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A coerência

textual
Percurso da apresentação
1. Questões iniciais
2. O que é a coerência textual?
3. As metarregras da coerência

Referências utilizadas
1. CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto,
2012.
2. SÁ, Kleiane Bezerra. Coerência e articulação tópica: uma análise a partir de
redações do ENEM. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Linguística
– Universidade Federal do Ceará: Fortaleza, 2018.
O que é
1 a coerência textual?

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A coerência textual (Cavalcante,
2012)
▸ Sempre que alguém produz um texto, em qualquer
modalidade, tem a intenção de se fazer entender, ou seja, de
ser coerente para seus possíveis destinatários.

Exemplo 1

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A coerência textual (Cavalcante,
2012)
▸ Um texto será bem compreendido quando avaliado sob o
ponto de vista pragmático, que tem a ver com a atuação
comunicativa; sob o ponto de vista semântico-conceitual, que
diz respeito à sua coerência; e sob o aspecto formal, que
concerne à sua coesão.

▸ Para tomá-lo como unidade de análise, é preciso,


necessariamente, considerar mais do que a sua tessitura, pois
um conjunto de contextos e de conhecimentos (linguísticos,
cognitivos, interacionais) está envolvido no processo de
(re)construção dos sentidos que se empreende durante a
compreensão e a produção de um texto.

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Revisitando a noção de coerência
(Sá, 2018)

Van Dijk: perspectiva cognitivista Cavalcante, Custódio Filho e


Marcuschi: concepção mais ampla Brito: visão sociocognitivo-
do texto e da coerência
de coerência discursiva da coerência

1977 2006 2014

1981 2008

Beaugrande e Dressler: coerência Koch e Travaglia: coerência como


como continuidade de sentidos um princípio de interpretabilidade

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Os fatores de textualidade (Beaugrande e
Dressler, 1981)

É preciso reconhecer os
avanços classificatórios
para a época e questioná-
los atualmente.

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A definição de texto hoje
O grupo de pesquisa Protexto vem adotando, nos últimos
anos, o conceito de texto como um enunciado (no sentido
dado a esse termo por Brait, 2016), que acontece como
evento singular, compondo uma unidade de comunicação
e de sentido em contexto, expressa por uma combinação
de sistemas semióticos.

CAVALCANTE, M. M.; BRITO, M. A. P.; CUSTÓDIO FILHO, V.; CORTEZ,


S. L.; PINTO, R. B. W. S.; PINHEIRO, C. L. O Texto e suas propriedades:
definindo perspectivas para análise. Revista (Con)Textos Linguísticos. 2019.

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As relações de sentido
Tais relações de sentido se instauram, em incessante
Todos os negociação, pela atividade interativa dos interlocutores na
critérios estão a situação enunciativa particular, pelos indícios cotextuais
serviço da integrados ao contexto sociocultural, pelas determinações
coerência. do gênero discursivo, pelas ligações intertextuais e pela
contenda argumentativa que orienta essa negociação.

CAVALCANTE, M. M.; BRITO, M. A. P.; CUSTÓDIO FILHO, V.; CORTEZ,


S. L.; PINTO, R. B. W. S.; PINHEIRO, C. L. O Texto e suas propriedades:
definindo perspectivas para análise. Revista (Con)Textos Linguísticos. 2019.

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A coerência textual (Cavalcante,
2012)
▸ É a partir de inferências e deduções que preenchemos várias
lacunas deixadas pelo cotexto e fazemos antecipações,
levantamos hipóteses sobe os sentidos do texto.

▸ A coerência não está no texto em si; não nos é possível


aponta-la, destacá-la ou sublinhá-la. Ela se constrói a partir
do cotexto e dos contextos, numa dada situação
comunicativa, na qual o leitor, com base em seus
conhecimentos sociocognitivos e interacionais e na
materialidade linguística, confere sentido ao que lê.

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Existem textos incoerentes?
(Cavalcante, 2012)
▸ Mesmo quando se tem o propósito deliberado de juntar
possíveis incoerências, já se está tentando dar um tipo de
coerência ao texto.

Texto (13)
João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos.
Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço.
Segundo a Teoria da Relatividade, o espaço é curvo. A geometria rimaniana dá
conta desse fenômeno.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de Texto: o que é e como se faz.


São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

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Circuito fechado
(Ricardo Ramos)

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água
fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras,
calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,
chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa,
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro.
Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo
com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída,
vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.
Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis.

Disponível em:
https://revistamacondo.wordpress.com/2012/02/29/conto-circuito-fechado-ricardo
-ramos/
Acesso em 22 de agosto de 2020.

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A coerência textual (Cavalcante,
2012)
▸ A coerência é um princípio de interpretabilidade, ou seja,
a coerência de um texto não se manifesta apenas através da
decodificação de seus elementos linguísticos, mas de uma
série de fatores extralinguísticos e pragmáticos inerentes à
construção de sentidos.

▸ Os conhecimentos são sempre ativados durante a interação.

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Metarregras
2 de coerência

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Metarregras de coerência de
Charolles
▸ A proposta das metarregras de Charolles (1978) surgiu
da inquietação do autor acerca das estratégias de
intervenção que os professores desenvolviam frente a
certos textos escritos de alunos julgados por esses
docentes como incoerentes.

▸ Para ele há critérios (metarregras) eficientes de “boa


formação textual” que instituem uma norma mínima de
composição textual.

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Metarregras de Coerência de
Charolles
▸ No Brasil, os estudos de Costa Val (2006) foram
responsáveis por divulgar as considerações de Charolles
(1978). Relacionando as metarregras de Charolles aos
princípios de textualidade de Beaugrande e Dressler
(1981), a autora renomeou as metarregras:

Charolles (1978) Costa Val (1999/2006)


Repetição Continuidade
Progressão Progressão
Não contradição Não contradição
Relação Articulação

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Metarregras de coerência de Charolles
▸ Continuidade
▸ Se garante pela retomada de elementos e ideias no decorrer do
texto. Tais repetições conferem unidade ao texto, pois um dos
fatores que faz com que se perceba um texto como em todo único
é a permanência, em seu desenvolvimento, de elementos
constantes.

▸ Progressão
▸ Além da retomada de conceitos, é preciso que o texto apresente
novas informações a respeito dos elementos retomados. São esses
acréscimos que fazem o sentido do texto progredir. A progressão
é obtida a partir da adesão de novos conceitos e informações.

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Metarregras de coerência de Charolles
▸ Não contradição
▸ Deve ser respeitada tanto no âmbito interno quanto no externo
(relações do texto com o mundo a que se refere). Para ser
inteiramente coerente, o texto precisa respeitar princípios lógicos
elementares. Suas ocorrências não podem se contradizer.

▸ Articulação
▸ Se refere à maneira como os fatos e conceitos apresentados no
texto se encadeiam e se organizam, ou seja, como se relacionam
uns com os outros. Para que um texto seja articulado, é preciso
que suas ideias tenham a ver umas com as outras; é preciso
estabelecer tipos específicos de relação entre elas.

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Exemplo 13
Redações
do ENEM O filme ‘’Cine Hollywood’’ narra a chegada da primeira sala de cinema na cidade de Crato,
interior do Ceará. Na obra, os moradores do até então vilarejo nordestino têm suas vidas
modificadas pela modernidade que, naquele contexto, se traduzia na exibição de obras
cinematográficas. De maneira análoga à história fictícia, a questão da democratização do
acesso ao cinema, no Brasil, ainda enfrenta problemas no que diz respeito à exclusão da
parcela socialmente vulnerável da sociedade. Assim, é lícito afirmar que a postura do Estado em
relação à cultura e a negligência de parte das empresas que trabalham com a ‘’sétima arte’’
contribuem para a perpetuação desse cenário negativo.

Em primeiro plano, evidencia-se, por parte do Estado, a ausência de políticas públicas


suficientemente efetivas para democratizar o acesso ao cinema no país. Essa lógica é
comprovada pelo papel passivo que o Ministério da Cultura exerce na administração do país.
Instituído para ser um órgão que promova a aproximação de brasileiros a bens culturais, tal
ministério ignora ações que poderiam, potencialmente, fomentar o contato de classes pouco
privilegiadas ao mundo dos filmes, como a distribuição de ingressos em instituições públicas de
ensino básico e passeios escolares a salas de cinema. Desse modo, o Governo atua como agente
perpetuador do processo de exclusão da população mais pobre a esse tipo de entretenimento.
Logo, é substancial a mudança desse quadro.

Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/enem/2019/noticia/2020/01/17/enem-2019-veja-


integra-de-redacoes-nota-1-mil.ghtml Acesso em 22 de agosto de 2020.

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Exemplo 13
Redações
do ENEM Outrossim, é imperativo pontuar que a negligência de empresas do setor – como produtoras,
distribuidoras de filmes e cinemas – também colabora para a dificuldade em democratizar o
acesso ao cinema no Brasil. Isso decorre, principalmente, da postura capitalista de grande parte
do empresariado desse segmento, que prioriza os ganhos financeiros em detrimento do impacto
cultural que o cinema pode exercer sobre uma comunidade. Nesse sentido, há, de fato, uma
visão elitista advinda dos donos de salas de exibição, que muitas vezes precificam ingressos
com valores acima do que classes populares podem pagar. Consequentemente, a população de
baixa renda fica impedida de frequentar esses espaços.

É necessário, portanto, que medidas sejam tomadas para facilitar o acesso democrático ao
cinema no país. Posto isso, o Ministério da Cultura deve, por meio de um amplo debate entre
Estado, sociedade civil, Agência Nacional de Cinema (ANCINE) e profissionais da área, lançar
um Plano Nacional de Democratização ao Cinema no Brasil, a fim de fazer com que o maior
número possível de brasileiros possa desfrutar do universo dos filmes. Tal plano deverá focar,
principalmente, em destinar certo percentual de ingressos para pessoas de baixa renda e
estudantes de escolas públicas. Ademais, o Governo Federal deve também, mediante
oferecimento de incentivos fiscais, incentivar os cinemas a reduzirem o custo de seus ingressos.
Dessa maneira, a situação vivenciada em ‘’Cine Hollywood’’ poderá ser visualizada na realidade
de mais brasileiros.

Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/enem/2019/noticia/2020/01/17/enem-2019-veja-


integra-de-redacoes-nota-1-mil.ghtml Acesso em 22 de agosto de 2020.

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A relevância da proposta de Charolles
para o ensino de produção textual

Charolles (1978) Redação do ENEM


Continuidade Competência II
Progressão Competência III
Não contradição Competências II, III, IV e V
Articulação Competência IV

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