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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
COLEGIADO DE SERVIÇO SOCIAL
PSICOLOGIA SOCIAL
YURI SÁ OLIVEIRA SOUSA
SALVADOR
2018
A ESTRUTURA DAS RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO -
UMA ANÁLISE PSICOSSOCIAL DO FILME MEAN GIRLS
O filme relata a história de Cady, que após 12 anos vivendo na África com seus pais,
retorna aos Estados Unidos iniciando o ensino médio, com o detalhe que por todo esse tempo
ela obtinha ensino domiciliar. É a partir daí que a história se desenrola, com Cady se
infiltrando no grupo das patricinhas, The Plastics, influenciada pelos seus novos amigos, Janis
e Damian, após descobrir a existência de um livro, “Burn Book”, que continha fofocas e
comentários maldosos escritos pelas The Plastics. O conteúdo do livro é exposto para todo o
colégio ao longo da trama, o que gera uma onda de violência entre as garotas e,
posteriormente, durante uma “sessão de terapia em grupo”, elas se abrem sobre as formas
como se sentiam naquele ambiente escolar, principalmente pelas ofensas e violências que
sofreram.
É certo que o filme relata o contexto de pequenos grupos, mas expõe de diversas
maneiras os tipos de relações entre esses pequenos grupos que constituem um maior: o de
estudantes do ensino médio, que ingressam no ambiente escolar tanto para terminar o ensino
básico, quanto como preparação para a universidade e mercado de trabalho. Durante esse
trajeto, os estudantes buscam se inserir em grupos, ser aceitos por eles e reforçar sua posição
neles (TORRES, 2013). É com esse objetivo que Cady se insere no grupo constituído por
Janis e Damian, e posteriormente migrando para o The Plastics. Esse processo migratório não
é incomum, visto que Cady estava em situação de mudança social.
Ao migrar para o outro grupo, Cady começa a agir de maneira mimada e egoísta como
as The Plastics que antes eram criticadas por Cady e seu antigo grupo. Essa diferenciação
grupal ocorre em todo e qualquer grupo social, visto que serve forma de sobrevivência,
destacando positivamente seu grupo em detrimento negativo de outro. No entanto, segundo
Torres, o etnocentrismo daria origem às relações de preconceito e discriminação sobre grupos
vistos negativamente. Isso ocorre em diversas perspectivas como forma de afirmar o grupo de
pertença como correto, e ligando os outros grupos a estereótipos negativos, como verdade
absoluta e que por isso eles são “piores”, “ruins”.
No filme Mean Girls, que possui seu ambiente nas relações no ensino médio, é
possível exemplificar inúmeros reflexos dos estereótipos. A primeira aparição se dá logo no
início do filme relacionado a raça e a etnia, com as boas-vindas para Cady, que veio da
África, onde a professora sem saber de quem se tratava, se dirigiu automaticamente para a
aluna negra na sala, sendo que esta era de Michigan e pelo estereótipo cultivado na sociedade,
a professora não cogitou que Cady fosse da África por ser branca. Este estereótipo aparece
mais duas vezes, quando perguntam o porquê Cady é branca, já que ela é da África, partindo
assim do pressuposto, que no continente africano apenas há pessoas negras. Além disso,
quando esta chega na cantina, se dirige a um grupo formado majoritariamente por negros com
uma saudação africana, reforçando a ideia de que por serem negros, seriam automaticamente
de origem africana.
Diante disso, podemos definir a atitude como avaliações e deduções que podem ser
positivas ou negativas, relacionadas aos estereótipos, nais quais criamos e nutrimos
determinadas atitudes sobre indivíduos ou grupos. A atitude pode ser entendida como algo
mais fixo, estático, no qual não se altera com tanta frequência. Já o comportamento se trata do
agir, onde nem sempre ele é condizente com a atitude do indivíduo, devido a diversos fatores,
como por exemplo, a pressão social ou a situação do momento. Logo, o comportamento não é
algo tão estático quanto a atitude, apesar de certa forma, eles estarem relacionados entre si.
Em Mean Girls, em uma cena no refeitório, Janis explica a sua mais nova amiga Cady
como funciona as divisões de grupos no momento da refeição. Diversos atributos carregados
de estereótipos, e em sua maioria negativos, são citados para definir os alunos, criando um
status e gerando assim, o preconceito. Podemos compreender então, que “o preconceito é uma
atitude negativa dirigida a uma pessoa ou a um grupo, que resulta de uma comparação social
na qual o indivíduo (preconceituoso) ou o seu grupo de pertencimento é tomado como
referência positiva” (JONES, 1972, p. 3-4 apud LIMA, M. E. O, 2013, p. 592). Há também o
Burn Book, um livro secreto onde as Poderosas dedicam uma página para cada menina da
escola e escrevem concepções negativas e estereotipadas sobre elas, podendo ser definido
como preconceito e até mesmo discriminação, quando no final do filme cópias das páginas do
livro são distribuídas pela escola.
Para entender exclusão social, é preciso compreender que ser excluído socialmente
significa estar incluído ao mesmo tempo, revelando no fenômeno um caráter dialético de
exclusão/inclusão. Essa forma dialética de relação entre os sujeitos não é uma negação da
ordem – pensando na mesma não como uma uniformidade padronizada, mas em uma
integração da diversidade –, ela é necessária para que o sistema funcione. “Em síntese, a
exclusão é processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais,
políticas, relacionais e subjetivas” (SAWAIA, 2013 p. 9), em que o excluído não está
marginalizado, ele “repõe e sustenta a ordem social, sofrendo muito neste processo de
inclusão social” (SAWAIA, 2013 p. 12). Em Mean Girls, existem pequenos grupos sociais
formados pelos estudantes do filme, inclusive um grupo dos “excluídos”, mostrando-nos essa
dialética de exclusão/inclusão. As pessoas são excluídas socialmente por suas diferenças, e
para tratar do assunto a Psicologia Social abre o leque para determinantes psicológicos, indo
além dos sociohistóricos, sem opor um ao outro, para entender como os indivíduos são
construídos e se tornam distintos. Uma teoria psicossocial que exemplifica o estudo da
Psicologia Social sobre exclusão é a teoria da frustração, que seria o indivíduo ter um
comportamento violento com pessoas mais acessíveis e frágeis por causa de um trauma
particular.
Vivemos em uma sociedade que ao mesmo tempo que cultua a liberdade e
diversidade, aceita discriminações aos diferentes. O filme é a representação de um mundo
adolescente ocidental, mesmo que caricato: repleto de estereótipos, preconceitos,
discriminações representados por comportamentos sutis, uma necessidade exacerbada de se
encaixar em um grupo e disputa de ego. Não havia um interesse das Poderosas em que todas
as garotas fossem como elas, na verdade, queriam parecer melhores e servir de espelho para
as outras.
No texto de Jodelet (2013 p. 58), vemos que “a exclusão corresponde aqui a um
sentimento de incompatibilidade entre os interesses coletivos próprios às comunidades em
contato e o temor de uma "privação fraterna" afetando as posições e privilégios daquela à qual
pertencemos”, e as Poderosas, principalmente Regina George, estavam dispostas a destruir
quem pudesse retirar os seus privilégios e a sua “realeza adolescente”, como visto no filme. É
como se as outras meninas fossem menores e menos interessantes, já que os diferentes são
rejeitados não somente por não andar com elas, mas também por “todas as riquezas
espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão cultural”
(WANDERLEY, 2013 p. 17-18). Dessa forma, podemos ver a exclusão a partir de força de
poder e uma submissão à autoridade. Existem várias experiências científicas que mostram
como as relações de poder afetam nossas escolhas, como por exemplo, o experimento de
Milgram q ue assistimos em sala.
No filme, as meninas pertencentes ao grupo das Poderosas estavam condicionadas à
figura de Regina George, a líder, reproduzindo suas ideologias e regras. Porém, no momento
em que Regina engorda e não consegue mais vestir suas roupas, é expulsa da mesa do almoço
pelas outras integrantes do grupo por não cumprir regras que a mesma criou. Dessa forma,
vemos que a exclusão social pode vir também através de fenômenos já citados: preconceito,
discriminação e estereótipos que “se alimentam do discurso social e de sua retórica (Billig,
1987) para servir às forças de poder na regulação das relações entre grupos que se confrontam
em situações sociais e políticas concretas” (JODELET, 2013 p. 64).
A forma como a categorização social pode acabar resultando em exclusão social, é
pela segmentação do “meio social em classes cujos membros são considerados como
equivalentes em razão de características, ações e intenções comuns” (JODELET, 2013 p. 60),
generalizando os indivíduos a partir de estereótipos e os colocando em uma bolha. A partir
disso, são criados grupos e cada indivíduo defende e favorece o seu em detrimento dos outros.
A explicação é que alteramos e/ou moldamos nossa própria identidade por uma necessidade
de pertencimento social, levando em conta que o “modo de se relacionar com seu grupo é
tributário de status que este último goza socialmente” (JODELET, 2013 p. 62). Ou seja, quem
pertence a grupos dominantes possui as particularidades acentuadas e se diferenciam em suas
identidades, enquanto os grupos dominados procuram uma homogeneização aos estereótipos
que lhe atribuem. No momento em que Cady, em Mean Girls, se sente pertencente do grupo
das Poderosas, ela começa a se comportar como elas e a mudar a sua personalidade para se
encaixar no grupo, mesmo que de forma inconsciente.
Entendendo que “preconceitos e estereótipos se alimentam do discurso social e de sua
retórica (Billig, 1987) para servir às forças de poder na regulação das relações entre grupos
que se confrontam em situações sociais” (JODELET, 2013 p. 64), compreende-se que a
exclusão surge desses fenômenos em conjunto com a categorização social e se instaura na
sociedade por reprodução de “geração em geração” e pela mídia. A Psicologia Social se limita
“aos processos psicológicos, cognitivos e simbólicos que podem ou acompanhar a situação da
exclusão ou dela reforçar a manutenção como racionalização, justificação ou legitimação”
(JODELET, 2013 p. 64), mas é a partir da mesma que podemos reconhecer e entender os
fenômenos sociais a partir de um viés psicossocial presentes no filme Mean Girls.
REFERÊNCIAS
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