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10/01/2018 “Os videogames já são cultura: se você não gosta, aguenta” | Cultura | EL PAÍS Brasil

CULTURA
ALEXEY PAJITNOV | CRIADOR DO 'TETRIS' ›

“Os videogames já são cultura: se você não gosta, aguenta”


Criador do 'Tetris' diz que interatividade faz que o lazer eletrônico seja único entre as artes

ÁNGEL LUIS SUCASAS

Bilbao - 29 NOV 2015 - 17:37 BRST

Alexey Pajitnov mostra duas peças do ‘Tetris’


em Bilbao. FERNANDO DOMINGO-ALDAMA

Nas estantes de sua casa, ainda conserva o quebra-cabeças favorito da infância. Chama-se pentominós e é
composto por 12 figuras formadas por cinco quadrados. Aos 11 anos, quando brincou pela primeira vez com esse
jogo de encaixe geométrico, o fez com peças de plástico "laranjas ou vermelhas." Embora agora existam peças de
madeiras mais finas ou até cortadas a laser, essa versão ainda é sua favorita. "É a que conheci quando era
menino." Aos 59 anos, Alexey Pajitnov (Moscou, 1956), estrela convidada do festival Fun & Serious de Bilbao, na
Espanha, tem uma expressão alegre. O sorriso de ser o criador do jogo mais popular de todos os tempos, o Tetris.
Centenas de milhões de jogos vendidos em 30 anos de história.

Pajitnov viu o mundo dos videogames transformar-se na indústria cultural mais poderosa do
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planeta. Que movimentará mais de 80 bilhões de euros (cerca de 326 bilhões de reais) este
“Não criei minhas
obras para serem ano, segundo a consultoria Newzoo, mais do que o dobro do que o cinema fatura nas
 consideradas arte”
bilheterias. Seu status cultural ainda é questionado. Mas não por esse designer russo: "Os
Oculus quer levar a videogames já são parte integrante da cultura, se você não gosta... aguenta [risos]". Além
realidade virtual disso, atreve-se a afirmar que têm algo que nenhuma arte tem. "Não quero falar em termos de
para as massas
melhor ou pior, comparando a literatura ou o cinema com os videogames. Todas as artes são
Super Mario Bros esplêndidas. Mas os videogames têm uma vantagem imbatível: a interação."
completa 30 anos

https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/29/cultura/1448792429_906604.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM 1/3
10/01/2018 “Os videogames já são cultura: se você não gosta, aguenta” | Cultura | EL PAÍS Brasil

Tendências do Quando criou o Tetris, Pajitnov não estava pensando, claro, em promover uma revolução
mercado de games, cultural. Só queria se divertir. Era um engenheiro da Rússia soviética especializado em
em busca do grande
público
inteligência artificial, que ainda sonhava com o brinquedo pentominós de sua infância. Para se
divertir, criou uma versão simplificada do jogo com quatro quadrados por figura em um
computador sem gráficos. As peças estavam compostas por textos. "Houve um momento em
que desenhei uma linha de código para girar as peças. Naquele instante, quando vi que a peça girava
pressionando as teclas do computador, pensei que tinha algo."

Original Tetris game

Mas teve que refinar muito esse algo. Um dos primeiros problemas que Pajitnov encontrou, na busca pelo quebra-
cabeça perfeito, era o que fazer quando a tela ficasse cheia de peças. “Para o jogo provocar prazer, não bastava
uma experiência de dois minutos, o tempo que demorava para a tela se encher de peças. Eu precisava encontrar
uma ideia que alongasse o jogo”. Primeiro, pensou em usar a barra de rolagem, ou seja, o deslizamento vertical da
tela, o que fazemos hoje em dia com um golpe na roda do mouse para lermos artigos jornalísticos. “Mas isso foi
um problema porque chegava um ponto em que não se via parte das peças e não se lembrava mais do que havia
embaixo”. Um dia, a lâmpada acendeu. “Quando todas as peças de uma linha se ajustam, e não sobram espaços,
essa linha desaparece. E aí está [sorri]”.

Tetris finalmente funcionava. Fora da União Soviética, meio mundo tinha o interesse de converter esse
passatempo de um cientista em um grande negócio. Uma batalha pelos direitos por trás da Cortina de Ferro
desenvolveu-se como uma trama digna de John le Carré. Mas foi um holandês, Henk Rogers, que foi para Moscou
sem uma reunião prévia com o soviético, que levou o gato à água. E virou um amigo inseparável de Pajitnov. “Os
outros que haviam vindo para comprar o jogo eram homens de negócios, interessados apenas no dinheiro. Ele era
designer de jogos, tinha uma verdadeira paixão pelo Tetris. Nos demos bem desde o primeiro dia. Foram suas
qualidades humanas que fizeram com que o escolhêssemos [Pajitnov e o governo russo, que possuía, naquele
momento, os direitos]”. Anos depois daquele primeiro encontro, Rogers ajudou Pajitnov a deixar a Rússia e se
estabelecer nos Estados Unidos, onde vive hoje em dia. Também fundou com ele a The Tetris Company, a
empresa que puxa as cordas dos multimilionários direitos do jogo.

Tetris - From Russia with Love [subtitles]

https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/29/cultura/1448792429_906604.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM 2/3
10/01/2018 “Os videogames já são cultura: se você não gosta, aguenta” | Cultura | EL PAÍS Brasil

Questionado se os videogames têm, terão ou já tiveram o seu Dostoievski, Pajitnov tem algo a dizer: “Pense em
Shigeru Miyamoto [Criador de Mario Bros que, assim como Tetris, está em seu 30º aniversário]. Milhões de
crianças o admiram como um herói. Temos que pensar se o velho Fiódor está a sua altura [cai em gargalhadas]”.
E o que permanece de Tetris para Pajitnov? Qual a contribuição para a história que mais o orgulha? “Que foi o
primeiro jogo da história que as mulheres gostaram. Antes, a proporção de jogadores entre homens e mulheres
era 95%-5%. Desde o começo, Tetris foi 50%-50%. Espero que ninguém se esqueça que foi o primeiro [ri]”. O
dado não é banal. Este ano, o jornal inglês The Guardian publicou um artigo com este título: Estudo descobre que
as mulheres jogam mais que os homens. A culpa é das 12 peças de plástico “laranjas ou vermelhas”.

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