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Belém – Pará
Junho de 2009
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1. Introdução
Os autores começam o texto afirmando que a democracia assumiu um lugar central no
campo político durante o século XX, seja de um ponto de vista mais otimista ou pessimista.
Segundo os autores, dois debates principais envolveram o tema da democracia. O primeiro
deles diz respeito à desejabilidade da democracia como forma de governo, pensamento este
que triunfou no Ocidente, mas que após as guerras mundiais, converteu-se numa forma
hegemônica consistente no consenso em torno de um procedimento eleitoral para a formação
de governos (Schumpeter, 1942).
Outro debate que se estabeleceu ao cabo das guerras mundiais dizia respeito às condições
estruturais da democracia, que foi também um debate sobre a compatibilidade ou
incompatibilidade entre a democracia e o capitalismo. Moore introduziu uma tipologia de
acordo com a qual se poderia indicar países com propensão democrática e países sem essa
propensão. Por outro lado, Przeworski, afirmava que na tensão entre o sistema de produção
capitalista e a democracia, resolver-se-ia em favor da democracia, colocando limites à
propriedade privada e implicando ganhos distributivos para os setores sociais desfavorecidos.
Os autores afirmam que a última década do século XX mudou os termos do debate
democrático do pós-guerra. Apresentam a crítica feita por Amartya Sem, segundo a qual a
questão não é a de saber se um dado país está preparado para a democracia, mas antes partir
da idéia de que qualquer país se prepara através da democracia. Por outro lado, a falência do
Estado-Providência e o corte nas políticas sociais parecem não confirmar as análises de
Przeworski acerca dos efeitos redistributivos irreversíveis da democracia. Assim, o debate
sobre as condições estruturais da democracia estaria em aberto novamente.
Segundo os autores uma discussão relacionada ao significado estrutural da democracia
diria respeito ao problema da forma da democracia e da sua variação. Existiria, assim, uma
concepção hegemônica de democracia, cujos principais elementos seriam: contradição entre
mobilização e institucionalização; valorização positiva da apatia política, concentração do
debate nos desenhos eleitorais, o tratamento do pluralismo como forma de incorporação
partidária e disputa entre as elites e a solução minimalista ao problema da participação pela
via da discussão das escalas e da complexidade.
Os autores afirmam que a expansão global da democracia liberal gerou uma crise nos
países onde mais se tinha consolidado, consistente em duas patologias: a patologia da
participação (aumento do abstencionismo) e a patologia da representação (os cidadãos
considerando-se cada vez menos representados).
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Essa concepção não pensa as determinações estruturais para a constituição dessa nova
gramática, como pensava Barrington Moore. Seu propósito é perceber que a democracia é
uma forma sócio-histórica e que tais formas não são determinadas por leis naturais.
Jürgen Habermas foi o autor que abriu o espaço para que o procedimentalismo passasse a
ser pensado como prática societária e não como método de constituição de governos.
Habermas propôs dois elementos no debate democrático contemporâneo. O primeiro deles diz
respeito à uma condição de publicidade capaz de gera uma gramática societária. As normas só
seriam legítimas com o assentimento de todos os indivíduos participantes de um discurso
racional. Para os autores, ao postula um principio de deliberação amplo, Habermas recoloca
no interior da discussão democrática um procedimentalismo societário e participativo. Ex.:
orçamento participativo.
O segundo elemento proposto por Habermas é o papel de movimentos societários na
institucionalização da diversidade cultural. Partindo das idéias de diversos autores de que a
política envolve uma disputa sobre um conjunto de significações culturais, os movimentos
sociais estariam inseridos em movimentos pela transformação de práticas dominantes, pelo
aumento da cidadania e pela inserção de atores sociais excluídos no interior da política.
Nesse sentido, os autores afirmam que a redemocratização no hemisfério Sul não passou
pelo desafio de limites estruturais da democracia. O que ela fez, ao inserir novos atores na
cena política, foi instaurar uma disputa pelo significado da democracia e pela constituição de
uma nova gramática social. Assim, observou-se que a redemocratização: recolocou no debate
democrático a questão da relação entre procedimento e participação societária; redefinição
sobre a adequação da solução não-participativa e burocrática ao nível local; as formas de
relativização da representatividade ou de articulação entre democracia representativa e
democracia participativa.
Democracia participativa no Sul no século XX
Nesta seção os autores tratam de como a concepção não-hegemônica de democracia se
estabeleceu em alguns países do hemisfério Sul. Os países trabalhados pelos autores foram
Portugal, Brasil, Colômbia, Moçambique, África do Sul e Índia.
Segundo os autores, a maioria destes países passaram por processos de transição ou de
ampliação democrática a partir dos anos 70. Até 1974 Portugal estivera sob o jugo da ditadura
fascista; Moçambique viveu sob o jugo colonial até 1975 a África do Sul sob o regime do
apartheid até o final dos anos 80, mesma década em que começava terminar no Brasil a
ditadura militar. A Colômbia, desde os anos 60, experimentara sucessivos estados de
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emergência e guerra civil. A única exceção foi a Índia, que permaneceu democrática durante
todo o período, apenas interrompido pela declaração de estado de emergência em 1977.
Além disso, juntamente com a ampliação da democracia ou sua restauração, houve também
um processo de redefinição do seu significado cultural ou da gramática societária vigente, isto
é, houve uma tentativa de disputa pelo significado de determinadas práticas políticas, por uma
tentativa de ampliação da gramática social e de incorporação de novos atores ou de novos
temas na política.
Exemplos dados pelos autores nos países:
País Prática
Portugal Direito ao lugar (habitação)
Moçambique Participação feminina na política
Brasil Direito a ter direitos
Colômbia Cocaleiros – reconhecimento
África do Sul Novas formas de identidade e solidariedade depois do apartheid.
Índia Movimentos Sociais – ideais participativos e de solidariedade social
Os autores apontam um traço em comum ocorrido nestes países: os atores que implantaram
as experiências de democracias participativas colocaram em questão uma identidade que lhes
fora atribuída externamente por um Estado colonial ou por um Estado autoritário e
discriminatório.
Em síntese, os autores procuram demonstrar nessa seção que os processos de libertação e
os processos de democratização partilham um elemento em comum: a percepção da
possibilidade da inovação entendida como participação ampliada de atores sociais de diversos
tipos em processos de tomada de decisão. Em geral, estes processos implicam a inclusão de
temáticas até então ignoradas pelo sistema político, a redefinição de identidades e pertenças e
o aumento de participação, principalmente ao nível local.
As vulnerabilidades e ambigüidades da participação
Os autores abrem esta seção argumentando que as sociedades capitalistas, principalmente
dos países centrais, consolidaram a concepção hegemônica de democracia e tentaram
estabilizar as tensões entre democracia e capitalismo, através de dois meios: pela prioridade
conferida à acumulação do capital em relação à redistribuição social e pela limitação da
participação cidadã, com o objetivo de não sobrecarregar o sistema democrático com
demandas sociais que pudessem colocar em risco a acumulação do capital.
Com os processos de descolonização e redemocratização nos países do Sul o problema da
extensão da democracia se colocou a estes países, que foram confrontados com a concepção
hegemônica de que a nova gramática de inclusão social seria um excesso de demandas.
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As potencialidades da participação
Os autores afirmam que o Brasil e a Índia são os países nos quais as potencialidades da
democracia participativa mais claramente se manifestam.
Brasil – a Constituição incorporou novos elementos culturais surgidos ao nível da
sociedade, na institucionalidade emergente, abrindo espaço para prática democrática
participativa (Ex.: participação de associações no planejamento urbano, na saúde;
instrumentos como a iniciativa popular).
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Os panchayats são conselhos eleitos localmente apoiados pelo governo da Índia e consistem, em geral, na "alta
casta" dos homens.
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Brasil Índia
O controle do PT sobre o OP é reduzido. O controle do Partido comunista é maior.
O OP descentraliza e democratiza apenas o Os recursos são transferidos para os próprios
processo de deliberação, mantendo nas mãos comitês dando margem a acusações de
da prefeitura o processo de implementação corrupção.
administrativa das decisões.
Assim, para os autores, os casos acima mencionados colocam para a prática democrática
contemporânea não só a inconclusividade do debate entre representação e participação da
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2. O local e o global
Neste tópico os autores abordam as possíveis articulações transnacionais entre diferentes
experiências locais de democracia participativa ou entre essas experiências locais e
movimentos ou organizações transnacionais interessados na promoção da democracia
participativa. Para os autores, além de possibilitarem a aprendizagem contínua e recíproca,
essas articulações credibilizam e fortalecem as práticas locais pelo simples fato de
transformarem estas últimas em elos de redes e movimentos mais amplos e com maior
capacidade transformadora. Concluem que a força da globalização contra-hegemônica no
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