Betão Armado

FUNDAÇÕES
PROFUNDAS

série ESTRUTURAS

joão guerra martins 1.ª edição / 2003

 Prefácio

Este texto resulta do trabalho de aplicação realizado pelos alunos de sucessivos cursos de
Engenharia Civil da Universidade Fernando Pessoa, vindo a ser gradualmente melhorado e
actualizado.

A sua fonte assenta em sebentas das cadeiras congéneres de diversas Escolas e Faculdade de
Engenharia (Universidade do Porto, Instituto Superior Técnico de Lisboa, Universidade de
Coimbra e outras), bem como outros documentos de entidades de reconhecida idoneidade
(caso do L.N.E.C.), além dos tratados clássicos desta área e outra bibliografia mais recente,
cuja referência se encontra no final deste trabalho.

Contributo decisivo teve, igualmente, o Eng.º António Moreira Rebelo, sendo parte importante do
texto apresentado conteúdo revisto da monografia de licenciatura por si elaborada.

Apresenta-se, deste modo, aquilo que se poderá designar de um texto bastante compacto, completo
e claro, entendido não só como suficiente para a aprendizagem elementar do aluno de engenharia
civil, quer para a prática do projecto de estruturas correntes.

Certo é ainda que pretende o seu teor evoluir permanentemente, no sentido de responder quer à
especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ao que se julga pertinente e alargar-se ao que se
pensa omitido.

Para tanto conta-se não só com uma crítica atenta, como com todos os contributos técnicos que
possam ser endereçados. Ambos se aceitam e agradecem.

João Guerra Martins

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1. INTRODUÇÃO

1.1. GENERALIDADES

O termo fundação é usado para designar a parte de uma estrutura que transmite ao terreno
subjacente o seu próprio peso, o peso da superestrutura e qualquer outra força que actue sobre
ela.

A fundação é, portanto, o elemento de ligação entre a superestrutura e o solo, sendo por isso,
elemento importante para a estabilidade das estruturas.

As fundações são classificadas de acordo com a sua profundidade, com o seu método
construtivo e com o material de construção utilizado.

1.2. FUNDAÇÕES – FUNÇÃO E IMPORTÂNCIA

A função de uma fundação correntemente projectada é suportar as cargas que actuam sobre
elas e distribuí-las de forma satisfatória sobre as superfícies de contacto com o solo sobre a
qual ela apoia.

Para ser satisfatória, esta distribuição não deve produzir tensões excessivas no solo a qualquer
profundidade sob a fundação.

Considera-se excessiva qualquer tensão que possa provocar uma rotura na massa do solo em
que se apoia, bem como inclinações e assentamentos apreciáveis do conjunto estrutural.

Ocasionalmente, leitos de estradas ou barragens de terra são danificados devido a rotura e

escorregamento dos solos.

As tensões são consideradas excessivas se a acção cumulativa das deformações por elas
produzidas provocar um assentamento desigual da superfície do terreno, fazendo com que
superestrutura venha a apresentar fissuras ou avarias ao passar pelas deformações necessárias
à sua adaptação ao assentamento diferencial.

A importância de uma fundação é evidente, uma vez que não é possível que nenhuma
estrutura possa resistir sem uma fundação adequada.

Quando as camadas superficiais não apresentam resistência suficiente é necessário aprofundar

a fundação até que sejam encontradas camadas mais resistentes, se as mesmas se encontrarem
próximas.

Seja qual for o tipo de fundação ou a sua profundidade abaixo da superfície do terreno a que

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são realizadas, as cargas transmitidas a estas camadas darão origem a tensões, e portanto a
deformações, na camada correspondente de apoio.

A magnitude das deformações depende das tensões correspondentes e das propriedades

elásticas e plásticas da camada.

Antes de se decidir qual o tipo de fundação a utilizar deve-se proceder a uma análise das
características do solo.

A determinação da carga de rotura de um solo de fundação pode ser conseguida através de:

• Ensaios SPT com recolha de amostras para rochas brandas;

• Ensaio de molinete para caracterização da coesão não drenada dos solos argilosos;
• Ensaios de penetração estática (CPT) e de penetração dinâmica como o
penemómetro dinâmico ligeiro (LNEC);

• Ensaios de resistência ao corte dos solos

No que diz respeito à previsão de assentamentos sofridos pelos solos de fundação

podem ser conseguidos através de:

• Ensaios CPT;
• Assentamentos previsíveis no “ponto crítico”

1.3. CLASSIFICAÇÃO DE FUNDAÇÕES

As fundações podem ser classificadas quanto:

• À profundidade:
- Superficiais;
- Profundas.
• Ao método construtivo:
- Correntes;
- Especiais.
• Ao material de construção:
- Betão;
- Alvenaria;
- Metálicas;
- Madeira.
• Aos efeitos nos solos envolventes:

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- Com deslocamento do solo envolvente;

- Com pequeno deslocamento do solo envolvente;
- Sem deslocamento do solo envolvente.

1.4. FUNDAÇÕES PROFUNDAS – GENERALIDADES

As fundações profundas aplicam-se quando os solos próximos da superfície do terreno são

dotados de baixa capacidade de carga e/ou compressíveis, não permitindo o emprego de
fundações em superfície.

Genericamente, as fundações profundas estão assentes a uma profundidade maior que duas
vezes a sua menor dimensão em planta. Neste tipo de fundação as solicitações transmitidas
são absorvidas, numa parte pela face inferior ou exterior do elemento e outra parte por
aderência da parede lateral do elemento (fuste) ao solo lateralmente adjacente.

As cargas estruturais serão transferidas para os solos de maior capacidade de suporte situados
a maior profundidade, por meio de fundações, designadas por profundas. A carga é
transmitida ao terreno através da base da fundação (resistência de ponta) e ou da sua
superfície lateral (resistência de atrito).

1.5. CAMPO DE APLICAÇÃO DAS FUNDAÇÕES PROFUNDAS

As fundações profundas são utilizadas como solução construtiva para resolver problemas de
fundação tais como:

• As camadas de solo com resistência apreciável encontram-se somente a grandes

profundidades (terreno superficial pouco resistente);

• As estruturas são sensíveis a assentamentos uniformes (terreno superficial pouco

resistente e deformável);

• As condições geológicas induzem apreciáveis assentamentos diferenciais (resistência e

deformação variável na mancha de implantação);

• As camadas imediatamente abaixo da estrutura podem sofrer lavagem devido à acção da

água (arrastamento dos finos do terreno);

• As superestruturas transmitem grandes cargas concentradas (eventual corte das camadas

superficiais);

• O solo de fundação se situa nos rios, lagos ou mar (problemas de estabilidade do leito,

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seu eventual descalçamento de fundações superficiais ou mesmo o caso de leitos

lodosos);

• O nível freático se situa próximo do nível da superfície (variação das tensões neutras
altera deformabilidade e consistência do solo).

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