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O processo de ensino-aprendizagem é, deveras, parte integrante da

vida em sociedade. A todo o momento, somos expostos ou expomos


conhecimentos das mais variadas matizes e (re)produzimos valores da
sociedade em que vivemos.
Nesse contexto, pode-se afirmar que um indivíduo de qualquer camada
social, pertencente a qualquer civilização humana passa inevitavelmente por
um processo de aculturação, visto que o ser humano é um animal cultural por
excelência, seja esse processo realizado dentro ou fora de ambientes
propriamente educativos.
O questionamento que nos cabe, pois, é entender a quem serve a
educação dada pelas vias escolares ou ainda através de transmissão de
conhecimento pelo meio em que se vive, pela mídia e pelos veículos de
comunicação, etc.
Nesse sentido, cabe, portanto ao indivíduo, à família, à religião, à
sociedade e/ou ao Estado constituído, selecionar o que e para quem transmitir,
como forma de estabelecer a sociabilidade desejada, permitindo que se
conserve e se transforme aquilo que for eleito para melhor gerir o grupo em
questão.
Analisando a sociedade brasileira, podemos afirmar que a educação
dita formal é restrita historicamente a um pequeno grupo, não estranhamente, o
povo não foi participante direto de nenhum dos grandes eventos históricos em
terras pátrias, isto é, tanto a Proclamação da Independência em 1822, quanto à
da República em 1889, foram movimentos de elite.
Na atualidade, o sistema de ingresso nas universidades torna a
educação “mecânica” e pouco produtiva, isto se tratando de boas instituições,
em sua maioria privadas, visto que as públicas sofrem uma defasagem de
profissionais, recursos e gestão acachapante. Isto nos permite afirmar que o
acesso aos conhecimentos necessários para alcançar os mais altos postos da
nossa sociedade são, de fato, reservados à elite, salvo raras exceções, o
resultado são notas desastrosas nas avaliações educacionais de caráter
internacional, como o teste de PISA.
Uma intervenção pertinente seria se pautar pelos exemplos históricos e
atuais de países que ao investirem em seu povo e no processo de formação de
profissionais de qualidade saltaram vertiginosamente no que tange ao seu
crescimento e desenvolvimento humano, pois se a globalização é inevitável
que sirva primeiramente à humanidade de cada povo envolvido nesse
processo, aprendendo e ensinando práticas que podem auxiliar em seu
aperfeiçoamento mútuo.
Um exemplo interessante a se observar é o da Finlândia, país
escandinavo que é referência mundial no âmbito educacional, tal fato é
possível, entre outros fatores, pela valorização que se dá ao professor,
profissão altamente procurada naquele país. Os docentes de ensino básico
além da licenciatura na área específica precisam ter mestrado em Educação, a
fim de saberem transmitir o conhecimento da maneira mais palatável e
prazerosa o conhecimento a seus alunos.

A internet e os avanços tecnológicos de maneira geral avançam em um


ritmo progressivo e as transformações que isto causa na sociedade são
notórias. As relações de trabalho foram fortemente transformadas nas últimas
décadas e a tendência é que nas próximas se transforme ainda mais.
No que tange ao mercado de trabalho, a automatização é uma
preocupação real de boa parte dos trabalhadores, principalmente os de
gerações mais antigas.
Nesse sentido, faz-se necessário reavaliar forma e conteúdo da
educação formal e técnica. Nas palavras no empresário e palestrante Murilo
Gun, quem realiza trabalho de máquina, ficará desempregado.
Portanto, adaptar as escolas à nova realidade da nossa era é
fundamental, haja vista, ser o meio que a sociedade dispõe para preparar as
sucessivas gerações para ocuparem os postos necessários ao seu
desenvolvimento.
Partindo da realidade brasileira temos um caso grave, visto que há de
se resolver problemas do presente e do passado. Isto, pois, a educação padrão
não chega à maioria dos estudantes, além deste fato, temos que
concomitantemente ajustar as inovações tecnológicas, com o escopo de
formarmos cidadãos capazes de assumir com excelência, postos de trabalho
na sociedade civil.
Todavia, é salutar que se enfatize que os números comprovam a
estreita relação entre qualidade na educação formal e desenvolvimento
humano, deste modo, podemos afirmar que o único caminho seguro rumo á
uma sociedade próspera é a investimento em educação escolar.

Em tempos em que a palavra de ordem no âmbito educacional é


“doutrinação”, a reflexão em torno da questão do ponto de vista é mais do que
necessária.
A era da chamada “pós-verdade” trouxe malefícios reais para o campo
da educação, isto porque a opinião pessoal, segundo este movimento é mais
relevante do que fatos concretos. Na esteira destes nefastos tempos surgem
movimentos que visam cercear a liberdade do professor na prática da
docência.
Tal ordem de coisas é deveras nefasta para a democracia, visto que
empobrece o debate em sala de aula e consequentemente precariza a
formação cidadã do aluno.
É necessário pontuar que o papel do professor é despertar o interesse
pelo assunto, isto é, servir de ponte entre o conteúdo e o receptor. Quando se
coloca barreiras e entraves nesse processo, o sistema de ensino-
aprendizagem definha.
Outrossim, cabe aos professores, apresentarem posições
diametralmente opostas do ponto de vista teórico, porém que dialoguem entre
si. Promovendo a ampla troca de ideias, cooperando para o fortalecimento da
democracia no país.
Pode-se afirmar, portanto que tal qual os representantes eleitos pela
população, o professor tem papel fundamental no sistema democrático de um
país.
Ética no Brasil é sempre um tema atual, haja vista os casos de
corrupção em todos os níveis e camadas da sociedade acompanharem o país
durante sua história.
Tal fato, de certa forma, explica o individualismo e falta de senso
coletivo do nosso povo, isto porque, o sentimento de pertencimento nunca fora
de fato desenvolvido em solo pátrio, por não ser de interesse dos governantes.
Isto posto, a educação é ainda o caminho a se trilhar para mudar esse
entristecedor panorama, desenvolvendo desde as séries elementares de
maneira interdisciplinar o pensamento no respaldo das atitudes individuais no
meio coletivo, bem como o sentimento de pertencimento que coloca a criança
numa posição de responsabilidade pela manutenção do bem estar coletivo.

Malgrado as dificuldades que tangem à ordem cognitiva, isto é, o


sistema de ensino-aprendizagem em si, a convivência em sala de aula, bem
como no meio escolar de modo geral é um desafio da carreira docente.
As crianças passam grande parte do seu dia em ambiente
educacional, deste modo, a relação entre colegas de sala, além da relação
aluno-professor têm de ser postas em evidência para reflexões que permitam o
melhor aproveitamento possível.
Alunos em idade escolar, além do fato de estarem com fortes cargas
hormonais inerentes ao crescimento e à puberdade vêm diferentes realidades
sociais e familiares, que formam neles instintos e repertório para se lidar com
problemas que nem sempre adequadas e/ou pacíficas.
Uma forma de se lidar com esta “intempérie” é estabelecer clara
hierarquia dentro das relações, isto é, o professor, em que pese ter de ser uma
figura acessível tem de afirmar sua posição de autoridade e na relação entre
colegas, a transmissão de responsabilidades a alunos que apresentem
problemas de comportamento é uma proposta interessante a ser
implementada.
É patente ainda afirmar que o professor, apesar de em nosso país não
ter seu devido reconhecimento e remuneração, tem de ter em mente seu papel
de formador pedagógico na vida de seus alunos. Portanto o papel motivacional
é essencial a quem pretenda exercer a docência, pois ao passo que as
palavras de um líder podem desestimular completamente seus liderados,
também podem fazê-los enxergar qualidades neles próprios.

Ao analisarmos a história da humanidade concluímos que o que nos


diferenciou das demais espécies humanoides fora, dentre outros fatores, a
comunicação. Portanto, o ser humano é por excelência um ser cultural.
De igual maneira o sentimento de pertencimento é essencial ao
desenvolvimento do indivíduo, deste modo, podemos afirmar que além de
culturais somos seres gregários.
Contudo o individualismo e as tendências egoístas também fazem
parte do caráter humano e são, até certo ponto, saudáveis ao progresso do
indivíduo, pois o impulso de competitividade move o ser a se aprimorar e
consequentemente a sociedade ganha com isso.
Não obstante, o resultado que chegamos ao equacionarmos ambas as
tendências é que ao colocarmos nossos interesses individuais em prol do
grupo, o ganho é coletivo, isto porque as habilidades individuais somadas têm
um valor muito maior do que analisadas individualmente.
No âmbito escolar, é essencial que o professor mantenha a relação de
ensino-aprendizagem viva, ou seja, a troca e assimilação de conhecimentos
seja real, e no que concerne à práticas pedagógicas, trabalhos em grupo são
salutares no desenvolvimento das crianças não apenas no aprendizado das
disciplinas, mas a troca de conhecimentos e divisão de tarefas é um espelho de
uma relação comunitária.

Além do trabalho a ser realizado em qualquer âmbito humano, a


convivência é um desafio a ser superado. Isto porque diferentes pessoas vêm
de diferentes meios, contextos familiares e sociais e, portanto possuem
personalidades e formas de analisar e resolver os problemas que diferem dos
demais.
A palavra de ordem no contexto da convivência social é tolerância, no
entanto, nos parece que quando se trata de trabalho em equipe o significado
deste verbete deixa a desejar e não é tão producente quanto parece.
Ora, tolerar faz algum sentido em um contexto de convivência de
diferentes e conflituosos grupos em conjunturas específicas, porém um grupo
que tenha uma meta em comum tem de prezar pela coesão, portanto a
aceitação, estímulo e diálogo são imprescindíveis para o sucesso do que se
pretenda.
Deste modo, em se tratando de sala de aula, cabe ao líder, no caso o
professor, incentivar o trabalho em equipe e extrair de cada um o melhor que
se possa fazer, enfatizando os elementos positivos da personalidade de cada
um de seus liderados.
O ofício de docente tem a contingência necessária para, de fato, mudar
a perspectiva do aluno sobre si próprio e o tratamento com seus iguais e
justamente é esse o espírito que deve estar presente em sala de aula o de
igualdade, promovendo, pois o aprendizado constante e a convivência
respeitosa e democrática, possibilitando resultados surpreendentes.
Já é sabido que a educação brasileira padece de resultados muito
aquém do necessário àqueles que permitam o progresso da sociedade, isto é
demonstrado em testes tanto no âmbito interno quanto nos internacionais.
Dentre outros motivos, a desvalorização do professor é um problema
grave que explica esses vexatório insucesso da (des)política educacional
brasileira.
No entanto, a integração aluno-escola-família é um fator patente a se
analisar. Apenas com o empenho dos entes familiares na vida escolar de suas
crianças, a participação da comunidade na escola que integra seu meio e o
empenho de todos os envolvidos na educação formal, quais sejam, diretores,
coordenadores pedagógicos e professores, podemos mudar esse infortúnio.

A sociedade em que vivemos é deveras competitiva, na esteira deste


fato as relações pessoais estão, com o avanço da tecnologia, se tornando
progressivamente mais distantes e efêmeras, este, talvez, seja uma
preocupação a presente geração considerar.
Partindo do pressuposto que o ser humano é um ser cultural e
gregário, podemos afirmar que o importância que um indivíduo exerce sobre o
outro ou sobre a coletividade que faz parte é verdadeiramente capaz de mudar
o status quo.
Nesse ínterim, apenas uma pequena parcela das pessoas que se
relacionam mutuamente deixa alguma marca positiva perene na relação
propriamente dita, ou no meio que fizeram parte.
A História, de certa forma, confirma essa tese, visto que malgrado
haver uma predileção pelas elites dentro das correntes tradicionais desta
ciência, a imensa maioria dos seres humanos que passaram pelo planeta
deixaram não sinais de sua existência, tendo sua memória expirado com elas.
Assim, a reflexão é, em verdade, válida, pois na posição de líderes em
sala de aula – ambiente que as crianças e adolescentes passam boa parte do
seu dia – os professores podem fazer a diferença, pertencendo à pequena
parcela dos que deixam legados positivos na vida dos alunos e os preparando
e incentivando a também serem pessoas que valor nas suas relações
pessoais, de trabalho e na sociedade que fazem parte.

Muito se vê indivíduos e organizações com pretensões no âmbito


coletivo, regional e global, com o escopo de mudar o status quo do meio em
que vivem, visto que a realidade em sua maioria se mostra árdua e calamitosa.
Tais condutas e políticas são de fato necessárias e louváveis, no
entanto, quando se tem como estratégia mudanças no âmbito coletivo as
transformações de fato são irrisórias no curto prazo e as atitudes desses
agentes pouco tem de efetiva e a história mostra que quando adotada como
política de Estado irromperam em regimes totalitários e genocidas.
A questão que sobra é o que fazer para transformar o meio em que
vivemos. A solução que nos parece mais adequada é entender que o primeiro
ente a ser mudado é o indivíduo, ou seja, mudar nossas condutas, nossas
relações com o outro e com o meio ambiente.
A educação, entendida como agente de transformação, tem papel
primordial nesse contexto, delegando a cada indivíduo a consciência do seu
duplo papel, isto é, dotado de individualidade, bem como parte do todo, pois a
conduta pessoal em meio social sempre repercute no ambiente de maior
alcance gerando consequências.
Portanto, o aluno, dotado do entendimento da importância da sua
individualidade torna-se capaz de desenvolver ativamente no sistema de
ensino-aprendizagem, acessando conhecimento e contribuindo com a sua
realidade pessoal para o crescimento de todos que o cercam, inclusive dos
professores, pais e demais líderes nos diversos âmbitos que esse indivíduo
pertença.

A sociedade de mercado em que vivemos, aliada a um crescimento


das chamadas tecnologias de comunicação e informação, trouxeram uma nova
forma de viver em sociedade e, por conseguinte, de se relacionar em todos os
níveis da sociedade.
Na esteira desta nova era é impossível não falar de globalização. A
Nova Ordem Mundial ao passo que aproximou o mundo vem, pari passu,
eliminando diferenças culturais e substituindo, conforme as conveniências do
mercado, por uma gama de símbolos comuns.
Faz-se possível afirmar que jovens sul-africanos, chineses, brasileiros,
mexicanos e americanos vistam-se de maneira bastante semelhante para ir ao
shopping, que comam nas mesmas redes de fast-food e assistam aos mesmos
blockbusters hollywoodianos.
A educação neste meio também sofre as influências desta
padronização impostas pelos veículos de comunicação que, diga-se de
passagem, ditam os padrões aceitos de comportamento. Isto porque dentro
desta lógica, os ambientes educativos passam a ignorar as aptidões e
limitações, histórias e contextos de vida, ou seja, a individualidade,
substituindo-a por um tratamento padrão.
Portanto, chegamos à conclusão que a ordem neoliberal perverteu até
o pilar no qual se alicerçou o pensamento liberal, que é a defesa do indivíduo.
Concluímos, portanto que a frase de Rosa Luxemburgo deve ser o norte nas
elaborações educacionais “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais,
humanamente diferentes e totalmente livres”.
Em que pese ter havido mudanças positivas na última década, o Brasil
ainda está entre os países mais desiguais do planeta, com uma pequena
parcela da população que recebe 36 vezes mais do que a metade da
população mais pobre.
Não resta dúvida que a educação tem papel essencial na mudança
desse panorama, vez que, todas as crianças em idade escolar tendo
assegurado o direito à educação, notoriamente, o acesso delas á melhor
qualificação profissional e consequentemente melhor renda.
Contudo, o acesso à educação não se limita ao conteúdo transmitido
em sala de aula, tem de se levar em conta a alimentação que essas crianças
recebem - haja vista muitas vezes ser a merenda escolar a única refeição do
dia dos alunos em situação de maior vulnerabilidade – o transporte que garanta
a chegada à escola, dentre outros fatores que a priori parecem periféricos,
porém podem ser decisivos na luta contra a evasão escolar.
Dessa maneira, entendemos que a educação em tempo integral, que
além das matérias tradicionais integre outras que desenvolva habilidades e
senso de cidadania nos jovens (a exemplo da Finlândia, referência que há
aulas de carpintaria e costura e de Singapura que há desde as séries
elementares aulas de economia doméstica) é o caminho mais viável para
superarmos esse abismo social e educacional crônico em nosso país.
Nosso cotidiano é repleto de desafios. Em todos os âmbitos da vida
temos problemas a resolver, metas a cumprir e tribulações em nossas relações
pessoais, familiares, financeiras, de saúde, etc, que surgem e exigem solução,
de modo que a energia que nos move e que, durante a história da filosofia
ganhou diferentes nomes, oscila, porém nossas obrigações não param.
Na vida escolar não é diferente. Alunos, professores, diretores,
coordenadores, funcionários, pais, ou seja, todos que se envolvem no meio
escolar têm fases de adversidades.
Tais sofrimentos usuais podem ser vistos como uma pílula amarga
que depois que o sabor desagradável se vai seu efeito é sentido, isto é,
amadurecemos com as dificuldades e sofrimentos, não à toa, os exercícios
matemáticos são chamados de problemas, visto que resolvê-los acresce à
quem o faz um aprendizado.
Cabe aos líderes, saber lidar com suas próprias angústias e ajudar
seus liderados a enfrentar suas dificuldades, pois o processo educacional
envolve seres humanos e, portanto, perpassa a mera transmissão de conteúdo
e envolve a vida como um todo e ao final todos os envolvidos têm a capacidade
de saírem fortalecidos, mais experientes e maduros

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