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Imagem 1 – Povoado de Ati-Açú, em meados do ano de 19501.

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Começar... (Re)Começar... “[...] uma luta para manter a memória e, portanto, para manter a palavra, as
histórias, os cantos que ajudam os homens a se lembrarem do passado e, também, a não se esquecerem do
futuro” (GAGNEBIN, 2006, p. 15). É disso que meu avô falava ao meu pai. Meus. História, memória,
lembrança, recordação. Para meu avô, uma Alemanha que ficava para trás, mas que significante, ainda
ecoava. Para meu pai, uma outra Alemanha. Um imaginário. Sentidos que, por todos os lados, reclamavam
sua existência, se perpetuavam. Uma nova “terra”... Uma nova “promessa”... Um futuro, deslumbrantes as
olhos, acalento para a alma. Passado, presente, futuro: intersecções nas quais o comum é a busca. Pela vida.
Pela história. Pela memória. Lugares que foram vividos, que foram imaginados: “que ora precisam ceder à
tensão, para, descompor, desconstruir, desestabilizar, desabrigar, desintegrar o que deles e neles se
sedimenta” (BRUST, 2017, p. 26). Ao avô, ao pai, ao filho. O lugar de constituição da história que, sim,
abriga a memória. Lugar onde em que meu pai, na sua juventude, aprendeu a ouvir os mais “velhos”.
Aqueles que difundiam a memória na/pela língua: herança cultural. Assim como meu pai, aprendi a ouvir
os mais “velhos”, porque – me disse – são “sábios”. Neste pequeno povoado, onde meu avô, longe da
Alemanha, começou a (re)construir sua história e onde, mais tarde, meu pai também fixou raízes (que
seguem presas, com vivacidade, ao chão), cresci. Ouvindo, sempre, os mais “velhos”, que, geração após
geração, testemunhavam e celebravam sua história. Mas algo sempre faltava. Eu pensava: “– Por que
precisava fugir da Alemanha?”. Isso, raramente, era contado. A vontade de saber o que se passou crescia
como algo que provocava a curiosidade. Por isso, houve a necessidade de ouvir sobre o que aconteceu. De
ouvir sobre o que foi ocultado. De ouvir sobre o que não poderia ser dito. De ouvir sobre o que, eu sabia,
estava interditado. Uma terra, não esta, mas aquela que, paulatinamente, escondeu algo da história, da
memória, da lembrança, da recordação, atrás das quais, agora busco. Mesmo que sejam de outros, mas que
sejam, ainda, possibilidade.
Fonte: arquivo pessoal do autor.

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