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Resumo do livro “Raça e História” de Claude Lévi-Strauss

Ao iniciar a obra, o autor traz a seguinte premissa: nada permite afirmar a


superioridade ou a inferioridade intelectual de uma raça em relação a outra. Além
disso, caracterizar as raças biológicas a partir de propriedades psicológicas
particulares afasta-nos da verdade cientifica.

Gobineau, como exemplo, se utilizou dessas propriedades para justificar uma


suposta superioridade das raças, seu trabalho na época considerado como verdade
cientifica foi utilizado para legitimação da discriminação e exploração. Essa visão
errônea não considerou que as diferenças de cada sociedade estão relacionadas as
circunstâncias geográficas, históricas e sociológicas, assumiu-se que as diferenças
provinham de suas diferentes constituições anatômicas e fisiológicas. Não considerou,
portanto, que haviam diferenças culturais tanto em indivíduos pertencentes a mesma
raça tanto quanto em grupos racialmente afastados.

Para compreender melhor como e em que medida essas culturas se diferem é


preciso traçar o seu inventário, tudo aquilo que foi agregado por ela e inclusive seu
passado. Sendo assim, elas não se diferem entre si do mesmo modo nem no mesmo
plano. E aqueles que não se utilizam da escrita possuem um passado que é
praticamente impossível de se ter o conhecimento.

Neste inventário, as culturas também agregam valores de suas relações com


as demais. Como sociedades que surgiram de um tronco comum não se diferem da
mesma forma que duas sociedades que em nenhum momento do seu
desenvolvimento mantiveram quaisquer relações. Sendo fato observado em
sociedades que tiveram um contato muito próximo recentemente parecem uma
mesma civilização, mesmo que suas histórias sejam muito diferentes.

A diversidade não se limita a sociedades distintas, é observável as diferenças


entre grupos distintos pertencentes a uma única sociedade, desenvolvem-se
diferenças às quais cada uma delas atribui uma extrema importância. De tal forma,
não podemos assumir que a cultura tenha um caráter estático. Seja nas suas
diferenciações internas quanto em suas relações com outras culturas, pois nunca se
encontram isoladas. Como exemplo muitos costumes nasceram da vontade de não
permanecerem atrasados em relação a um grupo vizinho.

A diversidade cultural é um fenômeno natural, fruto das relações diretas ou


indiretas entre as sociedades. Porém, em um primeiro momento, ao se deparar com
outras formas culturais a atitude mais antiga consiste em repudiar a diversidade que
se afasta daquela com que nos identificamos. Existe uma recusa em admitir essa
própria diversidade, consequência do etnocentrismo, prefere-se repetir da cultura tudo
o que esteja conforme à norma sob a qual se vive.

Por consequência dessa visão etnocêntrica, a noção de humanidade,


englobando todas as formas da espécie humana, surgiu de maneira tardia e sua
expansão foi limitada. Durante muitos anos, milênios, e para muitos grupos esta noção
parece estar totalmente ausente. Limitam a noção de humanidade para o seu
território, assumindo que o outro não possui as virtudes humanas.

Ao passo que pertentemos estabelecer uma discriminação entre as culturas e


os costumes, nos identificamos mais com aqueles que tentamos negar, sendo o
paradoxo do relativismo cultural.

No entanto, a proclamação da igualdade entre todos e a fraternidade que deve


os unir negligência a diversidade de fato. Pois, a igualdade de todos está no fator
biológico e não na cultura, é necessário reconhecer essas peculiaridades de cada
povo.

Partindo da ideia de que as raças são iguais e a espécie humana evoluiu


conforme o tempo, há o falso evolucionismo que consiste em acabar com as
adversidades culturais, fingindo conhece-la. Pressupõe-se que todos partem de um
mesmo ponto e estão seguindo para mesma direção, as diferenças seriam apenas
estágios dessa evolução. Assumindo que a humanidade seria una e idêntica.

Portanto, o evolucionismo biológico tem como base observação empírica da


realidade, diferindo do evolucionismo social ou falso evolucionismo, pois não passam
de apontamentos.
Para organizar melhor os argumentos a respeito das sociedades, o autor
propõe uma repartição das culturas em três categorias assumindo seu próprio ponto
de vista: as que são suas contemporâneas mas que se encontram situadas num outro
lugar do globo, as que se manifestaram aproximadamente no mesmo lugar, mas que
a precederam no tempo, e finalmente as que existiram num tempo anterior ao seu e
num lugar diferente daquele em que esta se situa.

Deste modo, sugere ser extremamente tentador procurar estabelecer relações


entre essas culturas do primeiro grupo estabelecendo uma ordem de sucessão
temporal. Na qual se baseou o falso evolucionismo e onde tomou livre curso. Para
considerar determinadas sociedades como "etapas" do desenvolvimento de outras,
seria preciso admitir que, enquanto com estas últimas se passava qualquer coisa, com
aquelas não acontecia nada, ou muito poucas coisas. Concluímos, portanto, que esta
maneira equivocada de analisar a realidade exclui as formas de desenvolvimento de
outras sociedades, assumindo apenas o seu ponto de vista.

Esta imagem do progresso cristalizada como uma evolução em linha reta deve
ser abandonada, pois não há um ponto de evolução a se chegar, tampouco as
evoluções são sucedidas por outras de uma mesma maneira.

As modificações técnicas e sociais que ocorreram nas diversas sociedades,


foram fruto de transformações internas e externas, mas não inferiores ou superiores
umas as outras. Para elucidar o pensamento, o autor se utiliza do exemplo da peça
do cavalo em um jogo de xadrez, sempre à sua disposição várias progressões, mas
nunca no mesmo sentido.

Neste capitulo 6, o autor debate a respeito das perspectivas que assumimos


para considerar uma história como estacionária ou cumulativa, tanto em nossa própria
cultura, como exemplo de pessoas idosas, tanto a respeito das diferentes da nossa.

Consideramos que uma cultura seja estacionária quando sua linha de


desenvolvimento não assume uma significação para nós, ou não participamos dos
processos de transformação, não sendo mensurável nos termos do sistema de
referência que utilizamos.
Assim sendo, toda história passa por um processo de acumulação, fruto de
transformações internas da sociedade, mas também pelo agregar de costumes e
inovações das diferentes culturas que estamos em contato.

Dentro de uma lógica abstrata, o autor afirma que cada cultura é incapaz de
emitir um juízo verdadeiro sobre a outra, pois ao fazer parte de uma sociedade não se
pode “sair” desta para sua apreciação, sendo inevitavelmente presa ao relativismo. O
reconhecimento da civilização ocidental como superior se faz presente em quase
todas as demais.

Este reconhecimento, e o próprio relativismo, são provenientes da


universalização da cultura ocidental. Primeiro por ser caracterizada como uma
civilização mundial, por meio da globalização atualmente, provavelmente ser um fato
único na história. E através da sua atuação e imposição direta ou indireta às demais
civilizações, mesmo com muita resistência por parte dos outros povos, não se foi
capaz de barrar essa expansão.

Ao pensar a respeito das inovações tecnológicas como exemplo, não podemos


considera-las decorrentes do acaso e sim de vários fatores que ocorreram e
fomentaram o estudo e desenvolvimento dessas técnicas.

Para além desse pensamento, é necessário voltar em questões anteriormente


debatidas como as peculiaridades de cada sociedade como o espaço geográfico,
condição histórica e sociológica de determinado povo, acrescentando lhes ainda o
processo cumulativo da história individual de cada uma delas e de suas interações
umas com as outras.

É possível concluir que o desenvolvimento não é consequência apenas do


acaso ou de grandes gênios que surgiram em determinadas sociedades, mas sim um
processo que engloba um todo dinâmico. Portanto, não se deve reservar o mérito para
uma determinada cultura e a indiferença perante as demais, considerando apenas
determinado tipo de progresso.

Frente a todos os temas abordados até aqui, o autor propõe que estamos diante
de um estranho paradoxo: as culturas, para instigar sua dinamicidade, precisam de
contato com outras e este contato tende a uma homogeneização.
Para este paradoxo é proposto três remédios: o primeiro seria a diversificação
dentro de uma sociedade, considerando que são compostas por grupos diferentes,
desses antagonismos de classes que surgem algumas transformações; o segundo a
respeito da introdução de sociedades diversificadas, para que destas surjam trocas
de conhecimentos e técnicas; e o terceiro como o surgimento de regimes políticos e
sociais antagônicos que contribuem para a modificação dos processos econômicos e
políticos de uma sociedade.

As organizações internacionais, deste modo, são responsáveis por reconhecer


essas diferenças culturais e suas peculiaridades, e além disso, tratar cada uma
respeitando essas diferenças, mas sem superiores ou inferiores, como uma igualdade
que considera seus aspectos particulares.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das


Nações Unidas em 1948, pressupõe que esses direitos deveriam ser universais,
porém partiam de uma visão eurocêntrica, como fica explicito no trecho do preambulo
“na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a
favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma
liberdade mais ampla;”. Como discutido no texto de Lévi-Strauss, esse progresso
possui um amplo relativismo além de seu duplo sentido, além de outro ponto discutível
que seriam as melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla, parte-
se novamente de uma visão europeia sobre condição de vida, julgando o que seria
melhor ou pior para essa sociedade ocidental, também como sua liberdade.

Ressaltando outra passagem do preâmbulo dessa declaração “Considerando


que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem conduziram a actos de
barbárie que revoltam a consciência da Humanidade”, não acredito que tenha sido o
desconhecimento ou o desprezo a esses direitos que conduziram a tais atos de
barbárie e sim o interesse próprio de sociedade em determinado momento. A exemplo
dos Estados Unidos, considerando que mesmo sendo assinado este documento, o
próprio país se impôs e continua se impondo de maneira imperialista perante outras
sociedades. Enquanto outras diversas sociedades que desconhecem destes direitos
acabam por respeitá-los.
Para relacioná-lo a obra resumida neste documento, a organização
internacional não reconheceu essas diversidades culturais até o ano de 2002 com a
Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. Anteriormente foi considerada a
civilização europeia como a civilização mundial, a partir desse documento ressalta a
importância da manutenção das culturas e suas garantias.

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