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USP - ECA - CMU

Música Popular Brasileira II


Hyun Woo No
9290411
Prof. Ivan Vilela
Resenha do texto
Cosmologias do Capitalismo: o setor trans-pacífico do “Sistema Mundial”

O texto, escrito por Marshall Sahlins, explicita a expansão global do capitalismo


desmistificando equívocos atribuídos a ele. Refutando a teoria do Sistema Mundial, que
dizia que as colônias haviam sucumbido aos valores das nações do eixo central da época
(América do Norte e Europa), visto a força e imposição do imperialismo vigente, Sahlins
revela que os povos colonizados foram, na verdade, objetos ativos e determinantes na
trajetória do mercado internacional, aglutinando valores culturais estrangeiros à sua própria
cultura.
Um ponto interessante abordado no texto em questão é a validade do conceito do
Sistema Mundial, que torna-se a “expressão superestrutural do mesmo imperialismo que
despreza” (p. 49) à medida que presume que as sociedades “periféricas” não seguiriam
mais seus próprios mecanismos de funcionamento e não conseguiriam manter sua estrutura
uma vez expostos às garras do capitalismo opressivo ocidental. O autor indaga que tal
posicionamento revela essa mesma dominação, só que desta vez, no campo acadêmico, ao
negar intelectualmente, qualquer integridade cultural desses povos.
O texto afirma que o que aconteceu, de fato, com o encontro dos povos do
setor-transpacífico com os ideais ocidentais, foi uma continuidade cultural, não no sentido
de imobilidade, mas na lógica de mudança e progressão. Sahlins explicita que através das
trocas comerciais e da chegada de novos bens materiais nas colônias, de elevado valor
social, surgiram novas e influentes interações culturais. Fica evidente, dessa maneira, que
houve desenvolvimento, nos termos da cultura em questão. “É uma auto-realização cultural
na escala material, e em formas materiais nunca dantes conhecidas, mas nem por isso é
simples instalação de relações de mercado capitalistas.” (p. 56)
Marshall volta seu olhar, então, para o comércio no setor trans-pacífico e como se
deram as relações desses povos com a chegada do capitalismo mercantil, mais
especificamente, a China, as ilhas Sandwich (Havaí) e os Kwakiutl, povos indígenas que
habitavam a costa noroeste da região em questão.
No caso da China, é evidenciado que a troca de mercadorias era enxergado, pelo
imperador chinês, como uma forma dos bárbaros (mercadores ingleses) participarem de sua
soberania e grandeza, uma espécie de favor concedido aos selvagens. Por outro lado, para
os britânicos, seus produtos eram amostras, exemplos de seu engenho industrial,
indicativos de uma superioridade de sua civilização. Eles buscavam incitar uma maior
demanda de artigos semelhantes para facilitar a aquisição de chá, bem de consumo muito
apreciado na Europa.
Nas ilhas Sandwich, a questão era muito diferente. Os europeus eram vistos pelos
locais como seres mais elevados, até divinos, e seus bens materiais considerados muito
superiores aos seus. Dessa forma, a rivalidade entre os chefes havaianos se dava com a
acumulação de itens estrangeiros.
Por último, é dito que na cultura Kwakiutl, diferente da tradição nas ilhas Sandwich, a
aquisição de poderes e influência era dado por meio da distribuição de bens, no caso,
mantas trazidas pelos europeus. Esses presentes seriam uma espécie de troca com o
receptor, que estaria doando suas virtudes ao “remetente”.
A leitura de ​Cosmologias do Capitalismo​ nos guia na reflexão de como uma cultura
estrangeira se adentra e interage com a local. No âmbito da música brasileira, podemos
enxergar esse fluxo de informações em gêneros como o samba-canção, que surgiu com a
chegada dos filmes de Hollywood, e a Jovem Guarda, que inspirou-se no rock, sobretudo
norte-americano, e na música romântica italiana. E assim como dito no texto de Sahlins, as
reações a essas mudanças podem ser diversas. Cita-se, então, por exemplo, o movimento
da bossa nova como resposta ao samba-canção, buscando recuperar o balanço e gingado
próprios do samba; e a canção de protesto, simultânea à Jovem Guarda, que procurou
resistir à pressão internacional voltando-se à tradição e folclore locais. Destacam-se, ainda,
nesse universo, as propostas do tropicalismo (resgate de “todas as músicas”: bossa nova,
canção de protesto, jovem guarda, rock, música brega, etc., agrupando-as em uma espécie
de colagem) e do clube da esquina (assimilação de diversas influências, tanto nacionais,
quanto internacionais e posterior síntese de todas elas).

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