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VIOLÊNCIAS CONTRA MINORIAS SEXUAIS E DE GÊNERO IDOSAS: UMA

REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

Joel Hirtz do Nascimento Navarro, Camila Marchiori Pereira, Vanessa Nascimento


de Oliveira Rausch, Jésio Zamboni, Maria Angélica Carvalho Andrade.

Introdução

O termo “violência” tem origem na palavra “violentia” do Latim, derivada do


verbo “violare”, que significa ofender; violar; violentar; ferir; transgredir (FILARDI,
2002). Em 1996, a 49ª Assembleia Mundial da Saúde declarou que a violência é um
grande problema de saúde pública no mundo (WHA, 1996). Na concepção atual, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como:

O uso intencional de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra


si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou
possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento
prejudicado ou privação (WHO, 2002. p. 5).

A importância do tema da violência para o campo da Saúde Coletiva


relaciona-se com os impactos que pode gerar na saúde de indivíduos e
coletividades, podendo ser identificadas diversas consequências como mortes,
lesões, traumas físicos, agravos mentais, emocionais e a necessidade de colocar
em debate no setor saúde, novos problemas preventivos e curativos que deverão
ser identificados no cuidado em saúde de forma interdisciplinar, multiprofissional e
intersetorial (MINAYO, 2009).
O envelhecimento populacional no Brasil, ou seja, o aumento da participação
das pessoas idosas (aquelas com 60 anos ou mais de idade) no total da população
pode ser observado quando se compara as pirâmides etárias do País. Entre os anos
2000, 2010 e 2018 a representação de todas as faixas etárias para até 25 anos
diminuiu, ao passo que ocorreu um crescimento da população com 60 anos ou mais,
que era de 8% em 2000, 10% em 2010 e chegando a 13% em 2018 (IBGE, 2018). A
observação das pirâmides sugere que o País continuará nesse processo de
envelhecimento populacional, com taxas de crescimento da população idosa
superiores às da população mais jovem. Ademais, projeções indicam que no ano de
2030 aproximadamente 19% da população brasileira será composta por indivíduos
de 60 anos ou mais (IBGE, 2018).
Simultaneamente ao envelhecimento populacional a população de lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens transexuais (LGBT) se depara
diariamente com desafios para suas (sobre)vivências, enfrentando a regulação de
seus modos de vida, gêneros e sexualidades (RODRIGUES, ROSEIRO, SANTOS
FIM, 2017; PIWOWARCZYK, FERNANDEZ, SHARMA, 2016).
No contexto brasileiro, o Grupo Gay da Bahia (GGB) aponta que em 2018,
420 indivíduos LGBT morreram no país em decorrência da LGBTfobia (termo
utilizado para se referir às diversas formas de violências direcionadas à população
LGBT): ocorreram 320 homicídios e 100 suicídios (GGB, 2018). A cada 20 horas
uma pessoa morre por esse tipo de violência, o que coloca o Brasil na posição do
País que mais mata as minorias sexuais e de gênero em números absolutos no
mundo (GGB, 2018).
A violência que atingiu a população LGBT em 2018 no Brasil predominou na
faixa etária entre 18 a 25 anos (29%) (GGB, 2018). Em relação às pessoas idosas,
estas corresponderam a 4% das mortes segundo o GGB (2018). Enfatiza-se que o
Brasil não possui estatísticas governamentais que traduzam a realidade das
violências direcionadas às pessoas LGBT, sendo os dados produzidos e utilizados
nesse texto não representativos das realidades que vivem essa população, limitação
reconhecida pelo próprio GGB quando relata que “[...] tais mortes são sempre
subnotificadas já que o banco de dados do GGB se baseia em notícias publicadas
na mídia, internet e informações pessoais” (GGB, 2017, p. 2).
Nogueira e Cabral (2018) mapearem os assassinatos e as violações de
direitos humanos de pessoas trans (travestis, mulheres e homens transexuais) no
Brasil em 2017 e demonstraram que entre os 1911 indivíduos que responderam à
pesquisa, 1539 referiram que já foram vítimas de transfobia (termo utilizado para se
referir às diversas formas de violências direcionadas à população de
travestis,mulheres e homens transexuais) e apenas 15 dos participantes possuíam
60 anos ou mais de idade. A concentração de indivíduos que responderam a
pesquisa reduziu intensamente a partir da quarta década de vida. Segundo a
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) a estimativa da
expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos (ANTRA, 2018).
O fato das minorias sexuais e de gênero idosas estarem quase ausentes nos
estudos que mapeiam as violências contra esse segmento populacional leva a
diversos questionamentos dos motivos desse fenômeno. Sugere-se que essa lacuna
pode estar relacionada às dificuldades de acesso dessa população às pesquisas, à
“invisibilização” dessas pessoas – e consequentemente das possíveis violências que
sofrem - e às (im)possibilidades de envelhecer na condição de indivíduo que não
está em conformidade com as normas sociais hegemônicas em relação à orientação
sexual e identidade de gênero. No caso das pessoas trans questiona-se qual o
direito de envelhecer e de fazer parte do envelhecimento populacional no Brasil que
esses indivíduos possuem a partir da estimativa da sua expectativa de vida?
Em um cenário social onde ocorre o aumento dos registros das violências
contra a população LGBT concomitante ao envelhecimento populacional surge a
necessidade de serem estabelecidas reflexões baseadas na literatura científica
sobre como os fenômenos violentos podem se manifestar em relação às minorias
sexuais e de gênero idosas. Nesse sentido, Paiva (2009) destaca a necessidade da
concretização de um campo de investigação sobre envelhecimento de pessoas
LGBT no Brasil e aponta a existência de lacunas profundas de estudos que abordem
essa temática.
Butler (2018) define a precariedade como uma situação social, econômica e
politicamente induzida na qual determinadas populações sofrem as consequências
da deterioração das redes de apoio sociais e econômicas mais do que outras, e
ficam diferencialmente expostas ao dano, à violência e à morte. A precariedade
mantém uma exposição maximizada de populações específicas (como as minorias
sexuais e de gênero) à violência arbitrária do Estado, à violência urbana ou
doméstica, ou a outras formas de violência não representadas pelo Estado, mas
contra as quais os instrumentos judiciais do Estado não proporcionam proteção
suficientes (BUTLER, 2018). Nesse sentido, pode-se refletir que também há
precariedade no que se refere ao campo de investigação sobre as minorias sexuais
e de gênero idosas que colabora com a perpetuação das violências que atingem
essa população e sua maior exposição aos fenômenos violentos.
O objetivo do presente estudo é analisar a produção científica sobre
violências contra minorias sexuais e de gênero idosas. Acredita-se que com a
identificação de lacunas na literatura científica sobre essa temática, outras
investigações serão subsidiadas de forma que o campo de estudos sobre
envelhecimento da população LGBT ganhe visibilidade acadêmica, política e
reconhecimento na elaboração de políticas públicas voltadas para esse segmento
populacional. Cabe ressaltar que há razões éticas e morais suficientes para que
essa precariedade também presente no campo de investigação do envelhecimento
em relação às minorias sexuais e de gênero seja evidenciada e que assim, suas
vidas possam ser mais reconhecidas como vidas e mais vivíveis.

Métodos

O presente estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa de literatura.


A revisão integrativa de literatura é um método que possibilita a análise e a síntese
de diversos estudos publicados relacionados a um determinado assunto, como
também, identificar lacunas que precisam ser preenchidas com a elaboração de
novas pesquisas (ANDRADE et al., 2012).
Para realizar esta pesquisa serão seguidas as etapas preconizadas pela
literatura científica para desenvolvimento de uma revisão integrativa (MOSCHETA;
SANTOS, 2012; BICALHO; LOPES, 2012; SOUZA; SILVA e CARVALHO, 2010): 1ª
fase: elaboração da questão norteadora, 2ª fase: busca ou amostragem na literatura,
3ª fase: coleta de dados, 4ª fase: análise crítica dos estudos incluídos, 5ª fase:
discussão dos resultados, 6ª fase: apresentação da revisão integrativa.
A questão norteadora que motivou a realização dessa revisão foi: qual a
produção científica sobre violência contra minorias sexuais e de gênero idosas?
Para seleção dos artigos serão utilizadas as seguintes bases de dados: MEDLINE
(Medical Literature Analysis and Retrievel Sistem Online) via PubMed e via BVS e
LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde).
A combinação dos descritores em inglês através dos termos do Medical
Subject Headings (MeSH) e em português e espanhol de acordo com os Descritores
em Ciências da Saúde (DECS) e seus equivalentes, resultou em três estratégias de
busca: a 1ª, (violence OR prejudice OR homophobia) AND (aged OR older-adult OR
aging) AND (sexual and gender minorities); a 2ª, (violência OR preconceito OR
homofobia) AND (idoso OR idosos OR pessoa idosa OR pessoa de idade OR
pessoas de idade OR pessoas idosas OR população idosa OR envelhecimento OR
senescência) AND (minorias sexuais e de gênero) e a 3ª, (violencia OR prejuicio OR
homofobia) AND (anciano OR envejecimiento) AND (minorías sexuales y de género).
A busca de artigos nas referidas bases de dados foi realizada no mês de
março de 2019. Os critérios de inclusão adotados para seleção dos artigos que
compuseram a amostra dessa pesquisa foram: estudos que abordassem a temática
da violência contra minorias sexuais e de gênero idosas, publicados em português,
espanhol e inglês, com os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas,
com abordagem qualitativa e/ou quantitativa e que sejam caracterizados como
artigos originais publicados em revistas científicas. Não foram incluídos no presente
estudo teses, dissertações e literatura cinza a respeito da temática. Os artigos foram
selecionados sem delimitação de data, supondo-se que a temática a ser estudada
pertence a um campo de investigação com muitas lacunas a serem preenchidas e
sem um número intenso de estudos.
Primeiramente foi realizada a leitura dos títulos e resumos dos artigos
encontrados e aplicados os critérios de inclusão. Em seguida, realizou-se a leitura
na íntegra dos artigos selecionados para identificação dos estudos que comporiam o
corpus da presente revisão integrativa de literatura. A busca de artigos e seleção
destes para comporem o presente estudo foi realizada em pares, tendo um
pesquisador e uma pesquisadora como responsáveis para realizar essa tarefa e
aplicar os critérios de inclusão separadamente. Por fim, o pesquisador e a
pesquisadora responsáveis pela busca de artigos realizaram uma comparação dos
estudos encontrados e chegaram a comum acordo daqueles que fariam parte desta
revisão.
Para extração das informações relevantes e interpretação e análise dos
artigos selecionados foi elaborado um protocolo adaptado e específico para
avaliação dos estudos, com o objetivo de responder a questão norteadora da
presente pesquisa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010; MOSCHETA; SANTOS,
2012). Nesse sentido, foram protocoladas e extraídas as seguintes informações dos
artigos que compuseram a amostra desse estudo: a) Dados de identificação, b) Tipo
de publicação, c) Tipo de abordagem, d) Objetivo ou questão de investigação, e)
Dados da amostra e f) Resultados.
Resultados e Discussão

Por meio da primeira estratégia de busca foram encontrados 139 artigos na


base de dados LILACS e 235 na MEDLINE via PubMed, da segunda, 265 na
LILACS e 0 na MEDLINE via BVS e da terceira, 52 na LILACS e 0 na MEDLINE via
BVS totalizando 689 artigos científicos. Após a leitura dos títulos e resumos dos
artigos e aplicados os critérios de inclusão foram selecionados 25 estudos. Em
seguida, realizou-se a leitura na íntegra dos artigos selecionados para identificação
dos que comporiam o corpus da presente revisão integrativa de literatura. Foram
excluídos 15 estudos que estavam duplicados, 1 que não era caracterizado como
um artigo cientifico e 4 que não faziam parte da temática da presente revisão
integrativa de literatura. Por fim, 5 estudos compuseram a amostra dessa pesquisa,
conforme mostra a tabela 1.
Tabela 1. Distribuição dos artigos segundo título, ano de publicação, autores e
autoras, revista, país de origem e tipo de abordagem.
Nº Título Ano de Autores e Revista País de Tipo de
Publicação Autoras Origem Abordagem
1 Health Disparities 2014 Mary Beth Hastings EUA Qualitativa
among LGBT Foglia and Cent Rep
Older Adults and Karen I.
the Role of Fredriksen-
Nonconscious Goldsen
Bias
2 Healthy Aging in 2016 Mary Beth LGBT EUA Qualitativa
Community for
Foglia and Health
Older Lesbians
Karen I.
Fredriksen-
Goldsen
3 Homens 2017 Pedro Revista Brasil Qualitativa
homossexuais,
Paulo Kairós -
envelhecimento e
homofobia Sammarco Gerontologia
internalizada
Antunes

4 Same-sex partner 2016 Charlotte F. Aging & Inglaterra Qualitativa


A. Ingham,
bereavement in Mental
Fiona J. R.
older women: an Eccles, Health
Jocelyn R.
interpretative
Armitage &
phenomenological Craig D.
Murray
analysis

5 Older lesbians 2017 Sandra S. Journal of EUA Qualitativa


receiving home
Butler Women &
care: formal and
informal Aging
dimensions of
caregiving

6 Acho que aqui vai


entrar mais um
artigo que discute
a violência contra
minorias sexuais
e de gênero
idosas.
Na tabela 2 podem-se observar os objetivos dos estudos selecionados para
compor a presente revisão integrativa de literatura, bem como os dados de suas
amostras quando presentes.

Tabela 2. Distribuição dos artigos segundo objetivo, dados da amostra, principais


resultados e conclusões.
Nº Objetivo Dados da amostra
1 Como o viés inconsciente (isto é, ativação Resultados com citações de falas dos
de estereótipos negativos fora da participantes do estudo “Caring and
percepção consciente) no encontro clínico e Aging with Pride: The National Health,
no cenário de cuidados de saúde pode Ageing and Sexuality Study”, sobre
ameaçar a tomada de decisão lésbicas, gays, bissexuais,
compartilhada e perpetuar disparidades de envelhecimento transgênero e
saúde entre idosos LGBT. disparidades de saúde.

2 Explorar preocupações e preferências de Mulheres lésbicas de 60 anos ou mais.


mulheres lésbicas com 60 anos ou mais de Os grupos focais tinham em média de 4
onde e como viver conforme envelhecem. a 10 pessoas. O estudo não citou a cor
da pele das participantes.
3 Discutir possíveis impactos da homofobia Artigo de discussão sobre a temática da
internalizada em homossexuais idosos. homofobia internalizada em
homossexuais idosos.
4 Explorar experiências de luto de mulheres Estudo realizado com 8 mulheres
com mais de 60 anos que têm parceiras do lésbicas de 60 anos ou mais.
mesmo sexo.
5 Examinar o processo formal e informal de Estudo realizado com 20 mulheres
experiências de cuidado de mulheres lésbicas de 65 anos ou mais. Todas da
lésbicas com 65 anos ou mais, que cor branca.
utilizaram serviços de assistência domiciliar
devido a doença aguda ou incapacidade
crônica.
****Os estudos grifados talvez sejam
excluídos.
*****A ideia é pensarmos juntxs o que posso discutir com base nos resultados
desses artigos. Assim, formarei a discussão da minha revisão integrativa de
literatura. Falta só essa parte.

Estudo 1
*Não sei se esse estudo vai entrar na revisão. Pois pelo que entendi trata de
pessoas com menos de 60 anos de idade.

- Quase 15% dos adultos LGBT participantes do estudo relataram que estavam com
medo de acessar serviços de saúde fora da comunidade LGBT, e quase 13%
relataram que eles foram negados em serviços de saúde ou que lhes foram
prestados cuidados inferiores como resultado de sua sexualidade, orientação ou
identidade de gênero. (violência institucional).

- Um passo importante na eliminação das desigualdades evitáveis e na criação de


uma expectativa de confiança e conforto nos encontros de cuidados de saúde é
reconhecer que os estereótipos não conscientes de adultos LGBT (e outros grupos
marginalizados) persistem no sistema de prestação de cuidados de saúde e que
estes fatores contribuem às disparidades de saúde.

- (Quando o heterossexismo propaga as violências nos serviços de saúde...Como


isso se manifesta?) Quando o heterossexismo é internalizado, os médicos (e outros
membros da equipe de saúde) podem manter e agir de acordo com os estereótipos
e atitudes anti-LGBTs. Estereótipos não-conscientes podem se manifestar em atos
de vitimização e discriminação, como, por exemplo, quando um paciente
transgênero recebe assistência negada ou quando um hospital deixa de permitir que
um parceiro de mesmo sexo esteja na cabeceira do paciente na unidade de
tratamento intensivo ou se recusa a liberar o corpo do ente querido para o parceiro
no momento da morte. Também se manifesta como crenças que existem abaixo do
nível de consciência (por exemplo, ver orientação sexual não heteronormativa como
"desordenada", "imoral" ou "mutável") e, portanto, leva a comportamentos negativos.
Estudo 2
- As entrevistadas identificaram necessidades, preferências e barreiras relacionadas
ao envelhecimento organizado em torno de quatro temas: comunidade, finanças,
habitação e cuidados de saúde.

Comunidade:
- Várias participantes mudaram para sua residência atual para participar de uma
rede social robusta e amigável para LGBTs e se sentir relativamente seguras de
discriminação em um clima sociopolítico progressista. (violência cultural)
- As participantes expressaram um medo substancial sobre o futuro isolamento. Elas
expressaram medo de serem forçadas por deficiência ou doença para entrar em
residências assistidas ou casas de repouso, onde elas podem enfrentar isolamento e
estigma.
- Uma participante relatou que uma amiga teve que “voltar para o armário” quando
ela entrou em um lar de idosos. Medo de sofrer discriminação em instituições de
longa permanência. De ter que novamente excluir sua sexualidade.

Finanças: Embora elas queiram permanecer em comunidades de apoio e manter a


independência, muitas participantes demonstram-se preocupadas em não ter
recursos financeiros para isso. Vários relataram vulnerabilidade econômica. Esses
fatores podem, por exemplo, dificultar as alternativas/formas de escapar das
violências LGBTfóbicas com o envelhecimento? A questão da renda e do
envelhecimento, intersecções... Para pessoas idosas que correspondem às normas
sociais vigentes de gênero e sexualidade isso já é um problema, e para as pessoas
LGBT idosas?

Habitação: As interessadas em congregar casas notaram que isso ser uma maneira
útil de continuar tendo uma comunidade de apoio de amigos e compartilhar
recursos, com especial atenção para as necessidades dos indivíduos de baixa
renda.

Cuidados em saúde: As participantes apontaram que preferiam mulheres lésbicas


para lhes prestarem serviços em saúde. Falaram também sobre a importância dos
prestadores de cuidados em saúde terem sensibilidade e aceitação às necessidades
específicas delas, reconhecerem suas parceiras como membros da família e
capacidade de abordar questões de sexualidade, e aceitação delas como lésbicas.
(qualidade dos cuidados em saúde)

Estudo 3

- Por causa da internalização da homofobia, o sujeito homossexual pode passar a


acreditar que ele é repulsivo, e que boa parte de seus problemas pessoais decorrem
disso. De um modo geral, seu preconceito internalizado se apresenta em um
contínuo que vai desde questionamentos sobre o próprio valor pessoal, ódio por si
mesmo e, em casos extremos, a autodestruição. Independentemente da orientação
do desejo afetivo sexual, todos acabam por internalizar em algum nível, o longo
processo histórico de construção da homofobia e seus principais componentes
(heterossexismo, que considera a heterossexualidade como sendo a orientação
sexual superior às demais, patriarcado, machismo, misoginia e as normas sociais de
gênero).

- As novas possibilidades sociopolíticas para o idoso conquistadas a partir das


emergentes lutas dos aposentados possibilitaram a criação de espaços de
sociabilidade e outro lugar na sociedade fora da casa da família, do recinto do lar ou
reduto do asilo. Mas esse indivíduo ainda está sob o crivo da generalidade que não
leva em conta as suas particularidades subjetivas e sua agência no âmbito sexual.
Mesmo nesta nova representação do idoso na vida social contemporânea tem-se
uma conotação universalizante e generalizadora, determinada pela idade ou pela
identidade social de aposentado circunscrito à moral heterossexual.

- É sempre bom lembrar que cada ser humano é único e vai envelhecer de forma
única, independentemente da orientação sexual. Contudo, alguns marcadores
sociais influenciam neste processo, tais como: local de origem, etnia/raça, classe
social, faixa etária, escolaridade, valores morais, cultura, crenças religiosas, situação
familiar, rede de amigos, qualidade dos relacionamentos, local onde mora, trabalho,
saúde física e mental etc. do indivíduo em questão.
Estudo 4

*As participantes descreveram suas experiências de isolamento e exclusão após a


perda de suas parceiras.

- Muitas das mulheres não tinham redes familiares de apoio. Para algumas, isso se
deve ao fato de não serem aceitas pelas famílias de origem, levando a relações
tensas ou distantes. Muitas foram ativamente excluídas das famílias de suas
parceiras após o luto: "eles [filho da parceira e nora] me trouxeram para casa depois
do funeral e... me deixaram na porta e foi isso '(Liz). As participantes atribuíram isso
às famílias das parceiras, não as verem como membros válidos da família.
- As participantes relataram como a invisibilidade delas e de suas parceiras resultou
em seu luto sendo incompreendido e invalidado, causando-lhes angústia adicional...
"eles apenas assumiram que éramos duas amigas vivendo juntas ... as pessoas me
viam como tendo perdido uma amiga, mas na verdade era muito mais que isso
”(Harriet). Para alguns, isso resultou em sua dor ser ignorada completamente.
- A necessidade de encontrar novos espaços seguros para ser autêntica, uma vez
que sua parceira morreu, para apoiar o processo de luto e beneficiar seus futuros, foi
expressa pelas participantes. Havia uma sensação de que outras mulheres do
mesmo sexo seriam as melhores pessoas para fornecer este espaço para serem
autênticas, tanto durante o luto quanto em seus futuros: “O que você precisa nessa
situação é o apoio de outras pessoas com a mesma opinião, pessoas que são gays
'(Harriet). Apesar do desejo de socializar com outras mulheres do mesmo sexo, as
participantes não tinham essas redes sociais. Outras já tinham tido essas conexões,
mas à medida que envelheceram, sentiram-se desconectadas da comunidade
LGBT.
Estudo 5

Isolamento versus comunidade de amigos e / ou familiares

- Enquanto a maioria das participantes descreveu ter boas redes de apoio, sete
pessoas (mais de um terço da amostra) descreveram algum grau de isolamento,
com poucos amigos disponíveis nesta fase de suas vidas. Idade e dificuldades
físicas contribuíram para esse isolamento. Para duas participantes, seu isolamento
poderia ser atribuído, pelo menos em parte, à homofobia. Felizmente, quase dois
terços da amostra descreveram sistemas de apoio razoavelmente fortes compostos
de amigos e parentes geograficamente próximos e mais distantes.

- Embora seis das participantes (30%) tenham falado de problemas com seus pais,
irmãos ou filhos - muitas vezes relacionados a ser lésbica - nove participantes (45%)
relataram poder contar com membros da família para receber apoio neste momento
de suas vidas.

- As participantes relataram uma série de experiências com seus trabalhadores de


assistência domiciliar. Cinco participantes (25%) foram submetidas à homofobia.

- Sobre às percepções das participantes do estudo sobre o fato de serem lésbicas e


a relação disso com seu processo de envelhecimento ou atividades da vida atual
suas respostas variaram. Oito das participantes do estudo (40%) disseram que o
fato de serem lésbicas não afetou seu processo de envelhecimento ou suas atuais
atividades de vida.

- Em contraste com aquelas que pensavam que ser lésbica não fazia diferença em
seu processo de envelhecimento ou no dia-a-dia, duas participantes do estudo
(10%) pensaram que esse fato estava intimamente ligado a todas as partes de suas
vidas.

- Duas participantes do estudo (10%) notaram os efeitos negativos de serem


lésbicas à medida que envelheciam, em grande parte porque eram mais isoladas.
- Oito participantes (40%) observaram pontos positivos por serem lésbicas que
impactam no seu dia-a-dia e no seu processo de envelhecimento. Elas mencionaram
serem mais fortes, menos dependentes, mais ativas e menos constrangidas pelas
expectativas sociais do que pessoas heterossexuais.

- Ginger (uma participante) enfatizou o tema de ter quebrado costumes da sociedade


no início da vida e as conseqüências positivas: “eu sinto que lésbicas são mais
fortes e podem fazer mais só porque não há expectativa de ter que agir de uma
maneira particular, especialmente se você é velha, você sabe e saiu cedo; você não
tem essa expectativa que você tem que ser feminina. Então a expectativa é que eu
seja forte”.

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