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Coletânea de Textos PDF
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Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra¹, Eliza Flora Muniz Araújo² e Rita de Cassia Tesseroli³
Resumo. O avanço das tecnologias tem sido algo evidente no desenvolvimento do processo da
aprendizagem em todos os níveis de ensino. Alunos e professores encontram-se diante de uma sala de aula,
inserida no Ambiente Virtual de Aprendizagem, rico de possibilidades de interações e colaborações on-line.
O trabalho objetiva desenvolver reflexões sobre mediação tecnológica no Curso Técnico em Manutenção
Automotiva, da Universidade Estadual do Maranhão, na perspectiva de exercitar estudos e produção de
conhecimentos no processo ensino-aprendizagem, gerando como resultados, indicadores relevantes para
subsidiar as políticas de formação profissional, notadamente, dos cursos técnicos ofertados na modalidade
a distância. Apresenta um estudo de caso, de abordagem qualitativa, cujo método possibilitou o exame da
realidade concreta, mediante a observação, descrição e análise do Ambiente Virtual de Aprendizagem e
suas ferramentas. Realizou-se entrevistas com os principais sujeitos do processo: alunos, tutor e professor.
Os resultados apontaram diferentes modelos de mediação, os quais implicam em interações.
Palavras-chave: Mediação tecnológica; ambiente virtual de aprendizagem; curso profissionalizante;
modalidade de educação a distância.
Technological Mediation: interactive tools used in the Automotive Maintenance professional course
Abstract. The advancement of technology is something amazing for the development of the learning
process at all levels of education. Students and teachers are facing a new classroom – the Virtual Learning
Environment – rich in possibilities of online interactions and collaborations. The present work aims to
develop reflections on technological mediation in the Technical Course of Automotive Maintenance, of the
State University of Maranhão, in a perspective of exercise studies and production of knowledge in the
teaching-learning process, generating as results, relevant indicators to support professional training policies,
in particular, of the technical courses offered in distance modality. It consists in a case study, with a
qualitative approach, which method allowed the examination of the concrete reality, through observation,
description and analysis of the Virtual Learning Environment and its tools. Interviews were conducted with
the main subjects of the process: students, tutor and teacher. The results showed different models of
mediation, which implies interactions.
Keywords: Technological mediation; virtual learning environment; professional course; distance education
modality.
1 Introdução
Com o aparecimento das tecnologias digitais interativas surgem também diferentes formas de
ensinar e aprender, ou seja, outras maneiras de relação se estabelecem no processo ensino-
aprendizagem, por meio da mediação tecnológica. É evidente que a educação no Brasil vive um
momento de expansão propiciada pelo uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC),
contribuindo para transpor as barreiras geográficas e temporais até então existentes, especialmente,
quando se trata de cursos ofertados na modalidade a distância. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB, 1996):
[...] a educação a distância (EaD) é uma atividade pedagógica caracterizada
por um processo de ensino e de aprendizagem realizado com a mediação
docente por meio da utilização de recursos didáticos sistematicamente
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meio da “ciência e tecnologia” que as pessoas se instrumentalizam para melhor lutar pela
causa da educação, compreendida assim, como instrumento a serviço da democratização para
formar pessoas participantes, pelas suas vivências comunitárias nos grupos sociais e no
diálogo. Seguindo a mesma linha de pensamento de Freire, Masetto complementa a ideia de
mediação, numa perspectiva mais didática, quando assim coloca:
Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento do
professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da
aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o
aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte
“rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus
objetivos (Masetto, 2008, p. 144).
Assim, com base em Freire (2007) apreendeu-se que o processo de mediação se dá nas
diferentes formas de comunicação e nas relações que se estabelecem entre os seres humanos,
ou seja, o processo de mediação se constrói a partir da nossa cultura, do nosso trabalho e das
experiências de vida, implicando numa releitura crítica do mundo. A partir de Masetto (2008),
o entendimento de mediação passa por uma relação pedagógica professor – aluno, em ações
conjuntas, no diálogo aberto, de relações de empatia e confiança no aprendiz. No contexto das
mediações tecnológicas aplicadas à educação, o AVA se apresenta como um espaço dinâmico,
possibilitando discussões, troca de experiências e a socialização do conhecimento entre os
participantes. Nesse sentido, Filatro corrobora ao afirmar que esses ambientes “[...] refletem
mais apropriadamente conceitos de ‘de sala de aula on-line’, em que a ideia sistema eletrônico
está presente, mas é extrapolada pelo entendimento de que a educação não se faz sem ação e
interação entre as pessoas”. (Filatro, 2008, p. 120). Dai pensar-se que num ambiente de EaD a
aprendizagem não pode acontecer de forma receptiva, uma vez que as interações são
fundamentais para que o processo de conhecimento se desenvolva de forma colaborativa. Há
de se convir que a interação acontece significativamente quando a afetividade está articulada
ao processo ensino-aprendizagem, pois a realização da aprendizagem é imprescindível para a
construção de vínculos na relação pedagógica entre todos os envolvidos. Nessa perspectiva,
entende-se que um AVA para proporcionar interação, autonomia e aprendizagem
colaborativa, deverá permitir diferentes estratégias de aprendizagem, de forma a atender o
maior número de estudantes, mas também, a individualidade de cada um, considerando o
interesse, a familiaridade com o conteúdo, a motivação e a criatividade. Nesse sentido,
importa a seguinte reflexão:
Desse modo, espaços de aprendizagens que visam a construção de
conhecimentos significativos devem considerar as vivências e experiências,
o repertório cultural e os aspectos subjetivos exteriores ao sujeito,
relacionando às situações sociais de desenvolvimento em que o mesmo está
envolvido. (Cruz e Souza, 2014, p. 8).
Esse pensamento converge para Coll e Monereo que destacam a importância da internet neste
começo de século, uma vez que tem alterado significativamente os cenários e as finalidades da
educação, valendo até mesmo dizer que tem sido responsável pela redefinição do espaço e o
tempo de educar, tudo de maneira muito peculiar. (Coll e Monereo, 2010, p. 21).
Portanto, o Ambiente Virtual de Aprendizagem traz novas oportunidades educacionais,
permitindo dentre outras vantagens, possibilidades de mediações entre professores e alunos
de modo a serem capazes de tomar decisões no compromisso do seu próprio aprendizado.
3 Percurso Metodológico
De acordo com Minayo (2008) a pesquisa é a atividade fundamental da ciência no que diz
respeito a sua indagação e construção da realidade. Para esta autora é a pesquisa que dá
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espontânea e muito embora o quantitativo seja pequeno, estes colaboraram com dados e
informações bastante significativas para a compreensão dos fatos observados. A despeito
disso, cabe enfatizar que na pesquisa qualitativa o objetivo da amostra é produzir informações
aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que seja capaz de
produzir novas informações (Deslauriers, 1991, p. 58). É importante registrar que do universo
de 18 alunos apenas cinco participaram de forma efetiva da entrevista. Todavia o convite foi
extensivo a todos, mas a maioria não se disponibilizou a participar. Em relação ao tutor, a
turma possui um tutor presencial e um a distância, mas somente o tutor a distância aceitou o
convite, e, considerando que o objetivo principal da pesquisa era conhecer como se dá a
mediação no ambiente virtual por meio das ferramentas interativas, o tutor a distância é ator
fundamental. No caso da seleção do professor, foi escolhido o da Prática Profissional por ser
este professor que acompanha o aluno em toda a sua trajetória durante o curso. Na
delimitação do objeto deste estudo, estabeleceu-se como espaço o Ambiente Virtual da
Plataforma Moodle, com destaque a feramenta fórum, considerada nesta pesquisa, a
ferramenta interativa mais utilizada para a mediação tecnológica no Curso Técnico em
Manutenção Automotiva, por seu grande potencial de mediação no processo de construção
coletiva do conhecimento. Além disso, são utilizados com menor frequência: wiki, chat,
webconference, dentre outras interfaces.
3.1 Procedimentos da coleta e análise dos dados
A metodologia deste estudo tomou como base os elementos mais adequados para o alcance
dos objetivos da pesquisa, tendo em vista a mediação tecnológica. Dessa forma buscou-se
coletar os dados e informações de forma direta e indireta, pautando-se em dois momentos
distintos: o primeiro, nas observações feitas no AVA, e o segundo nas entrevistas realizadas
com um professor, um tutor e cinco alunos. Para coleta de dados, trabalhou-se considerando
um dos critérios de classificação de pesquisa proposto por Vergara (1990), ou seja, no que diz
respeito aos meios, uma vez que se buscou sustentação nos registros sobre o assunto no
ambiente virtual do curso (plataforma moodle) e nos depoimentos dos próprios atores do
processo ensino-aprendizagem. Em relação às observações, montou-se um roteiro de
observação sobre as ferramentas do AVA, de modo a serem identificados os aspectos que
pudessem facilitar ou dificultar o processo de mediação, tais como: estruturação do ambiente,
apresentação dos conteúdos e atividades, as formas de interações adotadas e a criatividade,
entre outros aspectos. Como já abordado anteriormente, na EAD o AVA se constitui um
importante espaço potencializador dos processos de mediação para as atividades on-line. Para
cada curso da UEMA existe uma sala virtual, provida de ferramentas para facilitar a
comunicação síncrona ou assíncrona, oportunizando assim, a troca de saberes e a construção
de conhecimentos de maneira interativa, de forma que os alunos, independentemente do
tempo e do espaço, possam tornar-se agentes de sua aprendizagem. A despeito disso, vale
proceder à seguinte reflexão:
[...] educação a distância está relacionado à utilização de algum recurso
tecnológico e didático para mediar a comunicação entre professores e
alunos, em espaço e tempos distintos. Deste modo, essa modalidade
educacional é responsável por romper com os paradigmas educacionais
tradicionais na medida em que torna possível, através das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs), estabelecer a relação de ensino e
aprendizagem. (Silva e Figueiredo, 2012, p. 3).
Cabe ressalvar que o ambiente do Curso Técnico em Manutenção Automotiva é rico em
possibilidades de aprendizagem, pela forma como se apresenta. Ao acessar o AVA, o aluno
depara-se com um conjunto de recursos, tais como: Guias e Manuais, Biblioteca Virtual,
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Secretaria Virtual, Bloco Ranking e Espaço de Convivência. Cada um desses recursos congrega
vários outros elementos, contendo informações e orientações que possibilitam situar o aluno
no contexto de um curso na modalidade EaD. A seguir, a figura 1 apresenta o print da página
inicial do AVA, apresentando os icones dos principais elementos contidos na sala virtual do
Curso Técnico em Manutenção Automotiva, a fim de uma melhor compreensão das midias
adotadas que implicam mediações e consequentemente permeiam reflexões e enriquecem as
discussões.
Fig. 1. Tela inicial da Sala Virtual do Curso Técnico em Manutenção Automotiva – UEMA
Além dos recursos que tratam da parte mais informativa, mencionados anteriormente,
existem os módulos. A matriz curricular do Curso Técnico em Manutenção Automotiva
contempla quatro módulos, e, na ocasião da pesquisa, os alunos encontravam-se concluindo o
segundo módulo. Nos Módulos, encontram-se inseridas as disciplinas com seus respectivos
Planos de Ensino, Roteiros de Estudo, os Roteiros das Práticas e os Cadernos de Estudo, sendo
este último, considerado o material indispensável do aluno. Além disso, existem os materiais
complementares (textos, vídeos, games, sites indicativos), as atividades e as avaliações. Dentre
as principais atividades realizadas no ambiente estão os fóruns de discussões, as web
conferências e as aulas práticas em laboratórios e oficinas. De acordo com os recursos
disponíveis no AVA foram feitas as observações, na perspectiva de identificar de que forma as
relações ocorrem através desses instrumentos para que se pudesse conhecer melhor o seu
funcionamento. Percebeu-se nas observações, que a mediação realizada no AVA por meio dos
fóruns pelo professor, tutor e alunos revela que são utilizados também outros recursos
didáticos, como consulta ao caderno de estudos, pesquisa em sites, e outros, de forma
conjunta, demonstrando a dinamicidade dessa ferramenta, assim como nível de aceitação e
familiaridade dos participantes. Como pode ser constatada ainda, a seguir, nas entrevistas,
essa forma de mediação vem fortalecer a relação pedagógica sob o ponto de vista que a
modalidade de EaD pode contribuir muito para expansão da oferta de cursos dessa
natureza.No que diz respeito as entrevistas, estas foram realizadas com um professor, um
tutor e cinco alunos, cujas questões foram elaboradas no sentido de avaliar, especificamente,
o fórum, considerando ser este recurso o mais utilizado no desenvolvimento do curso. Na
opinião do Professor o fórum se constitui a principal ferramenta do AVA para mediação do
processo ensino-aprendizagem. Segundo o Professor:
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De que forma o tutor interage O tutor apenas faz o monitoramento para saber 01
com o aluno nos fóruns. quem está participando e faz contato com aqueles
que ainda não se manifestaram a participar do
processo de discussão;
O tutor é o maior incentivador do aluno nos fóruns, 02
ele ajuda muito não só nos fóruns como em outras
atividades;
Tanto o professor quanto o tutor auxiliam os alunos 01
no fórum tirando dúvidas e motivando a
participação;
O tutor não acrescenta quase nada sobre o 01
conteúdo, portanto o seu papel é apenas não deixar
o aluno de fora da discussão.
Quadro 1 – Consolidação das opiniões dos alunos do Curso Técnico em Manutenção Automotiva na entrevista
sobre mediação.
Pelo que se pode perceber na fala dos alunos quanto ao entendimento sobre mediação, estes
demonstraram ter clareza do que é, de como deve ser feita e quem deve conduzi-la.
Compreendem perfeitamente que é tarefa do professor incentivar e facilitar o processo de
aprendizagem, mas, assinalam que nem todos os professores assumem o seu papel, deixando
muitas vezes por conta do tutor e dos próprios alunos. Ou seja, essa compreensão que eles
têm sobre o papel do professor como mediador, aproxima-se da visão de Masetto (2008),
abordada anteriormente, que concebe o professor como uma espécie de elo entre o aluno e
sua aprendizagem, numa interdependência autônoma e dinâmica, que aguça, provoca,
estimula e coopera para facilitar o aprendizado do aluno. Moran (2000) também corrobora
com essa ideia quando assevera que:
Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo, estimulam
as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e
parceiros de caminhada do professor-educador. Alunos motivados
aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los
melhor. (Moran, 2000, p.17)
No que diz respeito à importância do fórum como ferramenta básica no processo de mediação
tecnológica, todos os entrevistados foram unânimes em dizer que sim, inclusive, ressaltando a
importância que tem essa ferramenta para o exercício da comunicação escrita e do diálogo.
Tal compreensão associa-se a ideia de que “o diálogo é o encontro entre os homens,
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mediatizados pelo mundo, para designá-lo”. (Freire, 2007, p. 69). Isso implica dizer que o
diálogo entre o professor e o aluno é essencial no processo ensino-aprendizagem, pois
somente através dele o professor tem condições de conhecer o pensamento do aluno e pode
auxiliá-lo em suas dúvidas e inquietações. Quanto ao tutor, estes demonstraram que têm a
compreensão de que o mesmo é um auxiliar do professor, notadamente, no sentido de
monitorar o aluno quanto ao cumprimento das atividades. Mas percebem também, a
importante contribuição no sentido de estimulá-los, incentivá-los, não os deixando fora das
discussões nos fóruns e em outras atividades demandadas pelo professor. Deixam claro,
portanto, que o importante papel da mediação no processo ensino-aprendizagem é do
professor, as ferramentas tecnológicas são suportes. Convém ressaltar que de acordo com a
literatura estudada existem diferentes formas de mediação na EaD, e, que todas implicam em
interações. No entanto, neste estudo de caso, constatou-se que a mediação se processa com
maior ênfase no Ambiente Virtual de Aprendizagem, sobretudo, por meio dos fóruns, na
relação entre professor – aluno e aluno-aluno. O Tutor aparece como coadjuvante no
processo, mas, não se configura como a ponte principal entre o aluno e o conhecimento.
5 Considerações Finais
O estudo do processo de mediação tecnológica nesta pesquisa tomou como referência as
ferramentas utilizadas no AVA, mais especificamente, o fórum. Porém, importa registrar a
relevância que todos os recursos exercem no contexto dos cursos a distância. Esse
entendimento trouxe à tona, o interesse de no futuro, complementar a pesquisa, tornando o
estudo mais abrangente. A análise sobre as formas de mediação em EaD é complexa,
especialmente, quando se trata de análise do espaço virtual, onde o pesquisador não tem a
oportunidade de vivenciar todos os momentos da prática pedagógica. Neste estudo, por
exemplo, fez-se um percurso pelo ambiente, mas, muito mais para conhecimento das
ferramentas do que propriamente para vivenciar o dia a dia das relações que ocorrem nesse
espaço. Convém destacar que, as principais percepções registradas neste artigo foram
adquiridas a partir das informações dos entrevistados, fundamentadas com a visão dos
autores estudados. Assim, pode-se conceber a mediação tecnológica no processo ensino-
aprendizagem como as relações que se materializam virtualmente, tomando como referência
as experiências docentes e discentes. As ideias dos autores propiciaram fazer o contraponto
com o material colhido na pesquisa e possibilitaram compreender melhor o papel das
interações sociais, uma vez que o diálogo virtual é fundamental no processo de aprendizagem
entre os participantes, que na visão de Freire se constitui uma prática libertadora. Isto porque
na compreensão do referido autor o aluno não é um depósito que deva ser preenchido pelo
professor, mas, cada um, juntos, pode aprender e desvendar novas possibilidades de
aprendizagem. Dessa forma, entende-se que na educação, seja a tradicional ou a virtual,
existem diferentes formas de mediação. E que o mais importante no processo ensino-
aprendizagem não é este ou aquele modelo, ou aquela ferramenta, mas, o respeito ao aluno
como ser único que constrói o seu aprendizado. Cabe, então, ao Professor e todos os agentes
que trabalham em função desse processo, a capacidade e sensibilidade de possibilitar meios
para que o aluno encontre a melhor maneira para construir os seus conhecimentos. Por outro
lado, não adianta ter um ambiente virtual com um bonito layout , uma variedade de
ferramentas e atividades, se não houver um bom planejamento e profissionais comprometidos
e capacitados para interagirem utilizando e potencializando, eficientemente, as ferramentas
disponibilizadas por esse mundo tecnológico fascinante. Desse modo, busca-se fomentar o uso
dessas ferramentas tecnológicas de forma crítica, registrando a importância do papel do
professor e do tutor na construção do conhecimento a partir das informações partilhadas.
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1885
4
Artigo
RESUMO ABSTRACT:
1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Volume 11 − 2012
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: FUN- O objetivo dessa pesquisa consiste no
DAMENTOS LEGAIS E IMPLEMENTAÇÃO exame da importância das políticas públicas
em EaD para implementação dessa modali-
Caminhamos para o exato momento em dade nas universidades brasileiras, mediante
50 que a consciência de civilização, a cons- análise dos instrumentos legais, em especial,
ciência de superioridade de seu próprio
os Referenciais de Qualidade para EaD e suas
comportamento e sua corporificação na
Associação Brasileira de Educação a Distância
Volume 11 - 2012
Palloff e Pratt (2002), em seus estudos cursos superiores na modalidade a distância e
para conceituação de aprendizagem a distân- o Capítulo V, das Disposições Gerais.
cia mediada por mídia computacional, apre-
No Capítulo I − Disposições Gerais
sentam a ideia de que:
− tem-se:
52
...fundamentais aos processos de apren-
Exigência de encontros presenciais
Associação Brasileira de Educação a Distância
4
Esse decreto recebeu nova redação no Decreto 6.303.
A Lei 9394/96 orienta também so- A referida Lei destaca, em suas dispo-
bre credenciamentos das IES e Instruções sições gerais, no artigo 26, que um projeto
para Ofertas de Cursos e Programas, o de Educação a Distância deve observar, en-
Plano de Desenvolvimento Institucional - tre outras, a previsão da modalidade edu-
PDI, o Projeto Pedagógico para os Cursos e cacional e de eventuais parcerias no Plano
Programas que serão ofertados na modalida- de Desenvolvimento Institucional - PDI das
de a distância; a garantia de corpo técnico e Instituições de Ensino Superior - IES e no
administrativo qualificado; o corpo docente Projeto Pedagógico do Curso; a indicação
Volume 11 - 2012
das responsabilidades pela oferta dos Cursos política definidora que assegurasse uma for-
ou Programas a distância, no que diz respeito mação objetivando a transformação da reali-
a: implantação de polos de educação a dis- dade educacional brasileira. Contudo, há que
tância; seleção e capacitação dos professores se considerar também, nessa nova modalida-
54 e tutores; matrícula, formação, acompanha- de de ensino o docente que trabalha online,
mento e avaliação dos estudantes e a emissão emergindo de uma condição de trabalho que
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Volume 11 - 2012
parcerias. São três os documentos elaborados O CORPO TÉCNICO-ADMINISTRA-
pelo governo: um para avaliar instituições, TIVO é formado por profissionais adminis-
outro para Cursos e outro para polos. Eles es- trativos que atuam em funções de secretaria
tão sendo incluídos no Sistema Nacional de acadêmica, sendo que, na modalidade a dis-
56 Avaliação da Educação Superior. (SINAES). tância, é responsável pelo cumprimento das
A educação a distância vai também receber exigências legais, distribuição e recebimento
Associação Brasileira de Educação a Distância
conceitos de 1 a 5, visto que, até os dias atu- de material didático e atendimento a estudan-
ais, não havia critérios específicos para essa tes. Os da área tecnológica são responsáveis
modalidade. pelo suporte técnico para laboratórios, biblio-
tecas, e serviços relativos aos equipamentos
A AVALIAÇÃO DO CORPO DO-
e sistemas de informática, bem como para as
CENTE, de tutores, de técnico-administra-
atividades virtuais.
tivos e de discentes baseia-se na formação,
experiência na área de ensino em EaD. A A INFRAESTRUTURA DE APOIO refe-
avaliação das instalações físicas contempla o re-se à gestão de material e da sede central de
suporte tecnológico científico e instrumental. atividades em EaD. Para atender a esta última,
a instituição deve dispor de centros de comuni-
A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR é
cação e informação ou midiatecas disponíveis,
formada por docentes, tutores e pessoal téc-
tanto na sede institucional quanto nos polos. O
nico-administrativo com funções detalhadas
gerenciamento do material inclui desde secreta-
no Projeto Pedagógico de Curso. Ao docente
ria acadêmica, passando por salas de tutoria, sa-
compete estabelecer fundamentos teóricos,
las de videoconferência, de coordenação, biblio-
selecionar e preparar conteúdos curriculares,
tecas, material de apoio sendo que o laboratório
identificar objetivos educacionais, definir bi-
de informática (deve possuir minimamente os
bliografias, elaborar material didático, gerir
recursos para atender às especificidades das
o processo de ensino e de aprendizagem, e
atividades em EaD, de livre acesso ao estudan-
avaliar-se continuamente como participante
te para consultas e trabalho, caracterizando-se
coletivo de um projeto de ensino a distância.
como espaço de inclusão digital), os laborató-
O Tutor é um dos sujeitos que participam
rios de ensino, as salas de tutoria e secretarias.
ativamente da prática pedagógica. Atua no
processo pedagógico mediando o processo de O polo de apoio presencial é a Unidade
ensino e aprendizagem, junto a estudantes ou Operacional descentralizada de atividades pe-
como colaboradores de turmas. Atua segundo dagógicas e administrativas, coordenado por
horários e locais preestabelecidos. Deve co- um profissional habilitado tanto por conhecer
nhecer o Projeto Pedagógico bem como cada o projeto pedagógico quanto por zelar pelos
atividade nele proposta, seus conteúdos, obje- equipamentos. É por meio da implantação de
tivos e formas de avaliação, tendo o domínio polos que se viabiliza a expansão, a interiori-
de conteúdo e capacitação nas mídias de co- zação e regionalização da oferta de educação
municação e em fundamentos de EaD, parti- pela Instituição. Para tanto, os polos devem
cipando também dos momentos presenciais. conter as estruturas essenciais para desenvol-
vimento dos Cursos e assegurar a qualidade
Volume 11 - 2012
perfil, inclui-se a capacidade de autogestão da na linguagem expressa pelo domínio da lín-
vida acadêmica, considerando maturidade e gua falada e escrita, bem como ter compreen-
condições particulares do aluno. são de diferentes linguagens.
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A organização de um polo exige, além CONCLUSÃO
de infraestrutura mínima necessária para
Pode-se entender, a partir desses ele-
oferta de curso segundo as políticas públicas
mentos, que uma das causas dessa contradição
vigentes, também, uma capacitação e qualifi-
60 está nos problemas econômicos e tecnológicos
cação profissional dos recursos humanos que
enfrentados pelas IES para implementação de
considerem as diferenças regionais.
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REFERÊNCIAS
Dezembro de 2007.
Recebido em 05/fevereiro/2013
Aprovado em 03/abril/2013
__________________________________________________________________________
Revista GUAL, Florianópolis, v. 6, n. 2, p. 01-21, abr. 2013 www.gual.ufsc.br
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO POLÍTICA DE INCLUSÃO: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NOS
POLOS DO SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL EM MINAS GERAIS
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1983-4535.2013v6n2p1
___________________________________________________________________
RESUMO
O objetivo deste artigo é identificar os possíveis impactos que o acesso ao ensino superior
pode gerar em municípios mineiros com baixos índices de desenvolvimento municipal, sendo
o sistema UAB (Universidade Aberta do Brasil) uma importante política de inclusão,
principalmente em municípios menores. Partindo de uma pesquisa exploratória - descritiva
através de indicadores socioeconômicos relacionados à renda, escolaridade média e
desenvolvimento municipal através do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal – IFDM
(2012), em conjunto com um estudo de caso realizado no polo presencial de Santa Rita de
Caldas/MG, foi possível identificar prováveis benefícios que a Educação a Distância, através
do sistema UAB, pode gerar em municípios mineiros. Identificou-se ainda que a maioria dos
polos presenciais do sistema UAB está presente em cidades com até 60 mil habitantes,
demonstrando a presença e o potencial dessa modalidade de ensino como instrumento
dinamizador de desenvolvimento regional, além de identificar fortes evidências entre os
níveis de acesso à educação e desenvolvimento socioeconômico, estando os municípios com
maiores índices de acesso ao ensino superior entre os municípios com maior distribuição de
renda e desenvolvimento municipal.
ABSTRACT
The aim of this paper is to identify the possible impacts that access to higher education can
generate in Minas Gerais towns with low rates of municipal development, being the OUB
system (Open University of Brazil) an important inclusion policy, especially in smaller towns.
Starting from an exploratory research - descriptive, through socioeconomic indicators related
to income, average education and city development by municipal development Index Firjan -
IFDM (2012), in conjunction to a case study carried out at the pole of Santa Rita de
Caldas/MG, it was possible to identify probable benefits that distance education through the
OUB system, can generate in Minas Gerais towns. It was also found that most of the poles of
OUB system is present in cities with up to 60,000 inhabitants, demonstrating the presence and
potential of this type of education as a tool to foster regional development, beyond identifying
strong evidence between levels of education access and socioeconomic development, being
the towns with the highest rates of access to higher education among the cities with higher
income distribution and municipal development.
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1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
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International Student Assessment (PISA), Produto Interno Bruto percapta (PIB percapta),
Taxas de atendimento da educação, dentre outros (BERTOLIN, 2011). Esses índices quando
comparados com os de países desenvolvidos demonstram a ineficiência do setor educacional
no Brasil, gerando reflexões preocupantes, pois o crescimento e desenvolvimento de um país,
seja na esfera econômica ou social, é demasiadamente dependente do nível educacional da
população (ALLEN & SEAMAN, 2010).
Neste contexto, percebe-se que nos últimos anos a Educação a Distância tem sido um
importante instrumento de inclusão, pois não apenas amplia oportunidades para indivíduos e
grupos sociais mais carentes, parece haver claras evidências empíricas que ela amplia o poder
de fogo de acesso à educação, em geral, como fator de desenvolvimento (MORAES, 2010).
1
Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/, acesso em 31/01/2013.
2
Fonte: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2172.html, acesso em 31/01/2013.
3
Fonte: http://www.oecd.org/pisa/46643496.pdf, acesso em 31/01/2013.
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2010, ano em que 14,6% do total de matrículas no país correspondiam à modalidade EaD
(930.179 matrículas), das quais 80,5% representavam as vagas do setor privado e 19,5% do
setor público, conforme apresentado pelo Censo da Educação Superior de 2010 no gráfico 1.
Este cenário demonstra que a Educação a Distância tem assumido um modelo de
ensino em expansão no país que se constitui em uma oportunidade de aprendizado capaz de
trazer impactos positivos para uma sociedade por meio do acesso ao mundo do conhecimento
(Gatti, 2008; Matias-Pereira, 2008; Segenreich, 2003; Arieira et al., 2009).
Pessoal de Nível Superior (DED/CAPES), a qual buscou desenvolver a modalidade EaD para
expandir a educação superior no país (Segenreich, 2009; UAB/CAPES).
Segundo UAB/CAPES, a Universidade Aberta do Brasil é um sistema integrado por
universidades públicas que oferecem cursos de nível superior para camadas da população que
têm dificuldade de acesso à formação universitária por meio do uso da metodologia da
Educação a Distância. Um dos objetivos do sistema UAB caracteriza-se por atender demandas
locais na preparação e capacitação de indivíduos, em especial, nas regiões mais carentes da
sociedade, democratizando o acesso à educação superior, para atuarem no mercado de
trabalho de forma mais justa e competitiva (Moré et al., 2011).
Instituído pelo Decreto 5.800/06, esta política pública de acesso a educação surgiu
diante da necessidade de expandir e interiorizar a oferta de programas de educação superior
no país, centrados em diretrizes estratégicas da política nacional de educação através dos
seguintes objetivos; (I) oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial
e continuada de professores da educação básica; (II) oferecer cursos superiores para
capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios; (III) oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do
conhecimento; (IV) ampliar o acesso à educação superior pública; (V) reduzir as
desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País; (VI) estabelecer
amplo sistema nacional de educação superior a distância; e (VII) fomentar o desenvolvimento
institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em
metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e
comunicação (Decreto 5.800/06, art.1º).
Tendo como propósito central ampliar e democratizar o acesso à educação no país, o
sistema UAB funciona como um instrumento eficaz de qualificação e requalificação de
professores da educação básica e demais interessados com a universalização do acesso a uma
educação pública de qualidade. Esta modalidade surge como alternativa capaz de incentivar o
desenvolvimento de municípios com baixos IDH e IDEB (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica) e, nesse aspecto, fortalecer a escola no interior do Brasil, minimizando a
concentração de oferta de cursos de graduação nos grandes centros urbanos e,
consequentemente, evitando o fluxo migratório para as grandes cidades (UAB/CAPES).
Desta forma, o sistema UAB sustenta-se em cinco eixos fundamentais: (1) expansão
pública da educação superior; (2) aperfeiçoamento dos processos de gestão das instituições de
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ensino superior; (3) avaliação da educação superior a distância; (4) estímulo à investigação
em educação superior a distância no País e; (5) financiamento dos processos de implantação,
execução e formação de recursos humanos em educação superior a distância (UAB/CAPES).
Ressalta-se ainda, que o sistema UAB funciona como articulador entre as instituições
de ensino superior e os governos estaduais e municipais, com vistas a atender as demandas
locais por educação superior. Segundo Litto & Formiga (2009) o sistema UAB não é uma
universidade propriamente dita, mas sim um consórcio de instituições públicas de ensino
superior responsável por fomentar ações necessárias ao funcionamento da modalidade de
educação a distância, seja na produção e distribuição de material didático impresso, aquisição
de livros e laboratórios pedagógicos, utilização de TIC’s, integração entre tutores e
estudantes, capacitação dos profissionais envolvidos, infraestrutura dos núcleos de educação e
acompanhamento dos polos de apoio presencial implantados em municípios diversos.
Por fim, segundo dados da UAB/CAPES, existem atualmente 95 instituições públicas
(federais e estaduais) credenciadas a ofertarem cursos em diversas modalidades de ensino
pelo sistema UAB no país, abrangendo um total de 1029 cursos ofertados na modalidade EaD.
Complementar a estas informações, a Portaria nº 1.369/10 estabelece um universo de 647
polos de apoio presencial credenciados pelo sistema UAB, espalhados pelas diversas regiões
do Brasil, aos quais serão comentados na próxima seção.
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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
(1) Distribuição geográfica de polos presenciais pelo sistema UAB em Minas Gerais;
(2) Características comuns e “perfil” médio dos municípios mineiros participantes do
sistema UAB com polos presenciais em funcionamento, em relação à população,
renda, indicadores sociais e acesso a educação superior;
(3) Relações entre acesso a educação e desenvolvimento socioeconômico nos
municípios mineiros com polos UAB de até 60.000 habitantes;
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4
Fonte: <http://www.uab.capes.gov.br/> acesso em 31/01/2013.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Características dos municípios, cursos e acesso a educação via sistema UAB:
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Legenda:
Polos credenciados, em
fase de implantação ou
sem ofertas de cursos pelo
sistema UAB
Tal fato demonstra que, apesar da evidente dispersão geográfica descrita no mapa
acima, a EaD ainda dispõe de vasto campo para ampliação no Estado, visto haver crescente
aumento da demanda por esta modalidade de ensino nos últimos anos (MEC/INEP, 2012) em
relação a quantidade ofertada pelos municípios mineiros atendidos pelo sistema UAB.
Já em relação às instituições de ensino participantes do sistema UAB, foram
identificadas 14 instituições de ensino ofertantes de cursos em Minas Gerais, com destaque a
Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade
Estadual de Montes Claros e Universidade Federal de São João Del-Rei com ofertas de 96,
74, 70 e 57 cursos, respectivamente.
Já sobre as modalidades de ensino ofertadas pelo sistema UAB destacam-se os cursos
na modalidade licenciatura com 53,7%, especialização com 24,5%, aperfeiçoamento com
10%, bacharelado 8,5% e extensão 3,3%.
Estes dados vêm corroborar com o artigo 1º do decreto 5.800/06 no qual define ser
prioridade do sistema oferecer cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada a
professores da educação básica, algo evidenciado na variedade de cursos oferecidos na
modalidade de licenciatura e especialização.
Já em relação aos cursos oferecidos pelo sistema UAB em Minas Gerais, identifica-se
um universo de 48 tipos de cursos, dos quais nota-se uma diversidade de temática e
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Sobre o perfil dos municípios mineiros com polos UAB, percebe-se que o IFDM dos
municípios com até 60.000 habitantes corresponde a um IFDM médio de 0,6525, inferior ao
IFDM médio de 0,7789 dos municípios com polos UAB acima de 60.000 habitantes. Assim,
como forma de não enviesar a pesquisa foi adotado como critério de análise apenas os
municípios com polo UAB de até 60.000 habitantes, sendo esta uma amostra mais homogênea
e pertinente, visto a representatividade de 66,67% (46 municípios) que este conjunto de
municípios assume na população total de municípios mineiros com polo UAB.
Assim, ao analisarmos o grupo de municípios com até 60.000 habitantes foi possível
identificar uma relação direta entre acesso a educação superior e desenvolvimento municipal,
uma vez que, dos dez municípios com maior porcentagem da população economicamente
ativa com curso superior, sete destes (Lagoa Santa, Barroso, Bom Despacho, Bambuí,
Diamantina, Frutal e Boa Esperança) figuram entre os municípios com maiores IFDM do
conjunto pesquisado. De forma análoga, ao analisarmos os dez municípios com menor
porcentagem da população economicamente ativa com curso superior, seis destes (Urucuia,
Cristália, Buritizeiro, Padre Paraíso, São João da Ponte e Francisco Sá) figuram entre os
municípios com piores IFDM do conjunto pesquisado.
Ao analisar este mesmo conjunto de municípios em relação a renda, percebe-se que
dos dez municípios com maior porcentagem da população economicamente ativa com curso
superior, sete destes (Lagoa Santa, Tiradentes, Bambuí, Bom Despacho, Carneirinho, Frutal e
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Bicas) apresentam os maiores níveis de rendimento nominal mensal percapta dos domicílios.
Já os dez municípios com menor porcentagem da população economicamente ativa com curso
superior, oito destes (Cristália, Urucuia, Padre Paraíso, São João da Ponte, Buritizeiro, Pedra
Azul, Francisco Sá, Durandé) apresentam os piores níveis de rendimento nominal mensal
percapta dos domicílios entre os municípios pesquisados.
Corroborando estes dados percebe-se que o rendimento médio mensal dos
trabalhadores em municípios de até 60.000 habitantes sem formação superior é de R$ 781,11,
bem inferior ao rendimento médio mensal dos trabalhadores com formação superior com
valor médio de R$ 2.157,50, representando uma relação direta do grau de instrução com a
renda dos trabalhadores. Esses dados demonstram a importância da educação como
instrumento de desenvolvimento e combate a desigualdades socioeconômicas (BERTOLIN,
2011; MORAES, 2010; Arieira et al., 2009), o que por meio do sistema UAB pode ser uma
importante estratégia de política pública para desenvolvimento local.
social promovida pelo sistema UAB pode contribuir para o desenvolvimento local
(BERTOLIN, 2011; MORAES, 2010; Nascimento & Trompieri Filho, 2002; MACHADO,
2001), principalmente em municípios de até 60.000 habitantes com índices de
desenvolvimentos baixos, conforme apresentado neste estudo.
Corroborando estes dados, evidenciou-se no estudo de caso realizado que a Educação
a Distância tem promovido desenvolvimento socioeconômico local, pois através de relatos
dos gestores, identificou-se o surgimento de novas oportunidades de emprego e renda aos
alunos do sistema. Os mesmos relataram haver claras evidências do aumento no número de
alunos provenientes de cursos de licenciatura aprovados em concursos públicos. Relatam
ainda indícios de acréscimo salarial a servidores públicos com a titulação adquirida em cursos
de bacharelado, licenciatura e especialização na modalidade a distância, além do surgimento
de novas vagas de emprego e melhorias na renda dos alunos participantes.
Assim, percebe-se com este estudo que o sistema UAB mostra-se como um importante
instrumento de inclusão social, evidenciando que a Educação a Distância pode apresentar
diversos benefícios aos municípios participantes por meio de mecanismos de inclusão capazes
de gerar maior distribuição de renda e desenvolvimento socioeconômico local.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Cabe ressaltar que este artigo possui algumas limitações por ser um esforço inicial,
baseado apenas em informações documentais exploratórias - descritivas e na análise da
entrevista em profundidade realizada com os gestores responsáveis pela implantação e
coordenação de apenas um polo presencial (Santa Rita de Caldas) o que pode apresentar
vieses sobre a realidade entre outros polos do Estado.
Outra limitação identificada se refere ao perfil médio dos municípios apresentado, pois
apesar da tentativa de homogeneizar um grupo com características similares (até 60.000
habitantes) o mesmo ainda apresenta grandes variações populacionais, de renda, acesso a
educação e desenvolvimento socioeconômico. Para maior confiabilidade dos resultados,
sugere-se classificar municípios com características ainda mais semelhantes, a fim de buscar
maior aproximação das hipóteses levantadas em nossa pesquisa.
Embora este estudo apresente uma relação de simetria entre acesso à educação
superior e desenvolvimento socioeconômico, não se pode afirmar que o desenvolvimento
local é dependente apenas de acesso a educação superior, assumindo uma relação econômica
de ceteris paribus, outros indicadores e fatores também devem ser analisados para
maximização dos níveis de desenvolvimento municipal.
Ademais, novas pesquisas teóricas e empíricas tornam-se necessárias para ampliar o
debate aqui iniciado, com objetivo de impulsionar gestores municipais a demandarem novos
polos de apoio presencial e avaliar as possíveis repercussões que a oferta pública de cursos
superiores pode gerar no desenvolvimento econômico e social de cada município.
REFERÊNCIAS
ALLEN, I. E.; SEAMAN, J. Class differences: On-line education in the United States.
Needham, MA: Sloan Consortium, 2010.
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GATTI, B. A. Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última
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7
Artigo
RESUMO ABSTRACT
Volume 10 – 2011
INTRODUÇÃO a modalidade de Educação a Distância contribui
para a formação de profissionais sem deslocá-los de
Atualmente, podem ser consideradas as se- seus municípios, como salientado por Preti (1996):
guintes modalidades de Educação: presencial e a
distância. A modalidade presencial é a comumente A crescente demanda por educação, devi-
84 do não somente à expansão populacional
utilizada nos cursos regulares, onde professores e
como, sobretudo às lutas das classes traba-
alunos encontram-se sempre em um mesmo local
Associação Brasileira de Educação a Distância
• o conceito de Peters em 1973, que dá ênfase O autor define a Educação a Distância como
a metodologia da Educação a Distância e torna-a a separação física entre professor e aluno,
passível de calorosa discussão, quando finaliza afir- que a distingue do ensino presencial, comu-
nicação de mão dupla, onde o estudante be-
mando que “a Educação a Distância é uma forma
neficia-se de um diálogo e da possibilidade
industrializada de ensinar e aprender”.
de iniciativas de dupla via com possibilidade
Educação/ensino a distância é um método de encontros ocasionais com propósitos di-
racional de partilhar conhecimento, habili- dáticos e de socialização.
dades e atitudes, através da aplicação da di-
• a separação física e o uso de tecnologias de
visão do trabalho e de princípios organiza-
telecomunicação são características ressaltadas no
cionais, tanto quanto pelo uso extensivo de
meios de comunicação, especialmente para conceito de Chaves, em 1999.
o propósito de reproduzir materiais técnicos
A Educação a Distância, no sentido funda-
de alta qualidade, os quais tornam possível
mental da expressão, é o ensino que ocorre
instruir um grande número de estudantes
quando o ensinante e o aprendente estão se-
ao mesmo tempo, enquanto esses materiais
parados (no tempo ou no espaço). No senti-
durarem. É uma forma industrializada de
do que a expressão assume hoje, enfatiza-se
ensinar e aprender.
mais a distância no espaço e propõe-se que
• o conceito de Moore em 1973, que ressalta ela seja contornada através do uso de tecno-
logias de telecomunicação e de transmissão
que as ações do professor e a comunicação deste
de dados, voz e imagens (incluindo dinâmi-
com os alunos devem ser facilitadas:
cas, isto é, televisão ou vídeo). Não é preciso
Ensino a distância pode ser definido como ressaltar que todas essas tecnologias, hoje,
a família de métodos instrucionais onde as convergem para o computador.
ações dos professores são executadas à parte
O conceito de Educação a Distância no Brasil
das ações dos alunos, incluindo aquelas si-
é definido oficialmente no Decreto nº 5.622 de 19
tuações continuadas que podem ser feitas na
presença dos estudantes. Porém, a comuni- de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005):
cação entre o professor e o aluno deve ser
Art. 1o Para os fins deste Decreto, caracteriza-
facilitada por meios impressos, eletrônicos,
-se a Educação a Distância como modalidade
mecânicos ou outro.
educacional na qual a mediação didático-pe-
• o conceito de Holmberg em 1977, que dagógica nos processos de ensino e aprendi-
zagem ocorre com a utilização de meios e
enfatiza a diversidade das formas de estudo:
tecnologias de informação e comunicação,
Volume 10 – 2011
com estudantes e professores desenvolvendo tutoria por correspondência. Após iniciativas parti-
atividades educativas em lugares ou tempos culares, tomadas por um longo período e por vários
diversos.
professores, no século XIX a Educação a Distância
Essa definição da Educação a Distância com- começa a existir institucionalmente.
86 plementa-se com o primeiro parágrafo do mesmo • 1829 – na Suécia é inaugurado o Instituto Líber
artigo, onde é ressaltado que esta deve ter obriga-
Associação Brasileira de Educação a Distância
Volume 10 – 2011
Português, Francês, Silvicultura, Literatura Francesa, Brasil. O MEB, envolvendo a Conferência Nacional
Esperanto, Radiotelegrafia e Telefonia. Tinha início dos Bispos do Brasil e o Governo Federal utilizou-
assim a Educação a Distância pelo rádio brasileiro; -se inicialmente de um sistema rádio-educativo
para a democratização do acesso à educação,
• 1934 – Edgard Roquette-Pinto instalou a
promovendo o letramento de jovens e adultos;
88 Rádio–Escola Municipal no Rio, projeto para a en-
tão Secretaria Municipal de Educação do Distrito • 1962 – é fundada, em São Paulo, a Ocidental
Associação Brasileira de Educação a Distância
Federal. Os estudantes tinham acesso prévio a fo- School, de origem americana, focada no campo da
lhetos e esquemas de aulas, e também era utilizada eletrônica;
correspondência para contato com estudantes; • 1967 – o Instituto Brasileiro de Adminis-
• 1939 – surgimento, em São Paulo, do Ins- tração Municipal inicia suas atividades na área de
tituto Monitor, o primeiro instituto brasileiro a ofe- educação pública, utilizando-se de metodologia
recer sistematicamente cursos profissionalizantes a de ensino por correspondência. Ainda neste ano, a
distância por correspondência, na época ainda com Fundação Padre Landell de Moura criou seu núcleo
o nome Instituto Rádio¬ Técnico Monitor; de Educação a Distância, com metodologia de en-
sino por correspondência e via rádio;
• 1941 – surge o Instituto Universal Brasileiro,
segundo instituto brasileiro a oferecer também cur- • 1970 – surge o Projeto Minerva, um convê-
sos profissionalizantes sistematicamente. Fundado nio entre o Ministério da Educação, a Fundação
por um ex-sócio do Instituto Monitor, já formou Padre Landell de Moura e Fundação Padre An-
mais de 4 milhões de pessoas e hoje possui cerca de chieta, cuja meta era a utilização do rádio para a
200 mil alunos; juntaram-se ao Instituto Monitor educação e a inclusão social de adultos. O projeto
e ao Instituto Universal Brasileiro outras organiza- foi mantido até o início da década de 1980;
ções similares, que foram responsáveis pelo aten- • 1974 – surge o Instituto Padre Reus e na TV
dimento de milhões de alunos em cursos abertos Ceará começam os cursos das antigas 5ª à 8ª séries
de iniciação profissionalizante a distância. Algumas (atuais 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental), com
dessas instituições atuam até hoje. Ainda no ano de material televisivo, impresso e monitores;
1941, surge a primeira Universidade do Ar, que du-
• 1976 – é criado o Sistema Nacional de
rou até 1944.
Teleducação, com cursos através de material
• 1947 – surge a nova Universidade do Ar, pa- instrucional;
trocinada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
• 1979 – a Universidade de Brasília, pioneira
Comercial (SENAC), Serviço Social do Comércio
no uso da Educação a Distância, no ensino supe-
(SESC) e emissoras associadas. O objetivo desta era
rior no Brasil, cria cursos veiculados por jornais e
oferecer cursos comerciais radiofônicos. Os alunos
revistas, que em 1989 é transformado no Centro de
estudavam nas apostilas e corrigiam exercícios com
Educação Aberta, Continuada, a Distância (CEAD)
o auxílio dos monitores. A experiência durou até
e lançado o Brasil EAD;
1961, entretanto a experiência do SENAC com a
Educação a Distância continua até hoje; • 1981 – é fundado o Centro Internacional
de Estudos Regulares (CIER) do Colégio Anglo-
• 1959 – a Diocese de Natal, Rio Grande do
Americano que oferecia Ensino Fundamental
Norte, cria algumas escolas radiofônicas, dando
e Médio a distância. O objetivo do CIER é per-
origem ao Movimento de Educação de Base (MEB),
mitir que crianças, cujas famílias mudem-se
marco na Educação a Distância não formal no
Volume 10 – 2011
• 2008 – em São Paulo, uma Lei permite o MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOb, 2010). Devido à
ensino médio a distância, onde até 20% da carga extinção recente desta secretaria, seus programas
horária poderá ser não presencial. e ações estarão vinculados a novas administrações
(PORTAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2011).
• 2009 – entra em vigor a Portaria nº 10, de
90 02 julho de 2009, que fixa critérios para a dispen-
sa de avaliação in loco e deu outras providências 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Associação Brasileira de Educação a Distância
Volume 10 – 2011
MORAN, J. M. O que é Educação a Distância. RODRIGUES, M. Universidade Aberta do Brasil.
Universidade de São Paulo. Disponível em: <http:// Disponível em: <http://www.vestibular. brasilescola.
www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm>. Acesso em: com/ensino-distancia/universidade-aberta-brasil.
14 nov. 2009. htm>. Acesso em: 10 maio 2010.
Jose Matias-Pereira*
Abstract: It is observed that the changes of paradigms in the field of information and
communication technologies (ICTs) are impacting today so intense in the international
community, particularly the generation of new possibilities in the definition of public
policies for distance learning (DL). Against this background we have as main objective in
this article examine the limits and possibilities of distance education, supported by
intensive The use of ICTs in order to determine if it is helping raise the level of social
inclusion Brazil. We seek to further discuss the most critical aspects and validity of the use
of distance education supported by ICTs in a country of continental profile and marked by
diversity in an environment where continuous learning has become part of people's lives.
We conclude that further actions of the Brazilian state in terms of government
encouragement and development of research, needs creative and innovative in the field of
public higher education, with emphasis on human resources, infrastructure and investments
in new information and communication technologies, to thereby enable an increasing social
inclusion in the country.
*
Professor-pesquisador associado do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade de
Brasília. Doutor em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri – Espanha, e Pós-doutor em
Administração pela Universidade de São Paulo (FEA/USP). E-mail: matias@unb.br
Keywords: distance education, public policy, information and communication
technologies, social inclusion, Brazil
Resumen:
Introdução
Para diversos autores, como por exemplo, Baker (2004), Schwartzman (2006), dentre as
políticas sociais, a educação ocupa posição especial. Esta posição de destaque não se
restringe às teorias de capital humano - que atribuem à educação um papel fundamental
para o desenvolvimento econômico -, mas também pela constatação mais recente de que as
desigualdades educacionais são o principal correlato das desigualdades de renda,
oportunidades e condições de vida.
Sustenta Schwartzman (2006, p. 3), que apesar do consenso que existe a respeito da
importância da educação, “há muitas dúvidas sobre o que fazer nesta área, tanto no que se
refere à educação formal convencional, na escola fundamental e média, quanto, sobretudo,
a outras modalidades, como a educação pré-escolar, a educação de jovens e adultos, a
educação continuada, e o uso de novas tecnologias para a transmissão de conhecimentos;
existe também muita controvérsia a respeito do que fazer em relação a educação superior.”
Torna-se relevante destacar que a educação tem a finalidade em si mesma, razão pela qual
deve preocupar-se com as questões mais relevantes para a sociedade, como: a construção da
cidadania, a leitura do mundo, a habilidade do pensamento e rigor da ciência, o
desenvolvimento do senso estético, a construção do senso crítico e da utopia. Na busca para
atingir esses objetivos, o país necessita de contar com um sistema de ensino superior bem
estruturado. As deficiências e fragilidades apontadas na literatura acadêmica e nas
avaliações recentes do sistema superior brasileiro (INEP/MEC, 2007) mostram que o
sistema de formação universitária não está conseguindo cumprir o seu papel da forma
adequada.
O tema objeto deste artigo inclui-se entre aqueles que têm merecido uma crescente atenção
nos últimos anos de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. Observa-se que a
educação superior tem sido foco de debates em toda a sociedade e objeto de implementação
de políticas públicas diversificadas, visando ampliar seu alcance e qualidade. Isso reforça o
nosso entendimento da necessidade de que o debate integre análises e propostas vinculadas
à educação superior e, ainda, que possa garantir maior participação dos diversos atores
sociais. A partir destas reflexões e considerações iniciais, torna-se possível formular a
seguinte pergunta de trabalho: A educação a distância, apoiada nas novas tecnologias de
informação e comunicação, se apresenta como uma ferramenta relevante para apoiar a
implantação de políticas públicas de educação inclusivas no Brasil?
Apesar de existir há mais de 150 anos no mundo, somente nas duas últimas décadas a
educação a distância se tornou alvo de estudos e pesquisas acadêmicas, de forma
sistematizada (MAIA; ABAL, 2001). Nesse sentido, temos como motivação neste estudo
os seguintes aspectos: i) a educação a distância apresenta-se como um tema relativamente
novo em termos de educação superior no país; e ii) a importância de se construir uma massa
crítica no que se refere à EaD no Brasil. Assim, entendemos que esta pesquisa
bibliográfica, documental e exploratória, apresenta-se como uma contribuição para elevar o
nível de conhecimento na área de EaD, além de permitir o surgimento de novas idéias e
descobertas.
Nesse sentido, destaca Peters (1998, 2001) que não estamos lidando com um processo de
transição no campo da educação, mas com transformações rápidas e abruptas que envolvem
mudanças de paradigma. Observa-se, assim, que o principal desafio da educação a distancia
é o mesmo que enfrenta a educação presencial: elevar o nível de formação em distintos
níveis, em especial no nível de formação universitária que está propiciando a população,
bem como estimular a pesquisa com vista a avançar nessas melhorias.
Referencial Teórico
O artigo também está apoiado na Teoria Construtivista por entender que ela apresenta-se
como a mais adequada para apoiar as discussões, e em especial, os argumentos utilizados
ao longo deste estudo. Na busca de concretizar o objetivo deste artigo, visto que estamos
diante de um tema amplo e complexo, julgamos mais adequado conduzir a investigação em
uma perspectiva construtivista, tendo na abordagem qualitativa o instrumento de expressão
dos dados coletados. Registre-se que a pesquisa qualitativa está preocupada com o
processo, muito mais do que com os resultados e o produto (TRIVIÑOS, 1987).
O construtivismo sustenta a idéia de que o conhecimento não seria fixo, mas construído por
um indivíduo por meio de sua experiência com os objetos do mundo. As teorias
construtivistas propostas por Piaget (1990), procuraram mostrar que em algum momento da
vida o indivíduo sai de seu mundo particular – que estaria baseado pelo egocentrismo - e
insere-se num novo contexto marcado pelas relações sociais. Sustentam, nesse sentido, que
as atividades cooperativistas se ajustariam nesta nova situação marcada pelas relações
sociais, pela busca de soluções comuns e pelo crescimento cognitivo os quais seriam
difíceis ou mesmo impossíveis de se alcançar sozinho. Assim, a história humana estaria
intimamente e profundamente marcada por este tipo de relação.
Por sua vez, argumenta Becker (1994) que, no construtivismo, o conhecimento é uma
construção, contra os (neo) behavioristas, nos quais o conhecimento é reflexo do mundo
exterior gravado na mente do sujeito por intermediação da linguagem, e os socio-biólogos,
o conhecimento está em grande parte determinado pelos genes. Para aquele autor, ser
construtivista é realizar uma teoria articulada dessa visão de mundo e produzir uma prática
coerente com essa teoria em todos os níveis da vida.
A construção do conhecimento, para Machado (2004, p. 89), seria como construir uma
grande rede de significados, em que “os nós seriam os conceitos, as noções, as idéias, em
outras palavras, os significados; e os fios que compõem os nós seriam as relações que
estabelecemos entre algo em que concentramos nossa atenção e as demais idéias, noções ou
conceitos; tais relações se condensam em feixes, que, por sua vez, se articulam em uma
grande rede.”
Distintos autores, como por exemplo, Bell (1973), Castells (1996), Kumar (1997), e
Webster (1995), abordaram nas últimas décadas as implicações do advento de um novo tipo
de sociedade, objetivando definir e caracterizar a sociedade da informação. Destacam-se,
no rol desses autores os estudos seminais de Bell (1973), criador da teoria do pós-
industrialismo. Registre-se que a expressão pós-industrialismo foi criado em substituição
aos termos informação e conhecimento, que serviram para caracterizar o novo tipo de
sociedade que surgia diante de uma onda de entusiasmo e do crescente desenvolvimento
das tecnologias de computação e comunicação. Por sua vez, Kumar (1997, p. 21), na
mesma linha de Bell (1973), entende que “a informação designa hoje a sociedade pós-
industrial. É o que a gera e sustenta”. Para o citado autor, a sociedade pós-industrial poderia
ser caracterizada por uma sociedade de serviços, oferece oportunidades de emprego para
profissionais liberais e de nível técnico.
Deve-se ressaltar a relevância da concepção social de Webster (1995), que distingue
analiticamente cinco definições para sociedade da informação, de acordo com os seguintes
critérios: tecnológico, econômico, ocupacional, espacial e cultural. Webster (1995, p. 6),
também trata da influência da variável tecnológica para a formação da sociedade pós-
industrial, apontando analiticamente cinco definições para sociedade da informação, de
acordo com os seguintes critérios: tecnológico, econômico, ocupacional, espacial e cultural.
Castells (1996, p. 3), alinhado à visão de Webster, sustenta que, atualmente, as sociedades
avançadas mundiais estão sofrendo uma transformação estrutural causada por uma
“evolução tecnológica baseada em tecnologias de informação/comunicação, as formações
de uma economia global e um processo de mudança cultural cujas principais manifestações
são a transformação do papel das mulheres na sociedade e o aumento do desenvolvimento
de uma consciência ecológica.”
Observa-se, na segunda metade da última década do século XX, a questão das tecnologias
ressurge com intensidade no cenário das atividades escolares, notadamente nos âmbitos da
sala de aula, da gestão e da administração. Nesse contexto, Oliveira (1999, p. 155), ao tratar
da hipótese da tecnologia educacional revisitada, refere-se ao [...] resgate da importância da
tecnologia educacional, tal como defendida pelo tecnicismo pedagógico, mas tratada, agora,
de forma diferente: – a partir de discussões relativas ao paradigma da empresa flexível e
integrada; e (estreitamente ligado a isso) – em termos da consideração das tecnologias no
trabalho escolar não apenas como método/recurso de ensino, (ou de gestão escolar), mas
também como conteúdo/objeto de ensino.
Deve-se ressaltar que, nas sociedades complexas, onde ocorrem conflitos e interesses de
diferentes matizes, especialmente de classe, as políticas públicas decorrem do embate de
poder determinado por leis, normas, métodos e conteúdos que são produzidas pela interação
de distintos atores e grupos de pressão que disputam o Estado. Os principais atores, nesse
cenário, são os políticos e os partidos políticos, os segmentos empresariais, os sindicatos, as
organizações não governamentais, entre outras.
A educação vem assumindo papel de relevo no elenco das políticas públicas no país,
especialmente a partir da década de noventa, quando se tem início a intensificação do
discurso e das propostas que visam garantir educação para todos. Verifica-se, nesse cenário,
que o texto constitucional de 1988 reafirmou a educação como um direito de todos,
definindo a quem cabe a responsabilidade por sua promoção e incentivo, e estabelecesse
seus fins. As bases legais para a modalidade de educação a distância foram estabelecidas
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de
1996 -, que foi regulamentada pelo Decreto nº. 5.622, de 2005 (publicada em 20.12.05).
Os indicadores recentes da educação no Brasil revelam - em que pese mostrar que houve
melhoras significativas nos últimos anos – que ainda está longe da situação ideal. Essa
afirmação está evidenciada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(PNAD/IBGE, 2007), revelam que 1,8 milhões de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da
escola. No esforço de melhorar esse cenário, novas políticas públicas de incentivo à
educação e novas maneiras de aprendizado vem sendo implementadas no país. No conjunto
dessas ações destaca-se a priorização da educação a distância (EaD), em nível de
graduação.
Observa-se que, as instituições de ensino superiores vêm optando por duas alternativas
distintas: o voluntarismo ou o planejamento pontual, no que se refere a oferta dos vinte por
cento a distância. Na alternativa voluntarista, a instituição não interfere no processo de
adesão dos professores no que trata da utilização de atividades virtuais. Neste caso apenas o
professores mais flexíveis e motivados passam a adotar a EaD. Este processo é perceptível
nas universidades públicas, nas quais existe uma rigidez e enormes dificuldades para mudar
um projeto pedagógico. Nessas instituições de ensino as iniciativas de mudança tendem a
ser mais individuais do que institucionais.
Por sua vez, inúmeras outras instituições passaram a disponibilizar disciplinas específicas
no ambiente virtual, em especial aquelas em que os alunos tinham maiores dificuldades,
como por exemplo, as dependências, recuperações, reprovações.
Esses dados indicam que existem sérias distorções na prioridade de investimento do setor
privado, que é o responsável por 73% das matrículas no ensino superior no país. Os dados
divulgados pelo Global Education Digest - 2006 (UNESCO, 2006), indicam que a
participação do setor privado na educação superior é inferior a 25% nos Estados Unidos e
menos de 10% no Canadá. Por sua vez, observa-se que o segmento privado vem
concentrando suas ofertas de cursos em áreas do conhecimento com custos de implantação
baixos. Isso é agravado, também, pelo baixo desempenho da economia nas últimas décadas,
o que tende a contribuir para reduzir a demanda por cursos das áreas tecnológicas. Por sua
vez, o poder público vem reduzindo a sua capacidade de investimento na área, apesar dos
gastos elevados por aluno no ensino superior.
Os dados do Anuário Estatístico de 2007 (AbraEAD, 2008) assinalam que em todo o país
existem 972,8 mil os estudantes em todas as áreas de ensino a distância (crescimento de
24,9% comparado ao ano de 2006), desde o antigo supletivo até a pós-graduação, passando
por cursos técnicos e de extensão, sendo 727 mil nos níveis de graduação e pós-graduação.
Na graduação existem 430 mil alunos, o que representa 45% do montante total. Na
graduação e na pós-graduação são 356% de crescimento em quatro anos. Não estão
incluídos nesse total os cursos livres e de educação corporativa, que ultrapassa 2,5 milhões.
Isso representa um crescimento de 213% no número de alunos a distância no Brasil no
período de 2004 a 2007.
A criação da UAB e os estímulos que estão sendo gerados para promover um crescente
envolvimento das instituições públicas de educação superior federais, estaduais e
municipais com a educação a distância (EaD) são medidas importantes no campo das
políticas públicas no país. É a partir dessas políticas públicas de educação a distância que
tem início um processo de democratização do acesso à educação continuada. Isso ocorre
por meio da oferta de oportunidade de educação da qualidade para pessoas que estão
distantes de centros de formação, impossibilitadas de freqüentar os ambientes presenciais e
para os tem alguma dificuldade de locomoção.
As instituições que participam da UAB são reconhecidas pelo MEC, que ofertam cursos a
distância que atendem exclusivamente ao programa UAB. Estas instituições são
caracterizadas por universidades (federais, estaduais ou municipais) e Institutos de
Educação Tecnológica - os IFETs. A responsabilidade de requerer as autorizações de
funcionamento dos cursos a distância e reconhecimento destas autorizações é destas
instituições. Mas é responsabilidade do MEC/CAPES/UAB a seleção dos cursos que farão
parte do programa UAB. Esta seleção está associada ao que se chama de articulação, que é
o curso a ser ofertado em um determinado pólo. A área de atuação de instituição está
associada, em geral, ao seu estado (UF), ou estados próximos. Registre-se que a UAB é um
programa ligado à Diretoria de Educação a Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal do Ensino Superior (CAPES/MEC). Veja a esse respeito o site:
http://www.uab.capes.gov.br/.
O projeto-piloto do curso conta atualmente com mais de 13 mil alunos, ofertado numa
rede de 24 universidades públicas de educação superior (federais e estaduais). Destacamos
no quadro 01 as vinte principais instituições públicas de ensino superior que ofertam o
curso piloto de Administração no país, as quais possuem mais de 10 mil alunos. O curso
utiliza pólos em todo o território nacional para os encontros presenciais. Torna-se
importante destacar que as aulas do curso de graduação em administração a distância,
conforme definido no projeto político pedagógico do curso, em sua maioria são virtuais
(80%) e as restantes são presenciais (20%). Isso vem exigido dos alunos uma forte
dedicação ao cumprimento das exigências de aprendizagem dos conteúdos das matérias e
tarefas, de forma disciplinada, todos os dias. Especial atenção está sendo dada às avaliações
dos alunos e do curso – uma das etapas sensíveis do processo de educação a distância –.
Esses esforços visam elevar a qualidade de sua formação acadêmica, o que tem exigido que
eles passem por um processo rígido, tanto no ambiente virtual como no presencial (provas).
Quadro 01: Principais Instituições Públicas de Ensino Superior Federal e
Estaduais que ofertam o Curso Piloto de Administração no Brasil
IPES Total de
Alunos
____________________ _________
______ ______
UECE 232
UEPB 482
UFAL 500
UFC 248
UFES 500
UFG 667
UFJF 378
UFLA 500
UFMS 331
UFMT 500
UFPA 479
UFPR 250
UFRN 592
UFRS 651
UFSC 611
UFU 580
UFV 394
UnB – Campus 583
UnB – Região Norte 482
UNIVIMA UEMA 644
Total
10.200
Ficou evidenciado, também, com base nas avaliações do referido curso de graduação em
administração a distância, que, a partir de um modelo de gestão adequado, é possível
ministrar cursos de graduação de boa qualidade a distância, utilizando novas tecnologias
para reduzir as diferenças e criar movimentos significativos de inclusão. Isso está
configurando-se nessa rede de 25 universidades – apoiada pelo MEC/UAB e o Fórum das
Estatais (Banco do Brasil) –. Esses esforços estão contribuindo de maneira efetiva para a
criação de uma nova cultura de educação a distância no meio acadêmico e mostrando que a
educação a distância é uma ferramenta essencial para apoiar o novo modelo de políticas
públicas de inclusão social por meio da educação no país.
Para cumprir o seu papel, no mundo contemporâneo, o administrador necessita ter uma
formação acadêmica de boa qualidade, visto que possui um amplo campo de atuação.
Destacam-se, entre essas áreas: a Administração Pública; Administração Financeira;
Administração de Material; Administração Mercadológica/Marketing; Administração de
Produção; Administração e Seleção de Pessoal/Recursos Humanos/Relações Industriais;
Orçamento; Organização e Métodos e Programas de Trabalho e demais campos conexos.
Apoiado na extensa literatura científica aqui citada é possível argumentar que a educação
presencial e a virtual convergem para se complementarem na medida em que a educação
pode apropriar-se das possibilidades de criatividade da educação virtual para melhorar e
ampliar os seus processos e ações orientadas para o ensino-aprendizagem. Por sua vez, a
educação virtual como sistema se beneficia da metodologia de trabalho educativo e de
comunicação, torna-se indispensável para os casos em que a finalidade da relação na rede
vai além da simples busca de informação.
Observa-se, por sua vez, que inúmeras universidades públicas desenvolveram, nos últimos
anos, projetos de ensino aberto com o objetivo de oferecer aos professores das disciplinas
de graduação um ambiente virtual para ser usado livremente pelos docentes e alunos como
apoio ao ensino presencial. É perceptível, nesses esforços, a crescente utilização do Moodle
e do Sloodle como ferramentas para apoio ao ensino presencial, possibilitando dessa forma
aumentar a “virtualização” do ensino presencial. Esses projetos representaram uma
iniciativa significativa para a expansão do uso de ambientes virtuais. A adesão ao uso dessa
tecnologia, entretanto, não ocorreu de forma uniforme entre as diferentes universidades e
unidades de ensino. Destacam-se, entre essas instituições, as experiências positivas em
curso da Unicamp, UFRJ, UnB, UFSC, UFMT, entre outras.
Com base nessas transformações podemos argumentar que no médio prazo os conceitos
entre curso presencial e a distância não serão mais os mesmo, visto que não teremos mais
cursos presenciais puros (SANGRÀ, 2002a, ARETIO, 2009). Os modelos de gestão das
universidades, também, terão que ser redefinidos, com vista a se ajustarem a essas
mudanças na organização dos processos de ensino-aprendizagem. A crescente
flexibilização que será exigida para os novos cursos, a forma de utilização dos tempos,
espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias, avaliação não serão mais as
mesmas. Essa nova concepção de educação irá exigir profundas modificações institucionais
e culturais na gestão e nos projetos político-pedagógicos dos cursos, na concepção das
aulas, na utilização de técnicas, de comunicação e de pesquisa nas universidades. Nesse
sentido, as áreas envolvidas com a educação a distância nas instituições de ensino superior
têm um papel essencial nessas mudanças. Isso deve ser feito por meio da intensificação da
atração e envolvimento das direções e grupos de professores das faculdades, institutos e
departamentos no esforço de facilitar essa interação entre a educação presencial e o virtual.
Considerações finais
Ficou razoavelmente evidenciado nesta análise que a EaD, em que pese o país ainda possuir
diversas deficiências de recursos humanos, infra-estrutura e de tecnologias de informação e
comunicação, se apresenta como uma ferramenta importante no processo de construção de
políticas públicas de educação no país. A utilização da ferramenta de EaD tem se mostrado
válida num país de perfil continental e marcado pela diversidade, em um contexto onde a
aprendizagem continuada passou a fazer parte na vida das pessoas. Ficou razoavelmente
evidenciado que a EaD, em que pese ainda possuir diversas deficiências de recursos
humanos, infra-estrutura e tecnologias, se apresenta como uma ferramenta importante no
processo de construção de políticas públicas de educação superior no país, e dessa forma,
contribuindo para uma crescente inclusão social no país.
Observa-se que o crescente aumento da importância da EaD tem contribuído para elevar a
tensão entre os paradigmas presentes na educação brasileira. O uso das novas tecnologias
de informação e comunicação está provocando uma metamorfose intensa nas relações
humanas, em especial no campo da educação, reforçando a idéia de que as IES devem se
adequar às necessidades das diversas camadas da população, entre elas o uso de mídias e de
novas práticas docentes (LÈVY, 1993, p. 7). No contexto dessas transformações, que estão
impactando em diferentes níveis da vida social, provocando assim profundas mudanças
econômicas, sociais, políticas, culturais, ambientais, entre outras. Como não poderia deixar
de acontecer, também estão afetando as escolas e o exercício profissional da docência.
As evidências constatadas neste estudo revelam que, para viabilizar-se a EaD, apoiada nas
novas TICs, necessita superar inúmeros obstáculos, entre os quais destacamos os seguintes:
permitir ou ampliar o acesso; implementar um sistema educacional mais personalizado;
elevar a flexibilidade dos sistemas de estudo; produção de materiais e contextos mais
interativos; equilibrar a personalização com a cooperação; e a busca permanente da
qualidade do ensino-aprendizagem. Revelou também, que a educação a distância e a
educação presencial não devem ser vistas como formas de educação antagônicas, mas
entendidas como modalidades diferenciadas, com peculiaridades e características
específicas, que não são excludentes.
Referências
UNIDADES
1. Educação a distância: considerações 2. A EAD no cenário mundial 3. A EAD no cenário nacional
3. 1. Educação a Distância no
Brasil
1. 1. O que é Educação a Distância ?ncia? 2. 1. Contexto histórico 3. 2. Universidade Aberta do Brasil:
novos Caminhos para EAD
1. 2. O papel do estudante na EAD 2. 2. Pioneiros da EAD
3. 3. UFSJ: nossa proposta de Edu-
1. 3. Conhecimento e contemporaneidade 2. 3. Bases da EAD contemporânea
cação a Distância
Aqui apresentamos uma linha do tempo da unidade curricular, com o número de semanas, as unidades e a data de início e término de
cada atividade avaliativa. É possível clicar nas unidades e tarefas para ir até seus links na plataforma.
CRONOGRAMA
SEMANAS
1 2 3 4 5 6
LEGENDA
DATA DE DISPONIBILIZAÇÃO
DA ATIVIDADE
UNIDADE 1
Educação a distância:
considerações objetivos
[BEM-VINDO!]
1.1. Caro aluno,
Você está agora iniciando uma disciplina de um curso a distância. Mas o que isso signi-
O que é Educação a fica? Em que ela difere das suas experiências de ensino e aprendizagem convencional?
O ensino a distância é mais fácil ou mais difícil, quando comparado ao presencial? Como
funcionam seus processos e, principalmente, qual é o seu papel, como aluno, no sucesso
Distância ? da sua aprendizagem?
Vamos pensar então: o que é aprender? Também importa desenvolver sua capacidade de
relacionamento social, construindo empatia com o
Podemos entender o aprendizado como a aquisição outro e atuando de forma solidária. Neste processo,
de novos conhecimentos, que ficam armazenados entendemos nosso lugar na sociedade, nos tornan-
em nossa memória para utilização em ocasiões do cidadãos plenos e engajados, capazes de operar
futuras, quando aquele conhecimento for necessá- junto ao nosso próximo e às coletividades que nos
rio. Esa é uma visão bastante tradicional, e relati- cercam. Por fim, é importante que nos conecte-
vamente simplista, do que é aprender, relegando o mos com o universo também de forma metafísica,
educando a mero repositório de informações ca- construindo princípios éticos e relações ambientais
talogadas, que podem ser acessadas via memória saudáveis e sustentáveis, o que Luckesi denomina
Provavelmente, se você já passou por
quando solicitado. Para Luckesi (2011), a aprendiza- como nossa relação com o sagrado.
alguma experiência de ensino a dis-
gem envolve mais o processo de transformação do tância, conhecia a realidade do aluno
educando nas suas relações consigo mesmo, com o Freire (2014) reforça alguns destes conceitos, afir-
mando que a aprendizagem está relacionada ao Cícero. Caso contrário, é provável que
outro e com o mundo, ampliando sua consciência e você se identifique com as opiniões de
tomando posse do seu destino. conceito de autonomia, ou seja, ao processo no qual
o indivíduo constrói sua própria capacidade crítica, seus primos que envolvem uma série
estruturando seu próprio aprendizado e se tornan- de preconceitos sobre a educação a
do mais consciente, metodologicamente rigoroso, distância.
engajado e socialmente atuante.
Unidade 1 - Ensino a Distância: considerações
Na maioria das instituições educacionais (incluindo Estas possibilidades de comunicação são ainda am-
a universidade), o ensino é visto tradicionalmente pliadas pela criação de instituições sociais (como
dentro do modelo de transmissão cultural. Eventu- os mensageiros e correios, que permitem a troca
almente há um desenvolvimento de habilidades e de cartas, redes de transporte, universidades) ou de
produção de mudanças conceituais, mas são cons- aparatos tecnológicos (prensa, fotografia, cinema,
tantemente secundários em relação ao objetivo prin- rádio, televisão, telefone, celular, internet) que con-
cipal de acumulação de conhecimento. Para isso, correm para a produção e/ou transmissão de novos
toda uma estrutura foi formada com o objetivo de dados e informações.
dar suporte aos processos de ensino-aprendizagem:
professores, sistemas pedagógicos, salas de aula, Há, obviamente, limitações neste tipo de comuni-
materiais didáticos, dentre outros. Esta estrutura cação em relação às formas presenciais. Formas
pressupõe encontros entre educandos e educado- assíncronas são menos dialógicas e interativas. O
res, nos quais o processo de educação acontece. material pode ser lido muito tempo depois de sua
produção e o autor pode não mais se lembrar do
Mas é essa a única maneira possível? Ou seja, é assunto ou mesmo não estar mais vivo. A veloci-
necessária a presença de todos os agentes edu- dade com que as mensagens podem ser trocadas
cacionais no mesmo espaço e ao mesmo tempo também influenciam bastante no nível de diálogo
para que a educação se processe? permitido remotamente. Até o século XIX, as mensa-
gens eram levadas sempre por mensageiros, o que
É nesse momento que introduzimos a discussão significava que a velocidade de transmissão era a
dos processos a distância. Esses processos podem velocidade do meio de transporte mais rápido dispo-
acontecer mesmo que os agentes estejam localiza-
dos distantes uns dos outros (de forma remota) ou
nível. Com a invenção do telégrafo e de seus deriva-
dos, a velocidade de transmissão das mensagens saiba mais
que exerçam estas atividades em tempos diferentes tornou-se muito superior à capacidade humana de
(assíncrona). deslocamento, permitindo que informações fossem
compartilhadas quase que instantaneamente entre O telégrafo elétrico foi inventado por
O primeiro processo de comunicação remota e pontos muito distantes (inclusive entre oceanos). Francis Ronalds em 1816, na Inglater-
assíncrona que podemos pensar é o surgimento Com isso, a interatividade das formas de ensino foi ra. A capacidade de transmissão do
da escrita. A possibilidade de registro da informa- progressivamente aumentada, permitindo, além da telégrafo era limitada, contando com
ção em um código compartilhado permite a outras apenas seis caracteres (ponto, linha e
forma escrita, a utilização de áudio, vídeo e, final- quatro tipos de silêncio), exigindo uma
pessoas acessá-la no futuro (desde que também mente, de informações digitalizadas trocadas em codificação específica para a trans-
dominem o código), adquirindo-a e “dialogando”, de altíssima velocidade! Atualmente, chamamos es- missão de mensagens, sendo a mais
algum modo, com o emissor da mensagem. tas formas de comunicação rápida, que permitem famosa o código Morse de 1837. Os
primeiros cabos transoceânicos foram
trocas de dados, voz e imagem, de Tecnologias de
implantados na segunda metade do
Assim, ao ler um texto (como esse), você está Informação e Comunicação (TICs). Detalharemos século XIX, permitindo comunicação
conversando mentalmente com o seu autor (o melhor este processo histórico na Unidade 2! intercontinental instantânea e abrindo
caminho para várias tecnologias con-
professor) de forma remota (não estamos no
temporâneas!
mesmo lugar) e assíncrona (você não está lendo
este texto no momento em que eu escrevo)!
Unidade 1 - Ensino a Distância: considerações
Ao utilizar o AVA durante este curso, tente refletir so- AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA)
bre a temporalidade e espacialidade das atividades
que estão acontecendo e sobre os diferentes agen-
O AVA é este espaço virtual no qual você adentra para acessar o material disponibilizado, entrar em contato com
tes e processos de aprendizagem envolvidos. colegas e tutores e desenvolver atividades avaliativas! Utilizamos atualmente como plataforma de gestão de con-
teúdos e usuários voltada para a educação o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment ou
1 FERRAZ, C.A.G. et al.. Uma aplicação distri- Ambiente de aprendizagem modular, dinâmico e orientado ao objeto). O Moodle é um programa livre (open source),
buida para a educação a distância na Web. X Simpó- acessado diretamente pela internet, sem que seja necessária a instalação de qualquer aplicativo no seu computa-
sio Brasileiro de Informática na Educação. Anais... dor. Pretende-se que o uso do Moodle seja o mais intuitivo e universal possível, mas caso esta seja sua primeira
vez na plataforma, acesse nosso tutorial simplificado para se familiarizar com os recursos e modos de navegação!
Paraná, 1999.
Unidade 1 - Ensino a Distância: considerações
TUTOR E TUTORIA
FÓRUM DA TURMA
Unidade 1 - Ensino a Distância: considerações
20%
25%
Sociedade da Contribuição Precisão nos
Cada estudante deve escolher uma palavra ou Cidadão Estudante crítica conceitos
informação apresentados
expressão da lista a seguir (não são permitidas do estudante
repetições) para apresentar sua definição. A de-
finição não deve ser apenas uma cópia da defini-
Sociedade
ção do dicionário, devendo apresentar também Conhecimento Ética digital
industrial
um posicionamento crítico do estudante em rela-
ção ao termo.
A imagem ao lado
mostra a significativa
quantidade
de informação
produzida quase que
instantaneamente
na rede mundial de
computadores e
em seus diversos
aplicativos e 00:20:54
plataformas
Fonte: insider.pro
Unidade 1 - Ensino a Distância: considerações
Discutimos aqui diferentes visões de educação, [ critérios ] CAMPOS, F. C. A.; COSTA, R. M. E.;
SANTOS, N.. Fundamentos da educa-
focando nas especificidades da modalidade a dis- Estamos avaliando com isso sua capacidade ção a distância, mídias e ambientes
tância e na sua relação com a sociedade contempo- de argumentação, a qualidade da sua escrita virtuais. Juiz de Fora: Editar, 2007.
e seu engajamento no debate coletivo.
rânea da informação. Vamos agora ampliar nosso
referencial sobre o assunto realizando uma pes- FREIRE, P.. Pedagogia da autonomia:
quisa a respeito do tema. Para isso, engajaremos saberes necessários à prática edu-
Capacidade Qualidade
nossa turma em um debate sobre o assunto, a partir de relação do texto cativa. 49a ed. Rio de Janeiro: Paz e
de textos encontrados na rede! entre os textos apresentado Terra, 2014.
15% HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso
20% Pertinência
do texto ao
de Didática Geral. São Paulo: Ática,
debate 1994.
15%
FÓRUM TEMÁTICO 20% LUCKESI, C. C.. Avaliação da aprendi-
zagem: compontente do ato pedagó-
Qualidade
de escrita gico. São Paulo, Cortez, 2011.
30%
Capacidade de SACRISTÁN, J.G.; PÉREZ GOMEZ,
Cada estudante deve escolher um texto perti-
argumentação A.I. Compreender e transformar o
e crítica
nente a este debate, disponível online, e apresen- ensino. 4ª ed. Porto Alegre, Artmed,
tar o link e uma breve resenha com 500 a 1000 1998.
caracteres (aproximadamente um parágrafo
de 15 linhas) defendendo sua relevância para a
discussão e contendo uma avaliação critica sobre
seu conteúdo.
UNIDADE 2
Educação a distância: cenário mundial
objetivos
1850
1900
1920
1940
1960
1980
2000
1ª GERAÇÃO 3ª GERAÇÃO 5ª GERAÇÃO
estudo por correspondência universidades abertas computador e internet
1880 final de 1960, início 1970 especialmente anos 1900
2ª GERAÇÃO 4ª GERAÇÃO
transmissão por rádio e TV teleconferência
início sec. XX anos 1970 e 1980
Unidade 2 - Educação a distância: cenário mundial
Esta estrutura já te lembra o sistema de educação do qual está participando agora? Quais
os paralelos podem ser traçados entre estes instrumentos, suportes e pessoas e seu curso
a distância no NEAD?
2.3. Quando pensamos no objetivo central de Wedemeyer em relação ao alunado – usar uma varie-
dade de mídias para melhor apresentar o conteúdo e também para que pessoas com estilos de
Bases da EAD aprendizado diversos pudessem fazer combinações específicas para suas necessidades – com-
preendemos os benefícios que a articulação midiática pode trazer ao processo de ensino-apren-
contemporânea dizagem. Mas este não é o único ponto que temos que levar em conta! Todos – professor, tutor,
aluno, grupo de discussão – devem ser agentes neste processo, desempenhando atividades/
ocupando espaços que, combinados, resultam na inteireza do conhecimento. Cada parte tem seu
Ao contrário da segunda, a terceira geração não se papel no todo, e o estudar/ensinar/aprender pressupõe investimento e envolvimento! A ideia de
caracterizou pela tecnologia de comunicação, mas receber um conteúdo passivamente não só é equivocada como é também a redução do que se
pela invenção de uma nova modalidade de organiza- pode obter num processo dinâmico e ativo de conhecimento.
ção da educação, especialmente notável nas univer-
sidades abertas. Ela corresponde a um período de O AIM testou a viabilidade da teoria de que as funções do professor poderiam ser divididas e de
mudanças importantes na educação a distância, no que o ensino poderia ser melhorado quando essas funções fossem agrupadas por uma equipe de
final da década de 1960 e início da de 1970. As duas especialistas e veiculado por diversas mídias, e a ideia de que um aluno poderia se beneficiar das
experiências mais significativas, que conduziram a vantagens de apresentação da mídia transmitida e das formas de interação possibilitadas.
novas técnicas de instrução e a uma nova teoriza-
A Universidade Aberta do Reino Unido surge em 1969 (ver quadro1) para criar um lugar com finali-
ção da educação, foram o Projeto AIM da University
dade específica de educação a distância, quando o governo britânico estabeleceu um comitê para
of Wisconsin e a Universidade Aberta da Grã-Breta-
planejar uma nova e revolucionária instituição educacional, integralmente autônoma e autorizada
nha.
a conceder seus próprios diplomas, com controle sobre seus fundos e seu próprio corpo docente.
A AIM (Articulated Instructional Media Project), ou Seu sucesso nos âmbitos nacional e internacional, com transmissão de educação de qualidade
Projeto Mídia de Instrução Articulada, foi financiado elevada, estimulou outros países a imitarem sua estrutura.
pela Carnegie Corporation entre 1964 e 1968, na
1 Dados extraídos de DANIEL, J. S. Mega-univesities and knowledge media: thecnology strategies for higher education.
University of Wisconsin e dirigido por Charles Wede- London: Kogan Page, 1996, apud MOORE & KEARSLEY, 2011
meyer. A intenção era testar a ideia de agrupar, no
sentido de articular, várias tecnologias de comuni- Estabelecida
cação para oferecer um ensino de alta qualidade e País Educação a distância Nº de alunos
em
custo reduzido a alunos não-universitários.
China China TV University System 1979 530.000
“As tecnologias incluíam guias de estudo impressos e
orientação por correspondência, transmissão por rádio e Índia Indira Gandhi National Open University 1985 242.000
televisão, audioteipes gravados, conferências por telefone, Indonésia Universitas Tebuka 1984 353.000
kits para experiência em casa e recursos de uma bibliote- Irã Pyame Noor University 1987 117.000
ca local. Também articulado no programa havia o suporte
Coréia Korean National Open University 1982 210.578
e a orientação para o aluno, discussões em grupos de
estudo locais e o uso de laboratórios das universidades Espanha Universidad Nacional e Educación a Distancia 1972 110.000
durante o período de férias.” Tailândia Sukhothai Thammatirat OU 1978 216.800
Turquia Anadolu University 1982 577.804
(MOORE & KEARSLEY, 2011, p.35).
Reino Unido The Open University 1969 157.450
Unidade 2 - Educação a distância: cenário mundial
UNIDADE 3
A EAD no cenário nacional
objetivos
3.1.
Educação a Distância
no Brasil
Na unidade anterior, vimos que a oficialização do Mas segundo Rett (2008), o marco histórico na
Ensino a Distância ocorreu a partir do século XVIII, criação da EAD no Brasil ocorreu em 1904, com a Assista a esta reportagem do Jornal
mas se estabeleceu com clareza em fins do século implantação das “Escolas Internacionais”, mesmo Nacional que discute a educação a
XIX, com o estudo por correspondência. Nesta uni- ano em que o Jornal do Brasil registra, na primei- distância a partir da perspectiva de
dade tentaremos estabelecer paralelos entre o cená- ra edição da seção de classificados, anúncio que Olavo.
rio mundial e o Brasil, para compreendermos tanto oferece profissionalização por correspondência para
Em que você se identifica com a
a origem desse sistema educacional em nosso país datilógrafo. É importante perceber que esta é uma
história deste personagem? A histó-
como se as premissas e os objetivos de nossa EAD visão a partir dos próprios parâmetros de propaga-
ria de Olavo é também a sua ou há
são os mesmos de outras localidades no mundo. ção do conhecimento pelas tecnologias, ou seja, já
muitas diferenças contextuais?
leva em consideração os meios de comunicação
para o aluno. Mas é possível entender o sistema de Como você enxerga a pertinência da
Qual o contexto da EAD no Brasil? EAD brasileiro a partir de um movimento que visava EAD nos dois contextos: o de Olavo e
a uma etapa anterior: o aperfeiçoamento dos profes- o seu?
Segundo Lucineia Alves (2011), o conceito de Edu- sores.
cação a Distância no Brasil é definido oficialmente
no Decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005 Moore & Kearsley (2011) lembram que o Brasil
(BRASIL, 2005), que diz: possui a Secretaria de Educação a Distância no Mi- 00:06:27
nistério da Educação, secretaria esta que tem sido
Art. 1o Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a Educação responsável pelo desenvolvimento e implantação
a Distância como modalidade educacional na qual a media- do Pró-formação, um programa de treinamento de
ção didático-pedagógica nos processos de ensino e apren-
dizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de
docentes que usa a educação a distância para pro-
informação e comunicação, com estudantes e professores porcionar treinamento a professores do ensino ele-
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos mentar sem boa qualificação, geralmente atuando
diversos. em áreas mais atrasadas do país. A fim de melhorar
as aptidões e os conhecimentos desses professores
No Brasil, a educação é regida principalmente pela para contribuir com uma política nacional de aumen-
Lei de Diretrizes Básicas para a Educação (Lei nº tar a própria qualidade de vida dos mais pobres, o
9.394 de 20 de dezembro de 1996) e regulamentada Pró-formação tem sido aplicado desde 1999, con-
por decretos presidenciais, por portarias do Ministé- seguindo treinar de modo bem-sucedido mais de 27
rio da Educação (MEC) e por resoluções e pareceres mil professores.
do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Unidade 3 - Ensino a Distância: cenário nacional
Como se iniciou esse processo de formação de este fim, eram convidados os melhores técnicos para pre-
professores no Brasil? Quais as suas bases? pará-los. Essa estratégia foi adotada em função da escas-
sez de professores e/ou do mau preparo dos existentes,
e, em última instância, considerava a tecnologia do ensino
Como nos explica Garcia (2006), inicialmente houve
uma abordagem empirista no que tange à investiga-
como uma categoria à parte, capaz de, por si mesma, pro-
vocar grandes mudanças, substituindo os docentes [...]. [ dica ]
Porém, com os equívocos cometidos nas iniciativas de
ção da EAD como técnica de formação de docentes. EAD daquela época, constatou-se: que os bons resultados
Nesse sentido, num primeiro momento priorizava-se obtidos nos moldes do ensino a distância estavam aliados Investigue mais sobre os
a transmissão de informações descontextualiza- à qualidade da monitoria prestada aos alunos, de sorte outros programas desti-
das, baseadas em estruturas padronizadas – uma que não se tratava de dispensar os agentes humanos, mas nados à formação geral
sistemática que contribuía para o desinteresse dos de apoiá-los nas suas tarefas educativas.” nas páginas 28 e 29 de
professores. A partir desta constatação, o IRDEB seu livro de referência!
Aqui temos um ponto importante de reflexão!
(Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia) vol-
Investigue mais sobre os outros progra-
tou sua formação de professores a uma valorização Será que esta avaliação da experiência vivida mas destinados à formação de profes-
do contexto e do diálogo reflexivo. De modo geral, pelos programas do final do século XX ainda é sores e à formação profissional nas
os primeiros cursos com o objetivo de melhorar a uma referência válida para nossos dias? Em que páginas 29 a 32!
formação de professores tinham como caracterís- medida temos um contexto diferente daquele
tica essencial a preocupação com a formação em e, se houver diferença, quais as consequências
nível de segundo grau, hoje ensino médio, eram des- das mudanças? Será que a evolução tecnológi-
tinados a professores leigos e priorizavam os que ca avançou a ponto de trazer transformações
estavam em exercício. É importante destacar ainda na experiência de EAD de lá para cá? Ou o pró-
que todos esses programas eram destinados à atu- prio modo de viver neste cenário de presença
alização e aperfeiçoamento, mas sem o objetivo de constante de novas informações e instrumentos
formação e qualificação dos docentes. Assim, em mediadores da comunicação interfere nessas
2002 a Secretaria de Educação do Estado de Minas premissas e muda essa percepção?
Gerais criou o projeto Veredas, visando à formação
superior de docentes; o objetivo central era propiciar À medida em que trataremos da abordagem do Ensi-
aos não titulados em nível superior a vivência do no a Distância na UFSJ na próxima subunidade 3.3,
ambiente universitário. refletir sobre estas questões pode nos preparar para
um aprofundamento deste ponto, e para estabele-
cermos uma visão crítica sobre a educação nestes
E o que seriam os elementos fundamentais que
moldes, considerando tanto os conteúdos adqui-
garantiam o sucesso do Ensino a Distância? Um
ridos neste curso como as próprias experiências
bom material didático? O interesse dos alunos
pessoais e profissionais de cada um, que devem ser
no sistema? O envolvimento dos professores? A
conectadas!
tutoria?
Veja esta conclusão de Garcia (2006:28): Reflita agora sobre a história de Olavo! Em que
ela lembra a sua própria história? Que novas
“[...] Na década de 1970, a Educação a Distância foi usada oportunidades se abrem a partir deste curso?
considerando tão somente que um bom material didático
poderia atingir rapidamente a milhares de pessoas, e para
Unidade 3 - Ensino a Distância: cenário nacional
3.2.
Universidade Aberta
do Brasil: novos
caminhos para EAD Eixos fundamentais da UAB
A proposta de EAD em que nós, professores e alu-
nos, estamos inseridos, foi estruturada com base no
Edital nº 01 de 16 de dezembro de 2005, proposto
1 Expansão pública da educação superior (democratização e acesso)
[saiba mais]
temente, aprender com autonomia.
UFSJ: nossa O envolvimento da UFSJ com a EAD deu-se, em
Em dez anos, entre 2001 e 2011, o Brasil passou de Grosso, a Universidade Federal de Mato Grosso
5 mil estudantes matriculados em cursos a dis- do Sul, a Universidade Federal de São João del
tância para mais de 930 mil alunos, na graduação Rei, a Universidade Federal de Lavras e a Univer-
e pós-graduação. Com estes números, podemos sidade Federal do Espírito Santo, e oferece cur-
observar que a Educação a Distância está se con- sos a distância, de formação de professores. A
solidando como uma alternativa para muitos brasi- UFSJ implantou o Núcleo de Educação a Distân-
leiros que não contam com universidades em suas cia, o NEAD, a partir de sua inserção no sistema
cidades ou nas regiões próximas, ou para pessoas UAB, que apresenta a seguinte estrutura:
que não possuem muito tempo disponível. (Fonte:
Fundação Padre Anchieta)
Secretaria
Comissão editorial Coordenação Geral Geral
Esse dado por si só permite concluir que os
cursos a distância são melhores do que os cursos
convencionais?
PROEN (Graduação)
Coordenação Coordenação Coordenação
PROPE (Especialização)
Certamente que não. O que podemos afirmar é que, Pedagógica Tecnológica Administrativa
assim como em cursos convencionais, existem
cursos a distância com qualidade e sem qualidade. Responsável pela
O que realmente diferencia a Educação a Distância Coordenações administração de
recursos financei-
Equipe
da convencional é a forma como seus ambientes e de Curso
Multidisciplinar
Suporte de Rede ros (bolsas, passa-
práticas educacionais são concebidos no processo gens, diárias)
finalizando... 4
Agora que chegamos ao final desta disciplina Caso apresente ain-
da alguma dúvida ou
você deve ser capaz de: dificuldade, revise o
material, estude os
fóruns e glossários e
Definir o que é Educação a Distância de modo crítico e amplo; converse com o seu
tutor!
Discutir o impacto da Educação a Distância no processo educativo e sua relação Lembre-se de utilizar
com os modos de ensino tradicionais; todo o potencial da
EAD para o seu apro-
Entender os processos históricos que levaram ao formato de Educação a Distância veitamento desta dis-
ciplina e do seu curso
atualmente utilizado no Brasil; em geral!
Relacionar os princípios da sua área aos conceitos de Educação a Distância que Desejamos a você
foram aqui discutidos. BOA SORTE no per-
curso acadêmico que
se inicia!!!
GESTÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EaD): NOÇÕES SOBRE
PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO, DIREÇÃO E CONTROLE DA EaD
Daniel Mill*
Nara D. Brito**
Resumo
Este trabalho objetiva analisar a prática da gestão educacional na educação a distância (EaD), buscando
melhor compreensão das particularidades e origens da gestão em EaD. Baseando-se em experiências
desse tipo de gestão, a análise deste trabalho representa um exercício de reflexão para compreender as
dificuldades e as estratégias de um gestor educacional no âmbito dessa modalidade. Com base nas noções
de planejamento, organização, direção e controle da gestão empresarial, o texto estabelece alguns
elementos essenciais ao gestor de sistemas de educação a distância. Como resultado, a análise traz, para a
área de EaD, uma breve caracterização das suas instâncias mantenedoras, busca contribuições da gestão
empresarial, levanta algumas especificidades dos sistemas de gestão no contexto educacional, busca
orientações para a configuração de possíveis modelos de gestão e destaca alguns desafios e dificuldades
enfrentadas pelos gestores de EaD em seu cotidiano de trabalho.
Abstract
This paper aims to analyze the practice of management in distance learning, seeking a better
understanding of the origins and peculiarities of management in distance education. Based on
management experiences in distance education, the analysis of this work represents an exercise of
reflection to understand the difficulties and strategies of an educational manager in the distance education.
Based on the concepts of planning, organization, direction and control of business management, the text
shows some key elements to the manager of systems of distance education. As a result, the analysis
presents a brief characterization of institutions offering distance education, seeking contributions from
business management to the management of distance education. It also raises some specificities of
management in the educational context, seeking guidance for the setting of possible models of
management systems for distance learning. Finally, it highlights some challenges and difficulties faced
by managers of distance education in their daily work.
1 Introdução
Nesse cenário, este texto objetiva analisar a prática da gestão educacional na educação a distância,
partindo das raízes e origens desse tipo de gestão. Antes de pretender esgotar o tema, esperamos
apenas contribuir para a compreensão das suas particularidades, destacando a importância do
processo de gestão no conjunto de elementos que compõem o processo educacional, destacando
os desafios que seus gestores se veem defronte cotidianamente.
Costa (2001) aponta três modelos institucionais de educação a distância: autônomo, misto e em
rede. Com base em Rumble (1993)2, Costa (2001) argumenta que o modelo autônomo seria o
melhor. Entretanto, quase todas as experiências de EaD brasileiras enquadram-se no modelo misto.
A autora caracteriza uma unidade de EaD mista pelo interesse de determinada universidade
tradicional ampliar seu mercado/abrangência com a oferta também de educação a distância. No
Brasil, a grande maioria de sistemas de educação a distância desenvolve-se no seio de universidades
já consolidadas pela educação presencial (Costa, 2001; Mill, 2002). Sendo assim, que análises podem
ser feitas acerca das experiências de educação a distância virtual estudadas?
Sem entrar no mérito da discussão acerca do significado do termo “autonomia”, sabe-se que a
estrutura administrativa, tecnológica, financeira e humana/intelectual exigida para constituição de
uma instituição que ofereça exclusivamente cursos pela modalidade de educação a distância é
extremamente complexa, de alto custo e de difícil aquisição/manutenção. Apesar das implicações
pedagógicas pertinentes ao fato, aproveitar a estrutura de funcionamento de uma instituição de
ensino já constituída torna-se uma saída estratégica, inteligente e economicamente viável, pois essa
iniciativa reduz muito os esforços e os custos de instalação dos programas de EaD.
Sendo esse gestor responsável pelo planejamento, organização, direção e controle dos processos
de formação pela modalidade, é importante que ele saiba das implicações decorrentes da
subordinação da EaD à modalidade presencial, especialmente da sua subordinação a uma gestão
central (que geralmente vê a educação a distância como subcategoria de educação). Há muitas
questões daí decorrentes que merecem atenção dos gestores, com destaque para as condições de
disponibilidade dos recursos do processo administrativo: instalações, espaço, tempo, dinheiro,
informações e pessoas.
Como afirmam Corrêa e Pimenta (2005), é pelo desenvolvimento da indústria capitalista que as
modernas organizações se difundem e se ampliam, dominando as esferas econômica, social, política
e ideológica, isto é, simbolizam um novo modo de organização da sociedade. Para Chiavenato
(1983), a revolução industrial trouxe consigo possibilidades de evolução do campo da
administração. Ele afirma que o avanço tecnológico conjugado a uma ruptura com os modelos
medievais possibilitados pela Revolução Industrial trouxe para a administração as organizações e as
empresas modernas. A substituição de um modelo manufaturado para o industrial desse período
cria um significativo processo de racionalização da sociedade tanto no campo do trabalho como
em outras esferas sociais. Tal racionalização está diretamente relacionada com a administração de
processos. Chiavenato (1983) afirma que as organizações militares também influenciaram
diretamente as transformações no campo das indústrias e estimularam o surgimento de uma
administração científica.
O modelo de gestão dos processos produtivos fabris capitalistas está na base das teorias e práticas
da gestão educacional. Como afirma Hora (1994), a administração escolar como disciplina e prática
administrativa não possui corpo teórico próprio e demonstra em seu conteúdo as características
das diferentes escolas da administração de empresas. Dessa forma, a educação
(escola/universidade) busca assegurar a realização de objetivos (eficácia) e a utilização racional de
recursos das organizações (eficiência), prevendo decisões de planejamento, organização, direção e
controle envolvendo instalações, espaço, tempo, dinheiro, informações e pessoas. São dois os
pressupostos básicos que aproximam a administração geral da administração educacional (Hora,
1994), quais sejam:
Essas questões tangenciam a educação básica e a formação em nível superior, embora cada uma
delas guarde suas especificidades. Como observam Canterle e Favaretto (2008), a compreensão de
como a Universidade é estruturada parte de importantes fatores como insumos, visão da
organização, visão da informação, visão dos processos e visão dos resultados. Por insumos, os
autores entendem tudo aquilo que está fora do controle da própria Universidade, como decisões
políticas, organização social, mercado de trabalho etc. A adequada gestão de um grande projeto de
formação numa universidade (ou a da própria instituição) depende desses fatores. Canterle e
Favaretto (2008) apresentam um diagrama que sistematiza essa visão geral do modelo referencial
de gestão de indicadores da qualidade para o ensino superior. Acreditamos que esse modelo
configura-se como uma estrutura também válida para a gestão de sistemas de educação a distância.
Entretanto, os processos de formação superior pela modalidade de EaD demonstram-se ainda mais
específicos. Focaremos, adiante, esses aspectos particulares da gestão da EaD.
Já dissemos que a Gestão de Sistemas de EaD, assim como a gestão em outros tipos de organização,
precisa contemplar os aspectos de planejamento, organização, direção e controle do processo –
considerando a disponibilidade de recursos materiais, físicos, técnicos ou humanos. Portanto, para
um gestor em EaD criar condições para a realização de um bom programa de formação a distância,
deve planejar e organizar adequadamente todo o sistema de funcionamento das etapas e, também,
deve dirigir/coordenar e controlar todos os fatores envolvidos no fluxo das atividades dos cursos
de EaD. Enfim, precisa gerir o seu dinâmico e complexo processo de formação. Algumas
orientações são importantes ao gestor e, com base no nosso cotidiano como gestores de EaD,
vamos tomar emprestadas algumas delas de autores da área de gestão de projetos.
Como as origens da gestão da educação a distância estão na administração científica mais geral,
vale destacar alguns elementos da gestão de projetos empresariais. A seguir, Roldão (2004) resume
o ciclo dinâmico da gestão de projetos, que precisam ser considerados pelo gestor de EaD
(adaptado na Figura 1). Observa-se que, após estabelecer os objetivos do projeto, o gestor precisa
planejar, executar e controlar o projeto. Roldão (2004) sugere que, nesse processo, o gestor leve
em conta o tempo disponível, os recursos humanos e técnicos, além de aspectos de custo-
benefício e de qualidade. Daí, resultam-se os produtos finais.
Figura 1. Organograma do ciclo dinâmico da gestão de projetos (adaptado de Roldão,
2004, p. 8).
Outro elemento que um gestor precisa ter em mente ao estruturar um sistema de educação a
distância é o planejamento estratégico e suas etapas. Colombo et al. (2004) apresentam-nos um
diagrama bem completo dos componentes do processo de planejamento estratégico na Figura 2.
Figura 2. Proposta de planejamento estratégico e suas etapas, conforme Colombo et
al. (2004, p. 20).
Esse diagrama da Figura 2 mostra-nos que é necessário fazer um diagnóstico para o planejamento,
desenvolver estratégias de ação, prever desdobramentos, estabelecer regras e iniciativas de
controle e acompanhamento e, claro, aperfeiçoamento do processo. Assim, o gestor precisa estar
atento a esses procedimentos também em sistemas de educação a distância. Colombo et al. (2004)
traz outra importante contribuição para o planejamento de sistemas de educação a distância. Os
autores resumem tal contribuição num quadro com os objetivos estratégicos de um processo de
planejamento (também da EaD). Pelo diagrama, percebe-se que o estabelecimento dos objetivos
estratégicos de uma organização é tarefa complexa e dinâmica, que devem ser considerados nas
perspectivas financeira, cliente e mercado, processos internos, tecnológica e aprendizagem
(melhoria do processo). Embora esteja organizado numa perspectiva mais mercadológica e
empresarial, esse diagrama pode ser empregado como base para a criação de programas de
educação a distância – desde que resguardadas as devidas especificidades da modalidade
educacional.
Ribeiro Neto et al. (2008) propõem outra forma de organização dos componentes de um sistema
de gestão da qualidade (Figura 3), trazendo elementos interessantes aos gestores que estão
planejando e organizando algum sistema de educação a distância.
Pela Figura 3, percebe-se que o usuário-cliente é sempre o ponto de partida e chegada – é ele
quem dá as diretrizes para a implementação do modelo de gestão dos processos de uma
determinada atividade e também é para a sua satisfação que os esforços da gestão são destinados.
Observa-se ainda, pela Figura 3, que o desenvolvimento de um produto é realizado num ciclo para
atender aos padrões aceitáveis pelo cliente, mas ressalta-se a necessidade de melhoria contínua da
qualidade desse produto final. Também na EaD, esses aspectos são importantes. A qualidade da
formação que se pretende num sistema de educação a distância deve ser capaz de atender às
demandas/expectativas dos interessados/clientes (estudantes). Além disso, a satisfação desses
estudantes com o produto (conhecimento em construção) move todo o sistema de gestão da
qualidade da formação.
Com foco direcionado para a gestão na educação a distância, buscamos em Rumble (2003) uma
visão de todo o sistema. Para realizar um bom planejamento, esse autor afirma que o gestor
precisa conhecer bem o sistema de funcionamento que pretende planejar. A proposição de
melhorias em um sistema depende de conhecimentos prévios, pois os recursos disponíveis
deverão ser adequados a certo “modelo” já consolidado por gestores da área. Rumble apresenta
duas propostas para organizar um sistema de EaD, sendo uma baseada no indivíduo e outra com
foco na instituição.
Conforme Rumble (2003), um sistema de EaD com foco no indivíduo é adequado para pequenos
processos de formação, como a oferta de uma disciplina ou cursos de extensão de curta duração.
Para a oferta de sistemas de EaD mais robustos, como cursos de graduação, com duração superior
a dois anos, o gestor deve se preocupar mais com a infraestrutura disponível e com sua relação
com a proposta pedagógica de educação a distância da instituição. Por exemplo, o diagrama que o
autor apresenta para uma gestão da EaD centrada no indivíduo demonstra baixa preocupação com
seleção ou formação do tutor, o que não é adequado num sistema de EaD maior. Esta e outras
variáveis devem ser consideradas pelo gestor de EaD quando do planejamento do seu sistema de
formação a distância: qual o tamanho e a abrangência do sistema de EaD que o gestor está
planejando?
Sendo um programa pequeno, o gestor poderá utilizar um sistema mais simplificado (baseado no
indivíduo). Sendo um sistema maior ou mais complexo, Rumble (2003) sugere a ideia apresentada
na Figura 4.
Figura 4. Visão de um sistema de EaD focada na instituição (adaptado da proposição
de Rumble, 2003, p. 58).
Do ponto de vista estrutural, uma instituição pode organizar um sistema de educação a distância
de diversas maneiras. Uma estrutura de EaD já bem consolidada em instituições de grande porte,
dispostas à implementação da modalidade de educação a distância de forma adequada, pode ser
vista na Figura 5.
Figura 5. Proposta de estrutura institucional para educação a distância (adaptado da
proposta do ProInfo3).
No caso da gestão da EaD, certas especificidades devem ser analisadas com atenção. Como afirma
Rumble (2003), assim como na educação presencial, a função do gestor na modalidade a distância é
dirigir o trabalho dos membros da instituição por meio de planejamento, da organização, direção e
controle por meio da elaboração de estratégias, definições de objetivos e execução dos planos de
coordenação de atividade, além de solucionar conflitos e detectar supostas falhas e erros com
relação ao plano.
Entretanto, é importante que o gestor da EaD esteja atento às diferenças entre ambas, pois essa
modalidade é bem mais complexa e dinâmica do que a educação presencial. Por exemplo, naquela
há maior fragmentação do trabalho e pulverização das funções e saberes necessários na execução
das tarefas, o que exige atenção especial do gestor para que existam adequadas articulações entre
as partes envolvidas. Por isso, para que o processo de ensino-aprendizagem na educação a distância
ocorra, é necessária uma gestão bem organizada (Rumble, 2003), contemplando questões
pedagógicas, administrativas, tecnológicas etc., especialmente quando se tratar de uma proposta de
formação robusta como cursos de graduação.
As equipes gestoras da EaD no Brasil são geralmente compostas por subgerências (Mill, 2006), isto
é: gestão pedagógica e de formação, gestão de avaliação e acompanhamento, gestão tecnológica e
de informação, gestão de polos e instituições e gestão acadêmico-administrativa. Essas
subgerências, em parceria com uma coordenação geral, com coordenações de cursos ou de
projetos e com o apoio da reitoria da instituição, compõem o grupo gestor tradicional da
educação a distância nas universidades. O grupo gestor cuida da estruturação das instalações,
equipes de trabalho, redes comunicativas, financiamento, infraestrutura física e tecnológica, além das
diversas e imprescindíveis questões pedagógicas envolvidas no ensino-aprendizagem da EaD. Há
também os coordenadores dos Polos de Apoio Presencial, que também é uma figura que compõe
o grupo gestor. O coordenador de polo zela pelo bom funcionamento do polo e pela harmonia nas
relações de trabalho e de estudo. Além disso, articula politicamente a instituição de ensino que
oferece os cursos e aquela mantenedora do polo que recebe tais cursos. No caso da UAB
Um dos primeiros desafios desse grupo gestor é estruturar os recursos da universidade para
iniciar a oferta de cursos pela EaD. Geralmente, as universidades não estão preparadas para a
reestruturação institucional que essa exige. Inteligência estratégica é essencial nesta fase de
implantação e institucionalização da educação a distancia nas (já enferrujadas) universidades
brasileiras. Uma tendência a ser evitada é a criação de guetos de EaD na instituição de forma a não ter
uma estrutura paralela à educação presencial para cuidar dessa modalidade de educação. O ideal é que
a educação a distância esteja bem concebida e enraizada em todos os departamentos e centros de
ensino da instituição. O desafio está na mudança de mentalidade de toda a comunidade
universitária em prol de uma EaD efetiva, o que exige um trabalho descentralizado e participativo
na capilarização das discussões entre os sujeitos em seus respectivos setores institucionais. A
implementação da modalidade de EaD com vistas à convivência harmônica e integralmente inter-
relacionada com a educação presencial exige mudança em toda a estrutura organizacional da
instituição tanto em termos de recursos materiais, humanos, financeiros, informacionais e espaço-
temporais. Tudo isso precisa ser bem administrado pelos gestores da EaD em suas decisões de
planejamento, organização, direção e controle dos processos... e isso não é trivial!
Como esse desafio, muitos outros são postos cotidianamente ao grupo gestor da EaD de uma
instituição que se propõe oferecer, com qualidade, cursos de EaD. Os Referenciais de qualidade para
educação a distância, do Ministério da Educação (Brasil, 2007) destacam essa importância do
processo de gestão para o desenvolvimento de um bom sistema de educação a distância. Seja pela
recente experiência que o Brasil tem em EaD ou pela carência de estudos sobre o assunto, há
ainda muitos passos por dar nesse campo da Gestão da EaD, há ainda muitos desafios a enfrentar,
há ainda muito a aprendermos!!!
7 Considerações Finais: noções sobre dificuldades para uma boa gestão em EaD
Um dos primeiros preconceitos a serem superados pela maioria dos novos gestores da EaD é
compreender (e fazer com que os seus superiores também assim o compreendam) que a
educação a distância, mediada pela internet, quase nunca é sinônimo de soluções fáceis, implantadas
sem esforço ou investimentos, com resultados rentáveis e lucros rápidos. Esta mentalidade de EaD
como forma de otimização de recursos na formação educacional é demasiadamente encontrada
atualmente entre gestores de instituições superiores públicas ou privadas, refletindo uma posição
de ingenuidade frente à complexidade desse processo.
A otimização dos processos de gestão na educação a distância busca alternativas e soluções que
passam pela identificação de necessidades, por meio da compreensão de variáveis que compõem
esse processo, pela integração flexível dessas variáveis e pela busca de soluções viáveis. Assim, bons
gestores – portadores de uma sólida visão educacional e preocupados com a qualidade do
processo educativo e com a formação do cidadão – podem contribuir para a consolidação de uma
educação pautada em um adequado projeto pedagógico, com foco em boas propostas
metodológicas e menos comerciais.
Mesmo sendo necessário destacar que à gestão da EaD reservam-se certas especificidades ou
particularidades, acreditamos que essas percepções darão apoio ao gestor de EaD para
desenvolver um bom trabalho de planejamento, organização, direção e controle de sistemas de
EaD. A administração científica embasa todo o trabalho de um gestor de EaD, auxiliando em
aspectos administrativos (financeiros, logística, infraestrutura etc.), pedagógicos (concepção e
implementação do projeto pedagógico, relações com a gestão institucional, busca por mudanças na
mentalidade do que é ensinar e aprender etc.) ou mercadológicos (definição do público-alvo,
análise de mercado, divulgação e publicidade, sustentabilidade e retorno financeiro etc.).
Embora muito tenha sido escrito e discutido sobre gestão em geral, ainda há muitas dificuldades no
trabalho de um gestor de EaD. A dinâmica acelerada e o redimensionamento espaço-temporal das
atividades dessa modalidade e a complexidade das relações sociotécnicas e dos fluxos de
informações e materiais fazem da gestão da EaD uma função ímpar – o que exige do gestor
habilidades especiais, com ações realizadas em condições desfavoráveis. Mesmo com boas
condições de trabalho e disponibilidade de recursos (humanos, materiais e tecnológicos), os
gestores de EaD têm encontrado certas dificuldades ou entraves que merecem destaque. Mesmo
assim, o gestor precisa orientar e coordenar toda a equipe no sentido da qualidade que a
instituição deseja para seus cursos.
Como este desafio, muitos outros são postos cotidianamente ao grupo gestor da EaD de uma
instituição que se propõe oferecer, com qualidade, cursos de EaD. O conhecimento e registro
dessas dificuldades dos gestores ainda é algo sobre o que os pesquisadores precisam se debruçar. A
gestão em sistemas de EaD ainda é terreno arenoso e desconhecido por muitos de nós. Ainda há
muito a aprendermos!!!
Notas
1 Por vezes, o termo educação a distância será tratado neste texto somente pela sigla EaD.
2
Costa (2001) usa uma versão anterior de G. Rumble: A gestão dos sistemas de educação a distância. Paris:
UNESCO. 1993. A versão brasileira baseada no mesmo texto de Rumble é de 2003 (ver Rumble, 2003).
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**Nara D. Brito