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A sagração das imagens

Devemos ingerir imagens. Não pensem em metáforas, tudo isso é demasiadamente


material para se tornar abstrato. A sociedade parece se manter por meio de imagens.

Deus criou o homem a sua imagem. Em tempos posteriores, quando os humanos


desenvolveram o seu verbo, eles criaram deus à sua imagem e semelhança. Mais tarde,
os homens mataram deus e ficaram com as imagens. As imagens se solidificaram. E os
homens passaram a sobreviver de imagens.

Os humanos dominantes adestraram as imagens e em seguida as jogaram para os outros


humanos; e viram que era bom. Com o tempo notaram que as imagens são mais fortes
que as coisas, mesmo os humanos afirmando o contrário.

As imagens não são um instrumento de dominação, ela é a própria dominação. é o


dragão que nos devora antes de nos darmos conta de que olharvamos para um dragão.

Lembro-me de ter escutado que os ratos têm direito à alimentação. Sei, por meio dos
dicionários dos humanos, o que significa a palavra Direito, no entanto, não conheço o
real significado da palavra alimentação. Mas isso é compreensível. A comida não é algo
sagrado, pelo menos é assim que a televisão mostra. Devemos, nós ratos, sobreviver das
imagens de banquetes e não dos banquetes, logicamente. Por que não? As imagens são
fartas. Deixemos os preconceitos modernos de lado. Ora, os humanos retiram o valor
místico da iconografia, lhe negou a função desta de alimentar o inconsciente. Em
compensação ela deu um valor material as imagens. Os humanos nos falam
implicitamente que devemos sobreviver de imagens. Devorar imagens inteiras, ingeri-
las materialmente.

II

As imagens nos alimentavam interiormente. No tempo presente nós alimentamos as


imagens e elas nos consomem. As imagens perderam sua função; foram adestradas. As
imagens substituem aos poucos o eu. E nos distancia cada vez mais do si mesmo. As
imagens se tornam obstáculos para o ser em sua completude.

O homem caminhava rumo ao paraíso. Faltava apenas algumas léguas. Todas as


distancias pareciam ter sido poucas. Ele ria compulsoriamente. Desde pequeno ouvia
falar no paraiso. tudo agora estava perto. Seus olhos brilhavam, ele riu olhando para o
sol, sentiu uma leveza nunca antes sentida. Na calçada, havia pessoas chorando e rindo,
todas olhavam atentamente para o homem. Desertos e mais desertos haviam sido
atravessados. O homem então chega ao paraíso, era um espelho.

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