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Euclides da Cunha, Os
Sertões e Canudos
Ana Cristina Venancio da Silva, Júlia Schwarcz,
Maíra Landulfo, Maria Cecília Winter,
Tila Corazza T. Pinto & Ynaê Lopes dos Santos
Segundo Ano - História/USP
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O MOMENTO
Com a Revolução
Industrial iniciada na
Europa no século XIII, toda
a civilização entrava em
uma nova fase
caracterizada pela
utilização do aço, do
petróleo e da eletricidade.
O capitalismo se estrutura
em moldes modernos com
o surgimento de grandes
complexos industriais. Ao
mesmo tempo o avanço
científico leva a novas
descobertas nos campos
da Física e da Química.
A chamada 2ª Revolução
Industrial cria uma
demanda por matéria-
prima e mercado
consumidor ; é o
imperialismo em ação. As
influências das potências
européias sobre os países
de baixa renda se
fortificam neste novo
quadro.
Foi através desta “regra indireta” que os centros capitalistas europeus estabeleceram seus
padrões de vida como padrões universais, atingindo principalmente suas áreas de influência
da periferia do sistema. Os avanços tecnológicos e científicos também dão margem à
posturas ideológicas como o Positivismo de Auguste Comte e o Socialismo Científico de Marx
e Engels, que define o modo de produção da vida material como agente condicionador do
processo de vida social, político e intelectual em geral. O Socialismo Científico era assim
chamado porque não procurava construir abstratamente uma sociedade ideal mas, baseando-
se na análise das realidades econômicas, da evolução histórica e do capitalismo, formula leis
e princípios determinantes da História em direção a uma sociedade sem classes e igualitária.
O Evolucionismo de Charles Darwin também é incorporado neste quadro; em seu livro A
Origem das Espécies de 1859, Darwin expõe seus estudos sobre a evolução das espécies
pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida pelo
Cristianismo.
O Brasil do final do século XIX foi marcado por inúmeras agitações sociais, desde
movimentos separatistas como a Confederação do Equador, agitações abolicionistas, a
própria abolição e até a República. O maior centro populacional do país, o Rio de Janeiro,
também era considerado um grande centro comercial por intermediar os recursos da
economia cafeeira, a capital inicia o século XX em uma situação realmente excepcional. A
cidade era um espaço de confluência cultural e econômica que se comunicava com todo o
país e acumulava recursos no comércio, nas finanças e já também nas aplicações industriais.
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dizia-se que “o rico de hoje era o tintureiro de ontem”, não se sabia mais quem possuía poder
político ou econômico. Adiciona-se a essa confusão, a enorme e sempre crescente população
da cidade que passou a se instalar em casarões formando cortiços e verdadeiros “ântros de
promiscuidade”.
O CONTEXTO
Para que consigamos compreender a obra de Euclides da Cunha de uma forma mais
completa, é estritamente necessário que façamos um breve parênteses, e olhemos quais
eram essas “tão famosas” idéias cientificistas, positivistas e deterministas que influenciaram o
autor, ou seja: vamos buscar as fontes nas quais Euclides da Cunha “bebeu”. Tentar enquadrá-
lo no contexto histórico-intelectual em que viveu.
Antes de mais nada, é importante relembrarmos que o continente Americano, mais conhecido
como Novo Mundo, sempre povoou o imaginário europeu. Exemplos clássicos, são o mito do
“bom Selvagem” de Rousseau (uma espécie de herança do ideais da Revolução Francesa),
onde o autor defendia a maior perfectibilidade do homem americano ( nativo), por ter se
conservado no seu estado natural. Outro exemplo são as idéias de Buffon e De Pauw, que
contrariamente a Rousseau, viam os americanos como degradados, imaturos e decaídos.
(SCHWARCZ, 1993:45)
Mas tal discussão não se finda no séc. XVIII. No século seguinte ela ganha ainda mais
amplitude, entrando no campo de ciência - que na época ganha o status de ser a única e
verdadeira forma de se ver e pensar o mundo. E dentro desse contexto cientificistas, George
Cuvier introduz o termo raça - mostrando a existência da herança de caracteres físicos
permanentes entre os vários grupos humanos (SCHWARCZ, 1993:47) - que,
consequentemente irá se confrontar com os ideais igualitários da Revolução Francesa,
principalmente porque, a partir de então, o termo raça, estará vinculado a outro: cidadania.
Ao ser legitimada, algumas das principais questões que a ciência irá estudar são a origem e
diversidade da humanidade - tendo sempre em vista uma resposta absoluta e verdadeira. E o
principal debate sobre essa questão se dará entre os monogenistas e poligenistas. Enquanto
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os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma origem e que as diferenças entre
eles era resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria difundida pela Igreja
Cristã), os poligenistas, que baseados em recentes estudos de cunho biológico, acreditavam
que haviam diversos núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos
humanos(SCHWARCZ, 1993: 47). Conseqüentes a esse debate, surgiram no séc. XIX
disciplinas e sociedades não só divergentes como rivais. Exemplos claros será o surgimento
de antropologia criminal, que considerava que a criminalidade era algo genético, a frenologia
e a antropometria, que calculavam a capacidade humana de acordo com o tamanho do
cérebro de indivíduo estudado dos diferentes grupos humanos, a craniologia, estudo do
crânio, dentre outros.
Entretanto o debate tomará novo fôlego com a publicação do livro A Origem das Espécies de
Charles Darwin em 1859. A partir de então o termo raça ultrapassará o campo da biologia, se
estendendo às discussões culturais e políticas, além de imprimir o conceito de evolução às
duas visões descritas acima, que muitas vezes irão desvirtuar ou “adaptar” as teorias
darwinistas no que lhes fosse mais conveniente.
Os adeptos do poligenismo são os que melhor realizam essa “adaptação” das teorias de
Darwin e acabam tendo seus ideais mais difundidos em relação ao seus rivais monogenistas
(é importante frisar que nesse mesmo momento os dogmas da Igreja estavam sendo
questionados pelos cientistas). Exemplos disso são a sociologia evolutiva de Spencer e a
história determinista de Buckle e até mesmo o sentimento do “Imperialismo Europeu” que se
instala nesse momento.
A espécie humana passa a ser tratada como gênero humano e suas diferenças culturais são
classificadas como diferenças entre espécies: o Homem é dividido e hierarquizado por suas
diferenças; e quanto mais longe uma “espécie” se manter da outra melhor para todos. Mas
surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos
estudiosos e cientistas europeus e norte americanos como Broca, Gobineau e Le Bom,
consideravam a miscigenação um erro, uma quebra das leis naturais, uma subversão do
sistema. Segundo Lilia M. Schwarcz: “Os mestiços exemplificavam, segundo essa última
interpretação, a diferença fundamental entre as raças e personificavam a ‘degeneração’ que
poderia advir do cruzamento de espécies diversas”.(SCHWARCZ, 1993: 56)
Frente a todo esse impacto causado pela publicação de Charles Darwin, outras disciplinas-
ainda vinculadas às duas visões sobre a origem e diferença do Homem- irão surgir. Dentre
elas, algumas se destacam: a Antropologia cultural ou Etnologia Social que restitui a idéia de
que a humanidade tinha apenas uma origem e sua diferença era proveniente do processo
evolutivo que ela estava fadada a passar e tinha como seus principais defensores: Morgan,
Tylor e Frazer, chamada de escola evolucionista.
fim Gobineau que afirmava que o resultara da mistura era sempre um dano.(SCHWARCZ,
1993: 56)
Os europeus acreditavam que compunham um grupo humano puro, livre de hibridização, muito
mais perto da perfectibilidade e justamente por isso era o responsável pela civilização dos
demais grupos - argumento que justifica e legitima tanto a colonização americana como o
“Imperialismo Europeu”, o fardo do homem branco.
A VIDA
Após concluído o ginásio, ingressou na Escola Politécnica, para cursar engenharia. Devido às
dificuldades financeiras, Euclides teve que largar o curso, e transferiu-se para Escola Militar da
Praia Vermelha. Lá, reencontrou Benjamim Constant, seu antigo professor no Colégio Aquino,
e de quem absorveria idéias positivista e republicanas.
Mudou-se para São Paulo e começou a escrever no jornal “A Província de São Paulo” (futuro
“Estado de São Paulo”, após a proclamação da República). Com a vitória republicana, voltou
ao Exército e concluiu a Escola Militar, formando-se em Engenharia com bacharelado em
Matemática e Ciências Físicas e Naturais.
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Em 1897, Euclides foi mandado para Canudos pelo jornal como correspondente para reportar
os eventos que lá ocorriam. Enviou uma série de artigos que, futuramente, dariam origem ao
“Os Sertões”. O livro foi concluído em São José do Rio Pardo, onde morou até 1901.
Em 1909, ingressa no Colégio PedroII, no Rio de Janeiro, para ministrar a cadeira de Lógica.
No mesmo ano é assassinado pelo amante de sua mulher, Ana de Assis, durante uma troca
de tiros. Morre com 43 anos de idade. Ensaísta e narrador extraordinário de Os sertões,
Euclides da Cunha é o primeiro escritor a encarnar o gigantismo da terra brasileira, fazendo
de sua obra um dos principais alicerces da consciência nacional.
A OBRA
A CIÊNCIA E O PAÍS
A historiografia das ciências no Brasil é caracterizada pelo fato de considerar a criação das
universidades na década de 30 do século XX como sendo a introdução da ciência no Brasil. A
prática científica nos períodos anteriores a essa data é geralmente considerada como
resultado da influência européia, não passando de mera repetição e copias das teorias
vigentes na Europa.
Não acreditamos que todo o trabalho intelectual brasileiro desde meados do século XIX possa
ser considerado simples imitação, já que isso significaria "cair em certo reducionismo,
deixando de lado a atuação de intelectuais reconhecidos na época, e mesmo desconhecer
a importância de um momento em que a correlação entre a produção cientifica e o
movimento social aparece de forma bastante evidenciada."(SCHWARCZ, 1993: 17)
No caso das teorias raciais parece ainda mais improvável a hipótese delas terem sido
"importadas" e reproduzidas aleatoriamente no Brasil. Elas podiam trazer uma sensação de
proximidade com a Europa e uma confiança no progresso e na civilização, "pareciam justificar
cientificamente organizações e hierarquias tradicionais que pela primeira vez começavam a
ser colocadas publicamente em questão"(SCHWARCZ, 1993: 18), mas também traziam um
enorme mal estar. Como encarar a interpretação pessimista da mestiçagem presente nessas
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Aceitar, copiar e reproduzir essas teorias no Brasil iria inviabilizar um projeto de construção
nacional que mal tinha começado. Os homens de ciência brasileiros tiveram que achar uma
resposta original, adaptando essas teorias utilizando o que combinava e descartando o que
era problemático para a construção de um argumento racial no país. Esses homens são
encontrados nos grupos de intelectuais reunidos nos diversos institutos de pesquisa e "longe
de conformarem um grupo homogêneo (...) estes intelectuais guardavam, porém, certa
identidade que os unia: a representação comum de que os espaço científicos dos quais
participavam lhes davam legitimidade para discutir e apontar os impasses e perspectivas
que se apresentavam para o país"(SCHWARCZ, 1993: 37).
A ciência era para esses homens o único caminho possível para as transformações e
sobrevivência do Brasil. A vertente cientificista buscava encontrar as leis que organizavam a
sociedade brasileira, que determinavam a formação do gênio, do espírito e do caráter do
povo. Segundo essa mesma vertente, recorrendo à leis e métodos gerais, seria possível
encontrar as especificidades da evolução brasileira e, assim, deduzir seu rumo. Como
apontou Sevcenko essa atitude seria "uma versão desdobrada do lema lapidar do
positivismo: 'Prever para Prover"(SEVCENKO, 1981: 103).
A necessidade de conhecer o Brasil também estava calcada no medo que muitos dessa
geração tinham de que o país fosse invadido pelas potências expansionistas e viesse a
perder autonomia ou parte do território. O próprio Euclides da Cunha pregava a necessidade
da colonização do interior e a construção de uma rede interna de comunicação viária.
Essa atitude reformista e salvacionista pretendia criar um saber próprio sobre o Brasil nos
seus mais diferentes aspectos e resultava em duas reações da comunidade científica. A
primeira era acreditar no curso natural dos acontecimentos, sublimando as dificuldades
presentes e transformando a sensação de inferioridade em um mito de superioridade. A
segunda era buscar um conhecimento profundo do país para descobrir um certa ordem no
caos presente.
Acreditamos que Euclides da Cunha esteja no segundo grupo, não só porque em momento
algum aponta o embranquecimento natural da população, mas, principalmente pelas suas
tentativas de determinar um tipo ético representativo da nacionalidade ou, pelo menos,
simbólico dela.
Na obra de Euclides da Cunha podemos perceber a influência de várias teorias que estavam
em voga na época e, por isso, temos que entender como ele entrou em contato com elas. O
regulamento implantado em 1874 na Escola Militar da Praia Vermelha, onde Euclides da
Cunha realizou seus estudos de engenharia, foi implantado num "ambiente intelectual já
permeável às doutrinas cientificistas, de cunho positivista, evolucionista ou determinista."
(SANTANA: 35)
Por adotar o modelo francês uma das principais características da Escola Militar era a ênfase
dada aos estudos matemáticos e um currículo que abrangia as ciências básicas para a
formação de um engenheiro. Segundo Walnice Galvão, o estudo na Escola Militar foi muito
importante para o conhecimento presente nos Sertões, "se compararmos as áreas de
conhecimento que lá são mobilizadas com o currículo da Escola quando ele era aluno,
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verificamos que ele já estava familiarizado com boa parte delas. Tinha estudado na Escola
química orgânica, mineralogia, geologia, botânica, arquitetura civil e militar, construção de
estradas, desenho topográfico, ótica, astronomia, geodésia, administração militar, tática e
estratégia, história militar, balística, mecânica racional, tecnologia militar e as matemáticas.
(...) Como matérias de currículo, não teriam sido obrigatoriamente estudadas a fundo,
conforme se percebe no livro, mas é com vistas afinadas para estes saberes que Euclides
avalia Canudos e a guerra."(SANTANA: 43)
Como podemos explicar então o fato de teorias não necessariamente ligadas com a
engenharia estarem presentes na obra de Euclides da Cunha, já que como afirma Sevcenko,
ele se utiliza de "bases genéricas do comtismo, para fundi-las com a sociologia organicista e
a filosofias biossociais de cunhagem inglesa e alemã"(SEVCENKO, 1981: 149). O contato
com as correntes cientificistas não se davam exclusivamente via sala de aula, mas
"incorporadas ao cotidiano dos alunos através de revista e sessões de sociedades
estudantis, onde se poderiam acompanhar os debates das teorias cientificistas mais
modernas, como as de Spencer, Haeckel e Darwin."(SANTANA: 35)
Depois de formado, Euclides da Cunha continua em contato com os escritos desses autores e
também passa a ler escritos sobre o Brasil, como as obras de Varnhagem, Morize, Caminhoá,
Silvio Romero, Capistrano de Abreu, Teodoro Sampaio, Derby, Saint-Hilaire, Liais. Em São
Paulo, Euclides da Cunha encontra alguns desses novos autores que foram contratados para
trabalhar nas recém implantadas instituições, das quais são exemplos: a Comissão
Geográfica e Geológica de São Paulo (1886), o Instituto Agronômico de Campinas (1887), o
Instituto Bacteriológico de São Paulo (1892), a Escola Politécnica de São Paulo (1893) e o
Museu Paulista (1894).
Euclides da Cunha era um integrante dessa comunidade científica e, apesar de só entrar para
o IHGB depois de escrever os Sertões, já era filiado ao IHSP desde 1897 e à Comissão de
História e Estatística de São Paulo desde 1898. Estes eram os espaços que permitiam a
relação entre os filiados e as outras instituições e, principalmente, a difusão dos trabalhos dos
pesquisadores.
O LIVRO
A divisão interna da obra é fruto da influência sofrida por Euclides do historiador francês Taine,
o qual formulou no seu livro “Histoire de la Littérature Anglaise(1863)”, a concepção naturalista
da história – teoria que defendia que a história é determinada por três fatores: meio, raça e
momento. Tal concepção naturalista foi seguida pelo autor ao dividir “Os Sertões” em três
partes correspondentes aos fatores de Taine: “A Terra”, “O Homem” e “A Luta” . É também do
historiador francês a citação que consta na nota preliminar do livro a qual traz a idéia que o
“narrador sincero” deveria ser capaz de se sentir um bárbaro entre os bárbaros, com um
antigo entre os antigos.
No plano interpretativo, o professor Alfredo Bosi propõe a divisão da obra em dois grandes
planos: primeiro o plano histórico, que corresponde a parte final do livro – “ A Luta” – , sendo
que este é seguido pelo plano interpretativo que, por sua vez, corresponde às duas divisões
iniciais do mesmo (“A Terra” e “O Homem”). O momento histórico se reflete na obra tanto na
estrutura determinista (que defende que os estudos devem partir dos aspectos geológicos,
passando para detecção das variações climáticas para finalmente chegar ao último elo da
cadeia que é o homem) quanto no raciocínio homólogo entre as ciências, onde verificamos a
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Como pudemos observar ao longo do presente trabalho, Euclides da Cunha era, em poucas
palavras, um engenheiro militar, republicano, positivista que viveu na segunda metade do
século XIX em um país culturalmente preso à França; e é com esse indivíduo que devemos nos
dialogar durante a leitura desta obra. Até agora, nos detemos em fazer uma análise do
momento, do contexto, da vida, da ciência no Brasil, que envolveram o autor e sua obra, pois
acreditamos que esse é o instrumental teórico necessário para analisar um texto de tão
profundo impacto quanto “Os Sertões”. Uma leitura que eventualmente não atente para estes
detalhes pode deixar de observar a importância desta obra, ou então, cometendo um
anacronismo imensurável, taxá-la de racista.
A “Nota Preliminar” da obra mostra, de uma maneira resumida, qual é o instrumental teórico do
autor. Quando Euclides usa termos como “sub-raça sertaneja”, ele admite ser adepto tanto do
determinismo biológico quanto do darwinismo social. A marcha da civilização avançaria
inexoravelmente sobre o sertão “no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças
fortes” (GALVÃO, 1998: 14), porém, a Campanha de Canudos constituía em um retrocesso,
um crime. Este é o primeiro grande contraste de uma obra cheia deles: os homens
desenvolvidos do sul e do litoral que deveriam civilizar a sub-raça que vivia isolada na “terra
ignota” do interior, leva na verdade a morte para homens, mulheres, velhos e crianças.
O PLANO INTERPRETATIVO
“Como quer que seja, o penoso regime dos estados do Norte está em função de agentes
desordenados e fugitivos, sem leis ainda definidas, sujeita às perturbações locais, derivadas
da natureza da terra. Daí as correntes aéreas que o desequilíbram. (...)Um dos motivos da
seca repousa, assim, na disposição topográfica.(GALVÃO, 1998: 43)
O sertão é tão inóspito que até a natureza se contorce para ali viver. E como a natureza
também o homem se modifica e se adapta a ela.
Euclides denuncia de certa forma o fato desta área ser muito mal estudada, e, até nessa
questão, culpa a natureza por isso. O sertão e o sertanejo são algo nunca dantes entendidos e
estudados e isto é um dos fatores que fizeram de sua obra tão lida e tão comentada na época.
As comparações entre o sul e o norte mostram que desde o início da obra Euclides tem como
objetivo mostrar como que, através do determinismo geográfico, se formou uma sub-raça
mestiça no sertão. O sul seria a terra que atraí o homem e o norte a que expulsa, como
podemos ver nos trechos abaixo:
“E por mais inexperto que seja o observador – ao deixar as perspectivas majestosas, que se
desdobram ao Sul, trocando-as pelos cenários emocionantes daquela natureza torturada,
tem a impressão persistente de calcar fundo recém-sublevado de um mar extinto, tendo
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“ Ora, estas largas divisões, apenas esboçadas, mostram já uma essencial entre o Sul e o
Norte, absolutamente distintos pelo regime meteorológico, pela disposição da terra e pela
transição variável entre o sertão e a costa.”(GALVÃO, 1998: 74)
A partir de tais comparações o autor toma como certeza que a aclimatação dos indivíduos
seria prejudicial para o desenvolvimento dos mesmo. O europeu do que colonizou o Norte teria
sido corrompido pelo clima, já o do sul teria mantido as características superiores pela mesma
razão.
Neste trecho temos em resumo a idéia do porquê que o autor descreve tão detalhadamente a
terra. São as teorias deterministas, tanto biológicas quanto geográficas, que o norteam. O
homem é um fruto de seu lugar. Para o Euclides que escreve antes de ver pessoalmente o
desmonte criminoso do arraial de Canudos, as leis européias são as máximas vigentes.
Eis porque o sertanejo leva vantagem sobre o mestiço do litoral. O primeiro permaneceu
isolado enquanto o segundo teve que forçosamente se submeter às regras dos indivíduos
superiores.
Para ilustrar a idéia de que o sertanejo é um forte, Euclides da Cunha cria a metáfora da rocha
viva. Como vimos na época que escreveu os Sertões Euclides estava em São José para
reconstruir um ponte que havia tombado, ele acaba encontrando uma base muito firme para
essa reconstrução: o granito. A partir daí desenvolve uma correlação entre a pedra e o homem
do sertão.
Respondendo à criticas de que essa metáfora entrava em contradição com sua afirmação da
inexistência da unidade racial brasileira o próprio Euclides explica-a numa segunda edição do
livro.
De fato, a nossa formação como a do granito surge de três elementos principais . Entretanto
quem ascende por um cerro granítico encontra os mais diversos elementos: aqui a argila pura
do feldspato decomposto, variamente colorida; além da mica fracionada, rebrilhando
escassamente sobre o chão; adiante friável, do quartzo triturado; mais longe o bloco moutnné,
de aparência errática; de e por toda a banda a mistura desses mesmos elementos com a
adição de outros, adventicios, formando a incaracterístico solo arável, altamente complexo. Ao
fundo, porém, removida a camada superficial, está o núcleo compacto e rijo da pedra. Os
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elementos esparsos, em cima, nas mais diversas misturas, porque o solo exposto guarda até
os materiais estranhos trazidos pelo vento, ali estão, embaixo, fixos numa dosagem segura, e
resistentes, e íntegros.
A principio uma dispersão estonteadora de atributos, que vão de todas as nuances da cor a
todos os aspectos do caráter: Não há distinguir-se o brasileiro intrincado misto de brancos,
negros e mulatos de todos os sangues e de todos os matizes. Estamos à superfície da nossa
gens, ou melhor, seguindo à letra a comparação de há pouco, calcamos o húmos indefinido da
nossa raça. Mas estranhando-nos na terra vemos os primeiros grupos fixos - o caipira no sul,
e o tabaréu, ao norte - onde já se tornam raros o branco, o negro e o índio puros. A
mestiçagem generalizada produz, entretanto, ainda todas as variedades das dosagens
díspares dos cruzamentos. Mas a medida que prosseguimos estas últimas se atenuam.
Vai-se notando maior uniformidade nos caracteres físicos e morais. Por fim a rocha viva - o
sertanejo"(CUNHA, 1939: 580)
Euclides da Cunha não encontra o tipo brasileiro, que segundo ele próprio talvez nem exista,
mas estabelece um símbolo da nacionalidade, símbolo que podia se prestar "a operar como
um eixo sólido que centrasse, dirigisse e organizasse as reflexões desnorteadas sobre a
realidade nacional."(SEVCENKO, 1981: 106)
Igualmente importantes são as descrições do tipo de vida e dos costumes sertanejos.
Euclides mostra, à seu modo, como esses homens simples vivem, as suas relações com os
animais e coma a natureza local, bem como o seu fanatismo religioso, seu respeito á morte,
sua “psique” de uma forma geral.
elementos sobrenaturais.
Em linhas gerais, podemos definir esta parte do livro, o plano interpretativo de Bosi, a partir
dos contrastes nela enunciados. São eles os travados entre a região sul e norte do Brasil,
entre o litoral e o sertão nordestino, entre o sertão seco (infernal) e o sertão depois da chuvas
(padisíaco) e finalmente entre o mestiço do sertão – curiboca – e o mestiço do litoral – mulato.
As descrições ricamente cheias de detalhes preparam o leitor para o plano histórico onde os
fatos de desencadearão. Mais do que saber o que foi a Campanha, Euclides da Cunha nos
oferece a partir de seu livro um “raio x” do sertão e do sertanejo como nunca fora antes feito. O
leitor vai para “A Luta” sabendo quem e como vivem os atores deste triste episódio da história
brasileira.
O FINAL
É importante pensar no mito que se criou em torno tanto do autor, quanto da obra. Existe ainda
hoje uma relação passional com a figura de Euclides: duas cidades brigam para decidir aonde
vão ficar seus restos mortais – São José do Rio Pardo, aonde escreveu o livro e Cantagalo,
hoje também conhecida como Euclidolândia, aonde nasceu. O livro, publicado cinco anos
após o fim de Canudos, mesmo sendo um ataque ao exército e uma denúncia do genocídio
causado pela República, é um sucesso e vende muito assim que publicado. Criador e criatura
viram ícones. Mas para entender a criação deste mito, é preciso ver que este é um quebra-
cabeça de várias partes.
O próprio Dante Moreira Leite, justifica a importância e repercussão do livro por sua
linguagem.
“Se assim é, se a obra de Euclides da Cunha apresenta contradições tão nítidas – algumas
das quais foram percebidas pelos primeiros leitores e críticos – pode-se perguntar como
pôde ter uma repercussão tão grande. Esta não será compreendida se não lembrarmos o
seu valor literário; embora não seja livro fácil, nem destinado a uma leitura desatenta, Os
Sertões contém elementos de intensa dramaticidade, apresentados numa linguagem solene
e adequada à grandeza da narrativa”. (LEITE, 1983:229)
Talvez o que mais marcou sua vida, tanto quanto sua obra, foi a sua viagem a canudos.
Euclides era um cientificista, dentre muitas outras coisas, que vivia em uma época em que não
se “ia à luta”. Teóricos trabalhavam apenas sobre livros, mas Euclides vai a Canudos e suas
idéias ganham dinâmica. Dante Moreira Leite analisa como tal experiência repercutiu em uma
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“(...) o estilo de Euclides, capaz de transmitir ao leitor a vibração de revolta diante dos
acontecimentos de Canudos; além disso, como o livro pretende ser estritamente realista e,
mais ainda, um livro de ciência, a sua prosa dramática adquire, talvez por estar contida nos
limites da realidade histórica, uma intensidade que não teria na ficção.” (LEITE, 1983:222)
No entanto, como depois também vai apontar Bosi, a interpretação se achava presa a um
sistema de pensar fatalista. Entre o observador atento e a “cidadela-mundéu” dos jagunços
havia mais do que um simples olhar desprevenido: a fixação do homem e o relato da luta não
se fariam sem a tela das mediações ideológica e literária. Antônio Conselheiro vai ser sempre
o fruto mórbido de uma cultura propensa à desordem e ao crime. Como a sociedade que o
produziu, ele tende a reviver esquemas regressivos de conduta e linguagem. Como aparece
no livro:
“Vemos o quanto é forte esta alavanca – a palavra – que levanta sociedades inteiras,
derriba tiranias seculares”.
Bosi atenta par o uso da linguagem como modo de explicar e fundamentar o que não tem
fundamento nem explicação, a “ideologia do inapelável”. Daqui se entende o uso exaustivo de
intensificações e antinomias, que imprimem um sentido grandiloqüente ao texto, além de:
“reportar ao seu vezo de agigantar o tamanho, agravar o peso, acelerar o ritmo, alongar as
distâncias, acentuar as diferenças, exasperar as tensões, radicalizar as tendências: em
suma, ver nas coisas todas a sua face desmedida e extrema.” (BOSI: 6)
Um exemplo do próprio Sertões:
“Muito baixo no horizonte, o Sol descia vagarosamente, tangenciando com o limbo rutilante
o extremo das chapadas remotas e o seu último clarão, a cavaleiro das sombras, que já se
adunavam nas baixadas, caía sobre o dorso a montanha... Aclarou-o por momentos.
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Iluminou, fugaz, o préstito, que seguia à cadência das rezas. Deslizou, insensivelmente,
subindo, à medida que lentamente ascendiam as sombras, até ao alto, onde os seus
últimos raios cintilaram nos píncaros altaneiros. Estes fulguraram por instantes, como
enormes círios, prestes acesos, prestes apagados, bruxuleando na meia-luz do crepúsculo.
Mas todo este estilo “rebuscado”, se explique pela narrativa tratar de uma realidade já vista e
já sentida e qualificada como trágica. Assim, a montagem do relato acaba dependendo de
uma série cronológica, o que deixa que a liberdade estilística se faça maior no momento da
elocução (pelo uso intensivo das figuras de linguagem).
E foi realmente este seu estilo que o consagrou logo que publicou pela primeira vez Os
Sertões, mesmo sendo o seu conteúdo, quem traz sua importância: a de conseguir ultrapassar
o científico, ir à luta, ver, sentir e mudar.
Sua visão de mundo muda com sua vivência em Canudos. Mas talvez seja um pouco
complicado tratar da visão de mundo de um homem tendo lido apenas um livro seu. Nicolau
Sevcenko, em sua tese de doutoramento, faz uma análise minuciosa do que ele mesmo
entende por “visão de mundo”, porém, para isso, se baseia em praticamente tudo que o autor
deixou escrito. Como aparece na referida tese:
Porém, talvez sua visão cientificista e sua posição de republicano decepcionado ajudem a
compreender seu mundo. Principalmente depois de Canudos, ele via uma inversão em sua
sociedade. Mas o mais importante de pensar é como ele aparece como um homem de
contradições e contrários. Tanto ele escreve e argumenta opondo elementos, como vive em
um oscilar de posições. Quando Euclides vai a Canudos, perde este discurso factual e
determinista; o inelutável e intransponível do fato vai cedendo às inflexões de um pensamento
propriamente humano. A linguagem de denúncia e protesto que finaliza a narração de uma
Canudos destruída cumpre a função de um apelo em que, como Bosi afirma: “pode aparecer
um nós empenhado no que diz.”
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até ao esgotamento
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao
entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro
apenas: um velho, dous homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior,
a vertigem...
Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se
amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos
filhos pequeninos?...
Jazia num dos casebres anexos à latada, e foi encontrado graças à indicação de um
prisioneiro. Removida breve camada de terra, apareceu no triste sudário de um lençol
imundo, em que mãos piedosas haviam desprazido algumas flores murchas, e repousando
sobre uma esteira velha, de tabua, o corpo do ‘famigerado e bárbaro’ agitador. Estava
hediondo. Envolto no velho hábito azul de brim americano, mãos cruzadas ao peito, rosto
tumefacto e esquálido, os olhos fundos cheios de terra – mal o reconheceram os que mais
de perto o haviam tratado durante a vida.
Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça tantas vezes
maldita – e como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosamente
brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de
sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores.
Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões em festa, aquele crânio. Que a
ciência dissesse a última palavra. Ali estavam, no relevo de circunvoluções expressivas, as
linhas essenciais do crime e da loucura...”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O livro acaba mas não termina. Com esta obra o Brasil ganhava uma das suas mais
importantes reflexões sobre a identidade nacional. O escritor do início da obra, positivista que
acreditava na república, é o mesmo que denuncia a dor a fome e a barbárie. Canudos foi um
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crime cometido para e pela reiteração da república. O cancro monarquista nunca existiu
naquela terra esquecida pelos seus governantes e o Estado só chegara tão longe para trazer
a injustiça e a morte. Essa não era a república reclamada pelo autor.
Como identidade nacional, podemos tirar desta obra a seguinte frase: “A nação brasileira é o
resultado de uma angústia racial”. Euclides sofre essa angústia da qual as “leis” européias
não dão conta. O Brasil é um país sem seu tipo antropológico definido e ele, Euclides da
Cunha, é o primeiro que se propões a fazer um estudo a fundo desses cruzamentos todos que
nos formam. Euclides não mascarou a realidade porque não pregou uma falsa igualdade
social entre as “raças”, o que seria feito por outros como Oliveira Viana, ou Afonso Celso. Se
hoje podemos enxergar mais longe que Euclides é porque somos pigmeus olhando do ombro
de gigantes como ele.
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O Olho da História
O Olho da História: Revista de História Contemporânea é um periódico semestral, editado
pela Oficina Cinema-História, que tem o objetivo de promover discussões sobre a História, as
humanidades e as artes na contemporaneidade. O número 3 da revista aborda o tema
Canudos.
URL: www.ufba.br/~revistao/sumario3.html
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Canudos
"Página com várias curiosidades sobre Canudos, feita por alunos do 2° ano colegial."
URL: www.geocities.com/CollegePark/Lab/6434/canudos.html
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Os Sertões Illustrated
Página do pesquisador norte americano Thomas O. Beebee
URL:www2c.meshnet.or.jp/~taxi/07-97/sertao/sertoes1.html
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Site da Casa de Cultura Euclides da Cunha, com vasto material sobre Euclides e Os Sertões
URL: http://www2.rantac.com.br/casaeuclidiana/
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O Berrante Online é um site sobre temas ligados a Euclides da Cunha e a realidade da cultura
brasileira em geral
http://www.berrante.com.tj
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Coletivo Euclidiano
http://pagina.de/euclides
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http://www.portfolium.com.br/caudos.htm
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20. Título: Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, Através dos Sertões - Os Livros, os Autores
Autor: Paulo Dantas Neto
Imprenta: São Paulo: Massao Ohno, 1996, 112 p.
Assunto: Biografias de Literatos, Literatura Brasileira
Resumo:
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27. Título: Canudos - Fato e Fabula: Uma Leitura d'Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Autor: Lourival Holanda Barros
Orientador: Philippe Willemart
Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP.
Tipo de Trabalho: Tese (Doutorado), 129 p.
Ano: 1992
Assunto: Crítica Literária, Literatura Brasileira.
Localização: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP
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Resumo:
28. Título: A Contribuição das Ciências Naturais para o Consórcio da Ciência e da Arte em
Euclides da Cunha
Autor: José Carlos Barreto de Santana
Orientadora: Maria Amélia Mascarenhas Dantes
Instituição: Universidade de São Paulo / USP - SP
Tipo de Trabalho: Dissertação (Mestrado)
Ano: 1998
Assunto:
Localização: Biblioteca da USP - SP
Resumo: Este trabalho tem, como ponto de partida, o estudo das relações existentes entre um
dos discursos científicos euclidianos, o das Ciências Naturais, e as atividades e teorias nesse
campo do conhecimento. Entendo que a formação e atuação como engenheiro, e as relações
de Euclides da Cunha com a comunidade cientifica, bem como a existência, na sua obra, de
um conteúdo relacionado às Ciências Naturais e a inclusão, no próprio texto, de referências
explícitas a viajantes naturalistas, geólogos e botânicos, devem refletir o momento histórico
pelo qual passava o conhecimento científico no Brasil, entre o final do século XIX e o limiar do
século XX. Assim, a formação, as relações, a presença de tal conteúdo e tais referências,
indicam a possibilidade de o autor e da obra servirem como elementos para uma reflexão
sobre a prática científica no país, no período indicado.
Buscar-se-á, assim, contribuir para o entendimento de questões relacionadas com o conceito
e valorização das ciências e também para a análise de aspectos da profissionalização e
relação entre os cientistas no Brasil do final do século XIX e início do século XX.
Euclides da Cunha e sua obra são escolhidos, então, como objeto privilegiado de uma
pesquisa que pretende situá-los no contexto cultural de seu tempo e espaço, ao mesmo tempo
em que busca as marcas da atividade científica, procurando desvendar, através da sua
estrutura, interligação e desdobramentos, as suas relações com outras áreas culturais.
BIBLIOGRAFIA
SCHWARCZ, Lilia Mortiz, O Espetáculo das Raças - Cientistas, Instituições e questão racial
no Brasil 1870 - 1930 São Paulo, Cia das Letras, 1993.
SKIDEMORE, Thomas E., O Brasil Visto de Fora, Rio de Janeiro Paz na Terra, 1994.
SEVCENKO, Nicolau; Euclides da Cunha e Lima Barreto: A Literatura como missão, 1900-
1920.Tese de doutoramento, departamento de História FFLCH – USP, São Paulo 1981.
GALVÃO, Walnice Nogueira. “Os Sertões – Campanha de Canudos : Edição Crítica de”.
Ática, 1998, p.14
LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo, Livraria Pioneira Editora,
1983, 4a edição
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