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A Aliança e o Povo de Deus-O Povo de Israel e Moisés
A Aliança e o Povo de Deus-O Povo de Israel e Moisés
Moisés, da "Tribo de Levi", muito embora mal vista pelo pai Jacó, com a
destituição da primogenitura (Gn 49,5-7), é quem vai comandar a libertação
de Israel das garras dos egípcios, conduzi-los até a Terra Prometida e
completar assim a Promessa feita a Abraão (Gn 12,7; 13,15; 15,18; 17,8).
Outra tradição israelita viu esse tempo de Moisés com mais profundidade
que a narrativa em tela, oferecendo um pouco mais de detalhes, fruto de
outra fonte:
Deus não se sujeita às convenções dos homens, mesmo se por vezes elas
se integrem em seus desígnios, e fará sempre o que for preciso para atingi-
los, tal como dirá a Moisés: "...terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer" (Ex 33,19), e o
escolhe. Moisés sacrifica todo o seu conforto na corte faraônica e se
esforça para se impor como líder israelita:
Ai, junto a um poço encontra, tal como aconteceu com Isaac e Jacó, as
filhas de um sacerdote, defendendo-as e dando de beber ao rebanho, pelo
que é acolhido e futuramente se casa com uma delas, que lhe deu um filho
Gerson (Ex 16,22) e outro Eliezer (Ex 18,4). Moisés, em virtude da sua
opção, também passa pelas mesmas vicissitudes por que passaram os
Patriarcas, por aquele amadurecer que lhe vem pelo sofrimento, até que
Deus se lembre de sua Promessa e da Aliança:
"E vendo o Senhor que ele se virara para ver, chamou-o do meio
da sarça, e disse: Moisés, Moisés! Respondeu ele: Eis-me aqui.
Prosseguiu Deus: Não te chegues para cá; tira os sapatos dos pés;
porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou
o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o
Deus de Jacó. E Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar
para Deus. Então disse o Senhor: Com efeito tenho visto a aflição
do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por
causa dos seus opressores, porque conheço os seus sofrimentos; e
desci para o livrar da mão dos egípcios, e para o fazer subir
daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que
mana leite e mel... E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel é
vindo a mim; e também tenho visto a opressão com que os
egípcios os oprimem. Agora, pois, vem e eu te enviarei a Faraó,
para que tires do Egito o meu povo, os filhos de Israel" (Ex 3,4-
10).
" Então Moisés disse a Deus: Quem sou eu, para que vá a Faraó e
tire do Egito os filhos de Israel? Respondeu-lhe Deus: Certamente
eu estarei contigo; e isto te será por sinal de que eu te
enviei: Quando houveres tirado do Egito o meu povo,
servireis a Deus neste monte. Então disse Moisés a Deus: Eis
que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de
vossos pais me enviou a vós; e eles me perguntarem: Qual é o seu
nome? Que lhes direi? Respondeu Deus a Moisés: EU SOU
AQUELE QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel:
EU SOU me enviou a vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás
aos filhos de Israel: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus
de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó, me enviou a
vós; este é o meu nome eternamente, e este é o meu memorial de
geração em geração" (Ex 3,11-15).
"Isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado do Egito
o meu povo, servireis a Deus neste monte", foi o sinal dado por Deus a se
realizar no futuro, aceito absurdamente por Moisés, a não ser que se
explique por um ato de profunda fé, cuja simples afirmação de Deus,
"certamente eu estarei contigo", lhe foi suficiente. A mesma fé de Abraão,
Isaac e Jacó prossegue seu caminho na realização da Aliança. Por outro
lado, e da mesma forma, o "...mais numeroso e mais forte do que nós" (Ex
1,9), tornou-se temido pelo Faraó não apenas em virtude do número de
pessoas, mas sobretudo do modo particular, especial e peculiar da fé, da
vida em comum e da unidade de seus membros, no que muito se distinguia.
Realmente. É um povo já organizado, consciente de sua unidade, tinha até
mesmo chefes distintos daqueles do Egito, a quem obedecia, só lhe
faltando a independência oficial para se desmembrar:
É que não podiam oferecer seus sacrifícios, pois as vítimas que ofereciam a
Deus eram deuses para os egípcios, o que lhes era "abominável", ofensivo
e ultrajante, pois que adoravam o boi, o carneiro e outros animais, imolados
pelos israelitas:
" Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir, a não ser por
uma forte mão. Portanto estenderei a minha mão, e ferirei o Egito
com todas as minhas maravilhas que farei no meio dele. Depois
vos deixará ir. E eu darei graça a este povo aos olhos dos egípcios;
e acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios. Porque cada
mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspede jóias de prata e jóias
de ouro, bem como vestidos, os quais poreis sobre vossos filhos e
sobre vossas filhas; assim despojareis os egípcios" (Ex 3,19-22).
Este final "...despojareis os egípcios", a referência ao "exército" de Israel
(Ex 6,26; 7,4; 12,36.51), bem como as "... jóias de prata e jóias de ouro..."
que servirão para a confecção do "Bezerro de Ouro" (Ex 32,2-4),
provavelmente do tipo daqueles "ídolos" que Raquel tirou de seu pai (Gn
31,19.30c.32.34s) representando "deuses" egípcios, insinuam que se
tratava de uma "guerra santa", pois, não fora assim não seriam "despojos".
Moisés resiste e apesar dos sinais que Deus lhe oferece para fazer e da
vara que lhe dá (Ex 4,17) não adquire coragem (Ex 4,1-10) e é nessa
ocasião que aparece pela primeira vez na Bíblia a função de um "profeta",
cujo significado é por demais deturpado pela deformação que lhe foi
impressa de "ser aquele que é capaz de fazer vaticínios ou previsões
dos acontecimentos futuros", mas não é assim. A língua portuguesa tem
uma palavra que pode auxiliar a compreender etimologicamente o
significado de "pro-feta". É a palavra "pro-nome" que significa "no lugar do
nome", isto é, a palavra que se usa em lugar do nome de uma pessoa: eu,
ele, nós etc.. Dentro dessa mesma estrutura "pro-feta" significa "o que fala
('feta' em grego) no lugar de outro". Moisés tinha razão de ficar temeroso,
"pesado de boca e pesado de língua", por ter de convencer tanto os seus
conterrâneos que o haviam "traído" (Ex 11-15 / At 7,23-25) e a corte
faraônica donde saíra, e "que traiu". É natural que assim se sinta, pelo que
protesta veementemente e insiste com Deus, resistindo, e dessa atitude
transparece o significado de "profeta" quando lhe é afirmado que seria
Deus para Aarão, em cuja boca poria as palavras para ele dizer:
"E ele falará por ti ao povo; assim ele será a tua boca, e tu serás para ele
Deus" (Ex 4,16) e "Aarão, teu irmão, será o teu profeta. Tu falarás tudo o
que eu te mandar; e Aarão, teu irmão, falará a Faraó (Ex 7,1-2). Basta a
leitura dos trechos acima transcritos para se perceber que "profeta é a boca
de Deus", "aquele que fala o que Deus coloca na sua boca" e não aquele
que faz vaticínios ou previsões de futuro. Como para Deus não há tempo,
as palavras que coloca na boca do profeta são sempre atuais, sempre se
realizam, parecendo que fez um vaticínio. Mas, é profeta porque fala aquilo,
e só aquilo, que Deus o manda falar, só por isso. Daí porque Aarão era o
profeta de Moisés, falando o que lhe determinava e Moisés funcionara
como deus para ele, colocando na sua boca o que deveria dizer. Assim
convencido e municiado com a "Vara de Deus" (Ex 4,17.20), Moisés parte
de Madiã:
"Tomarás, pois, na tua mão esta vara, com que hás de fazer os
sinais. (...) Disse também o Senhor a Moisés em Madiã: Vai, volta
para o Egito; porque morreram todos os que procuravam tirar-te a
vida. Tomou, pois, Moisés sua mulher e seus filhos, e os fez montar
num jumento e tornou à terra do Egito; e Moisés levou a vara de
Deus na sua mão" (Ex 4,17-20).
"...volta (...) porque morreram todos os que procuravam tirar... a vida" - esta
frase servirá de modelo a outra que será dita muitos séculos depois,
"cumprindo" o que aqui se "configurava" - José no Egito com o Menino
Jesus, fugindo de Herodes ouvirá a mesma conotação (cfr. Mt 2,20).
Mateus usará para mostrar com seu Evangelho, Jesus como o Moisés
prometido (Dt 18,15), já que José, parafraseando, "tomou, pois, ...sua
mulher e seu filho, e os fez montar num jumento e retornou à terra..." (cfr.
Mt 2,21).