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1 Polinômios

1.1 Definições
Definição 1.1.1. Chamamos de polinômios sobre o anel A toda a famı́lia (ai )i∈N de
elementos de A para o qual existe n ≥ 0 tal que ai = 0 para i ≥ n. Dizemos que o
ı́ndice do maior termo não nulo é chamado de grau do polinômio e para um polinômio p
denotamos por ∂p e o coeficiente de mesmo ı́ndice é chamado de coeficiente diretor de p.
Dois polinômios p = (ai ) e q = (bi ) são iguais se ai = bi para todo i ∈ N.
A[X] é o conjunto dos polinômos sobre o anel A.

Definimos a soma e produto de polinômios da seguinte maneira. Sejam p = (ai ) e q = (bi )


i
X
então p + q = (ai + bi ) e p · q = (ci ) onde ci = ak · bi−k .
k=0

Teorema 1.1.2. Sejam p, q ∈ A[X], então ∂(p · q) ≤ ∂p + ∂q. Se A é anel de integridade


então ∂(p · q) = ∂p + ∂q.

Demonstração. Suponha que ∂p = k e ∂q = `, onde p = (ai ) e q = (bi ) e seja n = k + `


então p · q = (ci ) é tal que cn = ak+` b0 + . . . + ak b` + . . . + a0 bk+` = ak b` . Se A é anel de
integridade então ak b` 6= 0. 

Teorema 1.1.3. O conjunto A[X] é um anel comutativo se A é anel comutativo. Se A é


anel de integridade então A[X] é anel de integridade.

Teorema 1.1.4. Seja A um anel comutativo. O anel A[X] possui as seguintes proprie-
dades:

(i) Existe um homomorfismo injetor j : A → A[X].

(ii) Para todo anel comutativo B e todo homomorfismo f : A → B e todo elemento b ∈


B existe um único homomorfismo fb : A[X] → B tal que f = fb ◦ j e fb(0, 1, . . .) = b.

Demonstração. (i) Seja j : A → A[X] tal que j(x) = (x, 0, . . .). Temos que j é homo-
morfismo. Seja x ∈ ker j então j(x) = (0, 0, . . .) ⇒ x = 0 e portanto ker j = {0}, ou
seja, j é injetora.

(ii) Seja f : A → B um homomorfismo. Defina fb : A[X] → B tal que fb(a, 0, . . .) = f (a)


e fixado b ∈ B, fb(0, 1, 0, . . .) = b. Note que (0, 0, . . . , 1, 0 . . .) = (0, 1, 0, . . .)n , logo
| {z }
n+1
n
X
se p = (a0 , a1 , . . . , an , 0 . . .) então fb(p) = f (ak )bk . Se f : A[X] → B outro
k=0
homomorfismo satisfazendo essas condições teremos que f = fb.

Notação: X = (0, 1, 0, . . .) e para a ∈ A, a = (a, 0, . . .).

Corolário 1.1.5. Seja A ⊂ B. Então A[b] = {p(b)| p ∈ A[X]} é o menor subanel de B


que contém A e b.

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Demonstração. A[b] é subanel de B. De fato é fechado para soma e produto, contém a
mesma unidade e oposto aditivo. Seja D um subanel de B que contém A e b. Então para
Xn
todo k ∈ N, ak ∈ D e b ∈ D, logo ak bk ∈ D e portanto A[b] ⊂ D. 
k=0

Observação 1.1.6. Seja f : A[X] → A[b] tal que f (p) = p(b) é sobrejetor.

(a) Suponha que ker f 6= {0} então existe p ∈ A[X] tal que p(b) = 0. Neste caso dizemos
que b é algébrico sobre A.

(b) Se ker f = {0} então dizemos que b é trancendente sobre A.

Teorema 1.1.7. Seja A um anel de integridade. Sejam f, g ∈ A[X] com g 6= 0 e coefici-


ente diretor invertı́vel. Então existe únicos q, r ∈ A[X] tais que f = gq + r onde r = 0 ou
∂r < ∂g.

Demonstração. Se ∂g > ∂f então q = 0 e r = f satisfaz. Suponha que n = ∂g ≤ ∂f = m.


Se n = 0 então g = c logo q = c−1 f e r = 0 satisfazem. Suponha que vale para todo
polinômio de grau menor que m vale. Temos que f = a0 + a1 X + . . . + am X m seja
f1 = f − am b−1
n X
m−n
g. Assim ∂f1 < f , logo pela hipótese de indução existem q1 , r tais
que f1 = q1 g + r logo f = (am b−1
n X
m−n
+ q1 )g + r. Portanto vale o teorema. 

Definição 1.1.8. Um elemento a ∈ A é chamado de raı́z de um polinômio p ∈ A[X] se


p(a) = 0.

Corolário 1.1.9. Seja A um anel de integridade. Um polinômio não nulo f ∈ A[X] de


grau d tem no máximo d raı́zes em A.

Demonstração. Indução em d:
d = 1, f (X) = aX + b com a 6= 0, sejam x1 , x2 raı́zes de f então ax1 + b = a2 + b ⇒
a(x1 − x2 ) = 0 ⇒ x1 = x2 . Seja d ≥ 1. Se p ∈ A[X] não possui raı́zes em A temos o
resultado. Suponha que existe a ∈ A tal que p(a) = 0 disso temos que f = (X − a)q para
algum q ∈ A[X] e temos que ∂q = d − 1, logo q tem no máximo d − 1 raı́zes em A, logo
f possui d raı́zes em A. 

Definição 1.1.10. Seja A um anel de integridade, k ∈ N e a ∈ A. Dizemos que a é raı́z


de multiplicidade k de um polinômio f ∈ A[X] se (X − a)k |f e (X − a)k+1 † f .

Corolário 1.1.11. Seja A um anel de integridade e f ∈ A[X]. Sejam c1 , c2 , . . . , c` raı́zes


de f com multiplicidades k1 , k2 , . . . , k` , respectivamente. Então existe g ∈ A[X] tal que
f (X) = (X − c1 )k1 · . . . · (X − c` )k` g(X), onde g(ci ) 6= 0 para i = 1, . . . , `.

Demonstração. Pelo algoritmo da divisão obtemos que f (X) = (X − c1 )k1 g1 (X), onde
g1 (c1 ) 6= 0, pois se fosse g(c1 ) = 0 então g(X) = (X − c1 )g10 (X), mas (X − c1 )k1 +1 não
divide f , contradição. Repetindo o processo com o polinômio g1 para as raı́zes restantes
obtemos f (X) = (X − c1 )k1 · . . . · (X − c` )k` g(X). 

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1.2 Fatoração de polinômios em um corpo K
Observação 1.2.1. Seja f ∈ K[X] um polinômio não nulo e K um corpo. Existe a ∈ K
tal que f = af1 onde 1 é coeficiente diretor de f1 . Chamaremos f1 de normalização de f .
Lema 1.2.2. Se f |g e g|f onde g, f são polinômios normalizados então f = g.
Demonstração. Sejam g = f q e f = gq 0 polinômios normalizados. Então g = gq 0 q ⇔
g(1 − q 0 q) = 0 disso temos que g = 0 ou q 0 q = 1. Se g = 0 então f = 0 e temos g = f . Se
q 0 q = 1 então q 0 = q = 1, pois se q 0 6= 1 então por ∂q + ∂q 0 = 0 terı́amos que g não seria
normalizado. 
Teorema 1.2.3. Todo ideal I de K[X] é principal, isto é, I 6= {0}, existe um único
polinômio normalizado p tal que I = hpi.
Demonstração. Seja I 6= {0} um ideal de K[X]. Tome p ∈ I não nulo e normalizado tal
que seu grau é o menor em I. Tome f ∈ I, pelo algoritmo da divisão temos que existem
q, r ∈ K[X] tais que ∂r < ∂p ou r = 0, e f (X) = p(X)q(X)+r(X). Assim f −pq = r ∈ I,
mas como p é o polinômio de menor grau que é não nulo e normalizado temos que r = 0
e portanto f = pq.
Mostremos que é único. Seja p0 um polinômio normalizado e tal que hp0 i = hpi = I. Assim
temos que p = p0 q 0 e p0 = pq, logo pelo Lema 1.2.2 temos que p0 = p. 
Definição 1.2.4. Seja K um corpo e f, g ∈ K[X]. Um polinômio p é chamado de máximo
divisor comum de f e g se:
(a) p|f e p|g

(b) Se p0 |f e p0 |g então p0 |p.


Diremos ainda que mdc(f, g) = p se p é máximo divisor comum e p é normalizado.
Teorema 1.2.5. Sejam f, g ∈ K[X]. Então existe um único polinômio normalizado p
que é mdc(f, g). Além disso existem polinômios s, t ∈ K[X] tais que sf + tg = p.
Demonstração. Considere o conjunto I = {uf + vg|u, v ∈ K[X]}. Este é um ideal de
K[X] então existe único p ∈ K[X] normalizado tal que I = hpi. Temos que f, g ∈ I, logo
p|f, g e p ∈ I logo existem s, t ∈ K[X] tais que p = sf + tg então dado p0 tal que p0 |f, g.
Então p0 |p e portanto p = mdc(f, g). 
Definição 1.2.6. Dois polinômios f, g ∈ K[X] são coprimos se mdc(f, g) = 1.
Corolário 1.2.7. Dois polinômios f, g ∈ K[X] são coprimos se, e somente se, existem
s, t ∈ K[X] tais que sf + tg = 1.
Definição 1.2.8. Seja K um corpo e f, g ∈ K[X]. Um polinômio p é chamado de mı́nimo
multiplo comum de f e g se:
(a) f, g|p;

(b) f, g|p0 ⇒ p|p0 ;


Teorema 1.2.9. Sejam f, g ∈ K[X]. Então existe único polinômio p normalizado tal que
p = mmc(f, g).

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Demonstração. Sejam I = hf i e J = hgi. Temos que H = I ∩ J é ideal de K[X]. Então
existe único p ∈ K[X] normalizado tal que H = hpi. Temos que p ∈ H, logo f, g|p. Seja
p0 ∈ K[X] tal que f, g|p. Então p0 ∈ H ⇒ p|p0 . 

Definição 1.2.10. Um polinômio não constante p ∈ K[X] é irredutı́vel se para cada


fatoração p = f g então f é constante ou g é constante.

Observação 1.2.11. Todo polinômio de grau 1 é irredutı́vel se K é um corpo.

Exemplo 1.2.12. 1. X 2 + 1 ∈ R[X] é irredutı́vel em R, pois caso contrário terı́amos


que existem a, b ∈ R tais que X 2 + 1 = (X + a)(X + b), e assim terı́amos raı́zes
desse polinômio em R, contradição.

2. Seja p(X) = X 3 + 3X + 2 ∈ Z5 [X]. Se fosse redutı́vel existiria q ∈ Z5 [X] tal


que ∂q = 2 e p(X) = (X + a)q(X) e assim existiria uma raı́z em Z5 . Porém
p(0) = 2, p(1) = 1, p(2) = 2, p(3) = 3, p(4) = 4, ou seja, não possui raı́z em Z5 , logo
é irredutı́vel.

Proposição 1.2.13. Seja p um polinômio em K[X] (K um corpo) de grau 2 ou 3, p é


irredutı́vel se, e somente se, p não possui raı́zes em K.

Demonstração. Suponha que p é redutı́vel então existem a ∈ K e q ∈ K[X], onde ∂q =


1 ou 2, tais que p(X) = (X − a)q(X) e assim a é raı́z de p.
Suponha reciprocamente que p tem raı́zes em K. Seja a uma raı́z de p então p(X) =
(X − a)q(X), onde ∂q = ∂p − 1 6= 0, logo q é nao constante e portanto p é redutı́vel. 

Teorema 1.2.14. Seja p ∈ K[X] um polinômio não nulo. Então as seguintes afirmações
são equivalentes:

(a) p é irredutı́vel sobre K;

(b) hpi é ideal maximal;

(c) Se f, g ∈ K[X] e p|f g então p|f ou p|g.

Demonstração. (a)⇒(b): Seja p irredutı́vel, seja I = hpi e I ( J ideal de K. Tome f ∈ J


ef∈ / I. Pelo algoritmo da divisão temos f = pq + r onde ∂r < ∂p e assim r ∈ J. Como
p é irredutı́vel e não divide r, temos que mdc(p, r) = 1, logo existem s, t ∈ K[X] tais que
p(X)s(X) + r(X)t(X) = 1 ∈ J, logo J = K[X];
(b)⇒(a): Suponha que p é redutı́vel então existem p1 , p2 ∈ K[X] não constantes tais que
p = p1 p2 , logo p1 ∈ / hpi ∂p1 < ∂p. Temos que 1 ∈ / hp1 i, pois p1 é não constante. Assim
hpi ( hp1 i ( K[X]. Portanto hpi não é maximal;
(a)⇒(c): Suponha que p é irredutı́vel. Sejam f, g ∈ K[X] tais que p|f g ⇒ p` = f g.
Suponha que p † f , então mdc(p, f ) = 1, logo existem s, t ∈ K[X] tais que ps + f t = 1 ⇒
pgs + f gt = g ⇒ pgs + p`t = p(gs + `t) = g e portanto p|g;
(c)⇒(a): Seja p tal que (c) vale. Suponha que p é redutı́vel então existem p1 , p2 não
constantes tais que p = p1 p2 , logo p|p1 p2 então p|p1 ou p|p2 , contradição. 

Teorema 1.2.15. Todo polinômio não constante f ∈ K[X] se escreve de forma única
como f = c · p1 . . . pn , onde c ∈ K e pi ∈ K[X] são polinômios irredutı́veis e normalizados,
para todo i = 1, . . . , n.

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Demonstração. Seja f ∈ K[X] não constante. Se f é irredutı́vel basta tomar p1 sendo sua
normalização e temos o resultado. Se f não for então tomando p1 , g1 ∈ K[X] de modo
que f = p1 g e p1 seja não constante tenha o menor grau possı́vel e assim será irredutı́vel.
Se g é irredutı́vel então temos o resultado. Caso contrário tome p2 , g2 ∈ K[X] de modo
que p2 seja não constante e tenha o menor grau possı́vel e assim será irredutı́vel. Podemos
repetir o processo até obter um produto de polinômios irredutı́veis.
Sejam q1 , . . . , qm tais que f = cq1 , . . . , qn . Temos que p1 |f ⇒ ∃i = 1, . . . , n; p1 |qi ⇒ p1 =
qi , reordene, se necessário, de modo que i = 1. Repetindo o processo temos que pi = qi
para algum i = 1, . . . , n e assim n ≤ m e analogamente pode-se mostrar que m ≤ n,ou
seja, m = n e portanto a fatoração é única. 

Teorema 1.2.16. Seja K um corpo. Então existem infinitos polinômios irredutı́veis e


normalizados sobre K.

Demonstração. Suponha que exista um número finito de polinômios irredutı́veis e nor-


malizados. Então existem p1 , p2 , . . . , pn polinômios irredutı́veis e normalizados. E tome o
polinômio p = p1 · . . . · pn + 1. Temos que existe uma fatoração única sobre esses fatores
irredutı́veis e normalizados, logo p = p`1 . . . p`m onde `i = 1, . . . , n para i = 1, . . . , m e
m ≤ n. Temos que p`1 |p ⇒ p`1 |1, contradição. Portanto existem infinitos polinômios
irredutı́veis e normalizados. 

Corolário 1.2.17. Seja K um corpo finito. Para todo n ≥ 1, existem polinômios irre-
dutı́veis sobre K de grau maior que n.

Demonstração. Caso contrário terı́amos um número finito de polinômios irredutı́veis e


normalizados. 

Teorema 1.2.18. Seja f (X) = a0 + . . . + an X n um polinômio em Z[X]. Se s, t ∈ Z, t 6= 0


e s/t é uma raiz de f e mdc(s, t) = 1, então s|a0 e t|an .

Demonstração. Como s/t é raı́z de f temos que a0 tn +. . .+an sn = 0 assim t(a0 tn−1 +. . .+
an−1 sn−1 ) = −an sn , mas como mdc(s, t) = 1 então se d = mdc(sn , t) então mdc(d, s) = 1,
logo d|sn ⇒ d|s ⇒ d = 1. Assim temos que t|an . De modo análogo mostramos que
s|a0 . 

Teorema 1.2.19. Seja f ∈ Z[X]. Então f se decompõe em um produto de polinômios


de grau estritamente menor que o grau de f em Q[X] se, e somente se, admite tal decom-
posição em Z[X].

Teorema 1.2.20 (Critério de Eisenstein). Seja p um primo e f (X) = a0 + . . . + an X n


com coeficientes inteiros tal que p † an , p|ai , i < n e p2 † a0 . Então f é irredutı́vel em Q.

Demonstração. Suponha que f é redutı́vel, isto é, f = gh onde g, h ∈ Q[X], ∂g = k,


∂h = ` e `, k < n. Podemos supor que g, h ∈ Z[X]. Sejam g(X) = b0 + . . . + bk X k e
h(X) = c0 + . . . + c` X ` . Então p|a0 = b0 c0 ⇒ p|b0 ou p|b0 e p2 † a0 . Suponha p † b0 e
p|c0 . Temos que p † an = bk c` ⇒ p † c` . Seja m o menor inteiro tal que p † cm então
p|am = c0 bm + . . . + cm b0 e como p|ci para i < m temos que p|b0 cm , mas p † b0 e p † cm ,
contradição. Portanto f é irredutı́vel. 

Teorema 1.2.21. (Teorema Fundamental da Álgebra) Todo polinômio não constante


com coeficientes complexos admite uma raı́z complexa.

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Corolário 1.2.22. Todos os polinômios irredutı́veis e normalizados sobre C são po-
linômios da forma X − α, com α ∈ C.
Demonstração. Seja p ∈ C[X] um polinômio irredutı́vel e normalizado. Existe α ∈ C tal
que p(α) = 0 assim pelo algoritmo da divisão temos que p(X) = q(X)(X − α) + r(X)
onde ∂r < 1 ou r = 0, isto é, r é constante, mas r(α) = 0, portanto r(X) = 0. Logo
p(X) = q(X)(X − α), mas como p é irredutı́vel e normalizado temos que q(X) = 1. 
Proposição 1.2.23. Se f ∈ R[X] e α ∈ C. Se α é raı́z de f então α é raı́z de f .
Demonstração. Seja f (X) = a0 + . . . + an X n . Então f (α) = a0 + . . . + an αn
= a0 + . . . + an αn = 0 = 0. 
Corolário 1.2.24. Os polinômios irredutı́veis e normalizados de R[X] são da forma X −α
com α ∈ R e da forma X 2 + aX + b com a, b ∈ R e a2 − 4b < 0.
Exemplo 1.2.25. Seja n ∈ N e considere ϕn (X) = X n−1 + . . . + X + 1
(a) Se mdc(k, `) = 1 então (X k − 1)(X ` − 1)|(X − 1)(X k` − 1);
(b) Se n não é primo, então ϕn não é irredutı́vel;
(c) Se n é primo então é irredutı́vel.
(a) Temos que se mdc(m, n) = d então mdc(X m − am , X n − an ) = X d − ad e mmc(f, g) ·
mdc(f, g) = f g para f, g ∈ K[X], onde K é um corpo. Temos também que X k` −1 =
((X k )` −1) = (X k −1)(X k(`−1) +. . .+X k +1). Assim (X k −1), (X ` −1)|(X k` −1) ⇒
mmc(X k − 1, X ` − 1)|(X k` − 1). Logo (X k − 1)(X ` − 1)/(X − 1)|(X k` − 1) ⇒
(X k − 1)(X ` − 1)|(X k` − 1)(X − 1).
(X n − 1)
(b) Se n não é primo, então n = k`, onde mdc(k, `) = 1. Assim ϕn (X) = =
(X − 1)
(X k − 1)(X ` − 1)
q(X) assim ϕn é redutı́vel.
(X − 1)2
((Y + 1)n − 1)
(c) ϕn (Y +1) = = Y n−1 +nY +. . .+n ∈ Z[Y ], e por Eisenstein ϕn (Y +1)
Y
é irredutı́vel e então ϕn (X) é irredutı́vel.

2 Extensões
2.1 Extensões
Definição 2.1.1. Dados dois corpos L e K dizemos que L é uma extensão de K se K é
subcorpo de L. Denotaremos por L : K.
Note que:
∀λ ∈ K, `1 , `2 ∈ L, λ(`1 + `2 ) = λ`1 + λ`2 ;
∀λ1 , λ2 ∈ L, ` ∈ L, (λ1 + λ2 )` = λ1 ` + λ2 `;
∀λ, µ ∈ K, ` ∈ L, λ(µ`) = (λµ)`

Assim L é um K-espaço vetorial. Denotaremos dimK L = [L : K].

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Exemplo 2.1.2. Se K é um corpo então K[X] é anel de integridade. Assim existe o corpo
de frações de K[X] que será denotado por K(X). Temos também que [K(X) : K] = ∞,
pois para todo n ∈ N o conjunto {1, X, . . . , X n } é linearmente independente.

Definição 2.1.3. Sejam L : K uma extensão e {α1 , . . . , αn } elementos de L. Chamaremos


f (α1 , . . . , αn )
de expressão racional de α1 , . . . , αn todo elemento da forma ,onde f, g ∈
g(α1 , . . . , αn )
K[X1 , . . . , Xn ] e g(α1 , . . . , αn ) 6= 0.

Definição 2.1.4 (Adjunção e extensão simples). Seja L : K uma extensão. O con-


junto das expressões racionais de α1 , . . . , αn ∈ L chamamos de conjunto gerado por
K ∪ {α1 , . . . , αn } esses elementos e denotaremos por K(α1 , . . . , αn ). Além disso temos
que este é menor subcorpo de L que contém K e α1 , . . . , αn .
Diremos que L é obtido de K por adjunção de α1 , . . . , αn ∈ L se L = K(α1 , . . . , αn ).
Diremos que L : K é extensão simples se L = K(α1 ).

Definição 2.1.5. Um elemento α é algébrico sobre K se existe um polinômio não nulo


f ∈ K[X] tal que α é raı́z de f .

Exemplo 2.1.6. X ∈ K[X] não é algébrico sobre K. Se fosse então existiria f ∈ K[X]
não nulo tal que f (X) = 0, obrigando f a ser nulo, contradição.

Observação 2.1.7. Seja L : K uma extensão. Suponha que existe um polinômio p ∈


K[X] não nulo que anula α ∈ L. Suponha ainda que p é normalizado e possui o menor
grau entre os polinômios naõ nulos que tem α como raı́z. Então p é irredutı́vel.
Com efeito se p não fosse existiriam f, g ∈ K[X] não constantes tais que p(X) = f (X)g(X)
nesse caso ∂p > ∂f, ∂g. Então como K é corpo, f (α)g(α) = 0 ⇒ f (α) = 0 ou g(α) = 0,
contradição, pois p é possui o grau mı́nimo dos polinômios não nulos que anulam α.
Além disso tome ϕα : K[X] → K[α] tal que ϕα (f ) = f (α). ϕα é um homomorfismo
sobrejetor. Temos que dado f ∈ ker ϕα temos que f (α) = 0 e pelo algoritmo da divisão
f (X) = p(X)q(X), logo f ∈ hpi e a reciproca também é verdadeira. Portanto ker ϕα = hpi
e disso temos que K[X]/hpi ∼ = K[α] sendo assim K[α] um corpo, pois hpi é ideal maximal,
e portanto isomorfo à K(α).

Definição 2.1.8. Seja L : K uma extensão e α ∈ L algébrico sobre K. O único polinômio


normalizado e irredutı́vel p ∈ K[X] tal que α é raı́z de p é chamado de polinômio minimal
de α em K.

Proposição 2.1.9. Sejam L : K uma extensão, α ∈ L algébrico sobre K, e p o polinômio


minimal de α sobre K com d = ∂p e I = hpi. Então:

(a) K(α) = K[α];

(b) p|f para todo f tal que f (α) = 0;

(c) {1, α, . . . , αd−1 } é uma base do K-espaço vetorial K(α).

Demonstração. (a) Temos pela observação 2.1.7 que K[α] é um corpo e ele contém α e
K, logo K(α) ⊂ K[α] e sempre temos que K[α] ⊂ K(α). Portanto K(α) = K[α];

(b) Pela mesma observação temos (b);

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(c) Temos que se a0 + a1 α + . . . + ad−1 αd−1 = 0, isto é, existe q ∈ K[X] tal que q(α) = 0
e ∂q < d, assim o grau de q é menor que o do polinômio minimal e portanto
q = 0 ⇒ ai = 0, ∀i = 1, . . . , d − 1.
Assim dado x ∈ K[α] = K(α) segue que existe f ∈ K[X] tal que x = f (α),
mas pelo algoritmo da divisão temos que existem q, r ∈ K[X] tais que ∂r < d e
f (X) = p(X)q(X) + r(X). Logo x = f (α) = r(α) e portanto x ∈ [1, α, . . . , αd−1 ].


Corolário 2.1.10. Se α pertence a uma extensão de K e é algébrico sobre K, então


[K(α) : K] = ∂p, onde p ∈ K[X] é o polinômio minimal de α.

Proposição 2.1.11. Sejam L : K uma extensão e α, β ∈ L algébricos sobre K. Se α e β


possuem o mesmo polinômio minimal então existe K(α) ∼= K(β).

Demonstração. Pela observação 2.1.7 temos que K[X]/hpi ∼ = K(α) e K[X]/hpi ∼


= K(β),

a relação de ser isomorfo é relação de equivalência temos que K(α) = K(β). 

Definição 2.1.12. Uma extensão L : K é uma extensão algébrica se todo elemento de L


é algébrico sobre K.

Proposição 2.1.13. Toda extensão finita é algébrica

Demonstração. Seja n = [L : K] temos que {1, α, . . . , αn } é um conjunto linearmente


dependente, pois possui n + 1 elementos. Logo existem a0 + a1 α + . . . + an αn = 0 onde
existe i = 1, . . . , n tal que ai 6= 0. Portanto existe um polinômio não nulo que tem α como
raı́z. 

Observação[
2.1.14.
√ Note que nem todo extensão algébrica é finita.

De fato L = ( 2, . . . , p) é algébrica, mas não é finita.
p∈Z

Proposição 2.1.15. Sejam L : M e M : K extensões. Então L : K é extensão finita se,


e somente se, L : M e M : K também são e além disso [L : K] = [L : M ][M : K].

Demonstração. Suponha que L : M e M : K são extensões finitas. Então existem bases


{α1 , . . . , αn } de L : M e {β1 , . . . , βm } de M : K. Disso temos que o conjunto ! {αi βj |i =
X n X m Xn Xm
1, . . . , n; j = 1, . . . , m} gera L : K. Seja aij αi βj = aij βj αi = 0 como
i=1 j=1 i=1 j=1
{αi } é linearmente independente segue que m
P
j=1 aij βj = 0 para todo i = 1, . . . , n. Por-
tanto aij = 0 para todo i = 1, . . . , n e j = 1, . . . , m. Assim é de fato uma base de L : K.
Suponha reciprocamente que L : K é finita, então [M : K] ≤ [L : K], pois M ⊂ L. Pela
mesma construção anterior terı́amos que [L : K] = ∞ se [L : M ] = ∞. 
√ √
Exemplo 2.1.16. √ √ Calcule√o grau da
√ extensão Q( 3 5, 7). √ √ √
Considere Q( 3 5, 7)√: Q( 3 5) e Q( 3 5) : Q. Temos que se n = [Q( 3 5, 7) : Q( 3 5)] > 1
então n = 2, pois {1, 7} é√um conjunto √ gerador. √ √
3 3
Suponha
√ que n = 1,√ então 7 ∈ Q( 5),
√ logo existem a, b, c ∈ Q tais que 7 = a + b 5+
c 3 25 ⇒ (b2 + 2ac)( 3 5)2 + (2ab + √ 5c2 ) 3 5 + (10ab + a2 − 7) = 0 e disso existe um polinômio

de grau 2, em Q[X], que anula 3 5, contradição, pois o polinômio minimal de 3 5 tem
grau 3.

8
Proposição 2.1.17. Para que uma extensão L : K seja finita, é necessário e suficiente
que L : K seja algébrica e existam α1 , . . . , αn tais que L = K(α1 , . . . , αn ).

Demonstração. Suponha que L : K é uma extensão finita. Então considere {α1 , . . . , αn }


uma base de L. Logo dado x ∈ L ⇒ x = a1 α1 + . . . + an αn ⇒ x ∈ K(α1 , . . . , αn ) e disso
segue que L ⊂ K(α1 , . . . , αn ) e temos também K(α1 , . . . , αn ) ⊂ L.
Suponha que L = K(α1 , . . . , αn ) : K é uma extensão algébrica. Provemos que é finita por
indução em n:
Seja n = 1 e K(α1 ) uma extensão algébrica e p o polinômio minimal de α1 sobre K.
Então [K(α1 ) : K] = ∂p e portanto é finita.
Seja K(α1 , . . . , αn , αn+1 ) uma extensão algébrica e p o polinômio minimal de αn+1 sobre K.
Então K(α1 , . . . , αn ) : K é finita e [K(α1 , . . . , αn , αn+1 ) : K(α1 , . . . , αn )] ≤ ∂p. Portanto
K(α1 , . . . , αn , αn+1 ) : K é finita. 

Teorema 2.1.18 (Teorema de Kronecker). Para todo polinômio irredutı́vel normalizado


p ∈ K[X] existe uma extensão L : K e um elemento α ∈ L onde p é o seu polinômio
minimal sobre K.

Demonstração. p irredutı́vel logo K[X]/hpi é corpo, considere ϕ : K → K[X]/hpi onde


ϕ(x) = x. ϕ é um homomorfismo. Seja a ∈ ker ϕ então ϕ(a) = 0 ⇔ a = pf, f ∈ K[X],
mas ∂a = 0 ⇒ a = 0, e portanto ϕ é injetora e K ∼ = Im ϕ. Seja α = X temos que
n
p(X) = a0 + . . . + an X = a0 + . . . + an X n = 0, logo α é raiz de p. 

Corolário 2.1.19. Para todo polinômio irredutı́vel e normalizado p ∈ K[X], existe uma
extensão K(α) : K de grau ∂p tal que p(X) = (X − α)g(X), onde g ∈ K(α)[X].

Demonstração. Pelo teorema de Kronecker, existe α ∈ K[X]/hpi onde p(α) = 0. Assim


[K(α) : K] = ∂p e pelo algoritmo da divisão existe um polinômio g ∈ K(α)[X] tal que
p(X) = (X − α)g(X). 

Definição 2.1.20 (Polinômio cindido). Seja L um corpo. Dizemos que um polinômio


f ∈ L[X] é cindido sobre L se todos seus fatores irradutı́veis são de grau 1.

Teorema 2.1.21. Seja K um corpo. Para todo polinômio f ∈ K[X], não constante,
existe extensão finita L : K tal que f é cindido sobre L

Demonstração. Mostremos por indução:


Suponha que ∂f = 1 então f é naturalmente cindido sobre K.
Seja n ∈ N qualquer e ∂f = n + 1 então existe uma extensão M : K tal que existe
α ∈ M onde f (α) = 0. Então pelo algoritmo da divisão existe g ∈ K(α)[X] tal que
f (X) = (X − α)g(X). Note que K(α) : K é extensão finita e ∂g = n e pela hipótese de
indução existe uma extensão finita L : K(α) tal que g cinde sobre L. Então L : K é uma
extensão finita e f cinde sobre L. 

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