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Gonçalves Dias na Amazônia - Relatórios e

Diário da Viagem ao Rio Negro


Josué Montello

"[...] Foram escritas no período de maio a junho de 1861, em Manaus, as poesias mais
profundamente sentidas com que Gonçalves Dias exprimiu a sua crise romântica. Esses dois
meses devem ser considerados entre os mais pungentes de sua existência. O sentimento do
exílio, que desde cedo o dominou, agravou-se na Amazônia com a memória do bem perdido na
pessoa de Ana Amélia. E quem sabe se não poderíamos explicar o seu total desapego à vida,
de que deixou registro no seu Diário da viagem ao rio Negro, como ressonância da crise que
então sofreu?

Em duas poesias dessa fase - 'Oh! Que acordar!' e 'Se muito sofri já, não mo perguntes' - deu
forma lírica ao seu cansaço da vida, que só a morte poderia curar. Na primeira, ao considerar o
que significava a renúncia de seu grande amor, o poeta derrama o pranto nestes versos:

Qual o horrendo porvir que após nos guarda

Não os sabeis, eu sei!

É ser morto por dentro, é dizer d'alma

Jamais feliz serei!

É criar tédio à vida! - um só receio

Ter-se - que seja eterno

Este viver, este descrer de tudo,

Este penar no inferno!

Na segunda poesia, o tédio à vida é ainda mais doloroso:

Que faço aqui? Dias cansados, anos

Sem fim - durar!

Depois que te perdi, viver ainda,

Viver, penar!...

Eu, não! Quem for feliz que preze a vida,

Tema perdê-la!

Por mim, não tenho horror, nem tédio à morte,

Clamo por ela!

[...]"
(Josué Montello, na Introdução)

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