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Editorial
Desenvolvimento territorial,
um caminho para o novo rural
A
escolha da abordagem ter- sas experiências foram analisadas pela colegiados territoriais de acordo com sua
ritorial para fomentar as po- equipe de transição, que recomendou a realidade diferencia esse programa de to-
líticas de desenvolvimento criação de uma secretaria, no âmbito do das as experiências anteriores no Brasil. A
rural pode ser explicada por uma série Ministério do Desenvolvimento Agrário paridade entre governo e sociedade civil
de fatores que ocorreram no País nos (MDA), para elaborar e executar um e a possibilidade de elaborar elementos
últimos 20 anos. O meio rural brasileiro programa para o desenvolvimento rural de planejamento com base em pactos
passou durante esse período por grande com abordagem territorial. territoriais também explicitam a inovação
efervescência, com as mobilizações em A Secretaria de Desenvolvimento desse modelo de gestão.
favor da agricultura familiar e da refor- Territorial (SDT) e o Programa A diversidade, a pluralidade e a au-
ma agrária e com a emergência de ato- Desenvolvimento Sustentável de tonomia dos atores sociais foram os fios
res sociais, como os atingidos por bar- Territórios Rurais (Pronat) surgem, en- condutores da política de desenvolvi-
ragens, os indígenas e os quilombolas. tão, com a missão de valorizar a agricul- mento territorial e sempre estiveram pre-
Esse processo coincide com as discus- tura familiar, enfrentar a pobreza rural e sentes em nossas ações, a exemplo da
sões sobre o enfrentamento da pobreza as desigualdades regionais, integrar as elaboração de planos e programas como
rural e a descentralização de políticas políticas públicas com um viés de inter- os Planos Territoriais de Desenvolvimento
públicas, com papel mais proativo dos setorialidade e promover a dinamização Rural Sustentável (PTDRS) e o Programa
municípios e do desenvolvimento local. das economias nos territórios rurais. de Apoio à Infraestrutura e Serviço nos
A proposta do Projeto Dom Começamos com pouco mais de 40 ter- Territórios Rurais (Proinf), que se comu-
Helder Câmara de integrar os vários ritórios e chegamos aos atuais 164. É im- nicam com outros, como o Plano Safra
assentamentos de reforma agrária portante destacar que nenhum território Territorial, os planos de negócios, os pla-
no Semiárido nordestino e os ele- se retirou do programa e mais de 60 rei- nos das cadeias produtivas e os planos
mentos do Projeto Alternativo de vindicam o ingresso nele. de cultura.
Desenvolvimento Rural Sustentável e O Pronat foi pautado desde a sua ori- O Pronat serviu, ainda, de referên-
Solidário (PADRSS) da Contag também gem por dois elementos fundamentais: cia para a formulação do Programa
podem ser considerados como embriões o protagonismo dos atores sociais e o Territórios da Cidadania do governo
da estratégia territorial. Em 2002, logo planejamento da gestão social. A flexibi- federal, que integra as ações de 22 mi-
após a vitória do presidente Lula, es- lidade para cada território configurar os nistérios e conta com um orçamento de
em termos do ingresso de novos atores programas nos territórios, pois o gover- Esse desafio requer uma mudança
sociais, a exemplo de empresários, uni- no federal tem se relacionado de forma profunda em nosso País, que somen-
versidades e categorias e organizações republicana com esses entes federativos. te será sustentada se, além da ação dos
sociais de caráter mais urbano. Portanto, Desse modo, esperamos que essa visão governos, houver forte envolvimento dos
é possível avaliar que a SDT/MDA rea- se consolide independentemente das atores dos diversos segmentos da socie-
lizou um trabalho muito bem-sucedido pessoas que conduzem os governos. dade, como trabalhadores (as), empresá-
nesses oito anos. Conseguimos reposi- Nós também temos a expectativa de rios, universidades, igrejas e organizações
cionar o rural em nossa sociedade, aca- colocar o que acumulamos nessa área a sociais, dentre outras. Essas são, então, as
bar com a ideia de que o campo era si- serviço do compromisso assumido pela premissas para se acabar com o resquício
nônimo de atraso e, em conjunto com o presidente Dilma de erradicar a miséria e de 20 milhões de pobres no País, que se
Conselho Nacional de Desenvolvimento diminuir a pobreza no Brasil. Nesse sen- encontram, principalmente, no meio rural.
Rural Sustentável (Condraf), elaboramos tido, vamos continuar trabalhando para Nesse sentido, estamos convictos de que
uma proposta de política de desenvolvi- que o Estado crie as condições para que os gestores públicos e os atores sociais
mento para o Brasil rural. a população de baixa renda seja incluída engajados com o desenvolvimento terri-
O Pronat foi concebido para 30 anos no processo de desenvolvimento. Enfim, torial vão contribuir de forma significativa
e devemos chegar ao fim desse período precisamos fazer uma passagem para para atingir esse objetivo.
Brasil. Portanto, não tenho dúvida de que não aceite conviver com uma situação Humberto Oliveira
ainda há muito o que fazer. Temos de me- de miséria de uma parcela significativa Secretário de Desenvolvimento Territorial
lhorar a nossa gestão, criar normativos de nossa população. do Ministério do Desenvolvimento Agrário
Arquivo SDT/MDA
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6 9 12
Um novo jeito de fazer política Pública Territorialização avança nos estados Planos territoriais
fortalecem a gestão social
Arquivo SDT/MDA
Paulino Menezes/MDA
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25 28 31
Bases de serviço de comercialização: Cooperativismo sustentável e solidário Atores territoriais criam
chave para a dinamização econômica novas formas de organização
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Arquivo SDT/MDA
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16 19 22
Colegiado territorial: Formadores de uma nova realidade rural Infraestrutura para
protagonista do novo Brasil rural gerar renda nos territórios
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Arquivo PDHC
Ronaldo Oliveira
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universidades: novos Investir no ser humano Parcerias para fortalecer
atores da política territorial e transformar o Semiárido a agenda territorial
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Pronat e Programa Territórios da Cidadania
Ricardo Stuckert / PR
Presidente Lula faz balanço do Programa Territórios da Cidadania durante o II Salão Nacional dos Territórios Rurais, em 2010
A
precariedade dos serviços públi- foi incluído no Programa Territórios da
cos de saúde e de educação e a Cidadania (PTC). “A transição de Território
ausência de políticas para a orga- Rural para Território da Cidadania provo-
nização da produção agrícola e comercial cou mudanças na maneira do Colegiado
Criado em 2003, o Pronat
sempre castigaram a população do Território atuar. Mas o importante é que renovamos
destacou-se como instrumento
da Baixada Cuiabana, no Mato Grosso. Esses o nosso compromisso com o desenvolvi-
inovador da gestão pública no
problemas começaram, finalmente, a ser re- mento do território”, avalia Antônio Fátimo,
Brasil. O programa concebido
solvidos depois que as políticas de desenvol- membro do Colegiado Territorial local.
pela SDT/MDA serviu, cinco
vimento territorial foram implementadas. No Entre outros resultados, a inserção do
anos depois, como base para
entanto, os resultados positivos alcançados território no PTC assegurou recursos para
a formulação do Programa
não se devem somente às ações dos poderes dar início à construção da central de co-
Territórios da Cidadania
públicos, mas, sobretudo, ao protagonismo mercialização. Os R$ 2 milhões liberados
dos Colegiados Territoriais. pelo programa vão erguer o mercado pro-
Os atores sociais sempre tiveram uma dutor e propiciar assistência técnica aos
postura bastante engajada nessa região. (às) agricultores (as) familiares dos 14 mu-
O Território da Baixada Cuiabana foi cria- nicípios que compõem o território. “Essa é
do no mesmo ano do lançamento do uma ação estratégica porque o Território
Programa Desenvolvimento Sustentável da Baixada Cuiabana concentra o maior
dos Territórios Rurais (Pronat) e, em 2008, número de pessoas entre os seis territórios
Territorialização
avança nos estados
A estratégia territorial do Pronat está sendo implantada com resultados significativos. Treze governadores já adota-
ram o modelo, que, além de garantir transparência e racionalizar os gastos públicos, valoriza o protagonismo social
Arquivo SDT/MDA
SDT/MDA aposta na territorialização dos estados para
alavancar desenvolvimento rural sustentável
A
opinião é unânime entre ges- Antônio Rodrigues, à época secretário de políticas públicas. O modelo de gestão
tores públicos da Bahia, de Desenvolvimento Agrário do Ceará. “O go- concebido pela Secretaria de Desenvolvi-
Sergipe e do Ceará: a terri- verno estadual aprende com as pessoas e mento Territorial do Ministério do Desen-
torialização nos seus estados deu mais a sociedade entende mais sobre a máquina volvimento Agrário (SDT/MDA) já ganhou
transparência à administração pública, pública”, acrescenta. adesão de 13 estados.
uma vez que aproximou os gestores pú- O Programa Desenvolvimento Sus- Além de Bahia, Sergipe e Ceará, os go-
blicos da sociedade. “O governante que tentável dos Territórios Rurais (Pronat) re- vernos do Acre, Alagoas, Espírito Santo,
adota essa prática torna sua gestão mais conhece os territórios como unidades de Goiás, Pará, Paraíba, Piauí, Rondônia,
clara perante a opinião pública”, afirma planejamento e de gestão integrada de Rio Grande do Norte e Roraima também
Ascom Gov. SE
saída para a população beneficiada por
programas de transferência de renda,
como o Bolsa Família.
Mudanças estruturais
A distribuição de recursos era desigual
antes da introdução do processo de terri-
torialização na Bahia. Algumas prefeituras
recebiam mais atenção do governo esta-
dual em função de alinhamentos políti-
cos ou por terem mais representatividade
na Assembleia Legislativa. “Com a polí-
tica de territórios, a alocação de recursos
Governador Marcelo Deda (PT) priorizou as ações ficou mais igualitária, evitando concen-
de territorialização no estado de Sergipe trações excessivas em determinadas regi-
ões. Há mais justiça nas ações de gover-
no”, analisa Alberto Valença, secretário de
“O recorte territorial certamente vai trazer efeitos desejados”, explica Alberto Valença, A territorialização promoveu, ain-
benefícios muito importantes para as po- secretário estadual de Planejamento. da, mudanças importantes na mentali-
pulações do interior”, acredita Humberto Em Sergipe, a territorialização aumen- dade dos prefeitos cearenses. Segundo
Oliveira, secretário da SDT/MDA. tou a arrecadação, com o crescimento eco- Antônio Rodrigues, antes, os gestores
De acordo com as projeções feitas pelo nômico por meio da criação de distritos municipais buscavam recursos estaduais
secretário de Desenvolvimento Territorial, industriais, da valorização dos arranjos pro- para investir, na maioria das vezes, em
se todos os estados adotassem essa ma- dutivos locais e das cadeias produtivas no infraestrutura. “Eles priorizavam gran-
neira de planejar suas ações, o Brasil teria interior, além de trazer economia para os des obras e se esqueciam das pessoas”,
aproximadamente 325 territórios rurais. cofres públicos. “O planejamento era frag- critica. Atualmente, os prefeitos estão
“Isso, com certeza, melhoraria a maneira mentado e, em muitos casos, havia sobre- priorizando o desenvolvimento econômi-
de fazer gestão pública no País”, acredita. posição de ações em um mesmo espaço, co, com foco no crescimento de cadeias
Gastos públicos humanos”, lembra Lúcia Falcón, a então se- paradigma de que projetos são mais im-
A territorialização também trouxe maior cretária de Planejamento do estado. portantes do que o (a) cidadão (ã), uma
racionalidade na aplicação dos recursos pú- Na opinião de Antônio Rodrigues, vez que são idealizados pela sociedade.
blicos. Na Bahia, por exemplo, as avaliações além de otimizar os gastos públicos, a É o fim das vaidades políticas”, acredita.
anuais possibilitam a correção do orçamento territorialização do Ceará também incen- Além disso, a política de territorializa-
público para o ano seguinte, à medida que tivou o empreendedorismo rural e possi- ção também minimizou conflitos entre o
ocorrem os investimentos nos territórios. bilitou a criação de políticas de geração poder público e as organizações sociais
“Quando direcionamos a verba para deter- de renda. Essas ações implementadas em algumas regiões. “Quando a gente
minada área, temos condições de analisar nos sete Territórios da Cidadania do es- convocava reuniões para discutir ações
Arquivo SDT/MDA
Piquet Carneiro é uma das cidades do Ceará que adotou os planos territoriais para planejar suas políticas públicas
Planos territoriais
fortalecem a gestão social
A
Os PTDRS são instrumentos A estratégia territorial alimenta Expedito do Nascimento (PSDB/CE), de
inovadores de gestão e
a democracia e solidifica a base. Piquet Carneiro.
controle social das políticas de
A tendência é que ela ganhe Ele começou a participar das discus-
territorialidade. Eles promovem a
mais força com o engajamento da juven- sões no Território do Médio Sertão em
integração entre as esferas pública
e social e orientam o planejamento tude nas decisões do território. Isso vai 2004, quando ainda era secretário de
das políticas públicas baseado em facilitar nosso futuro”. A defesa firme das Agricultura do município. O atual prefeito
metodologias participativas políticas de territorialidade é do prefeito foi protagonista do processo de elabo-
de Desenvolvimento Rural Sustentável Sertões de Canindé, e General Sampaio, no Territoriais. Trata-se de grupos locais for-
(PTDRS) em Piquet Carneiro. Vale do Curu e Aracatiaçu. mados por membros do poder público e
Expedito lembra que os argumentos “As políticas públicas foram organizadas associações comunitárias, que discutem
que utilizou para convencer o então prefeito e definidas adequadamente pela parceria melhorias para a população.
a aderir ao PTDRS foram a racionalização do entre poder público e população nos de-
planejamento orçamentário e, sobretudo, mais municípios do Território Sertão Central. Territorialização avança
os resultados positivos nos municípios vizi- Por que não daria certo em Piquet Carneiro, De acordo com Expedito, o processo
nhos. No Ceará, além de Piquet Carneiro, que tem proporções menores?” de territorialização do município permitiu a
duas outras cidades adotaram os planos Desde 2009, o município é dividido descentralização dos recursos da prefeitura,
territoriais para planejar suas ações políti- em núcleos de apoio administrativo, com tornando a gestão mais democrática e orga-
territorialização PTDRS nos 13 territórios rurais do Ceará indígenas na abordagem territorial. “Esse
do município tornou a seguiu as orientações da Secretaria foi o segundo passo que demos para
gestão mais democrática de Desenvolvimento Territorial do melhorar a condição de vida das comuni-
Ministério do Desenvolvimento Agrário dades na região”, afirma Dílson Ingarikó,
e organizada e
(SDT/MDA). Foram feitos levantamen- membro do Colegiado Territorial e asses-
também permitiu a
tos de dados com instituições gover- sor de gestão político-institucional do
descentralização dos
namentais e a verificação dessas infor- Conselho dos Povos Indígenas Ingarikó
recursos da prefeitura." mações com os comitês temáticos dos (Coping). Segundo ele, esse processo co-
nizada. “Com o auxílio de associações comu- ram discutidas em oficinas. A metodologia participativa que en-
nitárias, identificamos como poderíamos me- A legitimação do PTDRS de cada ter- volveu as organizações indígenas e as três
lhorar o atendimento à saúde e ampliamos o ritório cearense se deu somente após esferas do poder público levou em consi-
número de postos de saúde”, exemplifica. a última rodada de debates territoriais. deração a valorização de cada cultura in-
Os avanços obtidos permitem que o Atualmente, o estado já finalizou sete pla- dígena do território. “O fator cultural é o
prefeito afirme que a experiência com o nos territoriais. A previsão dos membros norteador para as demais dimensões do
PTDRS foi uma “forma de reinventar a po- do GTT é de que os demais serão concluí- desenvolvimento”, esclarece Válter Freitag,
lítica” no seu município. Ele reconhece que dos em fevereiro de 2011. consultor do Coping.
sustentável é uma “invenção” do governo Metodologia diferenciada contou com a participação de 17 or-
Lula e não demonstra qualquer incômodo A criação do Território da Cidadania ganizações indígenas que atuam em
político: “Atualmente temos de escolher Indígena Raposa Serra do Sol e São Roraima, com destaque para a Aliança
ideias e não siglas”, justifica Expedito. Marcos foi uma reivindicação das etnias de Desenvolvimento e Integração das
O Ceará é um dos estados da Região Ingarikó, Wapixana, Pantamona, Macuxi Comunidades Indígenas (Alidicir), a
Nordeste que adotaram o planejamen- e Taurepang, que ocupam uma área de Associação dos Povos Indígenas (Apirr),
to territorial (vide página 9). O Grupo 23 quilômetros quadrados no norte do o Conselho Indígena (CIR), a Organização
de Trabalho pela Territorialização (GTT) estado de Roraima. A adesão à política das Mulheres Indígenas (Omir), a
foi instituído pelo Conselho Estadual de de territorialidade faz parte da luta dos Sociedade de Índios Unidos (Sodiur) e a
Desenvolvimento Rural Sustentável, por povos indígenas para superar os proble- Coping. A Funai também participou ati-
meio da Resolução 101/2010. O GTT é mas seculares de opressão cultural e ex- vamente do processo de elaboração da
formado por representantes da Secretaria clusão econômica. estratégia metodológica para articular,
Estadual de Agricultura, da Delegacia O Plano de Etnodesenvolvimento sensibilizar e integrar as etnias, bem como
Federal do MDA, do Conselho Estadual de Indígena (PEI) nomenclatura dada pe- unificar um planejamento que valorizasse
Desenvolvimento Rural Sustentável e do los membros do Colegiado Territorial ao as identidades e o protagonismo de cada
ponsáveis pela capacitação de 240 agen- políticas públicas. passo para assegurar o etnodesenvol-
tes indígenas de desenvolvimento, sendo O plano está em vias de ser fina- vimento. Sem isso, seria difícil trazer
30 de cada uma das oito regiões indígenas lizado e já apresenta resultados sig- novas visões para a discussão conjun-
do território. A experiência girou em torno nificativos, como a aproximação en- ta e realizar atividades no Colegiado”,
da discussão de questões sobre etnode- tre o poder público e as lideranças ressalta Ingarikó.
Colegiado territorial:
protagonista do novo Brasil rural
Arquivo SDT/MDA
Recursos do Proinf financiaram a apicultura no Território da Cidadania Planalto Norte, em Santa Catarina
A
s políticas do Programa ganizada em diálogo com o poder públi- Os Colegiados Territoriais vêm sendo
Desenvolvimento Sustentável co contrapõe-se às práticas históricas de construídos desde 2003, como elemento
de Territórios Rurais (Pronat) clientelismo político. estruturante da implementação da es-
vêm mudando de forma significativa as Esses novos espaços de representa- tratégia territorial. Além de identificar as
relações do Estado com o Brasil rural. Os ção social e política formularam, a partir demandas dos territórios e de contribuir
Colegiados Territoriais estão permitindo de consensos e pactuações, estratégias para a elaboração dos planos territoriais,
a introdução de novas práticas na gestão das políticas públicas, que se materia- os Colegiados exercem a função de con-
social das políticas para o meio rural. A lizam por meio de planos, projetos e trole social da execução do Pronat e do
participação ativa da sociedade civil or- ações concretas. Programa Territórios da Cidadania (PTC).
aqueles que já participam dos Colegiados Territoriais”, aponta. volvimento em conjunto. “É uma forma
O titular da SDT/MDA entende que as prefeituras têm papel fundamental no desenvol- de trabalhar com os desiguais, tentando
vimento rural sustentável. “Elas precisam sair do isolamento local e pensar na amplitude do igualá-los numa ampla perspectiva de
território. Os municípios devem usar as potencialidades e buscar soluções de problemas desenvolvimento”, explica.
comuns ao território”, convoca o secretário. Entretanto, os avanços na área da saú-
O acompanhamento da execução das políticas públicas e o monitoramento de resul- de ainda são acanhados, apesar dos es-
tados e impactos é outro desafio para o próximo período. “O controle social, inclusive em forços para a formação de redes públicas.
situações de denúncias sobre a má condução das ações, traz ganhos para a população dos Segundo o administrador, essa timidez
territórios”, afirma.
se deve, em parte, à pouca participação
dos gestores municipais nas decisões do o caso do comitê de gênero no Espírito que a iniciativa está contribuindo para a
território. “Nem todos os prefeitos parti- Santo. Até 2005, as reivindicações das construção de um território mais justo.
cipam do colegiado”, lamenta. mulheres rurais não constavam da agen- “A partir do momento em que nos uni-
da do governo estadual e das prefeituras. mos e reafirmamos o nosso papel dentro
Protagonismo das mulheres A saída encontrada pelo Colegiado do Colegiado, conseguimos que outras
Os Colegiados Territoriais são condu- Territorial foi começar a criar comitês organizações nos valorizassem”, afirma.
zidos por um núcleo dirigente, que exe- de mulheres. O primeiro deles surgiu no Apesar dos avanços na formação de
cuta as deliberações das plenárias. Eles Território Norte do estado. “Tivemos de grupos produtivos e da assistência à saú-
são compostos também por núcleos téc- impor a nossa vontade e reivindicamos a de da mulher, Kátia constata que ainda há
nicos, câmaras temáticas e por comitês criação do comitê”, afirma Kátia Santos, discriminação no Colegiado. “Se as mu-
setoriais que tratam de segmentos so- representante do Comitê de Mulheres do lheres lutassem pelo que acreditam, mui-
ciais específicos. Essa estrutura é capaz Território Norte. ta coisa mudaria”, aconselha. Contudo,
de captar as demandas da população e Atualmente, cerca de 30 mulheres ela avalia que muita coisa mudou a partir
propor ações concretas para os gestores participam do Colegiado Territorial e 10 dessa organização. “Ter um espaço onde
públicos. entidades – sindicatos, movimentos so- podemos modificar essa realidade já é
Portanto, cabe ao Colegiado Territorial ciais, cooperativas, associações e comu- uma grande evolução. O Colegiado per-
ocupar os espaços políticos e apresentar nidades tradicionais – passaram a atuar mite que tenhamos voz e que sejamos
propostas de políticas públicas. Esse é no comitê de mulheres. Kátia acredita respeitadas”, conclui.
Rosenato Barreto/UFCG
O campus de Sumé (PB) é uma conquista
do Colegiado Territorial do Cariri Ocidental
Formadores de uma
nova realidade rural
O
s membros do Colegiado do educacionais para a população que habita o
Território do Cariri Ocidental, na bioma da caatinga, por meio das atividades
Paraíba, reivindicaram em 2006, de ensino, pesquisa e extensão.
O êxito das políticas de
do Ministério da Educação (MEC), a criação O Cariri Ocidental faz parte dos 60 ter-
desenvolvimento territorial
de um campus da Universidade Federal ritórios rurais que elegeram a educação
não depende somente do
de Campina Grande (UFCG) na cidade de como prioridade estratégica. O Colegiado
planejamento. É necessário
Sumé. A demanda da população da região Territorial, com o apoio da Secretaria de
ter pessoas capacitadas. É por
entrou em sintonia com a política do go- Desenvolvimento Territorial do Ministério do
isso que a formação do capital
verno federal de democratizar o acesso às Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA), inves-
humano é um dos principais
universidades públicas e o resultado dessa tiu na formação de educadores do campo, se
eixos de atuação do Pronat
parceria foi a instalação, em março de 2010, articulou com o Fórum Estadual de Educação
do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Campo e mapeou os jovens que não ti-
do Semiárido (CDSA) no município. nham acesso ao ensino superior na região.
O objetivo do centro é contribuir para a O Colegiado Territorial também par-
construção de um novo referencial científico- ticipou da concepção e da estruturação
tecnológico para o desenvolvimento susten- do campus de Sumé. Essas discussões
tável do Semiárido. O campus também abre resultaram na criação de sete cursos de
novas perspectivas econômicas, produtivas e graduação: Licenciatura em Educação do
imprensa. O processo de capacitação foi eles se transformam em agentes multipli- A proposta da Cooperativa Escola é
dado pelos professores da Uneb. cadores. “As pessoas percebem que podem desenvolver os empreendimentos rurais e
O trabalho de articulação da agência transformar a realidade que não está tão fortalecer as entidades cooperativas e as-
garantiu, ainda, a participação de jovens no boa em uma realidade melhor, produtiva”, sociativas por meio da formação do agri-
Comitê Gestor do Pacto Nacional Um Mundo afirma Wagner Abreu, assessor técnico do cultor familiar. A ideia é aliar o conheci-
para Crianças e Adolescentes do Semiárido, Território do Alto Jequitinhonha. mento teórico dos técnicos com o acúmulo
da Organização das Nações Unidas (ONU). O Colegiado Territorial também traba- prático dos (as) produtores (as), para que
“A Agência Mandacaru teve papel impor- lha a formação de agentes de desenvolvi- esses adquiram as condições necessárias
tante na formação de vários agentes, seja mento mediante a elaboração de estudos para administrar uma cooperativa.
reproduzindo o conteúdo de eventos do ter- de cadeia produtiva. “O propósito dessa De acordo com Vanderley Ziger, presi-
ritório, seja buscando parcerias para ‘educar’ ação é identificar os potenciais do territó- dente do Sistema Cresol, a aproximação en-
jovens”, afirma Camila Oliveira. rio e orientar os atores sociais de acordo tre técnicos (as) e agricultores (as) resultou
A coordenadora do projeto conta tam- com a realidade e as demandas da popula- no incremento das condições econômicas
bém que as parcerias foram importantes ção local”, esclarece Abreu. das propriedades rurais e na melhoria da
porque ajudaram a agência a se estabelecer gestão das cooperativas e das proprieda-
como um canal de comunicação confiável, Cooperativismo des. “É visível o conhecimento que adqui-
ainda que gerida por jovens que estão ad- Na Região Sul, a Cooperativa Escola, li- rem. Os (as) agricultores (as) compreende-
quirindo experiência. “É uma forma de so- gada ao Sistema de Cooperativas de Crédito ram o processo de gerenciamento de uma
mar esforços para fortalecer o território por Rural com Interação Solidária (Cresol), é cooperativa, seja ela de crédito, de produ-
meio da comunicação. Não basta ter boas o braço dos Territórios Rurais de Santa ção ou de habitação”, comemora.
ações desenvolvidas sem dar visibilidade Catarina – Alto Vale do Itajaí e Meio Oeste O dirigente do Cresol acrescenta que
dentro e fora do território”, defende. Contestado – e do Paraná para a capacita- a implantação da política territorial con-
É por essa razão que a Mandacaru ção dos (as) agricultores (as) familiares. tribuiu para o processo de formação de
foi selecionada como uma das boas prá- A cooperativa já formou 3,5 mil agen- agentes de desenvolvimento territorial,
ticas territoriais da Bahia e convidada tes de desenvolvimento em gestão coope- uma vez que trabalha com heterogenei-
pela SDT/MDA para participar do II Salão rativista, financeira, operacional e estraté- dade territorial. “Eu não posso trabalhar a
Nacional dos Territórios Rurais. gica. Além dos (as) produtores (as) rurais, capacitação no Vale do Ribeira, no Paraná,
o público-alvo é composto por agentes da mesma forma que promovo um curso
Agentes multiplicadores comunitários, gestores (as) e funcionários no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. São
A formação de agentes de desenvolvi- (as) de cooperativas de nove territórios: realidades econômicas e culturais distintas.
mento também faz parte das prioridades do dois de Santa Catarina, Alto Vale do Itajaí e A discussão territorial para mim foi funda-
Território do Alto Jequitinhonha, em Minas Meio Oeste Contestado, e sete do Paraná. mental”, constata Ziger.
Infraestrutura para
gerar renda nos territórios
O
s (as) agricultores (as) familiares territorial, que recebeu apoio do Programa
e assentados da reforma agrária de Apoio a Projetos de Infraestrutura e
do Território do Médio Sertão, Serviço em Territórios Rurais (Proinf).
Criado para financiar e viabilizar na Paraíba, identificaram, em 2005, que a O Proinf foi criado pela Secretaria de
projetos estruturantes de comercialização de seus produtos era um Desenvolvimento Territorial do Ministério
apoio à agricultura familiar, dos principais problemas na região. As dis- do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA)
há oito anos o Proinf colabora cussões no Colegiado de Desenvolvimento em 2003, para alavancar recursos para pro-
com o desenvolvimento rural Territorial (Codeter) apontaram, então, jetos de desenvolvimento rural sustentável
sustentável para a necessidade de se criar uma feira nos 164 territórios rurais. A SDT/MDA in-
para vender o excedente da produção. vestiu, nos últimos oito anos, cerca de R$
Mas, para que a ideia se tornasse realida- 1,5 bilhão, recursos que beneficiaram, dire-
de, era preciso buscar recursos, escolher um ta ou indiretamente, produtores (as) rurais
local, comprar barracas e equipamentos e de 2,5 mil municípios brasileiros.
capacitar os (as) produtores (as) para traba- A SDT/MDA disponibilizou R$ 70 mil re-
lhar com a comercialização direta. Essas de- ais desse valor para financiar o projeto do
mandas foram transformadas em um projeto Território do Médio Sertão. Os recursos do
Divulgação
Arquivo SDT/MDA
Cooperativa Nossa Terra, em Erechim (RS), promove atividade de capacitação
A
venda dos produtos sem- O papel da BSC é suprir a necessidade técnica, do comércio justo e solidário, e das
pre foi um grande entrave de assessoramento dos empreendimentos bases de serviço de comercialização”, conta
para a consolidação da agri- para acesso aos mercados e ampliação e Daniel Tygel, secretário-executivo do FBES.
culta familiar. A criação de Bases de geração da renda dos (as) agricultores (as) Segundo Tygel, as BSCs possibilitaram o
Serviços de Comercialização (BSC) foi a familiares. atendimento à demanda de assessoria téc-
solução encontrada pela Secretaria de Em nível nacional, o Fórum Brasileiro de nica especializada voltada para a comercia-
Desenvolvimento Territorial do Ministério Economia Solidária (FBES) teve participação lização dos (as) agricultores (as) familiares e
do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) fundamental no debate para a criação das dos (as) produtores (as) da economia soli-
para superar essa deficiência no âmbito BSCs. “Trouxemos nossa expertise para o dária. “Temos no Brasil várias experiências
dos empreendimentos familiares. campo da comercialização, da assistência de formação relacionadas ao empreende-
zações sociais que trabalhavam com sistemas de comercialização. Apesar de esses mercados institucionais criados pelos pro-
empreendimentos enfrentarem uma série de dificuldades, eles foram a base para a gramas de Aquisição de Alimentos (PAA) e
de Alimentação Escolar (Pnae) e seus im-
criação das BSCs em 2007. Essa experiência foi analisada, no ano seguinte, na I Con-
pactos no desenvolvimento rural.
ferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, que aprovou
Apesar dos percalços, Alex Chagas é
uma política de fomento das unidades de assessoramento de comercialização da
otimista sobre o futuro do assessoramen-
agricultura familiar.
to técnico realizado pelas BSCs. Ele espera
Essas contribuições foram fundamentais para que outros órgãos públicos se inte-
que, nos próximos dois anos, a agricultura
ressassem pelo tema e para que, em 2008, as BSCs fossem incorporadas ao Programa
familiar sergipana dobre o fornecimento
Territórios da Cidadania do governo federal. Atualmente, a SDT/MDA investe R$ 75 mil
de produtos para a merenda das escolas
em cada uma das 150 BSCs. públicas. Ele também trabalha com a meta
terno também têm garantido resultados das BSCs foi uma decisão acertada. Ele considera que elas aceleraram o processo
positivos. Recentemente, a Cooperativa de discussão sobre agricultura familiar e economia solidária nos Territórios Rurais e,
Nossa Terra – BSC que coordena todas
à medida que o processo de criação de redes for ampliado, os resultados políticos
as ações no Rio Grande do Sul – firmou
parceria com uma processadora de laran- dessa experiência tendem a crescer.
ja para a fabricação de suco orgânico. A A experiência dos últimos três anos indica que os empreendimentos da agricul-
Ecocitrus exporta toda a sua produção e, tura familiar assessorados por essas entidades têm conseguido mais êxito do que os
após esse convênio, agregou os produtos
que não tiveram atendimento especializado. O diretor do Decoop afirma que não se
do Território Alto Uruguai à sua demanda.
“Estamos fazendo parcerias para comer- pode separar a política de fomento da comercialização dos territórios do contexto
cializar o suco de laranja para fora do País, estadual. “A grande parte da riqueza dos estados está nas regiões metropolitanas e
pois os valores pagos são altos e é uma for- pensar a economia do território sem levar em consideração as áreas urbanas afeta a
ma de divulgar o produto no exterior”, afir-
dinamização econômica do meio rural”, destaca.
ma Marcelo Cozer, gerente-geral da BSC.
As parcerias da cooperativa também Vital elenca desafios que precisam ser solucionados, como a ampliação do
alcançam os mercados internos. Além de apoio às BSCs, bem como a qualificação dos técnicos para melhoria de sua atuação
comercializar o excedente para outras re- junto aos empreendimentos. No entanto, as dificuldades não abalam seu otimis-
giões do Rio Grande do Sul, como a Central
mo. “Daqui para a frente, o impacto no processo de comercialização será cada vez
de Comercialização de Porto Alegre, já fo-
ram iniciadas negociações com a prefeitu- mais expressivo”, avalia.
Arquivo SDT/MDA
Unicafes organiza cooperativas de produção da agricultura familiar em vários estados do País
O
O fortalecimento das coopera- série de encontros para debater medidas
Cooperativas da agricultura tivas de produção e de crédito concretas para fomentar o cooperativismo
familiar contribuem para as da agricultura familiar sem- brasileiro no meio rural.
políticas de desenvolvimento pre foi uma das metas da Secretaria de Os participantes desses encontros indi-
territorial, cujas estratégias Desenvolvimento Territorial do Ministério caram a necessidade de criar uma entidade
também visam ao fortalecimento do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA). para incrementar a organização das coope-
do cooperativismo no Brasil É por essa razão que a SDT/MDA promo- rativas dos (as) agricultores (as) familiares.
veu logo após sua criação, em 2003, uma O fruto dessas discussões surgiu, no ano
centrais que precisam ser modificados com urgência. oferecidas para os (as) agricultores (as) fa-
“Precisamos de uma forma diferente de tributação, pois a cooperativa não é como miliares nos territórios rurais. Elas contam
com estrutura e profissionais especiali-
uma empresa comum. Ela tem fim social. Nós trabalhamos com excedentes, mas não
zados para qualificar o trabalho dos coo-
visamos a lucro”, pondera o dirigente.
perados. Outra ferramenta da política de
A regulamentação das cooperativas de trabalho é outra proposta das cooperativas
desenvolvimento territorial rural utilizada
da agricultura familiar que está sendo analisada pelo Congresso Nacional. “O pro-
pelas cooperativas são os planos de cadeia,
blema é que muitas empresas se revestem de cooperativas de trabalho, o que acaba que consistem em estudos, feitos geral-
dando a impressão de que todas são fraudulentas”, justifica o presidente da Unicafes. mente por técnicos de entidades parceiras,
sobre todas as etapas de uma determinada
Integração necessária
A organização das cooperativas da agricultura familiar é fun- (PTC), entre vários outros, são exemplos de programas que con-
damental para que elas tenham força política e representatividade centram recursos para investimentos não só da SDT/MDA, mas de
perante os órgãos governamentais. A defesa desse ponto de vista vários outros órgãos da administração pública federal”, lembra o
é feita por Vital Filho, diretor do Departamento de Cooperativis- diretor do Decoop.
mo, Associativismo, Negócios e Comércio (Decoop) da SDT/MDA. Desse modo, a conexão entre a abordagem territorial e as de-
Vital também defende que as cooperativas precisam se inserir mandas dos (as) agricultores (as) familiares é bastante estreita.
na política de territorialidade, pois o desenvolvimento sustentá- “Essa associação de interesses justifica plenamente a necessidade
vel dos territórios rurais é uma prioridade do governo federal. “O de avançarmos na integração entre as cooperativas, os Colegia-
Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviço em dos Territoriais e os instrumentos das políticas de desenvolvimen-
Territórios Rurais (Proinf) e o Programa Territórios da Cidadania to territorial”, conclui.
Arquivo SDT/MDA
Rede Nacional unificou a organização
dos Colegiados Territoriais
A
política territorial de desenvolvi- III Encontro Nacional de Colegiados
mento rural sustentável se con- Territoriais, organizado pela Secretaria de
solidou ao longo dos últimos Desenvolvimento Territorial do Ministério
Criação de redes de colegiados
oito anos. Os avanços obtidos são resulta- do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA)
e estímulo à criação de con-
dos do processo de permanente avaliação em 2009, na cidade de Beberibe, no Ceará.
sórcios públicos fortalecem os
da estratégia territorial e do surgimento A proposta se tornou realidade no ano se-
territórios rurais
de novas institucionalidades, que aperfei- guinte, em Brasília, após a quarta edição
çoaram as metodologias de intervenção do encontro dos representantes dos terri-
nos territórios rurais. A criação da Rede tórios rurais de todo o País.
Nacional de Colegiados Territoriais e o sur- A Rede Nacional foi criada para unifi-
gimento dos primeiros consórcios públicos car a forma de organização dos Colegiados
intermunicipais são as principais expres- Territoriais e superar as ações isoladas de
sões dessas novas formas de organização. cada território rural. A ideia é fortalecê-los
A ideia de se criar uma rede na- como instâncias de governança, diálogo,
cional surgiu durante as discussões no participação, negociação e gestão de po-
Apesar de ter sido prevista na Constituição rurais começaram a ser dados em 2010. tar e o desenvolvimento das regiões mais
de 1988, a lei dos consórcios públicos só foi A Casa Civil da Presidência da República, pobres do País. Ele difere dos consórcios pú-
aprovada em 2005, após negociação en- em conjunto com o ministérios do blicos porque agrega, além dos municípios,
tre o Congresso Nacional e um grupo de Desenvolvimento Social e Combate à Fome entidades da sociedade civil. A assessora da
trabalho governamental coordenado pela (MDS), da Pesca de Aquicultura (MPA), do Presidência da República ressalta que essas
Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Meio Ambiente (MMA) e a SDT/MDA, se- experiências foram construídas sobre a égide
Institucionais, que envolveu a Secretaria lecionaram municípios de 11 territórios ru- jurídica do direito privado. Nesse sentido, o
da Casa Civil e os Ministérios da Fazenda, rais, que foram visitados, em setembro, por desafio colocado para o governo federal foi
Integração Nacional, Cidades e Saúde. técnicos com a missão de explicar as vanta- apresentar uma alternativa para superar es-
A assessora especial da Presidência da gens dessa forma de cooperação. Além de sas limitações. “Uma das diferenças entre os
República Paula Ravanelli, que participou das várias reuniões com os prefeitos, os mem- dois modelos é que a legislação não permite
iniciativas do governo para estimular a criação bros dos Colegiados Territoriais também que o poder público possa repassar recursos
dos consórcios públicos nos territórios, afirma participaram dessas discussões. para os consórcios de direito privado”, escla-
que esse instrumento pode ser usado para rece Ravanelli.
construção e gerenciamento de projetos de Experiência do Consad A expectativa do governo federal é de que
investimentos. “Esse instrumento pode aten- O objetivo do governo federal é dis- os Colegiados Territoriais venham, a partir de
der às demandas de um município, a exemplo seminar os consórcios públicos nos locais agora, participar ativamente dos consórcios
da construção de galpões de armazenagem atendidos pelo Programa Territórios da públicos que estão sendo criados. “Já formu-
de grãos ou compra de máquinas”, esclarece. Cidadania. O ponto de partida foi identificar lamos um modelo de contrato de construção
As prefeituras também podem fazer li- os territórios da cidadania onde já havia o do consórcio. Esse documento reconhece o
citações conjuntas para adquirir bens e ser- Consórcio Nacional de Segurança Alimentar Colegiado Territorial como instância de parti-
viços de custos elevados. Essa medida pode e Desenvolvimento Local (Consad), idealiza- cipação e controle social”, explica.
diminuir o impacto das aquisições nos orça- do e organizado pelo MDS. “Esses consórcios Os 11 territórios rurais visitados formu-
mentos municipais. “Estamos falando de mu- já trabalhavam com a perspectiva de associar laram um protocolo de intenções para a
nicípios rurais pequenos, que estão localiza- os municípios para desenvolver projetos es- constituição dos consórcios públicos. Esses
dos nas regiões mais vulneráveis do País. Se truturantes. Portanto, essas prefeituras têm documentos devem ser enviados para a
eles montarem uma estrutura administrativa experiência de consorciamento, mesmo que Câmara Municipal de cada município en-
única para organizar os processos licitatórios, com limitações”, afirma Ravanelli. volvido. “Os vereadores vão analisar e au-
as prefeituras vão gastar menos e atender O Consad é uma experiência bem-sucedi- torizar a criação dos consórcios. A nossa
mais pessoas”, exemplifica Ravanelli. da do Ministério de Desenvolvimento Social estimativa é que todos os territórios ado-
Os primeiros passos do governo para e Combate à Fome no sentido de associar os tem essa forma de organização em 2011”,
utilizar esse instrumento nos municípios municípios para garantir a segurança alimen- conclui a assessora da Presidência.
Parceria aproxima
universidades dos territórios rurais
A
Política Territorial de Desenvol- mento territorial rural, além de produzir tra-
vimento Rural Sustentável ga- balho qualificado para avaliação da política.
Ação de grupos acadêmicos com
nhou, a partir de 2010, mais um Dessa forma, foi celebrado um termo
os Colegiados Territoriais permite
instrumento que vai ajudar a medir os de cooperação entre a SDT/MDA e o CNPq,
a avaliação e o acompanhamento
resultados das ações – são as células de seguido do lançamento, em 2009, de edi-
da política de desenvolvimento
acompanhamento e informação. As célu- tal específico para seleção de projetos de
rural nos territórios. A las são unidades operativas integradas por pesquisa e extensão tecnológica de uni-
expectativa é de que os resultados professores(as) e técnicos(as) de universi- versidades públicas brasileiras. Os projetos
obtidos possam contribuir para a dades públicas, encarregadas de coletar e deveriam ser focados em acompanhamen-
melhoria do processo de gestão analisar dados sobre a gestão para o de- to, monitoramento e avaliação da política.
da política de desenvolvimento senvolvimento dos territórios rurais. Além das atividades de coleta e alimen-
rural com enfoque territorial em O Sistema de Gestão Estratégica (SGE) tação de dados e informações no SGE, as
todos os níveis é a ferramenta desenhada pela SDT/MDA equipes dos projetos estão fazendo aná-
para apoiar o trabalho das células e favore- lises e avaliações de diversos aspectos e
cer a inserção da academia no processo de processos em curso nos territórios. A partir
desenvolvimento territorial. A ideia é criar da socialização dessas análises será possí-
mais um canal de comprometimento das vel que os atores envolvidos em todos os
universidades com o tema do desenvolvi- níveis possam qualificar sua atuação.
Arquivo SDT/MDA
Divulgação
que vai desenvolver seus trabalhos no
Território Zona Sul do Estado, no Rio
Grande do Sul. Segundo o professor co-
ordenador do projeto, Sergio Schneider, a
equipe do projeto que atuará no território
gaúcho é constituída de um consórcio que
conta com a participação das universida-
des federais de Pelotas e de Santa Maria.
Trata-se de grupo de pesquisa multidisci-
plinar que congrega sociólogos, geógra- Os projetos financiados pelo CNPq têm como desafio analisar
os impactos a partir das percepções dos beneficiários
fos e economistas para atuar no tema do
desenvolvimento territorial rural.
Divulgação
Projeto Dom Helder investe na organização produtiva da agricultura familiar nos territórios rurais
O
Projeto Dom Helder Câmara O PDHC é uma ação da Secretaria de As ações do PDHC estão voltadas
(PDHC) é uma experiência que Desenvolvimento Territorial do Ministério para o desenvolvimento sustentável do
exercita e pratica ações em fa- do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA), Semiárido nordestino, com base no con-
vor do desenvolvimento rural sustentável, com o apoio do Fundo Internacional de ceito de convivência com as característi-
com uma visão sistêmica e holística, cuja Desenvolvimento Agrícola (Fida), organis- cas climáticas da região. A sua proposta
institucionalidade se apoia na interação mo das Nações Unidas. A sua área de atu- é articular as dimensões sociopolíticas,
entre o Estado e a sociedade. Trata-se de ação são oito territórios rurais, distribuí- ambientais, culturais, econômicas e tec-
um olhar diferenciado para o Semiárido dos nos estados de Sergipe, Pernambuco, nológicas com os processos participati-
do Nordeste, que se contrapõe a um pas- Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e vos de planejamento, gestão e controle
sado de políticas públicas descontínuas, Piauí. O projeto atinge 337 áreas de as- social. A motivação principal do projeto é
fragmentadas e inadequadas, produzidas sentamentos da reforma agrária e comu- investir no ser humano para que ele seja
a partir de pacotes tecnológicos desen- nidades de agricultura familiar, localizadas protagonista das transformações orien-
volvidos fora da realidade e do contexto em 77 municípios, beneficiando mais de tadoras de uma vida melhor e da supera-
desse bioma. 15 mil famílias. ção da pobreza.
O PDHC também firmou convênios levar as necessidades encontradas para positivos do Projeto: “As ações desenvolvi-
com órgãos públicos, como Banco do as reuniões da associação comunitária, das pelo PDHC são um exemplo de suces-
Nordeste, Embrapa, Incra, universidades, dos fóruns territoriais e dos conselhos so para os brasileiros e para o mundo”.
governos estaduais e municipais, bem municipais de desenvolvimento rural O órgão também registrou que a
como com federações de trabalhadores (as) sustentável”, afirma Santiago. conclusão do projeto e as avaliações
na agricultura. Essas parcerias têm possibi- Outro diferencial do PDHC é a des- apresentadas em Recife, no final de
litado a integração de políticas públicas centralização e o processo democrático 2010, comprovaram resultados concre-
e maximizado os resultados das ações de tomada de decisões. São as pessoas tos, que são frutos da parceria entre
conjuntas. da comunidade que escolhem como e o governo brasileiro e o Fida. “O bom
onde será investido o dinheiro. “O que êxito desse programa abriu as portas
Saber prático fazemos é aproximar a população das para outras etapas de um novo projeto
Um dos princípios do PDHC é o “apren- políticas públicas”, esclarece Rufino. O em áreas carentes do Brasil”, pontuou o
der fazendo”. Cada nova ação se torna um diretor-geral explica, ainda, que o pro- documento do Escritório de Avaliação
projeto piloto. A população desenvolve a jeto foi a fonte que alimentou a criação Independente.
iniciativa com orientação técnica, mas tam- da política de territórios rurais. “Vem do O relatório sustenta, por fim, que a po-
bém aprende com a observação e anotação PDHC essa nova estratégia de desenvol- breza rural foi reduzida, a população teve
dos resultados de cada etapa. “Acreditamos vimento, ou seja, a territorialização da acesso à educação, aos recursos técnicos e
que não se transfere facilmente tecnologia. ação para mobilizar a população nas re- aos mercados de consumo. Esses resulta-
Por isso, criamos unidades demonstrativas giões mais pobres”, garante Rufino. dos foram obtidos graças a um “programa
para o aprendizado pela experimentação”, bem articulado”, que atendeu 15 mil famí-
explica Espedito. Avaliação lias nos seis estados atendidos pelo PDHC
O responsável pelas parcerias com O Fundo Internacional de Desen- e permitiu que os beneficiários pudessem
a Petrobras assinala que em um proje- volvimento Agrícola (Fida) investiu apro- desenvolver e estruturar os conhecimen-
to de irrigação, por exemplo, o produ- ximadamente 100 milhões de dólares nas tos. “Essa gente compreendeu as vanta-
tor rural aprende e passa a observar o regiões do Semiárido nordestino assis- gens de permanecer na própria terra, que,
manejo da água, os ciclos da plantação tidas pelo PDHC nos últimos 10 anos. O apesar da seca, o Projeto Dom Helder de-
e experimenta formas diferentes de cul- Escritório de Avaliação Independente do monstrou que pode produzir benefícios”,
tivo. “A partir dessa observação podem Fida registrou recentemente os resultados conclui a avaliação do Fida.
Martin D`Ávila/Divulgação
SDT/MDA apoiou a realização do 2º Terra Madre Brasil, em março de 2010, em Brasília
Martin D`Ávila/Divulgação
Carlo Petrini, do Slow Food (e): “O consumo dos
alimentos reflete a organização agricultura no mundo”
Coordenação editorial
Berenice Gomes da Silva, Fernanda Corezola