Cachorro Magro O rapazinho
levantassem para passar a flanela imunda na
- Que bicho treiteiro!
Janice olhava o cachorro magro rodeando
a mesa onde estavam sentados.
- Posso dar um pouquinho pra ele?
O homem deu de ombros. Janice foi
empurrando o pedaço de toucinho com o garfo,
do prato até a beira da mesa, depois para o
chão. O bicho abocanha.
- Que coisa! Quem pode com isso?
O homem continuava impassível,
limpando os dentes inferiores com a unha
grande do indicador. Os de cima não existiam
mais. O cachorro se achegou a Janice e deu-lhe
uma lambida na perna. A mulher sorriu com o
carinho e repetiu dengosa:
- Que bicho treiteiro!
O garçonzinho adolescente aparece e se
dispõe de cara amarrada, na frente do homem.
Não obtém reação alguma. Janice vasculha a
bolsa roída e tira os trocadinhos.
- Quanto?
- Deu dezesseis e cinquenta.
- Tenho quinze, menino. Quase quinze.
- Pode ser.
nem esperou que boa distância, sentindo-se assim, pela primeira
vez em meses, segura.
mesa.
Quando saem, o cachorro, sem receio
algum, os segue pela rua até a primeira
esquina, onde param os três. Janice olha para o
homem que, ainda em silêncio, balança a
cabeça, sinalizando um não. Janice insiste num
olhar umedecido, olhar de pedinte. O homem
vira a garrafinha de cachaça e repete o gesto
negativo. O cachorro reage dando uma rosnada
insolente. Janice parece conformada, ciente de
que não valia a pena continuar com aquilo,
então empina a cabeça para o horizonte, muda
de direção e acelera os passos.
- Vamos logo. Venha.
Tentam despistá-lo, mas aquela ligeireza
não era párea para ele, acostumado a vagar
faminto pelas ruas, atento a cada oportunidade
de sobrevivência.
- Vê se desiste. Meia volta!
Janice, numa forma bizarra de
malabarismo, consegue correr, equilibrar suas
tralhas e, ao mesmo tempo, botar os seios
molengos de volta para a blusa cada vez que
pulavam.
Ofegante:
- Mais um pra dividir o pouco, nem
pensar.
Janice abaixa-se, apanha algumas pedras e
as arremessa com força, acertando bem na cara.
Depois do golpe apurado, a mulher ganha uma
Encara-o:
- E agora, seu valentão, gostoso ver o mel
de sangue descer na fuça, não é?
O homem, até agora silencioso, não se
contém com a ironia e ameaça de longe:
- Janice, se eu te pego, desgraçada, eu te
mato!
E o cachorro reage dando uma rosnada
insolente.
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1. Descreva os dois personagens
principais do conto.
2. Como o jovem garçom tratou seus
dois clientes?
3. Janice e o homem que a acompanhava
trataram o cachorro da mesma forma?
Escreva sobre isso.
4. Pelo o que o texto deixa transparecer,
como era a relação entre Janice e o
homem?
5. O que o aparecimento do cachorro
significou para Janice?
6. Em certo momento Janice faz uma
escolha. Qual?
7. Você concorda com a escolha que ela
fez? Por quê?
8. Podemos retirar do texto alguma
crítica social? Qual ou quais?