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Júlio Miguel de Aquino C.

C
Prólogo

Um menino entrou em um templo negro e encontrou um sol no


altar. Levou o sol para todos e todos não acreditaram que era
Deus.
O menino voltou para o templo, arrancou o seu próprio coração e
coberto de sangue gritou:
- Encontrei Deus! Eu provei que Deus existe!
Mas os homens riram dele.

Muitas pessoas se reuniam em um templo, o menino revoltado


rompeu o véu que guardava o templo e gritou para as pessoas:

- Suas sombras não são Deus!


A última missa

No altar quatro livros


Uma vela preta manifesta o fogo
Foi Prometeu que trouxe

Ergue-se o cálice
O sol se torna homem
E seu fogo jorra pelo ferro

O sacerdote é criança
O templo é preto
Ninguém quis ir para a última missa

Sozinho sentei na frente


O sacerdote cortava a cabeça do animal
Darwin se abraçava com Cristo

A criança sorrindo me mostra o teto


Iemanjá se torna uma com Maria
O sol fazia pregações aos planetas

Zoroastro entregava a tocha pra Jesus


O sacerdote contemplava
Buda crucificado em uma cruz

O véu se rompeu novamente


A oração de Darwin e de Newton
Foi rezada por Cristo e por Buda

Depois disso não houve mais missas.


Minha festa de cristo-Rei

Em um castelo de carne humana


Em um templo sombrio, pouca luz
um rei dança vestido de sol

Ele me aponta a multidão que reza alto


E me diz em simbologia interna
Que tanta festa não corresponde à luta

E eu perguntei ao rei de que luta ele trata


e ele começou a sorrir e gritar
de sua boca saia uma coroa de espinhos

Ele colocou em mim e me mandou dançar


era minha última dança perto do cristo-rei
eu dancei chorando e sangrando. Depois parei

O Rei começou a apontar para as pedras.


Mostrou-me uma flor e um sol
e me disse em um último mandamento:

O cotidiano é uma oração.


E eu sou aquela flor que ninguém vê
Os homens gostam de coisas grandes

Não sabem que as coisas grandes


Só são grandes por que em transmutação divina
Tornam-se banais aos olhos humanos

Depois disso fiz um altar com um sol.


Toda tarde contemplo o altar (E as pessoas estranham )
Todos perderam o dia da festa

Eu dancei sozinho na festa do Cristo-Rei e todos olharam curiosos.


Nascimento

É hora de sangrar
As veias de metal pedem com desejo
Um beijo final de despedida

O último sacramento fundamental


É pedir ao pai dos quatro rios
Que possamos nos misturar a ele

Dissolve-se por completo


Se casar em um pôr do sol de primavera
E ser um, não mais que um.

Antes ainda tem uma pedra


Uma tocha um fogo não erguido
Um segredo escondido

Ó monte alto!
Creio ser meu monte das oliveiras
Pensava que ele era fora, mas é dentro.

Aqui vai ser oferecido para a minha alma


O último cálice sagrado
O de nascer novamente.
Meu encontro com Satã

Já era noite e minha alma

Gritava sem saber por que gritava

Mas o meu eu animal sabia

Era o meu encontro final

Com o bode com o diabo medieval

Aquele que todos temem mais adoram

Eu apreensivo ergui meus olhos

E uma voz firme me pediu:

Para apagar as velas de meu quarto

E então um espelho apareceu

Lutei contra ele durante noites

Travando a espada em mim mesmo

Ó homens o mal que tanto temes

Esta no espelho que reflete

O animal que te devora.

Quebrei o espelho.
Meu encontro com Deus

Não foi na missa nem no culto

Não foi no terreiro ou na sessão

Nem em nenhum livro sagrado

Na verdade era uma tarde comum.

O sol se despedia no horizonte

E eu brincava na lagoa e Hermano

De repente o silêncio me chamou

Tudo ficava distante

E eu vi uma pedra no formato de sol

Peguei a pedra e comecei a gritar

- Encontrei deus! Eu tenho deus!

Proclamei em meio às ruas


Mais as pessoas religiosas

Riram de mim e de minha pedra

Julgavam loucura o que eu falava

E então guardei a pedra comigo

Ela às vezes fala comigo e brinca

Ela diz como os homens são engraçados

Gritam tanto mais não falam nada

Rezam tanto mais só falam consigo mesmo

Chamam suas sombras de divindade

O infinito sabendo que é infinito

Sabe também que nossos olhos são finitos

Guarda sua infinidade em coisas finitas

Eu encontrei esse infinito em uma pedra.


Uma festa religiosa

Duas cortinas roxas se abriram

Havia muitos sorrisos de alegria

Uma cruz de sangue falou comigo.

Entrei no quarto por trás

Um homem crucificado chorava e gemia

Seu sangue jorrava pelas veias do pulso

Eu pedi que ele chorasse mais alto

Ele disse que não podia

iria atrapalhar a festa e a diversão.

Depois ele riu para mim

Colocou um pouco de seu sangue na minha alma

E me disse que eu era seu espelho

Peguei na cruz dele desesperado

Disse que ia levar para todos

Ele me repreendeu
Ele disse que lá fora

já tem um retrato dele ressuscitado

e que os homens não gostam de sangue

Eu chorei muito

o verbo morria todos os dias

mas tinha que fingir ser sempre Ressuscitado

Fiquei na sala trancado.

Chorei e fiquei em silêncio

Durante todo o encontro

Ninguém notou minha presença.


Meu calvário

Rasguei o livro dos segredos

Fiz dos restos uma bíblia morta

E joguei a minha alma dentro

Encarnei satã para lutar com ele

Desci escadas muito além de Dante

Chorei ao vê que não havia fim

Escrevi nesse livro sagrado

Todas as minhas crenças antigas

Filosofias infantis e ciências futuras

Perdi o paraíso sem provar do fruto

Tomei da fonte sem saber seu gosto

Adormeci e morri por anos

Na falta de deuses orei ao sol

E o vento trouxe vozes de outros mundos

Que me mandaram subir em um monte


A estrela da manhã me guiou até o alto

a dor foi meu impulso

chegando em cima comecei a missa eterna

Quebrei a tábua dos antigos mandamentos

Abrir meu peito, rasguei a fibra e puxei meu coração

Em meio ao sangue tinha um presépio velho

Deus nascia de novo sem caricaturas

Faltava ainda enforcar meu EU sem alma

Foi em pleno mês de maio que me matei

Tornei-me casa sagrada, fui templo e sinagoga.

joguei aquele cristo pequeno dentro de mim

Serei a cruz dele. Amanhã ele vai morar em outros templos.

E eu voltarei para casa.

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