irracion al p ara com a carid ad e,
ou um a escolh a racion alm en te injustificável a favor d o h om em ” .
Em ou tras p alavras, há um a 1 iú p olarid ad e” em M alrau x —no an
d ar superior algo se insere na arte que n ão tem nenhum a base racional.
E a asp iração de um ser h um ano alien ado da racionalidade. C o m base
na racionalidade, o hom em n ão tem esperança; entretanto, volta-se para
a arte co m o arte p ara provê-la. Ele o u to rg a um p o n to de in tegração,
um salto , um a esp eran ça de liberdade no âm b ito d aq u ilo que a m ente
sabe ser falso. E sta m o s em situ aç ão de p erd ição e sab em o s d isso , m as
nos voltam os p ara a arte e ten tam os encon trar um a esperan ça que s a
bem os, p o r força da razão , n ão existir. Prossegue e revista: “ M a lra u x
se eleva acim a desse d esesp ero ap elan d o eloqüentem ente a si p ró p rio
e a ou tros p ara que vejam a id en tid ad e d o hom em na ate m p o ralid ad e
da a rte ” . P ortan to, a o b ra de M a lra u x em seu to d o - seus rom an ces,
sua h istoria da arte , sua ativid ad e de M in istro d a C u ltu ra d a França
- é um a g ig an tesca ex p re ssão desse ab ism o e desse salto.
O sistem a que n os circunscreve, de d icoto m ia e salto , é m o n o lí
tico. N a In glaterra, Sir Herberí. R ead en q u ad ra-se n essa m esm a ca te
goria. N a o b ra The p h ilosofy o f m odern art (A filosofia d a arte m o
derna), ele m ostra que entende a situ aç ão q u an d o afirm a, acerca de
C au gu in : ‘G au gu in su bstitu iu o am o r d o hom em p ara com o C riad o r
por seu am o r pela beleza (com o um p in to r)” . M a s em sua m aneira de
ver a realidade, ele diz tam bem que a razão deve d ar lu gar à m ística da
arte —n ão ap en as teoricam en te, m as ain d a co m o o p o n to de p a rtid a
a e d u cação p a ra o am an h ã. N a o b ra de Sir H erbert R ead , a arte é
outra vez p ro jetad a co m o a resp o sta co n segu id a pelo salto.
52 A M O R TE DA RA ZÃ O
Picasso
Bernstein
E sta m o s eviden cian do que nos d efro n tam o s h oje com um co n cei
to q u ase m on olítico de d ico to m ia e sa lto ; além d isso , um a vez a d m i
tido o salto , n ão faz realm ente diferença o que se co lo ca no a n d ar su
perior nem em que term os ou m esm o sistem a de sím b o lo s esse a n d ar
se expressa. L e o n ard o Bernstein, p o r exem p lo, em sua o b ra K ad d ish ,
sugeriu que a m úsica é a esp eran ça que há no a n d ar superior. A es
sência d o hom em m odern o está em su a ace itação de um a situ aç ão em
dois níveis, n ão im p orta que term os ou sím b o lo s se em preguem p ara
expressar esse fato . N a área da razão , o hom em está m orto , e sua úni
ca esperan ça é alg u m a form a de salto n ão a b erto à co n sid e ração da
razão. N ã o há p o n to de co n tato entre esses dois níveis.
A pornografia
O PORNOGRÁFICO AUTÔNOMO
A ÚNICA ESPERANÇA DA LIBERDADE E DO HOMEM
RACIONALIDADE - O HOMEM ESTÁ MORTO
O Teatro do Absurdo
6
Loucura
Misticismo do an d ar superior
O NÃO-RACIONAL_______________________ JESUS
RACIONAL - DEUS ESTÁ MORTO
64 A M O R TE DA RA Z Ã O
p a ssa hoje. N ã o devem os esquecer que o gran d e inim igo que está p ara
vir é o A n ticristo. Ele n ão é um an ti-n ão-C risto. E A n ticristo. C a d a
vez m ais, nesses últim os an o s, o term o “ Je s u s ” , d e sp o ja d o do co n teú
do bíblico, tem -se to rn ad o o inim igo do Je su s da h istoria, o Je su s que
m orreu e ressuscitou e virá pela segun d a vez, o eterno Filh o de D eus.
S ejam os, p o is, cu id a d o so s, Se os cristão s evangélicos com eçarem a ce
der à d ic o to m ia, sep aran d o o encontro com Je su s do co n teú do d as
E scritu ras (inclusive do discutível e do verificável), m esm o sem querer
estarem os lan çan d o tan to a n ós m esm o co m o a geração vin dou ra no
redem oinho do sistem a m oderno. E sse sistem a nos cerca co m o um
con sen so q u a se m onolítico.
A lgu m as d a s con seqü ên cias de se lan çar a fé contra a ra cio n a lid a
de em linhas que n ão refletem a perspectiva bíblica p odem ser enun
ciad a s nos term os a seguir.
A prim eira con seqüên cia de se co lo car o C ristian ism o no an d ar
superior diz respeito à m oral. Surge a q u e stão de co m o estabelecer
um relacion am en to de um C ristian ism o 110 an d ar su perior em term os
7
Racionalidade e fé
de m oral na vida co tid ian a. A resp o sta sim ples é que isso n ão é p o s
sível. C o m o vim o s, n ão ha ca te g o ria s no an d ar superior; p o rtan to ,
não há m an eira de provê-lo com q u alq u er espécie de cate g o rias! Em
con seqüên cia, o que realm ente define o ch am ad o “ ato c ristã o ” hoje
é sim plesm ente o que o gen eralizad o co n sen so d a igreja ou o d o m i
nante con ceito d a socied ad e ad m ite co m o desejável em determ in ad o
m om ento. N ã o se pode ter verdadeira m oral no m undo real um a vez
íeita essa d isso ciaçã o . O que nos resta, em tais circun stân cias, é um
form ulário de n o rm as éticas inteiram ente relativas.
A segun da con seqü ên cia d essa d isso c iaç ã o é que n ão se tem um a
base a d eq u ad a p ara o direito, p a ra a lei. O sistem a legal da R efor
ma era totalm en te calcad o no fa to de que D eus revelara alg o real na
própria essência d a s c o isas com un s d a vida. H á , no an tigo prédio do
Suprem o 1 ribunal de L au san n e, na Su íça, um lindo q u ad ro p in tad o
por Paul R obert in titu lad o A ju stiça in struin d o os juizes. N a p arte d a
frente desse avan tajad o m ural, exibe-se n ão p o u co litígio e con tenda
- a esp o sa co n tra o m arid o, o arqu iteto co n tra o co n stru to r e assim
por diante. C o m o devem os juizes p roceder p a ra ju lg ar a s ca u sa s em
disputa? E ssa é m an eira co m o exercem os o ju ízo em um p a ís refor
m ado, diz Paul R obert. Ele pin tou a Ju stiç a com a esp a d a ap o n tan d o
para um livro sobre o qual se lêem e stas p alavras: “A Lei de D e u s” .
Psr-t o hom em d a R efo rm a, havia um a base p ara a lei, p a ra o direito.
O hom em m od ern o n ão ap en as repudiou a teologia cristã, m as ta m
bém alijou a p ossib ilid ad e d aq u ilo que n o sso s an cestrais assu m iam
com o base p ara a m oral e p a ra o direito.
O utra con seqü ên cia é que tal rejeição põe p o r terra a so lu çã o p ro
posta p ara o prob lem a d o m al. A resp o sta d a d a pelo C ristian ism o
a licerça-se na Q u ed a con cebida co m o ocorrên cia h istórica, no tem po
68 A M O R TE DA RA ZÃ O
C o m eçan d o d e m im m e s m o , m as...
N e ssa s circun stân cias, a B íb lia apresen ta o seu p ró p rio con ceito
sobre o que ela m esm a é. A Bíblia apresen ta-se co m o a co m u n ica
çã o da verdade p ro p o sicio n al de D eu s, escrita em fo rm a verb alizad a,
àqueles que sã o feitos à im agem de D eus. O p eran d o so b o p ressu p o sto
da u n iform id ad e d as ca u sa s n atu rais em um sistem a fech ado, tan to
o pen sam en to secu lar co m o o p en sam en to teológico n ão-b íblico da
atu alid ad e d iriam que isso é im possível. E n tretan to, é precisam en te
isso que a Bíblia afirm a apresen tar. T om em os, p or exem plo , o que
ocorreu no Sin ai (D t 5:23-24). D iz M o isé s a o povo: “ Vocês viram ; vo
cês o u v ira m ” . O que o povo ouviu (juntam ente com o u tras co isas) foi
um a co m u n icação p ro p o sicio n al v erb alizad a de D eus a o h om em , em
d eterm in ad a situ aç ão h istórica no tem p o e no esp aço. N ã o foi alg u m a
espécie de experiên cia existen cial, sem con teúd o, nem um salto anti-
intelectual. E x atam en te o m esm o tip o de co m u n icação é en con trado
no N ovo T estam en to, p o r exem p lo, q u an d o C risto fa lo u a Paulo em
hebraico no cam in h o de D am asco . T em os, p o rtan to , de um lad o , a e s
pécie de co m u n icação p ro p o sicio n al que D eu s ou to rga n as E scritu ras;
vem os, de ou tro, a quem se dirige e ssa co m u n icação p ro p o sicio n al.
A B íblia ensina que, em b ora o hom em se ache irrem ediavelm ente
perdido, nem assim ele é n ad a. O hom em está p erd id o p orq u e está
sep a ra d o de D eus, seu verdadeiro p o n to de referência, em ra zã o de
Racionalidade e Fé
75
nós m esm os, a o u tro s cristão s ou aqu eles que e stão totalm en te fora
do n o sso círculo.
A prim eira é que há certos fa to s im utáveis e verdadeiros. S ão f a
tos que n ão tem nennuima relaçao com as on d as e correntes em co n s
tante m udan ça. Eles fazem do sistem a cristão o que ele é, e se são
alterados o C ristian ism o converte-se em alg o diferente. E sse fa to re
quer ên fase, p orq u e há cristão s evan gélicos em n o sso s d ia s que, com
toda sin cerid ad e, estão p reo cu p ad o s com sua falta de com um cação-
m as no a fã de preencher o vácu o tendem a m u d ar o que deve p e rm a
necer in alterado. Se assim p roced erm o s, n ão m ais estarem os com uni"
can do o C ristian ism o , e o que stin al restara n ao sera m uito diferente
do co n sen so que nos cerca.
E n tretan to, se nos detiverm os nesse pon to, n ão poderem os ap re
sentar um q u a d ro h arm o n io so , equ ilib rad o. T em os de com preender
que estam o s enfren tan do um a situ aç ão h istórica que sofre ráp id as
tran sform ações e, se vam os n os lan çar à o b ra de fa la r acerca d o evan
gelho, p recisam o s conhecer q ual a presente flutuação d a s fo rm as de
pensam ento. A m enos que fa ç a m o s isso , os im utáveis prin cíp ios do
C ristian ism o c a irã o em o u vid os su rd os. E se v isam os a alcan çar os
intelectuais e os o p e rário s, d o is g ru p o s que se acham além do âm b ito
de n o ssas igrejas de classe m édia, en tão se im põe a nós um m in ucioso
esq u adrin h am en to d o co raç ão q u an to a co m o p od em os fa la r sobre o
que é eterno em um a situ aç ão h istórica em con stan te m udan ça.
E m uito m ais con fortável, n aturalm en te, contin u ar rotin eira
mente p ro c lam an d o o evangelho ap en as em frases fam iliares àqu eles
que constituem a classe m édia. Isso, entretanto, seria tão in ju stificá
vel quan to teria sid o, p o r exem plo, se H u d so n T aylor enviasse m issio
nários à C hina e lhes d eterm in asse que apren dessem apen as um dos
três d ialetos diferentes fa la d o s p o r aqu ele povo. Se fosse esse o caso,
apenas um entre o s três g ru p o s teria con d içõ es de ouvir o evangelho.
N ão p o d e m o s im agin ar que H u d so n T aylor tivesse um co raç ão tão
insensível. E claro que ele sab ia que os hom ens n ão crêem sem a obra
do E spírito S an to em seus co raçõ es, e sua vida foi to d a de o ra çà o para
que isso acon tecesse. M a s, ao m esm o tem p o, ele sab ia que os hom ens
não podem crer sem ouvir o evangelho. C a d a geração da igreja, em
suas circu n stân cias p articu lares, em seu p ró p rio cenário, tem a res
p on sab ilid ad e de co m u n icar o evangelho de m aneira que p o ssa ser
78 A M O R TE DA RA Z À O
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E D I T O R A
Respostas bíblicas
para o mundo hoje