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XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006

O ecodesign como ferramenta de auxílio na gestão de resíduos de


construção e demolição (RCD)

Bruna Neri Barra (UNESP) brunanerib@yahoo.com.br


Luis Carlos Paschoarelli (UNESP) lcpascho@faac.unesp.br
Adílson Renófio (UNESP) renofio@feb.unesp.br

Resumo: O estudo apresenta a importância econômica da indústria da Construção Civil


para o Brasil, juntamente com seu grande problema, os impactos ambientais causados pela
enorme quantidade de resíduos gerados e descartados. Através de uma revisão bibliográfica,
sobre construção civil, resíduos de construção e demolição, reciclagem, impacto ambiental e
ecodesign, verificou-se a possibilidade da intervenção deste último, como ferramenta de
auxílio na gestão de resíduos de construção e demolição, através de projetos que utilizem
estes resíduos como matéria-prima na elaboração de produtos que atendam, ao mesmo
tempo, as necessidades dos consumidores e do meio ambiente.
Palavras-chave: Ecodesign; Resíduos de construção e demolição; Reciclagem.

1. Introdução
O crescimento das populações, e conseqüentemente, dos centros urbanos, fez das
cidades, um importante foco de poluição, no que diz respeito principalmente à quantidade de
efluentes líquidos e resíduos sólidos produzidos e descartados, impossibilitando ao meio
ambiente a reintegração destes materiais.
Todo este cenário é fortemente agravado pelo importante setor da construção civil que,
além de consumir uma enorme quantidade de recursos naturais, gera e descarta toneladas de
resíduos de construção e demolição (RCD), não fechando seu ciclo produtivo, causando com
isso, gravíssimos impactos ambientais e sanitários.
No Brasil, o artigo 225 da Constituição de 1988, prevê que “todos têm direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida [...]” (MÜLLER-PLANTENBERG & AB’SABER, 1998 p. 91). Para isso,
se faz necessário uma eficiente gestão das atividades que envolvem a indústria da construção
civil, tendo neste contexto, a reciclagem de RCD como uma das formas de se atenuar os
problemas ecológicos. O uso deste processo, além de minimizar os impactos ambientais
causados pelos RCDs, trás outros benefícios como a geração de emprego e renda, fator
importantíssimo em um país com enorme contingente de bolsões de miséria e desempregados.
Atualmente, o RCD reciclado, tem sido utilizado basicamente como agregado na
construção civil, entretanto, possui um grande potencial ainda não explorado, cabendo assim
ao Ecodesign – atividade que visa à concepção e desenvolvimento de projetos voltados para o
meio ambiente, pesquisar outras possíveis utilizações.
Assim, o objetivo primordial deste estudo é relacionar a bibliografia que aborda o
RCD com o Ecodesign, e desta parceria, verificar a contribuição que este pode trazer ao tema,
ampliando assim, as fronteiras de uso.

2. Revisão Bibliográfica
2.1. A indústria da construção civil
É inegável a importância da indústria da construção civil quando se atenta para
algumas de suas características estruturais: ela atua de forma significativa no PIB de qualquer

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país, sendo de 3% a 5% nos países desenvolvidos, e de 5% a 10% nos em desenvolvimento, e,


ainda, absorve um número elevado de mão-de-obra, independente do nível de
desenvolvimento econômico (BARREIRO JÚNIOR, 2003 apud CARVALHO, 2003).
Enquanto que nos Estados Unidos a construção civil é responsável por
aproximadamente 8% do PIB, no Brasil ela corresponde, segundo a Associação Brasileira dos
Escritórios de Arquitetura – ASBEA (2000 apud CARVALHO, 2003), a cerca de 15% do
PIB, representando investimentos anuais acima de R$ 115 bilhões, além de gerar 13,5 milhões
de empregos diretos, indiretos e induzidos. Em 2001 o Construbusiness, nome dado à cadeia
produtiva do setor, representou 70% dos investimentos em capital fixo da economia brasileira
(ASBEA, 2000; MDIC, 2002 apud CARVALHO, 2003).
A indústria da construção apresenta particularidades, e, dentre suas principais
características estão, segundo Carvalho (2003), a elevada perda de tempo e materiais (cerca de
30%) (PINTO, 1999), e o importante impacto ambiental causado em termos de volume de
resíduos gerados e matéria-prima consumida. Estima-se que o setor é responsável por
consumir cerca de 20% a 50% do total de recursos naturais utilizados pela sociedade (JOHN,
2003).

2.2. Impactos ambientais relacionados à construção civil


A expressão impacto ambiental é caracterizada como sendo “qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma
de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas;
a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos
ambientais” (MÜLLER-PLANTENBERG & AB’SABER, 1998 p. 54).
Desta maneira, o impacto ambiental causado pela construção civil, é diretamente
proporcional à sua tarefa social (JOHN, 2000 apud CARNEIRO, 2005). Conforme observado
na Tabela 1, esta atividade engloba variados sub-setores, e é responsável por uma gama de
impactos, que vão desde a extração da matéria-prima, à produção de materiais, passando pela
construção residencial e obras de infra-estrutura (SILVA, 2002).
TABELA 1: Impactos Ambientais Causados ao Longo da Cadeia Produtiva da Construção Civil
Características dos Impactos Ambientais Causados pelas Atividades
Classes de Solo e
atividades Lençol Água Ar Plantas Animais Paisagem Barulho Clima
Freático
Ocupação de
terras
Extração de
MP
Transporte
Processo
construtivo
Geração/
Disposição de
RS
O produto em
si
Método de análise baseado em Jassen, Nijkamp e Voogd, 1984.
Fonte: Programa Entulho Limpo (1ª etapa), 2000.

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2.3. Resíduos sólidos


No modelo de produção atualmente vigente, os bens de consumo, sejam eles duráveis
ou não, são produzidos, consumidos e descartados sob a forma de lixo (JOHN, 2000 apud
SILVA, 2002), transformando-se assim em resíduos.
Apesar de os resíduos serem fabricados a partir de recursos naturais, muitos são
impossíveis de serem degradados pela natureza, pois além de as matérias-primas serem
submetidas a um alto grau de transformação e processamentos, as quantidades geradas são
maiores que a capacidade de assimilação pelo meio ambiente (FIGUEIREDO, 1995;
MELLO, 1981; PEREIRA-NETO, 1999 apud REIS & SERAFIM JÚNIOR s.d.).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, NBR 10.004 (2004), define
resíduos sólidos como qualquer resíduo nos estados sólidos e semi-sólido, resultados de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição. Incluem-se nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente
inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.
A grande problemática que engloba os resíduos sólidos é uma das principais questões
de gestão a serem resolvidas pelos estados e municípios, pois 68,5% dos resíduos gerados em
4.026 dos 5.507 (IBGE, 2003) municípios brasileiros, têm como destino final os lixões a céu
aberto, e alagados (COSTA, 2003).
Todo este problema é fortemente agravado pelo setor da construção civil, pois os
resíduos gerados pela atividade, os chamados RCDs, estão presentes dentro dos limites
urbanos, e representam em torno de 41% a 70% da massa total dos resíduos sólidos urbanos
(PINTO, 1999 apud COSTA, 2003).

2.4. Resíduos de construção e demolição (RCD)


2.4.1. Definição e classificação
De acordo com a Resolução n° 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), em seu artigo segundo adota a seguinte definição “Resíduos da
construção civil são provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de
construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como:
tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas,
madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros,
plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça
ou metralha.”
Conforme esta resolução os RCDs deverão ser classificados da seguinte forma:
Classe A: resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: de construção,
demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive
solos oriundos de terraplanagem; componentes cerâmicos como tijolos, blocos, telhas, placas
de revestimento etc., argamassa e concreto; de processos de fabricação e/ou demolição de
peças pré-moldadas em concreto como blocos, tubos, meios-fios, etc., produzidas nos
canteiros de obras;
Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel,
papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
Classe C: resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/ recuperação, tais como os produtos
oriundos do gesso;

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Classe D: são os resíduos perigosos provenientes do processo de construção como, por


exemplo, tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições,
reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

2.4.2. Impactos relacionados aos RCDs


Os principais impactos sanitários e ambientais associados ao entulho estão na sua
deposição indevida na malha urbana, causando assoreamento dos córregos e rios; entupimento
de galerias e bueiros, contribuindo com a ocorrência de enchentes; degradação de áreas
urbanas; erosão e proliferação de escorpiões, aranhas e roedores que afetam a saúde pública
(PINTO, 1999; BRITO, 1998; GALIVAN; BERNOLD, 1994 apud ANGULO, 2005), além
disso, contribui com a poluição visual, compromete o tráfego de pedestres e veículos, e
atraem resíduos não inertes (classe II – A) (SCHNEIDER, 2003) (Figura 1 e 2).

FIGURA 1: Comprometimento da circulação FIGURA 2: Poluição visual causada pela deposição de


de pedestres no município de Bauru – SP. RCD no bolsão de entulho do município de Bauru – SP.
Fonte: a autora (2006). Fonte: a autora (2006).

Pesquisa realizada por Araújo (2000), sobre riscos à saúde pública decorrente da
deposição de entulho em caçambas metálicas localizadas em vias públicas, observou a
presença de material orgânico, produtos perigosos e embalagens vazias que podem reter água
e outros líquidos favorecendo assim a proliferação de mosquitos e outros vetores causadores
de inúmeras doenças (SCHNEIDER, 2003) (Figura 3).

FIGURA 3: Presença de diversos materiais junto aos RCDs em caçambas metálicas no município de Bauru –
SP.
Fonte: a autora (2006).

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Além destas conseqüências, a remoção destes resíduos acumulados indevidamente


consome recursos materiais, humanos e financeiros, onerando assim os cofres públicos
municipais (LIMA, 1999 apud BARROS, 2005).

2.4.3. Reciclagem de RCD


Apesar de a idéia da reciclagem parecer inovadora, há relatos de sua prática pelo
Império Romano na reconstrução de suas cidades, destruídas durante a guerra de conquista,
com a utilização de escombros (HENDRIKS, 2000 apud JOHN et al., 2003).
Entretanto, a ocorrência de grandes catástrofes, no século passado, como terremotos e
guerras, impulsionaram o uso da reciclagem em locais com enormes volumes de resíduos e
urgência por construção de edificação e infra-estrutura (LIMA, 1999).
Segundo o mini dicionário Houaiss (2004), reciclagem quer dizer reaproveitamento de
materiais, e, portanto, seus potenciais benefícios incluem, redução no consumo de recursos
naturais não-renováveis, quando substituídos por resíduos reciclados; redução no consumo de
energia durante o processo de produção; redução da poluição e geração de emprego e renda
(JOHN et al. 2003), e ainda a redução das áreas necessárias para aterro, uma vez que os
resíduos serão utilizados como bens de consumo (PINTO, 1999 apud JOHN et al. 2003).
Como qualquer atividade humana causa impacto ao meio ambiente, a reciclagem de
RCD, pode ser ainda mais impactante, pois a quantidade de materiais e energia necessários ao
processo de reciclagem, bem como a nova geração de resíduos, podem representar um sério
risco ao meio ambiente. Dessa forma, este processo deve ser adequadamente gerenciado
(ANGULO et al., 2001).
O RCD reciclado é atualmente utilizado na fabricação de concreto de baixo consumo
não armado, argamassa de assentamento e revestimento, fabricação de pré-moldados de
concreto, camadas de sub-base de pavimentação, camadas drenantes, cobertura de aterros,
gabião, blocos, briquetes e meios-fios (CARNEIRO et al., 2001; PINTO, 1999; LIMA, 1999;
LEVY, 1997 apud COSTA, 2003).
Contudo, o largo potencial de utilização dos resíduos ainda não foi devidamente
explorado, abrindo espaço para a intervenção do design, mais precisamente o ecodesign, com
uma investigação científica de suas possibilidades de reuso, sob a forma de produtos
ecoeficientes de grande potencial competitivo no mercado globalizado (OLIVEIRA &
NÓBREGA, 2004).

2.5. Design
Antes de se iniciar uma abordagem a cerca do Ecodesign, serão levantadas algumas
considerações sobre o Design.
A história do Design inicia-se com a Revolução Industrial no final do século XVIII,
propondo a união arte - indústria, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das
pessoas (DETEC, 2000 apud WOLFF, 2004).
Atualmente, o termo Design, vem sendo aplicado nas mais diferentes formas, onde na
maioria das vezes é relacionado apenas com estilo, não condizendo assim com seu sentido
original.
No Brasil, a definição de Design está contida no projeto de lei Nº 1.965/ 96, que
regulamenta a profissão de projetista no país, com a seguinte redação (DETEC, 2000 apud
WOLFF, 2004 p. 19) “O Design é uma atividade especializada de caráter técnico-científico,
criativo e artístico, com vistas à concepção e desenvolvimento de projetos, objetos e
mensagens visuais que equacionem sistematicamente dados ergonômicos, tecnológicos,

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econômicos, sociais, culturais e estéticos, que atendam concretamente às necessidades


humanas”.
Ainda, conforme Mackenzie (1997 apud RAMOS, 2001) em um bom design, além das
características acima citadas, devem ser considerados os aspectos ambientais em todo o seu
ciclo de vida.
Dentro deste contexto, o design, segundo Manzini (2005) deve ser entendido no seu
significado mais amplo, não se aplicando somente a um produto físico, mas sim ao sistema-
produto. Portanto, o papel fundamental do design pode ser sintetizado como sendo a atividade
que liga o tecnicamente possível ao ecologicamente necessário, fazendo nascer novas
propostas que sejam social e culturalmente apreciáveis.

2.5.1 Ecodesign
O conceito de Ecodesign é relativamente recente, por ter se originado do DfE – Design
for Environment, uma nova concepção de projeto que teve início, principalmente na Europa e
EUA, na década de 90 (SIMON, 1996 apud VENZKE, 2002).
Fiksel (1996 apud WOLFF, 2004 p. 21) define Ecodesign como “[...] a consideração
sistemática do desempenho do projeto, com respeito aos objetivos ambientais, de saúde e
segurança, ao longo do todo o ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os
ecoeficiente”.
Charter (2001 apud LUCENTE, 2004 p. 44) diz que “o Ecodesign pode auxiliar as
empresas a alcançar benefícios relativos à redução dos impactos ambientais dos produtos, a
otimização no consumo de matéria-prima e no uso de energia, melhoria no gerenciamento de
resíduos, redução dos custos de produção”.
Por fim, a adoção desta nova forma de projetar, não dispensa o uso de critérios
tradicionais de projeto, ou seja, segundo Brezet & Hemel (1996 apud LUCENTE, 2004) além
do status atribuído aos fatores convencionais como lucro, qualidade, estética e ergonomia do
produto, o Ecodesign considera de extrema importância os impactos sobre o meio ambiente.
Com a intenção de tornar mais prática a aplicação destes conceitos, o PNUMA –
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, sugere oito diferentes níveis a serem
considerados para a implantação do Ecodesign, apresentados a seguir conforme Brezet e
Hemel (1997 apud WOLFF, 2004).
Nível Base – Desenvolvimento de Novos Conceitos
Esta estratégia vai além do produto tangível, pois com ela são desenvolvidas novas
soluções para necessidades específicas. Partindo da análise de qual necessidade o projeto
atende, busca-se desenvolver uma alternativa que atenda à mesma exigência, porém com
menores danos ao ambiente.
A decisão da aplicação desta estratégia deve ser feita antes do início do
desenvolvimento do projeto, pois pode envolver mudanças radicais nas técnicas produtivas e
construtivas.
As variáveis abaixo são princípios ordenadores do desenvolvimento do conceito de
qualquer projeto de produto, e deverão servir como orientação para avaliar o objeto de
investigação.
- Desmaterialização do produto: consiste em utilizar matérias-primas de fácil
separação, sem perder com isso suas características originais.
- Uso compartilhado do produto: pressupõem que o projeto possa ser utilizado pelo
maior número possível de pessoas, de maneira mais eficiente, mesmo que não possuam a
posse do mesmo.

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- Integração de funções: diminui a quantidade de material necessário para a produção,


evitando o desenvolvimento de um projeto por função.
- Otimização funcional do produto: refere-se à reconsideração das funções deste,
podendo ser eliminadas as que não agregam valor ao produto, que tenham apenas funções
estéticas, e utilizem matéria-prima acima do necessário.
Nível 1 – Seleção de Materiais de Baixo Impacto
A adoção deste princípio é de grande valia na análise do ciclo de vida do produto.
Materiais duráveis podem ser usados em produtos de longa vida, enquanto que em produtos
descartáveis, ou de curto prazo, a escolha deste tipo de material não é justificada. Outro fator
de destaque é como o produto será recolhido, reciclado, e reutilizado.
A escolha de materiais: renováveis, não agressivos, reciclados, recicláveis e de baixo
consumo energético, são pontos a serem considerados neste nível.
Nível 2 – Redução de Materiais
Neste nível o foco está no uso da menor quantidade possível do material,
racionalizando a construção do projeto, evitando dimensões e estruturas acima do estritamente
necessário.
Procura-se também projetar produtos de menor volume, sem afetar o tempo de vida
útil deste, para que ocupem menores espaços durante o transporte, possuam fácil montagem e
desmontagem, seja melhor acondicionado, armazenado, e utilizado.
Nível 3 – Otimização das Técnicas de Produção
Durante a geração de novos produtos, deve haver a identificação das técnicas de
produção que causem um menor impacto ambiental, analisando consumo de materiais não
poluentes, baixo consumo energético, otimização no uso das matérias-primas e menor geração
de resíduos e subprodutos. Entretanto, quando se tratar de projetos em andamento, a estratégia
volta-se para a adequação das técnicas preexistentes.
Além disso, é importante que haja um correto dimensionamento dos equipamentos,
devendo operar somente durante o tempo necessário para cada atividade, evitando desperdício
de energia. As energias renováveis, ou limpas devem ser adotadas sempre que houver
viabilidade econômica.
Nível 4 – Otimização dos Sistemas de Transporte
O intuito deste nível é a otimização da logística dos produtos, assegurando que esses
sejam transportados da fábrica ao distribuidor ou usuário da forma mais eficiente possível,
causando menos danos ambientais.
Deve-se prever inclusive, o uso do transporte hidroviário e ferroviário em substituição
aos tradicionais rodoviário e aéreo.
Nível 5 – Redução do Impacto de Uso
Este é um aspecto muito importante, pois visa analisar durante o projeto do novo
produto, o quanto ele consumirá de energia em seu uso, e quais os insumos e matérias-primas
auxiliares serão necessários para que ele atenda suas finalidades por todo o ciclo de vida.
Nível 6 – Otimização do Tempo de Vida Útil
A durabilidade do produto deve ser analisada com relação ao tipo de tecnologia
empregada, pois pode ser preferível substituir o tempo de um produto que utilize tecnologia
poluente, por produtos que adotem tecnologias mais limpas.
É neste nível que se deve analisar se o produto permite fácil manutenção, e se atende
às necessidades do consumidor por um maior período de tempo.

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Nível 7 – Otimização do Fim da Vida Útil


Na etapa de projeto de um produto é necessário se prever o destino final deste, ao fim
de sua vida útil. Uma boa alternativa é a extensão do ciclo de vida, através da reutilização do
próprio produto, de seus componentes, ou de seus materiais. Através deste sistema, será
utilizado menor quantidade de energia, e gerados menos resíduos na produção de novos
produtos.
Outro importante aspecto a ser observado, neste último nível, diz respeito à
reciclagem, pois muitos produtos são classificados como recicláveis, porém não existem
sistemas de coleta e tecnologias economicamente viáveis para que a reciclagem seja realizada.

2.5.2. Mercado verde


Empresários, cientes de uma nova oportunidade de negócio, possível em virtude do
surgimento do Ecodesign, ostentam em seus produtos, selos e certificados, acreditando ganhar
a preferência do novo consumidor brasileiro, preocupado com os efeitos destes sobre o meio
ambiente (BARBOSA, 2002 apud CHAVES, 2003)
Uma pesquisa realizada, em maio de 1998, pelo IBOPE juntamente com a CNI –
Confederação Nacional da Indústria, corrobora com a idéia ao concluir que três entre quatro
pessoas, ou seja, 24% dos entrevistados estão dispostos a pagar mais caro por um produto
“amigo da natureza”.
Entretanto, chamar qualquer produto reciclado ou confeccionado a partir de matérias-
primas naturais, de ecologicamente correto, é pura estratégia de marketing. Uma forma segura
de identificação, para o consumidor, de um produto realmente elaborado através dos preceitos
do Ecodesign, então ecologicamente correto, é a adoção dos “selos verdes” (Figura 4), como
os já existentes na União Européia, Japão, EUA, Austrália, e Colômbia. No Brasil, de acordo
com Régis (2004), a rotulagem ecológica abrange o segmento de produtos orgânicos
(alimentos) e madeiras. Porém, existe um rótulo denominado PROCEL (Figura 5), que indica
o consumo energético de lâmpadas e refrigeradores.

FIGURA 4: Selos Ecológicos FIGURA 5: Rótulo Indicativo de


Fonte: UNEP, 1997 apud RAMOS, 2001 p. 32. Consumo Energético de Lâmpadas
FONTE: INMETRO, 2006.

3. Considerações finais
Um sistema ecologicamente correto de produção, visa à reintegração de seus resíduos
na linha de produção, para que assim, seu ciclo seja fechado. O setor da construção civil ao
descartar seus resíduos deixa seu ciclo aberto, causando graves e inúmeros impactos
ambientais.

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A reciclagem do RCD é uma forma economicamente viável para sua reutilização, não
só na construção civil, mas também, fazendo com que estes sirvam de matéria-prima ao
Ecodesign. Inclusive, já existe uma pesquisa a respeito da utilização destes resíduos no design
de produtos, realizada por Oliveira & Nóbrega (2004), da Universidade Federal de Campina
Grande, na Paraíba.
É neste contexto, que o Ecodesign é apresentado, como ferramenta de auxílio na
gestão do RCD, ao criar, a partir da reciclagem, produtos ecoeficientes, para uma nova
geração de consumidores preocupados, e dispostos a pagar por um “produto verde”.

4. Referências bibliográficas
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