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A CERTIFICAÇÃO Ex NO BRASIL ...

QUE AMBIENTE É ESSE ???

Dácio de Miranda Jordão


PETROBRÁS
A CERTIFICAÇÃO Ex NO BRASIL ... QUE AMBIENTE É ESSE ???

“Quando vou a um país, não pergunto se


este país tem boas ou más leis, pois boas e
más leis todos os países têm, mas se ele
faz cumprir as leis que têm”.
Montesquieu, Século XVIII

Dácio de Miranda Jordão – PETROBRÁS

1. INTROUDUÇÃO

Desde 1991, através da Portaria 164 do INMETRO, todos os equipamentos


elétricos e/ou eletrônicos utilizados em atmosferas potencialmente explosivas
das indústrias que processam, manuseiam e/ou armazenam produtos infla-
máveis, estão sujeitos à certificação compulsória. Várias outras Portarias se
sucederam após essa primeira, com o fim de: ajustar a legislação às mudan-
ças organizacionais que impactaram o Sistema Brasileiro de Certificação; ou
outras medidas tomadas para não inviabilizar o mercado, principalmente con-
siderando casos especiais que não estavam previstos nas Portarias anteriores.

O Brasil saiu de um patamar correspondente à idade da pedra em matéria


de certificação Ex e começou a caminhar buscando ocupar uma posição
comparável à dos países mais desenvolvidos.

Toda a infra-estrutura necessária para essa caminhada foi disponibilizada,


ou seja: normas técnicas harmonizadas com as normas internacionais e la-
boratório com capacitação para executar todos os ensaios previstos por es-
sas normas. Houve um investimento grande em qualificação de pessoal, bem
como em máquinas, equipamentos e construções. Temos três Organismos de
Certificação Credenciados pelo INMETRO, para atuar nessa área, sendo
que um deles (LABEX do CEPEL) possui reconhecimento internacional, com
convênios assinados para a aceitação recíproca de resultados de ensaios, o
que é extremamente valioso para a agilização desse processo e que nos
coloca em posição de destaque no cenário mundial.

Para que serve tudo isso? Nada disso teria sentido caso não se estivesse traba-
lhando em prol da preservação de vidas, instalações e meio ambiente. É uma
questão de SEGURANÇA!. Infelizmente até chegarmos onde estamos hoje, a
história registrou acidentes fatais provocados por equipamentos elétricos ope-
rando em atmosferas potencialmente explosivas que não incorporavam os re-

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quisitos construtivos de segurança. É bom lembrar que até mesmo um disposi-
tivo elétrico de custo muito baixo, como por exemplo, uma simples lâmpada
incandescente pode ser capaz de causar um incêndio ou explosão de propor-
ções catastróficas. Sabemos que existem fabricantes idôneos. Mas sabemos
também que existem outros que não são tão idôneos, e não hesitariam em
diminuir a qualidade do produto desde que o lucro fosse compensador. Mas
mesmo esses fabricantes idôneos não são detentores absolutos da tecnologia e,
portanto necessitam do apoio de um laboratório especializado para o desen-
volvimento de seus produtos. Por outro lado, o usuário desse produto (indústria
de processo) necessita ter garantia de que o equipamento que está sendo ad-
quirido foi construído em conformidade com as respectivas normas, por não
ser ele o próprio fabricante do equipamento elétrico. Como obter essa garan-
tia? Mundialmente reconhece-se que essa garantia pode ser obtida pela apli-
cação de um sistema de certificação, baseado em metodologia aceita interna-
cionalmente, que compreende principalmente na execução de ensaios nos pro-
dutos e na avaliação do sistema da qualidade do fabricante.

Essa primeira Portaria causou um forte impacto no mercado, gerando mui-


tos problemas de fornecimento, tendo havido uma grande perda de energia
na administração desses conflitos, mas o principal resultado é que a
compulsoriedade foi mantida, a despeito de tudo o mais que acontecia.

A Resolução CONMETRO n. 2, de 11.12.97, no seu item 3.1.1, menciona:

"A certificação compulsória, no âmbito do SBC, deve dar prioridade às ques-


tões de segurança, de interesse do País e das pessoas individualmente, abran-
gendo também as questões relativas a animais e vegetais, proteção da saú-
de, proteção do meio ambiente e temas correlatos ... ".

No item 1.3 do mesmo documento lê-se:

"... É cada vez mais usual o caráter compulsório da certificação para a


comercialização de produtos que se relacionam com saúde, segurança e
meio ambiente. ..."

2. COMO ESTAMOS HOJE ?

Vivemos hoje um cenário que está exigindo de todos nós ações enérgicas e
urgentes, pois há evidências que demonstram o seguinte:

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a) Alto percentual dos equipamentos elétricos para atmosferas explosivas
são comercializados sem o Certificado de Conformidade;
b) Existem fabricantes que sequer conhecem os conceitos primários para a
fabricação desses equipamentos. São meros repetidores de processos in-
dustriais lucrativos, mas que não tem nenhum significado especial para eles;
c) Na indústria química em geral ainda é grande o desconhecimento, tanto
sobre aspectos técnicos, quanto sobre a legislação que obriga à certificação.
Alguns usuários bem como alguns fornecedores tentam justificar sua
inadimplência alegando desconhecimento da lei.
d) O INMETRO, em que pese o grande número de denúncias e solicitações de
fiscalização não tem conseguido desenvolver ações mais fortes e efetivas;
e) Existem usuários que descumprem os preceitos legais simplesmente por-
que acham que o sistema de certificação se constitui em ato cartorário,
burocrático, que emperra o fluxo de suprimento;
f) Existem fabricantes sérios que investiram em certificação de seus produtos
e estão perdendo concorrências para outros que não tem nenhum com-
promisso com a lei e muito menos com a segurança;
g) Outros fabricantes, apostando na impunidade, abusam a ponto de veicu-
larem propaganda em meios de comunicação sobre equipamentos Ex
sem terem os Certificados de Conformidade dos mesmos;
h) Aconteceram explosões em postos de serviço por inadequação de equipa-
mento elétrico aplicado em filtros-prensa de óleo diesel, provocando ações
do INMETRO (ver Portaria INMETRO 103, de 16.06.98).

Se considerarmos que a INSTALAÇÃO ELÉTRICA EM ATMOSFERAS POTEN-


CIALMENTE EXPLOSIVAS compreende principalmente ações integradas en-
volvendo as três partes principais e convergindo todas para a NORMALIZA-
ÇÃO TÉCNICA, que é o ponto comum, conforme figura a seguir, podemos
fazer um diagnóstico com as seguintes observações:

Fabricaçõo Certificação
NORMAS
TÉCNICAS Laboratório
Fabricantes OCC
Montagem, operação e manutenção

Usuário

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* SEGMENTO - NORMALIZAÇÃO TÉCNICA
Quanto as Normas Técnicas elaboradas pelo SC-31 do COBEI, embora não
estejam completamente em dia com as publicações da IEC, podemos afirmar
que grande parte das mesmas, pelo menos as principais, estão disponíveis
para uso, e no caso das que não foram ainda elaboradas, pode-se utilizar
as da IEC, conforme previsto pela RESOLUÇÃO CONMETRO.

* SEGMENTO - CERTIFICAÇÃO (LABORATÓRIOS E OCC's)


Esse ramo da atividade Ex, a nosso ver, está operando razoavelmente, uma
vez que temos três OCC's e dois laboratórios credenciados, sendo um deles
credenciado para ensaios em invólucros à prova de explosão e o outro
credenciado para todos os ensaios previstos pelo conjunto de especificações
referente aos tipos de proteção dos equipamentos Ex. Este último tendo inclu-
sive convênios assinados com o FM - Factory Mutual americano e o PTB -
Phisikalische Tecnische Bundesenstalt da Alemanha, para aceitação recíproca
de resultados de ensaios, o que representa um reconhecimento da competên-
cia do nosso laboratório. Freqüentemente temos notícias de reclamações quan-
to a prazos para emissão dos Certificados de Conformidade, bem como quan-
to a custo dos ensaios. Evidentemente existem pontos passíveis de serem melho-
rados, mas o que já foi feito até hoje nesse segmento permite-nos dizer que o
Brasil é um líder nesse aspecto na América do Sul, e abaixo da linha do Equa-
dor, além do Brasil, somente a Austrália tem essa parte bastante desenvolvida.

Preocupa-nos, porém, algumas perdas de competência que têm acontecido


nos últimos anos, sendo essas lacunas preenchidas por pessoas que não tive-
ram vivência nem experiência nessa área. Muitas dessas pessoas não tive-
ram a oportunidade de participar do histórico da certificação Ex, e estariam
mais ou menos com um nível de desinformação elevado.

A filosofia de Certificação, como um todo, é pouco conhecida no Brasil, exce-


ção talvez da certificação de sistemas da qualidade baseada na série ISO
9000, que é bastante praticada em nosso país. Os modelos de Certificação
de produto, adotados pelo CONMETRO para o Brasil, por exemplo, são
muito pouco conhecidos, em razão, principalmente, da falta de divulgação,
o que acarreta confusões e má interpretações.

Mas tudo isso é passível de solução, e com o tempo essas pessoas irão se intei-
rando cada vez mais dos porquês e das nuanças relacionadas com o tema.

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* SEGMENTO - USUÁRIOS (PROJETO, MONTAGEM, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO)
Aqui aparece um cenário muito crítico, uma vez que o usuário (indústrias
químicas, petroquímicas, farmacêuticas, de alimentos, de petróleo) exerce
papel preponderante na manutenção do Sistema de Certificação, pois ele é
o consumidor, aquele que recebe o equipamento para ser instalado em sua
unidade industrial. Se ele não tiver plena consciência daquilo que representa
a Certificação de Conformidade para a sua própria segurança, o sistema
jamais será implementado.

O usuário deveria ser o primeiro a não admitir a instalação, em sua unida-


de, de equipamentos Ex sem o devido Certificado de Conformidade, mas
para isso ele necessitaria conhecer todo o processo, desde: classificação de
áreas, requisitos construtivos, tipos de proteção, critérios de escolha e monta-
gem, etc. Nesta fase, a desinformação poderá ser fatal, pois o desconheci-
mento sobre o assunto o coloca completamente vulnerável às ambições ilíci-
tas de fabricantes inescrupulosos.

FABRICANTE INESCRUPULOSO +
USUÁRIO DESINFORMADO

Mas que razões contribuíam ou contribuem para esse desconhecimento de


nível elevado? É possível listar uma série de fatores (inclusive históricos) que
poderiam explicar essa situação. Dentre eles:

* Assunto não tratado como parte integrante da segurança industrial;


* Assunto não contemplado nas escolas de engenharia e de formação técnica;

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* Décadas utilizando filosofia americana sem ter normas brasileiras;
* Falta de legislação e consequentemente falta de fiscalização.
* Cursos sobre a matéria praticamente somente na PETROBRAS. Com pouca
freqüência, abertos ao público externo, quase que exclusivamente pelo IBP-
Instituto Brasileiro de Petróleo.
* Falta de uma ação mais efetiva da ABIQUIM, que congrega grande parte
dos usuários, para a disseminação desse conceito.

O que fazer?
As ações corretivas dependem basicamente das causas. Parece que uma das
principais causas é a falta de CONSCIENTIZAÇÃO. Porém, corrigir falta de
conscientização é um processo complicado. É necessário haver vontade por
parte das autoridades e dos interessados. É necessário compreender bem as
bases pelas quais nos empenhamos para a obtenção de nossos propósitos. É
preciso fazer menos teatro e ter mais ações. Não podemos nos esquecer de
que os resultados dos acidentes podem ceifar vidas - o que é inaceitável,
insuportável - e provocar danos materiais, e que os processos na Justiça so-
bre responsabilidade civil e penal podem até mesmo inviabilizar a continui-
dade operacional da indústria.

Essa falta de conscientização, pelo usuário, tem trazido grandes dificuldades


para que a certificação Ex possa ser considerada como exemplar aqui no
Brasil. Podemos sugerir algumas medidas que, se implementadas, poderiam
auxiliar muito nessa questão:

1. Fiscalização efetiva, com aplicação dos dispositivos legais de punição aos


infratores e com ampla divulgação nos meios de comunicação;
2. Revisão da NR-10 do Ministério do Trabalho, para melhor explicitar a
parte referente às instalações elétricas em atmosferas explosivas;
3. Inclusão de uma cadeira sobre instalações elétricas em atmosferas explosi-
vas nos cursos técnicos de eletricidade, eletrônica, química, processo etc.,
de nível médio e superior, bem como nos cursos para a formação de profis-
sionais de segurança industrial;
4. Envolvimento das companhias seguradoras, a fim de que esta matéria
seja considerada como item de prevenção de acidentes;
5. Promoção de eventos, tais como: seminários, palestras, encontros etc., com o fim
de disseminar os conceitos mais relevantes da certificação de conformidade.

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A ação por parte das autoridades para pressionar as partes envolvidas para
o fiel cumprimento da legislação vigente deixa muito a desejar. Nesse parti-
cular, vale a pena citar, como exemplo de exceção, a iniciativa tomada no
Estado de São Paulo sobre os acidentes de trabalho:

POLÍCIA E ACIDENTES DO TRABALHO


Em 24.11.1997, foi assinada pelo Delegado Geral de Polícia do Estado de
São Paulo, a Portaria DGP n. 31, que dispõe sobre a atuação policial civil na
repressão às infrações penais relacionadas a acidentes do trabalho, e dá
providências corretivas. Naquele documento, é mencionado:

"Considerando os elevados índices de acidentes verificados..."

"Considerando que essa persistente forma de violência, além de macular a


própria dignidade do trabalho, atenta contra a icolumidade das pessoas
trabalhadoras, por vezes resultantes de ações ou omissões penalmente rele-
vantes, cujas apurações, como constitucionalmente previsto, afiguram-se de-
ver da Policia Civil, assim no contexto geral das suas funções de defesa e de
promoção dos direitos individuais; ..."

No mesmo documento emitido pela FUNDACENTRO e DRT/SP, é lembrado e


comentado o art. 132 do Código Penal Brasileiro, sendo mencionado o seguinte:

"Artigo 132 - "Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente:

Pena - detenção de três meses a um ano se o fato não constitui crime mais grave".

A Delegacia de Polícia da Divisão de Comunicação Comunitária - DCS, no


mesmo documento faz interessantes comentários a respeito do art. 132 do
Código Penal Brasileiro:

"A aplicação deste artigo constitui verdadeira medida prática visando pre-
venir a ocorrência de acidentes do trabalho".

Continuando, menciona:
"Oportuno aqui comentar que o Artigo 132 do Código Penal pune a simples
exposição a título de perigo para a vida ou saúde do trabalhador".

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Celso Delmanto em seu Código Penal comentado discorrendo sobre este
crime enfatiza que tal infração "foi instituída tendo em conta, principal-
mente os acidentes do trabalho sofridos por operários em razão do des-
caso dos patrões. Entretanto, este importante aspecto do Art. 132 do CP
tem sido quase esquecido".

Os acidentes e doenças do trabalho constituem hoje no Brasil um grave proble-


ma de Saúde Pública. As estatísticas oficiais, indicam que no país ocorrem cerca
de 3 mil acidentes do trabalho por dia, dos quais 12 resultam em morte."

Além dessa ação de autoridade policial específica para o Estado de São


Paulo, vale lembrar que existem as Normas Regulamentadoras do Ministério
do Trabalho, de uso obrigatório, que têm como objetivo principal prover
requisitos mínimos a serem observados na atividade laboral, visando à se-
gurança do trabalhador, e que particularmente no caso de atividades em
eletricidade, chama-se NR-10 - INSTALAÇÕES E SERVIÇOS EM ELETRICIDA-
DE. Esta Norma Regulamentadora encontra-se atualmente em fase de revi-
são, e uma das propostas de modificação é justamente a de ser explicitada a
questão das instalações elétricas em atmosferas potencialmente explosivas.
Porém, a atual NR-10 em vigor, já contempla, de modo implícito, esse tipo de
instalações, quando diz:

"10.1.2. Nas instalações e serviços em eletricidade, devem ser observadas


no projeto, execução, operação, manutenção, reforma e ampliação, as nor-
mas técnicas oficiais estabelecidas pelos órgãos competentes e, na falta des-
tas, as normas internacionais vigentes".

Os itens 10.3.2.7 e 10.3.2.7.1 prescrevem:


"10.3.2.7 As instalações elétricas devem ser inspecionadas por profissionais
qualificados, designados pelo responsável pelas instalações elétricas nas fa-
ses de execução, operação, manutenção, reforma e ampliação."

"10.3.2.7.1 Deve ser fornecido um laudo técnico ao final de trabalhos de


execução , reforma ou ampliação de instalações elétricas, elaborado por
profissional devidamente qualificado e que deverá ser apresentado, pela
empresa, sempre que solicitado pelas autoridades competentes."

Portanto, pelo descrito acima, independentemente do tipo de atividade da


empresa, pode-se compreender que é dever do USUÁRIO buscar o atendi-
mento dessas normas que são de uso obrigatório no país, e que, para isso, é
provável que tenha que começar por um intenso programa de treinamento

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para todos aqueles que transitam na unidade de processo, com o fim de
minimizar o nível de desconhecimento, para posteriormente avaliar e corri-
gir o passivo Ex porventura existente em suas instalações.

Quem aceita um equipamento Ex sem o devido Certificado de Conformida-


de, no mínimo está cometendo um ato de covardia, pois estará expondo
pessoas desconhecidas a um risco, sem que estas tenham a menor oportuni-
dade de se defender.

O USUÁRIO é, portanto, o grande parceiro na consolidação do sistema de


certificação Ex, mas essa parceria somente poderá ser efetivada realmente
após a erradicação do analfabetismo ainda hoje existente nessa área.

* SEGMENTO FABRICAÇÃO (FABRICANTES)


Esta parte do processo de Certificação de Conformidade tem sido extrema-
mente crítica para a manutenção do sistema. Com algumas exceções que
merecem toda a nossa consideração, a maioria dos fabricantes nacionais de
equipamentos elétricos Ex não tem respeitado a legislação e têm abusado da
incapacidade que tem os órgãos de fiscalização de atuarem de maneira
enérgica. Esses fabricantes, tradicionalmente de invólucros à prova de explo-
são metálicos, de projeto de concepção americana, têm constantemente de-
safiado as estruturas de proteção do trabalhador, apostando na
desinformação do usuário e na fraqueza dos órgãos de fiscalização.

Esse quadro lamentável tem gerado situações de risco e têm colocado várias
unidades industriais em situação de total ilegalidade, sujeitas a penalidades
em caso de auditoria pelas autoridades competentes.

Pode-se listar um sem número de práticas desonestas feitas por esses fabri-
cantes que não têm nenhum compromisso com a segurança, e menos ainda
com o desenvolvimento do produto.

As práticas desonestas vão desde falsificação de Certificados de Conformi-


dade, passando por tentativas de comercialização sem o respectivo Certifi-
cado, falsificação de produtos, etc.

Alguns deles são renomados, tradicionais no mercado, razão pela qual nos
causa ainda maior espanto, e nos faz refletir sobre essa situação insustentá-
vel, procurando uma resposta para a solução do problema.

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Para exemplificar, escolhemos um fato acontecido recentemente, que demonstra
a disposição que alguns têm para trilhar o caminho do ilícito.

DESCRIÇÃO DO FATO

A Portaria 121 do INMETRO, recentemente revogada, estabelecia a


obrigatoriedade da Certificação de Conformidade para equipamentos elé-
tricos e eletrônicos para uso em atmosferas potencialmente explosivas, des-
crevendo da seguinte forma essa obrigatoriedade:

"I - Manter a obrigatoriedade de que todos os equipamentos elétricos para at-


mosferas explosivas, comercializados e utilizados no Brasil, ostentem a certificação
do Sistema Brasileiro de Certificação - SBC em conformidade com as normas
técnicas relacionadas em anexo e de acordo com a Regra Específica para a
Certificação de Equipamentos Elétricos para Atmosferas Explosivas."

Um fabricante apresentou proposta, para fornecimento de vários acessórios


que haviam sido especificados do tipo à prova de explosão. Num documento
encaminhado ao comprador, esse fabricante alegou que esses acessórios não
estavam sujeitos à certificação brasileira, uma vez que a Port. 121 não men-
cionava especificamente a palavra "acessórios".

Consideramos esse acontecimento muito grave, pois ele tem manifestamente


característica de má fé, uma vez que esse fabricante:

* É tradicional do mercado;
* Demonstrava ter conhecimento a respeito do conceito de Certificação de
Conformidade e sua importância;
* É freqüentador de Seminários e Encontros sobre essa matéria, inclusive
Encontros especificamente sobre Certificação Ex.
* Participa de grupos de estudo para elaboração de Normas Brasileiras so-
bre a matéria.

Foi necessário, portanto, revisar a Portaria para que essa possibilidade fosse
eliminada.

A nova Portaria INMETRO, 176, de 17.07.2000, teve sua redação modificada


nesse aspecto, esclarecendo de uma vez por todas que os acessórios e compo-
nentes também estão sujeitos à Certificação de Conformidade. Ver abaixo:

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"Art. 1º - Manter a obrigatoriedade de que todos os equipamentos elétricos, aces-
sórios e componentes, para atmosferas potencialmente explosivas, comercializados
e utilizados no Brasil, em atendimento à legislação vigente, salvo as exceções pre-
vistas, ostentem a identificação da Certificação do Sistema Brasileiro de Certificação
- SBC, em conformidade com a Regra Específica para a Certificação de Equipa-
mentos Elétricos para Atmosferas Explosivas (NIE DINQP 096)".

A MÁ FÉ

Para nós fica muito difícil compreender como um fabricante tradicional, que
comprovadamente conhece as normas e especificações para esse tipo de equi-
pamento, pode pensar que o acessório que estará acoplado ao invólucro à
prova de explosão não necessite ser Certificado.

Estamos falando de unidades seladoras, uniões, luvas, niples, etc. Se isso


fosse verdade, até mesmo os acessórios de instalação doméstica poderiam
servir a esse propósito, pois a dispensa de Certificação de Conformidade
pressupõe não ser necessário comprovar que os dispositivos tenham sido
construídos em conformidade com os requisitos especificados pela norma
técnica respectiva.

Realmente podemos admitir que houve uma falha na redação da Portaria 121,
mas muito mais importante que a redação do texto, é o CONCEITO e mais ainda
a CONSCIÊNCIA, e porque não falar também na IMAGEM do fornecedor?

Não sabemos se esse fabricante conseguiu comercializar esses acessórios,


mas o fato é que os mesmos podem ter não conformidades construtivas capa-
zes de afetar o seu desempenho e a segurança da instalação onde estariam
aplicados. Será verdade que a segurança poderia ser afetada por um aces-
sório não Certificado? Vamos responder à pergunta:

PODERIA UM ACESSÓRIO SER A CAUSA DE UM ACIDENTE ?

Para demonstrar como um acessório pode ser causador de um acidente gra-


ve, vamos mostrar numa seqüência de figuras, um caso fictício, que procura
demonstrar a responsabilidade que tem um acessório na preservação do
nível de segurança da instalação.

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Este fato aconteceu numa indústria petroquímica, durante uma parada
programada para inspeção de um vaso de hidrocarbonetos. Para fazer
essa inspeção, foi chamado um técnico de segurança de grande experiên-
cia, mas que nunca havia participado de nenhum curso sobre instalações
elétricas em atmosferas potencialmente explosivas, e portanto não sabia
reconhecer a marcação de um equipamento à prova de explosão, nem
sequer sabia que esses equipamentos eram objeto de certificação compul-
sória. Para iluminar o interior do vaso, o mesmo pediu uma luminária à
prova de explosão. Foi entregue a ele uma dessa, fabricada pela empresa
CERTIFICADO NUNCA VIU LTDA., a qual não tinha nenhuma marcação e
muito menos Certificado de Conformidade.

A seguir as figuras explicam a seqüência de eventos que culminaram com


uma violenta explosão que causou a morte de duas pessoas e ferimentos em
mais sete pessoas.

Fig. 1 – início do trabalho de inspeção num vaso de hidrocarboneto

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Fig. 2 – O flange de entrada do vaso é aberto e é entregue ao técnico uma

Fig. 3 – Com o flange de entrada retirado, o técnico introduziu a

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Fig. 4 – Ao tentar puxar a luminária pelo cabo, o prensa-cabo não suportou o
esforço de tração e os

Vamos supor que a luminária portátil à prova de explosão utilizada no exem-


plo acima, fosse de um tipo muito pesado, seguinte tipo:

Prensa-cabo não Ex d

Fig. 5 – Como o prensa-cabo utilizado não era do tipo

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CONCLUSÃO

Vimos pelo exemplo ilustrativo acima, que o PRENSA-CABO (componente ou


acessório), foi o responsável por causar o curto-circuito no interior da luminá-
ria e com isso liberou a energia necessária para causar a explosão que
matou e feriu várias pessoas.

Deste modo, quer-se com este trabalho, deixar essa questão para ser refleti-
da e bem analisada por todos nós. Precisamos urgentemente buscar respos-
tas a algumas perguntas que nos afligem e nos colocam muito apreensivos
em relação ao futuro da Certificação Ex no Brasil, e com as estatísticas de
acidentes do trabalho também.

Daí, as perguntas:

CERTIFICAÇÃO Ex ... QUE AMBIENTE É ESTE ???

CRIMINOSO?

IRRECUPERÁVEL?

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