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BRASIL

Funai faz contato com


indígenas isolados na
Amazônia
Fundação diz que sua maior expedição do tipo em mais de 20 anos
resultou em contatos pacíficos e reencontros emocionantes entre parentes
separados. Equipe também promoveu diálogos para reduzir tensões entre
duas etnias.

Equipe da Funai promoveu encontros entre familiares separados e dialogou sobre possível
conflito com outra etnia
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou nesta sexta-feira (05/04) que a
sua maior expedição em 20 anos para contatar indígenas isolados resultou, até o
momento, em encontros pacíficos e na redução de tensões na Terra Indígena Vale
do Javari, no Amazonas.
"Todos os objetivos da ação foram alcançados, estando a saúde e a segurança dos
indígenas preservada", afirmou a fundação.
A missão, iniciada em março, tinha como principal objetivo evitar um conflito
iminente entre indígenas das etnias Korubo do rio Coari, em situação de isolamento
voluntário, e Matis, que mantêm contato com outros grupos desde a década de
1970.
Ambos vivem na Terra Indígena Vale do Javari, situada no extremo oeste do estado
do Amazonas, na fronteira com o Peru. É uma das maiores terras indígenas
delimitadas do país, com mais de 8 milhões de hectares. O território concentra
provavelmente o maior número de grupos indígenas isolados do mundo, com dez
confirmados e três em estudo.
As tensões entre os dois povos aumentaram nos últimos anos na região. Os Matis
contataram os indígenas Korubo isolados em 2013, inicialmente de maneira
amistosa. Um ano depois, eles instalaram roças próximas à área habitada pelos
Korubo.
A situação se agravou em 2014, quando um grupo de 21 indígenas Korubo rompeu
seu isolamento depois de ser abordado pelos Matis enquanto atravessavam o rio
Branco, resultando em mortes.
Depois do incidente, alguns Korubo migraram para outra região e relataram que os
que ficaram acreditam erroneamente que seus parentes foram mortos por Matis.
Em 2016, os Matis chegaram a invadir uma base da Funai para pedir uma operação
do órgão para solucionar o impasse e evitar possíveis confrontos. Segundo a
fundação, esse grupo indígena acredita que os Korubo isolados estariam planejando
uma vingança.
Os Korubo que deixaram a região, além disso, expressaram desejo de rever seus
parentes que ficaram, a fim de "retomar os laços", de acordo com a Funai. Alguns
deles participaram da expedição e foram responsáveis por fazer o primeiro contato
com o grupo isolado.
A expedição partiu então em busca desses indígenas a fim de viabilizar os encontros
e promover os diálogos. A equipe contou com 30 pessoas, entre elas indigenistas
com até 30 anos de experiência e seis indígenas Korubo, quatro Mayoruna, três
Marubo e quatro Kanamari.
Ao todo, a missão fez contato com 34 índios Korubo isolados, sendo 17 do sexo
masculino e 17 do feminino. A maioria eram crianças e jovens de até 16 anos. Duas
adultas estavam grávidas.
O primeiro contato com indígenas ocorreu em 19 de março, quando a equipe
encontrou dois deles caçando. Por acaso, eram irmãos consanguíneos de um
Korubo que fazia parte da expedição.
"Foi um encontro bastante emocionante. Eles não se viam desde 2015. Foi uma
situação de bastante emoção e choro entre eles, que acreditavam que seu parente
estava morto", afirmou Bruno Pereira, líder da expedição, em um relatório
publicado pela Funai.
Segundo relatou o órgão, a equipe iniciou diálogos com os dois Korubo encontrados
e, no dia seguinte, chegaram outros 22 indígenas que estavam nas proximidades.
Outras duas famílias, compostas por dez indígenas, se aproximaram nos três dias
seguintes.
"Os encontros foram pacíficos, os objetivos foram cumpridos, e informamos os
indígenas isolados sobre a possibilidade de um conflito com o grupo Matis", disse
Pereira.
Segundo o chefe da expedição, o reencontro entre os Korubo foi "extremamente
emocionante e houve muito choro e abraços", já que os indígenas isolados
pensavam que seus familiares haviam morrido quando desapareceram em 2015.
Após os encontros entre familiares, também foram iniciados diálogos para diminuir
a tensão e tentar evitar conflitos de terra em áreas próximas ao rio Coari com os
Matis, que são "irredutíveis" sobre seu desejo de viver na região, afirmou Pereira,
que passou 27 dias na selva amazônica.
Os índios contatados passaram por avaliação médica. "[Todos] gozavam de plena
saúde, com exceção de um homem adulto diagnosticado com malária, que aceitou
com tranquilidade o tratamento durante sete dias", disse a Funai. O grupo foi todo
vacinado.
A Funai adota uma postura de contato zero com os índios isolados, mas, segundo o
chefe da expedição, em situações extremas, como a que envolveu a tensão vivida no
Vale do Javari, é necessária uma aproximação dos especialistas.
O presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, declarou que a expedição é um
marco para o indigenismo moderno, orientada pelo respeito aos direitos dos povos
indígenas.
"Traçou-se um planejamento detalhado, com um corpo técnico extremamente
qualificado, dialogando com povos indígenas da região e em articulação com várias
instituições do Estado, cada uma assumindo o seu papel na execução de atividades
para garantir que a missão indigenista da Funai e Sesai fosse cumprida", afirmou.
Discutida durante o governo de Dilma Rousseff e planejada durante o governo de
Michel Temer, a chamada Expedição de Proteção e Monitoramento de Indígenas
Isolados Korubo do Rio Coari conta com o apoio da Polícia Federal, da Secretaria de
Segurança Pública do estado do Amazonas e do Exército.
EK/ap/efe/ots
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