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1 Texto Desertificacao Nordeste IPEA
1 Texto Desertificacao Nordeste IPEA
maior frequência, extensão e intensidade, a serem insatisfeitas para uns e insustentáveis para
todos. É a pavimentação da trilha da desertificação feita pelo consumismo, 2 economicismo” 3 e
“tecnologismo” / tecnologicismo. 4
Os processos de degradação ambiental, as pressões antrópicas sobre os recursos naturais e
os riscos de perdas dessas riquezas davam claros sinais, no início do novo milênio, de
continuarem ampliando condições e fortalecendo estados precários para a sobrevivência da
humanidade e, no mediano prazo, para a sobrevivência de comunidades vulneráveis à
desertificação; estados insustentáveis para o fornecimento de bens ambientais valiosos e
imprescindíveis para o desenvolvimento sustentável.
Eram evidências e sinais, reais ou aparentes, em 2009, de países industrializados não
estarem dispostos a, p.ex., realizarem contribuições substanciais para a redução de emissões de
gases causadores do efeito estufa – GEE: não conseguirem atender expectativas do Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática – IPCC, no sentido de
reduzirem em 40,0%, até 2020, as emissões desse GEE; nem se dispuserem, tais países, para
agirem (até jul/2009), com ações, estratégias e decisões exequíveis e práticas para combater o
aquecimento global que aprofunda desigualdades econômicas e sociais associadas às perdas
ambientais (resultados de simulações indicam um elevado potencial de perdas econômicas no
Nordeste, em especial nos estados mais pobres; DOMINGUES, MAGALHÃES E RUÍZ, 2009).
Frustravam-se, com tais sinais, propósitos da 14ª. Reunião de 2008, em Poznan, ao preparar a
15ª. Conferencia das Partes da Convenção (7 – 18, dez., 2009, Copenhague).
São processos destrutivos, pressões com impactos negativos e comportamentos
“irracionais” a se constituírem sérios entraves para a harmonização e equilíbrio exigidos por esse
desenvolvimento.
Pelo desenvolvimento sustentável a tratar e integrar dimensões, tais como: a) a ambiental,
devidamente (re)conhecida pela sua natureza, pela sua capacidade de sustentação dos
ecossistemas e pela necessidade de ser valorizada em sistemas contáveis e em políticas públicas;
b) a social, a ser indicada, internalizada e respeitada em planos que tenham como alvo o
desenvolvimento integral do ser humano; c) a econômica, a ser (re)pensada em novas bases e
com novos paradigmas para preparar, gerar e gerir resultados evidenciados no crescimento
“limpo” e com benefícios e oportunidades socialmente distribuídas e ambientalmente
consistentes.
As ameaças, incertezas e excessivas pressões que geram respostas como as das
desertificações (ambiental e humana), secas e inundações catastróficas; e as ações humanas, por
vezes incidentais 5 e, com freqüência, omissas na proteção de fontes, reservas - estoques e ciclos
naturais de renovação de recursos como os hídricos, determinam que esse meio seja inseguro,
imprevisível e dessa forma permaneça, enquanto não sejam devidamente:
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
3
África para a Luta contra a Desertificação, em Santo Domingo, jun. 2007, destacou-se a notável
falta de conscientização de lideres mundiais no combate a desertificação como parte do combate
ao problema da pobreza. Na 1ª. Reunião do CRI / CCD realizada em Roma, em 2002, concluiu-
se que a Região Latino-americana apresentava severos processos de desertificação não
percebidos realmente por tomadores de decisão nem a sociedade.
Pelas posições conflitantes e a pouca percepção do problema da desertificação pode-se
concluir que esses líderes não acordaram o necessário, para o fato de a desertificação ser um
problema global, com graves conseqüências para a segurança de ecossistemas, a estabilidade
socioeconômica e o desenvolvimento sustentável em níveis nacional e local. No acordaram para
o fato de efeitos de a desertificação, o aquecimento global e a perda da diversidade biológica não
se restringem às terras secas, mas afetam a todos.
Segundo a Conferência Internacional da INTECOL sobre zonas úmidas, realizada em
Cuiabá, em 2008, há evidências do impacto negativo do aquecimento global na desertificação.
Se essas terras úmidas continuarem a secar o efeito será catastrófico: grande quantidade de
carbono, em torno de 40 t/ha/ano, será liberada na atmosfera. Com isso se terão consideráveis
perdas da capacidade de reserva, de regulação e de filtração; são contribuições significativas e
em acelerados processos de fortalecimentos para a desertificação.
A “saarização” do Nordeste e os seus expansivos núcleos de desertificação afetam o
semiárido; uma região que não pode ser resumida às variáveis como clima, água, solos e
vegetação, por certo especiais, mas, deverá compreender comunidades em interações com o
meio; as expressões artísticas e socioculturais, a religião e aspectos político-institucionais com
feições, por vezes particulares, de identidade que retratam e interagem com esse ambiente.
É nesse contexto abrangente e de múltiplas, complexas e dinâmicas interações de
elementos e componentes e, quanto possível, devidamente caracterizados que se devem discutir,
acordar, definir e implementar políticas e planos para o combate a desertificação e convívio com
a seca, exigindo-se, nestes instrumentos, a consistência e legitimidade, pela coerência de
estratégias e ações com os elementos e componentes e a participação efetiva da comunidade
devidamente informada - conscientizada. A condição sine qua non é conhecer esses elementos e
componentes, integrá-los no nível regional e traduzi-los em políticas viabilizadas em diversas
dimensões e instâncias.
Nesse contexto, definem-se diagnósticos, estudos e o propósito do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, Ipea, para auxiliar a “garimpagem” de dados e informações que permitam
ter o conhecimento da realidade do semiárido e sintetizá-lo em diretrizes, critérios e
instrumentos de políticas públicas. Este documento é parte inicial desse propósito.
O semiárido nordestino é, nessa tipologia, o mais chuvoso do planeta, com um regime de
“normais” pluviométricas que varia entre 250 mm/ano e 800 mm/ano, irregularmente distribuída
no tempo e no espaço. Uma região que se caracteriza por acentuado déficit hídrico: 750 mm/ano
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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legitimação; uma proposta elaborada com viés para aspectos técnicos, porém com flexibilidade
para acolher e integrar outros aspectos em um plano de combate à desertificação, mitigação de
efeitos e convívio com a seca, com ações e estratégias consistentes com a realidade.
Com base nessa flexibilidade, define-se um espaço para o Ipea dentro de sua missão de
produzir, articular e disseminar informações para aperfeiçoar políticas públicas, na forma de um
desafio para contribuir na formulação de planos e estratégias de desenvolvimento regional, de
fortalecer a integração institucional e de ampliar a participação no debate a ser orientado para
definir ações e estratégias exequíveis, tanto técnico-científicas como prático-operacionais, de
controle da desertificação em várias abordagens, agrupadas em: a) um conjunto de processos
difusos (isto é, nem sempre evidentes em suas origens), por vezes complementares,
desenvolvidos no longo prazo; b) um conjunto de processos concentrados e localizados, que se
apresentam na forma de “núcleos” (hot spot), bem definidos e com evidências no curto e meio
prazos, com sentidos de crescimento e níveis, em geral, de perdas irreversíveis.
O documento está composto de três partes.
A primeira parte, a do desenvolvimento, apresenta conceitos e contextualizações do
problema no Mundo e no Brasil. A caracterização do problema de degradação dos recursos da
terra é uma das referências para se definir fontes de dados, objetivos e procedimentos
metodológicos de um plano para tratar as informações primárias e se ter bases consistidas de
auxílio às propostas de políticas, de programas, planos e projetos no monitoramento, avaliação,
prevenção e controle, segundo seja o caso.
A segunda parte apresenta o desdobramento de um dos aspectos críticos mais importantes
da desertificação, o da erosão dos solos, com ajustes quantitativos preliminares para definir a
contribuição de cada variável (atributo que se mede, monitora, controla, prognostica e avalia) em
perdas por erosão. Essa definição permite destacar esforços, proporcionais às contribuições de
fatores causais na quantificação do problema, com indicações para o controle orientado pela
importância das causas.
A terceira parte sintetiza inferências e as traduzem em conclusões e recomendações como
orientações explícitas para auxiliar políticas públicas de combate à desertificação e definir ações
de fortalecimento institucional considerando essas recomendações.
Deve-se adiantar que o documento é simples, ilustrativo e preparado para atender, em
primeiro lugar, um fim didático, para ser uma referência de ensino, com o propósito de
contribuir em cursos como os de capacitação e educação ambiental: habilidade, ampliada pela
capacitação, para descobrir e se inserir em processos, alguns de ajustes e mudanças, de conexões
– interrelações nem sempre explícitas (pensamento sistêmico com o desenvolvimento da teoria
da complexidade ou dinâmica não-linear, segundo conceito de Capra) e ser ator (ativo,
participante e responsável) na criação do futuro, em lugar de simples e omisso expectador que
observa como se perdem riquezas naturais essenciais.
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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2 DESENVOLVIMENTO
nível avançado e crítico de desertificação, na transição para o novo milênio, era um
O dos mais graves problemas do meio ambiente, tanto em escala mundial como
regional. Um problema preeminente, com seus correspondentes desafios, capaz de superar ou de
ameaçar superar ganhos do desenvolvimento e desestabilizar sociedades por afetar, de forma
grave, por vezes irreversível, zonas e áreas de mais de 110 países em todos os continentes e mais
de 1,2 bilhões de pessoas, classificadas como pobres, dentro de um contingente de
aproximadamente de 2,0 bilhões de pessoas que vivem em terras secas, segundo informações do
secretário das Nações Unidas, Ban Ki-Moon (informe na 1ª. reunião de cientistas da Convenção
das Nações Unidas de Combate à Desertificação, UNCCD, em Buenos Aires, set. 23 de 2009).
Um processo de degradação em terras férteis que, conforme dados das Nações Unidas/
UNESCO, provocou perdas estimadas em 24 bilhões de toneladas de solos férteis por anos,
durante as duas últimas décadas, afetando em torno de um terço do total das terras do planeta.
A desertificação é um fenômeno que se refere a um processo de mudança ou, segundo
outro conceito, o resultado final de processos de mudanças que afeta tanto países e regiões
desenvolvidas como países e regiões em desenvolvimento, com variações (escalas e intensidade)
nas transformações de florestas nativas com biodiversidade por vezes não conhecida e em geral
não-valorizada, de matas e terras com potencial produtivo, de solos férteis e recursos hídricos
com qualidade em sistemas simplificados com reduzida ou sem diversidade biológica, em terras
inférteis e recursos hídricos poluídos e reduzidos que perderam seu potencial econômico e se
orientam para a desertificação. Transformações com elevados passivos ambientais, em especial,
os passivos decorrentes da artificialização de ecossistemas em zonas secas, frágeis e facilmente
desertificadas. Um fenômeno destrutivo de riquezas potenciais e de ativos naturais dos recursos
da terra.
A desertificação nesses níveis e escalas de extensões e perdas, por vezes irrecuperáveis,
deveria ensejar (uma atitude racional, diante o desafio) uma ação conjunta e integrada de todos e
em todos os níveis, com programas e planos propostos, discutidos e legitimados por todos,
comunidades, governos e setores públicos e privado. Planos e políticas devidamente orientadas
para gerar resultados com efetividade (proporcional ao empenho na preparação e desenvolução)
no combate à desertificação e amenização dos efeitos das secas em comunidades vulneráveis de
terras secas; aquelas que abrigam os mais pobres, os mais vulneráveis e os de menores
capacidades e recursos para o combate, porem, os que carregam o “peso” de mudanças dessas
transformações.
Um problema, - a desertificação, caracterizado pelo empobrecimento da capacidade de
renovação biológica da terra e por perdas de produtividades bioeconômicas que ocorrem, com
maior freqüência e intensidade, em zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, as chamadas de
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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terras secas, aproximadamente 37,0% de toda a superfície. Nessas zonas, a razão precipitação
anual / evapotranspiração potencial está compreendida entre 0,05 e 0,65; índice que define, sem
o necessário atendimento em intervenções humanas, essas zonas como muito vulneráveis e
frágeis.
A degradação do solo, no processo de desertificação, tem sido definida como uma crise
silenciosa, que, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO, 2007 e 2008), compreende “o declínio em longo prazo na função e na produtividade de
um ecossistema” 9. Essa queda se intensificou, em gravidade e extensão, nas últimas décadas do
século passado, com incidência em mais de 20,0% das terras agrícolas, 30,0% das florestas e
10,0% das áreas de pastagens no mundo, acusando-se na elevação de problemas como os da
pobreza e desnutrição.
Aproximadamente 1,5 bilhões de pessoas, segundo a FAO (2008), em torno de um quarto
da população mundial, “depende diretamente de solos que estão sendo degradados” e que, como
conseqüência dessa degradação, respondem por quedas de produtividades e produções agrícolas
e pecuárias significativas e por migrações de produtores de seu meio rural. São fenômenos de
degradações responsáveis, também, por inseguranças alimentares e por significativas,
incalculáveis, perdas da biodiversidade, entre outras.
Configuram-se, a partir desses fenômenos, situações graves, definidas por:
a) A degradação ambiental (efeito significativo e determinante da migração humana),
afetando comunidades que vivem às margens de domínios ecológicos, econômicos e
sociais e onde predomina a pobreza, como síndrome de diversas carências.
São prejuízos (perdas valiosas), em especial, na capacidade produtiva do solo e na
qualidade– disponibilidade de água nesses locais, que determinam, de forma significativa,
a migração da população, portanto uma causa na dimensão ambiental.
Para o caso do Brasil, segundo o Centro de Estudo Refugiados (2008), durante o período
1970 a 2005, teria migrado do sertão nordestino, em torno de 60,0 milhões de pessoas, por
causa de estiagem que afetaram a produção agrícola.
b) O “ordenamento” territorial insustentável dos recursos da terra, apesar de ter sido definido
como importante instrumento da política do meio ambiente brasileira (pela Lei no. 6938,
de 31 ago. de 1981; recepcionado pela Constituição da República Federativa do Brasil de
1988; e adotado como objetivo da Política Nacional de Controle da Desertificação).
c) As mudanças climáticas com impactos negativos dessas variações na população, na
economia e no meio ambiente. São fatores que em geral contribuem para que as terras
áridas, semiáridas e subúmidas secas, sob pressão antrópica e formas de uso e manejo
inadequados, sejam, com relativa facilidade e notável rapidez, áreas desertificadas no
mundo, em aproximadamente 22,0% das terras sujeitas a esse processo.
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Eduardo A. C. Garcia
evidência desafios do Ipea como os de organizar uma rede de produção em novas bases da
sustentabilidade e de gestão pública de conhecimento.
Este documento, preâmbulo de outros, sintetiza o esforço de coleta, sistematização e
análise de dados em um campo, dentro da amplitude, complexidade e dinâmica ambiental, que
procura mostrar a necessidade de entendimento do problema, o da desertificação, a acenar para
ações de proteção e de conservação e manejo dos recursos da terra.
Para facilitar a comunicação e entendimento do texto se apresentam, a seguir, diversos
conceitos baços diretamente relacionados com o assunto (omitindo-se, também, as controvérsias
conceituais: é apenas uma referência situada em determinado contexto).
práticas e técnicas-tecnologias
inadequadas de produção, de hábitos de
consumo e de formas de manejo, com a
liberação de subprodutos responsáveis
pela poluição e com as mudanças
climáticas: esse é o sentido da “trilha”
que encurta o tempo para a desertificação;
da trilha que representa o aumento de
perdas ambientais, da pressão sobre o Trilha
meio ambiente, afetando-o, de forma Taxa de Natureza física do local
Função Intensidade de uso
negativa, em sua estrutura, inter-relações Degradação Forma de manejo
(internas e externas) e dinâmica.
São impactos mais ou menos
graves que podem levar à desertificação
em maior ou menor tempo: detê-la é um
compromisso de todos, baseado na
racionalidade e efetividade de
instrumentos definidos e integrados em
políticas públicas, para agirem, com
objetividade e efetividade nos Área degradada; erosão laminar; Jaguaribara (CE)
componentes causas que definem essa
Figura 1 “Trilha” da degradação que leva a desertificação
trilha. Surge, nessa proposta, um espaço
para empresas como as de pesquisas e institutos como os de auxílio à formulação de políticas
públicas contribuírem para o desvio, redução ou eliminação de fatores e condições da
degradação.
A desertificação é considerada como um dos problemas mais graves do meio ambiente,
um problema que passou a ser internalizado (?) no Brasil em 1988, 11 decorrente da degradação
do solo (dos recursos da terra) que afetava, no início do novo milênio, mais de um bilhão de
pessoas de regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas do mundo. Um problema complexo e
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Eduardo A. C. Garcia
dinâmico composto por diversos ciclos e/ou espirais e onde efeitos de uma fase podem ser
causas de outras, retroalimentadas em ciclos ou espirais perversas.
É preciso identificar nós e elos, caracterizá-los e, com propostas “consistentes, romper
esses ciclos e espirais, no combate às causas da desertificação, agindo com efetividade em
fatores controláveis (atividades humanas) que levam à degradação e eliminar a potenciação de
efeitos negativos como os de variações bioclimáticas: é, antes de tudo, um processo de
prevenção, monitoramento e controle, a iniciar ou acelerar com os melhores endereçamentos
para a educação socializada, conscientização e responsabilidade–comprometimento de todos
nesse combate.
A taxa de deterioração, no processo de degradação ambiental ilustrado na figura acima,
pode ser reduzida, em níveis (riscos) toleráveis (os mínimos; o ideal seria eliminá-lo), agindo
nos fatores e condições que definem a trilha de desertificação, mediante:
a) Substituição criteriosa e oportuna de formas, procedimentos e técnicas de usos-utilizações
indevidas e de práticas de manejos inadequadas de recursos como água, solo e vegetação.
A condição para fazer essas substituições é conhecer as deficiências, ineficiências e
efeitos negativos ou consequências das práticas de uso e manejo atuais e, com base nesse
conhecimento, buscar alternativas para se realizarem tais substituições. Devem ser
alternativas que incorporem critérios técnicos “facilmente” adotáveis por terem
viabilidades técnica, econômica e operacional. Alternativas que possam utilizar
(incorporar, quando convenientes) experiências e saberes tradicional.
Técnicas e procedimentos de conservação e manejo integrado, testadas e adequadas às
condições físicas como, p.ex., as de disponibilidades de águas combinando diversas fontes
desses recursos, em termos de quantidade e qualidade e características físicas e químicas
dos solos, além de se integrarem aos aspectos socioeconômicos locais e regionais que
possam se relacionar com as substituições de usos e manejos.
b) Eliminação de tecnologias impróprias como as de irrigação, dadas as condições locais e
regionais não atendidas com essas tecnologias.
A semelhança do caso anterior, é preciso definir as impropriedades ou os impactos
negativos das tecnologias, em termos de (relação preliminar): bases “técnicas” (p.ex., as
dos sistemas de irrigação e drenagens com a salinização), consequências (p.ex., as de
inundações de áreas mal drenadas, alterações físicas do solo, - aeração, e, em especial,
salinização dos solos) e custos de perdas, considerando-se, nessas estimativas, diversos
critérios, além dos econômicos de prevenção, recuperação, etc., os sociais e ecológicos.
As consequência de técnicas, procedimentos e tecnologias impróprias se manifestam,
também, pelo abandono das terras por partes das populações mais pobres; pela diminuição
da qualidade de vida, aumento da mortalidade infantil e diminuição da expectativa de vida
dessas populações; pela desestruturação das famílias, no local, como unidades produtivas;
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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saúde educação
Interdisciplinaridade
“para expressar a regressão da selva equatorial africana pelo corte abusivo, incêndios e roças para a
transformação em campos de cultivo e pastiçais, o resultado dessa prática não era outro senão a
exposição do solo, a erosão hídrica, eólica e conversão de terras biologicamente produtivas em
desertos” (AUBRAVILLE, citado por CAVALCANTI, COUTINHO E SELVA, 2006).
AÇÕES
Elaborar e implementar um programa de ação
nacional de combate à desertificação, com a
participação da população e de comunidades
OBJETIVOS (...), com parcerias, cooperações e
Combater a desertificação coordenações.
e os efeitos da seca, em Um programa com flexibilidade para se
abordagens consistentes ajustar às mudanças, com ênfase em
com a Agenda 21 medidas preventivas e com possibilidades
de revisões periódicas.
PROBLEMA
Identificar fatores contri-
buintes * à desertificação e COMBATE À
definir-especificar DESERTIFICAÇÃO E AOS
obrigações ** dos EFEITOS DE SECAS
envolvidos (…).
RECOMENDA
Recomenda a criação de ABORDAGEM
sistemas de alerta precoce Integrada [sistêmica], considerando
e a preparação da aspectos físicos, biológicos e
sociedade com planos de socioeconômicos do problema para
contingências para lidar acenar nas ações de solução.
com a seca. Inclusão do Associar as estratégias de erradicação da
fortalecimento de sistemas pobreza com os esforços orientados para
como o de segurança combater a desertificação e mitigar os
alimentar. efeitos da seca.
A caracterização e análise de causas não apenas pelos efeitos diretos, mas pelas interações
e sinergias desses elementos ou variáveis, com possibilidade para acenarem, com
objetividade, a busca de fontes de dados na complementação do estado inicial de
conhecimentos, de objetivos e meios necessários para serem alcançados.
b) A incorporação de saberes tradicionais, evoluções (históricas) e perspectivas
socioculturais de comunidades vulneráveis ou susceptíveis à desertificação.
A incorporação de intangíveis como saberes e experiências de comunidades no convívio
com o semiárido e em políticas de combate à desertificação requer o necessário
conhecimento desses ativos (precedida do resgate e valorização de sistemas tradicionais,
entre outros, os de convivência–ajuste ao meio e de gestão e ordenamento do território) e
definir brechas para que tal incorporação, valorizada e legitimada, possa ser socializada e
acrescida de novos valores com os conhecimentos adicionais.
Estabelece-se como hipótese, que tal incorporação, - as de saberes e experiências de
comunidades no combate à desertificação e convivência com a seca em planos, dá
legitimidade à ação política e facilita a definição e implantação desses planos quando
neles se identifiquem poderes e desejos sociais; quando possam interpretar a vontade
popular e a ação comunitária integrada – potencializada nesses planos.
c) A natureza dinâmica e complexa da desertificação que em seu componente antrópico
responde aos arranjos que se fecham em ciclos ou se mantém em esperais e onde é preciso
encontrar pontos de tensão, elos críticos, oportunidades para rompê-los e evitar retro-
alimentações viciosas.
Por vezes, são estruturas institucionalizadas, como as de posse da terra e recursos hídricos,
que favorecem a exclusão social e a sobre-exploração de recursos com a concentração de
recursos e benefícios. Reconhece-se que são estruturas sedimentadas e com lastros
históricos e socioculturais e onde esforços de mudanças encontram grandes resistências
por parte de setores influentes e dominantes.
d) Os fatores de riscos no planejamento, na gestão integrada, na tomada de decisão e em
políticas públicas, em geral, omitidos em planos de combate a desertificação e
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Eduardo A. C. Garcia
convivência com a seca. Em muitos casos são fatores de incertezas como as que ocorrem
em projeções de causas e efeitos em horizontes de curto, médio e longo prazos, devido às
dificuldades de representar a dinâmica e complexidade desses processos. Contudo, não há
razões nem desculpas para ignorá-los, dada a gravidade e extensão do problema, e adotar
a procedimentos simplistas ou relações estáticas e bem definidas.
Grande parte das incertezas está associada à consideração, por parte da teoria econômica
que tem permeado políticas e comportamentos de agentes econômicos, do uso comum de
recursos naturais. Recursos valiosos, porém sem preços nem mercados e com acessos, em
tese, permitidos a todas as atividades econômicas, por vezes, dominadas e concentradas
por setores. Essa permissão favorece ou se orienta para a sobre-utilização que responde
por externalidades cruzadas negativas e implica, no longo prazo, o comprometimento da
sustentabilidade de fontes do meio ambiente como sistema de suporte à vida.
No contexto de “bens livres”, os recursos naturais passaram, em alguns casos, de uso
comum e disponibilidade ilimitada para bens escassos e com valor econômico, como é o
caso da água, com a instituição da cobrança do uso de recursos hídricos. 13 Mas, os
processos de reconhecimento, - do valor de bens e serviços ambientais, e de internalização
desse valor em atividades produtivas, - ainda mais distante, são dominados por incertezas
que favorecem efeitos negativos como os de mudanças climáticas originadas, em parte,
pela acumulação de gases de efeito estufa.
É relativamente claro para, no contexto da pesquisa e a ciência, que o potencial de
mudança climática é muito grande e que a omissão ou o desinteresse para tratar o assunto
relacionado com a desertificação, seja como provável (riscos) ou como possível
(incertezas), provocará conseqüências negativas para todos. Por isso, mesmo com
incertezas, é preciso construir cenários e fazer projeções para planejar e agir no combate à
desertificação: durante os processos, ações e estratégias do combate, poderão ser feitos
ajustes e correções necessárias, baseadas em novos dados e evidências.
e) Os relacionamentos, com fieis e consistentes indicadores, de fatores naturais (objeto de
gestão integrada) e antrópicos (objetos de conservação e manejo integrado) é, também,
parte da desertificação. Gerenciar esses fatores implica conhecê-los e nessa tarefa é
destacado o papel do Ipea para, p.ex., socializar evidencias empíricas que foram
fortalecidas nos últimos anos acerca de mudanças climáticas pela acumulação de GEE
provocada por atividades humanas e com prováveis efeitos na elevação de temperatura,
alteração do sistema climático com diversos impactos no Nordeste: na agricultura, com
queda na produtividade; em reservas de água, com redução; na biodiversidade, com a
extinção ou ameaça de extinção de espécies; e na saúde humana, com danos e riscos pelo
aumento da incidência de doenças efeitos e relacionamentos importantes.
O relatório do IPCC (2007) projetou para a América Latina alguns impactos, tais como:
aumentos de temperatura e decréscimo associado de água no solo, com substituição da vegetação
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
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do semiárido por vegetação típica de zonas áridas; perda de biodiversidade com a extinção de
diversas espécies; mudanças no padrão de chuvas; e tendência de quedas na produtividade de
alguns cultivos agrícolas com implicações graves na segurança alimentar em determinados
setores da população.
O problema da desertificação pode ser muito mais complexo do que a ação combinada de
fatores naturais e antrópicos em determinada região ou local em desacordos com a capacidade de
suporte e com acentuados desequilíbrios em processos naturais. Poderá compreender, de forma
significativa, graves problemas ambientais, conforme se ilustra na Figura 3, com o destaque de
uns poucos exemplos de ciclos e interações. A mudança climática e a desertificação são dois
aspectos, complexos e estreitamente inter-relacionados de um mesmo problema e tais fenômenos
requerem ações e estratégias combinadas para o controle. A mudança climática está associada à
maior evapotranspiração potencial (feito da elevação da temperatura) o que se traduz em
“normais” de chuvas menores e mais “erráticas” sua distribuição, aumento da área semiárida e
avanço da mata seca em áreas de Ceará e Bahia.
A desertificação ilustrada na Figura 3 com o processo de erosão dos solos, a perda ou
redução da diversidade biológica e a mudança climática são (cada um deles) grandes e
complexos problemas de um único fenômeno que, em estágios avançados, provoca a
desertificação humana. Um resultado “inicial” é a menor produtividade agrícola e pecuária que
pressiona para incorporar novas áreas da caatinga a serem desmatadas, queimadas, erodidas para
manter a renda. Desse ciclo, um é considerado:
erosão do solo redução da capacidade de produção dos recursos da
terra fome êxodo: mais pobreza, subemprego, insegurança etc.
A degradação pela a erosão do solo é, também, um assunto relacionado com outros
problemas ambientais não menos graves como, p.ex., ser essa deterioração responsável, em mais
de 30%, pela emissão de gases do “efeito estufa”: as perdas de biomassa e matéria orgânica
liberam carbono na atmosfera, com implicações na redução e adaptação às mudanças climáticas
e, como efeito direto, implicações nas perdas da biodiversidade.
O semiárido nordestino pode ser considerado uma das regiões mais vulneráveis à
desertificação do Brasil que, no aspecto social, o aquecimento global pode resultar em acentuada
redução da pluviosidade média, com efeitos na vegetação típica da caatinga, substituída,
provavelmente, por vegetação de regiões áridas, segundo projeções do IPCC (op. cit.).
O aquecimento global pode, também, inviabilizar a agricultura familiar e de subsistência;
aumentar a emigração humana que na última década do século XX atingiu em torno de um
milhão de pessoas das áreas rurais do semiárido nordestino; e até reduzir o volume de água do
rio São Francisco, com possíveis implicações em projetos como o da Transposição desse rio, no
contexto do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste
Septentrional.
26
Eduardo A. C. Garcia
Desertificação
Aumentos de
eventos extremos: Reduções da diversidade
secas, enchentes etc. Reduções de reservas de Perdas de nutrientes e na estrutura de coberturas
carbono e aumentos de da umidade do solo vegetais e nos micro-
emissões de CO2 organismos do solo
Mudança Perda da
climática biodiversidade
Quadro 2 Pontos de reflexão que podem auxiliar a definição de ações e estratégias em um plano
projeto de combate à desertificação e convívio com a seca
PONTOS DESDOBRAMENTOS
Em seu meio sociocultural, econômico e ambiental; com a sua
Foco: o ser humano
história, perspectivas e possibilidades, dentro de contextos realistas.
- A implementação de programas de ação local e regional:
motivação para a participação.
O progresso, com - Necessidade de cooperação internacional e parceria: troca de
objetividade no foco, experiências e aporte de recursos financeiros.
depende de: - Participação plena: da mulher, do homem, de associações em
planos.
- Imprescindível engajamento da comunidade em políticas públicas.
- Conhecer o problema por suas causas, efeitos e importâncias.
- Ordenar / priorizar as causas com base em indicadores, critérios,
Condições diretrizes, objetivos e recursos disponíveis.
necessárias objetos de
- Relacionar e avaliar as causas em lógicas estruturas.
atendimentos
- Alocar recursos suficientes e com objetividade.
- Encorajar a participação: motivar, educar, conscientizar (...)
Papel da P&D no - Melhorar o conhecimento do problema e os meios (...).
combate à - Atender objetivos e metas conforme diretrizes (…).
30
Eduardo A. C. Garcia
c) Práticas tradicionais de uso e manejo inadequados dos recursos solo, água e vegetação;
são, com frequência, práticas associadas a um sistema de propriedade da terra
concentrador de benefícios e de arranjos produtivos com externalidades negativas,
agravados pela existência de secas periódicas.
d) Exploração intensiva (sobrepastoreio e cultivo excessivo ou sobre-exploração), além da
capacidade de suporte ambiental em áreas frágeis e de equilíbrios “considerados”
instáveis; na abordagem de sistema não se tem essas considerações, pois são equilíbrios
que respondem às estruturas e “idades” de seus processos de desenvolvimento
determinantes de níveis de resiliência.
Ecossistemas, no semiárido, apresentam baixa capacidade de suportar as perturbações
antrópicas e ambientais e de manter sua estrutura e padrão de comportamento e resposta
diante de mudanças das condições de equilíbrio. Não reconhecida essa capacidade é fator
contrário às ações e estratégias de combate da desertificação.
e) Mineração sem cuidados adequados com o meio ambiente; o pouco ou o desconhecimento
desse meio na intervenção mineraria é condição favorável à desertificação.
Relaciona-se, também, o escasso conhecimento do valor “real” dos recursos naturais e da
necessidade, não reconhecida, de proteger as fontes como condição necessária para se ter um
fluxo produtivo objeto de manejo e conservação; essa valoração deve considerar a capacidade do
sistema e o custo de oportunidade da reserva a proteger.
A negligência ou a total omissão na preparação e desenvolvimento de atividades para se
ter a preservação e proteção de fontes é comum em modelos de crescimentos regionais
imediatistas e com padrões economicistas. No texto se alerta sobre essa padronização e se
valoriza o esforço de adaptação e aplicação de um padrão à condição local, com a definição de
um critério.
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
31
Degradação
Tecnologias inapropriadas
Degradação
Mudança climática
Tabela 1 Clima, índice de aridez e terras afetadas (mil km2) pela desertificação nos continentes a
CLIMA ÍNDICE ÁFRICA ÁSIA AUSTRÁLIA EUROPA A.NORTE A. SUL
Situação inicial
0% 100%
Ecológica Prejuízos sociais e
ambientais
SA2
SP1
SA1
SP2
Política 0%
100%
100%
0% Social
SS2
ST1
Situação Melhorada
SS1 Negociação-acordo
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
41
no tipo de solo (...) no período (...): y1 com a importância relativa p1; crédito agrícola para
agricultura familiar: y2, p2; consumo local de (...): y3, p3; produção agricola – pecuária da
agricultura familiar para o mercado local: y4, p4; índices de ganhos de empresas locais
com substituição de mão-de-obra: y5, p5; etc. O resultado dessas atividades econômica é
dado por: SE1 = yi pi (i = 1, 2, 3, ... n), considerada “alta” (de maximização de lucros),
porém insustentável, devendo se ajustar, ao recuar (flexa branca), para uma posição de
otimização definida por SE2 = y’i pi. Esse é o ponto esperado de equilíbrio que
dependerá da efetividade de ações e estratégias propostas e implementadas.
Mecanismos de mercado com a valorização – internalização de preços de bens e serviços
ambientais e com projeto como os de mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) e de
créditos de carbono poderão facilitar essa mudança. A efetividade na aplicação de leis de
proteção ambiental e de conservação e manejo poderão, também, auxiliar esse ajuste
conveniente para todos, inclusive para a própria dimensão econômica: o empresário.
Que ponto poderia ser alcançado no período (x anos)? O indicado por SA2 e proposto por
estudos prospectivos e cenários traduzidos em planos.
Parte da sustentabilidade econômica com a otimização condicionada às limitações
“impostas” tem implicações em outras dimensões (ou se relaciona) como a institucional e
legal, agindo em estruturas, para o caso cnsiderado neste documento, como as de posse da
terra e acessibilidade social aos recursos hídricos.
É necessário considerar na sustentabilidade da dimensão econômica, entre outros
aspectos, a sensibilidade de limites do potencial de crescimento, de produção (de
produtividade), e a necessidade de disciplinamento do consumo - uso com base em
indicadores da capacidade de suporte ambiental, sem viés para a “quantidade” e o “ter”
quando se privilegia a maximização, a concentração e a exclusão social de riquezas.
É preciso agilizar processos que possam potencializar o crescimento econômico ao
incorporar potencialidades de ambientes e recursos naturais. Um desses processos é o do
licenciamento ambiental mais ágil e consistente, portanto, necessariamente sustentado em
critérios. Deixar de incorporar um potencial ambiental em um projeto de crescimentos é
omitir um custo de oportunidade, com efeitos negativos ao retardar o desenvolvimento
que seria viabilizado ou agilizado por esse potencial.
O extremo, ao exagerar o disciplinar a atividade econômica com instrumentos punitivos e
impositivos poderá se traduzir em preservacionismo, sem considerar potencialidades e
possibilidades da extração de excedentes econômicos do ecossistema, excludente,
portanto, do crescimento e de melhorias sociais: uma forma de desertificação antrópica.
Mas o combate à desertificação com foco no ser humano elimina, como hipótese, essa
possibilidade e destaca a conservação e manejo de recursos naturais em perspectivas como
as da agricultura sustentável, agricultura familiar e gestão integradas dos recursos da
terra.
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
43
emissão de gases efeito estufa: x9, p9, etc. O resultado define o estado de sustentabilidade
inicial: SA1 = xi pi (i=1, 2, 3,... n).
Que ponto poderia ser atingido no período de (... anos: fase 2) agindo nos fatores críticos?
Esse ponto é indicado por SA2 = x’i pi e espera-se seja determinado pela eficácia do
controle dos fatores – causais que definem o “estado” inicial. São fatores com
importâncias relativas variáveis e com efeitos isolados ou combinados que o planejador,
gestão, formulador de políticas e planos deve conhecer e gerenciar.
É imprescindível considerar a conscientização social, fruto da educação e capacitação, da
fragilidade de sistemas naturais e dos efeitos antrópicos de atividades sobre esses
ecisistemas, sem a polarização de visões estreitas nem a intransigência do
preservacionismo, para que a efetividade os resultados obtidos sejam muito próximos (ou
ainda maiores) dos esperados quando se cenariza, para o futuro, em SA2 = xi pi. É
importante especificar possíveis formas de distribuição dos benefícios com as melhorias
provenientes da conservação e manejo, potencializadas pelas sustentabilidades em outras
dimensões, tais como: valorização (econômica) para proteger; educação (social) para
conservar; legislação (institucional – política) para gerir; fortalecimento e integração rural
– urbana (espacial) para desenvolver etc. Deve-se acrescentar que na sustentabilidade,
nesta dimensão, não há resíduos nem desperdícios e a diversidade assegura a resiliência
do sistema.
d) A político-institucional, de notável importância no tecido do processo de desenvolvimento
e de inexplicável omissão em ações e estratégias de planos passados.
A sustentabilidade institucional - política, representa a efetividade de instrumentos de
planejamento e gestão e da participação – comprometimento das comunidades em
definições e execuções de planos como os de combate à desertificação.
Em que ponto do gráfico se encontra essa dimensão? Esse ponto é indicado por SP1 e
representa deficiências e ineficiências de instrumentos. Melhorias em estruturas como as
de posse de recursos e de instrumentos como os das políticas públicas permitirão alcançar
o estado SP2.
e) A sustentabilidade espacial determinada pela configuração rural – urbana mais equilibrada
e com função social de fatores como terra e água. Em que ponto da Figura 5 se encontra
essa dimensão? Em ST1 e representa desorganização da ocupação territorial. Vários
instrumentos são propostos para alcançar o nível ST2, com destaque para o zoneamento
econômico – ecológico para ordenar e priorizar a ocupação.
Na ilustração da Figura 5 se destaca propositadamente o suporte técnico-científico e
operacional (baseado na racionalidade e pertinência de critérios ou padrões adequados à
realidade para proteger, produzir, consumir, prever – prognosticar, reciclar etc.). Mas, outros
fatores e condições de suporte são tão importantes ou mais notáveis para o desenvolvimento,
como são vontade e decisão política, os éticos e os princípios da transparência (ver nota 11).
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
45
perceber como agir com ecoeficiência; recursos necessários a oferecer para desenvolver com
eficiência; orientações, diretrizes e instrumentos, entre outras de políticas públicas, para
solucionar conflitos com eficácia, tanto os que resultam de violência explicita da
marginalização, quanto de violência implícita que discrimina e exclui. Por corolário, há espaços
para acordar planos de sustentação consistentes para o suporte ao desenvolvimento em uma
região.
O desenvolvimento poderá compreender, em qualquer nível de abrangência, a
combinação de dotações de recursos naturais com a criação de aptidões modernas de
conhecimento e tecnologia, de capital humano e de instituições econômicas e públicas de
qualidade-efetividade, sem que haja superposição à ideia estática de dotação de recursos, de
vantagens comparativas, mas complementações e sinergias ao se definirem novas vantagens da
competitividade. São possibilidades a considerar no semiárido dotado de especiais recursos de
seu bioma, a caatinga, condições climáticas, reservas subterrâneas de água e, principalmente, de
seus habitantes especiais por sua cultura, vontade e perseverança.
Outro conceito importante a considerar nesta síntese é o da convivência com a seca em
planos que considerem esse fenômeno natural da região e que permitam minimizar, em níveis
toleráveis, seus efeitos, evidenciando-se, nessa minimização, o potencial da tecnologia.
encravadas no chão, construídos em proximidades das casas que usam calhas para colher a água
de chuva dos telhados, direcionando-a para essas cisternas, individuais ou coletivas. São
construções fechadas e variáveis conforme o número de pessoas a serem atendidas e o tamanho
do telhado das casas. A água depositada ali durante os períodos chuvosos fica armazenada para
atender necessidades nos períodos em que normalmente não chove. São atividades e
experiências, entre outras, que precisam de divulgação, incentivos e mobilização social,
possíveis de serem melhoradas.
O atendimento às exigências como as de estruturação e (re)composição do meio natural,
de conhecimento e divulgação de saberes tradicionais e de medidas sociais para a melhoria do
bem-estar, é imprescindível na formulação de um plano de convivência com a seca. Um plano
capaz de compreender aspectos, tais como:
a) Os econômicos: apoio à agricultura familiar e ao desenvolvimento com base em novos
critérios, práticas e tecnologias que possam “garantir” a segurança alimentar e gerar
excedentes para o mercado com valores agregados no local. A convivência, como
comportamentos induzidos, precisa de estímulos e atrativos de melhorias sustentáveis na
dimensão econômica. Tais melhorias no semiárido não podem ignorar a seca, com
possibilidades de “previsão” e alerta contra ocorrências “anormais” desse fenômeno.
b) Os sociais: infraestruturas para melhorar o atendimento à saúde, à educação e ao
saneamento básico no contexto da qualidade e segurança social que esse meio permita
desenvolver. Um plano de convivência, ao lidar com a seca, exige infraestruturas para se
fundamentar, em parte, no acesso aos recursos e serviços de bem-estar social que possam
compensar efeitos “negativos” da seca. A exigência não é apenas de infraestrutura, mas
compreende a dotação de recursos para gerar e manter os serviços. Compreende planos de
educação, monitoramento e avaliação social.
c) Os culturais e históricos como saberes tradicionais e experiências, uma delas acima citada,
no convívio com a seca. A valorização de tais saberes e o resgate da identidade cultural de
comunidades é um propósito a ser colocado em um plano de convivência com a seca, ao
possibilitar difundir (aprimorar) experiências e saberes bem-sucedido. Deve-se observar
que a legitimidade de um plano é proporcional à representatividade sociocultural e
histórica que ele traduza da comunidade e seu meio.
d) Os físicos, tais como, os conhecimentos básicos sobre a localização, caracterização e
disponibilidade de fontes de águas superficiais e subterrâneas, dos solos e da vegetação,
com suas naturais limitações e possibilidades ou potencialidades. São conhecimentos que
tem como argumentos informações, serviços e tecnologias adequadas à região, às
condições de comunidades e, portanto, integráveis com seus saberes; tecnologias do
manejo e conservação no contexto de unidade de planejamento como o de uma bacia (sub-
bacia) hidrográfica e o município.
50
Eduardo A. C. Garcia
São fatores, tais como: as medidas que devem ser consideradas e para quem devem ser
propostas; as condições de adoção dessas medidas o que significa auscultar aspectos
socioculturais e históricos das comunidades vulneráveis e afetadas pelo fenômeno da seca; a
procura da harmonia entre as atividades econômicas e a proteção – preservação de fontes, de
reservas, de ciclos em ambientes do semiárido (INDICADORES e referências); as condições
necessárias para se ter a conservação – manejo de fluxos de bens e serviços ambientais e o que é
preciso fazer para garanti-las no local; as exigências de ações e estratégias cooperativas,
multidisciplinares e multi-institucionais, implícitas nessa convivência; e a especificação do que
se busca em cada fase e é possível alcançar em um plano estruturado e com visão de longo
prazo. Nesse contexto há importantes lições a serem devidamente estudadas e atualizadas para
aplicá-las na formulação de novos planos; uma dessas lições é a do Projeto Áridas.
O plano de convivência com a seca deve compreender ou prever o re-ordenamento de
espaços agro-econômicos do semiárido, com especificações baseadas em critérios e evidências
de fragilidades, limitações e potencialidades a serem internalizadas, com sustentabilidade, nas
atividades econômicas e na convivência.
Relacionado com os aspectos básicos de um plano de convivência com a seca, tem-se os
fundamentos, instrumentos e recursos, entre outros, os de políticas públicas e do próprio plano
da convivência a compreender (relação para reflexão):
a) Opções tecnológicas para amenizar a escassez de água e as limitações da capacidade
produtiva do solo por insuficiente umidade para os cultivos.
b) Desenvolver e disponibilizar técnicas de dimensionamento, construção e uso – manejo de
sistemas de abastecimento de água como, p.ex., cisternas rurais (para beber, para produzir
etc.; figura ao lado), barragens e poços com dessalinizadores etc. Algumas dessas ações e
se oportunas e/ou convenientes, devem ser integradas com as da transposição do rio São
Francisco.
c) Disponibilizar critérios técnicos e operacionais para a conservação e manejo integrado do
solo – vegetação.
d) Motivar e mobilizar as comunidades para participar e usufruir de projetos como os de
educação ambiental, capacitação e valorização de ambientes e recurso a serem protegidos.
O plano de convivência da seca no semiárido começa e se desenvolve com base no potencial
dessas zonas, incluindo, entre outros aspectos:
a) O regime pluvial médio de 750 mm com grande potencial (perspectiva) de
armazenamento de parte desses 750 bilhões de m3/ano de água para uso e manejo
criteriosos.
Essa perspectiva parece ser interpretada no projeto de construção de um milhão de
cisternas, incluindo, entre outras atividades: a implantação de projetos demonstrativos e
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
53
Romper esses ciclos pressupõe conhecer as fases que os definem e gerar – oferecer
alternativas para evitar a emigração ao melhorar condições socioeconômicas, aumentar a
produção, recompor áreas, proteger encostas, diversificar ecossistemas e reflorestar – regenerar
coberturas nativas de vales e áreas úmidas desmatadas e preservar as reservas de proteção
ambiental. Esses propósitos, entre outros, fazem parte do conceito de convivência em seus
desdobramentos. O plano deverá transcender a conceituação com a especificação de meios,
procedimentos e recursos para operacionalizá-la.
Um dos conceitos básicos do processo de desertificação no semiárido nordestino é a
erosão de solos, da biota e humana.
que serve de proteção à superfície do solo contra a ação da água (erosão hídrica) e do vento
(erosão eólica).
Várias formas de uso e manejo tradicionais dos solos podem resultar em degradação
ambiental, tais como: o extrativismo vegetal e mineral; o sobre-pastoreio e excessivo uso
agrícola, formas de manejo e técnicas de produção que expõem os solos aos agentes erosivos.
A erosão depende de um conjunto de fatores que agem tanto de forma isolada como
conjunta (mais freqüente), potencializando o efeito negativo de cada fator. A análise da ação ou
impacto de cada um e do conjunto, sob determinadas condições do semiárido é fundamental para
definir práticas e tecnologias de manejo integrado e de conservação desses ecossistemas.
Na caracterização da erosão no semiárido se podem identificar várias formas como, p.ex.,
a laminar predominante em Irauçuba (CE), lenta e quase imperceptível em solos rasos e
pedregosos, submetidos a intensos desmatamentos, práticas de queimadas e ocupação
desordenada do solo; e a erosão em voçorocas (crateras) e grandes dunas (erosão hídrica:
inverno e eólica: época das secas, com solos esturricados), com sinais mais notáveis registrados
em solos arenosos de Gilbués (PI), ilustradas nas Figuras 8 e 9 e na Tabela 2.
As perdas de solo, de água e de nutrientes são responsáveis pelo decréscimo na
produtividade agrícola e pecuária, pela eutrofização de corpos de água e pela degradação do solo
com impactos nos recursos hídricos, na flora, na fauna e, no final dessa cadeia, no homem.
Quanto às perdas de solo, observam-se variações (em função de diferenciações ambientais
e de usos e manejo dor recursos da terra), com destaque para a erosão entressulcos, a mais
prejudicial, com a combinação de dois processos (desagregação e transporte de materiais).
Borda de rio desprotegida: erosão Irrigação / inundação de campo aberto Sulcos rasos: Picui (PB)
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
55
Aspecto erosivo: núcleo de Cabrobó Aspecto erosivo: núcleo de Gulbués Erosão laminar
(PE) (PI)
Área rural de Cabrobó (PE) Aspecto erosivo: frequente Caprino pastando na caatinga
PLANOS E ESTRATÉGIAS NACIONAIS, EM 2008, NO COMBATE À DESERTIFICAÇÃO
1) Programa Alimentação saudável: famílias carentes com renda inferior a 0,5 salário mínimo per capita.
2) Programa Educação de jovens e adultos: reduzir os índices de analfabetismo
3) Programa toda criança na escola: ação de “bolsa escola”; mais de 2,6 milhões de crianças do semiárido.
4) Programa desenvolvimento da Região Nordeste: provimento de infraestrutura como eletrificação, água e mecanização
5) Programa jovem empreendedor: organização e capacitação do jovem do meio rural / Projeto Amanhã.
6) Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura – Pronaf; aça\o: Seguro Renda; famílias de produtores rurais
7) Programa Bolsa-renda: concessão financeira sazonal para auxiliar famílias carentes atingidas pela seca
8) Programa desenvolvimento da fruticultura: geração de inovações tecnológicas para aumentar produtividades
9) Programa proágua infraestrutura: ampliar a oferta mediante com obras: adutoras, canais, barragens e extração subterrânea.
10) Programa proágua gestão: combate à desertificação mediante estudos para disponibilizar água no semiárido
11) Programa de expansão e consolidação do conhecimento científico e tecnológico
12) Programa de desenvolvimento sustentável de mesorregiões diferenciadas
13 Projeto desenvolvimento sustentável para assentamento de reforma agrária no semiárido
14) PROGRAMA NACIONAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO
Figura 8 Tipos frequentes de erosões dos solos no semiárido e Planos Nacionais no combate à desertificação
As perdas ocorrem pela remoção da camada superficial que contém a matéria orgânica, os
nutrientes inorgânicos, materiais orgânicos e, por vezes, insumos agrícolas como fertilizantes,
com alterações de processos microbianos refletidos na fertilidade dos solos e na produtividade
que se perdem com a erosão.
Que fatores determinam a erosão? O Quadro 3 relaciona alguns desses fatores e
exemplos de contribuições, para certas condições tanto físicas como de uso e manejo dos
recursos da terra, determinantes das perdas do solo por erosão.
Em termos econômicos são perdas quase que incalculáveis pela “impossibilidade” de
reparar totalmente os ambientes danificados, mas, com possibilidades de se ter estimativas ou
aproximações como as apresentadas pelo PNUMA, na África e as calculadas, em parte, neste
documento.
56
Eduardo A. C. Garcia
Quadro 3 Fatores, condições e possíveis contribuições que determinam a erosão dos solos, a
CONDIÇÃO OU
FATOR EFEITOS e EXEMPLOS DE INDICADORES
SITUAÇÃO
19
Nos conceitos de conservação e de manejo integrados de ambientes e recursos há
definições básicas, tais como:
a) A utilização racional com práticas “adequadas” de manejo e com as tecnologias
convenientes de conservação; adequação e conveniência devem ter como referência as
características conhecidas do local ou região. Dessa forma entendido, a conservação e
manejo integrado devem refletir tais características não apenas físicas, mas socioculturais
e econômicas, com perspectivas de mudanças pela gestão e por inovações tecnológicas
apropriadas e convenientes.
b) O rendimento satisfatório, considerando determinadas referências, entre outras as
ambientais e socioeconômicas próprias do local, da região.
O Nordeste é uma região pobre, porém com potencialidades para “superar” níveis críticos;
com limitações de seus recursos naturais, mas com oportunidades a desvendar. Dessa
forma, modelos de países e regiões desenvolvidas e industrializadas não poderão servir de
referências, sem prévias avaliações, testes e possíveis ajustes ou adequações, para explicar
58
Eduardo A. C. Garcia
REALIDADE Desenvolver
Usos e manejos... Sustentável
Avaliação
Crítica Consistência
Preservação Avaliação Decisão
Esperada
Unidade de Conservação
Realidade: análise
Potencialidade: indicador CONSERVAÇÃO
Restrição/ limitação: indicador Nova realidade...
Capacidade de suporte: indicador
Utilização racional
Avaliação
Risco Sistemas de produção adequados ao local
Tecnologias para inovações
Práticas para manejo integrado
Saberes tradicionais: resgate e valorização
Avaliação
Econômica Alternativas de utilização
Desertificação no Nordeste: subsídios para a formulação de políticas públicas
59
variações climáticas, entre outros fatores portadores desse futuro. Uma morte anunciada e
agravada pelo aquecimento global / mudanças climáticas no semiárido com seus possíveis (por
vezes, prováveis) impactos negativos em sistemas, tais como:
a) recursos hídricos; p.ex., estresse (mudanças inesperadas e rupturas em sistemas vitais) e
redução na disponibilidade de água por causa, entre outras, supressão da matas ciliares,
desmatamentos e exposição do solo, tornando-o vulnerável às perdas (um exemplo na
Paraíba é apresentado por SOUZA et alii, 2007);
b) climáticos, p.ex., tornar mais árido o Nordeste por causa de mudanças em frequências e
severidades de eventos extremos;
c) vegetação; redução e/ou substituição de espécies da Caatinga, do semiárido, por espécies
do árido;
d) agricultura, p.ex., intensidade de uso, além de sua capacidade de suporte e inadequado
manejo para as condições locais;
e) degradação humana, por causa de degradações nos recursos hídricos, na vegetação e no
solo com aumentos de marginalização, de insegurança alimentar e de problemas na saúde
e saneamento básico, entre outros.
O conceito de cenário pode ser o de “uma a seqüência de eventos hipotéticos de situações
complexas, construídas com a finalidade de focalizar as atenções em processos causais e pontos
de decisão”, segundo Kahn e Weiner (1969), a fim de demonstrar como uma meta determinada
pode ser atingida se atendidas certas condições. No caso considerado neste documento, essa
meta é controlar os fatores causais dessa construção antes que os mesmos ocorram e produzam
seus efeitos e buscar o convívio com a seca antes que ocorram as emigrações.
É impossível antecipar as causas - efeitos e a emigração se nada efetivo for feito, com
antecipação, no combate e para o convívio. As condições são as de caracterizar a realidade,
definir propósitos (desejos e expectativas) e controlar (poder de agir) as causas da desertificação.
A abordagem de cenários compreende:
1 Uma visão global, sistêmica, da realidade que se impõe na medida em que se observam
efeitos e interdependências entre fatores causais ou correlacionais, tais como os físicos
(ambientais), econômicos, sociais e político-institucionais.
A complexidade de entrelaçamentos de fatores determina que o tratamento de apenas um
deles apresente um valor explicativo reduzido ou inexpressivo. Assim, p.ex., uma “boa”
prática de manejo e uso do solo sem uma alternativa exequível de substituição de
desmatamentos e queimadas na agricultura do sertanejo não será benéfica o suficientes no
controle da desertificação; ou a prestação de serviços como os de crédito rural sem um
66
Eduardo A. C. Garcia
preocupação com o realismo e com a eficácia, entre outros, devem guiar a reflexão
prospectiva visando um melhor domínio da história na construção do futuro.
Os cenários devem focar assuntos relevantes da realidade, de desejos, de poderes, da
governabilidade (...); formular hipóteses-chave sobre o futuro; e assegurar a coerência e
plausibilidade das combinações possíveis em torno de um plano de combate à desertificação.
Há vários tipos de cenários, tais como: os imagináveis ou hipotéticos; os possíveis dentro
de um determinado contexto; os normativos ou de situações esperadas e desejadas; os mais
prováveis ou cenários de referências para determinadas regiões, fatores e condições; e os
cenários extrapolativos.
O Quadro 5 sintetiza conceitos de alguns cenários, com ênfase em os normativos e
exploratórios, que podem para auxiliar a formulação um plano de combate à desertificação.
As fontes de dados e informações para essas construções compreendem, entre outras, os
objetivos de planos estratégicos governamentais dos entes federativos, relacionados como o
tema; a Declaração do Semi-árido – DAS, documento da sociedade civil que compreende mais
de 1.200 organizações (BRASIL, 2004); e, principalmente dados a serem obtidos diretamente de
comunidades, grupos e organizações para completar uma base de informação das regiões
vulneráveis e afetadas, em termos da realidade, possibilidade, desejos e poder, conforme se
indica, sem especificações, neste boletim.
O Quadro 6 indica possíveis cenários de futuros construídos sem os necessários cuidados
que demanda a redução de emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa e por mudanças
climáticas. Em alguns casos não são apenas possibilidades, mas evidências probabilísticas sobre
tais futuros, inclusive para as condições do Nordeste (colchetes).
Quadro 5 Tipos de cenários que podem ser utilizados para auxiliar a elaboração de um
plano de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca no Nordeste
Normativo Exploratório
68
Eduardo A. C. Garcia
IMPACTO DO
AQUECIMENTO EXEMPLOS DE PROVÁVEIS IMPLICAÇÕES
GLOBAL
t2 Fase III
t1 Fase II
t0
Fase I
Interesses
Surgem (problemas) como: tensões existentes Vontades,
entre a sociedade civil e o Estado, causadas por preferências
precárias condições de vida; necessidade de
assegurar níveis de produção e consumo para o Ideias, visão, Instituições,
desenvolvimento; desigualdades sociais, econô- Contexto
paradigmas normas, valores
micas e de oportunidades; e reivindicações por
melhores condições ambientais e de qualidade
de vida, perdas ambientais que afetam o homem
Vontade
72
Eduardo A. C. Garcia
São princípios ou preceitos que se fixam para servirem de normas e traçado de orientações
norteadoras de conduta da sociedade diante uma situação. No caso considerado, esses princípios
podem ser: democratização do acesso à terra e à água; participação das comunidades no processo
de elaboração e de implantação de ações e estratégias de combate à desertificação; e
incorporação do conhecimento tradicional sobre uso sustentável de recursos, potencializado por
novos conhecimentos como os tecnológicos, nas políticas públicas.
Os objetivos gerais que se esperam da política pública e que dada a sua abrangência só
podem ser alcançados com a efetivação de objetivos específicos colocados na prática da política
mediante planos (conjunto de ações a ser adotado para se atingir determinado objetivo),
programas (detalhamento de planos com a exposição de linhas e regras a serem seguidas:
exemplo o PAN-Brasil) e projetos (atividade ou conjunto de atividades correlatas, como
expressão ou desdobramento operacional de um programa).
Os instrumentos são as ferramentas econômicas - financeiras, políticas e institucionais que
viabilizarão a concretização dos objetivos da política
Há ainda outro desafio a ser enfrentado, qual seja, eles têm de aprender a atuar em
parceria com outros atores, os políticos, que são as pessoas que tomam decisões.
A questão aqui é saber como se poderia ajudar
pesquisadores e políticos a se comunicarem.
O problema tradicional da pesquisa, que é o
de encontrar formas de aumentar a produtividade agrícola, é simples se comparado
com os desafios
de manter e melhorar o potencial produtivo para as
gerações futuras e conservar a qualidade do meio
ambiente, além de aliviar a pobreza e melhorar
a segurança alimentar. É muito grande a complexidade
dos dados e das análises necessárias para
gerar as informações que embasarão decisões de
políticas sobre manejo de recursos naturais.
Há dois obstáculos para desenvolver um
mecanismo autorregulável de comunicação entre
pesquisa e política. O primeiro é que os tomadores
de decisões políticas e os pesquisadores precisam
aprender a se comunicar, evitando incompreensões
de lado a lado. O segundo é que mudanças
de políticas tomam tempo, e muitas das variáveis
envolvidas na decisão são incertas. Esta nota discutirá
os dois obstáculos resumidamente.
Aprendendo a trabalhar juntos
A capacidade de tomadores de decisões
políticas e de pesquisadores de se comunicarem
pode explicar, em parte, porque alguns sistemas
nacionais de pesquisa agropecuária têm sido
bem-sucedidos e outros não. Quando os tomadores
de decisões políticas têm interesse genuíno
no sistema de pesquisa de seus países, o sistema
provavelmente atende melhor às necessidades de
todos os interessados na pesquisa. Nesse caso, a
pesquisa agropecuária passa a ser um instrumento
útil e confiável para o avanço da sociedade.
Várias questões contribuem para o problema de
comunicação, a saber:
Diferença de foco – Políticos e pesquisadores
necessitam de respostas diferentes a um mesmo
problema. Se a natureza analítica da pesquisa leva
os pesquisadores a focar em aspectos muito específicos
e a produzir, consequentemente, respostas
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Eduardo A. C. Garcia
NOTAS
1
Os recursos naturais podem ser conceituados como os elementos naturais bióticos e abióticos de que
dispõe o homem para satisfazer suas necessidades econômicas, sociais e culturais.
2
Consumismo é o ato de consumir bens e serviços, muitas vezes de forma irracional e sem consciência,
sem responsabilidade social, induzido por meios como os da propaganda e publicidade, orientando-o
para um consumo desnecessário (esse ato, quando racional no consumo indispensável, é para aquilo
que seja necessário para a sobrevivência) e supérfluo.
3
Economicismo no sentido de reducionismo de fatos como os sociais à dimensão econômica ou como uma
ideologia que coloca a oferta e demanda como únicos fatores na tomada de decisões. Em ambos os
casos, pressupõe ou implica a sobrevalorização dos aspectos econômicos, relegando a planos inferiores
outros aspectos ou dimensões como a social e ambiental. Tal viés, em certo sentido, nega a essência da
própria economia como ciência de escolhas, sem excluir análises (p.ex., de custos e benefícios de
diferentes opções que possam melhorar políticas públicas e o bem-estar social) e impactos de quem
ganha e perde; de explicar (economia positiva) e justificar (economia normativa) mudanças: a
economia ensina: mudança por mudar é irrelevante ou nada representa.
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Tecnicismo, entendido como a supervalorização e crença da autossuficiência da tecnologia em sua
capacidade de mudanças, negligenciado, em parte, o ator que passa a ser um simples aplicador de
procedimentos, técnicas e tecnologias. A criatividade, experiência e saber do agente (cliente que não é
alvo), no processo tecnicista, ficar restrito aos limites, - condições e exigências, do que se pretende
impor, invertendo-se a lógica do processo: atendimento ao alvo, com a tecnologia que possa interpretar
e se adaptar às condições e exigências desse cliente, com opções a serem complementas por outras. No
tecnicismo, é uma e necessária. Afastar-se do outro extremo, a tecnofobia.
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Em outras oportunidades, tais respostas, inseguranças e instabilidades em relação ao meio ambiente e
seus recursos naturais não foram (até o início do novo milênio) tão imprevisíveis nem desprovidas de
intencionalidades danosas, como se verifica com a concentração de riquezas naturais por poucos, com
exclusão de benefícios de muitos e a socialização de custos de externalidades do crescimento
econômico, com a inclusão do passivo ambiental, no social. Um passivo de desmatamentos –
queimadas indiscriminadas, de erosões induzidas, tanto dos solos como as biológicas, de poluições, de
perdas de atributos dos recursos hídricos (...). São custos não-internalizados em sistemas contáveis das
fontes que o geraram e continuam gerando-o. A própria relação (real ou pretendida, causal ou não)
entre pobreza e degradação ambiental é intensificada pelo contínuo domínio de riqueza, de poder, de
privilégios de setores, de legislações omissas e tendenciosas carregadas dessas intencionalidades,
explícitas ou não. Até relações aceitas e círculos viciosos como os de pobreza-degradação são, em
parte, intencionais. Se o pobre agride-degrada o meio ambiente porque não tem acesso a outras terras
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limitadas por instrumentos legais, entre outros, os de posse; à água em condições de uso ou excluído
pela localização da fonte em terra particular; à tecnologia viável e operacional ou da tecnologia que o
marginaliza da competitividade por questões de escalas como as de produção e consumo; à informação
que valorize – potencialize seus saberes tradicionais; ao crédito oportuno e acessível, entre outras, o
faz pressionado por circunstâncias, para “assegurar” a sua sobrevivência. As forças externas dessa
pressão são, em parte, intencionadas. No texto se enfatiza a necessidade de buscar e entender as causas
do problema para não pretender, supor ou esperar, por exemplo, formar uma consciência social de
proteção, valorização e conservação em comunidades que lutam pela sobrevivência, sem considerá-las
em suas reais e efetivas necessidades, possibilidades e perspectivas. Nesse ambiente, tal formação é
utópica ou muito limitada porque não se pode supor e esperar a conscientização em alicerces de
escombros de pobreza e miséria, de desertificações socioculturais e econômicas que precisam de
soluções antes de reflexões filosóficas: conscientização. Parte dessa conscientização está na
informação para a educação e na responsabilidade social do empresário, do tomador de decisão, do
legislador, do político.
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Contudo, é oportuno citar algumas ações, tal vez inadvertidas ou omissas em descrições históricas, que, a
pesar de terem motivações diferentes como as de proteção do comércio, resultaram benéficas para a
mata nativa. Assim, a proteção do meio ambiente, que para a maioria dos países é relativamente
recente, no Brasil é de longa data, com origem no período colonial. As Ordenações Manuelinas,
durante no reinado de D. Manuel I, o Venturoso (1495 – 1521), estabeleceram o escambo do “pau-
brasil” (Caesalpinia achinata, Lma.; Leguminosae), com penas de degredos aos contraventores, em
cerca de 200 delitos, entre eles cortar árvores de fruto. Essas Ordenações, junto com as Ordenações
Filipinas estabeleceram regras e limites para exploração e usos de terras, águas e vegetação com listas
de árvores reais, protegidas por lei, o que deu origem à expressão “madeira de lei”. As Ordenações
Filipinas são precursoras de princípios como o de proteção das águas ao fornecer o conceito de
poluição (GARCIA, 2009; em elaboração).
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Planejamento como a aplicação sistemática de informações e conhecimentos para conceber, com a
necessária antecipação, o que deve ser feito, e para avaliar, ex –antes, cursos de ações alternativas de
um processo racional pelo qual se decide antecipadamente, o que deve ser feito, pela conveniência e
necessidade; quando fazer, pela oportunidade; como será feito, pela exequibilidade e efetividade
esperada de resultados; e qem o fará, pela habilidade e competrência, constituindo-se um elemento
crucial da teoria e da prática da administração. Em termos formais, compreende: a) uma reflexão sobre
eventos prováveis ou possíveis e cenários alternativos, de natureza econômica, social, ambiental,
institucional e política; b) uma base informacional “robusta” para sustentar essa reflexão e a definição
de objetivos e meios; c) a tomada de decisãoes que possam viabilizar a obtenção desses objetivos de
forma mais eficiente e rápida. Em sua forma reduzida, o planejamento é um instrumeno de gestão e
abordagem racional para a solução de problemas (dimensão ciêntifica, metodológica: analítico-
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racional). Problemas complexos como o da luta contra a desertificação, mitigação de efeitos e convívio
com a seca não podem ser resolvidos com decisões simplistas, improvisadas ou aleatórias, a partir de
comportamentos reativos e intuitivos – empíricos, mas exigem detalhados desdobramentos do
problema em suas causas, interações e efeitos ordenados e hierarquizados; identificação de relações
funcionais, igualmente ordenadas; e remontagens de partes com o auxílio de técnicas de simulação,
dinâmica e riscos. Ainda com todos esses cuidados no desdobramento e remontagens, o planejamento,
com seus planos que refletem estágios de um processo, não garante o sucesso em alcançar os objetivos
com as ações preestabelecidas para criar um futuro desejado.
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A gestão ambiental pode ser definida como intervenções que incorporam medidas necessárias à
otimização de benefícios econômicos e sociais e garantem a manutenção da qualidade e da
sustentabilidade de um ecossistema. Com frequência, as intervenções tem-se dados em ausência de um
plano integrado de gestão e a implementação de instrumentos como os de licenciamento e avaliação de
impactos (reativa), ocorrem sem essa necessária integração.
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O declínio em longo prazo, na função e na produtividade de um ecossistema, ocorre quando se
modificam as características físicas, químicas e biológicas do solo por causa do esgotamento; quando
se dá a degradação da terra: do solo (por erosão, compactação e salinização); dos recursos hídricos
(perda da água de chuva, pouca ou nenhuma água na estiagem e perdas de quantidade e qualidade da
água); da vegetação (rala, menor porte e mais demorado crescimento); da biodiversidades (perdas de
atributos e menor capacidade de regeneração) por múltiplas e complexas causas, naturais e antrópicas
como a sobre-exploração e sobrepastoreio.
10
Essa Convenção é um instrumento de acordo internacional ratificado por países que estabelece diretrizes
para o combate à desertificação em escala global, constituindo-se uma referência importante para o
Brasil, conforme se constata no PAN-Brasil.
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A Constituição Federal do Brasil de 1988 tratou o termo meio ambiente, no caput do artigo 225,
considerando que é dever do Poder Público e da coletividade preservar e conservar o meio ambiente,
pois ele é de uso e bem comum de todos os povos, essencial para qualidade de vida. Define-o como um
bem de uso comum do povo e determina ao Poder Público, bem como a toda a população, o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Na Lei no. 9.795, de 27 de abr. de 1999,
ao estabelecer a Política Nacional de Educação Ambiental, define o meio ambiente como o conjunto
de processos abióticos e bióticos existentes na terra passíveis da influência das ações humanas. Na
Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pelas Nações Unidas e
UNESCO, em Tbilisi, Geórgia, em 1977, assinala que o conceito de meio ambiente compreende
elementos naturais e sociais criados pelo homem como os valores culturais, morais e individuais, além
de relações interpessoais no trabalho e em atividades de tempo livre.
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Tais como os de ordem física-natural: mudanças climáticas e perdas da diversidade biológica; e de
ordem humana: insensibilidade para considerá-lo, interesses econômicos imediatistas; pouca ou falta
de decisão e vontade política etc.
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A Lei no. 9.433, de 8 de jan. de 1997, ao instituir a Política Nacional de Recursos Hídricos e criar o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, considera, entre outros instrumentos, a
cobrança do uso de recursos hídricos (art. 19), com os objetivos de “reconhecer a água como bem
econômico e dar ao usuário uma indicação de seu valor” e “incentivar a racionalização do uso da
água”. Define, na fixação do valor a ser cobrado, o volume retirado em derivações, captações e
extrações e o regime de variação da disponibilidade de água na fonte. Considera, também, o
lançamento de esgoto e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado, seu regime de
variação, as características físicas, químicas e biológicas e a toxicidade do efluente.
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Há proposições, critérios e conceitos, quanto à avaliação ambiental, que é preciso considerar, tanto na
perspectiva técnica e tecnológica – científica, quanto prática – operacional. A relação que segue
sintetiza alguns deles: a) considerar todos os possíveis impactos de intervenções: além da
impossibilidade de previsão, colocam-se questões como as de incertezas e racionalidade na tomada de
decisão; os impactos podem ser diferentes em suas causas e efeitos e devem ser ordenados,
classificados e hierarquizados conforme determinadas referência; b) cada avaliação é distinta em
função de especificidades de fatores e condições; há, contudo, fatores comuns de pressão e lições de
um local que podem testadas e adequadas para outros, evitando-se redundâncias, possibilitando fazer
previsões com níveis de confiabilidade razoável; c) a necessidade de elaboração de diagnósticos em
cada caso, com poucas contribuições quando entendidos e elaborados como inventários; a questão é de
qualidade e capacidade desses estudos fornecerem dados consistidos de estados e evoluções possíveis
de serem sintetizados em indicadores abióticos, bióticos e socioeconômicos, de acompanharem
dinâmicas e tendências; d) estudos descritivos a serem integrados mediante abordagens sistêmicas para
o entendimento de processos; a questão se coloca na qualidade do fator que se analisa e no ajuste do
sistema que está operando para se ter uma indicação consistente de como ele operaria sob outras
circunstâncias: fatores de risco e simulação de estudos prospectivos que possam ampliar ou flexibilizar
a capacidade de “modelos” complexos de sistemas para situações nem sempre bem definidas e
comportadas; e) qualquer “bom” estudo técnico-científico é suficiente para o suporte à tomada de
decisões; no texto se coloca a contribuição da pesquisa e ciência – tecnologia como instrumento
importante, porém não suficiente; é preciso que esse instrumento considere a diversidade de interesses
e objetivos de diferentes segmentos sociais, a vontade e decisão política, as escalas e níveis de
abordagens transdisciplinares; f) a divisão e estruturação geopolítica e institucional não são
norteadores suficientes, apesar de seus domínios na conformação de planos e recursos; a natureza e
seus domínios obedece a outros critérios, com frequência não-compatíveis com divisões geoplíticas; g)
as avaliações eliminam incertezas; é preciso entender que a incerteza é um fator dominante e que as
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avaliações poderão reduzi-las a fatores de riscos com possibilidades de se ter um melhor controle e
suporte à tomada de decisões; h) a análise com abordagens sistêmicas assegura a seleção de melhores
alternativas de ações em planos; no campo tecnológico – científico e nas abordagens sistêmicas, de
simulação, dinâmica e risco apenas se tem aproximações tanto mais confiáveis quanto sejam as
representações de atributos e componentes; daí a necessidade e destaque do dado e do indicador na
gestão integrada.
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A falta de um plano de desenvolvimento sustentável para a região não significa desconsiderar outras
referências por vezes limitadas a programas, setores ou atividades, porém importantes. É possível
encontrar em áreas como as de saúde pública, segurança alimentar, agricultura familiar e educação,
diretrizes e instrumentos que podem auxiliar as diretrizes e instrumentos de planos de combate à
desertificação e convívio com a seca. Troca de informações e, em especial, lições e experiências de
comunidades podem ser importantes referências para melhorias.
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Entenda-se por transparência a adoção de preceitos básicos do direito administrativo, adotados na
administração pública, direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, relativos aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, proporcionalidade e eficiência. São princípios relevantes [e com efetividade quando
sustentados em critérios de exequibilidade técnico-científica e operacional] para alcançar uma clara
definição de interesse público e, em especial (para o caso considerado nesta publicação), para buscar e
assegurar a participação da comunidade [condição: informação e educação] na tomada de decisões em
aspectos como são os de convivência com a seca, possibilitando um maior grau de correspondência
entre as demandas sociais [ordenadas e hierarquizadas] e as estratégias e ações que se definem em
instrumentos como os de políticas públicas, leis e planos: uma questão de legitimidade do uso do
poder. A utilização dos princípios da publicidade, motivação e participação popular apontam para a
transparência a orientar todas as atividades.
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A relação homem – natureza, com pontos críticos, conflitosa em alguns casos e complexa em geral,
compreende sucessivos aportes de culturas, organizações sociais e saberes, influenciado e sendo
influenciados pela natureza. A lógica e entendimento contextualizado dessas interações são
importantes na formulação de planos para a convivência som a seca em zonas semiáridas. Os san do
Kalahari e aborigens autralianos, os tuaregs e beduínos do norte da África, os semíticos e camíticos do
Oriente Médio, os mongóis da estepa, os watussi da savana, os chihuahuas e apaches do México, os
chimus paracas e moches do Peru, etc., são, entre outras civilizações que nasceram, adaptaram-se e se
desenvolveram em meios caracterizados pela escassez de água, exemplos de povos que adaptaram seus
estilos de vida às condições do ambiente, demonstrando grande capacidade inventiva de resolverem
seus problemas. Recentemente, comunidades como as israelitas em condições próximas as do deserto,
mediante mudanças tecnológicas adequadas às condições, adaptam-se e utilizam os recursos da terra.
O processo de desertificação é o resultado do empobrecimento de uma cultura material, do afastamento
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Um dos índices mais utilizados e reconhecidos para a qualificação da seca é o Índice de Severidade de
Seca de Palmer (PALMER, 1965), que tem como argumentos, em sua definição, o total de precipitação
requerida para manter uma área em um determinado período sob condições estável da economia. Esse
total depende da média de ocorrência de fatores meteorológicos e das condições meteorologias dos
meses precedentes. Tem como base as estimativas de médias históricas de evapotranspiração, recarga
de água no solo, escoamento superficial e umidade do solo.
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No contexto da Política Nacional da Biodiversidade, o conceito de conservação se define em
consonância com a Convenção sobre Diversidade Biológica, com um sentido próximo ao do conceito
de preservação, de proteção. Assim, na forma in situ significa conservação de ecossistemas e habitats,
bem como a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios; no caso de
espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades
características: o sentido de racionalidade de uso. Em outro contexto como os de unidades de
conservação, o conceito tem o sentido de manejo de recursos naturais.
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Segundo a Lei 6.938, de 31 de ago. de 1981, os recursos ambientais compreendem a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a floras.
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Essa nova agenda da terra a ser acordada na 15ª. Conferência das Partes da Convenção das Nações
Unidas de Combate à Desertificação, em Copenhague, em dez. 2009, deverá enfatizar, conforme se
indica neste documento, a compreensão do problema e o tratamento e procura de soluções com ações e
estratégias para melhorar a subsistência de mais de dois bilhões de pessoas que vivem em zonas áridas,
semiáridas e subúmidas secas do mundo; considerar o problema da degradação dos recursos da terra e
seus nexos com outros problemas que levam à desertificação. Parte do desafio para o entendimento da
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