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Reflexão ou imersão

Eduardo Marchiori

Estamos de fato em um momento decisivo na história desse país, não pelo fato de
termos uma candidata mulher a presidência, fato que já havia ocorrido com a tentativa de
Heloísa Helena em 2006 pelo PSOL, mas por termos uma participação mais ativa da população
no debate que envolve a escolha dos candidatos.

O texto de Durval Muniz de Albuquerque Júnior já começa com um elemento de


segregação, pois este logo se enquadra em uma parte privilegiada da população tendo
concluído o ensino superior e uma formação pós-graduada. Ora, o ensino superior ainda que
seja inacessível a uma grande parte da população não deve ser considerado um privilégio, é
senão condição básica para o desenvolvimento cultural do país, não devemos nos considerar
privilegiados por termos concluído ou estarmos cursando um curso superior, ao contrário,
devemos lutar que todos que o desejem possam cursá-lo.

A presença da mídia sempre foi muito forte e decisiva em eleições, cabe aos eleitores
terem a capacidade de discernir o que for real de boataria. Ataques políticos são comuns no
Brasil, o que o PSDB passou tendo o sigilo bancário de vários de seus membros quebrado já foi
realizado pelo mesmo e é, também, pratica comum na política brasileira.

No texto de Albuquerque há uma afirmação de que o debate estaria de forma


obscurantista, rasteira, mistificadora e preconceituosa, tratando de temas que interessariam
estreitamente a setores mais conservadores e retrógrados da sociedade brasileira, fazendo
assim ressuscitar forças e subjetividades “microfacistas”. Discordo completamente, tendo em
vista duas coisas. Primeiro, o debate não estaria seguindo rumos interessantes apenas para
uma pequena parte da população, estaria de acordo com a agenda de cada candidato e esta
tem como objetivo conseguir votos. Se estamos tratando do tema de aborto ou pesquisa com
células tronco, é interessante a população como um todo que esses temas sejam, sim,
discutidos. Errado seria evitar temas polêmicos com receio da perda de votos, ou ser
incoerente quanto a sua posição. Segundo, o fascismo tem como características a forte
propaganda do estado, o exagerado nacionalismo e presença forte do Estado na economia,
nada que não tenhamos visto nos últimos 60 anos.

O texto de Albuquerque se esquiva de apresentar motivos para se votar em Dilma


Roussef ou de rebater os motivos para não se votar nela. Trata basicamente de um ataque,
como muitos outros, ao candidato José Serra.

Gostaria de lembrar que o governo petista tem projetos de censura à mídia. E esta que
é conhecida como quarto poder tem todo direito de se defender, dentro dos limites legais.
Ainda mais quando se trata de um direito constitucional e de empresas privadas que teriam
sua proposta de serviço proibida de ser realizada.

O Brasil tem um papel muito importante na América Latina, porém tem sido deixado
de lado e diversas vezes cedeu a pressões externas. A atuação brasileira na política
internacional foi de destaque, excetuando-se no seu próprio continente. A busca por um
mercado ou apoio político na América do Sul é fútil, recheada de governos instáveis e de
mercados com produtos semelhantes ou subdesenvolvidos não temos nada a ganhar aqui.
Para não deixar a América do Sul com um olhar simplesmente econômico resolvi me
estender um pouco nesse tópico. Lembremo-nos da nacionalização de propriedade estatal em
território venezuelano (Petrobras). Do calote da Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador. Dos
conflitos internos dentro do continente nos quais o Brasil perdeu seu papel de mediador,
dentre outros incidentes que poderiam ter sido evitados com uma política internacional mais
severa com relação aos nossos vizinhos.

A luta das mulheres na sociedade brasileira, como a Lei Maria da Penha, aprovada
durante o governo petista, não será de qualquer forma anulada ou impedida. Não há mais
espaço na sociedade atual para preconceitos e segregação. O que ocorreu com Dilma foi ato
de pessoas preconceituosas e despreparadas, só posso dizer que tenho vergonha de saber que
esse tipo de ação ainda ocorra em nosso país.

Porém sabemos que não se pode condenar o candidato pelos boatos preconceituosos
que circulam. Todos sabemos que o mesmo tipo de coisa acontece com o candidato Serra,
recebendo apenas menos destaque. A culpa nesse caso é dos eleitores desapropriados de bom
senso e educação.

Retomando o texto de Albuquerque, em certa parte há menção que a candidatura de


Serra incita o preconceito contra o pobre e o nordestino se referindo a estes como “os que
votam com a barriga”. Nesse ponto devo salientar que nessa eleição o PT entrou com uma
ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei que exige
dois documentos para que o eleitor pudesse votar. O problema nessa questão é que o PT
temia uma grande abstenção de eleitores, além de perder os votos que compra no Nordeste e
Norte do país, locais tradicionalmente petistas. Uma vez que estamos falando de regiões onde
o nível de escolaridade da população é mais baixo e muitos são semi-analfabetos, é comum a
compra de votos por valores pequenos ou favores.

O PT, tanto quanto o PSDB, ou o DEM, ou qualquer outro partido, tem sua história
manchada pela corrupção. Não adianta voltar no tempo e atacar o Fernando Henrique
Cardoso, muito menos falar mal do atual governo petista, essas coisas não estão em questão.
Não passam de distrações do foco principal, quem são os candidatos, quais são as suas
propostas e o que podem ou não fazer por nós, brasileiros, todos, não apenas os
“privilegiados”.

Quanto ao modelo econômico do governo petista ou do modelo econômico do


governo FHC, creio que cada modelo foi adotado visando um objetivo. A Teoria da
Dependência, adotada durante o governo FHC, tem como base que o subdesenvolvimento não
pode ser ultrapassado seguindo os passos dados pelos países centrais até o desenvolvimento.
O caminho para o desenvolvimento seria uma reforma total do modelo nacional-
desenvolvimentista para quebrar o elo com os países centrais e iniciar o desenvolvimento de
dentro. Essas reformas neoliberais ocorreram em grande parte com empréstimo e resoluções
do FMI. O objetivo do governo FHC era controlar a inflação e desenvolver o mercado brasileiro.
As privatizações feitas no período foram marcantes e cheias de controvérsia devido a várias
irregularidades.

O modelo econômico adotado no governo Lula teve como objetivo controlar a


inflação e aquecer a economia. O desenvolvimento pregado pelo governo se dá ás custas de
impostos elevados para controle da inflação e arrecadação para a máquina do governo. Foram
feitas obras de infraestrutura e foram criados planos para diminuir os níveis de pobreza,
aumentar o acesso a educação, evoluir os canais de escoamento da produção nacional para o
litoral e investimentos em escolas para qualificação profissional.

Algumas propostas dos candidatos, para aqueles que só se importam em ler os jornais
e as fofocas, que expões suas opiniões sem antes se informar.

 Dilma:

o Não planeja realizar uma reforma da previdência.

o Criação de uma diretoria ou superintendência específica na Caixa


Econômica Federal para investir em habitação Rural

o Melhoria da infraestrutura de RN e a construção do Aeroporto de São


Gonçalo do Amarante e extensão da rodovia BR-110.

o Investir 7% do PIB em educação

o Construção do metrô em Porto Alegre e duplicar as rodovias BR-116 e


BR-386.

 Serra:

o Criação de uma Defesa Civil Nacional especializada em desastres


naturais.

o A favor da união de homossexuais

o Criação de similar a Lei Rouanet1 para financiar a saúde.

o Universalização da internet banda larga.

o Faria reforma da previdência para corrigir injustiças e eliminar


privilégios.

o Retorno dos mutirões de saúde, acelerar o programa de casas


populares e ampliar o Bolsa Família.

o Construção de mais 150 Ambulatórios Médico de Especialidade (AME)

1
Lei Rouanet: Lei de incentivos a cultura que tem como destaque incentivos fiscais que
possibilita a empresas destinar parte de seu IR devido em ações culturais. Sendo de 6% para
pessoas físicas e 4% para pessoas jurídicas. Tem como base a promoção, proteção e
valorização das expressões culturais nacionais.
Essas são apenas algumas das idéias dos candidatos, não sendo nem de perto o total
de propostas.

Finalizando, o texto de Durval Muniz de Albuquerque Júnior prega uma reflexão,


quando na verdade não há nada além de ataques. Creio que o correto é lembrar que
promessas e ataques são comuns no nosso sistema eleitoral e que cabe a cada eleitor pesar
aquilo que considera adequado às suas expectativas.

Não espero mudar a opinião de ninguém com o que escrevi e tenho a sabedoria de
que minha bagagem cultural e acadêmica não é tão grande, tanto que deixei de abordar mais
profundamente certos tópicos que planejava por haver necessidade de um estudo mais
profundo nos próprios, mas tenho esperança de não importando quem seja eleito o Brasil seja
beneficiado, indiscriminadamente.

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