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Tarefa 1
Os saberes de cada um
Rubem Alves
"Assim, a crise conjuntural em que nos encontramos nada mais é que uma
manifestação da realidade estrutural que rege a história dos bichos. E o que é que
faz com que as raposas sejam mais aptas do que nós? As raposas são mais aptas e
nos devoram porque elas detêm o monopólio de um saber que nós não temos.
Somente nos libertaremos do jugo das raposas quando nos apropriarmos dos
saberes que elas têm."
"Primeiro, teremos de educar os nossos olhos para que eles passem a ver
como vêem as raposas. Onde é que as raposas têm os seus olhos? Na frente do
focinho. E nós? Onde estão os nossos olhos? Do lado. Educaremos os nossos olhos
para que eles olhem para frente, como as raposas."
"Terceiro: as raposas têm pêlos, enquanto nós temos penas. Teremos de nos
livrar de nossas penas para que no seu lugar cresçam pêlos. E os nossos rabos,
ridículos uropígios, estimulados pelos pêlos, se alongarão para trás e se
transformarão em rabos de raposa."
Mas parece que o currículo de raposa não deu resultado. A raposa continuou
a comer ovos dos ninhos e chegou mesmo a devorar um pintinho distraído. Acharam
que ela tivesse também devorado o Sesfredo, um galo velho de pescoço pelado,
vermelho, e que cantava com sotaque caipira.
Nesse momento uma angolinha que ficara de sentinela deu o alarme: "Aí vem
a raposa, aí vem a raposa, aí vem a raposa...". Foi uma correria, cada um correndo
para um lado. Mas ninguém sabia voar. A raposa, valendo-se da confusão,
abocanhou uma galinha garnizé, já depenada e desbicada...
Alguns há que justificam os currículos de nossas escolas dizendo que é preciso que as
classes dominadas se apropriem dos saberes das classes dominantes. Há muitos Mundicos por aí...1
Ou seja, dar menos a quem tem menos, a dar a quem tem mais o que há de
mais, é perpetuar o distanciamento entre as classes sociais. Isto posto penso que o
filme faz uma crítica muito boa contra a sociedade atual, onde as pessoas não
possuem o direito de pensar, mas são conduzidas pela sociedade para fazer o que é
mais lucrativo para a própria sociedade. Isto é, o filme pode ser considerado muito
bom porque faz uma análise crítica da sociedade em que vivemos, questionando
valores que estão internalizados na mesma.
1
http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/id310103.htm em 26/05/2007