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1.1 Definições
Definição 1.1.1. Chamamos de polinômios sobre o anel A toda a famı́lia (ai )i∈N de
elementos de A para o qual existe n ≥ 0 tal que ai = 0 para i ≥ n. Dizemos que o
ı́ndice do maior termo não nulo é chamado de grau do polinômio e para um polinômio p
denotamos por ∂p e o coeficiente de mesmo ı́ndice é chamado de coeficiente diretor de p.
Dois polinômios p = (ai ) e q = (bi ) são iguais se ai = bi para todo i ∈ N.
A[X] é o conjunto dos polinômos sobre o anel A.
Teorema 1.1.4. Seja A um anel comutativo. O anel A[X] possui as seguintes proprie-
dades:
Demonstração. (i) Seja j : A → A[X] tal que j(x) = (x, 0, . . .). Temos que j é homo-
morfismo. Seja x ∈ ker j então j(x) = (0, 0, . . .) ⇒ x = 0 e portanto ker j = {0}, ou
seja, j é injetora.
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Demonstração. A[b] é subanel de B. De fato é fechado para soma e produto, contém a
mesma unidade e oposto aditivo. Seja D um subanel de B que contém A e b. Então para
Xn
todo k ∈ N, ak ∈ D e b ∈ D, logo ak bk ∈ D e portanto A[b] ⊂ D.
k=0
Observação 1.1.6. Seja f : A[X] → A[b] tal que f (p) = p(b) é sobrejetor.
(a) Suponha que ker f 6= {0} então existe p ∈ A[X] tal que p(b) = 0. Neste caso dizemos
que b é algébrico sobre A.
Demonstração. Indução em d:
d = 1, f (X) = aX + b com a 6= 0, sejam x1 , x2 raı́zes de f então ax1 + b = a2 + b ⇒
a(x1 − x2 ) = 0 ⇒ x1 = x2 . Seja d ≥ 1. Se p ∈ A[X] não possui raı́zes em A temos o
resultado. Suponha que existe a ∈ A tal que p(a) = 0 disso temos que f = (X − a)q para
algum q ∈ A[X] e temos que ∂q = d − 1, logo q tem no máximo d − 1 raı́zes em A, logo
f possui d raı́zes em A.
Demonstração. Pelo algoritmo da divisão obtemos que f (X) = (X − c1 )k1 g1 (X), onde
g1 (c1 ) 6= 0, pois se fosse g(c1 ) = 0 então g(X) = (X − c1 )g10 (X), mas (X − c1 )k1 +1 não
divide f , contradição. Repetindo o processo com o polinômio g1 para as raı́zes restantes
obtemos f (X) = (X − c1 )k1 · . . . · (X − c` )k` g(X).
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1.2 Fatoração de polinômios em um corpo K
Observação 1.2.1. Seja f ∈ K[X] um polinômio não nulo e K um corpo. Existe a ∈ K
tal que f = af1 onde 1 é coeficiente diretor de f1 . Chamaremos f1 de normalização de f .
Lema 1.2.2. Se f |g e g|f onde g, f são polinômios normalizados então f = g.
Demonstração. Sejam g = f q e f = gq 0 polinômios normalizados. Então g = gq 0 q ⇔
g(1 − q 0 q) = 0 disso temos que g = 0 ou q 0 q = 1. Se g = 0 então f = 0 e temos g = f . Se
q 0 q = 1 então q 0 = q = 1, pois se q 0 6= 1 então por ∂q + ∂q 0 = 0 terı́amos que g não seria
normalizado.
Teorema 1.2.3. Todo ideal I de K[X] é principal, isto é, I 6= {0}, existe um único
polinômio normalizado p tal que I = hpi.
Demonstração. Seja I 6= {0} um ideal de K[X]. Tome p ∈ I não nulo e normalizado tal
que seu grau é o menor em I. Tome f ∈ I, pelo algoritmo da divisão temos que existem
q, r ∈ K[X] tais que ∂r < ∂p ou r = 0, e f (X) = p(X)q(X)+r(X). Assim f −pq = r ∈ I,
mas como p é o polinômio de menor grau que é não nulo e normalizado temos que r = 0
e portanto f = pq.
Mostremos que é único. Seja p0 um polinômio normalizado e tal que hp0 i = hpi = I. Assim
temos que p = p0 q 0 e p0 = pq, logo pelo Lema 1.2.2 temos que p0 = p.
Definição 1.2.4. Seja K um corpo e f, g ∈ K[X]. Um polinômio p é chamado de máximo
divisor comum de f e g se:
(a) p|f e p|g
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Demonstração. Sejam I = hf i e J = hgi. Temos que H = I ∩ J é ideal de K[X]. Então
existe único p ∈ K[X] normalizado tal que H = hpi. Temos que p ∈ H, logo f, g|p. Seja
p0 ∈ K[X] tal que f, g|p. Então p0 ∈ H ⇒ p|p0 .
Teorema 1.2.14. Seja p ∈ K[X] um polinômio não nulo. Então as seguintes afirmações
são equivalentes:
Teorema 1.2.15. Todo polinômio não constante f ∈ K[X] se escreve de forma única
como f = c · p1 . . . pn , onde c ∈ K e pi ∈ K[X] são polinômios irredutı́veis e normalizados,
para todo i = 1, . . . , n.
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Demonstração. Seja f ∈ K[X] não constante. Se f é irredutı́vel basta tomar p1 sendo sua
normalização e temos o resultado. Se f não for então tomando p1 , g1 ∈ K[X] de modo
que f = p1 g e p1 seja não constante tenha o menor grau possı́vel e assim será irredutı́vel.
Se g é irredutı́vel então temos o resultado. Caso contrário tome p2 , g2 ∈ K[X] de modo
que p2 seja não constante e tenha o menor grau possı́vel e assim será irredutı́vel. Podemos
repetir o processo até obter um produto de polinômios irredutı́veis.
Sejam q1 , . . . , qm tais que f = cq1 , . . . , qn . Temos que p1 |f ⇒ ∃i = 1, . . . , n; p1 |qi ⇒ p1 =
qi , reordene, se necessário, de modo que i = 1. Repetindo o processo temos que pi = qi
para algum i = 1, . . . , n e assim n ≤ m e analogamente pode-se mostrar que m ≤ n,ou
seja, m = n e portanto a fatoração é única.
Corolário 1.2.17. Seja K um corpo finito. Para todo n ≥ 1, existem polinômios irre-
dutı́veis sobre K de grau maior que n.
Demonstração. Como s/t é raı́z de f temos que a0 tn +. . .+an sn = 0 assim t(a0 tn−1 +. . .+
an−1 sn−1 ) = −an sn , mas como mdc(s, t) = 1 então se d = mdc(sn , t) então mdc(d, s) = 1,
logo d|sn ⇒ d|s ⇒ d = 1. Assim temos que t|an . De modo análogo mostramos que
s|a0 .
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Corolário 1.2.22. Todos os polinômios irredutı́veis e normalizados sobre C são po-
linômios da forma X − α, com α ∈ C.
Demonstração. Seja p ∈ C[X] um polinômio irredutı́vel e normalizado. Existe α ∈ C tal
que p(α) = 0 assim pelo algoritmo da divisão temos que p(X) = q(X)(X − α) + r(X)
onde ∂r < 1 ou r = 0, isto é, r é constante, mas r(α) = 0, portanto r(X) = 0. Logo
p(X) = q(X)(X − α), mas como p é irredutı́vel e normalizado temos que q(X) = 1.
Proposição 1.2.23. Se f ∈ R[X] e α ∈ C. Se α é raı́z de f então α é raı́z de f .
Demonstração. Seja f (X) = a0 + . . . + an X n . Então f (α) = a0 + . . . + an αn
= a0 + . . . + an αn = 0 = 0.
Corolário 1.2.24. Os polinômios irredutı́veis e normalizados de R[X] são da forma X −α
com α ∈ R e da forma X 2 + aX + b com a, b ∈ R e a2 − 4b < 0.
Exemplo 1.2.25. Seja n ∈ N e considere ϕn (X) = X n−1 + . . . + X + 1
(a) Se mdc(k, `) = 1 então (X k − 1)(X ` − 1)|(X − 1)(X k` − 1);
(b) Se n não é primo, então ϕn não é irredutı́vel;
(c) Se n é primo então é irredutı́vel.
(a) Temos que se mdc(m, n) = d então mdc(X m − am , X n − an ) = X d − ad e mmc(f, g) ·
mdc(f, g) = f g para f, g ∈ K[X], onde K é um corpo. Temos também que X k` −1 =
((X k )` −1) = (X k −1)(X k(`−1) +. . .+X k +1). Assim (X k −1), (X ` −1)|(X k` −1) ⇒
mmc(X k − 1, X ` − 1)|(X k` − 1). Logo (X k − 1)(X ` − 1)/(X − 1)|(X k` − 1) ⇒
(X k − 1)(X ` − 1)|(X k` − 1)(X − 1).
(X n − 1)
(b) Se n não é primo, então n = k`, onde mdc(k, `) = 1. Assim ϕn (X) = =
(X − 1)
(X k − 1)(X ` − 1)
q(X) assim ϕn é redutı́vel.
(X − 1)2
((Y + 1)n − 1)
(c) ϕn (Y +1) = = Y n−1 +nY +. . .+n ∈ Z[Y ], e por Eisenstein ϕn (Y +1)
Y
é irredutı́vel e então ϕn (X) é irredutı́vel.
2 Extensões
2.1 Extensões
Definição 2.1.1. Dados dois corpos L e K dizemos que L é uma extensão de K se K é
subcorpo de L. Denotaremos por L : K.
Note que:
∀λ ∈ K, `1 , `2 ∈ L, λ(`1 + `2 ) = λ`1 + λ`2 ;
∀λ1 , λ2 ∈ L, ` ∈ L, (λ1 + λ2 )` = λ1 ` + λ2 `;
∀λ, µ ∈ K, ` ∈ L, λ(µ`) = (λµ)`
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Exemplo 2.1.2. Se K é um corpo então K[X] é anel de integridade. Assim existe o corpo
de frações de K[X] que será denotado por K(X). Temos também que [K(X) : K] = ∞,
pois para todo n ∈ N o conjunto {1, X, . . . , X n } é linearmente independente.
Exemplo 2.1.6. X ∈ K[X] não é algébrico sobre K. Se fosse então existiria f ∈ K[X]
não nulo tal que f (X) = 0, obrigando f a ser nulo, contradição.
Demonstração. (a) Temos pela observação 2.1.7 que K[α] é um corpo e ele contém α e
K, logo K(α) ⊂ K[α] e sempre temos que K[α] ⊂ K(α). Portanto K(α) = K[α];
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(c) Temos que se a0 + a1 α + . . . + ad−1 αd−1 = 0, isto é, existe q ∈ K[X] tal que q(α) = 0
e ∂q < d, assim o grau de q é menor que o do polinômio minimal e portanto
q = 0 ⇒ ai = 0, ∀i = 1, . . . , d − 1.
Assim dado x ∈ K[α] = K(α) segue que existe f ∈ K[X] tal que x = f (α),
mas pelo algoritmo da divisão temos que existem q, r ∈ K[X] tais que ∂r < d e
f (X) = p(X)q(X) + r(X). Logo x = f (α) = r(α) e portanto x ∈ [1, α, . . . , αd−1 ].
Observação[
2.1.14.
√ Note que nem todo extensão algébrica é finita.
√
De fato L = ( 2, . . . , p) é algébrica, mas não é finita.
p∈Z
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Proposição 2.1.17. Para que uma extensão L : K seja finita, é necessário e suficiente
que L : K seja algébrica e existam α1 , . . . , αn tais que L = K(α1 , . . . , αn ).
Corolário 2.1.19. Para todo polinômio irredutı́vel e normalizado p ∈ K[X], existe uma
extensão K(α) : K de grau ∂p tal que p(X) = (X − α)g(X), onde g ∈ K(α)[X].
Teorema 2.1.21. Seja K um corpo. Para todo polinômio f ∈ K[X], não constante,
existe extensão finita L : K tal que f é cindido sobre L