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O capítulo é inspirado sobretudo em Ernest Renan e Michelet.

Renan evoca o
esquecimento em O que é uma nação?, e isto é: a de que o esquecimento é um
ingrediente essencial para a nação, pois esta apaga episódios de violência
fratricida que fizeram parte do passado nacional, e fazendo assim com que a nação
continue existindo como uma fraternidade. (fraternidade é a palavra usada por
Anderson, mas não por Renan, que no entanto se refere-se à nação como o resultado
da vontade de estar junto). Michelet, por outro lado, escrevendo anos antes, fala
em dar vida aos mortos, dar voz a eles, e explicar os significados das suas ações
que, mesmo que no momento eles não a compreendessem, desembocam na revolução de 89
e na criação da pátria francesa.
Para Anderson, ambos fazem parte da preocupação da segunda geração dos
nacionalismos, isto é, aquela nascida na Europa, e que tinha como característica o
recurso ao passado e à noção de herança como elemento fundamental no nacionalismo.
Se na primeira geração, na América, enfatizava-se a ruptura com o passado e a
glorificação do novo, bem como o estabelecimento de uma relação horizontal com a
Europa, a nova geração, alimentada por uma nova percepção cultural do tempo e do
encadeamento das temporalidades de maneira sucessória, além do fato de a nação não
ser mais uma coisa nova, usou como recurso a ciência nascente da história.
Anders mostra, por meio de exemplos sobretudo na América, de como o passado escrito
de uma certa maneira serviu como fonte de legitimação das novas gerações, brincando
com as relações de esquecimento e lembrança: é preciso lembrar de Midi e Saint
Barthélemy, mas apenas como Guerras "fratricidas" (ainda que naquele tempo ninguém
se visse com francês), e esquecer logo em seguida; é preciso lembrar de Guilherme,
o Conquistador, mas esquecer que ele conquistou os ingleses e era normando, entre
diversos outros exemplos. Da mesma maneira, é preciso lembrar da Guerra "Civil"
Americana, mas esquecer que não era de fato uma guerra civil e que se tratou
brevemente de dois estados de fato; da mesma maneira, o esquecimento atua no
apagamento de certas fraturas, como entre brancos, índios e negros. Huckleberry
Finn e sua amizade com Jim, bem como exemplos de outros autores, são evocados para
falar neste apagamento e construção da camaradagem.

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