Você está na página 1de 35

2-29

2.3 Linhas de Transmissão


Os sistemas de transmissão proporcionam à sociedade um benefício
reconhecido por todos: o transporte da energia elétrica entre os
centros produtores e os centros consumidores.

Linhas de Transmissão são condutores através dos quais a energia


elétrica é enviada de um ponto transmissor a um terminal receptor.

O sistema de transmissão de energia elétrica compreende toda rede


que interliga as usinas geradoras às subestações da rede de
distribuição.

Figura 2.22. Sistema de Transmissão.

2.3.1 Equações Gerais de uma Linha de Transmissão

As linhas de transmissão ac possuem resistência, indutância e


capacitância uniformemente distribuídas ao longo da linha. A
resistência consome energia, com perda de potência de RI2. A
indutância armazena energia no campo magnético. A capacitância
armazena energia no campo elétrico.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-30

x
Figura 2.23. Linha de Transmissão com Parâmetros Distribuídos.

As equações gerais das linhas de transmissão em corrente alternada,


senoidal, operando em regime permanente e com parâmetros
distribuídos são:

V(x ) = cosh (γx ) ⋅ Vr + Z C ⋅ senh (γx ) ⋅ I r


1 (2.8)
I(x ) = ⋅ senh (γx ) ⋅ Vr + cosh (γx ) ⋅ I r
ZC
em que
V(x), I(x) Tensão fase-neutro e corrente de linha em qualquer ponto da linha,
medido a partir do terminal receptor.
Vr, Ir Tensão fase-neutro e corrente de linha no terminal receptor.
Zc Impedância característica da linha, Z = z y [Ω], em que z e y são a
c

impedância série e admitância shunt da linha por unidade de comprimento.


γ Constante de propagação que define a amplitude e fase da onda ao longo
da linha, γ = α+jβ = zy [m-1], em que α é a constante de atenuação
[Néper/m] e β constante de fase [rd/m].

A expressão matemática que define γ:

γ = z⋅y = (r + jωL )(g + jωC ) = α + jβ [m-1] (2.9)

em que

α = Re(γ ) =
1
2 
( ) (
rg − ω 2 LC + r 2 + ω 2 L2 g 2 + ω 2 C 2  [Néper1/m]

)( )
β = Im(γ ) =
1 2

2
( ) (
ω LC − rg + r 2 + ω 2 L2 g 2 + ω 2 C 2  [rd/m]

)( )
A solução das equações em V(x) e I(x) permite relacionar tensões e
correntes em qualquer ponto da linha em função de seus valores
terminais de tensão Vr e corrente Ir.

1
Néper (1550-1617), matemático inglês que estabeleceu o conceito de logaritmo.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-31

2.3.2 Linha de Transmissão como Quadripolo

As equações gerais de uma LT com parâmetros distribuídos podem


ser escritas na forma matricial como:

 cosh (γx ) Z C senh (γx )


V(x )   Vr 
= 1
 I( x )  
  senh (γx ) cosh (γx )   I r  (2.10)
Z
 C 

A equação matricial representa o modelo de um quadripolo com duas


portas (entrada/saída), quatro variáveis (Vs, Is, Vr, Ir) e com as
constantes genéricas do quadripolo dadas por:
Is Ir
+ +
Vt A,B,C,D Vr
- -

Figura 2.24. Quadripolo Representativo de uma Linha de Transmissão

A = cosh (γx ) [p.u.]


B = Z C ⋅ senh (γx ) [Ω]
1 B (2.11)
C= ⋅ senh (γx ) = 2 [S]
ZC ZC
D = A [p.u.]

Os parâmetros genéricos ABCD são conhecidos como parâmetros


distribuídos da linha. Para um quadripolo com elementos passivos
tem-se que:
AD – BC = 1 (2.12)

A representação da linha como quadripolo é totalmente adequada


para o cálculo de seu desempenho, do ponto de vista de seus
terminais transmissor e receptor. Entretanto, a representação de um
circuito equivalente é mais adequada, uma vez que a linha estará
interligada a outros componentes no sistema de potência.

2.3.3 Circuito Equivalente de uma Linha de Transmissão

Seja o quadripolo de uma linha de transmissão representado por um


circuito equivalente como mostra a Figura 2.25.
Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br
2-32

It Z Ir

Vt Y1 Y2 Vr

Figura 2.25. Circuito Pi de uma Linha de Transmissão.

Aplicando-se ao circuito Pi da Figura 2.24 a Lei de Kirchhoff para as


tensões e correntes tem-se:

Vt = Vr + Z(I r + Y2 Vr )
(2.13)
= (1 + ZY2 )Vr + ZI r

I t = Y1Vt + (Y2 Vr + I r )
= Y1 [Vr + Z(I r + Y2 Vr )] + Y2 Vr + I r (2.14)
= [Y1 (1 + ZY2 ) + Y2 ]Vr + (1 + ZY1 )I r

Em sendo uma linha de transmissão simétrica, i.é. Y1=Y2 e igual à


metade da admitância shunt total, a representação da linha como um
circuito Π torna-se:
It Ir

Vt Y/2 Y/2 Vr

Figura 2.26. Circuito Pi de uma Linha de Transmissão

E as Equações 2.13 e 2.14 tornam-se:

 ZY 
Vt = 1 + Vr + ZI r (2.15)
 2 

 ZY   ZY 
I t = Y 1 + Vr + 1 + I r (2.16)
 4   2 

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-33

Em forma matricial:

  ZY  
  1+  Z  V 
Vt   2 
I  =   r  (2.17)
 t  Y1 + ZY  1 + ZY   I r 
  4   2 

Assim, os parâmetros genéricos do circuito Pi:

ZY
A=D=1+ [p.u.]
2
B = Z [Ω] (2.18)

 ZY 
C = Y 1 +  [S]
 4 

Da equivalência entre os termos genéricos do modelo Π e do


quadripolo da linha com parâmetros distribuídos, tem-se que:

ZY
1+ = cosh (γx )
2
Z = Z C senh(γx )
 ZY  1
Y 1 + = senh(γx )
 4  ZC
Que resulta em:
Z = Z C ⋅ senh (γl ) [Ω]
Y 1  γl  [S] (2.19)
= tgh  
2 ZC 2

em que l representa o comprimento da linha. O modelo Π quando


definido a partir dos parâmetros distribuídos da linha é denominado de
Pi Equivalente. O modelo Pi Equivalente representa o modelo de
parâmetros concentrados de uma linha longa.

Para uma linha trifásica equilibrada tem-se que a indutância série e a


capacitância em derivação são expressas como:

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-34

µ0  D 
L= Ln  (2.20)
2π  r 

2πε 0
C= (2.21)
D
Ln 
r
em que

L Indutância da linha por unidade de comprimento [H/m]


C Capacitância da linha por unidade de comprimento [F/m]
D Distância entre os condutores [m]
r Raio do condutor [m]
µ0 Permeabilidade magnética do vácuo, µ0 = 4π x 10-7 [H/m]
ε0 Permissividade do vácuo, ε0 = 8,854 x 10-12 [F/m]

Quando uma linha é de comprimento médio os parâmetros da linha Z


e Y podem ser obtidos pelo produto de z.l e y.l, em que l representa o
comprimento da linha. Neste caso a linha é modelada pelo circuito Pi
Nominal.
Z=z.l
It Ir

Vt Y/2=y.l/2 Y/2=y.l/2 Vr

Figura 2.27. Circuito Pi Nominal

Uma linha quer representada pelo modelo Pi Equivalente, quer pelo


modelo Pi Nominal pode ser representada pela associação em série.
Isto permite a análise de tensões e correntes em pontos
intermediários entre terminal transmissor e receptor.

Z Z

~ Y/2 Y/2 Y/2 Y/2 Carga

Figura 2.28 Associação Série de Modelo Pi

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-35

Para linhas curtas, a capacitância pode ser desprezada e o quadripolo


de uma linha é representado por um circuito equivalente como
mostrado na Figura 2.29 com Z=z.l.

Z
It Ir

Vt Vr

Figura 2.29. Circuito Equivalente de uma Linha de Transmissão Curta.

Neste caso tem-se que:

It = Ir
(2.22)
Vt = Vr + ZI t

A equação matricial torna-se:

Vt  1 Z Vr 
 I  = 0 1   I  (2.23)
 t   r 

e as constantes genéricas
A=D=1
B=Z (2.24)
C=0

Tabela 2.1 Sumário dos Parâmetros Genéricos ABCD de uma LT


Parâmetros A=D B C
Unidade Por Unidade Ω S
Linha Curta (<100km) 1 Z=z.l 0
Linha Média: YZ (yl)(zl)  YZ   (yl)(zl) 
Circuito Π Nominal
1+ =1+ Z=z.l Y 1 +  =yl 1 + 
2 2  4   4 
(100 a 250km)
Linha Longa: cosh(γl) ZCsenh(γl) 1
senh(γl)
Circuito Π Equivalente ZC
(>250km)
Linha longa sem perdas cos(βl) jZC.sen(βl) 1
R=G=0 j sen(βl)
ZC

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-28

2.4 Transformadores Monofásicos

São equipamentos empregados para “elevar” ou “abaixar” as tensões


entre os subsistemas de um sistema elétrico. Os transformadores são
os equipamentos mais caros em uma subestação de transmissão ou
de distribuição. São compostos basicamente de enrolamentos e
núcleo.

As principais partes componentes de um transformador de distribuição


são: tanque com aletas de refrigeração, óleo isolante e refrigerante
(óleo mineral); buchas de alta e baixa tensão, núcleo magnético,
enrolamentos de alta e baixa tensão, tapes das bobinas do
transformador (manual ou automático), e papel isolante envolvendo os
condutores (bobinas) e as cabeças das bobinas.

Os transformadores podem ser projetados para diferentes aplicações:


ƒ Transformador de potência que será estudado com mais detalhe
como unidade monofásica e trifásica.
ƒ Transformador de instrumentação – projetado para aplicações de
medição e faturamento, sendo construídos, em geral, de modo a
garantir precisão e linearidade.
ƒ Transformadores de comando e controle – são os transformadores
de pulso, utilizados para disparar (gatilhar) tiristores ou comandar
outros tipos de interruptores eletrônicos. Normalmente possuem
relação 1:1 e seu objetivo principal é fornecer isolação galvânica.
ƒ Transformadores para baixa e alta freqüência.

A Tabela 2.2 resume as características comparativas dos


transformadores:

Tabela 2.2 Características comparativas de Transformadores


Tipo
Características Alta Freqüência Baixa Freqüência
Freqüência de operação kHz ou MHz 50/60 Hz
Material do núcleo Ferrite ou ar Aço-silício laminado ou
ligas amorfas
Aplicações Fontes chaveadas Sistemas de potência
Conversores de alta Geração, transmissão e
freqüência distribuição

Um transformador real apresenta os seguintes pressupostos:


ƒ Os enrolamentos têm resistência.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-29

ƒ A permeabilidade do núcleo µc é finita o que implica na existência


de relutância magnética.
ƒ O fluxo magnético não se mantém inteiramente confinado ao
núcleo.
ƒ O núcleo apresenta perdas de potência ativa e reativa.

A Figura 2.30 apresenta um modelo de transformador em que todas


as perdas são alocadas externamente aos enrolamentos e núcleo da
máquina. Portanto, no modelo, enrolamentos e núcleo são ideais.

Figura 2.30. Circuito Equivalente de um Transformador Monofásico


com Dois Enrolamentos.

a) Os enrolamentos de primário e secundário estão representados


pelas bobinas N1 e N2 com seus respectivos números de espiras. O
primário de um transformador é designado como aquele que recebe
alimentação, i.é., está conectado à fonte. O secundário, por sua vez,
alimenta ou supre a carga.

Os enrolamentos dos transformadores de potência são isolados e


normalmente imersos em óleo. O óleo exerce duas funções:
− Agente refrigerante - dissipa calor do núcleo e dos enrolamentos.
− Agente isolante - impede as falhas entre espiras.

A capacidade de sobrecarga (MVA) de um transformador é limitada. É


possível aumentar o valor de MVA de um transformador através de
métodos de resfriamento: ventiladores de resfriamento e bombas de
circulação de óleo.

b) E1 é a f.e.m (força eletromotriz) de primário e E2 é a f.e.m. de


secundário as quais são definidas como:

E1 = 4,44N1.φmax.f (2.25)

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-30

E2 = 4,44N2.φmax.f (2.26)

A relação entre E1 e E2 resulta em:

E1 N1
= (2.27)
E2 N2

Em um transformador ideal a potência aparente de primário, S1, é


igual à potência aparente de secundário, S2. Isto significa que toda
energia de primário é transferida ao secundário. Assim

S1 = E1I1* = S2 = E 2I*2 (2.28)


E I  N
a = 1 =  2  = 1 (2.29)
E 2  I1  N2

Portanto, a relação de transformação ‘a’ é constante e igual à relação


direta de tensões induzidas, e inversamente proporcional ao
conjugado da relação de correntes. Em um transformador monofásico,
a relação de transformação de tensão é igual à relação de número de
espiras. Nos transformadores trifásicos esta condição não é mantida,
mas depende do tipo de conexão do transformador.

A relação de transformação ‘a’ embora definida como sendo o número


de espiras da bobina de primário pelo número de espiras da bobina de
secundário não é universal. Alguns autores a definem como sendo
a=N2/N1. Ambas definições estão corretas desde que usadas com
clareza e consistência.

É importante ressaltar que as tensões induzidas são


aproximadamente iguais às tensões terminais do transformador a
vazio. Para calcular a relação de transformação utiliza-se, portanto, as
tensões terminais nominais. As tensões terminais sob condição de
carga variam substancialmente de seus valores nominais devido à
queda de tensão na impedância do transformador.

c) O enrolamento do primário tem resistência R1 e ao ser percorrido


por uma corrente apresenta uma queda de tensão que está em fase
com a corrente. A corrente que circula o enrolamento primário causa
uma perda de potência ativa dada por I2R1.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-31

d) A corrente I1 é responsável pela produção de fluxo magnético no


transformador cujas componentes são fluxo de dispersão e fluxo
mútuo.

e) O fluxo de dispersão é a componente do fluxo que concatena o


próprio enrolamento primário, porém não concatena o enrolamento
secundário. O fluxo de dispersão contribui para uma redução ou
queda nas tensões induzidas nos enrolamentos do transformador.
Para modelar a queda de tensão devido ao fluxo de dispersão, a
reatância de dispersão X1 é introduzida no modelo de circuito em série
com o enrolamento 1. A queda de tensão I1(jX1) é proporcional a I1 e é
adiantada de I1 de 90o. Existe também uma perda de potência reativa
I12X1 associada com a reatância de dispersão.

dφ dφ di di
∆υ(t ) = = ⋅ =L (2.30)
dt di dt dt

A queda de tensão é dada pela variação do fluxo no tempo. Por ser o


fluxo de dispersão através do ar, o termo dφ/di é linear, portanto
constante e representado por L.

f) Analogamente, a resistência R2 e a reatância de dispersão X2 está


representada em série com o enrolamento 2.

g) Um transformador real apresenta permeabilidade magnética finita,


perdas por histerese e perdas por correntes parasitas. Essas
imperfeições podem ser representadas pelo ramo paralelo no lado
primário, assim descrito: Ie, corrente de excitação composta pelas
correntes Im de magnetização, responsável por criar o fluxo mútuo Φm.
Im está atrasada de 90o de E1; e a corrente Ic que alimenta as perdas
no núcleo e está em fase com E1.

N 
Ie = Ic - jIm = (Gc – jBm)E1= I1 -  2  I2 (2.31)
 N1 
IC V2, E2
V1, E1

Im
Ie
Φm

Figura 2.31. Diagrama Fasorial de um Transformador em Vazio.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-32

Gc ou seu inverso Rc representa a perda no núcleo e o calor resultante


das perdas, e Bm, ou seu inverso Xm, representa a medida de
permeabilidade do núcleo do transformador. A corrente Im que flui
através de Xm representa a corrente de magnetização necessária para
criar o fluxo mútuo Φm no núcleo que induz as tensões E1 e E2. Se a
permeabilidade é baixa, Xm é baixa ou Bm é alta.

Note que quando o enrolamento 2 é aberto (I2 =0) e uma tensão V1 é


aplicada no enrolamento 1, a equação acima indica que I1 terá duas
componentes, Ic e Im. É sob esta condição em que as tensões
terminais são aproximadamente iguais às tensões induzidas uma vez
que a corrente que flui no transformador é pequena produzindo uma
pequena queda de tensão em sua impedância série.

f) Associado a Ic está uma perda de potência ativa no núcleo que leva


em conta as perdas por histerese e por correntes parasitas (eddy
current) ou correntes de Foucault.

I c2
Pc = = E12 G c [W] (2.32)
Gc

As perdas por histerese ocorrem devido à variação cíclica do fluxo no


núcleo causando dissipação de calor. A energia gasta no alinhamento
contínuo dos dipolos magnéticos constitui as perdas de histerese.

Figura 2.31. Fluxo Magnético Versus Corrente de Magnetização

As perdas podem ser expressas como:

Ph = k h fB nMAX Vol (2.33)

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-33

em que kh é uma constante que depende das unidades usadas na


equação e do material, f é a freqüência, BMAX é a densidade de fluxo
máxima, e Vol o volume do material magnético. O expoente ‘n’
conhecido como expoente de Steinmetz varia entre 1,5 e 2,5. O
volume pode ser obtido pela massa do núcleo e a densidade do
material magnético Vol=M/δ.

As perdas por histerese podem ser reduzidas pelo uso de ligas de aço
silício de grãos orientados.

As perdas por correntes parasitas ocorrem devido às correntes


induzidas no interior do núcleo, perpendiculares ao fluxo, resultantes
de tensão induzida no material magnético pelo fluxo magnético
variante no tempo. A força eletromotriz ocasiona no núcleo uma
circulação de corrente. Os materiais ferromagnéticos do núcleo, por
sua vez, são também condutores de eletricidade, embora de baixa
condutividade quando comparada ao cobre. Devido a resistência finita
do núcleo, ocorre dissipação de energia devido as perdas ôhmicas.
Essas correntes não apenas resultam na perda de energia no material
magnético, mas também exercem um efeito de desmagnetização no
núcleo. A desmagnetização que é mais acentuada no centro da
superfície transversal do núcleo aumenta a densidade do fluxo
magnético na direção da superfície do material magnético. O
resultado é a distribuição não uniforme do fluxo magnético no núcleo.
Tais perdas podem ser reduzidas construindo o núcleo com lâminas
de liga de aço. As lâminas do núcleo são recobertas com uma
camada isolante a qual cria um caminho de alta resistência entre as
lâminas. Quanto mais fina as lâminas, menores serão as correntes
parasitas.

As perdas de eddy são expressas como:

Peddy = k ef 2 x 2 B2MAX Vol (2.34)

em que ke é uma constante que depende das unidades usadas na


equação e é função da resistividade do material, f é freqüência, x é a
espessura da lâmina, BMAX é a densidade de fluxo máxima, e Vol o
volume do material magnético.

A perda no núcleo magnético é então a soma da perda por histerese e


a perda pelas correntes parasitas.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-34

As perdas por histerese e Foucault contribuem para a elevação de


temperatura do transformador. As perdas ativas totais nos
transformadores de potência correspondem em cerca de até 0,4% da
potência nominal.

g) Associada a Im tem-se a perda de potência reativa expressa como:

I 2m
Qm = = E12 B m [var] (2.35)
Bm

Esta potência reativa é necessária à magnetização do núcleo.

h) A impedância do secundário (R2 + jX2 ) pode ser transferida para o


primário multiplicando (R2 +jX2) por (N1/N2)2.

Sabe-se de 2.27 que:

N1
E1 = ⋅ E2
N2

N2
I1 = ⋅ I2
N1

A relação E1/I1 resulta em:


2
N 
R’1 + jX’1 = (R2 +jX2)  1  (2.36)
 N2 

em que R’1 + jX’1 é a impedância do secundário vista do primário.

Figura 2.32. Circuito Equivalente T do Transformador

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-35

A corrente de excitação (Ie = Ic + Im) corresponde a apenas 5% da


corrente nominal em transformadores de potência e é geralmente
desprezada em estudos em sistemas de potência, a menos que seja
de particular interesse a eficiência do transformador ou fenômenos
relacionados à corrente de excitação.

Figura 2.33. Circuito Equivalente Simplificado do Transformador

A impedância equivalente série é, em geral, avaliada em testes de


curto circuito com injeção de corrente nominal. Durante o ensaio de
curto-circuito, em sendo a tensão de ensaio pequena em relação à
nominal, as perdas no núcleo, que dependem da f.e.m induzida nos
enrolamentos, podem ser completamente desprezadas2. A admitância
paralela é avaliada em teste de circuito aberto quando aplicada tensão
nominal.

Para transformadores com potência nominal acima de 500kW, as


resistências dos enrolamentos, que em geral são menores que as
reatâncias de dispersão, são em geral desprezadas.

Figura 2.34. Circuito Equivalente Simplificado do Transformador

Exemplo 2.1:

Um grande transformador operando em vazio consome uma corrente


de excitação Ie de 5A quando o primário é conectado a uma fonte de
120V, 60Hz. Através da leitura em um Wattímetro tem-se que as

2
Por ser o fluxo proporcional à f.e.m induzida.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-36

perdas no ferro são de 180W. Calcule (a) a potência reativa absorvida


pelo núcleo; (b) o valor de Rc e Xm; (c) O valor de Ic, Im e Ie.

Solução
(i) A potência aparente suprida pela fonte é de

S = V1.Ie = 120x5 = 600 VA

As perdas no núcleo são

Pc = 180 W

A potência reativa absorvida pelo núcleo é

Qc = √(S2 – Pc2) = √(6002 – 1802) = 572 var

(ii) A resistência correspondente às perdas no núcleo é

Rc = V12/Pc = 1202/180 = 80 Ω

A reatância de magnetização é

Xm = V12/Qc = 1202/572 = 25.2 Ω

(iii) A corrente necessária para suprir as perdas no núcleo é

Ic = V1/Rc = 120/80 = 1,5 A

A corrente de magnetização é

Im = V1/Xm = 120/25,2 = 4,8 A

A corrente de excitação é dada por

Ie = √(Ic2 + Im2) = √(1,52 + 4,82) = 5 A

2.5 Transformadores Trifásicos


Em um sistema elétrico trifásico é necessário abaixar ou elevar a
tensão em vários pontos do sistema. Essas transformações podem
ser realizadas através de um transformador trifásico.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-37

Figura 2.35 Transformador de Potência

Os enrolamentos dos transformadores de potência são enrolados em


núcleos do tipo envolvido e envolvente, como mostra a Figura 2.36 a e
b, respectivamente. A eficiência do núcleo envolvido é maior por ser o
fluxo de dispersão menor.

(a)

(b)
Figura 2.36. Núcleo de Transformadores Trifásicos (a) Envolvido (b) Envolvente

Três transformadores monofásicos iguais podem ser conectados para


formar um banco trifásico de transformadores. A teoria é a mesma
para um transformador trifásico, como para um banco trifásico de
transformadores monofásicos. Uma unidade trifásica, i.é., com apenas
um núcleo, contem menos ferro do que três unidades monofásicas e
é, portanto mais barata.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-38

Figura 2.37. Banco Trifásico de Transformadores

Em um transformador trifásico a relação entre a tensão de entrada e a


tensão de saída depende não apenas da relação de transformação
dos transformadores, mas depende da maneira como os
enrolamentos estão conectados. São quatro os tipos básicos de
conexões: Y-Y, Y-∆, ∆-Y, ∆-∆.

Em um transformador monofásico a relação de transformação é


sempre um número real. Isto não é geralmente verdadeiro para um
transformador trifásico. A relação de transformação trifásica pode ser
complexa, da forma:
V1
= a = a ∠α (2.37)
V2

A Equações 2.37 mostra que para uma relação de transformação


complexa, |a|∠α, a transferência de tensão de primário para
secundário, ou vice-versa, pode sofrer mudança não apenas em
magnitude mas também em ângulo de fase. Um ângulo α positivo
indica que a tensão V2 está atrasada de V1, i.é., o transformador
entrega uma tensão atrasada.

Em um transformador trifásico ideal tem-se que:

3V1I1∗ = 3V2 I∗2 (2.38)

Para a corrente tem-se então:

I1 V2∗ 1 1
= ∗ = ∗ = ∠α (2.39)
I 2 V1 a a

Comparando as Equações 2.36 e 2.38, verifica-se que:

∠I1/I2=∠V1/V2=∠α (2.40)

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-39

o que significa que um transformador trifásico sempre confere o


mesmo defasamento para a corrente e tensão.

Com base nas Equações 2.37 e 2.39 tem-se que:

V1 = a ∠α ⋅ V2 (2.41)
1
I1 = ∠α ⋅ I 2 (2.42)
a

A relação entre as Equações 2.41 e 2.42 resulta em:

2
Z1 = a Z2 (2.43)

Portanto, não existe defasamento angular entre as impedâncias de


primário e secundário de um transformador trifásico independente de
qual seja o tipo de ligação.

O número de espiras dos enrolamentos de um transformador é um


dado não fornecido em sua especificação. Em geral, as tensões de
linha de entrada e de saída e a potência nominal trifásica são as
especificações fornecidas.

2.5.1 Transformador Ligado em Y-Y

A conexão em Y-Y de um banco trifásico de transformadores


monofásicos é apresentada na Figura 2.36. Os terminais de saída de
corrente das bobinas de primário e secundário são ligados em um
ponto comum.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-40

Figura 2.38. Banco de Transformadores Conectados em Y-Y

O diagrama fasorial de um transformador trifásico conectado em Y-Y


apresenta uma diferença apenas em magnitude entre as grandezas
do primário e secundário. Os vetores correspondentes, AN-an, BN-bn,
CN-cn, apresentam o mesmo ângulo de fase porque compartilham do
mesmo fluxo através das bobinas de primário e secundário.

C c
VAB
Vab

A a
N n

B b

Figura 2.39. Diagrama Fasorial para Transformador com Ligação Y-Y

Figura 2.40. Transformador Trifásico Conectado Y-Y

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-41

Note que a relação de transformação para um transformador trifásico


com conexão Y-Y é dada quer pela relação de tensão linha-neutro de
primário e secundário, quer pela relação de tensão linha-linha. A
tensão de primário está em fase com a tensão de secundário.

Para uma carga trifásica ZL equilibrada, conectada em Y no


secundário do transformador, a transferência de ZL para o primário do
transformador é dada por:

2 2
 VLN,1  V 
Z 'L = Z L ×   = Z L ×  LL,1
 V

 (2.44)
 VLN, 2   LL, 2 

O circuito equivalente por fase do transformador com impedância


série equivalente vista do secundário é mostrado na Figura 2.41.

Figura 2.41. Circuito Equivalente Por Fase de Transformador Ligado em Y-Y

Devido às características não lineares do material do núcleo, o


transformador ligado em Y-Y aterrado gera harmônicos de corrente,
em particular de 180Hz, que circula via neutro e pode causar
problemas em circuitos de comunicação. Também, em caso de
desbalanceamento no sistema, a corrente de desequilíbrio circulará
pelo neutro.

2.5.2 Transformadores Trifásicos Ligados em Y-∆

Um banco trifásico de transformadores de dois enrolamentos,


conectado em Y-∆ é mostrado na Figura 2.40 a seguir.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-42

Figura 2.42. Banco Trifásico de Transformadores Y- ∆

O diagrama vetorial do banco de transformadores é mostrado na


Figura 2.43. As tensões no lado primário estão representadas em Y,
i.é., VAN, VBN, VCN. As tensões no lado secundário, Vab, Vbc, Vca estão
em fase respectivamente com VAN, VBN, VCN, pois compartilham do
mesmo fluxo magnético e por isto estão representadas vetorialmente
pelo ∆. Observa-se que a tensão Van do secundário está atrasada de
30o da tensão correspondente VAN do primário.

C
VAB c

N
A
b
N
a
VaN Tensão de
secundário
B

Figura 2.43. Diagrama Fasorial de Transformador Ligado em Y-∆

Em um banco trifásico conectado em Y-∆, a relação entre a tensão


linha-neutro de primário e a tensão linha-neutro equivalente de
secundário, tomando-se como referência a tensão Van, é dada por:

VAN
= a ∠ + 30 o (2.45)
Van

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-43

isto é, tensão de secundário Van está atrasada de tensão de primário


VAN.

Na verdade, observando a Figura 2.42 verifica-se que:

 
 N1   N1   N 
VAN =  Vab =   3VaN ∠ + 30 o =  1
∠ + 30 o ⋅ VaN (2.46)
 N2   N2   N 2 
 3 

Comparando-se as Equações 2.45 e 2.46 tem-se que |a| em uma


conexão Y-∆ é igual a:

 
 N   3N 
a = 1
= 1 
(2.47)
 N 2   N 2 

 3

A relação de transformação em termos de tensão de linha é então:

VAB
∠ − 30o
VAN V
= 3 = AB = a ∠ + 30o (2.48)
Van Vab Vab
∠ − 30o
3

A relação de transformação é a mesma para as tensões linha-neutro e


para as tensões linha-linha. Diferentemente do que ocorre em um
transformador Y-Y, em um transformador Y-∆, além da diferença de
magnitude entre as tensões primárias e secundárias existe ainda uma
diferença de fase de 30o, estando a tensão do primário adiantada de
30o da tensão do secundário. Essa diferença de fase só torna-se
relevante quando um outro transformador é colocado em paralelo, o
qual deverá observar o defasamento presente.

Assim, a relação de transformação de um transformador trifásico é


obtida pela relação entre as tensões de linha de primário e
secundário.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-44

(a)

(b)
Figura 2.44. Transformador em (a) Ligado em Y-∆ e
em (b) substituído por seu Equivalente Y-Y

Note que os transformadores da Figura 2.44 (a) com conexão Y-∆ e


(b) com conexão Y-Y são equivalentes sendo o número de espiras no
secundário do equivalente Y em (b) reduzida em √3 (N2/√3 onde N2 é
o número de espiras na conexão ∆) para que um mesmo valor de
tensão por espira seja mantido em relação à condição ∆ (no ∆ a
tensão por espira é VLL/N2, e no Y equivalente a tensão por espira é
(VLL/√3)/(N2/√ 3)).

A representação por fase do circuito equivalente do transformador Y-∆


é mostrado na Figura 2.45, com a impedância série referida ao
secundário, desprezado o ramo shunt.

Figura 2.45. Circuito Equivalente Monofásico de Transformador Conectado em Y-∆

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-45

2.5.3 Transformadores Trifásicos Conectados em ∆-Y

Para um banco trifásico de transformadores conectado em ∆-Y, o


diagrama fasorial e o circuito equivalente são mostrados a seguir.

CA CA c
Vab

BC AB a
AB n
AN
BC b
Figura 2.46 Diagrama Fasorial do Primário em ∆ e Secundário em Y

A relação de transformação para o banco trifásico ∆-Y é dada por:

VAN
= a ∠ − 30 o (2.49)
VaN
VAB
∠ − 30o
VAN V
== 3 = AB = a ∠ − 30o (2.50)
VaN Vab Vab
∠ − 30o
3

Assim, em um transformador ∆-Y a tensão de primário está atrasada


de 30o em relação à tensão de secundário.

Para expressar a relação de transformação ‘a’ em termos do número


de espiras, tem-se:

VAB N 1 3VAN ∠ + 30 o
= =
VaN N 2 VaN

 N1 
VAN  
3
= ∠ − 30 o = a ∠ − 30 o (2.51)
VaN  N 2 
 
 

O circuito equivalente é mostrado na Figura 2.47 abaixo.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-46

Figura 2.47. Circuito Equivalente Monofásico de Transformador Conectado em ∆-Y

2.5.4 Transformadores Trifásicos Ligados em ∆-∆

Para um banco conectado em ∆-∆

VAB VAN
a= = (2.52)
Vab VaN

e o circuito equivalente é o mesmo que para um banco trifásico


conectado em Y-Y.

Figura 2.48. Circuito Equivalente Monofásico de Transformador Conectado em ∆-∆

Assim, a relação de transformação de transformadores trifásicos é


sempre obtida pela relação entre as tensões de linha que é um dado
de placa.

A defasagem entre as tensões de primário e secundário só assume


importância quando transformadores são colocados em paralelo. Uma
importante conseqüência prática do defasamento de ângulo entre
primário e secundário é que a operação de transformadores trifásicos
em paralelo só é possível se as relações de magnitude e de ângulo de
fase são iguais.

2.6 Rendimento

O rendimento de um transformador é dado pela relação entre potência


útil de saída e potência útil de entrada.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-47

Psaída P − Perdas Perdas


η% = = entrada = 1−
Pentrada Pentrada Pentrada
Vs I s cosθ 1 (2.53)
= =
Vs I s cosθ + Perdas 1 + Perdas
Vs I s cosθ

O rendimento depende dos valores da carga e do seu fator de


potência. O rendimento fornecido pelo fabricante, segundo a ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), deve ser referente à
carga nominal do transformador com fator de potência unitário.

As perdas em (2.53) referem-se àquelas nos enrolamentos e no


núcleo do transformador. As perdas podem parecer insignificantes
quando comparadas com a potência nominal do equipamento, porém,
numa opção de compra, definem qual o melhor transformador a ser
adquirido.

Desta forma, na escolha do transformador, não é suficiente apenas


uma análise das condições comerciais dos diversos fabricantes, pois
o custo das perdas pode levar a surpresas desagradáveis.

Este custo pode ser avaliado através do ‘preço capitalizado’ que inclui
as perdas de energia dissipadas no cobre e no material ferro-
magnético dos transformadores, durante determinado período de
funcionamento (normalmente 10 anos).

A capitalização objetiva mostrar ao usuário a influência das perdas do


transformador nos gastos com energia consumida (desperdício). As
fórmulas do preço capitalizado podem ser definidas pelo usuário, no
entanto a concessionária em geral possui fórmulas já estudadas e
ajustadas.

Uma fórmula usualmente empregada consiste em:

PC=PREÇO + [2748,20xPFE + 1557,90xPCU]

em que
PC (US$) Preço capitalizado
PREÇO (US$) Preço do transformador
PFE (kW) Perdas a vazio
PCU (kW) Perdas no cobre

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-48

A seguir exemplos reais de avaliação da importância da perda na


comercialização de transformador.

a) Transformador trifásico de 2500kVA – 69/13,8kV

Fabricante Preço (R$) PFE (kW) PCU (kW) PC (R$)


A 90.265,00 5,00 12,00 122.700,80
B 92.475,00 4,00 12,00 122.162,60
C 85.940,00 6,50 13,50 124.834,95

Verifica-se que o fabricante C ofertou o menor preço (4,8% abaixo do


fabricante A e 7,0% abaixo do B). Entretanto, após a aplicação da
fórmula do preço capitalizado, que considera as perdas a vazio e no
cobre, conclui-se que a melhor opção de compra é o transformador
ofertado pelo fabricante B, mesmo sendo o de maior custo inicial. Os
menores gastos com energia consumida ao longo do período de
operação do equipamento justificam a aquisição deste transformador.

b) Transformador trifásico de 15.000/20.000 kVA – 69/13,8kV

Fabricante Preço (US$) PFE (kW) PCU (kW) PC (US$)


A 236.000,00 12,20 85,70 403.040,07
B 217.615,00 18,00 104,00 429.104,20
C 240.115,00 18,50 72,50 403.904,45

Nesta simples análise observa-se que o fabricante A, que possuía o


preço inicial 8,4% superior ao B, tornou-se a melhor opção de compra.

2.7 Regulação de Tensão

A regulação de tensão é a variação de tensão na saída do


transformador quando a carga nominal é retirada. A regulação de
tensão indica, portanto, a capacidade do transformador de manter
tensão estável com a variação da carga desde a condição a vazio até
plena carga. Normalmente seu valor é fornecido em percentual da
tensão nominal de saída:

Vazio PC
V2 − V2
RV% = 100 ⋅ PC (2.54)
V2 V1 =cte

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-49

sendo |V2|PC a magnitude da tensão no secundário sob condição de


plena carga, e |V2|vazio a magnitude da tensão no secundário sem
carga (I2=0), com a tensão no primário mantida constante.

A regulação de tensão de um transformador pode também ser


avaliada para qualquer condição de carregamento. Neste caso, a
Equação 2.53 é re-escrita.

Vazio C
V2 − V2
RV% = 100 ⋅ C (2.55)
V2 V1 =cte

em que |V2|C a magnitude da tensão no secundário sob uma dada


condição de carga, e |V2|vazio a magnitude da tensão no secundário
sem carga (I2=0) com a tensão no primário mantida constante.

A regulação depende do fator de deslocamento da carga, indutivo ou


capacitivo.

Exemplo 2.2

Seja um transformador Y-Y composto de três transformadores


monofásicos de 25MVA, 38,1/3,81kV. Uma carga balanceada resistiva
de 0,6Ω por fase está ligada em Y ao secundário do transformador.
Qual o valor da carga vista do primário?

Cada resistor de 0,6Ω é considerado como conectado diretamente


através do enrolamento de 3,81kV. No lado do primário a impedância
medida de linha para neutro é
2 2
 38,1   66 
ZL ,1 = 0,6  = 0,6  = 60Ω
 3,81   6,6 

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-50

Exemplo 2.3

Se o mesmo transformador do Exemplo 2.2 é conectado em Y-∆ para


a mesma carga resistiva de 0,6Ω, determine a impedância da carga
vista do primário.

Observe que o enrolamento de secundário do transformador do


Exemplo 2.2 é submetido à tensão de linha de 3,81kV.

O transformador Y-∆ pode ser substituído por um Y-Y com relação de


transformação para cada enrolamento sendo 38,1/2,2kV. Note que a
impedância de secundário passou a ser o equivalente Y, portanto 3
vezes menor que a impedância da conexão delta.

A resistência de cada fase da carga vista do primário do


transformador é obtida como:
2 2
 38,1   66 
Z L ,1 = 0,6  = 0,6  = 180Ω
 2,2   3,81 

O fator multiplicativo é o quadrado da relação entre tensões linha-linha


e não o quadrado das relações de espiras dos enrolamentos
individuais do transformador Y-∆.

A conclusão que se pode deduzir é que para transferir o valor ôhmico


de impedância do nível de tensão de um lado de um transformador
trifásico para o nível de tensão do outro lado, o fator multiplicativo é o

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-51

quadrado da razão entre tensões linha-linha ou entre tensões de fase


independente se o transformador está conectado em Y-Y ou Y-∆.

Exemplo 2.4

Três transformadores ideais são conectados em Y-∆ como mostra o


diagrama abaixo. A carga conectada ao secundário é balanceada. A
corrente eficaz de linha é de 100A. A relação de espiras é 10.
Determine: (a) a relação de transformação de tensão; (b) as tensões
de linha de primário; (c) as correntes de linha de primário; (d) a
potência aparente de saída.

A relação de espiras é dada por:

N1 VAN VAN V N
= = ⇒ AN = 3 ⋅ 1 ∠ + 30 o
N 2 Vab 3VaN ∠ + 30 o
VaN N2

A relação de tensão entre primário e secundário é defasada de 30º,


estando a tensão de primário adiantada de +30º em relação à tensão
de secundário. Note que é preciso aumentar o número de espiras do
primário de √3 para suportar a tensão de linha VAB.

Portanto, a relação de transformação de tensão é:

a = 17,3∠ + 30 o

Como a carga está submetida a uma tensão de linha de magnitude


igual a 240V, implica que:

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-52

(
VAN = 17,3∠ + 30 o ⋅ )240 o
∠0 V
3
VBN (
= 17,3∠ + 30 o ⋅)240
∠ − 120 o V
3
VCN (
= 17,3∠ + 30 o ⋅)240
∠ + 120 o V
3

A corrente eficaz de linha no secundário é de 100A. Como a carga é


resistiva, a corrente de 100A está em fase com a tensão de fase do
secundário.

A relação entre as correntes de primário e secundário é dada por:

I1 1 1
= ∗ = ∠ + 30 o
I2 a 17,3

Assim

 1 
IA =  ∠ + 30 o  ⋅100∠0 o A
 17,3 
 1 
IB =  ∠ + 30 o  ⋅100∠ − 120 o A
 17,3 
 1 
IC =  ∠ + 30 o  ⋅100∠ + 120 o A
 17,3 

A potência de saída é calculada como:

S 3φ = 3 ⋅ VL , 2 ⋅ I L , 2 ∠θ

Como a carga é resistiva, o ângulo de defasagem entre tensão de


fase e corrente de linha é zero, e θ=0o.

Então:

S3φ = 3 ⋅ 240 ⋅ 100 = 41,569 kVA

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-53

Exemplo 2.5

Considere no Exemplo 2.4 que as tensões de linha de secundário


estão em seqüência negativa. Calcule a relação de transformação de
tensão do transformador Y-∆.

Tensões de seqüência negativa:

Vab = 240∠0 0 V
Vbc = 240∠ + 120 0 V
Vca = 240∠ − 120 0 V

Como as tensões de fase do primário estão em fase com as


correspondentes tensões de linha do secundário, tem-se que:

VAN
= 10 ∴ VAN = 2400∠0 o V
Vab
VBN
= 10 ∴ VBN = 2400∠ + 120 o V
Vbc
VCN
= 10 ∴ VCN = 2400∠ − 120 o V
Vca

Como as tensões de linha são obtidas a partir das tensões de fase,


tem-se que:

VAB = VAN − VBN = 2400∠0 o − 2400∠ + 120 o = 3 ⋅ 2400∠ − 30 o V


VBC = VBN − VCN = 3 ⋅ 2400∠ + 90 o V
VCA = VCN − VAN = 3 ⋅ 2400∠ − 150 o V

A relação de transformação de tensão:

VAB 3 ⋅ 2400∠ − 30 o
= = 17,3∠ − 30 o
Vab 240∠0 o

Portanto, a relação de transformação para a seqüência negativa de


um transformador conectado em Y-∆ mostra que a tensão de linha de
primário está atrasada de 30º da tensão de linha de secundário.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-54

Exemplo 2.6

Um transformador trifásico de 50MVA, 161/69kV, tem uma resistência


equivalente por fase de 2,59Ω referida ao primário e uma reatância
equivalente por fase de 9,52Ω referida ao secundário. (a) Quando o
transformador está fornecendo 50MVA a um fator de potência de 0,8
atrasado, em 69kV, qual deve ser a tensão em seus terminais de
entrada? (b) Qual é a regulação a plena carga para este fator de
potência? (c) Qual a regulação de tensão para as mesmas condições
de (b) exceto que a carga tem fator de potência de 0,8 adiantado? (d)
Qual é a perda no cobre a plena carga?

V1 V2

Utilizando o modelo monofásico:

E 2 = V2 + (R eq , 2 + jX eq , 2 )⋅ I 2
69 × 10 3
= ∠0 o + (0,477 + j9,52) ⋅ 418,37∠ − 36,87 o
3
= 42,497∠4,14 o kV

Referindo E2 ao primário tem-se que:

 161 
E1,LN = V1,LN =  E 2,LN = 99,44kV∠4,14
o

 69 
V1,LL = 3V1,LN = 172,24kV∠34,14 o

Como os parâmetros do transformador estão todos referidos ao


secundário, então a tensão de entrada é igual à f.e.m. de primário.

b) Para o cálculo da regulação de tensão tem-se que em plena carga


quando no secundário a tensão é de 39,84kV (ou 69kV linha-linha) a
tensão E2 é de 42,497 kV. Se a carga for levada a zero (condição a
vazio) estando em E2 uma tensão de 42,497 kV, a tensão na saída do
transformador será de 42,50kV. Assim, a regulação de tensão será
de:

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


2-55

 42,50 − 39,84 
RV % =   ⋅ 100 = 6,67%
 39,84 

Note que a tensão de saída para operação em plena carga com


FP=0,8 ind é menor que para a condição a vazio.

c) Para uma carga de 50MVA e fator de potência 0,8 capacitivo, tem-


se:
E 2 = V2 + (R eq , 2 + jX eq , 2 )⋅ I 2
69 × 10 3
= ∠0 o + 9,53∠87,13 × 418,37∠36,87 o
3
= 39,84 × 10 3 ∠0 o + 3987,07∠124 o = 39840 − 2229,54 + j3305,43
= 37610,46 + j3305,43 = 37,76∠5,02 o kV

 37,76 − 39,84 
RV % =   ⋅100 = −5,22%
 39,84 

Note que para a condição de operação em plena carga com FP=0,8


cap a tensão na saída do transformador é maior que para a condição
de operação a vazio, resultando em um valor de regulação negativa.

d) A corrente da carga no secundário é igual a I2 = 418,37∠-36,87ºA.


A resistência equivalente dos enrolamentos referida ao secundário é
de 0,477Ω. Assim, a perda no cobre por fase é igual a:

PCU = 0,477 ⋅ (418,37 ) = 83,49kW


2

cerca de 0,5% da potência nominal do transformador.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br

Você também pode gostar