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Nota política

As engrenagens do golpe
de Estado estão sendo
colocadas no lugar
Nesta última semana, ficaram evidentes as principais
medidas que compõem o plano do imperialismo e da
direita burguesa em relação ao golpe de Estado

Não resta nenhuma dúvida de que a direita se encaminha


para um golpe de Estado como forma de assumir o
governo diante da sua incapacidade de chegar ao poder
pela via eleitoral. Estamos assistindo a repetição do que
ocorreu no Paraguai, Honduras e Tailândia e vem
acontecendo na Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina.
Dada a importância regional e internacional do Brasil, esta
reviravolta política teria um efeito determinante na
situação interna dos países sul-americanos e do Caribe e
um efeito importante nos países do BRIC.
A primeira engrenagem do golpe a ser colocada no lugar é
o escândalo político e moral. A Polícia Federal acelerou a
investigação do caso Petrobrás, obtendo 58 mandados de
prisão e investigação contra suspeitos no caso, incluindo o
presidente da empreiteira OAS, vários executivos da
empresa e de empreiteiras. O caso Petrobrás é a mola
mestra do golpe articulado contra o governo do PT. O
objetivo é implicar a presidenta da República como
cúmplice no alegado esquema de propinas e conseguir o
seu impeachment via Congresso Nacional ou STF. É
importante lembrar que Dilma Roussef fez parte do
Conselho de Administração da empresa estatal e a atual
presidenta da empresa, Graça Forster, é uma das pessoas
de confiança de Dilma Roussef. Da mesma forma que o
escândalo em torno ao “mensalão”, o caso Petrobrás é
agora “o maior caso de corrupção da história do Brasil”.
Com o ataque em torno à Petrobrás, a direita busca um
segundo objetivo que é o de destruir a própria empresa,
abrindo caminho para a entrega total do petróleo
brasileiro aos especuladores internacionais.
A segunda engrenagem do mecanismo do golpe de Estado
é a luta que se trava no Congresso Nacional em torno da
presidência daquela instituição. O governo enfrenta o
desafio da ala dissidente do PMDB, principal aliado
parlamentar do PT, que quer de qualquer forma disputar a
presidência do Congresso. A importância deste fato é
dupla. Em primeiro lugar, tendo o controle da mesa do
Congresso, a ala golpista tem uma posição de força da
maior importância para apoiar o golpe dentro do
Congresso. Em segundo lugar, é preciso lembrar que o
presidente do Congresso é o segundo na linha de
sucessão à presidência da República. Este fato está
indicando que a campanha estará dirigida a derrubar,
também, o vice de Dilma Roussef, Michel Temer.
A terceira engrenagem a ser ajustada para o golpe é o
controle do STF. Neste momento, está em discussão a
indicação de um membro para a cadeira vaga da Corte. A
entrevista de Gilmar Mendes, atacando diretamente uma
suposta conspiração do PT, a saber, a sua tentativa de
transformar o STF em “uma corte bolivariana” revela que
os verdadeiros conspiradores necessitam manter a atual
relação de forças dentro do órgão. Dada a situação de
relação de forças no Congresso Nacional, onde o governo,
aparentemente, continua a manter uma maioria, ainda
que mais precária que antes, o STF deverá ser a peça
institucional decisiva para o golpe.
A quarta engrenagem é a Polícia Federal, cujo diretor-
geral deverá ser substituído agora. A PF tem sido o
principal instrumento, não apenas para criar os
escândalos dos “maiores casos de corrupção da história
do Brasil”, mas para fornecer à imprensa capitalista
monopolizada material para a agitação política. Já está em
marcha a pressão para que o PT indique um elemento
ligado à direita e ao capital estrangeiro (órgão de
segurança dos EUA) como diretor da PF. A ADPF
(Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) e
a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal
votaram, pela primeira vez, uma lista tríplice para ser
escolhida pelo governo, numa tentativa clara de
condicionar a decisão do Executiva. Votaram 790
delegados, dos cerca de 2,1 mil associados, em regime de
voto facultativo. O PT ainda não mostrou as suas cartas e
está negociando esta e outras questões nos bastidores.
A quinta engrenagem e a mais nebulosa quanto à
informação disponível são as Forças Armadas. Analisando
superficialmente, o comando das três armas não estaria
envolvido em qualquer aventura política neste momento,
mas é impossível determinar. No entanto, há inúmeros
indícios de que há uma forte campanha no interior das
três forças que se expressou na vaia que o ministro da
Defesa do atual governo recebeu em uma cerimônia
militar no ano passado, nas declarações do Clube Militar e
de vários oficiais da reserva, na oposição à Comissão da
Verdade etc. Sem o apoio ou, ao menos, a neutralidade
simpática das Forças Armadas, os golpes são, via de
regra, inexequíveis. A tentativa de golpes parlamentares
podem descambar para enfrentamentos de rua e
manifestações de massa que precisariam ser
“controladas” pelas Forças Armadas. Sem força real, não
há como dar um golpe.
A sexta engrenagem, é a coalização partidária golpista.
Sem criar uma coalizão majoritária, formal ou informal
(no golpe contra Vargas em 54, uma parcela importante
da base parlamentar do PSD e do PSP que estavam com o
governo apoiaram o golpe, inclusive o vice-presidente
João Café Filho), o golpe não é viável. Nesse sentido, a
preparação encontra-se adiantada, uma vez que os
golpistas já conseguiram provocar uma expressiva ruptura
no mais importante aliado parlamentar do governo que é
o PMDB e conseguiram impor derrotas parlamentares ao
atual governo já nesta legislatura como foi o caso dos
conselhos populares. O governo encaminha-se para um
novo teste de força parlamentar com a votação em torno
à redução da meta fiscal.
A sétima engrenagem, extremamente ativa, e
fundamental, é o cartel da imprensa capitalista contra o
governo. Esta máquina de agitação política permanente
centralizada, que se oculta detrás de uma suposta
imparcialidade e apartidarismo, é a grande arma da
direita e do imperialismo para levar adiante a política
golpista e foi a principal responsável pelo desgaste do
atual governo.
A oitava engrenagem é a organização de grupos políticos
capazes de atuar organizadamente em movimentos
sociais, na internet, nos meios intelectuais etc. Este
processo já está bastante desenvolvido nos meios
intelectuais e nas universidades, com o controle de vários
diretórios estudantis por elementos de direita e a
formação de centenas de organismos de pesquisa etc.
(Millenium, Mises, Cato etc.) financiados pelo grande
capital nacional e estrangeiro, particularmente norte-
americano e com clara infiltração dos órgãos de segurança
do imperialismo norte-americano. No entanto, é bem mais
recente no que diz respeito ao controle das ruas e dos
sindicatos e outras organizações populares. Na tentativa
de sair às ruas e criar uma aparência de movimento
“revolucionário” contra o governo, ao estilo de Maidan na
Ucrânia não são suficientes os tímidos intelectuais de
direita cuja valentia não vai além de rugir por escrito. É
necessária a organização da extrema direita, ou seja, de
um movimento mais “popular”, ainda que a direita em
geral seja profundamente antipopular, racista etc. As
primeiras tentativas de manifestação em favor
do impeachment da presidenta eleita já mostram que a
direita e o imperialismo preparam a derrubada do governo
como expressão de uma “revolução popular” à la
ucraniana ou venezuelana. Uma vertente desta
mobilização, como tem ocorrido até aqui (Copa do
Mundo), poderia ser feita com o concurso de parte da
esquerda (PSTU, PSol, grupos morenistas etc.) que
servem como cobertura de esquerda para a direita como
ocorreu em Maidan.
Esta breve análise da disposição das engrenagens do
mecanismo do golpe de Estado indicam que o processo
golpista está muito avançado e que os preparativos se
aceleram. A resposta da esquerda (principalmente ligada
ao PT e à frente popular), que realizou um ato nesta
quinta-feira passada (13 de novembro), foi ainda muito
fraca e artificial, ou seja, um verdadeiro movimento
eleitoral fora da eleição. O que é necessário não é
propaganda, mas ação de massas e esta precisa ser
organizada. O PT e a esquerda que se opõe ao golpe de
Estado continuam em campanha eleitoral, acreditando
que tudo não passa de um simples jogo parlamentar, ou
seja, de discursos e aparência. No entanto, para enfrentar
o golpe é preciso imediatamente levar este debate à
classe operária, em primeiro lugar ao sindicatos, mas
também à periferia, e antes de mais nada explicar o que
está havendo. Esta tarefa somente pode ser iniciada pelo
nosso partido. Ao fazê-lo não podemos de modo algum
nos confundir nem com o PT e sua política e menos ainda
com os seus aliados burgueses. Também é necessária
uma completa delimitação com a esquerda pequeno-
burguesa confucionista, tanto com a política de ficar a
reboque da frente popular, como com a política sectária
dos grupos morenistas.
É preciso explicar que não podemos nos subordinar à
legalidade parlamentar aparente (impeachment, maioria
parlamentar, STF), que é uma armadilha, mas que a luta
tem que se travada junto às massas e com o objetivo de
mobilizar as massas contra o golpe. É preciso desenvolver
a organização operária nos sindicatos e locais de trabalho
e moradia para combater não apenas a atual tentativa de
golpe, mas o golpismo em geral. Torna-se urgente levar
esta discussão aos sindicatos, envolvendo a ampla massa
de trabalhadores em uma ampla campanha contra o
golpismo.
É preciso explicar que, embora se apresente como uma
luta entre o PT e a direita, a situação de forma alguma se
resume a isso. Nenhum golpe pode ser bem sucedido sem
colocar Lula e o PT na ilegalidade, em função das
necessidades eleitorais (caso do Egito), proscrevendo
desta forma toda a esquerda e atacando os sindicatos. Em
segundo lugar, a burguesia busca impor mais da receita
neoliberal, mas com virulência redobrada em função da
crise capitalista. Isto não pode ser feito sem atacar os
sindicatos e outras organizações populares de defesa das
condições de vida dos trabalhadores. Não há também
como prever a profundidade do golpe e seria infantil
acreditar que o golpe vá promover apenas mudanças
institucionais.
Finalmente, o programa apresentado pelo PT (reforma
política etc.) é incapaz de mobilizar amplas massas, o que
somente pode ser feito por um programa de
reivindicações transitórias real: defesa dos salários diante
da inflação, defesa do emprego (as demissões já estão
ocorrendo), controle operário da produção, estatização
dos bancos, estatização do petróleo, cancelamento das
privatizações, fim da PM, fim das concessões de rádio e
TV, integral liberdade de organização partidária e reforma
dos sistema de privilégios eleitorais, eleição dos juízes
etc.
Um aspecto central para o desenvolvimento desta luta é a
luta por um partido operário em contraste tanto com o PT
como com a esquerda pequeno-burguesa. Essa política,
contudo, só terá desenvolvimento com o fortalecimento
programático e organizativo do PCO.

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