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Istituto Europeo di Design

Trabalho de Conclusão de Curso

Bruna Cristina Sousa Rodrigues de Oliveira


Orientador: Rodrigo Silveira

São Paulo
2018
Resumo
Este estudo é o registro do processo de pesquisa e
desenvolvimento do trabalho de conclusão do curso de Design
Gráfico e Digital, desenvolvido no Istituto Europeo di Design, em
São Paulo, entre 2017 e 2018. O projeto “Translúcida” pretende
trazer uma reflexão sobre a degradação da arquitetura histórica
no Centro de São Paulo.

O texto se inicia com um panorama sobre a arquitetura histórica


e patrimônio material, retratando a história do centro da cidade e
em seguida a importância da memória urbana para a conservação.
Então, discorre sobre a situação atual da cidade de São Paulo,
a degradação do espaço público e exemplos de restauração do
patrimônio histórico.

O último capítulo é uma análise sobre o processo de criação do


livro objeto “Translúcida” e as etapas percorridas para chegar até
o resultado final.

Palavras-Chave
Patrimônio Histórico, Degradação, Memória Urbana
Abstract
This study is a register of the research and development
process of the Graphic Design project “Translúcida”, developed
in São Paulo between 2017 and 2018. The "Translúcida" project
intends to generate a debate about the deterioration of historical
architecture in the Center of São Paulo.

The text begins with details of history and material heritage,


portraying the history of the city and then the importance of
urban memory for the conservation of itself. Then, it discusses
the current situation of São Paulo, the deterioration of the public
areas and examples of restoration of historical patrimony.

The final chapter is an analysis of the creative process of the book


and the steps taken to get to the end result.

Keywords
Historical Patrimony, Deterioration, Urban Memory
Sumário
1 Arquitetura Histórica e Patrimônio
Material 19
1.1 São Paulo e o Centro Histórico 21
1.2 Patrimônio Histórico 33
1.2.1 Contexto e Identificação 33
1.2.2 Como identificar o
Patrimônio Histórico 37
1.3 Arquitetura Histórica no
Centro de Sâo Paulo 41
1.3.1 Mosteiro de São Bento 47
1.3.2 Edifício Martinelli 49
1.3.4 Centro Cultural Banco
do Brasil 51
1.3.5 Pateo do Collegio 53
1.3.6 Catedral da Sé 55
1.3.7 MASP 57
2 O Centro de São Paulo e a Memória
Urbana 59
2.1 Memória Urbana 61
2.2 O Centro de São Paulo Hoje 69
3 A degradação do espaço público em
São Paulo 75
3.1 A degração do espaço público
e as razões para o seu
acontecimento 77
3.2 Restaurações do Patrimônio
histórico arquitetônico no
centro de São Paulo
4 Processo Criativo 91
4.1 Edifícios degradados em uso 99
4.2 Edifícios degradados ocupados 105
4.3 Conceitos, Insights e Naming 109
4.4 Cores, Identidade e Materiais 111
5. Considerações fInais 137
Bibliografia 143

9
Introdução
11
A cidade de São Paulo, fundada em 1554, nos arredores
do Pateo do Collegio, oferece ainda antigos retratos do que
já foi e, com eles, mostra o que se tornou. Com suas refações e
reconstruções, tornou-se o que é representado pela expressão
que muitos já ouvimos: uma “selva de pedras”. Vivemos na loucura
de cada uma de nossas vidas, em uma cidade que não para, que
não tem descanso. Trazemos, enquanto habitantes, a pressa e
o imediatismo, impregnados nessa tal selva. Fazemos parte de
um todo e esse todo é uma multidão de pessoas sem percepção
sobre o que está acontecendo ao seu redor e o que pode um dia ter
acontecido no lugar em que estamos, aqui e agora.

Em 2002, uma pesquisa foi feita para definir qual o fluxo de


pessoas que passava pelo centro de São Paulo e foi descoberto que,
por dia, cerca de 2 milhões de pessoas circulam por lá. O centro é
o destino de 22% das pessoas que utilizam o transporte público (2
MILHÕES, 2002). Dentre as 10 estações mais utilizadas do metrô
de São Paulo, 4 são estações da região central da cidade. Elas são:
Luz, República, Consolação e Anhangabaú (SANTOS, 2015). É o
local da cidade onde estão todos os meios de transporte que se

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pode utilizar e é o local com mais pontos históricos. Mesmo assim,
desde 1970, o centro da cidade vem sendo degradado com projetos
de revitalização que, em sua maioria, não funcionam, e isso acaba
fazendo com que cada vez mais pessoas não tenham vontade de
ir ao centro e não tenham interesse em conhecer sobre. Muitas
das pessoas que trabalham e estudam na região sequer sabem da
relevância que ela tem para nós, enquanto paulistas.

A restauração é presente em algumas das construções


históricas e tombadas no centro, mas é na esquina da rua Floriano
Peixoto, entre a praça da Sé e o Pateo do Collegio, que se encontra
uma construção que despertou na autora a sensação de que falta
alguém que olhe para o problema do esquecimento. O Edifício
Rolim, construção de 1928 (na época, um dos mais altos da
cidade), se encontra em estado de degradação e esquecimento, de
modo que quem passa pelas redondezas – uma das regiões mais
movimentadas da cidade – não o enxerga.

A desconexão geográfica é sintoma de uma doença grave


para o futuro de uma cidade: a desconexão histórica.
Riscar aquele espaço do mapa significa comprometer a sensação
de pertencer a uma comunidade, com suas dores e alegrias,
fracassos e sucessos, aventuras e desventuras. (DIMENSTEIN,
Gilberto. São Paulo: 450 Anos Luz.
Página 9, 2004)

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Considerando esse contexto e situação, a presente pesquisa
pretende responder algumas perguntas (sua problemática),
sendo elas as seguintes: por que há dificuldade de manutenção
do patrimônio histórico na cidade de São Paulo? Por que algumas
construções em estado de calamidade são ignoradas? Como o
design pode ajudar a conscientizar a população sobre o processo
de degradação arquitetônica?

Essas perguntas têm como finalidade questionar a


degradação e entender o modo como isso afeta a memória
coletiva da população. A população tende a cuidar de tudo
aquilo com o que se identifica; portanto, quando falamos sobre
degradação e esquecimento, podemos perceber que não existe
mais uma conexão do próprio cidadão com a região e, por isso,
é um problema que precisa de atenção. Como disse Carla Caffe,
ilustradora e arquiteta que faz retratos de diversas paisagens
da cidade de São Paulo: “Parece que a gente não liga para o que
fazem com a nossa cidade. Ninguém acha que é dono, ninguém
se apropria dela. (...) Porque o reflexo da nossa imagem é também
nossa história, mas é preciso investigar para onde queremos ir”.

O objetivo principal desta pesquisa é entender o que


leva algumas construções a passarem por esse processo de
esquecimento e o que gera atenção para outras construções com
características semelhantes, trazendo então o tombamento e a
restauração.

15
Alguns outros objetivos podem ser citados, como desenvolver
a consciência da população com relação ao centro de São Paulo e
a memória urbana da cidade, tentando fazer com que as pessoas
se interessem mais pelo espaço público que lhes pertence; criar
um material que desperte a curiosidade nas pessoas sobre onde se
encontra o edifício em questão e quais são os motivos pelos quais
a construção não é tombada e considerada patrimônio histórico
– mesmo tendo sido durante um breve período de tempo o prédio
mais alto de São Paulo; gerar o diálogo sobre as construções
históricas pertencentes à cidade e qual a relevância delas para o
que somos hoje.

Para entender um pouco mais sobre os edifícios em


questão, sua história, sua relevância e o seu “esquecimento”,
vamos tratar primeiramente da arquitetura histórica da cidade e
do início das construções que fizeram do centro local de prestígio
da cidade no passado, entendendo também os movimentos
arquitetônicos presentes nas obras e explorando o universo do
patrimônio histórico e tombamento. Em seguida, trataremos
sobre os arquitetos responsáveis pelas construções. Entraremos,
então, no assunto da desconexão geográfica e a memória
urbana da cidade, tentando entender o porquê da degradação
e do esquecimento de construções históricas, passando pelos
contextos sociais e financeiros. Espera-se, assim, responder à
primeira das perguntas sobre o que gera essas degradações, sendo
que construções semelhantes e da mesma época são tombadas
e foram restauradas. Por fim, entenderemos sobre o processo

16
criativo e nos aprofundaremos nas escolhas de design do produto
final, respondendo à pergunta inicial sobre o que o design pode
fazer para gerar a conscientização da população a respeito da
degradação.

Um dos métodos de pesquisa utilizados é o método


dedutivo, que favorece a coleta e a identificação de padrões em
modelos, descrições, conceitos e teorias apresentados por obras
de autores como Roberto Pompeu de Toledo, Antônio Barreto do
Amaral, Mário de Andrade entre outros; bem como no segundo
capítulo, com autores como André Luis Balsante Caram contando
a história de Hyppolito Gustavo Pujol e Milena Leonel e Emiliano
Hagge, trazendo recursos sobre algumas das construções também
projetadas por Pujol. Mais tarde, ainda trabalhando com o método
dedutivo, será abordada a memória urbana da cidade, utilizando
fontes de autores como Sarah Feldman e, então, o método crítico é
utilizado ao se considerar dialeticamente a degradação da cidade,
com fontes como reportagens e dados históricos sobre São Paulo.

17
1. Arquitetura
Histórica e
Patrimônio
Material

Neste capítulo, são apresentadas informações e reflexões


referentes à arquitetura histórica do centro da cidade e como essa
arquitetura foi influenciada pelos acontecimentos de cada época,
cultura e região. Serão apresentadas também definições e meios
de identificação do patrimônio histórico da cidade.

19
1.1 São Paulo
e o Centro Histórico

A cidade de São Paulo conta hoje com 12,04 milhões de


habitantes e se concentra em uma área de 1.521,110km². Hoje, é
considerada o principal centro econômico e sede das principais
instituições financeiras da América do Sul. Pensando na cidade, se
tem o sentimento de grandeza perene, de que sempre foi assim,
mas a cidade de São Paulo demorou para tomar para si a fama de
gigante e, até a Independência do Brasil, em 1822, crescia em ritmo
lento, enquanto cidades como Campinas, Lorena, e Itu já eram
muito maiores. Mesmo após a Independência, segundo Roberto
Pompeu de Toledo, a cidade em quantidade de população, ainda
ficava atrás de Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belém, Niterói,
Porto Alegre, Fortaleza e Cuiabá.

São Paulo era a prima pobre, a enjeitava, a excluída – capital


distante e roceira de uma província que passara os três primeiros
séculos e meio de vida imersa no sono das coisas que ainda não
aconteceram". (TOLEDO, 2015, p. 16)

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 21


Essa realidade foi mudando pouco a pouco, e de repente a
cidade começou a dobrar de tamanho a cada 3 ou 4 anos. Segundo
Toledo, “São Paulo é feita de travessias bruscas” (TOLEDO, 2007
). No segundo Censo Nacional, de 1890, a população dobrou –
64.934. Numa contagem promovida pelo governo do estado em
1893, apenas três anos depois, dobrou de novo – 130.775. E no
terceiro Censo Nacional, em 1900, tinha 239.820 habitantes. Já
era a segunda cidade brasileira, atrás apenas do Rio de Janeiro.

A cidade de São Paulo foi fundada no dia 25 de janeiro de


1554, numa colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú. Um
grupo de padres jesuítas –dentre eles Padre José de Anchieta e
Padre Manuel da Nobrega – estava em busca de um local para
fundar sua escola missionária, com o objetivo de catequizar os
índios e acabou encontrando, nos campos de Piratininga, “um
local com ares frios e temperados como os de Espanha, com uma
terra sadia, fresca e de boas águas” (TOLEDO, 2015). Onde hoje se
encontra o Pateo do Colégio, foi instalado o Colégio dos Jesuítas,
gerando interesse de quem já habitava os arredores.

Além do interesse de habitantes da região de Santo Amaro


pelo Colégio dos Jesuítas, próximo a São Paulo de Piratininga,
colonizadores portugueses haviam fundado a Vila de Santo André
da Borda do Campo. Mem de Sá, Governador Geral da região,
pediu que a população de Santo André da Borda do Campo se
unisse a São Paulo de Piratininga. Assim, surgia a cidade, cercada
por casas de taipa construídas pelos mamelucos e portugueses.

22
Imagem 1: Fundação da Cidade de São Paulo, obra de Antônio Parreiras
Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/81/Ant%C3%B4nio_Parreiras_-_
Funda%C3%A7%C3%A3o_de_S%C3%A3o_Paulo%2C_1913.jpg> Acesso em 23 mai. 2018.

O território da região paulista era habitado por nações


tupiniquins e tupinambás, algumas das tribos estabelecendo bom
relacionamento com os portugueses, enquanto outras nem tanto.
A mistura dessas etnias é o que gerou o “mameluco”. Devido a esta
por vezes difícil relação, em 1562 houve um grande ataque dos
tamoios na aldeia de Pinheiros, que quase destruiu o que já era
uma pequena São Paulo, gerando uma distanciação dos centros
de colonização portuguesa e, assim, dificultando o crescimento
econômico da cidade.

Em 1555, iniciou-se a construção da primeira Igreja da Sé,


que nos séculos seguintes seria reconstruída diversas vezes – o
local de sua versão atual foi definido em 1911 e sua construção

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 23


começou no ano seguinte, levando cerca de seis décadas para
completar-se. (SOUZA, 2004, p. 25)

A economia baseava-se numa tentativa falha de implantar


uma cultura canavieira, e na lavoura de subsistência. Por não ter
recursos disponíveis, a população se uniu em busca de índios no
sertão e de minerais preciosos. Segundo Souza (2004),

Muitos historiadores defendem a tese de que a fundação


de São Paulo não foi apenas um ato de amor ao próximo dos
missionários Jesuítas. Na verdade, o povoado teria surgido como
posto militar dos portugueses, no planalto, para facilitar o avanço
dos bandeirantes em sua jornada aos metais preciosos.

Essa expedição gerava na expansão do território brasileiro


pelo interior, deixando bandeiras onde passavam – e de certa forma
foi responsável também pela extinção de nações indígenas. No
século XVII, os bandeirantes, seguindo pela serra da Mantiqueira,
chegaram às regiões hoje conhecidas como São João Del Rei,

Ouro Preto e Sabará, e ali descobriram grande quantidade


de ouro, tanto que gerou uma nova fase econômica para a colônia.
A descoberta do ouro virou notícia, e levou para Minas Gerais
portugueses de várias partes do Brasil. Esses habitantes de outras
regiões entraram em choque com os paulistas, e esse conflito
hoje é conhecido como “Guerra dos Emboabas”. O conflito que
expulsou os paulistas de Minas Gerais, os forçou a sair novamente

24
em busca do ouro, e eles acabaram por descobrir minas de ouro
em Goiás e em Cuiabá, no início do século XVIII.

Em 1711, a Vila de São Paulo de Piratininga foi elevada à


cidade. Ainda nesta época, a maioria da população se baseava
em índios, mamelucos e estrangeiros, mas ainda contava com
sua maioria indígena. Isso fazia com que língua fosse algo bem
diferente do que temos hoje, como diz Milton Parron (2004):
Se alguém nos tempos atuais embarcasse em uma máquina do
tempo para São Paulo no período colonial, não reconheceria a
cidade e nem seus habitantes. E também teria dificuldade para
se comunicar. Até meados do século XVIII, o número de índios
e mamelucos superava e muito o de europeus. Por isso, a maior
parte da população falava uma “língua geral”, aliás predominante
em toda a região.

A partir do final do século XVIII, o mundo passou por uma série


de transformações radicais. A Revolução Francesa mandou a
monarquia para a guilhotina, a Revolução Industrial alterou a
face da Inglaterra com a mecanização e as máquinas a vapor, e
as guerras napoleônicas mudaram o perfil da Europa. (SOUZA,
2004, p. 30)

A economia de São Paulo começou a prosperar no início do


século XIX, com a chegada das plantações de café para substituir
as de cana-de-açúcar. Em 1808, a chegada da Família Real
portuguesa representou o fim do Período Colonial.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 25


Segundo Parron (2004),

As reformas promovidas por D. João VI, que deveriam adequar


o país como sede da monarquia lusa não só criaram condições
para a Independência como beneficiaram São Paulo. Aliás a
emancipação do Brasil foi proclamada pelo príncipe D. Pedro I, à
entrada de São Paulo, junto ao riacho Ipiranga.

Sobre a independência do Brasil, Souza (2004) diz:

Em 1822, foi o Brasil que se livrou do jugo português. Em 7 de


setembro daquele ano, no gesto simbólico mais célebre da
história do país, o príncipe Dom Pedro deu o “grito do Ipiranga”
na chácara do coronel João de Castro do Canto e Mello, pai da
marquesa de Santos, que era sua amante. Estava fundado o
império do Brasil, tendo como monarca Dom Pedro I. No local,
encontram-se hoje o Parque da Independência e o Museu do
Ipiranga, cujo nome oficial é Museu Paulista.

A partir de então, a cidade passava por diversos tipos


de progresso. O núcleo urbano se concentrava no que hoje é
conhecido como “Triângulo Histórico”, formado pelas ruas São
Bento, Direita e XV de Novembro. Iniciaram-se pavimentações de
outras regiões do centro, instalou-se um sistema de escoamento
das águas pluviais, criou-se o jardim da luz, iniciou-se a retificação
do rio Tamanduateí, etc. Nesse período de tempo, a obra que mais
se destacou foi em 1828, a instalação da Academia de Direito do
Largo de São Francisco. Após a Independência, o país necessitava
de uma Constituição.

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Imagem 2: O Grito do Ipiranga - obra de Pedro Américo
Fonte: <https://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2015/02/o-grito-do-ipiranga.jpg>
Acesso em 23 mai. 2018.

A partir do ano de 1840, a economia de São Paulo estaria


consolidada com o desenvolvimento da cafeicultura, se tornando
o principal produto de exportação do país. Segundo Souza (2004),

(...) em 1836, o porto de Santos já despachava 100 mil sacas de


café para a Europa e os Estados Unidos. Em 1898, esse número
saltou para 5,5 milhões e, em 1901, para 9,5 milhões. A partir de
1850, São Paulo na dianteira, o café se tornou o principal produto
de exportação do Brasil – e continuou a sê-lo pelos cem anos à
frente. São Paulo, assim, passou a se destacar nacionalmente.
Em 1867, foi iniciada a construção de uma estrada que mais para
frente se tornaria conhecida como São Paulo Railway, indo de
Santos a Jundiaí.

Parron (2004) descreve:

Seguiu-se um período de grandes transformações, marcado pela


crise do sistema escravista, abolido em 1888. A partir de 1870,

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 27


a falta de mão-de-obra escrava provocara a chegada maciça de
imigrantes europeus, sobretudo italianos.

A vinda dos imigrantes para São Paulo influenciou bastante


no crescimento da cidade. São Paulo ficou conhecida como “a
cidade dos mil sotaques”. Parron (2004) reforça que “Sem os
imigrantes, força motriz da cidade que iniciava seu progresso
econômico, São Paulo não seria o que é hoje”.

Entre 1875 e 1900, 800 mil imigrantes se consolidaram na


cidade. De acordo com Souza (2004), “na virada do século, havia
dois italianos para cada brasileiro na cidade”. A imigração começou
a ser estimulada por Dom João VI, que fugiu para o Brasil com a
Família Real e chegou em 1808, criando um decreto que permitia
aos estrangeiros tomarem posse das terras. A partir de 1824, o país
recebeu italianos, alemães e suíços que se instalaram nas regiões
sul do país. A cafeicultura procurava por mão de obra estrangeira
desde que o tráfico de escravos africanos havia sido proibido por
Dom Pedro II em 1850.

Segundo Souza (2004):

Os imigrantes eram contratados pelo sistema conhecido como


Colonato: um salário fixo para cuidar de um determinado
número de pés de café, uma quantia variável para a colheita,
mais o direito de moradia e o de plantar lavoura de subsistência
e criar animais dentro da propriedade. A partir de 1880, iniciou-
se a imigração estrangeira em massa.

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Imagem 3: Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo
Fonte: <http://www.scielo.br/img/revistas/hcsm/v21n1//0104-5970-hcsm-2014005000008-gf02.jpg>
Acesso em 23 mai. 2018.

Onde hoje abriga o Museu da Imigração, costumava ser a


Hospedaria dos Imigrantes. Tinha capacidade para alojar 4 mil
pessoas, tendo alojado mesmo assim 8 mil.

Em 1908, com a chegada do navio Kasatu Maru, chegava


ao Brasil a primeira leva dos imigrantes japoneses, destinados
ao trabalho nas lavouras de café. Eram 165 famílias e até o início
da Segunda Guerra Mundial mais de 180 mil japoneses já teriam
emigrado e se consolidado no país. O início foi difícil, com o
país ainda tendo em si impregnada a tradição escravocrata. Os
colonos eram vistos como “escravos brancos ou, no mínimo,
gente de terceira classe” (SOUZA, 2004, p. 35). Por este motivo,
havia um grande fluxo de colonos fugitivos que vinham para São
Paulo em busca de novas oportunidades que pudessem ajudá-los
na busca de uma vida digna. Havia também um grande conflito
entre os fazendeiros e os imigrantes italianos, que acusavam seus

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 29


patrões de submetê-los à violência. Segundo Sousa (2004, p. 41):
“A longo prazo, a dignificação do trabalho seria uma das maiores
contribuições dos imigrantes ao Brasil”.

Mesmo com os conflitos que eram gerados entre fazendeiros e


imigrantes, muitas histórias de imigrantes são consideradas
de extrema importância para a cidade. Como por exemplo a
história do conde Francisco Matarazzo. De acordo com Souza
(2004, p. 43),

Ele chegou a Santos em 1881, aos 27 anos. Trazia a mulher,


dois filhos, um punhado de libras esterlinas e uma carga de
toucinho – que naufragou ao ser transportada do navio ao cais
de Santos num pequeno barco. O futuro conde instalou-se em
Sorocaba e abriu uma venda. Adquiriu uma tropa de burros para
suas compras de mercadorias e logo iniciou uma parceria com
criadores de porcos, passando a fabricar a banha que antes era
importada dos Estados Unidos.

Souza continua:

Onze anos depois, morando na capital, onde montara um


entreposto de distribuição na rua 25 de março, abriu um
moinho de trigo. Foi a primeira fábrica de um conglomerado
que chegou a ter 365 empresas, cobrindo 2 mil quilômetros
quadrados, com 30 mil operários, 5 mil trabalhadores rurais e
mil técnicos especializados. No dia da morte de Matarazzo, em
1937, o comércio de São Paulo fechou as portas e suspenderam
o trabalho.

30
Os imigrantes trouxeram para São Paulo diversos novos
hábitos, dentre estes podem ser considerados modos de se vestir,
de se comunicar, de se alimentar. Trouxeram também técnicas e
hábitos culturais que transformaram o país.

No campo, desenvolveram culturas desconhecidas dos


brasileiros. Nas cidades, impulsionaram a indústria, o comércio
e os serviços, dando início a profissões ainda inexistentes ou
incipientes. Eram alfaiates, costureiras, parteiras, sapateiros,
pedreiros. Outras categorias em que se envolveram foram as de
portuários, cocheiros, gráficos, tecelões e ferroviários. (SOUZA,
2004, p. 52)

Com o tempo, os imigrantes foram se consolidando em
bairros que hoje são conhecidos por suas tradições, festas,
culinária e até mesmo o comércio. Em 1910, de 450 mil habitantes
da cidade de São Paulo, 100 mil eram italianos, 40 mil portugueses,
40 mil espanhóis, 10 mil alemães, 5 mil sírios. Até 1950, 250 mil
imigrantes japoneses. De acordo com Souza, “ao longo dos anos
1930, a onda migratória da Europa desacelerou-se e São Paulo
passou a receber mais migrações do Nordeste brasileiro, os
fugitivos da seca. Hoje existem 72 etnias diferentes convivendo
em São Paulo” (2004, p. 58).

O centro histórico de São Paulo teve seu destaque no século


XX e, na década de 70, iniciou-se um processo de degradação
e esquecimento por parte dos habitantes da cidade. Alguns
dos motivos para tal foram a degeneração do espaço público, o

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 31


aumento da criminalidade, o aumento do número da população
de ruas, surgimento de cortiços e a piora na qualidade de vida
fizeram com que boa parte da população já estabelecida na região
migrasse para outras regiões, ocasionando o esvaziamento da
região até o início da década de 90.

Uma sugestão frequente para a solução da degradação


atual da cidade é a desapropriação de edifícios vazios e utilização
desses prédios para instalação de repartições municipais, uma
vez que essa área é a melhor atendida por transportes públicos.
O incentivo das grandes empresas a se instalarem nos arredores
uma vez que o aluguel poderia ser muito mais atrativo do que
os dos grandes centros empresariais. De acordo com Nogueira
(2015), há quem acredite que a solução para esse problema seja
atrair moradores em larga escala e reativar edifícios em péssimo
estado de conservação. Há também quem aposte no Centro como
um polo cultural e de economia criativa.

De acordo com Nogueira (2015), a saída da estação de trem


Júlio Prestes, no centro de São Paulo, assusta quem não conhece
a região e será revitalizada em breve, ela é o alvo para o começo
da revitalização do entorno dessa região. O projeto, que tem a
previsão para ser entregue em agosto de 2019, prevê uma área
para eventos com capacidade para 5.000 pessoas, espaço infantil
e recreativo e nova pavimentação e mobiliário urbano, além de
nova iluminação e monitoramento por câmeras.

32
1.2 Patrimônio Histórico
1.2.1 Contexto e Identificação

Desde o início da civilização, os patrimônios históricos


figuram como um assunto de extrema importância na análise da
memória física dos países. De acordo com Fonseca (1997, p. 53),
“na Idade Média, a aristocracia projetava nos seus castelos e em
outras representações de suas linhagens um sentido de símbolos
de continuidade, e, por essa razão, esses bens se tornavam também
objeto de preservação”. Após a Revolução Francesa, o conceito de
Patrimônio Histórico começou a ser disseminado pelo mundo
através de leis de conservação e restauração dos monumentos
históricos de cada cidade, principalmente as Europeias, criando
um costume que é normal observar até hoje no mundo como
um todo, de manter viva sua essência através de bens materiais
físicos históricos. O patrimônio histórico, ou patrimônio cultural,
mais abrangente e certeiro, como se refere Lemos (2006), são
bens materiais como estátuas, igrejas, praças etc. que marcam
uma determinada vivência de alguma sociedade. Por exemplo, no
Rio de Janeiro tem-se o Cristo Redentor, que é considerado um
patrimônio histórico do Brasil devido à sua importância para a
cidade do Rio e para o Estado como um todo.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 33


Na maioria das legislações que regem os países é de fato
dever estatal preservar o patrimônio cultural. A UNESCO, após
a Segunda Guerra Mundial, passou a ressaltar a importância dos
bens materiais que tinham relação com a cultura dos países como
patrimônio da humanidade. No Brasil, é possível encontrar na
Constituição Federal de 1988, no artigo 216, uma ampla concepção
do que é patrimônio cultural e quem deve cuidar do mesmo, como
pode se observar abaixo, no trecho referente ao artigo retirada da
mesma:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens


de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro,
por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento
e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear
sua consulta a quantos dela necessitem.

34
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o
conhecimento de bens e valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos,
na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores
de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

Dessa maneira, respaldado pela legislação do país, pode-se


entender que o patrimônio histórico cultural retoma o modo de
viver do país ali presente, tendo sua garantia de preservação na lei
vigente em cada Estado em particular.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 35


1.2.2 Como identificar
o Patrimônio Histórico

Segundo Duarte (2003), para serem definidos patrimônio


histórico, os bens materiais passam por um intenso processo de
seleção, como uma triagem, para identificar se realmente tem
pertinência considerá-lo importante no contexto histórico do
país, se selecionado como tal, deve-se conservá-lo, a fim de manter
as características originais o máximo de tempo possível, para que
sejam passados de geração em geração e, principalmente, devem
existir de forma que gerem comoção coletiva em todos os grupos
sociais que organizam e selecionam a memória dos mesmos,
isto é, para que um bem seja considerado patrimônio cultural, é
necessário que todos saibam a importância da sua existência.

De acordo com Babelon & Chastel (1994), o conceito de


patrimônio permeia vários aspectos para que seja compreendido,
pois, nas palavras dos autores, existem diversas camadas, como
de uma cebola, que o comportam. A maneira como conhecemos
hoje em dia os patrimônios carrega traços dessas camadas que
ajudaram a projetá-los. Os autores (BABELON & CHASTEL,
1994, p. 12) levantam a reflexão sobre o que, afinal, faz alguns
bens materiais serem considerados mais valiosos do que outros,
dotados de um “prestígio particular”.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 37


Por meio dessa reflexão, os autores listaram algumas noções
de patrimônio relativas a um contexto histórico, tendo como base
a França: religioso, monárquico, familiar, nacional e científico.
Dessa maneira, chegam a conclusão que a base fundamental
do patrimônio é a veneração, isto é, quando ele é considerado
sagrado para um povo, no viés religioso. Após esse aspecto, vem o
valor civil daquele patrimônio, o que ele representa e diz sobre a
sociedade ali presente, entre outros. A valorização do patrimônio
num viés nacionalista só começa a aparecer com as forças armadas
no século XIX. Dessa forma, Babelon & Chastel concluem que o
patrimônio nada mais é do que uma força dialética entre gerações
antigas e novas, permeados por rupturas e permanências.

Trazendo a identificação do patrimônio histórico cultural


para o contexto brasileiro, por aqui, em contrapartida aos países
europeus, nascemos através de uma colônia, isto é, toda nossa
política, produção e tudo mais giravam em torno de um país que
estava deveras distante daqui, que era Portugal. Dessa maneira,
a maioria dos nossos patrimônios históricos tem mais relação ao
que os europeus trouxeram para cá e resolveram deixar marcado
na memória do que ao patrimônio que realmente existia por
aqui, pois estes, provavelmente, foram destruídos durante as
batalhas para a colonização, como os resquícios indígenas e tudo
mais, que, hoje em dia, precisam ser recriados ou colocados em
um memorial, pois, na época, foram completamente devastados
(SÜSSEKIND, 1990).

38
Devido aos fatos acima, Holanda (1971) diz que “somos
ainda hoje desterrados em nossa terra”, pois, a maioria de nossas
memórias e monumentos históricos flertam mais com a história
europeia do colonizador do que as heranças indígenas brasileiras
em si. Basta pensar nas cidades como Rio de Janeiro e Salvador, que
obtiveram muita influência europeia por terem sido as primeiras
capitais da colônia, a quantidade de monumentos portugueses
e de outros países europeus, como a França, que existem nessas
capitais, reforçando a fala do teórico.

De acordo com Bosi (1994, p. 55),

O caráter livre, espontâneo, quase onírico da memória é, segundo


Halbwachs, excepcional. Na maior parte das vezes, lembrar
não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens
e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é
sonho, é trabalho. Se assim for, deve-se duvidar da sobrevivência
do passado, ‘tal como foi’, e que se daria no inconsciente de
cada sujeito. A lembrança é uma imagem construída pelos
materiais que estão, agora à nossa disposição, no conjunto de
representações que povoam nossa consciência atual.

Nesse sentido, levando em consideração a fala da autora,


pode-se compreender que a identificação e importância de um
patrimônio cultural gira em torno da importância da memória
para cada indivíduo, principalmente para um povo, pois,
diferentemente de uma utopia, a memória mostra quem aquele
povo já foi, no caminho para chegar ao que é atualmente.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 39


Sendo assim, a identificação dos patrimônios históricos
nada mais é do que dar importância aquilo que já se foi no período
que estava se construindo o que se é atualmente. Por isso tantas
cidades tem como patrimônio histórico assuntos delicados, como
o memorial do holocausto na Alemanha, que relembra a eles a
tragédia da morte de milhões de judeus no Nazismo, salientando
uma parte da história deles que não pode ser esquecida para que
nunca seja repetida.

40
1.3 Arquitetura Histórica
no Centro de São Paulo

Na cidade de São Paulo, existem diversos estilos


arquitetônicos misturados entre o contemporâneo e o clássico
que sintetiza as construções históricas fundamentais para a
elaboração da cidade, que guardam a memória não só desta como
do restante do Brasil e dos imigrantes que ajudaram a construir
seus hábitos e cultura, formando efeitos contrários a quem os vê,
pois, ao mesmo tempo em que a cidade figura como uma das mais
modernas do Brasil, ela divide seu espaço com arquiteturas mais
antigas. Para entender como São Paulo se configura como uma
cidade, é preciso entender o que é e como funciona a mesma. De
acordo com Lévi-Strauss (1996, p. 13):

Ora, a cidade é primeiramente um espaço, talvez indiferenciado


antes que homens o ocupem; mas a maneira como, ao longo dos
séculos ou dos anos, eles escolhem se distribuir nesse espaço, a
maneira como as diversas formas de atividade política, social,
econômica, se inscrevem no terreno, nada disso se faz ao acaso,
e é apaixonante investigar se as cidades se diferenciam em
tipos e se é possível discernir constantes em sua estrutura e seu
desenvolvimento.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 41


Dessa forma, as cidades se diferenciam por pontos como
a arquitetura, importância econômica para o estado e país,
população, pontos interessantes culturais e históricos em seu
mapa, enfim, diversos fatores que fazem com que a cidade ganhe
uma personalidade própria que designe a importância e mantenha
o caráter único do local. Sendo assim, a cidade precisa de diversos
outros fatores para que seja moldada, todos estes dentro do espaço
físico a qual ela dispõe no estado em que se encontra.
De acordo com Lamas (2007), a morfologia de uma cidade
tradicional é constituída por sete elementos:

- o solo;
- os edifícios (o elemento mínimo);
- o lote (a parcela fundiária);
- o quarteirão, a fachada (o plano marginal);
- o logradouro (espaço privado do lote sem construção);
- o traçado/a rua, a praça, o monumento, árvore e a vegetação;
- o mobiliário urbano. (LAMAS, 2007, p. 79-110)

Desse modo, essas partes descritas pelo autor são utilizadas


nas cidades, principalmente as modernas, desde o renascimento.
Dessa forma, a cidade de São Paulo, durante seu crescimento
devido ao enriquecimento proporcionado pelo café no século
XIX, foi florescendo e crescendo cada vez mais, visando se tornar
uma cidade cada vez mais moderna e bonita para os moradores
e visitantes, atualizando as fachadas coloniais e elaborando
reformas urbanas maiores, como criação de avenidas, prédios de
muitos andares etc.

42
Entretanto, para o progresso, alguns imóveis históricos
precisaram ir além de serem reformados, tendo necessidade de
serem demolidos, como foi o caso de algumas igrejas, que, devido
ao alargamento das vias urbanas e trem, precisaram dar espaço
para a modernidade e, logo após, foram reconstruídas de forma
mais moderna, condizentes que o aspecto urbano que a cidade
desejava exprimir para quem a visitasse. Um exemplo disso é a
substituição da antiga Catedral da Sé colonial pela atual, que é
definida como uma catedral neogótica, instruída por Max Hehl.
Além disso, largos e praças receberam paisagens denominadas,
na época, à inglesa, baseadas na morfologia urbana da Inglaterra,
que consistia na visão tripartite adotada pela escola inglesa, que,
de acordo com Gimmler Neto et al (2014), consistia em pensar três
complexos formais: o plano urbano, o tecido urbano e o padrão de
uso e ocupação, tanto do solo quanto da edificação.

Dessa maneira, existem algumas construções que merecem


destaque quando vamos falar sobre os estilos arquitetônicos
presentes no centro de São Paulo, sendo eles: o Mosteiro de
São Bento, o Edifício Martinelli, Edifício Altino Arantes, Centro
Cultural Banco do Brasil, Pateo do Collegio, Catedral da Sé e
Museu de Arte de São Paulo.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 43


Imagem 4: Mosteiro de São Bento
Fonte: <https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2010/01/mosteiro.jpg> Acesso em 23 mai. 2018.

44
1.3.1 Mosteiro de São Bento

O Mosteiro de São Bento é um dos principais patrimônios


arquitetônicos da cidade de São Paulo. Feito no estilo eclético
germânico, em 1598. Entretanto, sua arquitetura não se mantém a
mesma da projeção, há 400 anos, pois passou por uma restauração
durante o projeto “Viva o Centro” que ocorreu em São Paulo.
Atualmente, tem traços arquitetônicos que remetem ao século
XVII, que seria o da sua construção original.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 45


Imagem 5: Edifício Martinelli
Fonte: A autora. 2018.

46
1.3.2 Edifício Martinelli

O Edifício Martinelli tem arquitetura clássica e é o primeiro


arranha-céu da América Latina. Foi inaugurado em 1929, projetado
pelo italiano Giuseppe Martinelli e, rapidamente, tornou-se
símbolo de progresso para a cidade de São Paulo. No início tinha
função comercial, hoje pertence à prefeitura da cidade. Seu estilo
pode ser definido como Segundo Império, Beaux Arts e Eclético.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 47


Imagem 6: Edifício Altino Arantes
Fonte: <https://abrilvejasp.files.wordpress.com/2018/01/edificiobanespalm65.jpg> Acesso em 23 mai. 2018.

48
1.3.3 Edifício Altino Arantes

É um dos prédios mais emblemáticos da cidade de São Paulo.


Inspirado no Empire State Building (EUA) de Nova York, o edifício
foi criado para abrigar a sede do Banco do Estado de São Paulo
(BANESP), de onde é originado seu apelido Banespão. Com mais
de 130 metros e localizado em pleno centro da capital paulista,
teve seu projeto original inspirado na Art Déco e foi modificado
com características modernas, devido à torre e a fachada.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 49


Imagem 7: Centro Cultural Banco do Brasil
Fonte: <http://checkinsaopaulo.com/wp-content/uploads/2016/03/CCBB-1.jpg> Acesso em 23 mai. 2018.

50
1.3.4 Centro Cultural Banco do Brasil

Construída em 1901 para ser a sede do Banco do Brasil (BB),


foi reformada em 1927 e mantém a mesma estrutura desde então,
mesmo com as adaptações feitas nos anos 90 para transformar a
então sede do BB em Centro Cultural. O imóvel marca a arquitetura
da cidade, pois mistura diversos estilos arquitetônicos que podem
ser apreciados no interior e na fachada do logradouro, como o Art
Déco, Art Noveau, Eclético e Neoclássico.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 51


Imagem 8: Pateo do Collegio
Fonte: <http://www.gazetaam.com/wp-content/uploads/2018/02/Wikimedia-Commons1.jpg> Acesso em 23 mai. 2018.

52
1.3.5 Pateo do Collegio

Moldado de acordo com a arquitetura colonial Portuguesa,


o Pateo do Collegio foi fundado em 1554 pelo padre Manoel de
Nóbrega, marcando a construção da nova metrópole, que seria a
cidade de São Paulo. Durante o decorrer dos anos, sofreu abalos
e alterações, mas se mantém no coração de São Paulo como um
dos patrimônios histórico-culturais mais importantes da cidade.
O Pateo do Collegio, nas palavras de Oliveira (2012), tem grande
importância histórico-cultural, como se pode observar abaixo:

Daquele “Pátio do Colégio”, o ponto de partida do passado para o


futuro, a vila de Piratininga, se espalhou pelas colinas em busca
das várzeas, subindo os espigões, atingindo vales, se cambiando
de cores, de estilos, de fachadas, rasgando avenidas e perfurando
túneis, com caras novas, se transformando em uma grande
metrópole. Porém, continuando um lugar, um aconchego para
os migrantes que aqui se instalaram e continuam a procurá-lo
(OLIVEIRA, 2012, p. 14).

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 53


Imagem 9: Catedral da Sé
Fonte: <https://i0.wp.com/eufui.blog.br/posts/wp-content/uploads/2016/11/sao_paulo-catedral_da_se.jpg?w=2048> Acesso em 23 mai. 2018.

54
1.3.6 Catedral da Sé

Flertando entre o estilo neogótico e neo-renascente, a


Catedral da Sé é um dos patrimônios culturais mais importantes
da cidade de São Paulo, pois figura como marca registrada da
cidade quando se pensa em ponto turístico. Há divergências
se seu estilo pode ser considerado neogótico ou eclético, pois,
segundo estudiosos, a cúpula retira o caráter de arquitetura
gótica presente na catedral.

Construída em 1591, a “velha Sé”, como era chamada, era uma


igreja que não tinha a arquitetura que conhecemos atualmente.
Em 1745, foi decidido que a igreja viraria catedral e, assim, foram
feitos projetos de reformas que só foram consolidados muitos
anos depois, em 1913, quando começa a construção da Catedral da
Sé na maneira que podemos observar nos dias de hoje, de acordo
com o site da cidade de São Paulo.

Além da inegável importância histórica, a Catedral figura


como uma das maiores da América Latina, abrigando mais de
61 sinos, inclusive o maior do Brasil. No início dos anos 2000, foi
restaurada, mas foram mantidas as características originais da
reforma da mesma.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 55


Imagem 10: Museu de Arte de São Paulo - MASP
Fonte: <https://images.adsttc.com/media/images/5935/8246/e58e/ce66/2100/0001/large_jpg/004_.jpg?1496678974> Acesso em 23 mai. 2018.

56
1.3.7 Museu de Arte de São Paulo

O Museu de Arte de São Paulo, mais conhecido como


MASP, foi criado em 1947, sendo um dos mais atuais patrimônios
históricos aqui listados, sendo colocado para funcionar no prédio
em que funciona atualmente a partir do ano de 1967. Com uma
arquitetura sofisticada e deveras urbanística, o MASP foi projeto
para dar uma “sensação de sinestesia” a qualquer um que venha a
freqüentá-lo, nas palavras de Suzuki e Rochlitz (2014).

A dupla de vigas que dão a impressão que existe um


vão entre as plataformas são o maior charme do imóvel, que é
conhecido pelo seu “vão livre do MASP” devidamente a esse fato.
O responsável por essa obra de arte é o arquiteto José Carlos de
Figueiredo Ferraz. O prédio é tombado como patrimônio histórico
da cidade de São Paulo.

1. Arquitetura Histórica e Patrimônio Material 57


2. O Centro de
São Paulo e a
Memória Urbana

Neste capítulo, serão apresentadas definições e informações


sobre a importância da memória de uma população para a cidade
onde vive.

59
2.1 Memória Urbana

Antes de se dar início à reflexão do que seria memória


urbana, é necessário que fique claro o que é memória e sua
definição e importância para os indivíduos no sentido geral. Dessa
forma, será utilizado o conceito de memória de Izquierdo (2006),
que diz que:

(...) memória são as ruínas de Roma e as ruínas de nosso


passado; memória tem o sistema imunológico, uma mola e um
computador. Memória é nosso senso histórico e nosso senso de
identidade pessoal (sou quem sou porque me lembro quem sou).
(IZQUIERDO, 2006, p. 2)

O autor faz um jogo entre o que definiria memórias, entre


um paralelo que se faz através da história e da memória humana,
completamente pertinente para a reflexão aqui proposta neste
estudo. Izquierdo (2006, p. 2) continua sua reflexão, dizendo que
“há algo em comum entre todas essas memórias: a conservação
do passado através de imagens ou representações que podem

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 61


ser evocadas (...)”. Isto é, o teórico deixa clara a importância do
relembramento do passado através da memória e, para que esse
passado seja relembrado, é necessário algum fator físico, como
uma imagem ou um monumento, que lembre essa história.

Entretanto, é necessária que se tenha em mente que a


memória não é necessariamente a história, apenas remete a ela.
De acordo com Jacques Le Goff (1996),

(...) o que separa radicalmente a memória da história é,


justamente, a colocação da memória fora do tempo. O esforço
de rememorização, predicado e exaltado no mito, não manifesta
o vestígio de um interesse pelo passado, nem uma tentativa de
exploração do tempo humano. Nesse sentido, a memória pode
conduzir à história ou distanciar-se dela. (LE GOFF, 1996, p. 439)

Para que fique melhor definido, segundo Halbwachs (1992),


não se pode confundir a memória coletiva com a história de forma
alguma, pois enquanto a história é um grande panorama dos
acontecimentos passados que ocupam um espaço na memória
dos indivíduos, a história não tem tradição e a memória social fica
decomposta.

Dessa forma, a diferença entre a história e a memória


coletiva é que a história precisa ser escrita, isto é, precisa ser
deixada eternizada em livros e papéis para que não seja esquecida,
diferentemente da memória coletiva, que é algo que marca uma
sociedade sem que haja necessidade de registros e estudos

62
sobre, sendo um conhecimento comum às pessoas de qualquer
escolaridade, apenas pela vivência. Sendo assim, o autor deixa
claro que a memória coletiva é uma memória viva, aquilo que o
povo não se esquece. Poulet (1992, p. 54-55) afirma que "graças
à memória, o tempo não está perdido, e, se não está perdido,
também o espaço não está. Ao lado do tempo reencontrado, está o
espaço reencontrado". Izquierdo (2006) dá conclusão a essa linha
de pensamento, falando que as representações não são a realidade,
apenas um gatilho para chegar às memórias. Ele exemplifica
com “as ruínas de Roma não são a Roma imperial” (IZQUIERDO,
2006, p. 2), mostrando que apesar dessas ruínas remeterem a um
passado que Roma foi um dia, elas não constituem o que realmente
foi o local na época, mas funcionam como gatilhos nas lembranças
das pessoas, principalmente daqueles que viveram aquela época –
não que isso tire a importância dos que não viveram, mas agora
podem ser motivados a darem importância àquela época e verem
o que mudou, ficou igual e o que deve e não deve ser repetido, em
prol do bem de toda uma nação.

Conclui-se que às memórias nada mais são do que algo


que já aconteceu e pode ser relembrado. De acordo com Marshall
(1988, p. 378), "nada há no intelecto que não tenha estado antes nos
sentidos” Sendo assim, as memórias existem porque o ocorrido
aconteceu há anos atrás, ratificando sua importância em qualquer
instância relacionada à mesma.

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 63


Assim, a memória e a lembrança constituem uma parte
importante em todos os aspectos mundiais, pois elas são fruto de
uma vivência anterior, destacam a ancestralidade, relembrando
nos indivíduos aquilo que já se foi, enquanto se caminha para ser
algo novo. De acordo com Benjamin (1994), os traços visíveis que
dão margem para a rememoração são a parte mais importante
do ato da memória, seja ela individual ou coletiva. Nas palavras
do autor: “Pois o importante, para o autor que rememora, não é
o que ele viveu, mas o tecido de sua rememoração, o trabalho de
Penélope da reminiscência" (Benjamin, 1994, p. 37).

Dessa forma, a memória urbana constitui uma parte muito


importante de uma cidade, principalmente quando se trata da
maior da América do Sul, que é a cidade de São Paulo.
De acordo com Zimmerman (2006):

A memória e a identidade de uma área urbana devem ser


estudadas por razões que se relacionam, principalmente, à
questão da salvaguarda do Patrimônio Cultural (material e
imaterial) de uma comunidade e, também, entendemos que
seu reconhecimento pode contribuir para direcionar futuros
projetos que intervenham nos espaços da cidade de maneira
consciente quanto às características intrínsecas a estes
patrimônios. (ZIMMERMAN, 2006, p.14)

Isto é, a autora deixa clara a importância da memória urbana


na construção das idéias do Patrimônio Cultural, seja ele material
ou não. Além, é claro, da importância da memória por se tratar da

64
história do povo que vivia anteriormente na cidade, que ajuda a
entender muitos costumes, hábitos e até mesmo evitar problemas
que já aconteceram em tempos passados, pois essa também é uma
das serventias da memória, por meio da história.

O Brasil é constituído de cidades muito novas, quando


se pensa num viés histórico, isto é, têm poucos anos de vida
comparadas as cidades europeias que são tão antigas. Entretanto,
cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, etc. já tem
um tempo razoável, tendo em vista que essas têm quase a
mesma idade do Brasil, pois foram fundadas pouco depois do seu
descobrimento. Sendo assim, a questão da memória urbana no país
é muito relativa, pois, devido ao histórico de ter sido uma colônia
em tempos remotos, o Brasil não cultivou muitas memórias do
seu povo originário, como os índios, pois foi tudo destruído em
prol da modernização e ordens da metrópole europeia. Dessa
maneira, sobrou poucos vestígios do passado do país, e o que
sobrou diz respeito apenas à época da colonização portuguesa em
diante, pois foi quando começou a se dar valor para a memória do
país, pelo pensamento da metrópole, que era quem comandava o
país (ABREU, 1998).

A cidade de São Paulo, em especial, pouco apresenta


similaridades com a cidade que era quando foi construída, em 1554,
podendo ser apenas visível memórias da década de 30 em diante,
quando iniciou sua modernização. De acordo com Jayo (2013, p.
1), “(...) do aglomerado pacato que era até o fim do século XIX, a

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 65


cidade foi rapidamente promovida à metrópole de importância
mundial e firmou uma imagem laboriosa, dinâmica e progressista
no século XX”.

Sem preocupações de preservação, recebeu diferentes


planos e intervenções urbanísticas (dos projetos de ajardinamento
afrancesados de Joseph Bouvard, em 1910, ao minhocão de Paulo
Maluf, em 1969, passando pelo plano de avenidas de Francisco
Prestes Maia entre as décadas de 1930 e 1950), e enfrentou um
processo de desenvolvimento urbano baseado em ataques
sistemáticos ao seu estoque de memória material. Esse fato
mostra que há um esquecimento do que ela foi antes, lá no seu
início, há quase 500 anos atrás.

Dessa forma, atualmente, de acordo com Zimmerman


(2006), quem define o que é memorável na cidade somos nós,
os indivíduos que constituem a mesma. Nas palavras da autora:
“pelas leis que possuímos hoje (...), nós definimos: nós moradores,
usuários, comunidade, representantes da sociedade, poderes
constituídos e pensadores envolvidos com a questão urbana e
com a salvaguarda do patrimônio cultural” (ZIMMERMAN, 2006,
p. 27).

Sendo assim, a memória urbana pode ser definida pela


importância dada ao pensamento coletivo sobre a história, isto
é, sobre como a sociedade e sua memória influem diretamente
nas memórias urbanas e, assim, logicamente, nos patrimônios

66
histórico-culturais. A importância do povo na constituição da
memória urbana é de extrema visibilidade, pois é através dos
ensinamentos e rememorações destes que se chega ao consenso e
deliberação das memórias urbanas.

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 67


2.2 O Centro de
São Paulo Hoje

A região central de São Paulo é uma das regiões mais


movimentadas da cidade. Em 2002, uma matéria do Estadão
declarou que 22% das pessoas que se locomovem de transporte
público pela cidade têm como destino final o centro de São Paulo
(2 MILHÕES, 2002).

De acordo com uma matéria mais recente da Folha de


São Paulo, “Passam pela região central paulistana 2 milhões de
pessoas por dia e há 2,4 vagas de emprego para cada morador
em idade ativa. Estão no centro mais de 700 mil postos formais
de trabalho, 17% do total da capital” (PINTO, 2017).Em 2014, uma
pesquisa mostrou que as estações Luz, República, Consolação
e Anhangabaú do metrô estão no ranking das 10 estações mais
utilizadas diariamente (SANTOS, 2015).

Mesmo assim, ainda são recorrentes os problemas da região


central da cidade. Dentre esses problemas podem ser citados
alguns cruciais para o desenvolvimento do local: pontos de
usuários de drogas, número alto de casos de roubo e furto, grande
número de pessoas em situação de rua, falta de conservação do

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 69


espaço público e privado, construções históricas em situação de
abandono. Há grande quantidade de propostas de revitalização,
que se deparam com novos obstáculos: a maioria destes projetos
não cumprem as pautas contratadas ou nem mesmo começam
a acontecer por motivo de mudanças políticas, como afirma o
Adilson Adari, professor de direito urbanístico e ex-Secretário
Municipal de Administração: “Sem a certeza de que as regras vão
continuar, ninguém investe" (PINTO, 2017).

A diversidade comercial, acesso ao transporte público e a


quantidade de empregos que se concentram na região central
de São Paulo ainda não são suficientes para livrar a região de
um estereótipo de abandono. Mazelas como a violência, falta de
iluminação, lixo, forte presença de moradores de rua e outros
problemas de zeladoria refletem as tentativas fracassadas de
revitalizações propostas pelas gestões municipais, nas últimas
cinco décadas. Somado a tudo isso, a quantidade de prédios
abandonados na região ameaça o patrimônio histórico e
cultural da cidade, além de exercer um impacto negativo sobre a
paisagem urbana. (MISSIAGGIA, 2017)

Recentemente foi anunciado um novo projeto de revitalização


denominado “Centro Novo”, que pretende transformar o espaço
do centro em bulevares, trazer espaços de convivência para as
proximidades de estações do metrô e a criação de um novo meio
de transporte que interliga monumentos históricos a espaços
de lazer. A entrega do projeto de transporte está prevista para
2020. O projeto “Novo Centro” não tem como objetivo revitalizar
construções que já existem na cidade, mas sim criar novos espaços

70
e construções. Segundo o portal Gazeta do Povo, “Dória chegou
a dizer durante a coletiva de imprensa para a apresentação do
projeto de requalificação que ‘é inacreditável que a terceira maior
capital do mundo e sétima maior cidade do planeta não tenha
edifícios icônicos’. ‘Tem a ponte estaiada [ponte Octavio Frias
de Oliveira] e o MASP [Museu de Arte de São Paulo], um projeto
da década de 1950, da Lina Bo Bardi, e ficamos aí’, acrescentou”
(ABDALLA, 2017).

De qualquer modo, o projeto tem um prazo estimado


pelo atual prefeito João Dória de 8 anos, o que para o arquiteto
responsável pelo projeto, Jaime Lerner, pode ser considerado um
desafio.

Iniciativas isoladas não faltam, mas investidores e urbanistas


se ressentem da escassez de políticas articuladas e duradouras.
"Não adianta pintar um viaduto aqui, recuperar um imóvel
ali", afirma Luchetti, da Porto Seguro. "Nem só inaugurar um
museu", constata a pesquisadora Isaura Botelho, que estudou
investimentos culturais na região. O centro precisa dar às
pessoas motivos para ficar ali (até mesmo morar) e não só cruzá-
lo ou ir a um único ponto e sair correndo. (PINTO, 2017)

Como citadas na matéria do Diário do Comércio, algumas


das soluções para os problemas recorrentes do Centro de São
Paulo, discutidas por profissionais da área de urbanização, podem
ser: reativar edifícios em mau estado de conservação, de modo
que haja a atração de novos moradores para a região; transformar

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 71


o centro em um polo cultural de economia criativa; melhorar
a articulação dos setores público e privado de modo que sejam
oferecidos espaços culturais e moradias usando como exemplo o
Edifício Copan, que contempla diversos perfis de moradores, não
se baseando apenas em perfis populares.

Em fevereiro de 2010, foi lançado um programa da prefeitura


denominado “Renova Centro”, que planejava desapropriar e
revitalizar 53 prédios em situação de abandono na capital, e
dessa maneira gerar moradias populares. Foi o maior plano de
renovação da cidade para fins habitacionais já lançado no país.
A intenção do projeto, além da criação de unidades habitacionais
inclusive para famílias de baixa renda, era de trazer atenção à
necessidade de revitalização do centro de São Paulo. Infelizmente,
em 2013, de acordo com Zanchetta e Burgarelli (2012), apenas 7
prédios teriam começado a passar por uma reforma e nenhum
deles estava pronto ainda na época. Era previsto para que todas as
unidades fossem entregues em 2014.

Ao mesmo tempo que o programa Renova Centro não


foi para a frente, a prefeitura iniciou um programa de Parceria
Público Privada (PPP) de habitação para entregar habitações
populares na região central de São Paulo. Esse programa gerou
mais de 7 mil moradias no centro. O objetivo da iniciativa era
aproximar o trabalhador da região central ao seu local de trabalho.
As inscrições para participar do sorteio de unidades poderiam ser
feitas até julho do ano passado, 2017.

72
Serão destinadas 80% das unidades para inscritos que moram
fora da área central, mas que trabalham nesta região. As 20%
moradias restantes serão para interessados que moram e
trabalham na região central. O objetivo é aproximar a moradia
do emprego e dos eixos de transporte de massa e reduzir o
tempo de deslocamento dos trabalhadores. Serão destinadas
500 unidades a famílias de baixa renda que fazem parte de
movimentos de moradia. No caso da entrega desta quinta, os
moradores são do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
(SANTIAGO, 2016).

Com isso, podemos concluir que a revitalização de


edifícios em situação de abandono e a venda desses imóveis
como habitações populares seria de grande vantagem para a
cidade, além de gerar mais movimento nas regiões centrais, as
construções recuperariam seu valor e a população poderia, de
repente, ter mais acesso às regiões centrais.

2. O Centro de São Paulo e a Memória Urbana 73


3. Degradação
do espaço público
em São Paulo

Neste capítulo, serão apresentados dados e informações


sobre o problema da degradação do patrimônio histõrico da
cidade de São Paulo, exemplos e razões para seu acontecimento.

75
3.1 A degradação do espaço
público e as razões para
o seu acontecimento

De acordo com o dicionário online Dicio (2018), “degradação” é um


substantivo que tem como um de seus significados o “processo
ou desenvolvimento espontâneo que causa decomposição ou
desgaste”. Dessa maneira, pode-se imaginar que a degradação
do espaço público tenha uma correlação com esse significado
retirado do dicionário, tendo em vista a ligação semântica entre
esses dois aspectos.

No Brasil, é muito comum de se observar espaços públicos


degradados devido a diversos motivos, principalmente à falta de
cuidado. De acordo com Indovina (2002), há um elenco de fatores
que favorecem essa degradação, sendo eles listados abaixo, nas
palavras do autor.

Um elenco dos factores de desqualificação deve pelo menos


conter: a invasão dos automóveis, que é determinante para
a poluição atmosférica, que dizima os espaços abertos aos
utentes, que quando estacionados causam poluição visual (por
exemplo das praças) e limitam a função dos passeios; o aumento

3. Degradação do espaço público em São Paulo 77


dos elementos (contentores, vidrões, etc.) necessários para a
recolha do lixo, tanto mais numerosos quanto mais criteriosa
for esta recolha, factor de poluição visual e olfactiva, mas
também de degradação local; falta de limpeza e manutenção,
como efeito da limitação dos recursos por parte das entidades
locais, e uma crescente e invasora sujidade (a crescente difusão
dos excrementos do “amigo do homem”, não obstante a chamada
de atenção das diversas administrações); os impróprios e
muitas vezes inadequados elementos de “equipamento urbano”
que, em vez de portadores de qualificação estética, contribuem
à poluição visual e à degradação local; o processo contínuo de
privatização do espaço público, por exemplo com o crescente
requisito de pagamento, que retira aos cidadãos a propriedade
de uso dos mesmos. (INDOVINA, 2002, p. 121)

Mukai (2003, p. 37) afirma que a degradação dos patrimônios


públicos, em especial, se dá por três razões específicas: 1 – A
escassa vigilância dos poderes públicos dos bens tombados; 2 – A
dificuldade em preservar objetos e imóveis, mesmo os tombados;
3 – A inação do Poder público, principalmente o executivo, quanto
ao tombamento de bens que tenham valor de patrimônio histórico
cultural, sejam eles de qualquer natureza.

Para que esses patrimônios públicos culturais recebam o


cuidado necessário, é preciso que recebam um tratamento especial
por parte dos poderes públicos, principalmente para que tenham
a certeza de que irão continuar com as características originais e
em plena forma. Um dos métodos que mantém esses patrimônios
histórico-culturais protegidos é o tombamento.

78
De acordo com Pires (1994), o tombamento pode ser definido
como:

(...) o ato final de um procedimento administrativo, resultante


do 'poder discricionário' da Administração, por via do qual o
Poder Público institui uma servidão administrativa, traduzida
na incidência de regime especial de proteção sobre determinado
bem, em razão de suas características especiais, integrando-se
em sua gestão com a finalidade de atender ao interesse coletivo
de preservação cultural. (PIRES, 1994, p. 14)

Dessa forma, de acordo com as palavras da autora, pode-se


considerar que “tombar” é dar o devido valor histórico para um
patrimônio, cuidando de manter sua estrutura artística por meio
da legislação, isto é, criando uma espécie de lei que assegura a
proteção do mesmo devido a sua importância histórico-cultural
no contexto em que está inserido.

Segundo o Decreto-Lei nº 25 de 1937, em seu primeiro


parágrafo, “os bens a que se refere o presente artigo só serão
considerados parte do patrimônio histórico e artístico nacional,
depois de inscritos separada ou agrupadamente 'num dos quatro
livros do Tombo, de que trata o art. 4° desta' Lei'". De acordo com
esse decreto-lei, cabe ao proprietário não destruir de forma alguma
o bem definido como tombado, assim como as responsabilidades
referentes à conservação e seus recursos devem ser patrocinadas
pelo proprietário, após ouvir o SSPHA.

3. Degradação do espaço público em São Paulo 79


Entretanto, caso o proprietário não dispuser dos recursos
necessários para manutenção do imóvel tombado, o SSPHA pode
efetuar a conservação, sendo a manutenção feita com dinheiro
público ou ocorre a desapropriação do imóvel, para que ninguém
gaste dinheiro.

Assim, pode-se concluir que qualquer bem que tenha valor


histórico-cultural, seja ele artístico, arquitetônico, natural, entre
outros, deve ser tombado no intuito de resguardar o bem de
interesse público, sendo penalizado como crime qualquer ato que
possa destruí-lo ou contribuir para a deterioração do mesmo.
O Supremo Tribunal Federal (1998) já expressou que:

Ao Judiciário cabe decidir se o imóvel, inscrito no Serviço do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, "tem ou não" valor
histórico ou artístico, não se limitando a sua competência
a verificar, apenas, se foram observadas as formalidades.
(...) verificada a procedência do valor histórico do imóvel de
domínio particular como integrante do conjunto arquitetônico,
subsiste o tombamento compulsório, com as restrições que dele
decorrem para o direito de propriedade, sem necessidade de
desapropriação. (STF, 1998)

O que foi dito pelo STF deixa clara a importância do Judiciário


na decisão do que deve ou não ser tombado, isto é, de conferir
seu valor artístico para a comunidade envolvida, entre outros
aspectos.

80
Além dos meios legais supracitados, existem outras
formas de evitar que exista degradação dos espaços públicos,
principalmente dos patrimônios histórico-culturais. Uma das
medidas que podem ser tomadas é a Ação Popular, respaldada
pela Lei nº 7347, em que o próprio povo denuncia e anula qualquer
ato lesivo ao patrimônio público tombado, podendo ser usada em
diversos casos, principalmente aqueles em que a Constituição
admite como crime contra a arquitetura ambiental.

A degradação de espaço público é um problema que se


encontra no Brasil inteiro, afetando não só os patrimônios
tombados, mas também a economia geral de onde se encontra o
local degradado, pois, em ambientes onde a degradação é extrema,
o valor comercial abaixa e a função habitacional fica desvalorizada,
virando ponto de pessoas muito pobres, como desabrigados, ou
indivíduos que estão à margem da sociedade, como prostitutas,
bandidos etc.

No contexto específico de São Paulo, a degradação acabou


impactando diretamente na desvalorização imobiliária de alguns
locais, principalmente próximos à área central, pois acabaram
estagnando o crescimento da economia no local degradado, o que
acabou se tornando um ponto negativo da cidade.

3. Degradação do espaço público em São Paulo 81


Sendo assim, a manutenção e cuidado com os espaços
públicos dependem não só das autoridades como também
dos cidadãos, que devem fazer sua parte denunciando quando
observam casos de subtração aos patrimônios públicos e sempre
zelar pelo cuidado com os mesmos. Quando falamos sobre
degradação, é como se estivéssemos atribuindo características
humanas às construções, e às vezes até esquecemos das
condições em que se encontram as pessoas que frequentam e
vivem em edifícios em situação de degradação. A degradação não
se trata apenas de um conceito estético, é algo que é profundo
e sintomático, principalmente no centro de São Paulo, onde a
maioria – nem sempre – das obras “esquecidas” por autoridades
se trata de um lugar de convívio de pessoas de baixa renda, como
ocupações.

82
3.2 Restaurações
do Patrimônio Histórico
Arquitetônico
no Centro da Cidade

A cidade de São Paulo conta com diversos patrimônios


históricos arquitetônicos, principalmente no seu centro histórico.
O responsável por manter esses patrimônios preservados é
o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), que realiza
pesquisas para entender melhor o funcionamento e melhor
maneira de cuidar dos patrimônios históricos de responsabilidade
da cidade de São Paulo, e atua em conjunto com o órgão técnico
de apoio a ação do Conselho Municipal de Preservação do
Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São
Paulo (CONPRESP), que é responsável por mais de 60 mil imóveis
como edifícios, bairros, logradouros considerados patrimônio
público e assim tombados. De acordo com o website da Prefeitura
de São Paulo, existe uma lista de atribuições do DPH, que são:

3. Degradação do espaço público em São Paulo 83


• Propor e realizar inventários arquitetônico-urbanísticos.
• Propor e instruir processos de tombamento.
• Realizar pesquisas sobre a história e a memória da cidade.
• Elaborar projetos de restauro em imóveis tombados que
pertencem à Prefeitura, assim como propor e executar a
conservação e a manutenção desses imóveis.
• Elaborar projetos e fornecer suporte técnico para a restauração
de obras de arte em logradouros públicos bem como acompanhar
e orientar o trabalho sistemático de limpeza dos monumentos
da cidade.
• Analisar e aprovar projetos de intervenção arquitetônica,
urbanística e de instalação de anúncios e publicidade nos
imóveis tombados, em áreas envoltórias e bairros tombados.
(PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2004)

Assim, cabe ao DPH restaurar e manter as construções


consideradas patrimônio histórico e tombadas da cidade de São
Paulo, principalmente as da região do Centro Histórico. Uma
das “restaurações” mais recentes foi a do Arco do Jandaia, que
voltou as características tradicionais, rendendo muita polêmica,
pois foram retirados os grafites permitidos pelo antigo prefeito da
cidade, Fernando Haddad, voltando as características originais, da
cor chumbo, o que agradou como desagradou muitos habitantes.

Pode-se dizer que, com o valor dessa restauração, construções que


se encontram em estados deploráveis de degradação poderiam
ter sido restauradas, ao contrário do estado em que se encontrava
o Arco. Ao lado, pode-se conferir o antes e depois da restauração:

84
Imagem 11: Antes
Fonte: <https://abrilvejasp.files.wordpress.com/2017/07/arcos-do-jc3a2nio-2.jpg?quality=70&strip=in-
fo&resize=680,453> Acesso em 23 mai. 2018.

Imagem 12: Depois


Fonte: <https://abrilvejasp.files.wordpress.com/2017/07/arcos-do-jc3a2nio-restaurac3a7c3a3o-1.
jpg?quality=70&strip=info&w=650> Acesso em 23 mai. 2018.

3. Degradação do espaço público em São Paulo 85


Apesar da polêmica gerada, a construção foi restaurada de
acordo com o seu molde original, com a cor chumbo e os tijolos
de calcário aparentes, retirando a decoração com grafites que se
encontrava até então. Os arcos, que se encontram no bairro de
Bela Vista e são considerados patrimônio histórico da cidade de
São Paulo, foram restaurados após uma ação popular que ocorreu
no ano de 2015 pedindo um parecer técnico para historiadores das
instalações do local, que rendeu no DPH criando um projeto de
restauração que foi encaminhado para o CONPRESP, que aprovou
em dezembro de 2016 a licitação da obra.

De acordo com Albuquerque (2017), em matéria para website


da Agência Brasil, o investimento total do restauro foi R$ 791.011,04,
com recursos financiados pelo Fundo de Proteção do Patrimônio
Cultural e Ambiental Paulistano (Funcap), cujas receitas são
de dotação orçamentária, doações, legados, rendimentos
provenientes da aplicação de seus recursos e, principalmente,
das multas aplicadas aos proprietários que descumprem as
normas de proteção ao patrimônio histórico, cultural e ambiental
estabelecidas na legislação vigente (ALBUQUERQUE, 2017).

Além do valor do restauro, a prefeitura alegou que a


restauração consistiu, basicamente, na limpeza de todas as
superfícies do patrimônio histórico, com a remoção da pintura de
grafite, prezando pelo registro gráfico e fotográfico do monumento
antes de ser pintado. Além disso, foram feitos mapeamentos de
danos, com o intuito de descobrir os problemas estruturais e

86
ajeitar. Por fim, fizeram a restauração da pintura original, para
que o Arco ficasse o mais próximo ao que era originalmente.
Em nota para a Agência Brasil, a prefeitura de São Paulo alegou que
A restauração dos Arcos é importante para a valorização de uma
tecnologia construtiva pouco conhecida utilizada nos primeiros
tipos de construção em São Paulo, que chegou junto com os
imigrantes europeus. Os tijolos utilizados na obra são de calcário,
que não têm a cor comum de tijolos, são mais acinzentados por
conta do tipo de material.

Entretanto, algumas restaurações acontecem com


incentivo privado, como o caso do prédio antigo em que funciona
o restaurante Rio Mar no bairro Ipiranga, no Centro Histórico de
SP. Na foto a seguir, pode-se perceber como era o prédio antes da
restauração:

Imagem 13: Antes da restauração


Fonte: <http://www.saopauloantiga.com.br/wp-content/uploads/2016/12/riomar-antesx.jpg>
Acesso em 23 mai. 2018.

3. Degradação do espaço público em São Paulo 87


Imagem 14: Depois da Restauração
Fonte: <http://www.saopauloantiga.com.br/wp-content/uploads/2016/12/riomar2.jpg>
Acesso em 23 mai. 2018.

De acordo com o website São Paulo Antiga, a iniciativa


revitalizou toda a área, trazendo impulso comercial e investimento
para a localidade que se encontrava marginalizada. De acordo com
um zelador de um prédio próximo em entrevista para o website:
“A reabertura do edifício trouxe mais segurança e orgulho para a
região”. Isso reafirma o que foi visto anteriormente neste trabalho,
que a restauração do patrimônio vai muito além da estética, pois
ela revitaliza todo o local em que se encontra o patrimônio em
diversos outros fatores, como econômico e de segurança pública.

Por fim, uma última restauração digna de nota de patrimônio


público foi a que aconteceu recentemente no Pateo do Collegio, no

88
Centro Histórico de SP, após sua fachada ter sido pichada como
forma de manifestação, pode-se ver abaixo:

Imagem 15: Pateo do Collegio


Fonte: <https://abrilveja.files.wordpress.com/2018/04/brasil-pichacao-pateo-do-colegio-20180410-001.
jpeg?quality=70&strip=info&resize=680,453> Acesso em 23 mai. 2018.

A restauração da fachada foi feita por uma ação voluntária


de civis, levantando recursos para comprar os produtos, além
de conseguir mão de obra suficiente para o trabalho. A medida
tomada é pioneira e reflete a importância dada pela população aos
patrimônios históricos, se unindo as iniciativas civis para auxiliar
o Estado na restauração do monumento.

Sendo assim, pode-se concluir que as restaurações do


Patrimônio Histórico Arquitetônico em São Paulo podem
acontecer de diversas maneiras, sejam medidas estatais, privadas
ou civis, sempre em prol da conservação dos bens tombados e da
importância dos mesmos para contar a história da cidade.

3. Degradação do espaço público em São Paulo 89


4. Processo Criativo
Em análises e caminhadas da autora pelo centro da cidade, foi-
se capaz de dividir as construções degradadas em três classes:
construções que ainda se encontram em uso, construções em
estado de abandono e construções que estão sendo ocupadas
por movimentos de moradia. Não é possível saber ao certo se os
edifícios “abandonados” estão realmente vazios, e a razão para
isso é a crescente chegada dos movimentos por moradia nas
zonas central e leste da cidade.

Em 2013, havia na cidade pelo menos 2 milhões de metros


quadrados abandonados na cidade de São Paulo, segundo o
Estadão (PEREIRA, 2016). Já em 2017, segundo o portal G1, a polícia
entrou em diversos atritos com a população de movimentos por
moradia que visavam ocupar os edifícios abandonados da região
da cidade (BOM DIA SP, 2017). Desse modo, decidiu-se estudar
principalmente os edifícios ocupados por movimentos sociais e
os edifícios ainda em uso de forma legal.

Em São Paulo existem diversos movimentos de luta por moradia,


dentre eles alguns dos principais são o FLM (Frente de Luta por
Moradia), MNLM (Movimento Nacional da Luta por Moradia) e
MMPT (Movimento de Moradia para Todos), e possuem princípios
em comum: chamar a atenção das autoridades sobre os espaços
vazios nas regiões centrais da cidade e pessoas em situação de rua
que são incentivadas a irem para longe da região central, uma vez

4. Processo Criativo 93
que os imóveis e as condições de vida são mais baratas em regiões
mais periféricas.
A articulação dos movimentos de moradia da cidade de São
Paulo em uma única frente de luta surgiu da necessidade
comum entre os movimentos de uma política de ação direta que
desse visibilidade à urgência de um plano habitacional digno em
São Paulo. Ações que de fato chamassem a atenção da sociedade
e dos poderes públicos para os vazios urbanos que estão à espera
de valorização imobiliário, enquanto pessoas, sem onde morar,
são arrastadas para a periferia da cidade, muitas vezes ocupando
áreas de preservação ambiental. (FLM NA HISTÓRIA, 2016)

Há uma grande quantidade de construções desregularizadas,


em estado de degradação e calamidade, edifícios esses que
poderiam ser transformados em edifícios residenciais, moradias
populares, centros culturais, etc. Uma infinidade de opções.
Enquanto no processo de escrever esta monografia, uma grande
tragédia aconteceu no centro de São Paulo. A antiga sede da
Polícia Federal, o edifício Wilton Paes de Almeida – que se tratava
de um dos objetos de estudo para o projeto – pegou fogo na
madrugada e, devido ao mal estado em que se encontrava, sua
estrutura não aguentou e o prédio acabou desabando. Era, em seu
último momento, um edifício ocupado pelo MLSM. Lá, estavam
abrigadas cerca de 150 famílias, sendo por volta de 400 pessoas
que ocupavam o prédio (G1, 2018).

Foram identificadas 7 vítimas no total, mas haviam mais


de 40 pessoas que eram cadastradas na ocupação e ainda estão
desaparecidas.

94
O prédio levou consigo parte da catedral luterana que
é localizada ao lado. Entenderemos mais sobre a história deste
edifício (que era patrimônio histórico, propriedade do Governo
Federal e, mesmo assim, estava abandonado há 10 anos) mais
abaixo.

Imagem 16: Edifício Wilton Paes de Almeida


Fonte: <http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2018/05/edificio-foi-projeta-
do-em-1961-e-abrigou-arquivos-do-deops/predio/@@images/3520df4d-1c88-4a94-b058-c29fe7d3ac27.
jpeg> Acesso em 23 mai. 2018.

4. Processo Criativo 95
Infelizmente essa tragédia só nos traz ainda mais
questionamentos e com isso a sensação de indignação e de
que algo deveria ser feito para que não tivéssemos que assistir
a história da cidade e a história de tantas famílias em chamas,
ruindo por não encontrarmos a solução de um problema tão
grande. Segundo uma matéria do G1, há cerca de 70 edifícios em
estados semelhantes a esse só no centro de São Paulo. Na cidade,
são 206 edifícios que abrigam 46 mil famílias (GUROVITZ, 2018).

Um outro ponto que podemos observar é a questão


da ociosidade dos edifícios na região central da cidade. Se já
entendemos que o centro de São Paulo sofre com o esvaziamento
da região desde a década de 70, por que não existem mais
meios de popularizar a região? Há uma grande necessidade de
trazer a população de volta ao centro, expandir sua capacidade
habitacional.

Existem ainda os edifícios em estado de degradação, que


ainda se encontram em uso, regularizados pela prefeitura, contas
em dia pagas pelos condôminos, mas sem condições financeiras
para que possam passar por um processo de restauração. Para
que isso aconteça, é necessário que haja patrocínio.

Isso nos traz à reflexão de obras de restauração e dinheiro


público sendo gasto em mudanças à cidade que talvez poderiam
esperar um pouco mais do que edifícios que são patrimônio
histórico da cidade e podem ruir a qualquer momento como

96
aconteceu no dia 01 de maio. Tomamos a liberdade de fazer alguns
questionamentos que dizem respeito à opinião da autora: seriam
projetos como a instalação do muro de vidro na raia olímpica da
USP, ou a restauração dos arcos do Jânio a sua cor original, uma
solução de urgência? Em ambos esses projetos, foram gastos mais
de R$16 milhões. Segundo o prefeito da época, toda a verba veio
de iniciativas privadas (G1 SP, 2018). Será que não havia mesmo
nenhum jeito de prestar atenção nessa construção, que era
patrimônio histórico e estava caindo aos pedaços? Ou será que
era mais vantajoso e geraria menos gastos deixar que tomasse o
rumo trágico e já esperado?

Os edifícios foram escolhidos de acordo com seu estado de


degradação e suas características arquitetônicas, de modo que
essas escolhas buscassem retratar os diversos estilos e épocas da
arquitetura do centro de São Paulo. Como retrata Benedito Lima
de Toledo, São Paulo é uma cidade que foi construída e destruída
três vezes em um só século, de modo que de uma geração a
outra, os jovens não conhecem arquitetonicamente a cidade onde
viveram seus antepassados recentes (São Paulo, Três Cidades em
um Século).

4. Processo Criativo 97
98
4.1 Edifícios Degradados
em uso
Capela dos Aflitos

A capela dos Aflitos, uma pequena construção tombada, localizada


no Beco dos Aflitos, no bairro da Liberdade, é datada de 1779.
Localizava-se antigamente no cemitério dos Aflitos, nomeado
dessa forma por abrigar corpos de escravos, indigentes e não
católicos. A capela e o cemitério acabaram no esquecimento
devido à construção do cemiterio da Consolação em 1858 e não
se sabe até hoje o que foi feito com os restos mortais que estavam
ali. Atualmente, está escondida em meio aos prédios. Ainda atrai
muitos fiéis e espanta o público que se assusta com sua aparência
nada conservada.

Imagem 17: Capela dos aflitos


Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 99
Galeria Presidente

A Galeria Presidente, também conhecida como Galeria do Reggae,


foi projetada pelos arquitetos Maria Bardelli e Ermano Siffredi
e foi inaugurada na década de 60. Faz a conexão das ruas 24 de
Maio e Dom José de Barros.

Imagem 18: Galeria Presidente


Fonte: A autora, 2018.

100
Edifício Rolim

Localizado na Praça da Sé, uma das mais originais construções


da cidade, o edifício Rolim foi projetado por Hippolyto Gustavo
Pujol, arquiteto responsável por outro edifício importante
para o desenvolvimento da cidade, o edifício onde hoje
se encontra o Centro Cultural Banco do Brasil. Inaugurado
em 1928, era, na época, um dos mais altos edifícios da cidade e
sempre foi um edifício comercial. Possui 90 salas. Com traços do
modernismo Catalão, o Rolim chamava atenção principalmente
nos dias nublados, destacando-se pela sua cúpula no topo,
revestida de bronze, que antigamente que funcionava como um
farol iluminado, emitindo uma luz verde pela cidade. Hoje em dia,
é um edifício que não possui visibilidade e ainda se encontra em
funcionamento.

Imagem 19: Edifício Rolim


Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 101


Cadete Galvão

O edifício Cadete Galvão foi construído na década de 20 pela


construtora Duarte e Cia e projetado por Ramos de Azevedo. O
projeto foi comandado pelos herdeiros do primeiro dono do terreno,
o Cadete José Pedro de Brito Galvão de Moura Lacerda, homenageado
pelos familiares com a nomeação do edifício.

Localizado na rua 24 de Maio, número 255, o edifício é tombado


pelos orgãos CONPRESP e CONDEPHAAT. Foi projetado
inicialmente para ser residencial, mas com o tempo se tornou
comercial e hoje abriga o primeiro museu da tatuagem de São
Paulo. Atualmente os donos do edifício procuram por patrocínio
para restauração.

Imagem 20: Edifício Cadete Galvão


Fonte: A autora, 2018.

102
Palacete Nacim Shoueri
Inaugurado na década de 30, o palacete Nacim Shoueri fica na
Avenida Exterior, número 93, na região da Rua 25 de Março.
Localizado no bairro Parque Dom Pedro II, o Palacete já foi um
dos ícones da arquitetura paulistana, trazendo consigo traços
da influência sírio-libanesa na região. A construção, quando
inaugurada era composta por 54 apartamentos e 15 lojas. Desde
2007 é tombada pelo orgão CONDEPHAAT e a sua antiga
descrição é contrastante com a situação atual da localização onde
se encontra.

Imagem 21: Palacete Nacim Shoueri


Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 103


104
4.2 Edifícios Degradados
Ocupados
Hotel Central
O Hotel Central representou um marco da arquitetura hoteleira
de São Paulo por ser o primeiro com quatro pavimentos. O hotel,
com estilo arquitetônico eclético, foi inaugurado na década de 20
e projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo. Antigamente,
o Centro de São Paulo era a primeira região procurada por turistas
para se hospedar. Em um primeiro momento, o trecho em específico
em que o edifício se encontra era uma região concorrida para
hospedagens, contudo, com o tempo e com a modernização de outras
regiões, os hotéis do centro começaram a perder seus clientes e, com
isso, foram à falência.

Imagem 22: Hotel Central


Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 105


Columbia Palace

O antigo edifício Duque de Caxias foi construído entre 1910


e 1927, projetado pelo escritório Ramos de Azevedo e a Cia.
Engenheiros Architectos Constructores, ainda contendo essas
informações em sua fachada. Já foi um ícone da hotelaria
em uma das regiões mais famosas de São Paulo, o cruzamento da
avenida Ipiranga com a São João. Seu projeto foi alterado nos anos
40, porém, o prédio acabou sendo abandonado e não há muitas
informações das razões para tal.

Estava “vazio” há mais de duas décadas e, em 2010, foi ocupado pelo


movimento Frente de Libertação por Moradia. Os moradores do
local contam que antes da ocupação, o prédio estava acumulado
de lixo, animais como ratos e inundações, e a união dos moradores
para limpar o local e tornar habitável se mantém forte até hoje,
fazendo com que a ocupação se tornasse um exemplo.

Imagem 23: Columbia Palace


Fonte: A autora, 2018.

106
Edifício Wilton Paes de Almeida

Com características modernistas, o Edifício Wilton Paes de


Almeida foi projetado na década de 1960 pelo arquiteto Roger
Zmerkhol e seu intuito inicial era ser sede da empresa Cia.
Comercial Vidros do Brasil. O prédio estava localizado na rua
Antonio de Godoi, no largo do Paissandu. Tinha 24 andares, 10
deles estavam ocupados.

O edifício foi tombado em 1992 pelo CONPRESP. Foi sede da


Polícia Federal e do INSS, e em setembro de 2002 o estado tomou
posse do edifício por conta de dívidas.

Há informações divergentes, mas entende-se que desde 2003


o edifício era ocupado irregularmente por diferentes
movimentos sociais. Em 2015, o prédio foi colocado à venda
por mais de R$20 milhões e em 2017, segundo a União, o edifício
foi cedido provisoriamente à prefeitura, que tinha a intenção de
trazer para o prédio a Secretaria da Educação e Cultura de São
Paulo. Em seus últimos momentos, era ocupado pelo Movimento
Social de Luta por Moradia e foram cadastradas mais de 100
famílias no local.

Sua fachada toda constituída por vidro lhe rendeu o apelido


“pele de vidro”. Essa fachada era o que diferenciava o edifício
de outras construções que geralmente abrigam ocupações. Na
madrugada do dia 1 de maio de 2018, à 1h.30mnt. da manhã um
incêndio se nstalou no 5º andar do edifício. Devido ao mau estado

4. Processo Criativo 107


de conservação e o abandono de anos, o incêndio se espalhou
rapidamente e o fogo chegou a atingir construções vizinhas.

Aproximadamente as 2h.50mnt. da manhã, a estrutura do edifício


não aguentou e o incêndio levou ao desabamento, trazendo à tona
uma grande trajédia e destacando o problema da moradia em São
Paulo. Foram identificadas 7 vitimas fatais e as 150 famílias que
ocupavam o edifício se encontram sem moradia

Imagem 24 : Edifício Wilton Paes de Almeida


Fonte: A autora, 2018.

108
4.3 Conceitos, Insights
e Naming

Desde quando iniciei a caminhada do TCC e venho pesquisando


sobre o tema, a primeira reflexão que me vem à cabeça é sobre a
“invisibilidade” dessas construções aos olhos de quem caminha
não só pelo centro, mas por toda a cidade. Chegamos a um nível
de descaso que nos prejudica, não nos deixa enxergar o que há por
trás de uma fachada degradada porque nem a fachada é notada.
Passa “em branco”. Quando não passa em branco, é taxado de
feio e sujo. Mas até a tragédia do edifício Wilton Paes de Almeida,
esse era um problema esquecido e, como refletido anteriormente,
não era prioridade das autoridades. São Paulo é uma cidade
relativamente jovem, mas é a maior cidade da América Latina
e a história da nossa arquitetura e a memória coletiva não são
nossos pontos fortes como cidade. Essa invisibilidade é o principal
conceito do meu trabalho.

Pensando nisso, quando comecei a criar um título, eu me deparava


com alguns sinônimos da palavra “invisível”. "Imperceptível",

4. Processo Criativo 109


"transparente", "translúcido". Caminhei por algumas opções
que pareciam muito longas para ser o nome do projeto. Cidade
invisível, cidade imperceptível, Cidade transparente. Mas, de
alguma forma, a palavra “translúcida” sempre chamou muito a
minha atenção. Para mim, ela tem alguns significados. Além de
ser algo que representa o que dificulta a visão entre o que está na
frente e atrás de uma barreira opaca, ela pode representar também
algo que permite que a luz passe, mas sem que os detalhes estejam
perfeitos à nossa visão. Também sempre a interpretei de forma
que fosse uma junção de várias cores, formando essa barreira
brilhante. Daí saiu o título do meu projeto.

A intenção principal é trazer informações, mas provocar um


esforço, ou ainda, um movimento consciente em direção a
essas informações para que as mesmas sejam acessadas; com
isso, pretende-se fazer com que haja algum tipo de estudo ou
direcionamento de recursos (mentais, energéticos, cognitivos,
físicos) para enxergar o que está ali. Como deveríamos fazer com a
cidade, a fim de que essa energia empregada gerasse empatia real
e nos fizesse sentir um acoplamento, ao ainda, uma mistura entre
a nossa realidade subjetiva e a realidade coletiva da cidade, algo
que verdadeiramente nos levasse a integrar de modo poderoso
nossa história individual e a história de São Paulo.

110
4.4 Cores, Identidade
e Materiais
Quando fiz os primeiros protótipos de páginas, no primeiro
semestre, gostaria que a cor principal do projeto fosse o vermelho,
assim como na bandeira da cidade de São Paulo. Além disso, o
vermelho, para mim, é uma cor forte que representa urgência,
chama atenção do leitor cidadão.

Imagem 25 : Estudo de Poster


Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 111


Imagens 26 e 27 : Estudos de
Páginas
Fonte: A autora, 2018.

112
Então, com o andamento do projeto, o seu conceito foi se
fortalecendo e resolvi que poderia ousar um pouco mais. Levando
em consideração o título, percebi que a palavra "translúcida"
me remete a 2 tipos de transparência: a transparência por si só,
que te permite ver o que está atrás de cada página, porém com
dificuldade, e a transparência com vários reflexos diferentes,
como por exemplo o efeito que o óleo causa na água, ou os reflexos
de um diamante.

Imagens 28 : Colagem
e estudos de cor
Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 113


Depois de analisar essas imagens, cheguei na seguinte paleta de
cores:

Imagens 29 : Paleta de cores inicial


Fonte: A autora, 2018.

Fiz os testes de cores no papel vegetal, papel esse que pretendia


utilizar na impressão do projeto. O amarelo e o verde encontrados
nas referências não ficavam tão chamativos e o material acabava
não fazendo sentido. Optei então por seguir com as cores que
funcionaram bem no material, o azul, roxo e o rosa escuro.

Imagens 30: Teste de cor


Fonte: A autora, 2018.

114
Fiz uma espécie de gradiente de uma cor até a outra que permite
que o leitor navegue pelas cores, chegando da primeira até a última
sem perceber destacadamente que as cores estavam mudando.
Cada tom é referente a uma construção.

Capela dos Edifício Cadete


Aflitos Galvão

Columbia Palace Palacete


Nacim Shoueri

Hotel Central Galeria


Presidente

Edifício Rolim Edifício Wilton


Paes de Almeida

4. Processo Criativo 115


Sempre soube que gostaria de fazer um livro. Não tenho muita
experiência mas acredito que concluir essa missão com um projeto
editorial se trata de um desafio pessoal que eu quero conseguir
completar. Pensando em tudo o que disse nas seções anteriores,
refletindo sobre o processo e esses insights, entendi que o meu
projeto não seria apenas um livro de leitura, mas sim um livro
experimental, ou como pode-se chamar, um "livro objeto".

Os livros-objeto não se prendem a padrões de forma ou


funcionalidade, extrapolam o conceito livro rompendo as
fronteiras comumente atribuídas aos livros de leitura para
se assumirem como objetos de arte. São objetos de percepção.
Normalmente, são obras raras, muitas vezes únicas, ou com
tiragens extremamente reduzidas. Resistem na contramão em
relação aos veículos reproduzidos em massa. CCBB, 1994.

No caso de um livro objeto, é preciso ir além da narrativa e


entender que suas interações e seus materiais também importam
tanto quanto o texto em si (quando há texto). Isso também vai
ao encontro de uma série de movimentos teóricos, artísticos e
culturais que consolidaram seus estudos e intenções de realização
ao longo do último século: o concretismo, a análise do discurso
voltada aos chamados elementos paratextuais (Análise do Discurso
Francesa), a semiótica peirciana e os experimentos de tradução
intersemiótica (Julio Plaza), os estudos de Pierre Levy sobre as
tecnologias da inteligência etc. As interações que escolhi trazer
no meu projeto se dão principalmente devido ao material com o
qual o miolo do livro é impresso: papel transparente. Só é possível

116
realmente ler o livro se abaixo das páginas forem colocadas folhas
de papel opacas (que se localizam no final do livro podendo, assim,
ser mobilizadas e colocadas embaixo daquela que se estiver
tentando ler no momento). Portanto, seu miolo muda de acordo
com o que o leitor ou a pessoa que está interagindo com o projeto
escolher, o que se assemelha também às iniciativas poéticas de
Mallarmé. O ponto principal é que ele é um amontoado de cores,
imagens, textos e padrões que se adaptam à vontade de quem
quer que esteja manuseando. A intenção é que a pessoa se esforce
para entender, que a leitura vá além de uma fachada. É necessário
descobrir como manusear e como visualizar as informações de
cada uma das páginas, assim como as histórias de cada um dos
prédios que decidi retratar.
Dois grandes casos análogos e exemplos de livros objetos
são o Na noite escura de Bruno Munari, um livro conhecido como
"Livro Invisível", que muda de acordo com o rolar das páginas e
um reporte anual que a designer Marian Bantjes diagramou, em
folhas transparentes, com uma quantidade grande de informação
ilegível uma vez que o livro é aberto. As páginas são legíveis com
uma folha branca embaixo.

Imagens 32: Na noite escura de Bruno


Munari
Disponível em: < https://www.researchgate.
net/profile/Marcio_Duarte2/publica-
tion/304541621/figure/fig16/AS:37811217398
5816@1467160375946/Figura-24-Reprodu-
cao-do-livro-Na-Noite-Escura-1962-de-Bru-
no-Munari-Fonte-O.png> Acesso em: 21
mai. 2018

4. Processo Criativo 117


Imagens 33: Marian Batjes - GDC/BC 2005 Annual Report
Disponível em: <http://1vdc2i2tjtnm3ur5rg2luwb3.wpengine.netdna-cdn.com/wp-content/up-
loads/2015/03/bantjes_2006_gdcar05-2.jpg> Acesso em: 21 mai. 2018

As interações que escolhi trazer no meu projeto se dão


principalmente devido ao material com o qual o miolo do livro é
impresso: papel transparente. Só é possível realmente ler o livro
se abaixo das páginas forem colocadas folhas de papel opacas (que
se localizam no final do livro podendo, assim, ser mobilizadas
e colocadas embaixo daquela que se estiver tentando ler no
momento). Portanto, seu miolo muda de acordo com o que o leitor
ou a pessoa que está interagindo com o projeto escolher, o que se
assemelha também às iniciativas poéticas de Mallarmé. O ponto
principal é que ele é um amontoado de cores, imagens, textos
e padrões que se adaptam à vontade de quem quer que esteja

118
manuseando. A intenção é que a pessoa se esforce para entender,
que a leitura vá além de uma fachada. É necessário descobrir
como manusear e como visualizar as informações de cada uma
das páginas, assim como as histórias de cada um dos prédios que
decidi retratar.

Comecei com várias visitas ao centro para fotografar as


construções antes mesmo de ter definido os objetos que estariam
presentes no livro. Algumas delas abaixo:

Imagem 34: Hotel Central


Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 119


Imagens 35 e 36: Columbia Palace e Galeria Presidente
Fonte: A autora, 2018.

120
Imagem 37: Cadete Galvão
Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 121


Fiz diversos testes de imagem e de impressão para entender como
as imagens ficariam em superfícies transparentes e que tipo de
edição teria de ser feita, uma vez que o branco não é impresso.

Imagens 38, 39 e 40: Testes -


Galeria Presidente
Fonte: A autora, 2018.

122
4. Processo Criativo 123
Para dar destaque a fachada de cada uma das construções, utilizei
alguns elementos. Foram estes fotos em preto e branco (tiradas
por mim, com exceção da imagem do edifício Wilton Paes de
Almeida), recortando a fachada das construções em questão, e
posicionando-as em frente a uma textura geométrica ou padrão
colorido, e logo depois, a foto original desfocada. As imagens
foram tiradas de um ângulo de baixo, como quando se caminha
pela cidade e percebe-se essas construções. A intenção é gerar
um alerta a todas as construções que, no dia-a-dia, passam
despercebidas.

Imagens 40 e 41: Final - Capela dos aflitos.


Fonte: A autora, 2018.

124
Imagens 42 e 43: Final - Wilton Paes de Almeida
Disponível em <http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2018/05/edificio-foi-projeta-
do-em-1961-e-abrigou-arquivos-do-deops/predio/@@images/3520df4d-1c88-4a94-b058-c29fe7d3ac27.
jpeg> Com edição da autora. Acesso em 3 mai. 2018.

4. Processo Criativo 125


Imagens 44 e 45: Final - Hotel Central
Fonte: A autora, 2018.

126
Imagens 46 e 47: Final - Columbia Palace
Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 127


Imagens 48 e 49: Final - Cadete Galvão
Fonte: A autora, 2018.

128
Imagens 50 e 51: Final - Galeria Presidente
Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 129


Imagens 52 e 53: Final - Palacete Nacim Shoueri
Fonte: A autora, 2018.

130
Imagens 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60 e 61: Texturas
Fonte: A autora, 2018.

4. Processo Criativo 131


O resultado final acabou se tornando algo com o tipo de resultado
que eu esperava: de acordo com as páginas que você vira, você
acaba vendo construções e padrões diferentes, sem perder muito
a leitura.

Quanto ao texto, fiz alguns estudos para entender como seria a


diagramação e o gride do livro.

Imagem 62: Gride


Fonte: A autora, 2018.

132
O gride possui 7 colunas e 8 linhas. As margens laterais tem
15mm, e as internas 20mm. As margens superiores tem 15 mm e
as inferiores 30mm.

As fontes escolhidas foram a Playfair Display e a Cormorant


Garamond. São fontes serifadas que acabam agregando um visual
mais clássico ao projeto, e em conjunto com os padrões, se forma
um contraste de contemporaneidade com o tradicional.

PlayFair Display
PlayFair Display
PlayFair Display
PlayFair Display
1234567890
4. Processo Criativo 133
Cormorant Garamond
Cormorant Garamond
Cormorant Garamond
Cormorant Garamond
Cormorant Garamond
Cormorant Garamond
Por fim, o logo do projeto:

134
5. Considerações
Finais

137
138
O desenvolvimento desse projeto me possibilitou conhecer um
lado diferente da cidade. Moro em São Paulo há apenas 2 anos,
em um bairro distante do centro e que não sofre com os mesmos
problemas. Esse estudo me permitiu conhecer uma São Paulo
diferente, uma necessita de atenção, de cuidado e de soluções
para esses problemas com urgência. Infelizmente a burocracia e
a falta de foco das autoridades gera o descaso contínuo e permite
que tragédias como o desabamento do edifício Wilton Paes de
Almeida aconteçam.

As perguntas iniciais da pesquisa foram: Por que há dificuldade de


manutenção do patrimônio histórico na cidade de São Paulo? Por
que algumas construções em estado de calamidade são ignoradas?
Como o design pode ajudar a conscientizar a população sobre o
processo de degradação arquitetônica?

Depois de entender sobre a situação da cidade e de seus problemas,


podemos perceber que a manutenção do patrimônio histórico
está longe de ser uma prioridade à prefeitura. Vimos ao longo do
ano de 2017 e até mesmo no começo de 2018, dinheiro sendo gasto
com restaurações desnecessárias e projetos que mais pareciam
uma forma de se posicionar politicamente do que um meio de
transformar a cidade em um lugar melhor para todos que nela
vivem. Vimos também uma enorme tragédia acontecer com uma

5. Considerações Finais 139


construção, patrimônio histórico da cidade, que era propriedade
do governo federal.

A impressão é que, as perguntas não são necessariamente


respondidas e a verdade é que gera-se mais. Quais são as
prioridades dessas autoridades responsáveis? Como podemos
manter vivos os últimos resquícios da memória que temos
da história da nossa cidade? Como é possível que um edifício,
patrimônio histórico, propriedade do governo federal, pegue fogo
e desabe em menos de duas horas? O esquecimento, por parte
do governo, se torna algo lucrativo quando uma tragédia como o
edifício Wilton Paes de Almeida acontece?

Acredito que o design tem seu papel na conscientização das pessoas


sobre o que está sendo visto e para onde a atenção está indo, que
não em problemas tão grandes quanto o desaparecimento da
história e da memória da cidade. Seja por meio de projetos como
intervenções artísticas, filmes, ou qualquer outro meio que possa
dar destaque ao que estamos perdendo.

O problema da degradação vai além de deixar a cidade suja e não


atrativa aos olhos de quem não a percebe e nem quer. Com ele,
vemos nosso patrimônio histórico sendo desrespeitado e destruído
em uma constante que não possui data para acabar. O problema da
ociosidade das construções no centro vêm a tona e pude analisar
que o problema da moradia em São Paulo se fez presente em toda
a pesquisa e em todas as etapas do projeto, mesmo tendo como

140
meu tema o patrimônio histórico. Os programas de revitalização
são caros, demorados, raramente saem do papel e, como vimos
em alguns casos, podem ser focados em construções que não
estavam em estado de degradação avançada, e poderiam esperar
um pouco mais.

De qualquer modo, posso dizer que realizar este fez com que meus
horizontes fossem expandidos com relação a todos os problemas
que vêm junto com a má preservação do patrimônio histórico de
São Paulo. Enxergo e observo a cidade agora com outros olhos, e
posso garantir que o meu objetivo foi atingido, pelo menos quanto
à mim mesma. Hoje, caminho pelo centro da cidade, e além de
saber me encontrar, reparo e questiono as histórias e origens de
diversas construções, cada uma com características divergentes
das anteriores, das menos destacadas até às mais grandiosas, e
posso dizer não sinto mais o mesmo medo arrebatador que sentia
do centro de São Paulo quando comecei o projeto. É um projeto que
eu gostaria de ter tido mais tempo para realizar, porém, que em
meio à toda a bagunça dessa rotina de trabalhadora e estudante,
me abriu os olhos para uma responsabilidade que também é
minha: a de me apropriar da cidade em que eu moro e de ter a
vontade de preservar a memória de quem um dia já morou aqui.

5. Considerações Finais 141


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