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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Processo Nº. : 0009681-96.2014.8.05.0063
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : MACARIO JOSE DIOSNIO BISPO DOS SANTOS
Recorrido(s) : COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA GRUPO NEOENERGIA
Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - CONCEIÇÃO
DO COITÉ
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO- E M E N T A

RECURSO INOMINADO.CONSUMIDOR. COELBA. CORTE NO FORNECIMENTO


DE ENERGIA ELÉTRICA . AUSÊNCIA DE PROVAS ACERCA DA CONCESSÃO DO
AVISO PRÉVIO. COBRANÇA INDEVIDA. CORTE IRREGULAR. NÃO
COMPROVAÇÃO DA CONCESSÃO DO AVISO PRÉVIO NA FORMA PREVISTA NA
RESOLUÇÃO 414 DA ANEEL. INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS
REGULAMENTARES. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA ( ART.6º INCISO VIII DO
CDC) DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM MAJORADO, PARA
ADEQUAÇÃO ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO.. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA .

1.
2. Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que julgou
procedente a ação, nestes termos:: “ Ante o exposto, confirmo a liminar e JULGO
PROCEDENTE EM PARTE o pedido para condenar a parte ré ao pagamento à parte autora da
quantia de R$ 1.000,00 (um mil reais), a título de indenização por danos morais, que deverá
sofrer incidência de correção monetária desde a presente data (Súmula 362 do STJ) e juros na
base de 1% (um por cento) desde a data da citação até o efetivo pagamento (arts. 398 e 406 do
Código Civil, art. 161, §1º, do Código Tributário Nacional e Súmula 54 do STJ)..”

Trata-se de ação movida em razão da suspensão indevida de


fornecimento de energia sem que lhe tenha sido concedido aviso prévio , bem
como assevera que não constavam débitos anteriores à data do corte, haja vista
que a instalação do medidor na unidade consumidora havia sido realizado a
pouco tempo, em imóvel entregue no âmbito do programa minha casa minha vida.
A parte recorrente insurge-se no tocante ao quantum condenatório
arbitrado a título de danos morais, por entende-lo insuficiente para recompor o
dano causado.

3. A sentença recorrida merece parcial reforma, sendo mister a majoração do


quantum condenatório arbitrado a título de danos morais de molde a adequar o
valor às circunstâncias do caso concreto. A demonstração do fato básico para o
acolhimento da pretensão é ônus do autor, segundo o entendimento do art. 373,
inciso I, do CPC, partindo daí a análise dos pressupostos da ocorrência de
indenização por danos morais, recaindo sobre o réu o ônus da prova negativa do
fato, segundo o inciso II do mesmo artigo supracitado.
4. Com efeito, a parte autora alega que teve o fornecimento de energia
suspenso pela concessionária ré no dia 14/11/2014, todavia nega a existência de
qualquer débito em virtude do fato de inexistir consumo anterior, sendo portanto
indevida a cobrança e ilegítima a consequente suspensão do fornecimento do
serviço. No caso concreto a parte ré não faz prova da legalidade do procedimento
de cobrança, não indicando nem mesmo a fatura inadimplida e o mês
correspondente, ônus que lhe cabe de molde a legitimar a prática da suspensão do
serviço.

5. Cumpre salientar que estamos diante de uma relação de consumo, impondo-


se a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor, as quais
possuem interesse social e são de ordem pública, sendo a responsabilidade da
recorrente objetiva e fundada na teoria do risco do empreendimento.
6. Com efeito, Já é entendimento consolidado que tal notificação de nenhum modo
poderá ser realizada de modo genérico, no corpo da fatura, sem a especificação do
prazo para pagamento e das conseqüências do inadimplemento, a saber, a
suspensão do fornecimento no caso de não pagamento das faturas em aberto no
prazo . Nesse sentido o STJ já consolidou o entendimento,em caso semelhante,
atinente á suspensão do serviço de energia elétrica, conforme julgado:
7. ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ENERGIA
ELÉTRICA. INADIMPLEMENTO. SUSPENSÃO DO
FORNECIMENTO. CORTE IRREGULAR. AVISO PRÉVIO
LANÇADO NA PRÓPRIA FATURA DE FORMA GENÉRICA E
SEM EXPLICITAÇÃO DO PRAZO DE 15 DIAS ESTIPULADO
PELA ANEEL. SÚMULA 7/STJ. 1. Incide o óbice das Súmulas
211/STJ e 282/STF em relação à suposta vulneração dos arts. 6º,
§ 3º, da Lei 8.987/95; 17 da Lei 9.427/96; 188, I, 884, 944 e
seguintes do Código Civil, que não foram examinados pelo
acórdão de origem. 2. A esse respeito, a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça não admite o prequestionamento
(ficto) pela simples oposição de Embargos Declaratórios,
reclamando ter havido o efetivo debate na instância ordinária
quanto aos preceitos legais suscitados. Precedente: AgRg no
REsp 1.393.280/RN, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 16.12.2013. 3. Ademais, diversamente do que
sustenta a agravante, a controvérsia não se relaciona com a
possibilidade de inclusão do aviso prévio no corpo da própria
fatura, mas sim com a irregularidade da notificação feita de modo
genérico e sem explicitar o prazo de 15 dias para regularização do
débito. 4. Arredar a conclusão da instância a quo sobre a
irregularidade da notificação demanda reexame do conjunto fático
probatório, o que é vedado pelo enunciado da Súmula 7/STJ. 5. A
hipótese dos autos não permite a revaloração da prova, tendo em
vista não se verificar erro jurídico na aplicação de norma ou
princípio. Precedente: AgRg no AREsp 26.857/GO, Rel. Ministra
Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, DJe 27.9.2013. 6. Por fim, os
precedentes citados pelo agravante não o socorrem, uma vez
que, além de não guardarem similitude fática com o caso dos
autos, esbarram no enunciado da Súmula 420/STJ, cuja ratio
decidendi se aplica à espécie, por analogia. 7. Agravo Regimental
não Reconhecida a existência dos danos morais por parte
da ré contra o autor, esses devem ser fixados com equilibrada
reflexão, examinando a questão relativa à fixação do valor da
respectiva indenização.
Na hipótese presente, a conduta perpetrada pela ré está eivada de maior
reprovabilidade, haja vista que procedeu á suspensão do fornecimento em relação
à débito que já havia sido pago, perpetrando assim dois atos ilícitos em sequência,
a saber, a cobrança indevida e a suspensão do fornecimento de energia sem a
concessão do aviso prévio.
8. Reconhecida a existência dos danos morais por parte da ré contra o autor,
esses devem ser fixados com equilibrada reflexão, examinando a questão relativa
à fixação do valor da respectiva indenização.

9. No particular, o prudente arbítrio do magistrado exige não deva ser


considerada, apenas, a situação econômica do causador do dano, porque, se tal
for o critério, resvalar-se-á para o extremo oposto, com amplas possibilidades de
propiciar ao ofendido o enriquecimento sem causa. Há que se atender, porém, e
também com moderação, ao efeito inibidor da atitude repugnada. No caso
proposto, entendo que tais requisitos não foram atendidos, diante da gravidade da
conduta da parte demandada, da repetição do comportamento e potencial de
danos em grande escala que pode causar , máxime em se tratando o serviço
público de fornecimento de energia bem essencial, sendo mister a majoração do
seu quantum para que haja adequação às circunstâncias do caso concreto.

10. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO E DOU-LHE


PROVIMENTO, para reformar parcialmente a sentença e majorar o quantum
condenatório arbitrado a título de danos morais, que fixo em R$ 2.500,00 ( dois mil e
quinhentos reais), corrigidos conforme definido em sentença. Sem custas
processuais e honorários advocatícios pelo êxito da parte no recurso.
11.

12. Salvador, Sala das Sessões, 13 de JULHO de 2017

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0009681-96.2014.8.05.0063


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : MACARIO JOSE DIOSNIO BISPO DOS SANTOS
Recorrido(s) : COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA GRUPO NEOENERGIA
Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - CONCEIÇÃO
DO COITÉ
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO

Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais


Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA
CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL
LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO . UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios
pelo êxito da parte no recurso.
Salvador, Sala das Sessões, 13 de JULHO de 2017
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente

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