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Leitura

de textos

Para a primeira edição

Jo 20,30-31
Jo 9,1-41
Para a segunda edição

Jo 21,1-25
Jo 1,1-18
polla. me,n
Quarto Evangelho

primeiro final
(Jo 20,30-31)

Jo 20,30-31
no Códex Vaticanus
G. Fee, «On the Text and Meaning of John 20,30-
31», FS Neirynck, vol. 3, Leuven 1992, 2193-2205;

W.S. Vorster, «The Growth and Making of John 21»,


FS Neirynck, vol. 3, Leuven 1992, 2207-2221;

J. Zumstein, «La rédaction finale de l’Evangile selon


Jean (à l’exemple du chapitre 21)», in J.D. Kaestly e
altri, ed., La communauté johannique et son
histoire, Genève 1990, 207-230;

M. Marcheselli, «Gv 21 come ripensamento della


tradizione del Quarto Vangelo», in Ricerche Storico
Bibliche 16 (2004), 337-358.
A longa frase de Jo 20,30-31,
importantíssima para a interpretação de todo o IV Ev.
É composta de duas frases principais:
«Muitos outros sinais fez Jesus…» (v. 30)
«Estes, porém, foram escritos...» (v. 31).

A primeira rege uma frase dependente relativa:


«… os quais não foram escritos neste livro»

A segunda rege duas frase finais:


«… para que acrediateis…»
«… para que, crendo, tenhais vida…».

Como segue:
Jo 20,30-31:

FRASE PRINCIPAL
frase relativa
FRASE PRINCIPAL
primeira frase final
segunda frase final

Polla. me.n ou=n kai. a;lla shmei/a evpoi,hsen o` VIhsou/j


evnw,pion tw/n maqhtw/n auvtou/
a] ouvk e;stin gegramme,na evn tw/| bibli,w| tou,tw|

tau/ta de. ge,graptai


i[na pisteu,ÎsÐhte o[ti VIhsou/j evstin o` cristo.j o` ui`o.j tou/ qeou/
kai. i[na pisteu,ontej zwh.n e;chte evn tw/| ovno,mati auvtou/
Polla. me.n ou=n kai. a;lla shmei/a evpoi,hsen o` VIhsou/j
evnw,pion tw/n maqhtw/n auvtou/
a] ouvk e;stin gegramme,na evn tw/| bibli,w| tou,tw| (v. 30)

me.n … de,… (partículas correlativas)

shmei/a («sinais» - cf. semáforo)


evpoi,hsen (ev do aumento, s do aoristo) («fazer» - cf. poeta)
evnw,pion (cf. ótico, ilusão ótica)
tw/n maqhtw/n [de manqa,nw = aprender]
a] [neutro plur.] ouvk evstin [mas verbo no sing.] gegramme,na [plural]
ouvk (k se segue uma vogal), ouv (+uma consoante) ouvc (+consoante aspirada)
O me,n que está na primeira frase (v.30)
e o de, que está na segunda (v.31)
contrapõem a primeira frase principal
(e a sua relativa:
«… os quais não foram escritos»)
à segunda principal
(«Estes, porém, foram escritos»)
obviamente com as suas duas finalidades).
tau/ta de. ge,graptai
i[na pisteu,ÎsÐhte o[ti VIhsou/j evstin o` cristo.j o` ui`o.j tou/ qeou/

de,
ge,graptai (perfeito pass., 3ps. sing. de gra,fw)

i[na (introduz o escopo = para que)

pisteu,hte (subjuntivo presente)

pisteushte (… subjuntivo aoristo)


?
o[ti Ihsou/j evstin
o` cristo,j (de cri,w = ungir, consagrar)

o` ui`o.j tou/ qeou/


questões de crítica textual

Pisteuhte (= creiais, continuais crendo: subj. presente)

Trazem o subjuntivo presente: P66-vid Alef* B Q 0250 157 892,


isto é
o papiro 66vid=videtur=”parece”,-mas a leitura é incerta porque o papiro está corrompido
o códex Sinaiticus, Alef (4° sec.) de primeira mão, da qual é símbolo o asterístico
o códex Vaticanus, B (4° sec.), o códex maiúsculo Q
o maiúsculo 0250 (nota bem: o zero na frente significa códice maiúsculo)
o códex minúsculo 892 (nota bem: falta o zero, portanto, “minúsculo”)

Pisteushte (creiais, comeceis a crer) tem o subjuntivo aoristo: Alefc A C D K L f1 f13


isto é
códex Sinaiticus, Alefc = segunda mão, cujo símbolo é o c= um corretor
o códex Alexandrino, A [5° século] ...
“a família 1” [= 4 códices minúsculos muito semelhantes entre eles]
e a “família 13 [= 12 códices minúsculos muito semelhantes entre eles]
kai. i[na pisteu,ontej zwh.n e;chte
evn tw/| ovno,mati auvtou/ (v. 31)

kai. i[na (segundo escopo)

pisteu,ontej (particípio pres., retomada do primeiro escopo


e sua subordinação no segundo)

zwh.n e;chte (“vida”, + subjuntivo presente de e;cw)

evn tw|/ ovno,mati (cf. o;noma nas próximas páginas)

auvtou/ (= dele, o nome de Jesus dá a vida)


o;noma de Jesus no IV Ev (12x)
Exercício de Concordância

1,12 = eis to onoma


2,23 = eis to onoma
3,18 = eis to onoma
14,13-14 = en to onomati mou
14,26 = en to onomati mou
15,16 = en to onomati mou
15,21 = dià to onoma mou
16,23 = en to onomati mou
16,24 = en to onomati mou
20,31 = en to onoma autou
o;noma de Jesus (e do Pai) no IV Ev

(o;noma do «Pai» em 5,43; 10,25; 12,13; 12,28; 17,6; 17,11; 17,12; 17,26)
(en to onomati tou patros mou)
Quanto à gramática, o sintagma evn tw/| ovno,mati auvtou/
= “no seu nome”, poderia referir-se a:
(i) ao crer («para que acrediteis no seu nome»)
do qual, porém, está separado
(ii) a zwh, («tenhais a vida [que vem] do seu nome»)
isto é, da sua pessoa (Lindars, Schnackenburg, Morris)

tau/ta de. ge,graptai


i[na pisteu,ÎsÐhte o[ti VIhsou/j evstin o` cristo.j o` ui`o.j tou/ qeou/
kai. i[na pisteu,ontej zwh.n e;chte evn tw/| ovno,mati auvtou/
Jo 20,30-31 (resumo):

FRASE PRINCIPAL
frase final
FRASE PRINCIPAL
primeira frase final
segunda frase final

Polla. me.n ou=n ou=n kai. a;lla shmei/a evpoi,hsen o` VIhsou/j


evnw,pion tw/n maqhtw/n auvtou/
a] ouvk e;stin gegramme,na evn tw/| bibli,w| tou,tw|

tau/ta de. ge,graptai


i[na pisteu,ÎsÐhte o[ti VIhsou/j evstin o` cristo.j o` ui`o.j tou/ qeou/
kai. i[na pisteu,ontej zwh.n e;chte evn tw/| ovno,mati auvtou/
«30Jesus,
na presença dos seus discípulos,
fez muitos outros sinais
que não foram escritos
neste livro.
31Mas estes foram escritos

para que acrediteis


que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus,
e para que,
crendo,
tenhais vida
no seu nome»
A seleção feita pelo Evangelista

A análise sintática faz compreender que o Evangelista


queria dar muita importância à sua própria escolha
de escrever somente alguns dos muitos “sinais” de Jesus
dos quais tinha conhecimento.

C.K. Barrett tira a consequência que ele conhecia


os milagres da tradição sinótica.
No v. 30 o evangelista fala da sua obra
enquanto no v. 31 apresenta o seu intento (L. Morris).
O v. 30 está subordinado ao v. 31. Assim não se deve insistir
sobre a questão da incompletude, mas sobre a fé e sobre a vida
(R. Brown)
«30Jesus,
na presença
dos seus discípulos,
fez
muitos outros sinais
que não estão escritos
neste livro»
«…31Mas estes
foram escritos
para que acrediteis
que Jesus
é o Cristo
o Filho de Deus
e para que
Acreditando
tenhais vida
no seu nome»
Os “sinais” são atos de revelação

Se Jesus “fez (evpoi,hsen) muitos sinais”, quer dizer que os sinais


se colocam no campo do “fazer” e das obras.
E, todavia, não basta estar presente e ver
(também os judeus viram os sinais),
porque os sinais devem ser compreendidos, interpretados,
Numa palavra: se deve “saber ver”.
Cada “sinal” de Jesus é, portanto, um ato de revelação
Em 2,11 de fato é dito que no sinal de Caná
Jesus “manifestou a sua glória”.
O evangelista narra, portanto, sinais para o seu leitor
como pedagogia à fé
E é por isso que selecionou os mais adequados ao seu escopo.

A seleção ‘fala’ também da


inexaurivel riqueza do Evangelho de Jesus (Bultmann).
Diz que o Evangelho jamais terminou (van den Bussche),
e diz que o significado de Jesus e da sua obra
é constante e inexaurível.
Os dois finais que o Evangelista se propõe
O IV Ev não é um escrito neutro, imparcial.
Ele se coloca da parte de Jesus e quer levar à fé Nele
ou confirmá-la: «John longs to see men believe» (L. Morris).
A fé não é fim em si mesma,
não é só ortodoxia intelectual,
não degenera em gnosticismo segundo a qual
para salvar-se basta conhecer (R. Brown).
A cristologia não pode ser separada da soteriologia:
por isto a fé leva à vida, à salvação:
Sendo Filho de Deus, Jesus tem a comunhão com o Pai
e se torna mediador para eles da vida do Pai (R. Brown).
A afirmação mais surpreendente
é aquela segundo a qual o IV Ev
é um livro que leva à vida.
Há muitos livros que pretendem levar
e que também levam
(ou podem levar) à fé.
Mas é certo surpreendente que um livro
tenha como intenção levar à vida.
É exatamente isso que o quarto evangelista afirma
porque diz:
«Escrevi alguns “sinais”
para que vós, tendo acreditado,
tenhais a vida».
O título de “Cristo” (... Para que acrediteis que Jesus é o Cristo)

A questão messiânica é importante no IV Ev:


antes, é tão importante «que espanta» (Schnackenburg)
Conhecer o Cristo é importante para a sequela
de quem vem do judaismo
(cf 1,41: «Encontramos o Messias»),
mas é importante também para os Samaritanos
(cf 4,29: «Vinde ver um homem
que me disse tudo… Será que não é o Cristo?»),
E também importante ainda para os judeus
(cf 10,24: «Até quando deixarás nossa alma em suspense?
Se tu és o Cristo, deves dizê-lo abertamente!»).
Reconhecer que Jesus é o Cristo é arriscado
porque pode levar à exclusão da sinagoga (cf 9,22 e 12,42),
Mas é preciso perseverar como fez o cego-nato
que de fato “foi excomungado” (9,34.35).
A afirmação de Marta em 11,27 («Creio que tu és o Cristo
o filho de Deus que deve vir ao mundo»)
pareceria ter o mesmo conteúdo de Jo 20,31,
mas não é assim, pq o acréscimo «…que deve vir ao mundo»
caracteriza a fé de Marta como fé judaica
que deve ser superada, por exempo compreendendo
o grande “sinal” da ressurreição de Lázaro (Brown).
Em todo o evangelho Jesus não é só o Messias davídico-teocrático
anunciado pelos profetas, mas é também o Enviado do Pai,
aquele que permanece no Pai, aquele que diz: “Eu sou” (Morris).
O título de “Filho de Deus”
(... Para que acrediteis que Jesus é o ... Filho de Deus)

Os comentadores se perguntam se este segundo título


seja sinônimo de “Messias”,
mas “Filho de Deus” parece ser, ao invés,
um título independente e muito mais alto.
O Messias não era esperado com tamanha relação com o Pai
tão profunda como todo o evangelho diz de Jesus (Morris),
e a cena final do evangelho é aquela na qual Tomé diz:
“Senhor meu e meu Deus” (20,28):
O Evangelista aprova a profissão de fé de Tomé
e a propõe ao seu leitor como exemplar (Brown)
E essa é a mais alta expressão da cristologia joanina
(Schnackenburg).
Jo 20,30-31 é uma frase final: de que coisa?

Para Hawkins era o final do capítulo.


Para Lagrange e Vaganay era final do evangelho,
o qual compreendia também o cap. 21:
quando foi acrescentado o último final
esta foi antecipada (assim pensa R. Brown).
Mais provavelmente 20,30-31 era o final do Evangelho, porque:
(i) «… seems to preclude any further narrative» (Brown)
(ii) Depois da bem-aventurança de 20,29 para quem crê sem ver,
não se deve esperar outras aparições (Vorster)
(iii) Jo 21 é acréscimo de modo maldestro:
se os discípulos já viram o Ressuscitado em Jerusalém (Jo 20)
por que retornaram ao lago, na Galileia (Jo 21)?
e por que não reconheceram Jesus (Vorster)?
(iv) Com 20,30-32 «le livre est fini, bien fini» (A. Loisy)
«Nesses versículos o evangelho, como incialmente planejado,
chega ao seu final – um final satisfatório e, de fato triunfante.
É quase impossível ler os vv. 30s diferente de
uma espécie de conclusão da obra» (Barrett)
FIM

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