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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
COLEGIADO DE SERVIÇO SOCIAL
PSICOLOGIA SOCIAL
YURI SÁ OLIVEIRA SOUSA

AMANDA REIS, ANA CAROLINA ASSIS, GABRIELA SARPA,


RANAELLE SOUZA

A ESTRUTURA DAS RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO


MÉDIO – UMA ANÁLISE PSICOSSOCIAL DO FILME ​MEAN GIRLS

SALVADOR
2018
A ESTRUTURA DAS RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO -
UMA ANÁLISE PSICOSSOCIAL DO FILME ​MEAN GIRLS

Desde a infância o ser humano é condicionado a conviver em diferentes grupos sociais


onde, através da socialização, ele é inserido e torna-se membro da sociedade. Existem
diferentes agentes de socialização, onde segundo Musgrave (1979), conforme citado por
França (2013, p. 550), dentre os quatro agentes de socialização mais importantes, uma delas é
a escola. A importância da escola ultrapassa o conceito de apenas transmitir conhecimento,
pois todas elas atuam também transmitindo normas sociais, além de ser ambiente da
construção de grupos sociais. E é dentro desses espaços que os adolescentes estudam, que eles
operam de acordo aos seus grupos de pertença e pela forma como foram socializados.

Nos últimos anos, os adolescentes começaram a denunciar as relações interpessoais e


intergrupais que existem nas escolas, principalmente durante o ensino médio. Adotando o
termo “tóxico” para designar essa fase da vida, relatam em seus depoimentos situações de
violências, ​bullyings​, reprodução de estereótipos de maneira exacerbada, além de exclusão. E
justamente por esses fatores, foi escolhido o filme americano ​Mean Girls para contextualizar
diante das perspectivas apresentadas sobre esse grupo de estudantes.

O filme relata a história de Cady, que após 12 anos vivendo na África com seus pais,
retorna aos Estados Unidos iniciando o ensino médio, com o detalhe que por todo esse tempo
ela obtinha ensino domiciliar. É a partir daí que a história se desenrola, com Cady se
infiltrando no grupo das patricinhas, ​The Plastics​, influenciada pelos seus novos amigos, Janis
e Damian, após descobrir a existência de um livro, “​Burn Book​”, que continha fofocas e
comentários maldosos escritos pelas ​The Plastics​. O conteúdo do livro é exposto para todo o
colégio ao longo da trama, o que gera uma onda de violência entre as garotas e,
posteriormente, durante uma “sessão de terapia em grupo”, elas se abrem sobre as formas
como se sentiam naquele ambiente escolar, principalmente pelas ofensas e violências que
sofreram.

É certo que o filme relata o contexto de pequenos grupos, mas expõe de diversas
maneiras os tipos de relações entre esses pequenos grupos que constituem um maior: o de
estudantes do ensino médio, que ingressam no ambiente escolar tanto para terminar o ensino
básico, quanto como preparação para a universidade e mercado de trabalho. Durante esse
trajeto, os estudantes buscam se inserir em grupos, ser aceitos por eles e reforçar sua posição
neles (TORRES, 2013). É com esse objetivo que Cady se insere no grupo constituído por
Janis e Damian, e posteriormente migrando para o ​The Plastics​. Esse processo migratório não
é incomum, visto que Cady estava em situação de mudança social.

Ao migrar para o outro grupo, Cady começa a agir de maneira mimada e egoísta como
as ​The Plastics que antes eram criticadas por Cady e seu antigo grupo. Essa diferenciação
grupal ocorre em todo e qualquer grupo social, visto que serve forma de sobrevivência,
destacando positivamente seu grupo em detrimento negativo de outro. No entanto, segundo
Torres, o etnocentrismo daria origem às relações de preconceito e discriminação sobre grupos
vistos negativamente. Isso ocorre em diversas perspectivas como forma de afirmar o grupo de
pertença como correto, e ligando os outros grupos a estereótipos negativos, como verdade
absoluta e que por isso eles são “piores”, “ruins”.

Através desse curso de comparação, positiva x negativa, os indivíduos buscam “[...]


alcançar um tipo de identidade social que contribui para obter uma autoimagem positiva”
(TORRES, 2013, p. 532). O processo de identidade social, como forma de aumentar a
autoestima do sujeito que se vê como membro do grupo ou categoria social, constitui-se
através da valorização do endogrupo e a desvalorização do exogrupo. Podendo suceder
situações e discursos discriminatórios sobre o exogrupo. Isso não se trata de um desvio de
caráter, pois as relações intergrupais são reguladas pelas ideologias e estereótipos (LEWIN,
1948 ​apud ​TORRES, 2013, p. 521).

Segundo os conceitos da Psicologia Social, o estereótipo é a base dos preconceitos,


sendo ele atribuições de concepções à grupos sociais, que são socialmente compartilhadas nas
relações, onde o similar é melhor aceito e as diferenças são rejeitadas, podendo ser positivos,
negativos ou neutros. Eles atuam fortemente na formação da autoimagem, estando tão
intrínsecos que são levados como verdade, transformando assim, as descrições de identidades.
É possível o mensurarmos, observando e mediando as avaliações feitas, e pelos adjetivos que
geralmente são atribuídos a um determinado grupo social.

Em nossa vida social realizamos o processo de agrupamento, que consiste em


categorizar e separar pessoas em grupos para sabermos como lidar com cada situação, pessoa,
e/ou grupo social, realizando o processo de julgamentos relacionados ao gênero, vestimenta,
etnia, classe social, profissão, entre outros. Porém, a sociedade e suas relações são
desenvolvidas historicamente, surgindo os paradigmas e estereótipos que são perpetuados em
todos os âmbitos do corpo social, principalmente no período escolar. Sendo as relações na
adolescência, permeadas pela escola um reflexo da sociedade, possui hierarquias,
categorizações e, principalmente, reprodução de estereótipos.

Como previamente citado, os estereótipos estão inseridos em toda a sociedade, e na


escola é uma das primeiras instituições que este se apresenta e se reproduz. O bullying é um
exemplo vivo e alarmante na adolescência, por ser a época de desenvolvimento físico, pessoal
e social que muitas vezes torna-se determinante para a vida adulta. Segundo uma pesquisa
realizada pela ONU, com 100 mil crianças e adolescentes no ano de 2017, quase metade deles
sofreu bullying alguma vez na vida, seja por diferentes motivos, como gênero, raça, etnia,
orientação sexual, religião, etc.

No filme Mean Girls, que possui seu ambiente nas relações no ensino médio, é
possível exemplificar inúmeros reflexos dos estereótipos. A primeira aparição se dá logo no
início do filme relacionado a raça e a etnia, com as boas-vindas para Cady, que veio da
África, onde a professora sem saber de quem se tratava, se dirigiu automaticamente para a
aluna negra na sala, sendo que esta era de Michigan e pelo estereótipo cultivado na sociedade,
a professora não cogitou que Cady fosse da África por ser branca. Este estereótipo aparece
mais duas vezes, quando perguntam o porquê Cady é branca, já que ela é da África, partindo
assim do pressuposto, que no continente africano apenas há pessoas negras. Além disso,
quando esta chega na cantina, se dirige a um grupo formado majoritariamente por negros com
uma saudação africana, reforçando a ideia de que por serem negros, seriam automaticamente
de origem africana.

Ao longo do filme ocorre também estereótipos relacionados à orientação sexual,


quando a personagem Regina afirma que não chamaria uma lésbica para uma festa na piscina
só com meninas, alegando que por ser lésbica, ela assediasse as demais, além do momento em
que apresentando Damian a Cady, personagem principal, dizendo que "ele é gay demais". Há
também o relacionado a personagem Karen, na qual é loira e a estereotipam como “loira
burra” e “galinha”, além dos xingamentos durante o filme por suas amigas e pelos demais
personagens, o que contribui para que ela aceite o estereótipo que a foi atribuída, o levando
como verdade. Pelo filme ter seu ambiente demarcado pela escola no ensino médio, é
reforçado em diversas cenas as divisões entre grupos de menor e maior ascensão social, sendo
algo recorrente em escolas fora da ficção, em uma demarcação de inúmeros estereótipos que
os adjetivam, como calouros (freshmen), nerds asiáticos (Asian nerds), atletas (varsity jocks),
negros gostosos não amigáveis (unfriendly black hotties), garotas que comem demais (girls
who eat their feelings), garotas que não comem nada (girls who don't eat anything),
desesperados por ascensão social (desperate wannabes), As Plasticas (The Plastics), etc., que
leva Cady a aceitar a “ordem natural” do colégio e reproduzi-las. Sendo assim, é possível
perceber o quão a escola é reflexo das demais relações sociais e como os estereótipos nos faz
reproduzir discurso que sequer paramos para analisar e ponderar antes de passa-lo à frente,
podendo chegar ao preconceito e à discriminação.

As pessoas em situação de argumentação estão não apenas evocando simples


concepções de mundo contidas no senso comum, mas reproduzindo concepções que,
muitas vezes, mostram-se contraditórias e incoerentes. Isto se deve ao fato de que as
crenças do senso comum representam uma síntese de cada momento ideológico do
passado, tendo assim uma natureza descontínua e pontual. A coerência fica a cargo
da interpretação de quem usa tais concepções. (GOUVEIA, R., 2013, p.406)

Para compreendermos melhor os conceitos de preconceito e discriminação, recorrentes


inclusive nos espaços escolares, se faz necessária a diferenciação da concepção de ​atitude e
comportamento para a Psicologia Social — definições nas quais utilizamos de formas
confusas e indistintas no dia a dia, podendo confundi-las durante a identificação desses
fenômenos, comprometendo o entendimento sobre o assunto.

Diante disso, podemos definir a atitude como avaliações e deduções que podem ser
positivas ou negativas, relacionadas aos estereótipos, nais quais criamos e nutrimos
determinadas atitudes sobre indivíduos ou grupos. A ​atitude pode ser entendida como algo
mais fixo, estático, no qual não se altera com tanta frequência. Já o ​comportamento se trata do
agir, onde nem sempre ele é condizente com a atitude do indivíduo, devido a diversos fatores,
como por exemplo, a pressão social ou a situação do momento. Logo, o comportamento não é
algo tão estático quanto a atitude, apesar de certa forma, eles estarem relacionados entre si.

Isto posto, os conceitos de preconceito e discriminação aparecem de maneira mais


descomplicada, pois ao contrário do uso da palavra, que normalmente fazemos fora do
ambiente acadêmico de maneira inexata, na Psicologia Social o preconceito é lido como uma
atitude negativa direcionada a alguém ou a algum grupo social, isto é, uma concepção
desagradável, geralmente voltada para grupos desvalorizados, como por exemplo, pessoas
gordas, mulheres e negros (LIMA, M. E. O, 2013, p. 591-592).

Em Mean Girls, em uma cena no refeitório, Janis explica a sua mais nova amiga Cady
como funciona as divisões de grupos no momento da refeição. Diversos atributos carregados
de estereótipos, e em sua maioria negativos, são citados para definir os alunos, criando um
status e gerando assim, o preconceito. Podemos compreender então, que “o preconceito é uma
atitude negativa dirigida a uma pessoa ou a um grupo, que resulta de uma comparação social
na qual o indivíduo (preconceituoso) ou o seu grupo de pertencimento é tomado como
referência positiva” (JONES, 1972, p. 3-4 apud LIMA, M. E. O, 2013, p. 592). Há também o
Burn Book, um livro secreto onde as Poderosas dedicam uma página para cada menina da
escola e escrevem concepções negativas e estereotipadas sobre elas, podendo ser definido
como preconceito e até mesmo discriminação, quando no final do filme cópias das páginas do
livro são distribuídas pela escola.

Podemos conceituar, dessa maneira, que “a manifestação comportamental do


preconceito é a discriminação — as ações realizadas para preservar ou criar vantagens de um
grupo em detrimento dos membros do grupo de comparação” (JONES, 1972, p. 3-4 apud
LIMA, M. E. O, 2013, p. 592). A discriminação é a ação negativa contra outras pessoas ou
grupos, o comportamento discriminatório. Como na cena do filme, por exemplo, quando a
líder das Poderosas, Regina George explica para Cady que um dia foi muito amiga de Janis,
porém houve uma discussão devido ao fato de Regina não convidar Janis para sua festa na
piscina de meninas porque segundo ela, Janis era lésbica e ela não poderia chamar uma
lésbica para sua festa. Além disso, há um conjunto extenso de regras criadas pelas Poderosas
para as integrantes do grupo, de forma que os outros grupos sejam definidos como
socialmente inaceitáveis, “um desastre social”. Em uma cena, a própria Regina George é
mandada para longe da mesa das Poderosas por vestir um moletom em um dia inapropriado,
segundo as regras delas.

Apesar do longa-metragem apresentar um conceito caricato dos estudantes


adolescentes americanos, é possível perceber diferentes fenômenos da Psicologia Social e
reconhecer diferentes acontecimentos citados no filme como algo presente nas escolas reais.
Diante do bullying recorrente em escolas, além de afetar os adolescentes psicologicamente, os
comportamentos discriminatórios acabam sendo naturalizados, onde até mesmo filmagens
feitas pelas câmeras de celular são expostas na internet, onde praticam ​cyberbullying.​

Em uma pesquisa de Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar feita pela


Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), as taxas mais elevadas de discriminação
entre os estudantes são de 96,5% em relação a portadores de necessidades especiais, 94,2%
discriminação étnica-racial, 93,5% em relação ao gênero. Como mostra o filme Mean Girls,
os estereótipos, a rivalidade feminina e a competição tornam o ambiente escolar ainda mais
tóxico para esses adolescentes em formação. Segundo uma pesquisa feita pela Unifesp, 13,8%
das meninas já sofreram algum tipo de violência nas escolas que estudam, com 12,1% de
meninos vítimas.

Todavia, é imprescindível que a instituição estimule a aproximação desses


adolescentes, visto que

a redução [dos preconceitos e discriminações] só vai acontecer se a convivência tiver


metas claras em conjunto, se, em um processo de avaliação de desempenho, estiver
incluído um item relativo à inclusão de membros diferentes. Essa convivência de
grupos diferentes foi objeto de estudos da Teoria da Hipótese de Contato (Devine,
1995). Outra possibilidade, ainda nessa linha, é, em um processo de recrutamento e
seleção, haver um peso grande para que pessoas diferentes sejam selecionadas,
valorizando -se e destacando -se a diferença que elas possuem. (PÉREZ-NEBRA, A.
R.; JESUS, J. G, 2011, p. 233)

Para entender exclusão social, é preciso compreender que ser excluído socialmente
significa estar incluído ao mesmo tempo, revelando no fenômeno um caráter dialético de
exclusão/inclusão. Essa forma dialética de relação entre os sujeitos não é uma negação da
ordem – pensando na mesma não como uma uniformidade padronizada, mas em uma
integração da diversidade –, ela é necessária para que o sistema funcione. “Em síntese, a
exclusão é processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais,
políticas, relacionais e subjetivas” (SAWAIA, 2013 p. 9), em que o excluído não está
marginalizado, ele “repõe e sustenta a ordem social, sofrendo muito neste processo de
inclusão social” (SAWAIA, 2013 p. 12). Em ​Mean Girls​, existem pequenos grupos sociais
formados pelos estudantes do filme, inclusive um grupo dos “excluídos”, mostrando-nos essa
dialética de exclusão/inclusão. As pessoas são excluídas socialmente por suas diferenças, e
para tratar do assunto a Psicologia Social abre o leque para determinantes psicológicos, indo
além dos sociohistóricos, sem opor um ao outro, para entender como os indivíduos são
construídos e se tornam distintos. Uma teoria psicossocial que exemplifica o estudo da
Psicologia Social sobre exclusão é a ​teoria da frustração​, que seria o indivíduo ter um
comportamento violento com pessoas mais acessíveis e frágeis por causa de um trauma
particular.
Vivemos em uma sociedade que ao mesmo tempo que cultua a liberdade e
diversidade, aceita discriminações aos diferentes. O filme é a representação de um mundo
adolescente ocidental, mesmo que caricato: repleto de estereótipos, preconceitos,
discriminações representados por comportamentos sutis, uma necessidade exacerbada de se
encaixar em um grupo e disputa de ego. Não havia um interesse das Poderosas em que todas
as garotas fossem como elas, na verdade, queriam parecer melhores e servir de espelho para
as outras.
No texto de Jodelet (2013 p. 58), vemos que “a exclusão corresponde aqui a um
sentimento de incompatibilidade entre os interesses coletivos próprios às comunidades em
contato e o temor de uma "privação fraterna" afetando as posições e privilégios daquela à qual
pertencemos”, e as Poderosas, principalmente Regina George, estavam dispostas a destruir
quem pudesse retirar os seus privilégios e a sua “realeza adolescente”, como visto no filme. É
como se as outras meninas fossem menores e menos interessantes, já que os diferentes são
rejeitados não somente por não andar com elas, mas também por “todas as riquezas
espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão cultural”
(WANDERLEY, 2013 p. 17-18). Dessa forma, podemos ver a exclusão a partir de força de
poder e uma submissão à autoridade. Existem várias experiências científicas que mostram
como as relações de poder afetam nossas escolhas, como por exemplo, o ​experimento de
Milgram q​ ue assistimos em sala.
No filme, as meninas pertencentes ao grupo das Poderosas estavam condicionadas à
figura de Regina George, a líder, reproduzindo suas ideologias e regras. Porém, no momento
em que Regina engorda e não consegue mais vestir suas roupas, é expulsa da mesa do almoço
pelas outras integrantes do grupo por não cumprir regras que a mesma criou. Dessa forma,
vemos que a exclusão social pode vir também através de fenômenos já citados: preconceito,
discriminação e estereótipos que “se alimentam do discurso social e de sua retórica (Billig,
1987) para servir às forças de poder na regulação das relações entre grupos que se confrontam
em situações sociais e políticas concretas” (JODELET, 2013 p. 64).
A forma como a categorização social pode acabar resultando em exclusão social, é
pela segmentação do “meio social em classes cujos membros são considerados como
equivalentes em razão de características, ações e intenções comuns” (JODELET, 2013 p. 60),
generalizando os indivíduos a partir de estereótipos e os colocando em uma bolha. A partir
disso, são criados grupos e cada indivíduo defende e favorece o seu em detrimento dos outros.
A explicação é que alteramos e/ou moldamos nossa própria identidade por uma necessidade
de pertencimento social, levando em conta que o “modo de se relacionar com seu grupo é
tributário de status que este último goza socialmente” (JODELET, 2013 p. 62). Ou seja, quem
pertence a grupos dominantes possui as particularidades acentuadas e se diferenciam em suas
identidades, enquanto os grupos dominados procuram uma homogeneização aos estereótipos
que lhe atribuem. No momento em que Cady, em ​Mean Girls,​ se sente pertencente do grupo
das Poderosas, ela começa a se comportar como elas e a mudar a sua personalidade para se
encaixar no grupo, mesmo que de forma inconsciente.
Entendendo que “preconceitos e estereótipos se alimentam do discurso social e de sua
retórica (Billig, 1987) para servir às forças de poder na regulação das relações entre grupos
que se confrontam em situações sociais” (JODELET, 2013 p. 64), compreende-se que a
exclusão surge desses fenômenos em conjunto com a categorização social e se instaura na
sociedade por reprodução de “geração em geração” e pela mídia. A Psicologia Social se limita
“aos processos psicológicos, cognitivos e simbólicos que podem ou acompanhar a situação da
exclusão ou dela reforçar a manutenção como racionalização, justificação ou legitimação”
(JODELET, 2013 p. 64), mas é a partir da mesma que podemos reconhecer e entender os
fenômenos sociais a partir de um viés psicossocial presentes no filme ​Mean Girls​.
REFERÊNCIAS

MEAN Girls​. Produção de Lorne Michaels, Tony Shimkin e Louise Rosner. Broadway:
BROADWAY VIDEO, 2004.

JODELET, D. Os processos psicossociais da exclusão. In: SAWAIA, B. (Ed.). ​As artimanhas da


exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social​. Coleção Psicologia social. 13. ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2013. p. 53–66.

SAWAIA, B. Introdução: exclusão ou inclusão perversa?. In: SAWAIA, B. (Ed.). ​As artimanhas da
exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social​. Coleção Psicologia social. 13. ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2013. p. 7-13.

WANDERLEY, M. B. Refletindo sobre a noção de exclusão. In: SAWAIA, B. (Ed.). ​As artimanhas
da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social.​ Coleção Psicologia social. 13. ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2013. p. 16-26.

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LIMA, M. E. O. Preconceito. In: CAMINO, L. et al. (Eds.). . ​Psicologia Social: Temas e Teorias​. 2.
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G1. ​Meninas são alvos mais frequentes de bullying, diz pesquisa da unifesp​. Disponível em: .
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OBSERVATÓRIO BRASIL DA IGUALDADE DE GÊNERO. ​Gênero é o maior motivo de


discriminação nas escolas brasileiras​. Disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2018.
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CAMINO, L. et al. (Eds.). . ​Psicologia Social: Temas e Teorias​. 2. ed. Brasília: Technopolitik, 2013.
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