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04/05/12 Euclides da Cunha - Os Sertões - Canudos

Euclides da Cunha, Os
Sertões e Canudos
Ana Cristina Venancio da Silva, Júlia Schwarcz,
Maíra Landulfo, Maria Cecília Winter,
Tila Corazza T. Pinto & Ynaê Lopes dos Santos
Segundo Ano - História/USP
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O MOMENTO

Com a Revolução
Industrial iniciada na
Europa no século XIII, toda
a civilização entrava em
uma nova fase
caracterizada pela
utilização do aço, do
petróleo e da eletricidade.
O capitalismo se estrutura
em moldes modernos com
o surgimento de grandes
complexos industriais. Ao
mesmo tempo o avanço
científico leva a novas
descobertas nos campos
da Física e da Química.

A chamada 2ª Revolução
Industrial cria uma
demanda por matéria-
prima e mercado
consumidor ; é o
imperialismo em ação. As
influências das potências
européias sobre os países
de baixa renda se
fortificam neste novo
quadro.

A crise de 1873, que


provoca a falência de
investidores nas
metrópoles européias
devido ao excesso de
produção e/ou à escassez
de mercado consumidor,
aumenta o interesse de
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tais potências por países


que já possuem alguma
dependência econômica
ou política (por exemplo a
Austrália, ex-colônia da
Inglaterra e os países da
América Latina em geral).
Essa forma de
dependência o historiador
Nicolau Sevcenko chamou
de indirect rule:

“...as formas das relações que se estabeleceram entre as nações periféricas ao


desenvolvimento industrial e os centros econômicos europeus, modeladas pela indirect rule
do novo imperialismo, foram de natureza a dissolver-lhe as peculiaridades arcaicas e
harmonizá-las com um padrão de homogeneidade internacional sintonizado com os
modelos das matrizes do velho mundo. ”(SEVCENKO, 1981: 32)

Foi através desta “regra indireta” que os centros capitalistas europeus estabeleceram seus
padrões de vida como padrões universais, atingindo principalmente suas áreas de influência
da periferia do sistema. Os avanços tecnológicos e científicos também dão margem à
posturas ideológicas como o Positivismo de Auguste Comte e o Socialismo Científico de Marx
e Engels, que define o modo de produção da vida material como agente condicionador do
processo de vida social, político e intelectual em geral. O Socialismo Científico era assim
chamado porque não procurava construir abstratamente uma sociedade ideal mas, baseando-
se na análise das realidades econômicas, da evolução histórica e do capitalismo, formula leis
e princípios determinantes da História em direção a uma sociedade sem classes e igualitária.
O Evolucionismo de Charles Darwin também é incorporado neste quadro; em seu livro A
Origem das Espécies de 1859, Darwin expõe seus estudos sobre a evolução das espécies
pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida pelo
Cristianismo.

Com a expansão do capitalismo, difundiram-se também estas idéias nascidas na Europa, o


abalo desta influência sobre as sociedades tradicionais foi gritante, especialmente em países
da periferia do sistema, como a Argélia com o Levante Argelino de 1871, o Egito com o
Movimento Nacional Egípcio de 1879-1882, e o Brasil com a Guerra do Paraguai de 1864-
1870 que abalou os ideais conservadores.

O Brasil do final do século XIX foi marcado por inúmeras agitações sociais, desde
movimentos separatistas como a Confederação do Equador, agitações abolicionistas, a
própria abolição e até a República. O maior centro populacional do país, o Rio de Janeiro,
também era considerado um grande centro comercial por intermediar os recursos da
economia cafeeira, a capital inicia o século XX em uma situação realmente excepcional. A
cidade era um espaço de confluência cultural e econômica que se comunicava com todo o
país e acumulava recursos no comércio, nas finanças e já também nas aplicações industriais.

Ao mesmo tempo, com o processo de abolição e com a vinda de imigrantes, a cidade


passava por uma superlotação, que demandava capital móvel para fazer o pagamento dos
trabalhadores, agora livres. O então ministro da Fazenda, Rui Barbosa, dá início à um
processo de incentivo às atividades nas bolsa de valores, foi o chamado Encilhamento. Este
processo causou uma confusão maior ainda na cidade, pois fortunas mudavam de mãos,

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dizia-se que “o rico de hoje era o tintureiro de ontem”, não se sabia mais quem possuía poder
político ou econômico. Adiciona-se a essa confusão, a enorme e sempre crescente população
da cidade que passou a se instalar em casarões formando cortiços e verdadeiros “ântros de
promiscuidade”.

Sob a influência das ideologias européias, o Estado brasileiro inicia o processo de


Regeneração do Rio de Janeiro, que tem como objetivo “higienizar” a cidade, mandando a
população pobre para a periferia (dando origem às favelas), e procurando construir uma
imagem moderna para a capital do país. A Regeneração foi financiada por investidores
estrangeiros que se aproveitavam da indirec rule, característica dominante no país. Além disso
a modernização da cidade facilitaria o espaço de fluxo de matéria-prima aos portos
brasileiros, e assim, facilitaria a ação do imperialismo.

Na República, “confrontavam-se” Liberais, que se representavam basicamente pela elite


paulista influenciada pelo cosmopolitismo progressista internacional e os Conservadores
representados pela vanguarda republicana, positivista e militar, influenciada por estigmas de
intolerância e isolamento. Na prática, os ideais destes dois grupos são indiferenciáveis: “nada
mais conservador do que um liberal no poder”, a República dos Conselheiros se dava então,
com o revezamento da gestão das duas classes. O texto de Machado de Assis, Esaú e Jacó
ilustra bem a “política de acordos” característica marcante no Brasil de então. É neste
complexo quadro que se dá a formação de Euclides da Cunha, ele, como muitos de seus
contemporâneos sofreu as influências desta sociedade caótica e das ideologias vindas de
além mar.

O CONTEXTO

Para que consigamos compreender a obra de Euclides da Cunha de uma forma mais
completa, é estritamente necessário que façamos um breve parênteses, e olhemos quais
eram essas “tão famosas” idéias cientificistas, positivistas e deterministas que influenciaram o
autor, ou seja: vamos buscar as fontes nas quais Euclides da Cunha “bebeu”. Tentar enquadrá-
lo no contexto histórico-intelectual em que viveu.

Antes de mais nada, é importante relembrarmos que o continente Americano, mais conhecido
como Novo Mundo, sempre povoou o imaginário europeu. Exemplos clássicos, são o mito do
“bom Selvagem” de Rousseau (uma espécie de herança do ideais da Revolução Francesa),
onde o autor defendia a maior perfectibilidade do homem americano ( nativo), por ter se
conservado no seu estado natural. Outro exemplo são as idéias de Buffon e De Pauw, que
contrariamente a Rousseau, viam os americanos como degradados, imaturos e decaídos.
(SCHWARCZ, 1993:45)

Mas tal discussão não se finda no séc. XVIII. No século seguinte ela ganha ainda mais
amplitude, entrando no campo de ciência - que na época ganha o status de ser a única e
verdadeira forma de se ver e pensar o mundo. E dentro desse contexto cientificistas, George
Cuvier introduz o termo raça - mostrando a existência da herança de caracteres físicos
permanentes entre os vários grupos humanos (SCHWARCZ, 1993:47) - que,
consequentemente irá se confrontar com os ideais igualitários da Revolução Francesa,
principalmente porque, a partir de então, o termo raça, estará vinculado a outro: cidadania.

Ao ser legitimada, algumas das principais questões que a ciência irá estudar são a origem e
diversidade da humanidade - tendo sempre em vista uma resposta absoluta e verdadeira. E o
principal debate sobre essa questão se dará entre os monogenistas e poligenistas. Enquanto
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os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma origem e que as diferenças entre
eles era resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria difundida pela Igreja
Cristã), os poligenistas, que baseados em recentes estudos de cunho biológico, acreditavam
que haviam diversos núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos
humanos(SCHWARCZ, 1993: 47). Conseqüentes a esse debate, surgiram no séc. XIX
disciplinas e sociedades não só divergentes como rivais. Exemplos claros será o surgimento
de antropologia criminal, que considerava que a criminalidade era algo genético, a frenologia
e a antropometria, que calculavam a capacidade humana de acordo com o tamanho do
cérebro de indivíduo estudado dos diferentes grupos humanos, a craniologia, estudo do
crânio, dentre outros.

Entretanto o debate tomará novo fôlego com a publicação do livro A Origem das Espécies de
Charles Darwin em 1859. A partir de então o termo raça ultrapassará o campo da biologia, se
estendendo às discussões culturais e políticas, além de imprimir o conceito de evolução às
duas visões descritas acima, que muitas vezes irão desvirtuar ou “adaptar” as teorias
darwinistas no que lhes fosse mais conveniente.

Os adeptos do poligenismo são os que melhor realizam essa “adaptação” das teorias de
Darwin e acabam tendo seus ideais mais difundidos em relação ao seus rivais monogenistas
(é importante frisar que nesse mesmo momento os dogmas da Igreja estavam sendo
questionados pelos cientistas). Exemplos disso são a sociologia evolutiva de Spencer e a
história determinista de Buckle e até mesmo o sentimento do “Imperialismo Europeu” que se
instala nesse momento.

A espécie humana passa a ser tratada como gênero humano e suas diferenças culturais são
classificadas como diferenças entre espécies: o Homem é dividido e hierarquizado por suas
diferenças; e quanto mais longe uma “espécie” se manter da outra melhor para todos. Mas
surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte dos
estudiosos e cientistas europeus e norte americanos como Broca, Gobineau e Le Bom,
consideravam a miscigenação um erro, uma quebra das leis naturais, uma subversão do
sistema. Segundo Lilia M. Schwarcz: “Os mestiços exemplificavam, segundo essa última
interpretação, a diferença fundamental entre as raças e personificavam a ‘degeneração’ que
poderia advir do cruzamento de espécies diversas”.(SCHWARCZ, 1993: 56)

Frente a todo esse impacto causado pela publicação de Charles Darwin, outras disciplinas-
ainda vinculadas às duas visões sobre a origem e diferença do Homem- irão surgir. Dentre
elas, algumas se destacam: a Antropologia cultural ou Etnologia Social que restitui a idéia de
que a humanidade tinha apenas uma origem e sua diferença era proveniente do processo
evolutivo que ela estava fadada a passar e tinha como seus principais defensores: Morgan,
Tylor e Frazer, chamada de escola evolucionista.

Numa perspectiva mais vinculada ao poligenismo, aparece a escola determinista geográfica


de Ratzel e Buckle que afirmavam que o desenvolvimento ou não de uma nação estava
totalmente condicionada pelo meio físico. Houve também outra escola determinista conhecida
como “darwinismo social” ou “teoria das raças”, que considerava a miscigenação algo
negativo, já que não acreditava que as características adquiridas não eram transmitidas, ou
seja: as raças eram imutáveis. Tal escola acreditava na existência de três raças bem
distantes, o que invalidava a mestiçagem. O mundo dividido culturalmente era conseqüência
da divisão de raças, e havia a raça superior. Muitos autores acreditavam nesse ideais como:
Le Bom que achava que o “gênero” humano compreendia espécies de diferentes origens.
Taine que considerava o indivíduo resultante direto de seu grupo construtor e que raça e nação
são sinônimos. Renase que acreditava na existência e hierarquização das três raças. E por
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fim Gobineau que afirmava que o resultara da mistura era sempre um dano.(SCHWARCZ,
1993: 56)

Essas premissas da escola determinista, principalmente a que defendia a existência de uma


raça superior, serviram de base para um movimento que existe até hoje: a Eugenia, que
acreditava que só haveria progresso nas sociedades puras, apenas uma raça estava fadada à
perfectibilidade, a raça ariana e a humanidade estava dividida em espécies: a miscigenação
se torna algo irracional, contra todas as “leis naturais”. A Europa e os E.U.A. . difundiram
essas idéias pelo mundo, e elas irão influenciar escritores e pensadores de toda parte.

Os europeus acreditavam que compunham um grupo humano puro, livre de hibridização, muito
mais perto da perfectibilidade e justamente por isso era o responsável pela civilização dos
demais grupos - argumento que justifica e legitima tanto a colonização americana como o
“Imperialismo Europeu”, o fardo do homem branco.

Já os norte americanos, mesmo tendo sido colônias da Europa, comprovaram seu


desenvolvimento, principalmente por terem evitado a miscigenação entre o branco dominador
e o negro escravo. E tudo o que foi dito acima serve de justificativa para que o debate da
mestiçagem se dê de forma muito menos complexa nesses lugares. No Brasil, como no
restante da América Latina, o mesmo não ocorre, a miscigenação é um fato. E mais do que
um fato, ela vai se tornar um obstáculo, quando estudiosos e até mesmo cientistas (tanto
nacionais como estrangeiros) forem analisar o território brasileiro em busca de uma
identidade nacional. O Brasil se tornara uma espécie de laboratório vivo, onde cientistas
procuraram comprovar na prática o que compuseram, e onde “ilustrados” brasileiros buscaram
desesperadamente uma unidade, uma homogeneidade para definir o povo brasileiro, tendo
como principal fonte de estudo , a ciência do séc. XIX descrita acima.

A VIDA

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de


janeiro de 1866. Foi criado pelos parentes, pois sua mãe morreu quando ele tinha três anos.

Após concluído o ginásio, ingressou na Escola Politécnica, para cursar engenharia. Devido às
dificuldades financeiras, Euclides teve que largar o curso, e transferiu-se para Escola Militar da
Praia Vermelha. Lá, reencontrou Benjamim Constant, seu antigo professor no Colégio Aquino,
e de quem absorveria idéias positivista e republicanas.

Já identificado com os princípios republicanos, Euclides da Cunha cometeu um ato de


insubmissão contra a Monarquia, quando cadete na fortaleza da Praia Vermelha: durante a
visita do ministro da Guerra do Império, o conselheiro Tomás Coelho, atirou seu sabre aos pés
deste, num gesto de contestação ao regime. Foi expulso do Exército por indisciplina.

Mudou-se para São Paulo e começou a escrever no jornal “A Província de São Paulo” (futuro
“Estado de São Paulo”, após a proclamação da República). Com a vitória republicana, voltou
ao Exército e concluiu a Escola Militar, formando-se em Engenharia com bacharelado em
Matemática e Ciências Físicas e Naturais.

Em 1894, foi praticamente exilado (dão-lhe a incumbência de dirigir a construção de um


quartel na cidade mineira de Campanha) por assumir posição antiflorianista. De lá, voltou
para São Paulo para escrever no “Estado de São Paulo”.

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Em 1897, Euclides foi mandado para Canudos pelo jornal como correspondente para reportar
os eventos que lá ocorriam. Enviou uma série de artigos que, futuramente, dariam origem ao
“Os Sertões”. O livro foi concluído em São José do Rio Pardo, onde morou até 1901.

“Os Sertões” alcançam repercussão nacional, permitindo a Euclides ingressar no Instituto


Histórico e Geográfico Brasileiro e na Academia Brasileira de Letras. Nada disso fez com que
Euclides tivesse sua vida mais facilitada. Continuou com a Engenharia, com momentos de
desemprego, enfrentando dificuldades financeiras.

Em 1909, ingressa no Colégio PedroII, no Rio de Janeiro, para ministrar a cadeira de Lógica.
No mesmo ano é assassinado pelo amante de sua mulher, Ana de Assis, durante uma troca
de tiros. Morre com 43 anos de idade. Ensaísta e narrador extraordinário de Os sertões,
Euclides da Cunha é o primeiro escritor a encarnar o gigantismo da terra brasileira, fazendo
de sua obra um dos principais alicerces da consciência nacional.

A OBRA

1) CONTRASTES E CONFRONTOS, 1907. Coletânea de artigos saídos na imprensa


2) PERU X BOLÍVIA,1907. Estudo técnico sobre o litígio fronteiriço entre esses dois países
andinos. Através de material técnico e histórico, Euclides mostra os erros que terminaram por
orientar a delimitação territorial entre Peru e Bolívia.
3) À MARGEM DA HISTÓRIA,1909. Obra publicada após a morte de Euclides também
reunindo artigos saídos na imprensa.
4) CADERNETA DE CAMPO,1975
CANUDOS, DIÁRIO DE UMA EXPEDIÇÃO, 1939.
Ambos os livros foram organizados valendo-se de textos que Euclides publicou no “Estado de
São Paulo” entre Agosto e Setembro de 1897. Mostra como, ao produzir “Os Sertões”,
Euclides retrabalhou seus escritos anteriores.

A CIÊNCIA E O PAÍS

A historiografia das ciências no Brasil é caracterizada pelo fato de considerar a criação das
universidades na década de 30 do século XX como sendo a introdução da ciência no Brasil. A
prática científica nos períodos anteriores a essa data é geralmente considerada como
resultado da influência européia, não passando de mera repetição e copias das teorias
vigentes na Europa.

Não acreditamos que todo o trabalho intelectual brasileiro desde meados do século XIX possa
ser considerado simples imitação, já que isso significaria "cair em certo reducionismo,
deixando de lado a atuação de intelectuais reconhecidos na época, e mesmo desconhecer
a importância de um momento em que a correlação entre a produção cientifica e o
movimento social aparece de forma bastante evidenciada."(SCHWARCZ, 1993: 17)

No caso das teorias raciais parece ainda mais improvável a hipótese delas terem sido
"importadas" e reproduzidas aleatoriamente no Brasil. Elas podiam trazer uma sensação de
proximidade com a Europa e uma confiança no progresso e na civilização, "pareciam justificar
cientificamente organizações e hierarquias tradicionais que pela primeira vez começavam a
ser colocadas publicamente em questão"(SCHWARCZ, 1993: 18), mas também traziam um
enorme mal estar. Como encarar a interpretação pessimista da mestiçagem presente nessas

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teorias num país já tão miscigenado?

Aceitar, copiar e reproduzir essas teorias no Brasil iria inviabilizar um projeto de construção
nacional que mal tinha começado. Os homens de ciência brasileiros tiveram que achar uma
resposta original, adaptando essas teorias utilizando o que combinava e descartando o que
era problemático para a construção de um argumento racial no país. Esses homens são
encontrados nos grupos de intelectuais reunidos nos diversos institutos de pesquisa e "longe
de conformarem um grupo homogêneo (...) estes intelectuais guardavam, porém, certa
identidade que os unia: a representação comum de que os espaço científicos dos quais
participavam lhes davam legitimidade para discutir e apontar os impasses e perspectivas
que se apresentavam para o país"(SCHWARCZ, 1993: 37).

A ciência era para esses homens o único caminho possível para as transformações e
sobrevivência do Brasil. A vertente cientificista buscava encontrar as leis que organizavam a
sociedade brasileira, que determinavam a formação do gênio, do espírito e do caráter do
povo. Segundo essa mesma vertente, recorrendo à leis e métodos gerais, seria possível
encontrar as especificidades da evolução brasileira e, assim, deduzir seu rumo. Como
apontou Sevcenko essa atitude seria "uma versão desdobrada do lema lapidar do
positivismo: 'Prever para Prover"(SEVCENKO, 1981: 103).

A necessidade de conhecer o Brasil também estava calcada no medo que muitos dessa
geração tinham de que o país fosse invadido pelas potências expansionistas e viesse a
perder autonomia ou parte do território. O próprio Euclides da Cunha pregava a necessidade
da colonização do interior e a construção de uma rede interna de comunicação viária.

Essa atitude reformista e salvacionista pretendia criar um saber próprio sobre o Brasil nos
seus mais diferentes aspectos e resultava em duas reações da comunidade científica. A
primeira era acreditar no curso natural dos acontecimentos, sublimando as dificuldades
presentes e transformando a sensação de inferioridade em um mito de superioridade. A
segunda era buscar um conhecimento profundo do país para descobrir um certa ordem no
caos presente.

Acreditamos que Euclides da Cunha esteja no segundo grupo, não só porque em momento
algum aponta o embranquecimento natural da população, mas, principalmente pelas suas
tentativas de determinar um tipo ético representativo da nacionalidade ou, pelo menos,
simbólico dela.

Euclides da Cunha e a comunidade científica

Na obra de Euclides da Cunha podemos perceber a influência de várias teorias que estavam
em voga na época e, por isso, temos que entender como ele entrou em contato com elas. O
regulamento implantado em 1874 na Escola Militar da Praia Vermelha, onde Euclides da
Cunha realizou seus estudos de engenharia, foi implantado num "ambiente intelectual já
permeável às doutrinas cientificistas, de cunho positivista, evolucionista ou determinista."
(SANTANA: 35)

Por adotar o modelo francês uma das principais características da Escola Militar era a ênfase
dada aos estudos matemáticos e um currículo que abrangia as ciências básicas para a
formação de um engenheiro. Segundo Walnice Galvão, o estudo na Escola Militar foi muito
importante para o conhecimento presente nos Sertões, "se compararmos as áreas de
conhecimento que lá são mobilizadas com o currículo da Escola quando ele era aluno,
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verificamos que ele já estava familiarizado com boa parte delas. Tinha estudado na Escola
química orgânica, mineralogia, geologia, botânica, arquitetura civil e militar, construção de
estradas, desenho topográfico, ótica, astronomia, geodésia, administração militar, tática e
estratégia, história militar, balística, mecânica racional, tecnologia militar e as matemáticas.
(...) Como matérias de currículo, não teriam sido obrigatoriamente estudadas a fundo,
conforme se percebe no livro, mas é com vistas afinadas para estes saberes que Euclides
avalia Canudos e a guerra."(SANTANA: 43)

Como podemos explicar então o fato de teorias não necessariamente ligadas com a
engenharia estarem presentes na obra de Euclides da Cunha, já que como afirma Sevcenko,
ele se utiliza de "bases genéricas do comtismo, para fundi-las com a sociologia organicista e
a filosofias biossociais de cunhagem inglesa e alemã"(SEVCENKO, 1981: 149). O contato
com as correntes cientificistas não se davam exclusivamente via sala de aula, mas
"incorporadas ao cotidiano dos alunos através de revista e sessões de sociedades
estudantis, onde se poderiam acompanhar os debates das teorias cientificistas mais
modernas, como as de Spencer, Haeckel e Darwin."(SANTANA: 35)

Depois de formado, Euclides da Cunha continua em contato com os escritos desses autores e
também passa a ler escritos sobre o Brasil, como as obras de Varnhagem, Morize, Caminhoá,
Silvio Romero, Capistrano de Abreu, Teodoro Sampaio, Derby, Saint-Hilaire, Liais. Em São
Paulo, Euclides da Cunha encontra alguns desses novos autores que foram contratados para
trabalhar nas recém implantadas instituições, das quais são exemplos: a Comissão
Geográfica e Geológica de São Paulo (1886), o Instituto Agronômico de Campinas (1887), o
Instituto Bacteriológico de São Paulo (1892), a Escola Politécnica de São Paulo (1893) e o
Museu Paulista (1894).

Euclides da Cunha era um integrante dessa comunidade científica e, apesar de só entrar para
o IHGB depois de escrever os Sertões, já era filiado ao IHSP desde 1897 e à Comissão de
História e Estatística de São Paulo desde 1898. Estes eram os espaços que permitiam a
relação entre os filiados e as outras instituições e, principalmente, a difusão dos trabalhos dos
pesquisadores.

O LIVRO

A divisão interna da obra é fruto da influência sofrida por Euclides do historiador francês Taine,
o qual formulou no seu livro “Histoire de la Littérature Anglaise(1863)”, a concepção naturalista
da história – teoria que defendia que a história é determinada por três fatores: meio, raça e
momento. Tal concepção naturalista foi seguida pelo autor ao dividir “Os Sertões” em três
partes correspondentes aos fatores de Taine: “A Terra”, “O Homem” e “A Luta” . É também do
historiador francês a citação que consta na nota preliminar do livro a qual traz a idéia que o
“narrador sincero” deveria ser capaz de se sentir um bárbaro entre os bárbaros, com um
antigo entre os antigos.

No plano interpretativo, o professor Alfredo Bosi propõe a divisão da obra em dois grandes
planos: primeiro o plano histórico, que corresponde a parte final do livro – “ A Luta” – , sendo
que este é seguido pelo plano interpretativo que, por sua vez, corresponde às duas divisões
iniciais do mesmo (“A Terra” e “O Homem”). O momento histórico se reflete na obra tanto na
estrutura determinista (que defende que os estudos devem partir dos aspectos geológicos,
passando para detecção das variações climáticas para finalmente chegar ao último elo da
cadeia que é o homem) quanto no raciocínio homólogo entre as ciências, onde verificamos a
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transposição de idéias da biologia e geologia para a explicação dos fenômenos humanos.

Como pudemos observar ao longo do presente trabalho, Euclides da Cunha era, em poucas
palavras, um engenheiro militar, republicano, positivista que viveu na segunda metade do
século XIX em um país culturalmente preso à França; e é com esse indivíduo que devemos nos
dialogar durante a leitura desta obra. Até agora, nos detemos em fazer uma análise do
momento, do contexto, da vida, da ciência no Brasil, que envolveram o autor e sua obra, pois
acreditamos que esse é o instrumental teórico necessário para analisar um texto de tão
profundo impacto quanto “Os Sertões”. Uma leitura que eventualmente não atente para estes
detalhes pode deixar de observar a importância desta obra, ou então, cometendo um
anacronismo imensurável, taxá-la de racista.

Passemos agora ao texto e suas características principais.

A “Nota Preliminar” da obra mostra, de uma maneira resumida, qual é o instrumental teórico do
autor. Quando Euclides usa termos como “sub-raça sertaneja”, ele admite ser adepto tanto do
determinismo biológico quanto do darwinismo social. A marcha da civilização avançaria
inexoravelmente sobre o sertão “no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças
fortes” (GALVÃO, 1998: 14), porém, a Campanha de Canudos constituía em um retrocesso,
um crime. Este é o primeiro grande contraste de uma obra cheia deles: os homens
desenvolvidos do sul e do litoral que deveriam civilizar a sub-raça que vivia isolada na “terra
ignota” do interior, leva na verdade a morte para homens, mulheres, velhos e crianças.

O PLANO INTERPRETATIVO

As características de topógrafo, engenheiro e geógrafo, colocam em destaque a riqueza


técnica e a sensibilidade do autor na descrição das várias paisagens do Brasil. Um exemplo
dos conhecimentos técnicos é quando o mesmo explica a sazonalidade e a previsibilidade
das secas do nordeste. Neste trecho fica demonstrado que o autor não só descreve como
problematiza as questões climáticas porque tem conhecimento de causa.

“Como quer que seja, o penoso regime dos estados do Norte está em função de agentes
desordenados e fugitivos, sem leis ainda definidas, sujeita às perturbações locais, derivadas
da natureza da terra. Daí as correntes aéreas que o desequilíbram. (...)Um dos motivos da
seca repousa, assim, na disposição topográfica.(GALVÃO, 1998: 43)

O sertão é tão inóspito que até a natureza se contorce para ali viver. E como a natureza
também o homem se modifica e se adapta a ela.

Euclides denuncia de certa forma o fato desta área ser muito mal estudada, e, até nessa
questão, culpa a natureza por isso. O sertão e o sertanejo são algo nunca dantes entendidos e
estudados e isto é um dos fatores que fizeram de sua obra tão lida e tão comentada na época.

As comparações entre o sul e o norte mostram que desde o início da obra Euclides tem como
objetivo mostrar como que, através do determinismo geográfico, se formou uma sub-raça
mestiça no sertão. O sul seria a terra que atraí o homem e o norte a que expulsa, como
podemos ver nos trechos abaixo:

“E por mais inexperto que seja o observador – ao deixar as perspectivas majestosas, que se
desdobram ao Sul, trocando-as pelos cenários emocionantes daquela natureza torturada,
tem a impressão persistente de calcar fundo recém-sublevado de um mar extinto, tendo
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ainda estereotipada naquelas camadas rígidas a agitação das ondas voragens”(GALVÃO,


1998: 29)

“ Ora, estas largas divisões, apenas esboçadas, mostram já uma essencial entre o Sul e o
Norte, absolutamente distintos pelo regime meteorológico, pela disposição da terra e pela
transição variável entre o sertão e a costa.”(GALVÃO, 1998: 74)

A partir de tais comparações o autor toma como certeza que a aclimatação dos indivíduos
seria prejudicial para o desenvolvimento dos mesmo. O europeu do que colonizou o Norte teria
sido corrompido pelo clima, já o do sul teria mantido as características superiores pela mesma
razão.

“A aclimatação traduz um evolução regressiva. O tipo desaparece num esvaecimento


contínuo, que se lhe permite a descendência até à extinção total. Como o inglês nas
Barbadas, na Tasmânia ou na Austrália, o português no Amazonas, se foge ao cruzamento,
no fim de poucas gerações tem alterados os caracteres físicos e morais de uma maneira
profunda, desde a tez, que se acobreia pelos sóis e pela eliminação incompleta do carbono,
ao temperamento, que se debilita despido das qualidades primitivas. A raça inferior, o
selvagem bronco, domina-o; aliado ao meio vence-o, esmaga-o, anula-o na concorrência
formidável ao impaludismo, ao hepatismo, às pirexias esgotantes, às canículas
abrasadoras, e aos alagadiços maleitosos.”(GALVÃO, 1998: 79)

Neste trecho temos em resumo a idéia do porquê que o autor descreve tão detalhadamente a
terra. São as teorias deterministas, tanto biológicas quanto geográficas, que o norteam. O
homem é um fruto de seu lugar. Para o Euclides que escreve antes de ver pessoalmente o
desmonte criminoso do arraial de Canudos, as leis européias são as máximas vigentes.

Os tipos brasileiros, como o sertanejo e o gaúcho, resultaram não só da mestiçagem mas


também da interação entre homem e natureza, homem e sociedade. Continua a operar o
paralelo entre as séries, especialmente entre as mais próximas: as espécies de plantas e de
animais devem a sua anatomia e fisiologia tanto à herança quanto a seculares esforços de
adaptação ao meio e aos outros organismos. A simetria, que se dá por provada no nível
genético e no nível mesológico, estendendo-se ao social. E os caracteres raciais ora
confirmam-se ora se alteram no curso histórico da luta pela vida.

A descrição geográfica da região onde se instala o “Belo Monte” de Conselheiro, é detalhada,


o que dá à obra uma característica própria do autor. O clima, o solo, os ventos, as chuvas, a
temperatura, os animais e o homem, tudo é descrito não só apenas por um observador atento
mas por um cientista natural.

O sertão é a terra esquecida pela metrópole


portuguesa e posteriormente pela
monarquia brasileira. Nela se formou
isolada geograficamente um povo mestiço
que se diferenciou dos mestiços litorâneos,
para melhor, em razão do próprio
isolamento no qual se mantiveram. Não
podemos esquecer que “o sertanejo é antes
de tudo um forte” porque não é como “os
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mestiços neurastênicos do litoral”. Eis,


então, outro grande contraste que permeia
toda a obra de Euclides da Cunha. Mas
antes de mais nada, o autor reforça que
toda “a mestiçagem extremada é um
retrocesso”, o que vai de encontro com as
teorias vigentes. Nessa época, dizer que o
homem branco não superior à qualquer tipo
de mestiçagem é uma ofensa a uma lei que
até então era inquestionável.

“Porque ali ficaram, inteiramente


divorciados do resto do Brasil e do mundo,
murados a leste pela Serra Geral, tolhidos
no ocidente pelos amplos campos gerais,
que se desatam para o Piauí e que ainda
hoje o sertanejo acredita sem fins. O meio
atraía-o e guardava-os.”(GALVÃO, 1998:
190)

"O abandono em que jazeram teve função


benéfica. Libertou-os da adaptação
penosíssima a um estádio social superior,
e simultaneamente, evitou que
descambassem para as aberrações e
vícios dos meios adiantados”(GALVÃO,
1998: 103)

Eis porque o sertanejo leva vantagem sobre o mestiço do litoral. O primeiro permaneceu
isolado enquanto o segundo teve que forçosamente se submeter às regras dos indivíduos
superiores.

Para ilustrar a idéia de que o sertanejo é um forte, Euclides da Cunha cria a metáfora da rocha
viva. Como vimos na época que escreveu os Sertões Euclides estava em São José para
reconstruir um ponte que havia tombado, ele acaba encontrando uma base muito firme para
essa reconstrução: o granito. A partir daí desenvolve uma correlação entre a pedra e o homem
do sertão.

Respondendo à criticas de que essa metáfora entrava em contradição com sua afirmação da
inexistência da unidade racial brasileira o próprio Euclides explica-a numa segunda edição do
livro.

"Rocha viva...A locução sugere-me um símile eloqüente.

De fato, a nossa formação como a do granito surge de três elementos principais . Entretanto
quem ascende por um cerro granítico encontra os mais diversos elementos: aqui a argila pura
do feldspato decomposto, variamente colorida; além da mica fracionada, rebrilhando
escassamente sobre o chão; adiante friável, do quartzo triturado; mais longe o bloco moutnné,
de aparência errática; de e por toda a banda a mistura desses mesmos elementos com a
adição de outros, adventicios, formando a incaracterístico solo arável, altamente complexo. Ao
fundo, porém, removida a camada superficial, está o núcleo compacto e rijo da pedra. Os
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elementos esparsos, em cima, nas mais diversas misturas, porque o solo exposto guarda até
os materiais estranhos trazidos pelo vento, ali estão, embaixo, fixos numa dosagem segura, e
resistentes, e íntegros.

Assim, à medida que aprofunda, o observador se aproxima da matriz de todo definida no


local. Ora o nosso caso é idêntico - desde que sigamos das cidades do litoral para os vilarejos
do sertão.

A principio uma dispersão estonteadora de atributos, que vão de todas as nuances da cor a
todos os aspectos do caráter: Não há distinguir-se o brasileiro intrincado misto de brancos,
negros e mulatos de todos os sangues e de todos os matizes. Estamos à superfície da nossa
gens, ou melhor, seguindo à letra a comparação de há pouco, calcamos o húmos indefinido da
nossa raça. Mas estranhando-nos na terra vemos os primeiros grupos fixos - o caipira no sul,
e o tabaréu, ao norte - onde já se tornam raros o branco, o negro e o índio puros. A
mestiçagem generalizada produz, entretanto, ainda todas as variedades das dosagens
díspares dos cruzamentos. Mas a medida que prosseguimos estas últimas se atenuam.

Vai-se notando maior uniformidade nos caracteres físicos e morais. Por fim a rocha viva - o
sertanejo"(CUNHA, 1939: 580)

Euclides da Cunha não encontra o tipo brasileiro, que segundo ele próprio talvez nem exista,
mas estabelece um símbolo da nacionalidade, símbolo que podia se prestar "a operar como
um eixo sólido que centrasse, dirigisse e organizasse as reflexões desnorteadas sobre a
realidade nacional."(SEVCENKO, 1981: 106)
Igualmente importantes são as descrições do tipo de vida e dos costumes sertanejos.
Euclides mostra, à seu modo, como esses homens simples vivem, as suas relações com os
animais e coma a natureza local, bem como o seu fanatismo religioso, seu respeito á morte,
sua “psique” de uma forma geral.

“O homem dos sertões – pelo que


esboçamos – mais do que
qualquer outro está em função
imediata da terra. É uma variável
dependente no jogar dos
elementos. Da consciência da
fraqueza, para os debelar, resulta,
mais forte, este apelar constante
para o maravilhoso, esta condição
inferior de pupilo estúpido da
divindade. Em paragens mais
benéficas a necessidade de um
tutela sobrenatural não seria tão
imperiosa”(GALVÃO, 1998: 126)

Antônio Conselheiro é mostrado


como um indivíduo marcado por
uma biografia dotada de
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elementos sobrenaturais.

Carismático e penitente, o profeta conseguiu reunir muitos sertanejos de fé extremada. O


povoado é descrito como se constituísse um agrupamento de bárbaros, uma tribo e até
mesmo um clã. O autor dá considerável destaque para o fator que chegado certo tempo, todo
o tipo de gente se dirige para Canudos o que causou um despovoamento das cidades
vizinhas. Porém uma vez dentro do arraial, os diferentes se tornavam iguais e a coletividade
de homogeinizava de uma forma que surpreendente.

“O sertanejo simples transmudava-se, penetrando-o, no fanático destemeroso bruto.


Absorvia-o a psicose coletiva”(GALVÃO, 1998: 163)

Em linhas gerais, podemos definir esta parte do livro, o plano interpretativo de Bosi, a partir
dos contrastes nela enunciados. São eles os travados entre a região sul e norte do Brasil,
entre o litoral e o sertão nordestino, entre o sertão seco (infernal) e o sertão depois da chuvas
(padisíaco) e finalmente entre o mestiço do sertão – curiboca – e o mestiço do litoral – mulato.

As descrições ricamente cheias de detalhes preparam o leitor para o plano histórico onde os
fatos de desencadearão. Mais do que saber o que foi a Campanha, Euclides da Cunha nos
oferece a partir de seu livro um “raio x” do sertão e do sertanejo como nunca fora antes feito. O
leitor vai para “A Luta” sabendo quem e como vivem os atores deste triste episódio da história
brasileira.

O FINAL

É importante pensar no mito que se criou em torno tanto do autor, quanto da obra. Existe ainda
hoje uma relação passional com a figura de Euclides: duas cidades brigam para decidir aonde
vão ficar seus restos mortais – São José do Rio Pardo, aonde escreveu o livro e Cantagalo,
hoje também conhecida como Euclidolândia, aonde nasceu. O livro, publicado cinco anos
após o fim de Canudos, mesmo sendo um ataque ao exército e uma denúncia do genocídio
causado pela República, é um sucesso e vende muito assim que publicado. Criador e criatura
viram ícones. Mas para entender a criação deste mito, é preciso ver que este é um quebra-
cabeça de várias partes.

O próprio Dante Moreira Leite, justifica a importância e repercussão do livro por sua
linguagem.

“Se assim é, se a obra de Euclides da Cunha apresenta contradições tão nítidas – algumas
das quais foram percebidas pelos primeiros leitores e críticos – pode-se perguntar como
pôde ter uma repercussão tão grande. Esta não será compreendida se não lembrarmos o
seu valor literário; embora não seja livro fácil, nem destinado a uma leitura desatenta, Os
Sertões contém elementos de intensa dramaticidade, apresentados numa linguagem solene
e adequada à grandeza da narrativa”. (LEITE, 1983:229)

Talvez o que mais marcou sua vida, tanto quanto sua obra, foi a sua viagem a canudos.
Euclides era um cientificista, dentre muitas outras coisas, que vivia em uma época em que não
se “ia à luta”. Teóricos trabalhavam apenas sobre livros, mas Euclides vai a Canudos e suas
idéias ganham dinâmica. Dante Moreira Leite analisa como tal experiência repercutiu em uma
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linguagem muito mais realista e vibrante:

“(...) o estilo de Euclides, capaz de transmitir ao leitor a vibração de revolta diante dos
acontecimentos de Canudos; além disso, como o livro pretende ser estritamente realista e,
mais ainda, um livro de ciência, a sua prosa dramática adquire, talvez por estar contida nos
limites da realidade histórica, uma intensidade que não teria na ficção.” (LEITE, 1983:222)

Muitas de suas concepções são alteradas. Diversas vezes, Canudos é associado ao


movimento francês da Vendéia – como aparece : “Canudos era a nossa Vendéia” – sendo
visto como um movimento monarquista por Euclides. Mas, “o contato direto com as condições
físicas e morais do sertanejo”(BOSI) , como defende Bosi, acabou por desmentir o
pressuposto.

No entanto, como depois também vai apontar Bosi, a interpretação se achava presa a um
sistema de pensar fatalista. Entre o observador atento e a “cidadela-mundéu” dos jagunços
havia mais do que um simples olhar desprevenido: a fixação do homem e o relato da luta não
se fariam sem a tela das mediações ideológica e literária. Antônio Conselheiro vai ser sempre
o fruto mórbido de uma cultura propensa à desordem e ao crime. Como a sociedade que o
produziu, ele tende a reviver esquemas regressivos de conduta e linguagem. Como aparece
no livro:

“É natural que estas camadas profundas de nossa estratificação étnica se sublevassem


numa anticlinal extraordinária – Antônio Conselheiro... As fases singulares da sua existência
não são, talvez, períodos sucessivos de uma moléstia grave, mas são, com certeza, resumo
abreviado, dos aspectos predominantes de mal social gravíssimo. Por isso o infeliz,
destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de
encontro a uma civilização, indo para a história como poderia ter ido para o hospício. Porque
ele para o historiador não foi um desequilibrado. Apareceu como integração de caracteres
diferenciais – vagos, indecisos, mal percebidos quando dispersos a multidão, mas
enérgicos e definidos, quando definidos numa ‘individualidade’ (... ) É difícil traçar no
fenômeno a linha divisória entre as tendências ‘pessoais e as tendências coletivas: a vida
resumida do homem é um capítulo instantâneo da vida de sua sociedade...”

A linguagem, como já explicitamos anteriormente, é extremamente marcante e importante em


Os Sertões. Euclides se utiliza inúmeras vezes de estilos e figuras com certas finalidades. Em
suas “Notas de Leitura”, ele mesmo afirma:

“Vemos o quanto é forte esta alavanca – a palavra – que levanta sociedades inteiras,
derriba tiranias seculares”.

Bosi atenta par o uso da linguagem como modo de explicar e fundamentar o que não tem
fundamento nem explicação, a “ideologia do inapelável”. Daqui se entende o uso exaustivo de
intensificações e antinomias, que imprimem um sentido grandiloqüente ao texto, além de:
“reportar ao seu vezo de agigantar o tamanho, agravar o peso, acelerar o ritmo, alongar as
distâncias, acentuar as diferenças, exasperar as tensões, radicalizar as tendências: em
suma, ver nas coisas todas a sua face desmedida e extrema.” (BOSI: 6)
Um exemplo do próprio Sertões:

“Muito baixo no horizonte, o Sol descia vagarosamente, tangenciando com o limbo rutilante
o extremo das chapadas remotas e o seu último clarão, a cavaleiro das sombras, que já se
adunavam nas baixadas, caía sobre o dorso a montanha... Aclarou-o por momentos.
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Iluminou, fugaz, o préstito, que seguia à cadência das rezas. Deslizou, insensivelmente,
subindo, à medida que lentamente ascendiam as sombras, até ao alto, onde os seus
últimos raios cintilaram nos píncaros altaneiros. Estes fulguraram por instantes, como
enormes círios, prestes acesos, prestes apagados, bruxuleando na meia-luz do crepúsculo.

Brilharam as primeiras estrelas. Rutilando na altura, a cruz resplandecente de Órion,


alevantava-se sobre os sertões...” (CUNHA, 1985:314,315)

Mas todo este estilo “rebuscado”, se explique pela narrativa tratar de uma realidade já vista e
já sentida e qualificada como trágica. Assim, a montagem do relato acaba dependendo de
uma série cronológica, o que deixa que a liberdade estilística se faça maior no momento da
elocução (pelo uso intensivo das figuras de linguagem).

E foi realmente este seu estilo que o consagrou logo que publicou pela primeira vez Os
Sertões, mesmo sendo o seu conteúdo, quem traz sua importância: a de conseguir ultrapassar
o científico, ir à luta, ver, sentir e mudar.

Sua visão de mundo muda com sua vivência em Canudos. Mas talvez seja um pouco
complicado tratar da visão de mundo de um homem tendo lido apenas um livro seu. Nicolau
Sevcenko, em sua tese de doutoramento, faz uma análise minuciosa do que ele mesmo
entende por “visão de mundo”, porém, para isso, se baseia em praticamente tudo que o autor
deixou escrito. Como aparece na referida tese:

“A partir da maneira como Euclides da Cunha dispõe, dá coerência, organiza e estrutura as


concepções e idéias que lhe suscita a realidade circunjacente, no interior do espaço
peculiar aberto por sua linguagem, é que podemos descortinar a sua visão de mundo.
Assumem preponderância aqui as suas anotações de caráter mais pessoal, que serão
cotejadas com as grandes diretrizes imprimidas pelo autor à sua obra e que vêm de ser
apresentadas.” (SEVCENKO, 1981:211)

Porém, talvez sua visão cientificista e sua posição de republicano decepcionado ajudem a
compreender seu mundo. Principalmente depois de Canudos, ele via uma inversão em sua
sociedade. Mas o mais importante de pensar é como ele aparece como um homem de
contradições e contrários. Tanto ele escreve e argumenta opondo elementos, como vive em
um oscilar de posições. Quando Euclides vai a Canudos, perde este discurso factual e
determinista; o inelutável e intransponível do fato vai cedendo às inflexões de um pensamento
propriamente humano. A linguagem de denúncia e protesto que finaliza a narração de uma
Canudos destruída cumpre a função de um apelo em que, como Bosi afirma: “pode aparecer
um nós empenhado no que diz.”

Então vamos ao final de canudos:

“Fechemos este livro.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até ao esgotamento
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao
entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro
apenas: um velho, dous homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados.

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo.


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Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la


vacilante e sem brilhos.

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior,
a vertigem...
Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se
amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos
filhos pequeninos?...

E de que modo comentaríamos, coma só fragilidade da palavra humana, o fato singular de


não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, e
entre eles aquele Antônio Beatinho que se nos entregara, confiante – e a quem devemos
preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa história?

Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5200,


cuidadosamente contadas.

Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede escolhida descobrira o cadáver de


Antônio Conselheiro.

Jazia num dos casebres anexos à latada, e foi encontrado graças à indicação de um
prisioneiro. Removida breve camada de terra, apareceu no triste sudário de um lençol
imundo, em que mãos piedosas haviam desprazido algumas flores murchas, e repousando
sobre uma esteira velha, de tabua, o corpo do ‘famigerado e bárbaro’ agitador. Estava
hediondo. Envolto no velho hábito azul de brim americano, mãos cruzadas ao peito, rosto
tumefacto e esquálido, os olhos fundos cheios de terra – mal o reconheceram os que mais
de perto o haviam tratado durante a vida.

Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva preciosa – único prêmio, únicos despojos


opimos de tal guerra! -- faziam-se mister os máximos resguardos para que se não
desarticulasse ou deformasse, reduzindo-se a uma massa agulheta de tecidos
decompostos.
Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua identidade: importava
que o país se convencesse bem de que estava, afinal extinto, aquele terribilíssimo
antagonista.

Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça tantas vezes
maldita – e como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosamente
brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de
sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores.

Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões em festa, aquele crânio. Que a
ciência dissesse a última palavra. Ali estavam, no relevo de circunvoluções expressivas, as
linhas essenciais do crime e da loucura...”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O livro acaba mas não termina. Com esta obra o Brasil ganhava uma das suas mais
importantes reflexões sobre a identidade nacional. O escritor do início da obra, positivista que
acreditava na república, é o mesmo que denuncia a dor a fome e a barbárie. Canudos foi um
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crime cometido para e pela reiteração da república. O cancro monarquista nunca existiu
naquela terra esquecida pelos seus governantes e o Estado só chegara tão longe para trazer
a injustiça e a morte. Essa não era a república reclamada pelo autor.

Como identidade nacional, podemos tirar desta obra a seguinte frase: “A nação brasileira é o
resultado de uma angústia racial”. Euclides sofre essa angústia da qual as “leis” européias
não dão conta. O Brasil é um país sem seu tipo antropológico definido e ele, Euclides da
Cunha, é o primeiro que se propões a fazer um estudo a fundo desses cruzamentos todos que
nos formam. Euclides não mascarou a realidade porque não pregou uma falsa igualdade
social entre as “raças”, o que seria feito por outros como Oliveira Viana, ou Afonso Celso. Se
hoje podemos enxergar mais longe que Euclides é porque somos pigmeus olhando do ombro
de gigantes como ele.

Sites sobre Euclides de Cunha e Canudos

Centro de Estudos Euclides da Cunha


O Centro de Estudos Euclides da Cunha - CEEC, órgão da Universidade do Estado da Bahia
- UNEB possui um acervo valioso sobre Canudos.
URL: www.uneb.br/Ceec/Ceec.html

*****

Movimento Popular e Histórico de Canudos


"Uma viagem ao sertão de Antônio Conselheiro através das várias atividades culturais com os
camponeses, incluindo cantorias, poesias, celebrações populares a beira do açude do
Cocorobó, e muito mais..."
URL: www.infonet.com.br/canudos

*****

Centro de Estudos Culturais Euclides da Cunha


"Euclides da Cunha, Os Serrotes, Canudos e a Semana Euclidiana de São José do Rio
Pardo"
URL: www.geocities.com/Athens/7269

*****

Canudos 100 Anos


"Site totalmente dedicado ao episódio da Guerra de Canudos. (...) Fotos, bibliografia, história
e Fórum de Discussão".
URL: www.ax.apc.org/~eraldojunior/hp13.htm

*****

Acervo da Historia do Brasil


"Coletânea de fatos históricos importantes ocorridos no Brasil. Os 100 anos de Canudos".
URL: www.e-net.com.br/historia

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www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html 17/24
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O Olho da História
O Olho da História: Revista de História Contemporânea é um periódico semestral, editado
pela Oficina Cinema-História, que tem o objetivo de promover discussões sobre a História, as
humanidades e as artes na contemporaneidade. O número 3 da revista aborda o tema
Canudos.
URL: www.ufba.br/~revistao/sumario3.html

*****

Canudos - A Guerra sem fim


CANUDOS - 100 ANOS. A Guerra Sem Fim. Antônio Edson.
URL: www.cidadanet.org.br/artigos/canudos.htm

*****

Canudos
"Página com várias curiosidades sobre Canudos, feita por alunos do 2° ano colegial."
URL: www.geocities.com/CollegePark/Lab/6434/canudos.html

*****

Fotos sobre Canudos


URL:www.fundaj.gov.br/docs/canud/fotos.htm

*****

Os Sertões Illustrated
Página do pesquisador norte americano Thomas O. Beebee
URL:www2c.meshnet.or.jp/~taxi/07-97/sertao/sertoes1.html

*****

Site da Casa de Cultura Euclides da Cunha, com vasto material sobre Euclides e Os Sertões
URL: http://www2.rantac.com.br/casaeuclidiana/

*****

O Berrante Online é um site sobre temas ligados a Euclides da Cunha e a realidade da cultura
brasileira em geral
http://www.berrante.com.tj

*****

Coletivo Euclidiano
http://pagina.de/euclides

*****

Página organizada pela família de Euclides da Cunha


www.euclidesdacunha.com.br

*****

www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html 18/24
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Textos e ficha técnica do documentário Os Sertões produzido pela TV Cultura - SP


http://www.tvcultura.com.br/resguia/outros/estbra/sertoes/canud.htm

http://www.portfolium.com.br/caudos.htm

*****

Os mais completos sites sobre Canudos


http://www.portfolium.com.br/livro.htm
http://www.portfolium.com.br/caudos.htm

Estudos realizados sobre o livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha

1. Título: Os Sertões - Campanha de Canudos


Autor: Euclides da Cunha
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Laemmert, 1902.
Assunto: História, Sertão, Guerra de Canudos
Resumo: Um clássico seminal da literatura canudense, que influenciou várias gerações de
estudiosos, denominado pelo próprio autor de "livro vingador". Durante mais de 50 anos foi
texto hegemônico do tema Canudos, e atualmente está traduzido para mais de 10 idiomas e
com número superior a 40 edições brasileiras.

2. Título: Os Sertões de Euclides da Cunha


Autor: Pedro A. Pinto
Imprenta: 1ª edição: Livraria Francisco Alves, 1930.
Assunto: Os Sertões, Canudos.
Resumo: "É uma espécie de dicionário sobre o vocabulário usado por Euclides e explicações
sobre termos regionais." Júlio José Chiavenato.

3. Título: Canudos - Diário de uma Expedição


Autor: Euclides da Cunha
Imprenta:1ª edição: Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Editora, 1939, 186 p.
Assunto: Canudos
Resumo: Escritos de Euclides da Cunha, em publicação póstuma com introdução de Gilberto
Freyre, que descreve de forma minuciosa a viagem por Salvador e Canudos, através de
crônicas, apontamentos e cartas, além dos artigos escritos em jornais.

4. Título: As Colectividades Anormais


Autor: Nina Rodrigues
Imprenta: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939.
Assunto: Medicina, Antônio Conselheiro
Resumo:

5. Título: Meu Folclore - História da Guerra de Canudos


Autor: J. Sara
Imprenta: 1ª edição: Euclides da Cunha, Museu de Bendegó, 1957.
Assunto: Guerra de Canudos
Resumo:A história de canudos, versejada por José Aras, que adotou o pseudônimo de J.
Sara.

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6. Título: A Verdade sobre Os Sertões - Análise Reivindicatória da Campanha de Canudos


Autor: Dante de Melo
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1958, 257 p.
Assunto: Os Sertões, Canudos
Resumo: Crítica veemente a Euclides da Cunha e Os Sertões, que, segundo o autor, teria uma
visão falsa, dos acontecimentos de Canudos.

7. Título: A' Margem D"Os Sertões"


Autor: Luís Viana Filho
Imprenta: 1ª edição: Salvador, Livraria Progresso Editora, 1960, 50 p.
Assunto: Os Sertões, Canudos
Resumo: O autor escreve ativa defesa do seu pai, o conselheiro Luís Viana, governador da
Bahia na época da guerra de Canudos, das acusações que lhe foram destinadas por Dante
de Melo no livro
"A Verdade sobre Os Sertões"

8. Título: Introdução ao Pensamento de Euclides da Cunha


Autor: Clóvis Moura
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1964, 166 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: Um importante trabalho de análise sobre Eulcides da Cunha e sua obra.

9. Título: Caderneta de Campo


Autor: Euclides da Cunha
Notas: Introdução, notas e comentários de Olímpio de Souza Andrade
Imprenta: São Paulo, Cultrix / INL, 1975, 198 p.
Assunto: Sertão, Guerra de Canudos
Resumo: Este livro reproduz alguns dos mais importantes momentos dos textos canudenses
como benditos, ABCs e falas de prisioneiros.

10. Título: O Episódio de Canudos de Euclides da Cunha


Autor: Grover Chapman.
Imprenta: Rio de Janeiro, Salamandra, 1978, 56 p.
Assunto: Pinturas, Canudos, "Os Sertões"
Resumo: Trechos de "Os Sertões" ilustrados com pinturas de Grover Chapman

11. Título: 80 anos de Os Sertões de Euclides da Cunha (1902-1982)


Coordenação: Célio Pinheiro
Imprenta: São Paulo: Arquivo do Estado, 1982.
Assunto: Edição comemorativa.
Resumo:

12. Título: Toponímia Indigenista em Os Sertões de Euclides da Cunha.


Autor: Daury da Silveira Santos
Imprenta: Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.
Assunto: Euclides da Cunha

13. Título: Euclides, A Espada e a Letra - Florianistas e Castilhistas no Massacre de Canudos,


Comte e outras influências reacionárias, as antecipações do autor de Os Sertões
Autor: Franklin de Oliveira.

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Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, 144 p.


Assunto: Biografia, Euclides da Cunha
Resumo:

14. Título: Os Médicos Baianos e "Canudos"


Autor: Alberto Martins da Silva.
Imprenta: 1ª edição: Salvdor, IHGB, s.d., 17 p.
Assunto: Biografia, Euclides da Cunha
Resumo: Opúsculo onde o autor apresenta dados biograficos dos médicos que participaram
da Guerra de Canudos

15. Título: Edição Crítica de "Os Sertões"


Autora: Walnice Nogueira Galvão
Imprenta: 1ª edição: São Paulo, Brasiliense, 1985, 728 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: O livro Os Sertões numa publicação explicativa e crítica.

16. Título: Sertão de Euclides da Cunha - Família e Poder: uma Leitura


Autora: Eugênia Menezes Vernaide Wanderley
Imprenta: Recife: Cadernos de Estudos Sociais, v.7, n.2, p. 277-304, jul./dez. 1991.
Assunto: Canudos, Euclides da Cunha (1866-1909)
Resumo:

17. Título: Canudos e Outros Temas


Autor: Euclides da Cunha
Imprenta: 1ª edição: 1992.
3ª edição Revista e Ampliada: Gráfica do Senado Federal, 1994.
Assunto: Canudos, Reportagens
Resumo: Contém as reportagens intituladas "Canudos - Diário de uma Expedição", que deram
origem a Os Sertões, quinze trabalhos e duas cartas.

18. Título: As Meninas de Belo Monte


Autor: Júlio José Chiavenato
Imprenta: 1ª edição: São Paulo, Pagina Aberta, 1993.
Assunto: Romance, Canudos
Resumo: Ficção sobre a trajetória de crianças sobreviventes de Canudos.

19. Título: A Sociologia dos Sertões


Autor: Adelino Brandão
Imprenta: Artium Editora, 1994, 194 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: Análise de Os Sertões, escrito por um estudioso da vida e da obra de Euclides da
Cunha.

20. Título: Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, Através dos Sertões - Os Livros, os Autores
Autor: Paulo Dantas Neto
Imprenta: São Paulo: Massao Ohno, 1996, 112 p.
Assunto: Biografias de Literatos, Literatura Brasileira
Resumo:

www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html 21/24
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21. Título: O Olho da História - Revista de História Contemporânea, v.2, n.3


Autoria: Vários
Imprenta: Salvador, Oficina Cinema-História, Departamento e Mestrado em História - UFBA,
1996
Assunto: Cinema, Canudos, Antônio Conselheiro
Resumo: Revista que contém um Dossiê Canudos com importantes artigos e entrevistas sobre
o temas.

22. Título: Índice Remissivo: Documentação Histórica sobre Canudos.


Autoria: CEEC - UNEB
Imprenta: 1ª edição: Salvador, Universidade do Estado da Bahia, Centro de Estudos Euclides
da Cunha, 1996, 64 p.
Assunto: Documentos Históricos, Canudos
Resumo:

23. Título: Guia do Acervo do CEEC


Imprenta: 1ª edição: Salvador, CEEC-UNEB, 1997, 60 p.
Assunto: Documentos Históricos, Canudos
Resumo: Valioso instrumento de consulta sobre o acervo do Centro de Estudos Euclides da
Cunha, que compreende documentação escrita e oral, além de vasta biblioteca.

24. Título: Roteiro de Leitura: Os Sertões de Euclides da Cunha


Autor: Adilson Citelli
Imprenta: Editora Ática, 1998, 160 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: "Roteiro de leitura é uma coleção didática que tem por objetivo enriquecer a leitura
de obras significativas da literatura brasileira e da literatura portuguesa, abrangendo diversos
períodos e gêneros literários. Escrita com clareza e objetividade, é dirigida a estudantes de
segundo grau, pré vestibulandos, alunos de letras, jornalismo, comunicação e a todos que se
interessam por literatura."
Os Editores.

25. Título: Poemas do Grande Sertão


Autor: Renato Castello Branco
Imprenta: T. A. Queiroz Editor
Resumo: Livro de poesias baseado na obra de Euclides da Cunha.

26. Título: Terra Ignota - A Construção de "Os Sertões"


Autor: Luiz Costa Lima
Imprenta: Civilização Brasileira
Assunto: Os Sertões, Canudo

27. Título: Canudos - Fato e Fabula: Uma Leitura d'Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Autor: Lourival Holanda Barros
Orientador: Philippe Willemart
Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP.
Tipo de Trabalho: Tese (Doutorado), 129 p.
Ano: 1992
Assunto: Crítica Literária, Literatura Brasileira.
Localização: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP
www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html 22/24
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Resumo:

28. Título: A Contribuição das Ciências Naturais para o Consórcio da Ciência e da Arte em
Euclides da Cunha
Autor: José Carlos Barreto de Santana
Orientadora: Maria Amélia Mascarenhas Dantes
Instituição: Universidade de São Paulo / USP - SP
Tipo de Trabalho: Dissertação (Mestrado)
Ano: 1998
Assunto:
Localização: Biblioteca da USP - SP
Resumo: Este trabalho tem, como ponto de partida, o estudo das relações existentes entre um
dos discursos científicos euclidianos, o das Ciências Naturais, e as atividades e teorias nesse
campo do conhecimento. Entendo que a formação e atuação como engenheiro, e as relações
de Euclides da Cunha com a comunidade cientifica, bem como a existência, na sua obra, de
um conteúdo relacionado às Ciências Naturais e a inclusão, no próprio texto, de referências
explícitas a viajantes naturalistas, geólogos e botânicos, devem refletir o momento histórico
pelo qual passava o conhecimento científico no Brasil, entre o final do século XIX e o limiar do
século XX. Assim, a formação, as relações, a presença de tal conteúdo e tais referências,
indicam a possibilidade de o autor e da obra servirem como elementos para uma reflexão
sobre a prática científica no país, no período indicado.
Buscar-se-á, assim, contribuir para o entendimento de questões relacionadas com o conceito
e valorização das ciências e também para a análise de aspectos da profissionalização e
relação entre os cientistas no Brasil do final do século XIX e início do século XX.
Euclides da Cunha e sua obra são escolhidos, então, como objeto privilegiado de uma
pesquisa que pretende situá-los no contexto cultural de seu tempo e espaço, ao mesmo tempo
em que busca as marcas da atividade científica, procurando desvendar, através da sua
estrutura, interligação e desdobramentos, as suas relações com outras áreas culturais.

BIBLIOGRAFIA

SCHWARCZ, Lilia Mortiz, O Espetáculo das Raças - Cientistas, Instituições e questão racial
no Brasil 1870 - 1930 São Paulo, Cia das Letras, 1993.

SKIDEMORE, Thomas E., O Brasil Visto de Fora, Rio de Janeiro Paz na Terra, 1994.

VENTURA Roberto. CANUDOS COMO CIDADE ILETRADA: EUCLIDES DA CUNHA NA


URBS MONSTRUOSA, Extraído de: Abdala Jr, Benjamin & Alexandre, Isabel, orgs. Canudos
Palavra de Deus Povo da Terra. São Paulo, Editora Senac São Paulo, Boitempo Editorial,
1997. p. 89-99.

SEVCENKO, Nicolau; Euclides da Cunha e Lima Barreto: A Literatura como missão, 1900-
1920.Tese de doutoramento, departamento de História FFLCH – USP, São Paulo 1981.

GALVÃO, Walnice Nogueira. “Os Sertões – Campanha de Canudos : Edição Crítica de”.
Ática, 1998, p.14

LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo, Livraria Pioneira Editora,
1983, 4a edição

BOSI, Alfredo : “A releitura de ‘Os sertões’ hoje”. Arquivo retirado da Internet


www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html 23/24
04/05/12 Euclides da Cunha - Os Sertões - Canudos

www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html 24/24

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