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Tribunal Regional Eleitoral do Ceará

PJe - Processo Judicial Eletrônico

06/03/2023

Número: 0601363-30.2022.6.06.0000
Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral
Órgão julgador: Relatoria Corregedor Des. Raimundo Nonato Silva Santos
Última distribuição : 29/08/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Inelegibilidade - Abuso do Poder Econômico ou Político, Abuso - De Poder Econômico,
Abuso - De Poder Político/Autoridade
Segredo de Justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
Coligação DO POVO, PELO POVO E PARA O POVO
(REPRESENTANTE)
THIAGO ARAUJO MONTEZUMA (ADVOGADO)
SARAH FEITOSA CAVALCANTE (ADVOGADO)
FRANCISCO DIEGO POTE DE HOLANDA DO NASCIMENTO
(ADVOGADO)
JOAQUIM LUCIO MELO FREITAS (ADVOGADO)
JOAO DE AGUIAR PUPO (ADVOGADO)
MARIA IZOLDA CELA DE ARRUDA COELHO
(REPRESENTADA)
JOAO VICTOR DUARTE MOREIRA (ADVOGADO)
Procuradoria Geral do Estado do Ceará - PGE/CE
(TERCEIROS INTERESSADOS)
JANAINA CARLA FARIAS (REPRESENTADA)
WILKER MACEDO LIMA (ADVOGADO)
AUGUSTA BRITO DE PAULA (REPRESENTADA)
WILKER MACEDO LIMA (ADVOGADO)
WILSON EMMANUEL PINTO PAIVA NETO (ADVOGADO)
CAMILO SOBREIRA DE SANTANA (REPRESENTADO)
RODRIGO CAVALCANTE DIAS (ADVOGADO)
WILKER MACEDO LIMA (ADVOGADO)
JADE AFONSO ROMERO (REPRESENTADA)
RAUL CARDOSO PINHEIRO (ADVOGADO)
MARCELA VILA NOVA DE ALMEIDA BARBOSA
(ADVOGADO)
ELMANO DE FREITAS DA COSTA registrado(a) civilmente
como ELMANO DE FREITAS DA COSTA (REPRESENTADO)
RAUL CARDOSO PINHEIRO (ADVOGADO)

Outros participantes
PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ
(FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
19446460 06/03/2023 Parecer da Procuradoria Parecer da Procuradoria
13:41
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
Procuradoria Regional Eleitoral no Estado do Ceará

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL


PROCESSO Nº 0601363-30.2022.6.06.0000

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AUTOR: COLIGAÇÃO DO POVO, PELO POVO E PARA O POVO
RÉUS: ELMANO DE FREITAS DA COSTA, JADE AFONSO ROMERO, CAMILO
SOBREIRA DE SANTANA, AUGUSTA BRITO DE PAULA, JANAINA CARLA FARIAS
e MARIA IZOLDA CELA DE ARRUDA COELHO

PARECER

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Trata-se de Ação de Investigação Judicial Eleitoral ajuizada pela Coligação
Do Povo, pelo Povo e para o Povo em face de Elmano de Freitas da Costa, Jade Afonso
Romero, Camilo Sobreira de Santana, Augusta Brito de Paula, Janaina Carla Farias e
Maria Izolda Cela de Arruda Coelho, na qual lhes foi imputada a prática de abuso de poder
político e econômico durante o período de campanha do pleito eleitoral de 2022.

Conforme consta na exordial, em síntese, o Governo do Estado do Ceará,


chefiado por Maria Izola Cela de Arruda Coelho , direcionou benesses aos municípios
interioranos, por meio da celebração de convênio e do repasse de recursos para obras de
pavimentação asfáltica e de construção/reforma de prédios e equipamentos públicos, com
vistas a angariar, de forma oblíqua, o apoio dos prefeitos municipais em favor da candidatura
dos investigados Elmano de Freitas da Costa, Jade Afonso Romero, Camilo Sobreira de
Santana, Augusta Brito de Paula e Janaina Carla Farias.
A inicial narra ainda que o modo de operação dos investigados consiste na
convocação de prefeitos para se reunir e registrar nas redes sociais a reunião e o apoio aos
candidatos, mediante promessa de manutenção e ampliação de obras e programas do Estado
do Ceará em favor do município. Com o registro do apoio nas redes sociais, o Estado do
Ceará celebra convênios ou aditivos e direciona as benesses para os municípios dos prefeitos
cooptados. Foram indicados como cooptados os prefeitos dos municípios de Paracuru,
Tamboril, Jucás, Caridade, Baturité, Acaraú e Granja.

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Cumprindo determinação judicial (ID 19183584), o Estado do Ceará
encaminhou documentação relativa aos convênios (ID 19186202 e seguintes, com
documentação suplementar no ID 19186533 e seguintes). Também veio aos autos
documentação referente aos convênios encaminhada pela Superintendência de Obras Públicas
(SOP) do Estado do Ceará (ID 19187385 e seguintes).
Em setembro de 2022, foi apresentado o primeiro aditamento para incluir fatos
relativos à cooptação dos prefeitos dos municípios de Coreaú, Acopiara, Aracoiaba e
Maranguape (ID 19186685), e o segundo aditamento para incluir fatos relativos à cooptação
do prefeito do município de Itapipoca (ID 19188491).

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Após busca e apreensão (ID 19225744 e seguintes), foi juntada documentação
complementar relativa aos convênios (IDs 19226140 a 19227372), com cópia integral nos IDs
19235288 a 19236471.

Após serem devidamente cientificados da pendência da presente ação, os


imputados apresentaram as contestações de ID 19230829 (Maria Izolda Cela de Arruda
Coelho), 19233771 (Jade Afonso Romero ), 19233648 (Camilo Sobreira de Santana), ID

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19233650 (Elmano de Freitas da Costa) e ID 19233775 (Janaina Carla Farias e Augusto
Brito de Paula).
Na sequência, foi exarada decisão interlocutória que deferiu o pedido de
aditamento da inicial, indeferiu pedido de revogação da Medida Liminar de Busca e
Apreensão, aplicou multa ao Governo do Estado do Ceará por descumprimento de ordem
judicial e indeferiu pedido de aplicação de multa ao candidato Roberto Cláudio.
Iniciada a fase instrutória da demanda, foi realizada audiência de instrução em
12 de dezembro de 2022, (v. ata de ID 19404658), na qual foi procedida à oitiva das
testemunhas Francisco Quintino Vieira Neto (superintendente da SOP), Maximiliano César
Pedrosa Quintino de Medeiros (superintendente do DETRAN/CE) e Bismark Maia (prefeito
de Aracati/CE).
Alegações finais das partes nos IDs 19428172 (Elmano de Freitas da Costa e
Jade Afonso Romero), 19428176 (coligação investigante), 19427912 (Maria Izolda Cela
de Arruda Coelho) e 19428378 (Camilo Sobreira de Santana, Augusta Brito de Paula e
Janaina Carla Farias).
Vieram os autos para manifestação da Procuradoria Regional Eleitoral.
É o relato do necessário.

Segundo definição de Olivar Coneglian (Propaganda Eleitoral, 3a. ed, 1998, p.


129-130), adotada no glossário do Tribunal Superior Eleitoral, "o abuso do poder político

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ocorre nas situações em que o detentor do poder [...] vale-se de sua posição para agir de
modo a influenciar o eleitor, em detrimento da liberdade de voto. Caracteriza-se dessa
forma, como ato de autoridade exercido em detrimento do voto".
Conquanto a lei não forneça um conceito específico de abuso de poder, sabe-se
que este é uma modalidade de ilícito eleitoral que pode ser praticado pelas mais variadas
formas. É possível que seja praticado mediante condutas que a priori não encontram prévio
enquadramento na legislação ou, por outro lado, que sua ocorrência se dê mediante a
realização de algum outro comportamento ilícito típico, como a captação ilícita de sufrágio ou
a conduta vedada.

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Em todo caso, segundo entendimento do TSE, o abuso de poder pressupõe que
a conduta, além de ter finalidade eleitoral, deve ser grave o suficiente para impactar a
legitimidade e a normalidade do pleito. É dizer, sua caracterização pressupõe a demonstração
da magnitude da lesão decorrente do ilícito. Nesse sentido, vide:

[...] ABUSO DO PODER POLÍTICO. ART. 22 DA LC 64/90. 10. O abuso


do poder político, de que trata o art. 22, caput, da LC 64/90, configura-se
quando o agente público, valendo-se de sua condição funcional e em

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manifesto desvio de finalidade, compromete a igualdade da disputa e a
legitimidade do pleito em benefício de sua candidatura ou de terceiros [...]
(TSE, RO nº 172365, Rel. Min. Admar Gonzaga, Acórdão de 7.12.2017)

Para além da gravidade das circunstâncias, exige-se que a comprovação da


conduta se dê por meio de um acervo probatório robusto, capaz de demonstrar cabalmente a
utilização abusiva de uma determinada posição jurídica em detrimento dos eleitores. O rigor
dessa exigência encontra justificativa nas sanções que poderão ser aplicadas caso a ação
judicial seja julgada procedente: inelegibilidade dos envolvidos e cassação do registro ou
diploma dos candidatos beneficiados. Nesse sentido, vide:

[...] Diante da gravidade das sanções impostas em AIJE por abuso de poder,
exige-se prova robusta e inconteste para que haja condenação. [...] (TSE,
REspe nº 50120, Rel. Min. Admar Gonzaga, Red. designado Min. Luís
Roberto Barroso, Acórdão de 9.5.2019)

Analisando detidamente as informações constantes nos autos, verifica-se que


os pedidos desta Ação de Investigação Judicial Eleitoral merecem provimento, pois há prova
robusta de condutas realizadas no âmbito do Governo do Estado do Ceará, em
manifesto desvio de finalidade, com gravidade suficiente para comprometer a igualdade da
disputa e a legitimidade do pleito.

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As condutas que estão em julgamento ocorreram durante as tensões de
rompimento da aliança estadual de dezesseis anos entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o
Partido Democrático Trabalhista (PDT), que possui histórico complexo e influenciado pelas
desavenças entre os partidos nos âmbitos municipal desde 2012 e federal desde 2018,
conforme a análise de cientistas sociais locais que podem ser lidas na reportagem "Qual
histórico da aliança PT e PDT no Ceará e como especialistas avaliam o cenário de racha em
2022", de Igor Cavalcante para o Jornal Diário do Nordeste . Tais tensões foram postas cada
vez mais à prova a partir de abril de 2022, quando a investigada Maria Izolda Cela de
Arruda Coelho assumiu o Governo do Estado e seu nome ganhou força na disputa interna

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entre os quatro pré-candidatos do PDT à chefia do executivo estadual, com o apoio do PT e
do investigado Camilo Sobreira de Santana. Detalhes acerca do cenário de rompimento
entre os partidos podem ser lidos na reportagem "Um pote até aqui de mágoas", escrito em 27
de maio de 2022, por Fabíola Mendonça para a Carta Capital .

Conforme a tese da petição inicial, uma série de convênios, com destaque


para os firmados entre a Superintendência de Obras Públicas (SOP) e os municípios do

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interior do Ceará, foram assinados a partir do mês de junho de 2022 e alguns tiveram
apressado repasse da parcela inicial, como forma de cooptação e obtenção de apoio
político de lideranças filiadas a grupos adversários, a exemplo dos prefeitos do PDT.
Também foram realizados aditivos a convênios já existentes, com aumento da
participação financeira do Governo do Estado e repasse de verbas no período pré-
eleitoral.

A prova do aumento de repasses do Governo do Estado, por convênio, aos


municípios cearenses em junho de 2022 é de fácil constatação e de difícil contestação.
Confira-se, com atenção, a seguinte tabela com dados oficiais do Portal Ceará Transparente,
mantido pela Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado :

MÊS VALORES DOS CONVÊNIOS ATIVOS


Junho de 2015 R$ 2.092.506.585,27
Junho de 2016 R$ 2.234.169.687,39
Junho de 2017 R$ 2.009.146.446,26
Junho de 2018 R$ 2.345.001.512,90
Junho de 2019 R$ 2.153.829.102,39
Junho de 2020 R$ 2.250.232.477,10
Junho de 2021 R$ 2.209.299.533,07
Janeiro de 2022 R$ 2.498.248.452,13
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Fevereiro de 2022 R$ 2.363.860.399,86
Março de 2022 R$ 2.450.691.796,00
Abril de 2022 R$ 2.452.524.790,96
Maio de 2022 R$ 2.596.511.145,11
Junho de 2022 R$ 3.144.411.282,70

Perceba-se que, desde 2015, os valores eram sempre inferiores a R$ 2,5 bilhões
e que houve a demora de sete anos para que tal volume avançasse R$ 500 milhões, no período
de maio de 2015 a maio de 2022. De forma inusitada, em apenas um mês, mais
especificamente em junho de 2022, o Governo do Estado realizou uma elevação no valor total

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conveniado superior a R$ 500 milhões, o que demonstra, de forma robusta e indene de
dúvidas, o desproporcional aumento no envio de recursos por meio de convênios. Com esse
aporte, o volume de recursos conveniados pelo Governo do Ceará sofreu um salto histórico
para atingir patamar superior a R$ 3 bilhões, muito provavelmente o nível mais elevado da
história do Estado.
Também conforme dados oficiais do Portal Ceará Transparente, entre 1º de
junho e 1º de julho de 2022, apenas a Secretaria de Obras Públicas (SOP) assinou 205

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(duzentos e cinco) convênios de obras e serviços de engenharia, com valor atualizado de R$
341.713.652,12 (trezentos e quarenta e um milhões, setecentos e treze mil, seiscentos e
cinquenta e dois reais e doze centavos) , dos quais, pelo menos, 95 (noventa e cinco)
possuem como objeto a pavimentação. Esses valores permitem concluir, com forte certeza e
precisão, que grande parte dos recursos relativos ao salto histórico dos valores conveniados
foram destinados à pavimentação, conferindo robustez à prova dos fatos denunciados pela
coligação investigante, que têm sido por ela anunciados como "derrame de asfalto".

Além disso, os fatos são gravíssimos e seu potencial lesivo à igualdade de


disputa e à legitimidade das eleições é manifesto. Para demonstrar isso, veja-se que
o candidato Elmano de Freitas da Costa venceu as eleições em primeiro turno com 54,02%
dos votos, média que discrepa bastante do resultado obtido nos municípios mencionados pela
coligação investigante, conforme dados oficiais do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará a
seguir tabelados :

MUNICÍPIO PERCENTUAL DE VOTOS


Paracuru 58,33
Tamboril 70,81
Jucás 70,98
Caridade 71,35
Baturité 69,55
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Acaraú 61,43
Granja 74,01
Coreaú 62,41
Acopiara 63,79
Maranguape 53,77
Aracoiaba 63,19
Itapipoca 67,18

Como indicado na tabela, nos municípios dos prefeitos cooptados, a exceção


de Paracuru e Maranguape, o candidato Elmano de Freitas da Costa alcançou mais de 60%,

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quando não 70%, do eleitorado, ao passo que, em municípios sem apoio expresso do prefeito,
como Aracati (51,86%) e Milhã (52,19%), o investigado ficou com votação aquém de sua
média (54,02%). Embora não seja prova cabal, essa comparação é um elemento inicial forte
da relação entre o apoio do chefe do executivo municipal e a tendência eleitoral dos
munícipes, bem como demonstra o potencial lesivo à igualdade de disputa e à legitimidade do
pleito que as estratégias ilícitas de cooptação das lideranças locais possuem.
Assim, fazendo-se referência à decisão do TSE na AIJE 0601851-

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89.2018.6.00.0000, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgada em 13 de dezembro de 2018, há, no
presente caso, a presença do elevado grau de reprovabilidade da conduta (aspecto qualitativo
do abuso) e de sua significativa repercussão a fim de influenciar o equilíbrio da disputa
eleitoral (aspecto quantitativo do abuso), sendo este último não fator decisivo, mas elemento
que destaca a gravidade da conduta. Objetivando influenciar o resultado do pleito, os
investigados claramente diferenciaram suas campanhas das demais pelo uso de instrumentos
de desvio de poder político e econômico.

Demonstrada a robustez do acervo probatório e a gravidade da conduta, é


preciso se concentrar sobre a existência de finalidade eleitoral. Tal demonstração se dá pela
soma dos diversos aspectos que caracterizam as transferências de recursos no caso concreto,
os quais serão tratados a seguir, um a um.
A petição inicial e os aditamentos já fazem uma excelente compilação dos
dados dos convênios firmados às vésperas do período vedado e das postagens de apoio dos
prefeitos em redes sociais. De toda forma, para iniciar esse panorama, convêm rememorar
brevemente alguns desses dados, sem esquecer que o período vedado se iniciava em 2 de
julho de 2022.

De forma amostral e apenas no que tange à pavimentação, citemos alguns


alguns exemplos. Ficou documentalmente demonstrado que, para pavimentação em pedra
tosca, o município de Paracuru celebrou os convênios 065/2022 e 125/2022, em 23 de junho
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de 2022, com a Secretaria das Cidades, nos valores de R$ 180 mil e R$ 1 milhão,
respectivamente, tendo recebido repasse integral do primeiro (R$ 180 mil), em 29 de junho, e
a metade do valor do segundo (R$ 500 mil), em 30 de junho.
Após definição do investigado Elmano de Freitas da Costa como candidato
do PT, o prefeito Wembley Gomes Gosta , filiado ao PDT, fez postagens de apoio ao
candidato do partido adversário.

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Igualmente para pavimentação em pedra tosca, o município de Tamboril
celebrou o convênio 203/2022, em 8 de junho de 2022, com a SOP, em valor superior a R$ 4
milhões, tendo recebido R$ 500 mil em 23 de junho de 2022. O município também celebrou
o convênio nº 430/2022 com a SOP no dia 1º de julho, às vésperas do período vedado, para
pavimentação asfáltica.
Após definição do investigado Elmano de Freitas da Costa como candidato
do PT, o prefeito Luiz Marcelo Mota Leite, filiado ao PDT, fez postagens de apoio ao
candidato do partido adversário.

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O município de Caridade, por seu turno, celebrou o convênio nº 193/2022 com
a SOP em 20 de junho de 2022, para pavimentação em pedra tosca, no valor de R$ 500 mil,
tendo recebido um primeiro repasse de R$ 100 mil em 29 de junho e um segundo repasse,
flagrantemente irregular, em 12 de setembro de 2022, em período vedado pela legislação
eleitoral e em violação ao art. 73, VI, a, da Lei nº 9.504/97.
Também nesse município, após definição do investigado Elmano de Freitas
da Costa como candidato do PT, a prefeita Maria Simone Fernandes Tavares , filiada ao
PDT, fez postagens de apoio ao candidato do partido adversário.

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A ilicitude do segundo repasse no Convênio nº 193/2022, celebrado entre o
Município de Caridade e a SOP, é patente, pois a orientação firme dos Tribunais Eleitorais
apenas autoriza o repasse de verbas de obras fisicamente já iniciadas, o que seria

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praticamente impossível no caso em comento. Isso porque, considerando o prazo regular do
trâmite licitatório, uma vez que a celebração do convênio aconteceu a menos de duas semanas
do início do período vedado e o primeiro repasse foi realizado apenas dois dias antes deste
período. Nesse sentido está a jurisprudência do TSE:

“[...] Condutas vedadas a agentes públicos. Participação em inauguração de


obras públicas. Inocorrência. Transferência voluntária de recursos.
Publicidade institucional mista em período proibido. [...] 2. A transferência
de recursos voluntários de Estados a Municípios, durante o período em que
se celebram eleições estaduais, tem a legalidade condicionada à existência
de obra fisicamente iniciada antes do período vedado, não bastando, para o
afastamento da norma proibitiva, a mera publicação de convênio, ainda que
acompanhado do respectivo cronograma. 3. Na espécie, o caderno
probatório deixa incontroversa a formalização de acordo público em tempo
certo; não obstante, evidencia, em contrapartida, que as obras pendiam de
iniciação ao tempo em que inaugurado o período eletivo, e que a maioria
dos repasses ocorreu, igualmente, fora do tempo permitido. [...]”
(Ac. de 25.3.2021 no RO-El nº 176880, rel. Min. Edson Fachin.)

“[...] Representação por conduta vedada. Transferência voluntária de


recursos. [...] 3. Conforme o art. 73, VI, a, da Lei nº 9.504/1997, nos três
meses que antecedem o pleito, é vedado aos agentes públicos em campanha
eleitoral realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e
Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno
direito. São ressalvados apenas os recursos destinados a cumprir obrigação
formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com
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cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de emergência e
de calamidade pública. Precedente. 4. No caso, o TRE/MG entendeu que a
mera existência de convênio firmado entre o Estado e o Município com
cronograma prefixado de execução de obras seria suficiente para afastar a
caracterização da conduta vedada, entendimento que contraria a
jurisprudência do TSE. 5. A literalidade do art. 73, VI, a, da Lei nº
9.504/1997 indica que é necessária a existência de obras em andamento, e
não apenas de cronograma de execução das obras, para que se configure
exceção à conduta ilícita. Portanto, não há como se afastar o enquadramento
da conduta ao tipo legal. [...]”
(Ac. de 24.9.2019 no AgR-AI nº 62448, rel. Min. Luís Roberto Barroso.)

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Neste tópico, também convêm ressaltar a existência de aditivos a convênios já
existentes, que possibilitaram repasses no período pré-eleitoral. Exemplo disso foi o quarto
aditivo ao Convênio nº 25/2020, firmado originalmente em agosto de 2020, entre o município
d e Jucás e a SOP. Com o aditivo de 1º de julho de 2022, véspera do período vedado, que
realizou o acréscimo de R$ 574.608,62, foi possível ao Estado realizar o repasse de quase R$
1,5 milhão ao município, no dia 24 de agosto de 2022. Tal valor, somado aos repasses
anteriores, superou o valor inicial do convênio, o que demonstra a utilização do aditivo como

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meio de possibilitar a transferência de recursos em período vedado pela legislação eleitoral.
De modo semelhante ao ocorrido nos municípios já citados, o prefeito José
Edsonriva Souza Cunha, filiado ao PDT, fez postagens de apoio ao candidato do partido
adversário, Elmano de Freitas da Costa.

O município de Granja, além do novo convênio nº 272/2022 assinado com a


SOP em 24 de junho, com repasse de R$ 500 mil no dia 1º de julho de 2022, também firmou
aditivo ao Convênio nº 53/2022 em 29 de julho de 2022, aumentando o repasse do Governo

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do Estado de R$ 19 milhões para R$ 31 milhões, ou seja, um acréscimo de R$ 12 milhões.
No âmbito desse Convênio, foram realizados repasses de R$ 900 mil em 22 de junho e de R$
1 milhão em 30 de junho de 2022.
A propósito, de 22 de junho a 23 de agosto, em apenas dois meses, o
município de Granja recebeu repasses estaduais no montante de R$ 4,25 milhões de reais. No
início desse período, o perfil oficial da Prefeitura de Granja fez postagem na rede social
Instagram com fotografia do candidato Camilo Sobreira de Santana em destaque e realizou
evento público de entrega do título de cidadão granjense ao investigado, no dia 29 de junho,
às 10h, em clube da cidade.

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Ao final do período, em 23 de agosto de 2022, a prefeita Juliana Frota Lopes
de Aldigueri Arruda, filiada ao PDT, fez postagem de apoio ao candidato Camilo Sobreira
de Santana, do PT.

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Essa amostra delimitada a cinco municípios com prefeituras chefiadas por

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integrantes do PDT e a convênios para pavimentação já dá contornos firmes da prática de
abuso de poder político pelos investigados e permite a aferição da robustez da prova, da
gravidade da conduta e da finalidade eleitoral, marcada na relação entre os repasses e o apoio
político do chefe do executivo municipal. Esses exemplos, porém, não esgostam o objeto da
presente AIJE, que demonstra que tal estratégia ilícita foi realizada em, pelo menos, doze
municípios (Paracuru, Tamboril, Jucás, Caridade, Baturité, Acaraú, Granja, Coreaú, Acopiara,
Maranguape, Aracoiaba e Itapipoca), com líderes filiados a outros partidos e em convênio
com objetos diversos, como a construção de rodoviária e a reforma do entorno urbano de
santuário.
Adicione-se a isso o fato de que os perfis oficiais das prefeituras fizeram
postagens de divulgação das obras de pavimentação, com referência ao apoio recebido do
Governo do Estado e/ou à visita da então governadora Maria Izolda Cela de Arruda
Coelho, como detalhado em anexo.

De mais a mais, ficou demonstrado que essa estratégia denominada de


"derrame de asfalto" desequilibrou o pleito e extrapolou o que se espera para uma campanha
política, com o uso de recursos em desvio de finalidade e muito superiores aos permitidos, o
que não pode ser tolerado pela Justiça Eleitoral.
Acerca do tema, José Jairo Gomes (Direito Eleitoral, 18a. ed., 2022, p. 848)
leciona que:

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O artigo 23 da Constituição arrola os casos de competência comum,
esclarecendo seu parágrafo único que lei complementar fixará normas para a
cooperação entre União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional.
Não é, pois, de estranhar a intensa cooperação que há entre as entidades
federativas, normalmente materializada pela entrega de recursos financeiros
diretamente da União aos Estados e Municípios e dos Estados a seus
respectivos Municípios.
Sobretudo em períodos eleitorais, não é incomum o desvirtuamento de
tais transferências, as quais são transformadas em autênticas alavancas
eleitorais para determinados grupos políticos.

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É precisamente esse desvirtuamento que se quis combater com a regra em
análise.

Com efeito, a prática apurada na presente Ação de Investigação Judicial


Eleitoral serviu exatamente como alavanca eleitoral, desvirtuando a finalidade das
transferências, com propósito eleitoral espúrio.

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A jurisprudência das Cortes Eleitorais tem reconhecido a realização de
convênios na proximidade do período vedado como abuso de poder político, sobretudo
quando há repasses no período pré-eleitoral, como ocorreu no presente caso, em relação ao
município de Caridade. Nesse sentido, o seguinte julgado:

REPRESENTAÇÃO ELEITORAL. CONDUTAS VEDADAS.


CONVÊNIOS. PROXIMIDADE DO PERÍODO VEDADO.
TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS DURANTE O PERÍODO
PROIBIDO PELA LEI DAS ELEIÇÕES. ABUSO DE PODER
POLÍTICO E DE AUTORIDADE. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA
INICIAL. INOCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DE MULTA. CASSAÇÃO
DO DIPLOMA PREJUDICADA. PROCEDÊNCIA. 1. Não há inépcia da
inicial quando veicula fatos concatenados culminando, ao final, com pedido
de aplicação da penalidade prevista no preceito secundário da norma. 2. A
realização de convênios em período bem próximo ao início do período
vedado configura burla à lei eleitoral, caracterizando a prática de conduta
vedada prevista no art. 73, VI, a da Lei n.º 9.504/97, sobretudo, se
comprovado que recursos significativos tiveram a sua primeira parcela
transferidas em período de plena campanha eleitoral, afetando,
sobremaneira, a igualdade de oportunidade entre os candidatos. 3. Dado o
abuso de poder político praticado, caracterizado pela vultosa quantia
repassada no período proibido, sem a ocorrência da exceção prevista na lei,
é de aplicar a penalidade de multa no seu grau máximo, restando
prejudicada a cassação do diploma em função de os representados não terem
sido eleitos. 4. Representação julgada procedente.
(TRE-PA - Rp: 229820 PA, Relator: EZILDA PASTANA MUTRAN, Data

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de Julgamento: 15/09/2011, Data de Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Tomo 172, Data 22/09/2011, Página 1 e 2)

Não há dúvidas de que o bem jurídico tutelado pelo art. 22 da LC 64/90, que
trata da representação por abuso de poder político, é a higidez das normas relativas à
isonomia eleitoral, de modo a garantir a legitimidade da disputa. É por isso que, ainda que
não houvesse repasse no período vedado, a prática aqui apurada não deixaria de configurar
abuso de poder político, uma vez que a caracterização do abuso não decorre unicamente de
comportamentos ilícitos típicos, como condutas vedadas e captação ilícita de sufrágio,
podendo ocorrer mediante condutas que não encontram prévio enquadramento na legislação.

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Caso recorrente nas Cortes Eleitorais que demonstra esse argumento é o das
contratações de servidores temporários. Ainda que ocorrida antes do período vedado, tais
contratações podem caracterizar o abuso de poder político, quando demonstrada a gravidade e
o desvio de finalidade. Essa é a jurisprudência consolidada do TSE, que aponta:

“[...] mesmo que as contratações tenham ocorrido antes do prazo de três

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meses que antecede o pleito, a que se refere o art. 73, V, da Lei das
Eleições, tal alegação não exclui a possibilidade de exame da ilicitude para
fins de configuração do abuso do poder político, especialmente porque se
registrou que não havia prova de que as contratações ocorreram por motivo
relevante ou urgente, conforme consignado no acórdão recorrido [...]”
(Ac. de 5.9.2019 no AgR-AI nº 18912, rel. Min. Tarcisio Vieira de Carvalho
Neto no mesmo sentido o Ac. de 26.2.2019 no REspe nº 71881, rel. Min.
Luís Roberto Barroso.)

Retornando ao tema em discussão para o presente caso, as Cortes Eleitorais


também já decidiram que a celebração desmedida e irregular de convênios e repasse de
valores, às vésperas ou em pleno período vedado, sem critério de políticas públicas e com
desvio de finalidade, resulta em desequilíbrio de oportunidades entre os concorrentes e,
consequentemente, configura abuso de poder político. Nesse sentido, menciona-se o seguinte
julgado:

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2010.


ART. 22 DA LEI COMPLEMENTAR N.º 64/90. PRELIMINARES DE
NÃO CONFIGURAÇÃO DA CONDUTA VEDADA, DE INÉPCIA DA
INICIAL POR ATIPICIDADE DA CONDUTA E CONSEQUENTE
AUSÊNCIA DE CAUSA DE PEDIR E DE INAPLICABILIDADE DA LEI
COMPLEMENTAR N.º 135/2010. MATÉRIAS DE MÉRITO. REJEIÇÃO.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E JULGAMENTO
EXTRA PETITA. VICE DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. PRECEDENTES.

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REJEIÇÃO. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA, DE
CARÊNCIA DA AÇÃO PELA AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR
OU INTERESSE PROCESSUAL E DE PERDA DE OBJETO.
DECRETAÇÃO DE PERDA DE INELEGIBILIDADE DE QUEM
CONTRIBUIU PARA A PRÁTICA DO ATO. AGENTE PÚBLICO
RESPONSÁVEL PELO ATO TIDO, EM TESE, COMO VEDADO.
LITISCONSORTE. REJEIÇÃO. PRELIMINAR DE INADEQUAÇÃO DA
VIA ELEITA. OBJETO BEM DELIMITADO. SUPOSTO ABUSO DE
PODER POLÍTICO OU DE AUTORIDADE. REJEIÇÃO. PRELIMINAR
DE INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL POR AUSÊNCIA DE PEDIDO.
INEXISTÊNCIA DE PEDIDO DE CONDENAÇÃO PARA O
REPRESENTADO QUE ARGUIU A PRELIMINAR E PARA OUTRA
PARTE DE REPRESENTADOS. ACOLHIMENTO. EXTINÇÃO DO

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FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. MÉRITO. APLICAÇÃO DA
LEI COMPLEMENTAR N.º 64/90, COM AS ALTERAÇÕES DA LEI
COMPLEMENTAR N.º 135/2010. PRECEDENTES. REPRESENTAÇÃO
ANTERIORMENTE JULGADA PELA CORTE REGIONAL. CAUSA DE
PEDIR REMOTA IDÊNTICA. ENFOQUE DE ANÁLISE DIFERENTE:
CONDUTA VEDADA E ABUSO DE PODER POLÍTICO OU DE
AUTORIDADE. CELEBRAÇÃO DESMEDIDA E IRREGULAR DE
CONVÊNIOS. REPASSE DE VALORES A PREFEITURAS
CORRELIGIONÁRIAS ÀS VÉSPERAS E EM PLENO PERÍODO

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VEDADO. AUSÊNCIA DE CRITÉRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS.
DESVIO DE FINALIDADE. DESEQUILÍBRIO DE
OPORTUNIDADES. COMPROVAÇÃO. INVESTIGADOS NÃO
ELEITOS. IRRELEVÂNCIA. AIJE JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE. 1. A Ação de Investigação Judicial Eleitoral está
disciplinada no artigo 22 da LC n.º 64/90, que no seu inciso XIV determina
que a procedência da AIJE implica na declaração de inelegibilidade também
daqueles que tenham contribuído para a prática do ato. 2. Se a sanção de
inelegibilidade pode ser aplicada a todos os que hajam contribuído para a
prática do ato, qualquer pessoa pode figurar pólo passivo da demanda. 3. A
possível decretação da inelegibilidade daqueles que perpetraram a conduta
abusiva, em benefício próprio ou de candidato, só pode ocorrer caso sejam
chamados a participar do feito, por meio da citação. 4. Os fatos alegados na
inicial como ilícitos, quais sejam as transferências voluntárias de recursos
ocorreram no período de 10 de junho de 2010 e durante o período vedado
naquele ano, ou seja, após a entrada em vigor da Lei Complementar n.º
135/2010, ocorrida em 07/06/2010 (data da publicação), pelo que
plenamente aplicável o art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar n.º 64/90,
alterado pela Lei Complementar n.º 135/2010. 5. É assente na jurisprudência
que não há litispendência nas ações eleitorais, já que são ações autônomas,
com consequências distintas (Recurso Contra Expedição de Diploma nº 696,
Acórdão de 04/02/2010, Relator (a) Min. ENRIQUE RICARDO
LEWANDOWSKI, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Volume
-, Tomo 62, Data 05/04/2010, Página 207). 6. Não é de hoje que a
jurisprudência do Colendo Tribunal Superior Eleitoral vem caminhando no
sentido de considerar que as condutas vedadas constituem-se em espécie do
gênero "abuso de poder" e que o fato considerado como conduta vedada
(art. 73 da Lei das Eleicoes) poderá ser apreciado como abuso de poder apto

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a gerar a inelegibilidade prevista no art. 22 da Lei Complementar n.º 64/90.
Precedentes. 7. O abuso de poder político ou de autoridade consiste em
ação ímproba do administrador com o objetivo de influenciar o Pleito
de forma ilícita, usando indevidamente do cargo ou da função pública
para beneficiar determinada candidatura, e restou consubstanciada
pela celebração desmedida e irregular de convênios e repasse de valores
a Prefeituras correligionárias, às vésperas e em pleno período vedado,
sem critério de políticas públicas e com desvio de finalidade, resultando
em um desequilíbrio de oportunidades entre os concorrentes ao Pleito.
8. O fato dos investigados não terem sido eleitos é irrelevante para
configuração da gravidade, pois nos termos da jurisprudência do TSE, "não
é fator suficiente para desconfigurar o abuso do poder previsto no art. 22 da
LC nº 64/90, o fato de o candidato por ele beneficiado não ter sido eleito,

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pois o que se leva em consideração na caracterização do abuso do poder são
suas características e as circunstâncias em que ocorrido". Precedentes. 9.
Não há necessidade de demonstração aritmética do efeito do abuso de poder
político ou de autoridade para influenciar no Pleito, em especial quando
incide também em conduta vedada (Recurso Contra Expedição de Diploma
n.º 671, Decisão Monocrática de 07/08/2009, Relator (a) Min. EROS
ROBERTO GRAU, Relator (a) designado (a) Min. CARLOS AUGUSTO
AYRES DE FREITAS BRITTO, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Data 13/08/2009, Página 2/5). 10. Para a incidência da

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inelegibilidade, por abuso de poder político (...) é necessário que o
candidato tenha praticado o ato na condição de detentor de cargo na
administração pública" (Ac. TSE, de 23.06.2009, no RO n.º 1.413). 11.
Ação julgada parcialmente procedente.
(TRE-PA - AIJE: 154648 PA, Relator: RAIMUNDO HOLANDA REIS,
Data de Julgamento: 17/12/2013, Data de Publicação: DJE - Diário da
Justiça Eletrônico, Tomo 25, Data 11/02/2014, Página 1 e 2)

Não se desconhece que o mesmo grupo político investigado figurou no pólo


passivo da AIME nº 3-56.2015.6.06.0000, bem como da Representação n° 2645-
36.2014.6.06.0000 e das AIJEs nº 2554-43.2014.6.06.0000 e 2920-82.2014.6.06.0000, com
imputação de irregularidades no tocante à formalização dos convênios e repasses de recursos
entre o Governo do Estado do Ceará e municípios convenentes. Tal imputação, com especial
referência aos convênios para asfaltamento no interior do Estado, se deu no contexto das
eleições de 2014, quando o investigado Camilo Sobreira de Santana concorria ao cargo de
governador do Estado, tendo a investigada Maria Izolda Cela de Arruda Coelho como vice
de sua chapa majoritária.
Apesar da improcedência das ações relativas aos fatos de 2014, destaque-se
que o presente caso está amparado em ainda mais convicentes elementos de prova do que
aqueles considerados à época pela Corte Regional, e, assim, com mais clareza se revestem os
indicativos que apontam na direção do reconhecimento da finalidade eleitoral e dos atos
configuradores de abusos de poder político. A mesma conclusão de improcedência não se

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pode adotar nos presentes autos, em que o acervo probatório é robusto no sentido de
comprovar a gravidade da conduta dos investigados, com liames evidenciados, já que grande
parte do conjunto de provas apresentado foi fruto da publicação de prefeitos e da campanha
oficial dos candidatos nas redes sociais, corroborados por prova documental e por consulta a
dados oficiais do Portal da Transparência.

Desse modo, a fim de proteger a normalidade e legitimidade das eleições


contra a influência do poder político ou de qualquer tipo de abuso, resta cabível a presente
ação de investigação judicial eleitoral, considerando que, nos termos do art. 19 da LC 64/90,

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"as transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, abuso do poder econômico ou
político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas mediante investigações
jurisdicionais". Estas transgressões, no presente caso, estão relacionadas ao uso de
ferramentas políticas para violar a liberdade de voto da população.

Em virtude do exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral se manifesta pela


procedência da ação, a fim de reconhecer a presença de atos de abuso de poder político de

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responsabilidade dos investigados, impondo-se a penalidade de cassação do diploma dos
candidatos eleitos, bem como a penalidade de inelegibilidade pelo prazo de 08 anos a todos
os investigados.

Fortaleza/CE, data da assinatura eletrônica.

EDMAC LIMA TRIGUEIRO


PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL SUBSTITUTO

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Num. 19446460 - Pág. 17

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