Você está na página 1de 6

1

O caracol, a chuva e o sol

Num belo dia de primavera, daqueles cheios de sol , andava um pachorrento caracol

entregue às suas atividades matinais, quando por ele passou voando velozmente

um jovem e enérgico pisco, que pousou mais adiante, num galho de uma árvore e se pôs a
cantar.

“Ah!” Pensou o Caracol. -” se eu tivesse asas e penas e voasse e cantasse, era um pássaro, um
caracol é que não era!

O pisco espertito e arrebitado veio ter com o caracol e depois de olhar bem para ele disse:

-” Olha, amigo caracol, eu ando sempre a voar de um lado para o outro e vou para onde
quero , quando quero, não gostava nada de ter uma casca como a tua, nem de ter que andar
com todo esse peso às costas, bem, vou passear mais um bocado, depois passo por aqui para
falarmos mais”

O Pisco levantou voo e desapareceu da vista do caracol em menos de nada.


2

- “Eu é que não consigo voar assim, demoro muito tempo para me deslocar” -Disse o caracol
enquanto tentava ver para onde o Pisco se tinha dirigido.

Dai a nada apareceu uma velha conhecida do caracol, a Dona Abelha

” - Ora viva minha cara amiga como tem passado?” disse o caracol enquanto admirava a
ligeireza de movimentos e o bater das asas da Dona Abelha.

“Muito bem e o meu amigo caracol, como tem passado? -respondeu a Dona Abelha

“Cá estou! -respondeu o caracol-” ainda há pouco aqui esteve o jovem pisco, um ágil voador
sem dúvida, esteve aqui comigo, trocámos algumas palavras e dai a nada lá se foi ele a
esvoaçar!...ah! Às vezes eu gostava de também poder voar como a Dona Abelha, ou como o
jovem pisco veloz e apressado sempre de um lado para o outro!”

“Deixe se desses desejos tolos!” -disse a Dona Abelha-” se nasceu assim é porque é assim que
a natureza o fez e olhe que ela sabe bem o que faz!”
3

” Eu sei!” respondeu o caracol”, mas às vezes sinto-me muito diferente de todos, entende?”

” Como assim? - diferente em que sentido?…sabe que nem todos podem voar e nem todos
podem rastejar” - disse a Dona Abelha

Nesse momento apareceu um pirilampo com um ar muito abatido

- “Ora viva amigo Pirilampo ”- disse o caracol


- ” Olá pirilampo!” disse a Dona Abelha

- “Olá, meus amigos”- respondeu o Pirilampo numa voz cansada

- “O que tens tu?-perguntou o caracol preocupado com o ar abatido do pirilampo -”estás


cansado?...vieste a fugir de alguma coisa?

-” Estiveste a trabalhar a noite toda?” perguntou a Dona Abelha


4

- “Bem, o que aconteceu, foi que as ervas onde eu e a minha família dormimos, que ficam
junto ao lago, ficaram inundadas por causa das cheias, é que tem chovido muito e o lago
transbordou, tivemos de fugir todos, agora temos de procurar um sitio mais resguardado, ufa,
estou mesmo cansado -” respondeu o pirilampo.

”É bem verdade!”- disse a Dona Abelha-” a primavera traz sol, mas também traz chuva, a
propósito, tenho de ir para a colmeia antes que venha mais uma chuvada, adeus meus amigos
, protejam-se da chuva, até à próxima, adeus!” e lá foi a Dona Abelha em direção à colmeia.

-” Adeus Dona Abelha e Senhor Caracol. Também tenho de ir procurar um sitio onde me
abrigar -” disse o pirilampo e lá foi em busca de um novo abrigo.
5

Passado algum tempo, estava o caracol a apreciar as belas cores de uns lírios roxos quando
ouviu o som das asas do veloz pisco.

Olhou para cima e disse -” Então meu amigo, para onde vais com tanta pressa?

” Ui!...vem ai mais chuva!” - respondeu o pisco ofegante -” Tenho de voltar a casa depressa,
antes que me molhe todo, tenho que me despachar, ainda é longe o meu ninho, adeus Senhor
Caracol, abrigue-se que vem ai uma grande carga de água! -” e desapareceu rapidamente da
vista do caracol.
6

O caracol olhou para o céu e onde há pouco tempo tinha visto o sol, haviam enormes nuvens
cinzentas e muito escuras.

- “Pode chover à vontade!” -disse o caracol-” eu ao menos estou sempre em casa, ainda bem
que não preciso de asas, faça chuva ou faça sol. A natureza sabe o que faz!” e pôs-se a olhar
para os belos lírios roxos. Dai a pouco começaram a cair os primeiros pingos de chuva.

Você também pode gostar