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Caderno do participante

Seminário

TERCEIRIZAÇÃO:
EFEITOS SOBRE AS
RELAÇÕES DE TRABALHO

Coleção Seminários de Negociação


Seminário Terceirização: efeitos
sobre as relações de trabalho
Caderno do participante

São Paulo, 2004


Coleção Seminários de Negociação
Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 4 participante – DIEESE
SUMÁRIO
Apresentação
■ O DIEESE 7
■ Capacitação em negociação
coletiva 7
■ Características do Programa
de Capacitação em
Negociação – PCN 7
■ Como uma entidade sindical
pode ter um PCN 7
■ Terceirização: efeitos sobre as
relações de trabalho – o tema
no DIEESE 8

Aspectos gerais
■ Características do seminário 11

Programa
■ Percurso da atividade 13

Anexos
■ Anexo 1 – Exercício para
reestruturação da empresa 15
■ Anexo 2 – Texto:
A terceirização no setor
empresarial privado: entre a
crista da onda e o novo padrão 17
■ Anexo 3 – Texto:
A terceirização no setor
público brasileiro 33
■ Ficha Individual
de Avaliação 49

participante – DIEESE 5 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 6 participante – DIEESE
A P R E S E N TA Ç Ã O
O DIEESE como parte do PCN, pretende co-
locar à disposição do movimento
O DIEESE1 é uma entida- sindical o trabalho de pesquisa, as-
de técnica do movimento sindical bra- sessoria, educação e a experiência
sileiro que atua nas áreas de pesquisa, do DIEESE na área de negocia-
assessoria e educação, em temas rela- ção coletiva.
cionados ao mundo do trabalho. Cria-
da em 1955, não tem correspondên- Características do Programa
cia em outra parte do mundo. de Capacitação em Negociação – PCN
A instituição é mantida por
entidades sindicais sócias, como Com o PCN, o DIEESE ofe-
órgão intersindical, em quinze es- rece oportunidades intencionais e
tados e no Distrito Federal. Sua continuadas de capacitação a diri-
direção sindical é composta pelas gentes e assessores sindicais. O ob-
diferentes correntes do sindica- jetivo é possibilitar a construção de
lismo brasileiro. conhecimento sobre questões da
Os temas estratégicos de a- negociação coletiva.
tuação do DIEESE são a negocia- O PCN trabalha quatro di-
ção coletiva, o emprego e a renda, mensões relacionadas à negociação:
trabalhados por uma equipe técni- ● O ambiente da negociação: con-
ca multidisciplinar. texto socioeconômico em que a
negociação se dá historicamente e
Capacitação em negociação coletiva o marco institucional definido pelo
sistema de relações de trabalho;
A luta sindical abrange dife- ● O tipo de negociação: por empre-
rentes ações como mobilização, sa, categoria ou setor; bi, tri ou
greve, articulação, organização, en- pluripartite; as etapas e o processo
tre outras, e leva, quase sempre, a de negociação;
momentos ou a processos de nego- ● O objeto da negociação: a pauta
ciação em que há disputa de inte- da negociação, ou seja, salário, pro-
resses. Preparar-se para desenvol- dutividade, jornada, participação
ver essas ações é um dos desafios nos lucros e resultados, condições
de todo dirigente sindical. de trabalho, entre vários outros
Para responder a esta neces- itens.
sidade, o DIEESE criou o Progra- ● As habilidades do negociador: ca-
ma de Capacitação em Negociação pacidade de pessoas e grupos para
– PCN, que procura contribuir para a negociação.
o desenvolvimento e aperfeiçoa-
mento das habilidades de negocia- Como uma entidade sindical
ção do dirigente sindical e para for- pode ter um PCN
talecer sua capacidade de ação e de
organização coletiva, permitindo O PCN está concebido para
que ele conheça e compreenda o ser desenvolvido a partir de deman-
objeto das negociações e o ambi- das sindicais. Assim, para cada caso,
ente em que elas ocorrem. será proposto um processo diferen-
O seminário Terceirização: te, por intermédio de um progra-
efeitos sobre as relações de trabalho, ma de formação.

participante – DIEESE 7 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


apresentação

Esse trabalho poderá ser re- frente à terceirização, lançado em


alizado diretamente pela equipe do maio de 1993. Esse estudo teve
DIEESE ou em cooperação com os grande impacto sobre o meio sin-
formadores da entidade deman- dical e foi tema de importantes
dante. Os participantes poderão discussões e debates realizados
receber certificados. com os dirigentes sindicais em
Para conversar sobre um PCN, todo o país. Foi também referência
entre em contato com os Escritórios para a discussão do tema, para ou-
Regionais ou com o Escritório Nacio- tras instituições da sociedade, como
nal do DIEESE. por exemplo, a imprensa e a acade-
mia. Embora 10 anos tenham se pas-
Terceirização: efeitos sobre as relações sado desde a edição da pesquisa, o
de trabalho – o tema no DIEESE trabalho ainda representa uma im-
portante referência para a discussão
O tema da terceirização é an- da terceirização no país.
tigo, entretanto, no Brasil começou Em 1993, a subseção do
a se difundir na década de 80. No DIEESE, em 1993, do Sindicato
início se restringiu a alguns setores dos Metalúrgicos do ABC publi-
e aos poucos tomou fôlego e se ex- cou a cartilha Os trabalhadores e a
pandiu para diferentes atividades. terceirização, destacando os im-
O DIEESE, já em meados da pactos da terceirização sobre o tra-
década de 80, com o trabalho das balho, em particular, sobre o tra-
subseções, inicia a discussão dessa balhador metalúrgico.
temática com o movimento sindical. Resultado do esforço coleti-
Vários estudos começam a ser elabo- vo da Linha Bancários, o DIEESE
rados em diferentes sindicatos do publicou em julho de 1994 o segun-
país, particularmente para as entida- do número dos Estudos Setoriais,
des de bancários, petroleiros, meta- com o tema da Terceirização e reestru-
lúrgicos, químicos e petroquímicos. turação produtiva no setor bancário no
Esses trabalhos também en- Brasil. Este estudo, elaborado pelas
volveram a assessoria às entidades subseções do DIEESE presentes
sindicais, com subsídio às discussões em diferentes entidades sindicais de
e às negociações travadas sobre a bancários do país, representou um
terceirização e debates sobre as di- importante instrumento de discus-
ferentes implicações da terceiri- são de estratégia para o movimento
zação no cotidiano dos trabalhado- sindical bancário, uma vez que a
res. Entretanto, foi no início da dé- terceirização foi e ainda é utilizada
cada de 90 que o DIEESE, com como um instrumento de ajuste pro-
uma pesquisa, pôde se dedicar com dutivo dos bancos no país.
maior ênfase a essa questão. A discussão da terceirização
Durante o ano de 1992 e o no setor público também mereceu
início de 1993, o DIEESE reali- destaque nos trabalhos realizados
zou uma pesquisa sobre tercei- pelo DIEESE. Em setembro de
rização com diferentes categorias 1993 foi produzido o texto A ter-
profissionais.O resultado desse le- ceirização no setor público: o modelo
vantamento encontra-se na Pesqui- paulista de privatização, que desta-
sa DIEESE nº 7, Os trabalhadores cou o debate sobre o modelo de

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 8 participante – DIEESE


apresentação

contratação de mão-de-obra ter- sindical, pois revestiu-se de nova


ceirizada em diferentes empresas roupagem e é novamente utilizada
estatais de São Paulo e apresentou como estratégia de reestruturação
uma discussão sobre os efeitos das grandes, médias e até mesmo
deste modelo sobre as condições pequenas empresas, tanto do setor
de trabalho. privado como público.
Ainda sobre o setor público, A terceirização e suas conse-
o DIEESE produziu em dezembro qüências sobre o mundo do traba-
de 1993 o artigo Terceirização dos ser- lho têm adquirido, assim, importân-
viços em empresas públicas de serviços cia cada vez maior para o movimen-
essenciais – saneamento básico, crise e to sindical brasileiro. Importantes
privatização, que analisava as estra- categorias profissionais já realizam
tégias do recurso da terceirização no discussões de pautas e rodadas de
setor público. negociações específicas sobre esse
Durante a década de 90, o tema, diante do impacto sobre os tra-
processo de terceirização avançou balhadores. Essas demandas mobi-
em diferentes setores produtivos e lizaram o DIEESE a desenvolver o
os trabalhos anteriormente desen- seminário. Durante seis meses, cer-
volvidos pelo DIEESE serviram de ca de 15 técnicos desenvolveram
referência para as eventuais ações materiais e textos de apoio ao pro-
sindicais sobre o tema. cesso de negociação e formação dos
Atualmente, a terceirização dirigentes sindicais brasileiros sobre
retorna com maior força à agenda a terceirização.

1. Conheça mais sobre o Departamento Inter-


sindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos
– DIEESE e sua produção técnica visitando o sítio
na internet: www.dieese.org.br

participante – DIEESE 9 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


apresentação

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 10 participante – DIEESE


ASPECTOS GERAIS
Características do seminário ca, com ênfase no modelo brasilei-
ro, e busca um olhar que permita a
Objetivos percepção dos limites e dos desafi-
os que a terceirização impõe ao
O seminário Terceirização: efei- movimento sindical, representan-
tos sobre as relações de trabalho visa ofe- te de trabalhadores assalariados do
recer aos participantes a oportunida- setor privado e público.
de de refletir sobre o processo de São objetivos da atividade:
terceirização, a partir da percepção sistematizar o conhecimento cole-
que possuem desta questão no coti- tivo sobre terceirização, abordando
diano de trabalho. Parte da experi- elementos do cotidiano dos traba-
ência individual para, envolvendo lhadores, dos discursos dos diferen-
todo o grupo, trazer elementos que tes atores sociais, dos interesses e
permitam a reflexão sobre o tema na da gestão que determinam as regras
interface da relação capital e traba- vigentes e a dinâmica da tercei-
lho, abordando elementos históricos rização no Brasil; levar os partici-
que orientam a terceirização e seus pantes a reconhecerem a terceiri-
determinantes e os diferentes discur- zação como um processo, fazendo
sos que legitimam esses processos. com que despertem para a neces-
Também são apresentados sidade da preparação contínua para
elementos que capacitam os parti- a discussão e a negociação deste
cipantes para esta discussão, em tema, com planejamento, acompa-
um contexto mais amplo, como in- nhamento e avaliação das ações.
teresses e a estrutura institucional
que moldam os processos de ter- Atualização e reprodução
ceirização no Brasil. Para isso, a ati- do material
vidade reconstrói o conceito de
terceirização a partir do conheci- Entre os materiais do kit pode
mento dos participantes e de refle- haver alguns que precisem de atuali-
xões possibilitadas pela vivência de zação regular. Em caso de dúvida ou
situações de representação sobre para atualizá-los, envie mensagem
este tipo de processo e da leitura para gt_imprensa@dieese.org.br.
de textos especialmente prepara- Está autorizada a reprodu-
dos para o seminário. ção total ou parcial do material re-
O percurso desenvolvido es- ferente ao seminário, desde que
tá ancorado na abordagem históri- citada a fonte.

participante – DIEESE 11 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 12 participante – DIEESE
PROGRAMA
Percurso da atividade

1º DIA
■ Abertura e apresentação dos
participantes
■ Expectativas, programa e
funcionamento do grupo
■ A experiência sindical da
terceirização
■ Ação sindical e terceirização

2º DIA
■ Ação sindical e terceirização
1. Visão empresarial
da terceirização
2. Aspectos teóricos e práticos
da terceirização

3º DIA
■ Ação sindical e terceirização
■ Avaliação
■ Encerramento

participante – DIEESE 13 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 14 participante – DIEESE
ANEXO

número 1
atividade: ação s i n d i c a l e t e r c e i r i z a ç ã o –
a visão empr e s a r i a l d a t e r c e i r i z a ç ã o

Exercício para reestruturação da empresa


■ SITUAÇÃO A

Você que está lendo este papel acabou de ser contratado pela ESEEID CONSULTORIAS.
A ESEEID é uma organização que presta consultoria a empresas que buscam melhorar a
eficiência de mão-de-obra e assim aumentar a produtividade e conseqüentemente a
competitividade.
Recentemente, a ESEEID assinou um contrato com a empresa S&D Ltda., que prevê a
assessoria direta no processo de reestruturação e modernização da companhia.
A S&D Ltda. é uma empresa do setor têxtil, produtora de moda íntima feminina.
A moda íntima feminina, apesar de representar um produto de consumo de massa, é
complexa, resultado da associação de diversas partes e que tem em seu processo
produtivo inúmeras etapas e diferentes linhas de produção.
A S&D Ltda., como muitas empresas nacionais, mantém uma administração tradicional.
Sua origem é familiar e seu controle ainda está nas mãos da família do fundador.
Também é tradicional na gestão de pessoal e mantém em seu quadro de funcionários 10
mil trabalhadores de diferentes qualificações que exercem todas as funções necessárias
à produção, distribuição e venda dos produtos, bem como as funções administrativas e
operacionais, tais como cobrança, marketing, telemarketing, contabilidade, limpeza,
vigilância, cozinha e muitos outros relacionados ao suporte do trabalho.
Sua função, como técnico da ESEEID CONSULTORIAS, é montar um plano de
reestruturação organizacional e gerencial que modernize as estruturas da S&D Ltda.,
aumente a produtividade da empresa, reduza custos e melhore a capacidade dela de
concorrer no mercado internacional dominado pelas indústrias alemãs e francesas.

participante – DIEESE 15 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 1

atividade: ação s i n d i c a l e t e r c e i r i z a ç ã o –
a visão empres a r i a l d a t e r c e i r i z a ç ã o

Exercício para reestruturação da empresa


■ SITUAÇÃO B

Você que está lendo este papel é funcionário da S&D Ltda.


A S&D Ltda é uma empresa do setor têxtil, produtora de moda íntima feminina.
A moda íntima feminina, apesar de representar um produto de consumo de massa, é
complexa, resultado da associação de diversas partes e que tem em seu processo
produtivo inúmeras etapas e diferentes linhas de produção.
A S&D Ltda., como muitas empresas nacionais, mantém uma administração tradicional.
Sua origem é familiar e seu controle ainda está nas mãos da família do fundador.
Também é tradicional na gestão de pessoal e mantém em seu quadro de funcionários 10
mil trabalhadores de diferentes qualificações, que exercem todas as funções
necessárias à produção, distribuição e venda de produtos, bem como as funções
administrativas e operacionais, tais como cobrança, marketing, telemarketing,
contabilidade, limpeza, vigilância, cozinha e muitos outros relacionados ao suporte do
trabalho.
Atualmente, corre pelos corredores da empresa que a atual diretoria teria contratado
uma Consultoria, com a tarefa de reestruturar toda a empresa.
Como representante sindical, sua tarefa é levantar dados sobre o processo de
terceirização, pensar sobre ele e nos impactos sobre o trabalho e os trabalhadores.
O sindicato recentemente foi chamado para debater com a empresa e a consultoria o
processo de terceirização.
Assim, você agora está em uma reunião com diversos trabalhadores a fim de debater os
motivos dessas mudanças e o que pode acontecer na empresa e na vida dos
funcionários a partir dessa reestruturação.

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 16 participante – DIEESE


ANEXO

número 2
atividade: ação s i n d i c a l e t e r c e i r i z a ç ã o –
aspectos teóricos e práticos da terceirização

A terceirização no setor empresarial do-se as unidades geradoras de bens


privado: entre a crista da onda e o e serviços como foco de análise, seja
novo padrão tomando-se os principais setores
econômicos e, em particular, o setor
DIEESE. Janeiro, 2004 industrial.
Este argumento será apre-
Introdução sentado e discutido em três movi-
mentos. No primeiro tópico, são re-
Como ocorre em relação aos tomados os conceitos principais e
mais diversos temas inerentes ao as características do processo de
mundo do trabalho no Brasil, o terceirização na economia brasilei-
DIEESE já havia abordado a ex- ra, no início dos anos 90. No segun-
pansão significativa do processo de do item, discute-se a evolução do
terceirização na economia brasilei- processo de terceirização a partir do
ra, em princípios dos anos 90. Vári- resgate e da análise de pesquisas
os textos foram produzidos, semi- elaboradas a partir da segunda me-
nários organizados e um caderno de tade dos anos 90. O terceiro tópico
pesquisas especialmente dedicado aborda a terceirização como aspec-
ao tema foi publicado em 1993. to integrante de um novo padrão
Pouco mais de 10 anos depois, ao de relações interempresariais, no
retomar o debate sobre a tercei- setor empresarial privado, e relaci-
rização, focalizamos agora em par- onada a outros pilares de um novo
ticular o que se passou no setor pri- padrão de gestão empresarial que
vado ao longo da última década do se configura especialmente nos se-
século XX e nos anos iniciais do tores e empresas de ponta da eco-
novo século. nomia brasileira. Finalmente, o
Revisitar as análises sobre o quarto tópico conclui com uma dis-
processo de terceirização no setor cussão sobre o rebatimento dessa
empresarial privado constitui-se transformação para as relações de
numa interessante empreitada. Por trabalho, e em particular para a or-
um lado, o próprio termo terceirização ganização e a ação sindical na socie-
– de avassaladora presença no início dade brasileira.
dos anos 90 – deixa de aparecer com
a mesma freqüência. Por outro lado, A rumorosa onda da
o processo segue seu curso. Neste terceirização
texto, argumenta-se que a tercei-
rização, configurada como uma nova O termo terceirização passou
“onda” na gestão das relações entre a ocupar espaço nas discussões re-
empresas no tecido econômico bra- lacionadas ao mundo do trabalho
sileiro do início dos anos 90, trans- no Brasil a partir do início dos anos
forma-se progressivamente em um 90, mas evidentemente não se tra-
dos aspectos constituintes de um tava de um processo absolutamen-
novo padrão de organização empre- te novo. Tratava-se, a rigor, de um
sarial no setor privado, seja toman- novo termo cunhado para caracte-

participante – DIEESE 17 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2

rizar a crescente e rumorosa trans- produtivas, conduzido seja pelo


ferência de atividades realizadas próprio setor privado, seja estimu-
por empresas de grande porte me- lado por programas governamentais
diante a contratação de outras em- lançados a partir de 1990, a exem-
presas (em geral de menor porte), plo do Programa Brasileiro de Qua-
em meio à acelerada reestruturação lidade e Produtividade – PBQP.
produtiva que buscava responder a Nesse cenário, a terceiri-
transformações estruturais do pa- zação passa a contribuir de modo
drão de concorrência na economia significativo para a desverticali-
brasileira. Em particular, buscava- zação do tecido industrial brasilei-
se readequar a configuração produ- ro, resultando no enxugamento de
tiva de empresas e setores então recursos e de áreas mobilizados an-
sujeitos à competição com produ- teriormente pelas grandes empre-
tos oriundos do exterior, mediante sas das principais cadeias produti-
progressivas e expressivas reduções vas. Aqui duas possibilidades são
de barreiras às importações. abertas: a terceirização por dentro
Nesse sentido, a terceiri- corresponde à contratação de fir-
zação pode ter dois significados di- mas terceiras para a execução de
versos e eventualmente comple- atividades no próprio estabeleci-
mentares. Por um lado, traduz a mento da empresa contratante. A
desativação, parcial ou total, de seto- terceirização para fora associa-se
res produtivos,1 com a empresa prin- aos conceitos de outsourcing3 , me-
cipal deixando de produzir (bens diante a contratação de insumos e
ou serviços) e passando a comprá- serviços de outras empresas capa-
los de outras empresas, denomina- zes de fornecê-los, e ao global sour-
das terceiras. O segundo significado cing, mediante a aquisição de insu-
refere-se à contratação de uma ou mos e serviços em qualquer lugar
mais empresas terceiras que alocam do planeta, possibilidade gradual-
trabalhadores para a realização de al- mente incrementada, no caso bra-
gum serviço ou parte do processo sileiro, pelas sucessivas reduções de
produtivo no interior da empresa alíquotas de importação na primei-
principal (ou empresa-mãe, como ra metade dos anos 90.
se convencionara denominar as Entretanto, a terceirização à
empresas contratantes).2 brasileira desse período não se resu-
O contexto em que se pro- me apenas a isso. A forte retração da
paga de modo rumoroso a tercei- economia brasileira ao longo do cur-
rização no setor empresarial brasi- to governo Collor acelera e intensifi-
leiro, durante o início dos anos 90, ca esse processo, associando-o à pers-
está demarcado por uma importan- pectiva de redução de custos e am-
te transformação do cenário econô- pliando, em alguma medida, a re-
mico brasileiro – e especialmente tração da massa salarial como resul-
do cenário industrial. Trata-se da tado da diminuição de remunerações
abertura do mercado brasileiro a pagas pelas maiores empresas e dos
produtos (em maior grau) e servi- salários menores, vigentes nas em-
ços (em menor grau), que se vin- presas subcontratadas, ou seja, nos se-
cula ao intenso movimento de rees- tores terceirizados. No mesmo senti-
truturação dos sistemas e cadeias do, a terceirização tem também o sig-

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 18 participante – DIEESE


anexo 2

nificado de flexibilização, ao possibi- mercado de trabalho formal enco-


litar a transferência da responsabili- lhe em meio à reestruturação e
dade por alguns investimentos antes desestruturação dos diversos com-
realizados pela empresa, que agora plexos produtivos que caracterizam
terceiriza algumas de suas atividades, a diversa economia brasileira. Os
bem como a transformação de custos segmentos industriais são os mais
fixos (os recursos pertencentes à em- afetados e o eventual crescimento
presa) em custos variáveis, relativos do setor de serviços não recompõe
aos recursos contratados pela empre- os postos de trabalho destruídos na
sa em firmas terceiras, apenas quando indústria como um todo. Ao final
necessário. de 1999, a indústria brasileira fecha-
As motivações da terceiri- ria o balanço com 4,7 milhões de
zação vinculam-se, portanto, à idéia empregos formais, contra 6,2 mi-
de flexibilização, procurando con- lhões em 1989 (Sabóia, 2001:88).
trapor-se ao conceito da grande Finalmente, cabe ressaltar
empresa vertical, hierarquizada, uma característica importante da
fordista enfim, no sentido microe- terceirização como onda, na pri-
conômico do termo. Redução de meira metade da década de 90. A
custos, racionalização, especializa- terceirização avança nesse período
ção, qualidade e produtividade, principalmente no que se con-
mudança organizacional e tecno- vencionou chamar de atividades
lógica emergem como aspectos as- de apoio e, mais especificamente,
sociados a este movimento no prin- atividades de apoio à gestão: de
cípio dos anos 90. Um outro lado apoio administrativo, em áreas
dessa moeda é o enfraquecimento como limpeza, segurança interna,
do movimento sindical, também transporte e alimentação. No que
apontado naquele período como um diz respeito às áreas de apoio mais
dos objetivos da onda terceirizante correlatas à produção, as principais
que passa a atravessar as principais atividades terceirizadas concentra-
empresas e cadeias produtivas do vam-se na manutenção de equipa-
país. O discurso da eficácia empre- mentos e sistemas, e na elabora-
sarial é a palavra de ordem que ção de projetos.4 No que diz res-
acompanha a terceirização; a prática peito a etapas do processo produ-
muitas vezes se revela como degra- tivo, o ato de terceirizá-las corres-
dante e pouco virtuosa. pondia geralmente ao chamado
Se a terceirização fica asso- outsourcing ou ao global sourcing,
ciada à redução da massa salarial, mediante a opção de compra de
desde a primeira metade da déca- insumos de empresas terceiras
da de 90, e a precarização das con- para posterior entrada no processo
dições de trabalho aparece clara- produtivo da contratante. Eram,
mente como conseqüência da mera portanto, muito raras – ou mesmo
estratégia de redução de custos inexistentes naquele período – as
adotada por uma parcela significa- iniciativas de terceirização de fa-
tiva das empresas de grande e mé- ses produtivas mediante a con-
dio portes, por outro lado não se dá tratação de empresas terceiras que
a compensação propagandeada em operavam no mesmo espaço fabril
relação ao nível de emprego. O da contratante. Essa característica

participante – DIEESE 19 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2

sofrerá uma importante mudança mento industrial. Na capital pau-


na segunda metade dos anos 90, lista, é notória a existência de esta-
como será visto no próximo tópico.5 belecimentos clandestinos que se
baseiam no trabalho de imigrantes
O silencioso avanço da bolivianos, concentrados em parti-
terceirização cular no bairro do Bom Retiro.8
Outra análise realizada no
Em contraposição à rumo- âmbito regional se refere ao Gran-
rosa onda em que se constitui a de ABC, que se torna a ponta-de-
terceirização no início dos anos 90, lança do crescente avanço da indus-
a segunda metade da década é trialização brasileira a partir de mea-
marcada por um silencioso avanço dos dos anos 50. Focalizando a rees-
do processo, como parte da ampla truturação empresarial naquela re-
reestruturação produtiva que carac- gião, Klink (2001:149-50) resgata
teriza a transformação das princi- um conjunto de estratégias defen-
pais empresas instaladas no Brasil. sivas que se intensificam ao longo
No plano regional, vale res- dos anos 90, mostrando o seu vigor
gatar o estudo sobre a reestruturação particularmente nas duas principais
produtiva na indústria de Santa cadeias produtivas da região, a au-
Catarina, produzido pelo DIEESE, tomotiva e a petroquímica. Como
em 1997. Focalizando seis dos prin- se poderá notar, tais estratégias es-
cipais segmentos industriais daque- tão relacionadas de alguma manei-
le Estado,6 o trabalho assinala que ra ao processo de terceirização de
“...a terceirização disseminou-se em atividades:
todos os setores pesquisados, espe- ● a redução das escalas de opera-
cialmente na área de apoio e nos ção, através dos cortes drásticos
serviços necessários à produção ...” nos custos fixos e nos quadros de
O principal destaque era para a in- trabalhadores;
dústria metalmecânica, onde se en- ● a ampliação das importações de
contravam casos de terceirização de insumos;
atividades produtivas como zin- ● a desativação de linhas de produção;
cagem, tratamento térmico, usina- ● a seleção criteriosa de fornecedo-
gem, caldeiraria e ferramentaria. res, e por fim,
No caso do setor têxtil, ati- ● a intensificação de processos de
vidades de confecção também fo- desverticalização e de subcontratação,
ram reportadas como objeto de objetivando descentralizar riscos e
terceirização7, de acordo com o tra- custos fixos para outras unidades que
balho. Entrevista com diretoras do compõem a cadeia produtiva.
Sindicato das Costureiras do Gran- No que diz respeito direta-
de ABC (primeiro semestre de mente aos processos de subcon-
2003) confirma a crescente tercei- tratação, o mesmo autor se apóia
rização de atividades vinculadas à nos dados da Pesquisa da Ativida-
confecção, com o surgimento de de Econômica Paulista (Paep), con-
pequenas oficinas informais ali- duzida pela Fundação Seade, em
mentando empresas de médio por- 1996, distinguindo o impacto sobre
te, ou mesmo com a intensificação a economia regional a partir de dis-
do trabalho em domicílio nesse seg- tintos focos de terceirização verifi-

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 20 participante – DIEESE


anexo 2

cados (Klink, 2001:159-69). Um pela adoção de técnicas just in time,


primeiro grupo de atividades, em da produção flexível em células e
tese com maior efeito encadeador de qualidade total, além de uma
para a economia regional, estaria maior ênfase à inovação de produ-
nos serviços do chamado terciário tos e processos por parte das em-
avançado, compatíveis com a traje- presas do Grande ABC comparati-
tória industrial precedente e volta- vamente ao restante do Estado
dos à elevação dos valores agrega- (Klink, 2001:172).
dos das principais cadeias produti- Outro elemento impulsio-
vas. Nesse plano estariam serviços nador desse avanço é a privatização
tipicamente de apoio à produção de empresas estatais, em suas dife-
industrial, como o desenvolvimen- rentes esferas (federal, estadual e
to de novos produtos, a execução municipal), que contribui de modo
de projetos de engenharia, a logís- decisivo para o esvaziamento de
tica industrial, os ensaios de insu- equipes permanentes vinculadas às
mos e produtos e a manutenção de referidas empresas, como se pode
máquinas e equipamentos. verificar claramente pela subcon-
Klink (2001:161) nota que, em tratação de atividades (dentre ou-
meados dos anos 50, era a manuten- tras) como a manutenção de redes
ção dos equipamentos que se desta- elétricas, de redes telefônicas, a lei-
cava nesse grupo em termos de difu- tura de medidores desses serviços
são da terceirização nas empresas de interesse público, seus sistemas
pesquisadas, enquanto os demais de atendimento ao cidadão, a segu-
itens ainda mostravam um menor rança de agências bancárias, entre os
grau de subcontratação. Contraria- diversos exemplos possíveis.10
mente, era na terceirização de ativi-
dades relacionadas à informatização As relações interempresas
e de apoio básico (limpeza, alimenta- e o novo padrão produtivo
ção etc.) que residia ainda o maior dos anos 90
impacto da reestruturação no plano
das relações entre empresas. Todavia, A reestruturação acelera-se,
a ocorrência de subcontratação de ati- portanto, a partir do início dos anos
vidades do primeiro grupo (apoio di- 90, sendo a onda da terceirização
reto à produção) era claramente su- um de seus elementos mais carac-
perior nas empresas do setor auto- terísticos, no caso do setor privado
motivo em relação às demais, seja brasileiro. Esse processo avançaria
no ABC ou fora do ABC (Klink, ao longo da década, levando à trans-
2001:162-3), já confirmando a ace- formação significativa dos padrões
leração desse processo, a partir da de concorrência, tecnológico e orga-
desverticalização das montadoras nizacional nos principais setores
e grandes empresas de autopeças industriais da economia brasileira.
daquele segmento empresarial.9 Leda Gitahy (2000), a partir
É importante também notar de quatro pesquisas realizadas ao
a ocorrência desse processo simul- longo dos anos 80 e 90, caracteriza
taneamente a uma reestruturação esse quadro de transformações co-
interna da gestão empresarial e dos mo uma mudança do paradigma de
processos produtivos, caracterizada organização industrial típico da eco-

participante – DIEESE 21 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2

nomia brasileira. Com análises nos pelos Quadros 2 e 3, com o regis-


setores metalmecânico e eletrôni- tro das transformações no comple-
co do Estado de São Paulo, de auto- xo automotivo brasileiro e que se
peças em São Paulo, Rio de Janei- difundem para outros segmentos
ro e Rio Grande do Sul, e de calça- empresariais em nosso país.
dos em São Paulo e Rio Grande do O Quadro 2 estaria portan-
Sul, bem como a partir de um estu- to fundamentalmente vinculado
do específico sobre o complexo ao que Britto (1997:292) caracte-
automotivo (Gitahy e Bresciani, riza como estratégia “ofensiva”
1998), a referida autora destaca um de terceirização, baseada em in-
conjunto de mudanças intrafirmas tensa cooperação e na “integração
e interfirmas que caracterizam um de competências ao longo das ca-
novo paradigma da organização in- deias interindustriais, o que refor-
dustrial brasileira (Gitahy, 2000).11 çaria a capacitação produtiva e
As principais mudanças que carac- tecnológica”, visando portanto
terizam essa transformação são a- uma maior eficácia técnica e eco-
presentadas nos Quadros 1 e 2 ( no nômica do conjunto de empresas
final do texto) e tomam como base envolvidas.12 Enquanto estratégias
principal o estudo realizado por “defensivas” – marcadas pela trans-
Gitahy e Bresciani (1998) para o ferência de custos, responsabilida-
complexo automotivo. des, riscos e encargos – foram típi-
Quanto mais relevante o po- cos da onda terceirizante do princí-
sicionamento de determinada em- pio dos anos 90 (inclusive no setor
presa ou de suas unidades produti- de telequipamentos analisado pelo
vas em seus respectivos mercados, autor), Gitahy (2000) aponta para a
mais complexidade assume o pro- crescente complexidade das rela-
cesso de terceirização, indo para ções interfirmas, verificando portan-
além da transferência de atividades to claras tendências de mudança
mais simples (como a limpeza, ali- abrangente e ofensiva, como ante-
mentação, segurança etc) que carac- cipado por autores cujos estudos
terizam a onda inicial dos anos 90. datam da primeira metade daquela
Nesse sentido, a terceiriza- década.13
ção configura-se como elemento Claro está que o grau dessa
integrante de uma profunda rees- complexidade nos arranjos inter-
truturação das relações interem- firmas que se constituem a partir
presas que se verificam nos dife- dos anos 90 é também mais ou
rentes mercados e cenários socioe- menos avançado, especialmente
conômicos, dialogando, por um em função do comportamento ado-
lado, com o aprofundamento da tado pelas suas empresas líderes,
chamada globalização ou mundia- aspecto que é também destacado
lização dos fluxos econômico-pro- por Carleial (1997:321-3), em seu
dutivos, e, por outro lado, com no- estudo sobre a indústria eletro-ele-
vos padrões de concorrência e de trônica de Curitiba. O que cabe em
configuração tecnológica e organi- especial assinalar, a partir de todo o
zacional que demarcam a indús- processo de reestruturação produ-
tria da virada do século XX para o tiva ocorrido ao longo dos anos 90,
século XXI, como exemplificado é a importância de análises criterio-

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 22 participante – DIEESE


anexo 2

sas que considerem a possibilida- dos sindicatos na condução de pro-


de de diferentes características dos gramas de terceirização e de rees-
processos de terceirização, vincula- truturação produtiva (DIEESE,
dos a transformações nos padrões 1997:18).14
de concorrência, tecnologia e ges- Pertence a Aparecido Faria
tão das empresas, bem como a (1994:40-60) uma das mais interes-
mudanças nas estruturas de gover- santes e pioneiras abordagens so-
nança dos diversos arranjos/com- bre a terceirização e os desafios que
plexos industriais ou dos diferen- esta impunha à organização sindi-
tes segmentos de serviços. cal. Dentre os efeitos da terceiri-
zação, relacionados pelo autor, en-
A terceirização como contram-se de redução salarial e
parte do novo padrão redução do número de empregos
produtivo: implicações até desmobilização sindical e dimi-
para a organização nuição do número de trabalhado-
sindical no Brasil res sindicalizados.
Almeida Neto (2003:68) a-
Desde o início da rumorosa ponta a redução de custos de pro-
onda da terceirização em princípi- dução como o motor fundamental
os dos anos 90, este se tornou um da terceirização, especialmente via
tema relevante para as relações de redução de salários e benefícios,
trabalho e a organização sindical no mas nota seu uso também como
Brasil, dada a variedade de impli- forma de fragmentação das catego-
cações que acompanhava e segue rias profissionais e enfraquecimen-
acompanhando o referido proces- to de sindicatos. Esse aspecto se
so. As pesquisas do DIEESE pu- confirma não apenas pela redução
blicadas em 1993 e 1997 davam de remunerações brutas pagas a tra-
conta disso, de modo bastante si- balhadores de empresas terceiras,
milar. No primeiro caso, o destaque como se vincula também à nova
vai para os relatos de precarização regulamentação dos contratos de
das condições de trabalho, em suas trabalho temporário, que resultou
diversas dimensões: jornada, saúde no corte de alguns “encargos” inci-
e segurança, salários e benefícios. dentes sobre os salários nominais.15
No segundo caso, os princi- Também a maior complexi-
pais relatos de sindicatos e traba- dade, grau de cooperação ou vir-
lhadores enfatizavam a precariza- tuosidade do novo arranjo inter-
ção das condições de trabalho, o firmas não significa garantia de
aumento da insegurança no traba- avanços do ponto de vista das con-
lho (em suas mais diversas formas), dições de trabalho e especialmen-
a redução de postos de trabalho, a te da remuneração e dos benefíci-
informalização de vínculos de em- os não-salariais auferidos pelos tra-
prego, a redução de salários e mas- balhadores. Em um cenário de ele-
sas salariais, a dificuldade de aces- vadas taxas de desemprego, obser-
so a treinamento para os trabalha- va-se que a reestruturação produti-
dores de firmas terceiras, o descon- va é acompanhada, por um lado, de
trole sobre as jornadas de trabalho, níveis mais elevados de treinamen-
perante a quase absoluta ausência to e qualificação profissional, e, por

participante – DIEESE 23 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2

outro lado, pela crescente redução do trabalho, em um extremo, à co-


da renda do trabalho. Outro aspec- operação interfirmas com base no
to que permanece relevante nos trabalho qualificado e especializa-
processos de terceirização é a dife- do, no outro.
renciação ou segregação social cons- Nesse sentido, o principal
tituída pelas diferentes condições de desafio do movimento sindical bra-
contratação entre os empregados sileiro se refere à própria capacida-
com vínculo trabalhista com a em- de de representação de entidades
presa principal e os empregados criadas para atuar em âmbitos ge-
“subcontratados” de empresas me- ralmente restritos de uma configu-
nores, por vezes operando à margem ração setor/categoria/local clara-
da economia formal, diferenciação mente extemporânea ante a trans-
esta que se acentua à medida que formação da economia brasileira,
diminui a complexidade ou o status não apenas ao longo dos anos 90,
da atividade terceirizada.16 mas tomando-se inclusive toda a
Em suma, se a precarização segunda metade do século XX.
do trabalho permanece como carac- Resolver a referida equação, envol-
terística da terceirização “à brasilei- vendo estrutura e representação (já
ra”, típica da rumorosa onda dos identificada em diversos momen-
anos 90, a continuidade e a com- tos da história brasileira, do início
plexidade dos processos de reestru- do século passado até o período
turação produtiva impõem um o- contemporâneo), bem como com-
lhar cuidadoso e capaz de distin- preendendo a complexidade, a di-
guir, na maior parte dos casos, a versidade e o caráter permanente
ocorrência de distintas experiênci- da mudança nos padrões de produ-
as de terceirização em uma mesma ção de bens e serviços, eis uma ne-
empresa ou arranjo produtivo, em cessidade que parece imperiosa e
um leque de possibilidades que vai inadiável para o movimento sindi-
da redução de custos e degradação cal brasileiro.

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 24 participante – DIEESE


anexo 2

Quadro 1
Transformações no interior das empresas

1. BASE TÉCNICA ■ maior grau de automação dos processos;


(inovações tecnológicas) ■ maior flexibilidade dos equipamentos;
■ sistemas informatizados permeando a gestão.

2. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ■ mudanças no layout das plantas


DA PRODUÇÃO (mini-fábricas, células);
■ programas de qualidade e produtividade, visando
melhoria contínua e redução dos “desperdícios” e
custos associados (estoques, retrabalho, defeitos,
tempo de circulação de materiais, tempo de
preparação de máquinas e do lead-time).

3. NOVAS FORMAS DE GESTÃO ■ mudança nas atribuições profissionais dos


E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO trabalhadores envolvidos nas atividades
operatórias;
■ maior tendência à polivalência;
■ maior responsabilidade pela condução
do processo;
■ introdução do conceito de equipe de trabalho.

4. NOVAS CONCEPÇÕES DE ■ redução dos níveis hierárquicos da empresa;


GESTÃO PRODUTIVA ■ treinamento técnico e comportamental;
■ nova postura gerencial;
■ programas participativos;
■ remuneração variável/participação nos resultados;
■ fábricas focalizadas.

Fonte: Gitahy e Bresciani (1998:30); Gitahy (2000:18)

participante – DIEESE 25 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2

Quadro 2
Transformações na relação interfirmas

1. NOVAS FORMAS ■ implantação do sistema just in time para adaptação da


DE RELAÇÃO estrutura da firma às instabilidades da demanda qualitativa e
COM O MERCADO quantitativa do mercado;
■ focalização dos processos, redefinição de produtos e
clientes (especialização);
■ flexibilização das condições operacionais da empresa;
■ uso de novos materiais e componentes.

2. DESENVOLVIMENTO ■ com fornecedores – criando parcerias seletivas e um nível de


DE REDES DE RELAÇÕES estabilidade que permita garantias de atendimento em termos de
INTERFIRMAS qualidade do material fornecido e dos prazos de entrega. Essa
parceria inclui muitas vezes assistência técnica da grande
empresa (ou central, na rede) na direção de seus fornecedores,
sejam eles de componentes ou serviços de apoio direto à produção;
■ com subcontratadas “externas” – que passam a realizar
partes da produção ou elaborar componentes e peças dos
produtos finais das grandes empresas, ou prestar serviços que
são executados fora das fronteiras físicas da grande empresa;
■ com subcontratadas “internas” – que passam a realizar
determinadas atividades de apoio direto à produção
(manutenção, ferramentaria, engenharia de projetos,
engenharia de métodos, entre outros).

3. MUDANÇAS ■ constituição de condomínios industriais;


ORGANIZACIONAIS ■ formação do “consórcio modular”.

4. REPERCUSSÃO ■ obsolescência de componentes e modelos;


DE NOVOS PRODUTOS ■ desenvolvimento de novos materiais e componentes alternativos.

Fonte: Gitahy e Bresciani (1998:30); Gitahy (2000:19)

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 26 participante – DIEESE


Quadro 3
Transformações na cadeia automotiva brasileira

participante – DIEESE
PADRÃO DE PADRÃO TECNOLÓGICO PADRÃO DE GESTÃO
CONCORRÊNCIA
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E ORGANIZACIONAIS RELAÇÕES ESTRUTURA DA ESTRUTURA DE RELAÇÕES DE
(DE PROCESSO) NO INTERIOR DAS EMPRESAS INTERFIRMAS EMPRESA QUALIFICAÇÃO TRABALHO
EQUIPAMENTOS/ ORGANIZAÇÃO DO QUALIDADE (CLIENTE/ POLÍTICAS DE
MANUTENÇÃO TRABALHO/GESTÃO FORNECEDOR) GESTÃO
DA PRODUÇÃO

ANOS 70 ● produção ● eletromecâ- ● linhas de ● controle de ● plantas ● burocrática, ● uso intensivo ● controle

dirigida ao nicos, início do montagem qualidade verticalizadas hierarquizada, de trabalhadores sindical via CLT e
mercado interno uso de CNC ● divisão rígida tradicional via ● número com grande semi- repressão
protegido e em ● manutenção de cargos e inspeção, elevado de número de qualificados policial

27
expansão corretiva, rotinização combinado, no fornecedores níveis ● rotatividade ● empresas

realizada por ● linhas final da década, ● conflitos na hierárquicos intensa p/ reduzir refratárias aos
departamentos dedicadas com as primeiras cadeia produtiva ● processo salários e sindicatos,
especializados ● organização experiências decisório de disciplinar repressão às
funcional e localizadas com cima para baixo mão-de-obra lideranças
rotinização CCQ ● organização ● estrutura de ● grupos

● estoques funcional cargos e salários clandestinos +


(departamentos baseadas em Cipa
por função) postos/tarefas
(grande leque
salarial)
● chefias

autoritárias

Fonte: Gitahy e Bresciani (1998); Gitahy (2000:38) CONTINUA

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2
Quadro 3
Transformações na cadeia automotiva brasileira anexo 2

PADRÃO DE PADRÃO TECNOLÓGICO PADRÃO DE GESTÃO


CONCORRÊNCIA
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E ORGANIZACIONAIS RELAÇÕES ESTRUTURA DA ESTRUTURA DE RELAÇÕES DE
(DE PROCESSO) NO INTERIOR DAS EMPRESAS INTERFIRMAS EMPRESA QUALIFICAÇÃO TRABALHO
EQUIPAMENTOS/ ORGANIZAÇÃO DO QUALIDADE (CLIENTE/ POLÍTICAS DE
MANUTENÇÃO TRABALHO/ GESTÃO FORNECEDOR) GESTÃO
DA PRODUÇÃO

ANOS 80 ● crise e retração ● eletro- ● linhas de ● início e ● novas fábricas ● início do ● aumento dos ● redemocra-

do mercado mecânica, início montagem intensificação, a dedicadas processo de requisitos de tização,


interno de automação ● início das partir de meados ● início do descentra- escolaridade sindicatos
● ampliação das microeletrônica células, da década, do processo de lização: ● aumento da atuantes,
exportações (Robôs, CNC tecnologia de movimento pela desverticalização ● redução dos proporção de ● greves,

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


(para EUA e Transfer, CAD/ grupo qualidade das grandes níveis trabalhadores conflitos
Europa), num CAM inovações ● redução de ● intensificação empresas hierárquicos qualificados no ● novas

28
contexto de localizadas), estoques de experiências ● início dos ● unidades de conjunto da lideranças
acirramento da CNC, DNC ● início da com CCQ no programas de negócios mão-de-obra comissões de
concorrência no ● início da descentralização início da década, desenvolvimento ● gestão por fábrica
mercado descentralização ● utilização abandonadas de fornecedores processos ● prioridade

internacional e integração da localizada de posteriormente ● just-in-time ● “equipes” ou pauta salarial


manutenção e iust-in-time, ● utilização externo (inicial) “projetos” ● negociação

TPM kanban, SFM, crescente do CEP multifuncionais coletiva


grupos semi- e outras técnicas centralizada
autonômos, de qualidade
ilhas de ● TQM

produção ● certificação

● início da ISO 9000


transferência de
atividades de
qualidade e
manutenção
para a produção

participante – DIEESE
Fonte: Gitahy e Bresciani (1998); Gitahy (2000:38)
CONTINUA
Quadro 3
Transformações na cadeia automotiva brasileira
PADRÃO DE PADRÃO TECNOLÓGICO PADRÃO DE GESTÃO
CONCORRÊNCIA

participante – DIEESE
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E ORGANIZACIONAIS RELAÇÕES ESTRUTURA DA ESTRUTURA DE RELAÇÕES DE
(DE PROCESSO) NO INTERIOR DAS EMPRESAS INTERFIRMAS EMPRESA QUALIFICAÇÃO TRABALHO
EQUIPAMENTOS/ ORGANIZAÇÃO DO QUALIDADE (CLIENTE/ POLÍTICAS DE
MANUTENÇÃO TRABALHO/ GESTÃO FORNECEDOR) GESTÃO
DA PRODUÇÃO

ANOS 90 ● política de ● ampliação da ● linhas de ● intensificação ● focalização ● intensificação ● aumento dos ● pauta ampliada
abertura do automação montagem do movimento ● movimento de do movimento de requisitos de (políticas
mercado, micro-eletrônica ● células de pela qualidade, externalização/ reestruturação e escolaridade setoriais,
acordos ● TPM, apoio à usinagem atingindo toda internalização de descentralização: ● polivalência inovação etc.)
setoriais, produção ● mini-fábricas cadeia atividades ● redução dos ● trabalho em ● negociações

29
recuperação e descentralizado, (segmentação automotiva (terceirização) níveis grupos múltiplas,
crescimento do externalização de das fábricas) ● pressão por hierárquicos ● menor descentralizadas,
mercado interno, atividades de ● redução de redução de ● unidades de rotatividade bi e tripartites
Mercosul manutenção estoques custos e negócios ● novo papel de

● retomada dos ● apoio à qualidade ao ● gestão por chefias


investimentos, produção longo da cadeia processos ● novas

instalação de descentralizado ● apoio à ● “equipes” ou estruturas


novas plantas (qualidade/ capacitação de “projetos” salariais
manutenção) fornecedores multifuncionais (multifuncionais)
● difusão do just- ● “horizontaliza- ● mais

in-time externo ção” da estrutura treinamento e


● “condomínios e de processos informação
industriais” decisórios ● participação

● global sourcing nos resultados


● jornada flexível

Fonte: Gitahy e Bresciani (1998); Gitahy (2000:38)

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2
anexo 2

1. Cf. DIEESE, 1993:5. ta de trabalhadores – no caso atletas profissionais


2. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa – para os clubes. A partir do caso pioneiro do Grê-
(2001) registra no mesmo sentido, à página 2700 o mio Maringá, na primeira metade dos anos 90, clu-
verbete Terceirização como “ato ou efeito de bes de certa expressão chegaram a terceirizar todo
terceirizar; forma de organização estrutural que o seu departamento de futebol, colocando-o sob o
permite a uma empresa transferir a outra suas ati- comando de “empresas”, exemplo recente da tra-
vidades-meio, proporcionando maior disponibili- dicional Portuguesa de Desportos. Situação inusi-
dade de recursos para sua atividade-fim[...]; tada viveu no início de 2004 a Portuguesa de San-
contratação de terceiros, por parte de uma empre- tos, com uma disputa jurídica entre o clube e uma
sa, para a realização de atividades geralmente não empresa contratada para controlar as atividades re-
essenciais [...]”. Também os verbetes Terceirizar lacionadas ao seu futebol profissional; durante al-
e Terceiro fazem menção ao referido processo. gumas semanas, havia dois grupos de atletas sen-
3. No sentido oposto, a tomada ou retomada de do preparados em locais distintos para a disputa
responsabilidade das empresas anteriormente do torneio seguinte.
contratantes sobre atividades anteriormente 11. Como observa a autora (Gitahy, 2000:16), a
terceirizadas é denominada de insourcing. Algu- pesquisa sobre um processo de mudança sempre é
mas empresas executam o referido movimento ao demarcada pela “coexistência de elementos de
longo da década, sem configurar todavia uma onda transformação e conservação”, que se apresentam
contrária de mesmo porte. de modo distinto de acordo com o contexto especí-
4. Cf. DIEESE, 1993:17-8. fico e o estágio do processo.
5. A respeito dessas características e peculiarida- 12. Estudos recentes sobre novas configurações de
des da terceirização no cenário brasileiro, vide Fa- arranjos interfirmas na indústria automobilística bra-
ria (1994:43). sileira estão também presentes em Salerno (2001),
6. Alimentos, cerâmica, metalmecânica, papel e Zawislak e Melo (2002), Ramalho e Santana (2002).
celulose, plásticos e têxtil (DIEESE, 1997). 13. São os casos do próprio Britto (1997) e anteri-
7. Entrevista com diretoras do Sindicato das Costurei- ormente de Faria (1993).
ras do Grande ABC (primeiro semestre de 2003) con- 14. A terceirização como modo de flexibilização do
firma a crescente terceirização de atividades vincula- trabalho e algumas ações sindicais relacionadas a
das à confecção, com o surgimento de pequenas ofi- esse foco, na primeira metade dos anos 90, encon-
cinas informais alimentando empresas de médio por- tram-se em Bresciani (1997).
te, ou mesmo com a intensificação do trabalho a do- 15. A título de exemplo, o site de uma empresa que
micílio nesse ramo. Esse movimento havia sido ana- oferece apoio a processos de terceirização compara
lisado anteriormente por Abreu e Sorj (1993). os custos finais de um empregado com contrato pela
8. Essa face típica da terceirização nas grandes me- CLT e outro pela legislação dos contratos por tempo
trópoles é mostrada de forma clara pelo diretor Ken determinado. Para salários nominais idênticos, o
Loach no filme Pão e rosas, sobre imigrantes lati- valor desembolsado pela empresa, no primeiro
no-americanos trabalhando em atividades tercei- caso, é acrescido de 70,5% e, no segundo caso, de
rizadas por empresas norte-americanas. 54,6% (www.employer.com.br/man_tec.asp?item-
9. Cf. Klink, 2001:162-7. 1/, em 01-nov-1003). Cabe notar que o surgimento
10. É interessante notar que até mesmo a chamada de cooperativas muitas vezes está associado a um
“indústria do futebol” – um dos segmentos com processo de terceirização, que visa reduzir o custo
maior expressão na chamada economia do entre- do trabalho por parte da empresa principal.
tenimento – foi afetada por esse processo, com o 16. Santos (1997) focaliza particularmente esta se-
surgimento de grandes e pequenas firmas de agen- gregação estudando as operações da Cia. Vale do
ciadores (“empresários”) que intermediam a ofer- Rio Doce na região da Serra dos Carajás (PA).

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 30 participante – DIEESE


anexo 2

Referências bibliográficas ● FARIA, A. Terceirização:


um desafio para o movimento sindi-
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TINS, H. ; RAMALHO, J.R. Ter- balho. São Paulo: Hucitec, 1994.
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Hucitec, 1994. of technological and a managerial
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Florianópolis: Visual Books, 2003. ● GITAHY, L.; BRESCIANI,
● BRESCIANI, L. P. Da re- L.P. Reestruturação produtiva e traba-
sistência à contratação: tecnologia, lho na indústria automobilística brasi-
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Brasília: CNI/SESI, 1994. 1998. (Textos para Discussão, 24).
● BRESCIANI, L.P. Flexibi- ● KLINK, J.J. A cidade-re-
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v.11, n.1, fev/mar. 1997. ● RAMALHO, J. R. e SAN-
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Paulo: Hucitec-Abet, 1997. DP&A, 2002.
● CARLEIAL, L. Reestru- ● SABOIA, J. Descentraliza-
turação industrial, relação entre ção industrial no Brasil na década
firmas e mercado de trabalho: as de noventa: um processo dinâmico
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VALLE, R. Reestruturação pro- characteristics and the role of mo-
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DIEESE-SC, 1997. (Estudo Re- balho no Brasil. São Paulo: Huci-
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participante – DIEESE 31 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 2

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A. A indústria automotiva no Rio Indústria automotiva: a nova geo-
Grande do Sul: impactos recentes grafia do setor produtivo. Rio de
e alternativas de desenvolvimento. Janeiro: DP&A, 2002.

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 32 participante – DIEESE


ANEXO

número 3
atividade: ação s i n d i c a l e t e r c e i r i z a ç ã o –
aspectos teóricos e práticos da terceirização

Terceirização no setor público tes. Ela corresponde, assim, a um


brasileiro processo de transferência ou dele-
gação a outros de funções ou ativi-
DIEESE. Dezembro, 2003 dades antes desenvolvidas interna-
mente, podendo vir a englobar tan-
Introdução to etapas do processo produtivo de
um bem ou serviço, de forma total
Este texto foi elaborado com ou parcial, ou apenas atividades
a finalidade de subsidiar o debate consideradas de apoio como limpe-
no movimento sindical sobre as for- za, vigilância, transporte, dentre
mas e o processo de terceirização outras. Tais atividades ou funções
adotado no setor público brasileiro transferíveis a terceiros, em geral,
e, também, pretende apontar al- criam formas diversas de relações
guns de seus impactos sobre con- de parceria entre as partes, medi-
dições de trabalho, remuneração e ante o cumprimento de regras ne-
organização sindical no local de tra- gociadas entre ambas, a partir da
balho. Com estes objetivos, o texto legislação pertinente.
está organizado em três seções. Na É importante também sali-
primeira, serão abordados as ori- entar, para além do conceito, que
gens e os aspectos legais/jurídicos numa perspectiva histórica, essa
intrínsecos ao processo de tercei- prática de gestão do trabalho e or-
rização no setor público, bem como ganização da produção constituiu-
os limites legais existentes a essa se em um recurso muito difundido
forma de contratação na adminis- no âmbito das empresas capitalis-
tração pública. Na segunda seção, tas, como um dos elementos de
serão apresentadas algumas formas enfrentamento da crise mais recen-
ou instrumentos usados no setor te, no escopo da chamada reestru-
público para terceirizar atividades ou turação produtiva. Nesse contexto,
prestação de serviços à sociedade. a terceirização foi adotada pelas
Na última seção, serão considerados empresas com a finalidade de pos-
alguns efeitos da terceirização na sibilitar a focalização da produção,
ótica das condições de trabalho, de isto é, como uma forma de concen-
remuneração e na organização sin- trar as estratégias empresariais na
dical no local de trabalho. atividade-fim; de simplificar a ges-
Do ponto de vista concei- tão da produção e da força de tra-
tual, numa perspectiva da adminis- balho, como resultado da diminui-
tração de recursos, a terceirização é ção da diversidade das formas orga-
uma estratégia e prática de gestão, nizacionais, e de reduzir custos ad-
que se caracteriza, em essência, ministrativos e fixos.
pelo repasse de um serviço ou pro- No Brasil, a terceirização
dução de um determinado bem também veio a ser adotada pelo
para outras empresas ou entidades/ estado na condução de sua máqui-
instituições externas, por meio de na administrativa, tendo seu uso se
assinatura de contratos entre as par- intensificado, particularmente, na

participante – DIEESE 33 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

década de 90, na medida em que sa a ser, também no Brasil, um fa-


os instrumentos legais e institucio- tor que reduz a autonomia do esta-
nais foram sendo construídos para do nacional na implementação de
a execução dos objetivos de gestão suas políticas macroeconômicas,
e solução de crises financeiras, tan- principalmente pelas conseqüênci-
to em empresas públicas como na as que o elevado déficit traria para
própria administração direta. inserção competitiva do país em
um mundo em transformação.
Terceirização no setor A superação da crise econô-
público: origens e aspectos mica nacional, no âmbito estatal,
legais/jurídicos vem exigir uma reconstrução gra-
dual ou uma reforma do Estado, ao
1.Terceirização na adminis- mesmo tempo do processo de rees-
tração pública no âmbito da reforma truturação das empresas privadas,
do Estado que significaria, dentre outros as-
No decorrer da década de pectos, a limitação do papel do Es-
80, as economias desenvolvidas e tado na economia. Essa limitação
em desenvolvimento estavam a- seria conduzida mediante a transfe-
presentando um cenário de grave rência de algumas de suas ativida-
crise econômica.Vários autores, na des para a iniciativa privada ou para
época, debateram sobre o diagnós- o chamado setor público não-esta-
tico e algumas soluções para a crise tal, que engloba o conjunto de orga-
vivida no Brasil e no mundo. Como nizações sem fins lucrativos, incluí-
resultado desse intenso debate, das no campo do terceiro setor.
venceu a tese na qual a crise brasi- Ao longo da década de 90,
leira foi identificada essencialmen- para além da limitação da interven-
te como conseqüência da crise fis- ção do Estado na economia, a re-
cal do Estado.1 Como afirmou Bres- forma gerida no país visou, tam-
ser Pereira (2001, p.1), “... o Estado bém, a adoção de um paradigma
entrou em crise e se transformou na prin- gerencialista no bojo da administra-
cipal causa da redução das taxas de cres- ção pública, em substituição a uma
cimento econômico, da elevação das ta- cultura burocrática de controles de
xas de desemprego e do aumento das ta- processos, a partir do qual se bus-
xas de inflação, que, desde então, ocor- caria a implementação de mecanis-
reram em todo o mundo”. mos de mercado na gestão pública.
Nessa perspectiva, a partir Esses mecanismos se voltariam
de então, a crise se coloca como um agora para o controle de resultados,
processo decorrente da forma “am- para a busca da eficácia e da efici-
pliada” como o Estado veio ao lon- ência, maior responsabilização dos
go de décadas intervindo na eco- atores públicos e por uma flexibi-
nomia, caracterizada essa interven- lização da gestão na área de Recur-
ção pela conjunção “explosiva” das sos Humanos. No seu conjunto,
suas atividades na área social, em- esses objetivos reforçariam a tese
presarial e também regulatória da de que o Estado deveria delegar
economia. Assim, o tamanho do algumas de suas atividades a tercei-
déficit público,2 em meio a onda ros ou a outros parceiros, como uma
da globalização ao final dos 80, pas- forma moderna e mais efetiva de

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 34 participante – DIEESE


anexo 3

conter o crescimento do déficit pú- Segundo o projeto do gover-


blico e do tamanho da máquina no, não haveria razão para que essas
administrativa. atividades permanecessem dentro
Sendo assim, buscando de- do Estado, mas também não se jus-
limitar com clareza as funções do tificaria sua privatização, já que se-
Estado, segundo a reforma do es- riam, por natureza, freqüentemente
tado preconizada,3 as autoridades atividades fortemente subsidiadas
nacionais envolvidas (particular- pelo Estado, além de contarem
mente no Mare – ex-Ministério da com doações voluntárias da socie-
Reforma do Estado), pretenderam dade. Por isso, defendeu-se para
definir, a partir de seu conceito de essas atividades a chamada “publi-
Estado, três áreas de atuação: as ati- cização” – ou seja, a sua transferên-
vidades exclusivas do Estado; os cia para o setor público não-estatal
serviços sociais e científicos do Es- ou terceiro setor. No Brasil, ao con-
tado; e a produção de bens e servi- trário do ocorrido no último quar-
ços para o mercado. Por outro lado, tel do século XX nos serviços soci-
seria ainda conveniente distinguir, ais e científicos na Nova Zelândia,
em cada uma dessas áreas, quais se- Austrália e Reino Unido, o progra-
riam as atividades principais e quais ma do governo de publicização pre-
as auxiliares ou de apoio. viu a transformação desses serviços
Na lógica do projeto de re- ou atividades em Organizações So-
forma do Estado, as chamadas ati- ciais – OSs, legalmente constituí-
vidades exclusivas de Estado de- das como entidades públicas de di-
veriam, naturalmente, permanecer reito privado, que poderiam cele-
dentro do Estado, distinguindo-se brar um contrato de gestão com o
entre elas, verticalmente, no seu Estado e, assim, serem financiadas
topo, a existência de um núcleo parcial ou mesmo totalmente pelo
estratégico, e, horizontalmente, as orçamento público.
secretarias formuladoras de políti- Construído o novo corpo es-
cas públicas, as agências executivas trutural da ação do Estado, deter-
e as agências reguladoras. minou-se que as chamadas “ativi-
No meio, entre as atividades dades principais” seriam aquelas
exclusivas de Estado e a produção consideradas propriamente de go-
de bens e serviços para o mercado, verno, em que o poder de Estado –
cuja idéia consistia na sua privati- ou seja, as ações de legislar, regu-
zação, haveria ainda dentro do Es- lar, julgar, policiar, fiscalizar, defi-
tado, uma série de atividades na nir políticas e fomentar – é exerci-
área social e científica que não lhe do. Em paralelo, para que essas
seriam exclusivas e também não funções típicas do Estado possam
envolveriam poder de Estado. Es- ser realizadas, seria necessário que
tariam incluídas nesta categoria as os políticos e a alta burocracia esta-
escolas, as universidades, os centros tal, no núcleo estratégico, e tam-
de pesquisa científica e tecnoló- bém a média administração públi-
gica, as creches, os ambulatórios, os ca do Estado, contasse com o apoio
hospitais, as entidades de assistên- de uma série de “atividades ou ser-
cia aos carentes, os museus, as or- viços auxiliares”: limpeza, vigilân-
questras sinfônicas e outras. cia, transporte, serviços técnicos de

participante – DIEESE 35 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

informática e processamento de da- tor público, juridicamente falando,


dos, entre outras. A solução encon- trata-se de uma transferência con-
trada para essa sinergia operacional tratual, mas parcial, da responsabi-
foi a de que tais serviços deveriam, lidade pela produção de alguns de
em princípio, ser terceirizados, ou seus serviços a empresas privadas,
seja, submetidos à licitação pública nacionais ou multinacionais, coope-
e contratados com terceiros. rativas de trabalho, Organizações da
Parecendo ser sensível a cer- Sociedade Civil de Interesse Públi-
tas particularidades, o projeto, to- co e Organizações Não-Governa-
davia, previa a possibilidade de ha- mentais,5 sendo, necessariamente,
ver “outros serviços dessa natureza precedida por licitação,6 disciplina-
de apoio”, para os quais, devido a da pela Lei 8.666/93 e pelas leis que
sua proximidade com a “atividade posteriormente a alteraram. Assim,
exclusiva/principal de Estado”, não via licitação, a administração públi-
seria recomendada a terceirização. ca delegaria atividades a uma em-
Por esse motivo e porque também presa, não havendo nenhum víncu-
haveria áreas e atividades discutí- lo de subordinação entre o traba-
veis quanto à publicização ou não, lhador da prestadora de serviços e
optou-se e buscou-se concretamen- o órgão/entidade pública.
te uma mudança na relação de con- Essa contratação de serviços
trato ou vínculo de trabalho, ou pela administração pública brasilei-
seja, legislou-se para a criação de ra, todavia, não é em si um proces-
dois regimes jurídicos dentro do so essencialmente característico da
Estado: o dos funcionários estatu- década de 90 ou da proposta de re-
tários e o dos empregados. A con- forma do Estado brasileiro. Segun-
dição de servidores estatutários fi- do a legislação pertinente, em dé-
caria, assim, limitada às carreiras de cadas anteriores, o setor público já
Estado, e, por sua vez, seriam con- utilizava esse recurso para desen-
siderados empregados públicos – volver parte de suas atividades
numa situação intermediária entre como forma de impedir o cresci-
o servidor estatutário e o trabalha- mento da máquina administrativa
dor privado – os demais servidores no âmbito de pessoal e custeio.
que exerçam “atividades auxiliares Como se sabe, a administra-
ou de apoio”, aquelas que se deci- ção pública está fortemente vincu-
diu não terceirizar ou não foi possí- lada ao princípio da legalidade (ar-
vel publicizar. tigo 37 da Constituição/88), e, nes-
se caso, é imprescindível efetuar o
2. Aspectos legais e jurídicos da que a lei determina. No âmbito fe-
terceirização na administração pública deral, o marco legal disciplinador da
no Brasil: uma perspectiva temporal transferência de serviços para a ini-
Do ponto de vista da gestão, ciativa privada foi o Decreto-Lei
a terceirização é um recurso legal e 200/1967, em que foi estabelecido
contratual que vem sendo ampla- que, no âmbito dessa esfera gover-
mente utilizado nas empresas pri- namental, as atividades deveriam
vadas, bem como em órgãos e em- ser descentralizadas, ocorrendo,
presas da administração pública di- sempre que possível, a transferên-
reta e indireta.4 No âmbito do se- cia de tarefas executivas às empre-

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 36 participante – DIEESE


anexo 3

sas privadas com o objetivo de con- se da legislação brasileira sobre a


centrar as atividades na área de pla- terceirização, no sentido de refor-
nejamento, coordenação, supervi- çar as situações em que essa contra-
são e controle e para evitar o cresci- tação poderia ser considerada irre-
mento desmensurado da chamada gular e de especificar as implica-
burocracia estatal.7 ções caso essa situação fosse verifi-
O decreto acima menciona- cada. Esse Enunciado definiu, por
do não se aplicava, entretanto, às exemplo, que a contratação de tra-
demais esferas governamentais. balhadores por empresa interpos-
Somente na década de 90 foi regu- ta10 é irregular, formando vínculo
lamentada a Lei 8.666/93 (com pos- empregatício diretamente com o
teriores alterações em alguns de tomador de serviços, exceto no caso
seus dispositivos a partir da Lei de trabalho temporário, serviços de
8.883 de junho/94), que trata de li- vigilância, de conservação e limpe-
citações e contratos na administra- za, serviços especializados relaciona-
ção pública, para disciplinar a con- dos à atividade-meio, desde que
tratação de serviços no âmbito dos inexista pessoalidade e subordina-
estados, municípios e Distrito Fe- ção direta, ou se a contratação de
deral. Isto sugere que, na década serviços envolver órgão da adminis-
considerada, intensificou-se o uso tração pública direta e indireta, já
da terceirização no âmbito da ad- que, nesse caso, o ingresso é condi-
ministração pública brasileira como cionado à aprovação em concurso.
forma de frear o crescimento do dé-
ficit governamental, que se expres- 3. Limites legais da tercei-
sava na insuficiência de receitas rização na administração pública bra-
para cobrir os gastos do Estado, sileira: a ação contra os abusos
identificados como prioritários à Após descrever o conteúdo
época. da legislação principal que discipli-
A despeito do uso recorren- na a terceirização na administração
te em algumas esferas nacionais, pública brasileira, seria importante
por muitas décadas, foi também em observar também as diretrizes le-
1993, através da Lei 8.745/93, que gais brasileiras que fixam limites à
se regulamentou ou se legalizou a adoção dessa contratação, como foi
adoção do contrato por tempo de- anunciado anteriormente. Em pri-
terminado na administração públi- meiro lugar, a legislação brasileira
ca, sem requisito de concurso pú- permite que a terceirização seja
blico, como forma de atenuar situ- adotada em atividades instrumen-
ações excepcionais e temporárias, tais ao funcionamento da máquina
tais como calamidade pública, pro- administrativa, como serviços de
fessores substitutos, combate a sur- limpeza, transporte, vigilância, ali-
tos endêmicos, recenseamento, mentação, dentre outros. Não obs-
dentre outros fatores.8 tante, é excluída a possibilidade de
No foro do Tribunal Superi- terceirização das atividades-fim da
or do Trabalho, existe hoje, inclu- administração pública, significando
sive, o Enunciado 331,9 de 17 de que “os órgãos públicos não podem
dezembro de 1993, que corres- delegar a terceiros a execução integral
pondeu, no seu texto, a uma sínte- de atividades que constituem a sua pró-

participante – DIEESE 37 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

pria razão de ser”.11 Essa situação terceirizada. Essa limitação legal


não se aplicaria, todavia, aos servi- pôde ser identificada como forma
ços públicos que venham a ser ob- de evitar a utilização da terceiri-
jeto de concessão.12 zação como válvula de escape à re-
Pelo legislado em nível fe- alização de concursos públicos.
deral, ao final dos anos 90, estabe- No âmbito da administração
leceu-se como norma ou limite à pública direta federal, especifica-
terceirização, extensivo a todas as mente em 1997, foi regulamenta-
esferas, que não poderiam ser trans- do o Decreto 2271/199713 que veio
feridas a terceiros as chamadas ati- enumerar as atividades a serem
vidades exclusivas de Estado, dentre desenvolvidas, preferencialmente,
elas, o poder de polícia definido por terceiros bem como impor li-
como a atividade do Estado consis- mites ao uso da terceirização pelos
tente em limitar o exercício dos direitos gestores. O decreto estabelece que
individuais em benefício do interesse não poderão ser objeto de execu-
público”. As outras legalmente con- ção indireta as atividades inerentes
sideradas exclusivas do Estado e às categorias funcionais abrangidas
que, portanto, não deveriam ser pelo Plano de Cargos e Salários.
delegadas a terceiros seriam: magis- Segundo o texto legal, as chamadas
trados, diplomacia, segurança, fis- atividades acessórias, instrumentais
calização, auditoria, procuradoria ou complementares podem ser ter-
geral, fazenda, defensoria e algu- ceirizadas, especialmente aquelas
mas funções do Ipea -Instituto de relacionadas às atividades de conser-
Política Econômica Aplicada, Ban- vação, limpeza, segurança, vigilân-
co Central, Susep-Superintendên- cia, transporte, informática, recep-
cia de Seguros Privados e CVM - ção, reprografia, telecomunicações e
Comissão de Valores Mobiliários. manutenção de prédios, equipa-
Em relação às atividades- mentos e instalações.
meio, ou aquelas voltadas à gestão Ainda no âmbito federal,
e planejamento de programas/po- dando seqüência legal à reforma no
líticas públicas, a contratação de Estado, em 1998, foi regulamenta-
serviços de terceiros também obe- da a Lei 9.632 que dispõe sobre a
dece a algumas limitações, princi- extinção de alguns cargos (motoris-
palmente as atividades relaciona- ta, por exemplo) na administração
das às categorias que fazem parte pública, autárquica e fundacional,
do Plano de Cargos e Salários, ex- o que suscitou a possibilidade da
ceto quando se trata de cargo ex- ocorrência da terceirização corres-
tinto, total ou parcialmente, que pondente a esses cargos.
não pode ser transferido a tercei- Como um exemplo de apli-
ros. Da mesma forma, a prática de cação dessas legislações, observou-
atos administrativos (expedição de se que no âmbito do Tribunal de
autorizações, licenças, certidões ou Contas da União, torna-se relevan-
declarações, inscrições, registro, ou te citar a Resolução nº 158, de 22 de
certificação, decisão ou homologa- janeiro de 2003, que dispõe sobre a
ção de processos administrativos), terceirização de serviços administra-
mesmo sendo concebida como ati- tivos nessa instância. Essa resolução
vidade dessa natureza, não pode ser extinguiu os cargos efetivos de Téc-

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 38 participante – DIEESE


anexo 3

nico e Auxiliar de Controle Exter- em 1999. Esse limite ou relação


no, o que abriu a possibilidade de percentual fixa de gasto deveria
delegar a outros essas atividades. balizar as despesas até 31 de de-
Essa prerrogativa, em alguns casos, zembro de 2003. Até o momento,
pôde ser apropriada pelos demais não existe nenhum novo dispositi-
Tribunais de Contas Estaduais. vo legal que venha definir os parâ-
Todavia, para além do arca- metros a partir do próximo ano.
bouço exclusivo da esfera federal, Nesse aspecto, seria importante
no início de 2000, aprovou-se uma ressaltar que existem hoje duas in-
legislação complementar, que tra- terpretações no que diz respeito à
tou, dentre outros elementos, sobre contabilização dos chamados servi-
os limites dos gastos com a adoção ços de terceiros: a primeira afirma
da terceirização nas esferas muni- que os serviços de terceiros envol-
cipal, estadual e federal, expressa vem todos os contratos de terceiri-
no texto da Lei de Responsabili- zação, inclusive aqueles que se re-
dade Fiscal (Lei Complementar ferem à substituição de servidores;
101/2000). Essa nova lei, a partir de a segunda entende que as despe-
um conjunto de normas e limites, sas com substituição de servidores
buscaria reduzir as chamadas des- devem ser excluídas, pois já estão
pesas correntes (custeio e pessoal) sujeitas ao limite com pessoal.
das administrações públicas, no Vale reforçar também que, a
sentido da busca do superávit orça- despeito do ritmo em que o tema
mentário. Em seu art. 18, § 2º, a lei foi sendo tratado, ao nível da legis-
estabeleceu que “os valores dos con- lação e normas contábeis, muitas
tratos de terceirização de mão-de-obra tentativas foram observadas ao lon-
que se referem à substituição de servi- go da década de 90, no sentido de
dores e empregados públicos serão “desresponsabilização” sobre a
contabilizados como Outras Despesas prestação de serviços públicos à
de Pessoal”. Assim, o valor desses sociedade por parte de alguns ges-
contratos deve ser computado no tores nas várias esferas. Mesmo em
montante de despesa total com meados do ano de 2003, tornou-se
pessoal da União e dos entes fede- ilustrativo o fato de que, no contex-
rados,14 exceto quando decorren- to da discussão das reformas previ-
tes de decisão judicial e da compe- denciária e tributária, mais uma
tência anterior ao período de apu- vez, mediante proposta de emen-
ração da despesa estabelecido pela da constitucional, tentou-se ampli-
lei (art. 18).15 ar as áreas terceirizáveis do setor
Em relação ainda aos gastos público no âmbito das políticas so-
com terceirização que não são com- ciais, mas houve reação e retirada
putados na Despesa Total com Pes- do projeto da pauta.
soal, identificados como Serviços de Nesse contexto ainda de in-
Terceiros, em seu artigo 72, a Lei de tenso debate e reações adversas, e
Responsabilidade Fiscal estabele- considerando as possíveis ativida-
ce limites, tomando-se como parâ- des do setor público que podem ser
metro de execução dessa despesa, transferidas ao setor privado, me-
sua relação percentual com a Re- diante contratação de serviços, al-
ceita Corrente Líquida verificada guns autores como Faria (2001, p.

participante – DIEESE 39 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

6) apresentam uma preocupação atendimento aos serviços hospita-


relacionada aos parâmetros utiliza- lares, o que veio ocasionar, segun-
dos para identificar as áreas que não do vários autores,17 sérias conse-
podem ser transferidas à iniciativa qüências nas condições de trabalho,
privada. De acordo com esse autor, remuneração e qualidade dos ser-
essa preocupação seria relevante, viços prestados, como também a
no sentido de se evitar a tercei- dificuldade de monitorar “o melhor
rização da administração pública contrato possível”, dentre outras.
por completo. Como exemplo, o Um outro exemplo estuda-
autor cita o município de Farol, que do é o caso da empresa Petrobrás,
encaminhou uma consulta ao Tri- na qual a terceirização vem sen-
bunal de Contas do Estado do do utilizada como estratégia de
Paraná no sentido de esclarecer se redução de custos, uma vez que,
todos os serviços públicos do mu- de acordo com informações di-
nicípio poderiam ser terceirizados. vulgadas por essa Companhia,
Além desse caso, pôde-se aproximadamente, 97,90% das
observar uma consulta de mesma contratações foram realizadas
natureza, realizada por um municí- com base no menor preço, ape-
pio mineiro ao Tribunal de Contas nas 1,70% delas tiveram como
do Estado, que concluiu “não ser determinante a melhor técnica e
possível a terceirização de todos os seus 0,40% a combinação de melhor
serviços, mas apenas daqueles de na- técnica e preço. Essa prática de
tureza auxiliar, ligados à atividade- gestão e organização do trabalho
meio. Não pode o município terceirizar tem sido adotada não apenas nas
serviços que abrangem sua atividade- áreas de apoio, como alimenta-
fim, traduzindo atribuições típicas de ção, limpeza, transporte, e ou-
cargos permanentes que só podem ser tras, mas também nas chamadas
preenchidas por concurso público”.16 atividades-fim, como produção,
No Brasil, restaria salientar operação, manutenção etc.18 Da-
que, também no âmbito da adminis- do a forma de sua inserção no
tração indireta, ou das estatais, fun- mercado, até o momento, a es-
dações e autarquias, a terceirização tratégia da estatal não se diferen-
veio sendo aplicada como instrumen- ciou de modelos conhecidos no
to de gestão, no contexto de orça- setor privado.
mentos reduzidos, ao longo da déca- Outro exemplo que pode ser
da de 90, apresentando questões im- citado é o da empresa Infraero -
portantes para o debate nacional. Empresa Brasileira de Infra-Estru-
Na área da saúde pública, tura Aeroportuária, na qual o Tribu-
por exemplo, experiências seme- nal de Contas da União já teria au-
lhantes de terceirização, mediante torizado a adoção da terceirização até
uso de formas cooperadas, ocorre- mesmo em atividades compatíveis
ram nos estados da Bahia, Tocan- com atribuições de cargos previstos
tins, município de São Paulo (Pla- no Plano de Cargos e Salários, ao
no de Assistência à Saúde- PAS), admitir a legalidade da contratação
Rio de Janeiro, Roraima (Plano de indireta de telefonista e operador de
Assistência Integral à saúde- PAIS) PABX. Segundo esse Tribunal, essa
e Maranhão, principalmente no forma de flexibilização de contrato

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 40 participante – DIEESE


anexo 3

de trabalho “vai ao encontro das dire- criado o Plano de Atendimento à


trizes que norteiam a modernização da Saúde (PAS), no ano de 1995, quan-
administração pública.” 19 do houve a transferência, median-
Após apontar alguns dos fa- te convênios, das atividades de di-
tores que motivam a terceirização reção, execução e prestação de ser-
no setor público brasileiro, as leis viços públicos para cooperativas de
que disciplinam esse processo e as profissionais da saúde. Através des-
áreas que legalmente podem ser se convênio, a prefeitura forneceu
transferidas à iniciativa privada, instalações e equipamentos neces-
através da contratação de serviços, sários às atividades da cooperativa,
seria importante abordar as formas providenciou a transferência de re-
e os modelos de terceirizar ado- cursos financeiros necessários à
tados no setor público, até o mo- implantação do Plano, controlou e
mento, para em seguida tratar de fiscalizou a prestação de serviços e
alguns efeitos da terceirização so- transferiu bens patrimoniais do
bre as condições de trabalho, remu- município mediante permissão de
neração e organização sindical no uso. Esse modelo de terceirização
local de trabalho. envolveu contratações, ou convêni-
os, na maior parte, feitos sem lici-
Formas de terceirização na tação.22 Além disso, em alguns ca-
administração pública no sos, houve cooperativas de médi-
Brasil: algumas cos que foram criadas especialmen-
possibilidades legais te para assumir os serviços públi-
cos de saúde,23 como afirma Di
As funções ou atividades de- Pietro apud Cherchglia (p.380):
senvolvidas pela administração pú- “as referidas cooperativas vi-
blica podem ser transferidas ou de- vem exclusivamente em função do vín-
legadas para empresas privadas, na- culo com o município, não têm patri-
cionais ou multinacionais,20 coope- mônio próprio; utilizam as instala-
rativas de trabalho21 ou instituições ções públicas com todos os equipamen-
sem fins lucrativos. No próximo tó- tos públicos; grande parte dos coope-
pico deste texto serão abordados, es- rados são servidores públicos afasta-
pecificamente, as cooperativas de dos ou exonerados, que apenas mu-
trabalho e instituições sem fins lu- dam de título sob o qual prestam ser-
crativos, pois são instituições/ enti- viços e deixam de se submeter às nor-
dades com as quais a administração mas constitucionais e infraconstitu-
pública tem estabelecido contratos cionais sobre servidores públicos, seus
de terceirização, particularmente, a salários não sofrem mais as limita-
partir da década de 90. ções constitucionais próprias dos ser-
vidores; já não estão sujeitos à proi-
1. Cooperativas de Trabalho bição de acumular cargos, empregos
As determinações legais bra- ou funções; não mais oneram a Folha
sileiras não excluem a participação de Pagamento de servidores do muni-
de cooperativas de trabalho no pro- cípio; no entanto, continuam a rece-
cesso de licitação e contratos da ber remuneração proveniente dos co-
administração pública. No municí- fres públicos; deixa- se de se aplicar a
pio de São Paulo, por exemplo, foi lei das licitações e contratos.”

participante – DIEESE 41 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

É importante destacar que pela administração pública tam-


houve várias tentativas de se ques- bém podem ser delegadas às insti-
tionar em juízo o modelo de tercei- tuições sem fins lucrativos, tais
rização descrito anteriormente. Não como: ONGs – Organizações Não-
obstante, o Tribunal de Justiça do Governamentais, OS – Organiza-
referido município afirmou que não ções Sociais, Oscips – Organizações
existe nenhuma ilegalidade, prejuí- da Sociedade Civil de Interesse Pú-
zo para os servidores municipais ou blico, como será visto a seguir.
para o poder público municipal.
Da mesma forma como ocor- 2. Organizações Sociais, Or-
reu no município de São Paulo, o es- ganizações da Sociedade Civil de In-
tado de Roraima instituiu o Plano de teresse Público
Assistência Integral à Saúde (PAIS), As Organizações Sociais fo-
em 1997, que previa a alocação gra- ram instituídas a partir da Lei Fe-
tuita de bens, imóveis, instalações e deral 9.637/1998 e correspondem a
equipamentos da administração pú- uma forma de propriedade não-es-
blica por meio de convênio, à Coo- tatal, constituída pelas associações
perativa de Profissionais de Saúde de civis sem fins lucrativos, impedidas
Nível Superior, sendo esta responsá- de ser propriedade de qualquer in-
vel pela administração do convênio, divíduo ou grupo, e estão orienta-
alocação e pagamento de pessoal, das diretamente para o atendimen-
movimentação de recursos financei- to do interesse público. Pode-se ci-
ros e operacionalização do patri- tar como exemplo o estado da Ba-
mônio alocado. hia que implementou o “Programa
Em todo o país, pôde-se ob- Estadual de Incentivo as Organiza-
servar, ao final dos anos 90 e início ções Sociais” no ano de 1997, sendo
do 2000, que as cooperativas de tra- previsto, no âmbito deste Programa,
balho apresentam crescente parti- o estabelecimento de contratos de
cipação, dentre as formas de pres- gestão, pelo qual o Estado transfere
tação de serviços, no mercado de às Organizações Sociais as respecti-
trabalho brasileiro, e consolidam-se vas atribuições, responsabilidades e
como modelo operante, mediante obrigações a serem cumpridas. Con-
inúmeras legislações estaduais e forme afirma Gonçalves (1998, p.5),
mesmo federais de estímulo ao o programa citado “pretende fomen-
cooperativismo. Todavia, nessa tar a absorção de atividades que, por
perspectiva, o estímulo a essa for- força de previsão constitucional, já ve-
ma de delegação a terceiros, no nham sendo exercidas pelo setor priva-
âmbito do setor público, ainda a- do, tais como ensino, pesquisa científica
ponta para a necessidade de avalia- e tecnológica, cultura, saúde ou outras,
ções e debates no contexto das áre- pelas Organizações Sociais”.
as sociais, na perspectiva de redu- Criadas posteriormente às
zir os resultados indesejáveis da Organizações Sociais, as Organiza-
exclusão da população ao acesso a ções da Sociedade Civil de Interes-
serviços de qualidade e gratuitos. se Público foram instituídas a partir
Além dos modelos de tercei- da Lei 9.790/1999, correspondendo
rização descritos anteriormente, al- ao conjunto de instituições sem fins
gumas atividades desenvolvidas lucrativos, de atendimento geral,

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 42 participante – DIEESE


anexo 3

cujos objetivos sociais podem englo- nefícios ou vantagens indiretas (au-


bar a promoção gratuita da assistên- xílio alimentação, vale transporte,
cia social, da cultura, da saúde, do assistência médico-odontológica),
voluntariado, da educação, dentre sobre os quais essa diferença vem
outros.24 A legislação brasileira ga- se manifestar. Os trabalhadores das
rante a participação dessas organiza- prestadoras não recebem as referi-
ções no processo de terceirização na das vantagens, o que amplia a dis-
administração pública.25 crepância salarial. Essa diferença
A aprovação da legislação das também se reflete entre os trabalha-
Oscips, ao final dos anos 90 e ano dores públicos, pois, em algumas si-
2000, começa a abranger a maior tuações, pode-se verificar funcioná-
parte dos estados brasileiros, na rios estatutários (estabilidade) e
medida em que os novos gestores celetistas (regido pela CLT) desen-
vão assumindo a máquina pública, volvendo as mesmas atividades.
em particular nos estados de maior Além da diferença na remu-
déficit fiscal. Tem sido vislumbrada neração salarial dos trabalhadores
por vários governos como instru- vinculados a algumas empresas
mento legal, transparente e efetivo terceirizadas e os trabalhadores
de estabelecer, mediante critérios públicos, os terceirizados também
públicos, a parceria com o chamado sofrem com o descumprimento de
setor público não-estatal. Inexistem obrigações trabalhistas, tais como o
ainda estudos, dado a sua novidade, recolhimento de FGTS, INSS, fal-
que permitam avaliar os resultados ta de carteira assinada, pagamento
dessa atuação conjunta. de periculosidade, férias, entre ou-
tros, gerando impactos no âmbito
Efeitos da terceirização de aposentadorias, seguro desem-
sobre as condições de prego, e toda possibilidade de aces-
trabalho e organização so à legislação da seguridade social
sindical no local de atual. Ao mesmo tempo, há casos
trabalho de empresas que, ao término dos
contratos, não efetuam sequer o pa-
1. No âmbito da remuneração gamento das indenizações traba-
e condições de trabalho lhistas previstas na legislação.
Da mesma forma como a- Outro aspecto a ser conside-
contece no setor privado, a tercei- rado, no âmbito das condições de
rização, adotada na administração trabalho, é o fato de que os traba-
pública brasileira, tem acarretado lhadores terceirizados ficam sujei-
alterações na remuneração, ou cau- tos, em geral, a condições de se-
sado impacto sobre a isonomia sa- gurança de trabalho mais vulnerá-
larial do trabalhador do setor públi- veis, o que os torna mais suscetí-
co, uma vez que, na maioria dos veis a acidentes de trabalho. Em
casos, sua adoção é, em geral, acom- alguns casos, também são subor-
panhada de salários mais baixos. dinados a jornadas de trabalho
Em alguns casos, mesmo que o mais extensas do que os trabalha-
vencimento básico possa se apro- dores do setor público que apre-
ximar do salário inicial dos trabalha- sentam jornadas regidas por Pla-
dores públicos, existem alguns be- no de Carreira e estatuto.

participante – DIEESE 43 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

Como conseqüência dessa 2. No âmbito do movimento


relação frágil, esses trabalhadores sindical
carecem, muitas vezes, de qualifi- A terceirização também a-
cação ou treinamento necessário, presenta algumas conseqüências à
ou ainda material de apoio para o organização sindical, algumas das
exercício da função, o que gera con- quais serão apontadas a seguir.
seqüências como acidentes, doen- Existe a questão, por exemplo, de
ças profissionais, dentre outros. representação sindical dos tercei-
Nessa perspectiva, foi obser- rizados, pois, muitas vezes, eles fi-
vado que, na área da saúde, setor cam fora da área de abrangência dos
que vivencia experiências de ter- sindicatos que representam os tra-
ceirização há mais tempo, estão balhadores do setor público, o que
sendo adotadas políticas de recur- ocasiona um processo de fragmen-
sos humanos que visam minimizar tação sindical.
as diferenças de qualificação/treina- Considerando o caso da em-
mento entre os trabalhadores pú- presa estatal Petrobrás, por exem-
blicos e os das empresas tercei- plo, observa-se que existem diver-
rizadas, para reduzir os impactos sos sindicatos que representam os
mencionados, como mostra o estu- terceirizados que trabalham na Ba-
do de Cherchglia (s/d, p. 381). cia de Campos: Sindicatos da Cons-
É importante destacar tam- trução Civil, Sindicato dos Aero-
bém que, em alguns casos, a dife- nautas, Sindicatos dos Mestres e
rença entre os trabalhadores públi- Cabotagem e Contramestres do
cos e os terceirizados não se limita Transporte Marítimo, Sindicato dos
às questões de ordem financeira Profissionais Subaquáticos e ativida-
como salários, carteira assinada, des afins, dentre outros.26 A diversi-
por exemplo, manifestando-se, até dade vem acompanhada, algumas
mesmo, no uso do espaço de tra- vezes, das questões de identidade
balho, já que não podem utilizar, de classe, dificuldades de mobi-
por exemplo, determinados sani- lização e de fechamento de acordos
tários, e possuem refeitórios dife- coletivos.
rentes ou uniformes que os desta- Ao lado do problema de frag-
cam dos demais trabalhadores pre- mentação sindical, existe a dificulda-
sentes nas empresas públicas ou de de filiação dos terceirizados, da sua
órgãos da administração direta. participação em atos e eventos sindi-
Outro ponto a ser lembra- cais e, sobretudo, há o problema no
do é o ritmo acelerado de traba- âmbito do setor público, do impedi-
lho e o excesso de horas extras mento do rompimento da prestação
que estariam associados ao au- dos serviços em momentos de con-
mento do estresse ocupacional, flito entre servidores e Estado.
de psicopatologias que se mani-
festam através do trabalho (de- Considerações finais
pressão, alienação, angústia) e de
patologias (úlceras, obesidade, A terceirização no setor pú-
hipertensão arterial, Lesões por blico nos variados campos tem se
Esforço Repetitivo-LER, doen- colocado como uma alternativa para
ças ocupacionais, entre outras). a flexibilização da gestão do trabalho,

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 44 participante – DIEESE


anexo 3

apesar de ser uma opção administra- Resta mencionar as dificul-


tiva extremamente polêmica e, não dades inerentes à especificação e
raro, perversa para os trabalhadores. monitoramento dos resultados al-
Além disso, do ponto de vis- mejados através do mecanismo de
ta do serviço prestado, a questão re- terceirização. Os resultados devem
levante é a de escolher quais os se- ser avaliados não apenas sob uma
tores ou funções que, sendo tercei- ótica estritamente técnica, pois sua
rizados, resultariam, não somente definição deveria também ser per-
em redução de custos, mas também meada pelas expectativas de aten-
em melhoria, agilização e aumento dimento qualificado dos maiores
da qualidade desses serviços. interessados: os cidadãos-usuários.

1. Ver Desenvolvimento Capitalista no Brasil - En- ção pública (anexo).


saios sobre a Crise. São Paulo, Editora Brasiliense, 10. Empresa que assume o serviço ou atividade
v.1, 1983. terceirizada.
2. Quando a diferença entre o montante de recur- 11. Faria, 2001, p. 7.
sos arrecadado e o montante gasto é positivo, te- 12. Segundo a Lei Federal 8.987/ 1995, a conces-
mos o superávit público; quando negativo, existe o são de serviço público corresponde à delegação de
déficit público. uma atividade à pessoa jurídica ou consórcio de
3. Vide “Plano Diretor da Reforma do Aparelho do empresas que passam a atuar em nome do Estado.
Estado” – Brasília: Presidência da República, Câ- 13. Este decreto exclui a possibilidade de indexação
mara da Reforma do Estado, Ministério da Admi- dos preços dos contratos por índices gerais, setoriais
nistração Federal e Reforma do Estado, 1995. ou que reflitam variação nos custos, caracterização
4. A administração pública direta compreende o exclusiva do objeto como fornecimento de mão-de-
conjunto de órgãos integrados à estrutura adminis- obra, previsão de reembolso de salários pela con-
trativa da União, Estados e municípios. A adminis- tratante e subordinação dos empregados da contra-
tração pública indireta compreende as autarquias, tada à administração da contratante.
empresas públicas, fundações e sociedades de 14. Para efeito desta Lei.
economia mista. 15. LRF (art. 18) e Câmara dos Deputados / Guia de
5. É importante observar que a transferência parci- Implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal (10
al de uma atividade do serviço público pode ser de agosto de 2000).
feita para empresas multinacionais sediadas no 16. Ferraz, 2001, p.25.
país ou para cooperativas, sendo, neste caso, tri- 17. Cherchglia, s/d; Gonçalves, 1998.
butada a renda proveniente da atividade desenvol- 18. Silva Pereira, 2001, p. 78 e 80.
vida. (Faria, 2001, p. 14) 19. Ferraz, 2001, p.26 e Faria, 2001, p.7.
6. A licitação não é exigida nas situações caracteriza- 20. Em relação à iniciativa privada, é importante res-
das pela inviabilidade de competição (aquisição de saltar que, mesmo se as empresas multinacionais ti-
materiais, equipamentos e serviços que só podem ser verem acesso a fontes de financiamento no exterior
fornecidos por uma empresa exclusiva) e/ou contra- mais vantajosas do que as disponíveis para empresas
tação de serviços técnicos de profissionais e empresas nacionais, as mesmas não podem ser afastadas do pro-
de notória especialização. Lei 8.666/93, art. 25. cesso licitatório. Não obstante, segundo determinação
7. Faria, 2001, p. 5. legal (Lei 8.666/1993, art. 42), no caso de licitações de
8. Cherchglia, s/d, p. 371. âmbito internacional, para fins de julgamento, as pro-
9. Esse Enunciado não se restringe à administra- postas das empresas estrangeiras devem ser acresci-

participante – DIEESE 45 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


anexo 3

das pelos mesmos tributos que oneram as empresas onal, instituições religiosas, organizações parti-
brasileiras quanto à operação final de venda. dárias, entidades de benefício mútuo destinadas
21. A cooperativa corresponde a um grupo de pes- a proporcionar bens ou serviços a um círculo res-
soas que coordenam seus esforços para a conse- trito de associados ou sócios, entidades e empre-
cução de uma finalidade comum, sem relação de sas que comercializam planos de saúde e asse-
subordinação entre si. melhados, instituições hospitalares não gratuitas
22. Esse Plano de Atendimento à Saúde foi extinto. e suas mantenedoras, as escolas privadas
23. Gonçalves, 1998, p.6. dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas
24. Para maiores informações, ver Lei 9.790, de 23 mantenedoras, as organizações sociais, as coo-
de março de 1999. perativas, as fundações públicas e organizações
25. Não podem ser qualificadas como Organiza- creditícias que tenham quaisquer tipo de vin-
ções da Sociedade Civil de Interesse Público: so- culação com o sistema financeiro nacional. Lei
ciedades comerciais, sindicatos, associações e Federal 9.790, de 23 de março de 1999.
classe ou de representação de categoria profissi- 26. Figueiredo, 2001, p. 93.

Bibliografia ● BRASIL. Presidência da


República – Câmara da Reforma
ABREU FILHO, Saulo
● do Estado, Ministério da Adminis-
de Castro. Algumas anotações so- tração Federal e Reforma do Esta-
bre a terceirização como instrumen- do. Plano Diretor da Reforma do
to de gestão do Estado., 2001, p. 74- Aparelho do Estado. Brasília, 1995.
80. (Caderno Fundap, 22 ). ● BRASIL. Leis e Decretos.
● AFONSO, Alexandre Bor- Resolução n. 158: Tribunal de Con-
ges. A descentralização para o ter- tas da União. dispõe sobre a ter-
ceiro setor: Novos modelos insti- ceirização de serviços administrati-
tucionais. [S.l.]: OS e OSCIP, [s.d.]. vos no âmbito do Tribunal de Con-
Seminário Balanço da Reforma do tas da União. 22 de janeiro de 2003.
Estado no Brasil. Brasília, 2003.
● BRASIL. Leis. Lei Com- ● BRESSER PEREIRA,
plementar n. 101, de 4 de maio de Luiz Carlos. A reforma do Estado
2000 (Lei de Responsabilidade Fis- dos anos 90: lógica e mecanismos
cal). Estabelece normas de finanças de controle. In: REUNIÃO DO
públicas voltadas para a responsabi- CÍRCULO DE MONTEVIDÉU,
lidade na gestão fiscal e dá outras 2, 1997, [S.l.]. 28p.
providências. Brasília: [S.n], 2000. ________. A nova gestão pública.
● BRASIL. Leis. Lei Fede- In: SEMINÁRIO BALANÇO DA
ral 9.790, de 23 de março de 1999: REFORMA DO ESTADO NO
dispõe sobre a qualificação de pes- BRASIL. [S.l: s.N], 2002.
soas jurídicas de direito privado, ● CÂMARA DE DEPUTA-
sem fins lucrativos, como Organi- DOS. Lei de Responsabilidade
zações da Sociedade Civil de Inte- Fiscal: guia de implantação. [Bra-
resse Público, institui e disciplina sília], ago. 2000.
o Termo de Parceria, e dá outras ● CHERCHGLIA. Tercei-
providências. Brasília: [S.n.], 1999. rização do trabalho nos serviços de

Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 46 participante – DIEESE


anexo 3

saúde: alguns aspectos conceituais, ● FIGUEIREDO, Marcelo


legais e pragmáticos. 385p. Dispo- Gonçalves. Trabalho de mergulho
nível em: www.opas.org.br/rh/pi- profundo em instalações petrolíferas
blicacoes/textos_apoio/pub040- offshore na Bacia de Campos: confia-
3t5.pdf. bilidade e segurança em meio à
● DIEESE. Os trabalhado- guerra de ‘Highlander’contra o Le-
res frente à terceirização. São Pau- viatã. Tese de Doutorado em En-
lo: DIEESE, mai. 1993. 41p. (Pes- genharia de Produção. Coordenação
quisa DIEESE, 7). dos Programas em Pós-Graduação
________. O comportamento das de Engenharia, Universidade Fede-
negociações coletivas de trabalho ral do Rio de Janeiro, 2001. 288p.
nos anos 90: 1994 –1996. São Pau- ● GONÇALVES, Wagner.
lo: DIEESE, mai. 1993. 41p. (Pes- Parecer sobre terceirização e parce-
quisa DIEESE, 7). rias na saúde pública. [S.l.: S.n.],
● ESTADO DE MINAS. 1998. 18 p.
Salário de faxineiro vai cair, 25 de ● PEDROSA, Ana Paula.
jul. 2003. p. 5. Terceirização afeta a qualidade.
● FARIA, Flávio de Freitas. Diário do Comércio. 01 de set.
Terceirização no serviço público e 2003, p.3.
cooperativas de trabalho. [S.l.]: ● REZENDE, Flávio da Cu-
Consultoria Legislativa, 2001. 18p. nha. A reforma do Estado em pers-
Estudo Set. 2001. pectiva comparada. In: SEMINÁ-
● FERRAZ, Luciano de A- RIO BALANÇO DE REFORMA
raújo. Lei de responsabilidade fiscal NO BRASIL: a nova gestão públi-
e terceirização de mão-de-obra no ca, ago. 2002. [S.l: S.n.], 2002.
serviço público. Revista Jurídica ● SILVA PEREIRA, Patrí-
Administração Municipal, ano 4, n. cia. A indústria petrolífera e seus re-
3, [s.d.]. p. 19-38. flexos na economia fluminense. São
● FERNANDES, Jorge I- Paulo: DIEESE; Campinas: Cesit,
lisses Jacoby. Lei de responsabili- 2002. CD-ROM. (Emprego e de-
dade fiscal e terceirização. [S.l: S.n., senvolvimento tecnológico: Estu-
s.d.]. 23p. dos DIEESE/Cesit).

participante – DIEESE 47 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho


Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho 48 participante – DIEESE
AVA L I A Ç Ã O
Ficha individual de avaliação

☺ K L
Bom Médio Ruim

Tempo de duração
Conteúdo
Metodologia

Material didático
Coordenação
Organização
Local
Alimentação
Hospedagem

Dê nota de 0 a 10 à atividade como um todo

Comentários gerais:

participante – DIEESE 49 Terceirização: efeitos sobre as relações de trabalho



FICHA TÉCNICA SINTÉTICA

“O DIEESE é um órgão unitário do Movimento Sindical Brasileiro des-


tinado à produção e difusão de conhecimento e informação sobre o traba-
lho em um contexto multidisciplinar, tendo como instrumento de análise
o método científico, a serviço dos interesses da classe trabalhadora, sem
prejuízo da diversidade das posições e enfoques sindicais.”
(Estatuto do DIEESE - artigo 3º).

DATA DE FUNDAÇÃO
22 de dezembro de 1955

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Direção Sindical: Nacional e Regionais
Direção Técnica
Corpo técnico e administrativo
Escritório Nacional
Escritórios Regionais: 15
Subseções: 20
Número de funcionários: 193,
entre equipe técnica e administrativa

PRINCIPAIS ATIVIDADES
PESQUISAS
ICV-DIEESE - Índice de Custo de Vida no Município de São Paulo,
desde 1959 | POF - Pesquisas de Orçamentos Familiares, 1958, 1969/70,
1982/83, 1994/95 | PED-RMSP na Região Metropolitana de São Paulo,
desde 1984 | PED-DF no Distrito Federal, desde 1991 | PED-RMPA na
Região Metropolitana de Porto Alegre, desde 1992 | PED-RMBH na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, desde 1994 | PED-RMSA na
Região Metropolitana de Salvador, desde 1996 | PED-RMR na Região
Metropolitana de Recife, desde 1997 | PED-ABC na Região do Grande
ABC em São Paulo, desde 1998 | Pesquisa Nacional da Cesta Básica em
16 capitais | Cálculo mensal do Salário Mínimo Necessário | Pesquisa da
Cesta Básica no Município de São Paulo | Pesquisas temáticas específi-
cas | Banco de dados informatizados macroeconômicos, setoriais, salários,
greves, acordos coletivos e mercado de trabalho.

ASSESSORIA
Acompanhamento e assessoria às negociações coletivas | Estudos e sub-
sídios para as campanhas salariais | Participação em eventos sindicais
Análises de política econômica.

EDUCAÇÃO
Seminários, cursos e oficinas de trabalho para o movimento sindical sobre
negociação coletiva, transformação no mundo do trabalho, planejamento,
salários, jornada de trabalho, entre vários outros temas | Seminários, cur-
sos e oficinas de trabalho para a capacitação da equipe técnica do DIEESE
| Elaboração de material didático e pedagógico.

PUBLICAÇÕES
Anuário dos Trabalhadores | Anuário dos Trabalhadores de Santa Catarina|
Boletim DIEESE Edição Especial | Divulgação DIEESE (ICV-DIEESE,
Pesquisa Nacional da Cesta Básica, Salário Mínimo Necessário e Bancos
de Dados) | Divulgação PEDs - São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Salva-
dor, Belo Horizonte e Recife | Estudos Setoriais DIEESE | Estudos
Regionais DIEESE | Kits de seminários – Coleção Seminários de Nego-
ciação | Pesquisa DIEESE (temas de interesse do Movimento Sindical)
| Seminários e Eventos DIEESE | Série Emprego e Desenvolvimento
Tecnológico.
DIREÇÃO SINDICAL EXECUTIVA
Wagner Firmino Santana STI Metalúrgicas do ABC - presidente
Mônica Oliveira L. Veloso STI Metalúrgicas de Osasco - vice-presidente
Carlos Andreu Ortiz STI Metalúrgicas de São Paulo - secretário
Antonio Sabóia B. Junior SEE Bancários de São Paulo - diretor
Paulo de Tarso G. Paixão STI Energia Elétrica de Campinas - diretor
Zenaide Honório Associação dos Professores do Ensino Oficial
do Estado de São Paulo/Apeoesp - diretora
Clementino Tomaz Vieira STI Metalúrgicas de Curitiba - diretor
Paulo de Tarso G. B. Costa Sind. Energia Elétrica da Bahia - diretor
Hugo Perez STI Energia Elétrica de São Paulo - diretor
Ivo Wanderley Matta SE Centrais de Abastecimento de Alimentos de
São Paulo/Sindbast- diretor
Mara Luiza Feltes SEE Assessoria Perícias de Porto Alegre -
diretora

DIRETORIA TÉCNICA
Clemente Ganz Lúcio Diretor Técnico
Ademir Figueiredo Coordenador de Relações Sindicais
Vera Lúcia Mattar Gebrim Coordenadora de Pesquisas

EQUIPE TÉCNICA RESPONSÁVEL


Daniel Passos | Fausto Augusto Junior | Geni Marques | Liliane Resende
Luis Paulo Bresciani | Marlene Goldstein | Max Leno de Almeida
Nelson de Chueri Karam | Sirlei Márcia de Oliveira

EQUIPE DE APOIO
Ana Georgina da Silva Dias | Célia Regina Pedroso Laronga | Cláudia Fragozo
Eliana Martins Pereira | José Silvestre Oliveira do Prado | Lúcia Santos Garcia
Luis Moura Ferreira | Patrícia Pereira da Silva | Mônica Aparecida da Silva

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